segunda-feira, 25 de maio de 2020

Morre aos 83 anos Galope, o "Homem Museu"


Bom Jardim perde um grande homem na manhã  desta segunda-feira, dia 25 de maio de 2020. Faleceu no Hospital Regional de Caruaru, o senhor Antonio Alves Monteiro, conhecido por Seu "Galope". Agricultor, ecologista, pedreiro, eletricista, colecionador e amante da história popular, homem de muita prosa, boas amizades, Gente Boa na expressão da palavra. Galope era um homem de fé, visionário, alegre, cultural. Pai de uma família numerosa. Nos seus 83 anos de idade continuava sempre sintonizado com as questões do mundo atual. Acompanhava os fatos e acontecimentos de Bom Jardim, do Brasil e do mundo.  Ao ser entrevistado no Programa "Bom Dia Bom Jardim" da Rádio Cult FM, recebeu a marca , o título de "Homem Museu", por ter boa memória e guarda grande coleção de discos, fotos, panfletos de antigas campanhas políticas de Bom Jardim.
Gostava de curtir um som de Luiz Gonzaga, Zé Paraíba, Trio Nordestino e muitos outros cantores que desfilavam na sua radiola.
Galope era uma pessoa de boa comunicação, concedeu entrevista para estudantes, blogs, rádio, vídeos. Parte de seus discos foram doados para Pessoa do Nascimento, locutor  da Rádio Surubim AM. Galope foi um dos homenageados do Município nos 144 Anos de Emancipação Política de Bom Jardim. Nosso velho "Homem Museu" vai fazer falta a memória de nossa cidade. Veja entrevista concedida a Paróquia de Sant'Ana:https://www.facebook.com/ProfessorEdgarBomJardim/?notif_id=1590428452999010&notif_t=page_fan
O corpo de Antônio Monteiro(Galope),  está sendo velado no Memorial Plade, próximo da pracinha do Fórum de Justiça, centro de Bom Jardim. O sepultamento será às 16:30 h, no cemitério da cidade. A família enlutada agradece desde já a presença e solidariedade de todos.



Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 24 de maio de 2020

Crise da pandemia no Brasil está mais profunda por causa de Bolsonaro, diz Jeffrey Sachs


Jeffrey SachsDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPara economista americano, postura do presidente brasileiro agrava a crise que o país já vivia antes da pandemia
Quando Jeffrey Sachs publicou em 2005 seu livro O Fim da Pobreza, alguns o consideraram muito otimista por crer ser possível erradicar a indigência da face da Terra.
Mas agora, no meio de uma das piores pandemias e crises econômicas globais em várias décadas, o otimismo desse renomado especialista em desenvolvimento sustentável da Universidade de Columbia (EUA) e da ONU é difícil de perceber.
"Esta pandemia é extraordinariamente grave", disse Sachs em uma entrevista exclusiva à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
"Ela vai empurrar centenas de milhões de pessoas para a pobreza."
Para ele, agora provavelmente "está perdido" o objetivo de eliminar a pobreza extrema global até 2030, estabelecida nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que ele próprio estimulou.

Sachs, que tem sido apontado por diferentes publicações como um dos líderes ou economistas mais influentes do mundo, critica a resposta do presidente dos EUA, Donald Trump, à crise da covid-19 e o que vê como uma tentativa de criar uma Guerra Fria com a China.
Mas também critica as políticas de presidentes latino-americanos, como o mexicano Andrés Manuel López Obrador ou o brasileiro Jair Bolsonaro, considera provável que a Argentina descumpra o pagamento de sua dívida e descreve "o pior cenário que veremos na região em muito tempo".
O que segue é uma síntese do diálogo por Zoom com Sachs, que apoiou a pré-candidatura presidencial — hoje abandonada — do senador Bernie Sanders nos EUA e se prepara para publicar um novo livro sobre "As eras de globalização".
BBC - Qual a sua maior preocupação neste momento em termos econômicos?
Jeffrey Sachs - Agora, economia é saúde pública. Se se controla esta pandemia, se restaura a vida cotidiana e econômica.
Se a pandemia não for controlada e seguimos propagando o vírus ao redor do mundo, isso afetará muito os países pobres e os países de rendas médias, os impactos econômicos durarão anos e serão muito graves.
Se esses impactos econômicos muito graves conduzem a uma crise financeira, o que é uma possibilidade real porque muitos países correm o risco de não poder pagar suas dívidas internacionais ou enfrentam uma desestabilização financeira muito importante em suas economias, isso multiplicará os efeitos.
Se temos uma crise financeira, uma crise de saúde pública e uma crise geopolítica, teremos outra era de Grande Depressão.
Muitas coisas podem ficar ruins neste momento.
Jair Bolsonaro falando com a imprensaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSachs critica a postura de lideranças latino-americanas como Bolsonaro e Andrés Manuel López Obrador, presidente do México, diante da pandemia
Há uma maneira de fazer com que as coisas melhores, mas não estamos seguindo essa trajetória porque a qualidade da liderança em muitos países, começando pelos EUA, é tão ruim que estamos tendo resultados muito ruins quando poderíamos estar muito melhores.
E, lamentavelmente, a perspectiva é de resultados ainda piores no futuro. Temos uma liderança terrível nos EUA, uma liderança miserável no Brasil, uma liderança ruim para esta crise no México. Muitas economias emergentes estão começando a se ver muito afetadas, e tudo isso poderia levar a um desastre crescente.
No curto prazo, há muita dor econômica junto com as mortes e os confinamentos.
Mas estamos bem no momento em que ou fazemos uma boa saúde pública ou enfrentaremos transtornos econômicos que durarão anos. E temo que estejamos indo mais na direção do último.
BBC - A pandemia está aumentando a diferença entre ricos e pobres em um mundo que já era bastante desigual?
Sachs - Temos de estar muito preparados para o grande aumento da fome nos países pobres.
O sistema internacional não é muito generoso nem voltado a grandes resgates, embora tenham sido dados alguns passos notáveis recentemente, como a moratória no serviço de dívida dos países pobres com credores oficiais no Clube de Paris. Isso foi muito bom.
Para os países pobres, crise significa indigência. Para países de rendas médias ou ricos, significa dor. Inclusive nos EUA, pela debilidade da nossa rede de segurança social, será desesperador para muita gente.
Nossa taxa de desemprego é de 20%, mais ou menos. Só metade da população adulta tem um emprego neste momento, é absolutamente impactante. Então, há dor inclusive nos países ricos. Mas, nos países pobres, a margem pode ser tornar rapidamente desesperadora.
Mulher com máscara em mercado no MéxicoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionApesar do crescimento exponencial de casos de covid-19 no México, país se prepara para relaxar medidas de confinamento
Ainda não vimos exatamente isso, mas estamos na etapa inicial desta epidemia. Também temos muitos países em desenvolvimento onde a doença está surgindo. O Brasil é um, o Equador, outro, México, provavelmente outro.
Os dados são terríveis. Os dados oficiais deixam entrever apenas uma pequena parte da realidade neste momento. Os informes recentes sobre o excesso de mortes mostram que, em alguns países, as mortes oficiais registradas por covid-19 são talvez uma décima parte ou um quarto do que aparece como excesso de mortalidade.
Então, estamos não só numa fase inicial e dramática, mas também estamos vendo com precisão o panorama do que ocorre nesta etapa.
BBC - A América Latina avançou na redução da pobreza nos primeiros anos deste século, mas a tendência se reverteu com o fim do boom das matérias primas, e agora a região enfrenta esta crise. Há um risco de que desapareça a nova classe média que surgiu na América Latina?
Sachs - A única notícia positiva para grande parte da América Latina é que ela tem regiões produtoras de alimentos. Portanto, deveria haver comida em muitos países e na região.
Mas pense em quantos países estão muito afetados neste momento.
O Brasil está tão desastrosamente governado que já estava em crise, mas com Bolsonaro está se transformando numa crise ainda mais profunda porque o governo federal é, como nos EUA, incoerente e dá pouca ajuda para deter a epidemia além do que fazem os governadores estaduais.
Sabemos que o Equador e o Peru enfrentam um forte impacto da epidemia.
É provável que no México aconteça o mesmo porque AMLO (como é conhecido o presidente Andrés Manuel López Obrador) tem estado basicamente em negação, como Trump e Bolsonaro.
Jeffrey SachsDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEconomista vê semelhanças entre o cenário atual e o da década de 1930, quando o mundo viveu um grande período de crise
O México já se encontra numa crise terrível porque o presidente depositou de maneira inexplicável e incompetente todas as fichas na Pemex (Petróleos Mexicanos, uma empresa estatal), justo quando o mercado petroleiro desaba.
E o México não tinha por que decidir dobrar os investimentos da Pemex. Foi um desperdício completo de recursos nacionais.
A Argentina tem estado em crise, claro. É provável que se produza um descumprimento dos pagamentos (de dívida) porque, se bem que na minha opinião ela fez uma oferta muito profissional e acertada aos credores sobre como evitar o default, os credores não são muito inteligentes para evitar sua própria quebra. Portanto, é provável que vejamos um descumprimento de pagamentos.
E embora isso talvez seja o melhor que a Argentina possa fazer por ela mesma, não é um bom panorama.
A Venezuela tem estado sob agressão total dos EUA, ao ponto de terem sido enviados mercenários para matar ou sequestrar o presidente.
O Chile, o lugar mais estável e mais bem governado da região, se incendiou no ano passado com os protestos por causa da crescente desigualdade. Isso foi antes da covid-19.
É o pior cenário que vimos na região em muito tempo.
E, dada a completa falta de cooperação internacional e a incapacidade absoluta do governo Trump de fazer algo construtivo em qualquer frente, quer seja a doméstica ou a internacional, não se pode ser demasiado otimista sobre o cenário latino-americano neste momento.
É em quase todas as partes um panorama bastante sombrio de uma região muito afetada, onde a crise se aprofundará. Quisera eu poder ser mais otimista, mas neste momento é difícil ver pontos positivos.
BBC - E o que diz do fato de que haja talvez milhões de pessoas passando fome no país mais rico do mundo, ou que os latinos e afroamericanos sejam os mais afetados pela covid-19?
Sachs - A primeira regra é não ter um psicopata como presidente. Temos o pior presidente da história dos EUA.
Isso já era óbvio para os que observam de perto nos últimos três anos. Mas este homem é absolutamente venal, narcisista, ignorante e infelizmente se colocou no caminho da mínima sanidade na resposta a esta crise.
Por isso, os EUA têm mais de 80 mil mortos, um colapso completo dos nossos sistemas de saúde pública e uma incapacidade absoluta neste país rico e poderoso, cheio de talento, para fazer o mínimo: obter máscaras faciais, rastrear contatos (de pessoas infectadas). Não fazemos o básico nos EUA.
Donald TrumpDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionColetivas de imprensa do presidente americano têm sido fontes constantes de polêmicas
E, depois, (houve) a ideia brilhante deste homem foi deixar de financiar a OMS no meio de uma pandemia global: absolutamente destrutivo.
Está mentalmente transtornado. Passa cada dia na sua conta no Twitter atacando pessoas aqui e ali, acusando o ex-presidente (Barack Obama) de grandes crimes, acusando a China de crimes terríveis.
Os EUA perderam por completo o rumo ao ter esse homem como presidente.
Acho que durante um tempo as elites poderosas o viram como uma espécie de idiota útil: reduziu seus impostos, aumentou a oferta de dinheiro, o mercado de ações estava em alta...
Mas não se pode ter esta combinação de narcisismo maligno e ignorância no meio da pior crise da história moderna. E é isso o que temos, infelizmente.
BBC - Ao que parece, os EUA estão se retirando de seu papel de líder mundial e cada país tem sua própria estratégia contra esta pandemia. É possível alcançar uma agenda global construtiva neste contexto?
Sachs - Os EUA se eximiram da agenda internacional por muitos anos. E, claro, isso ficou mais extremo com Trump.
A atitude de Trump é tratar de romper o sistema internacional em sua medula, romper a Organização Mundial do Comércio, retirar-se de qualquer tratado, encerrar os acordos de armas, gastar bilhões ou mais numa nova geração de armas nucleares.
Agora tudo isso está no contexto da mais profunda crise econômica desde a Grande Depressão e uma crise de saúde global que não tem precedentes, pelo menos desde a epidemia de gripe de 1918. E o que ele quer é usar isso, e está tendo algum efeito na opinião pública, como uma ocasião para instigar uma nova Guerra Fria com a China.
Trump e Xi JinpingDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSachs critica postura de Trump em relação à China
Os EUA têm muito poder através do dólar e dos sistemas de armas. Diria que essas são as duas fontes reais de poder dos EUA, mas são muito poderosas. Viajo por todo o mundo. Ninguém respeita Trump, quase todo mundo sabe que é um louco. Mas o poder do dólar, a ameaça de sanções e a contenção do sistema de armas fazem com que outros sigam a corrente.
Claro que cada vez que há grandes rivalidades de poder, os países escolhem bandos pensando que também obterão algum benefício. Digo isso tudo porque o propósito dos EUA neste momento é usar inclusive esta crise para criar uma nova Guerra Fria intencionalmente, não por acidente, por destino ou por resignação à realidade, mas por intenção.
Porque a China estava se tornando muito poderosa aos olhos desses nacionalistas e neoconservadores. Então estamos provando de novo o livro de jogos de 1947: como contivemos a União Soviética, vamos conter a China.
Acho perigoso e ridículo, mas especialmente perigoso.
BBC - Perigoso em que termos? O quão ruim pode ser a escalada?
Sachs - Há um princípio geral nas crises econômicas globais: sem cooperação, uma crise como essa pode criar uma sombra de depressão muito grande.
E uma ideia que considero crível é que a profundidade da Grande Depressão em si mesma foi um reflexo da falta de liderança global na década de 1930.
A Grã Bretanha era muito frágil para liderar, os EUA não estavam interessados em liderar, (a chamada republica de) Weimar estava em recuo, Hitler chegou ao poder em janeiro de 1933 e a Grande Depressão se aprofundou porque não houve cooperação.
Aqui temos um choque de igual magnitude, embora em uma etapa muito inicial: é possível se recuperar rápido.
A recuperação principal teria de começar pela saúde pública. E depois pela limpeza financeira, porque haverá muitos países em descumprimento efetivo de pagamentos, ou em uma crise financeira. Desse jeito, poderíamos nos recuperar desta crise muito rápido, ter algum rebote em 12 ou 18 meses.
Acho que isso é muito improvável agora. E atribuiria isso à política, mais que à natureza intrínseca de qualquer crise.
Porque crises como estas se resolvem ou se alimentam de si mesmas. São processos dinâmicos, e dessa maneira vão de mal a bem ou de mal a pior. E esta está na direção de ir de mal a pior.
BBC - Há algo no mundo que lhe provoque esperança neste momento?
Sachs - Sim. Às vezes me consideram muito otimista porque creio estar bem treinado para ver as possibilidades do que se pode conquistar.
Quando falei sobre o fim da pobreza, não foi uma previsão que inevitavelmente aconteceria. Foi uma declaração do que poderia acontecer e aqui estão as coisas necessárias para acontecer. E de fato houve progresso.
Muitas coisas que enfatizo, em especial como a tecnologia e a convergência podem ajudar os países a se desenvolver, estão acontecendo durante esta crise. Temos exemplos diante de nós de como resolver esse problema. E o lado mais promissor do mundo são os 15 países da Associação Econômica Integral Regional (RCEP na sigla em inglês) - Japão, China, Coreia, os dez países da ASEAN, Austrália e Nova Zelândia. Esse grupo de países soma ao redor de 2 bilhões de pessoas. E se observamos os 15 países, creio que todos eles com exceção da Indonésia têm a epidemia ao menos sob controle provisório neste momento.
É uma região que não só poderia mostrar ao resto do mundo como fazê-lo, mas também proporcionar uma grande quantidade de equipamento e orientação.
Espero e defendo cada dia que a região mire a si mesma e diga: "Estamos fazendo". E se una.
Mas essa visão talvez seja o maior pesadelo dos encarregados de formular políticas nos EUA. A ideia de que o Japão e a China cooperem é um terror para os nacionalistas americanos. Então os EUA estão ali todos os dias tratando de separar, em lugar de dizer: "Trabalhem juntos, para que possamos resolver tudo isso."
Você me perguntou por algo otimista e não terminarei com uma nota pessimista. Só direi que há 2 bilhões de pessoas dos 7,7 bilhões que estão no caminho certo.
Se aprendermos com eles, os emularmos, nos associarmos, cooperarmos com eles, faremos o trabalho sem uma Grande Depressão. Esse é o otimismo.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 23 de maio de 2020

Rede vai à Justiça após Bolsonaro defender armar cidadão contra isolamento



Rede vai à Justiça após Bolsonaro defender armar cidadão contra isolamento Randolfe diz que fala "revela, além do desvio de finalidade, uma intenção criminosa da parte do presidente" Imagem: Lula Marques/Ag. PT Eduardo Militão e Luís Adorno Do UOL, em Brasília e São Paulo 23/05/2020 10h47 O partido Rede Sustentabilidade vai à Justiça contra uma portaria do governo federal que aumentou a quantidade de munições que uma pessoa pode adquirir por ano. A regra foi baixada um dia depois da reunião ministerial em que Jair Bolsonaro (sem partido) disse que ela seria um "recado" contra governadores e prefeitos O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que vai  abrir um projeto de decreto legislativo no Congresso para tentar suspender a portaria. As medidas serão tomadas na segunda-feira (25). Com informações de https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/05/23/rede-justica-jair-bolsonaro-armar-populacao-isolamento-social.htm?
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Vídeo de reunião inflama base mais fiel a governo, mas afasta apoio de outros grupos, dizem analistas


Bolsonaro de perfil, ao lado de dois ministros, em reuniãoDireito de imagemMARCOS CORRÊA/PR
Image captionBolsonaro na reunião de 22 de abril; gravação do encontro teve seu sigilo quase integralmente retirado por decisão do ministro do STF Celso de Mello
A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello de retirar o sigilo de quase toda a gravação de uma reunião do presidente Jair Bolsonaro com ministros do governo no dia 22 de abril tornou públicas declarações do presidente queixando-se da atuação da Polícia Federal e dizendo que iria interferir no órgão.
Além disso, revelou ao país um encontro dentro do Palácio do Planalto repleto de ataques a outras autoridades, termos chulos e declarações de cunho autoritário.
O vídeo integra o inquérito aberto pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, para investigar se Bolsonaro cometeu algum crime quando decidiu trocar o comando da Polícia Federal, dois dias depois de ameaçar interferir no órgão durante essa reunião — decisão que levou Sergio Moro a se demitir do cargo de ministro da Justiça e da Segurança Pública no mesmo dia.
Caberá a Aras avaliar se as falas de Bolsonaro na reunião ministerial, somadas ao depoimento de testemunhas e outras eventuais provas, são indícios suficientes para apresentar uma denúncia criminal contra o presidente, o que teria potencial de provocar o fim do seu mandato.
Por enquanto, no campo político, a mera divulgação do vídeo não deve ser determinante para o futuro do governo, avaliam cientistas políticos ouvidos pela BBC News Brasil, ainda que a gravação mostre xingamentos de Bolsonaro a governadores, a defesa da prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal por parte de sua equipe e um grande desinteresse do governo em discutir medidas para enfrentar a pandemia do coronavírus, que já matou mais de 20 mil pessoas no país.
Na avaliação desses analistas, o conteúdo do vídeo deve até inflamar a base mais fiel a Bolsonaro, atiçando os apoiadores que simpatizam com o estilo do presidente de brigar com os outros Poderes (Congresso e STF), exaltar o uso de armas e usar uma linguagem direta e grosseira.
Por outro lado, afirmam, a gravação não deve agradar grupos mais moderados que já vêm retirando seu apoio a Bolsonaro devido à depressão econômica, às sucessivas crises produzidas dentro do próprio governo e por não aprovar a atuação do presidente na pandemia.
Pesquisas de opinião têm apontado gradativo aumento da rejeição a Bolsonaro nas últimas semanas.
"O vídeo não foi uma bala de prata, algo que provocasse uma perda terrível de capital político do Presidente da República. Acho que ele já perdeu bastante capital político antes disso e está cercado hoje por sua base mais fiel, que é sensível aos temas que foram tratados na reunião", afirma o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.
O cientista político Antônio Lavareda, da Universidade Federal de Pernambuco, tem avaliação semelhante.
"O vídeo incita o bolsonarismo de raiz, porque mostra o estilo mais cru, espontâneo do presidente, o que revigora os ânimos desse eleitorado mais fiel. Por outro lado, a gravação afasta o eleitorado um pouco mais sofisticado, de classe média, que não é de raiz e chegou ao bolsonarismo no final da campanha presidencial de 2018", afirma.
Na reunião, enquanto criticava a atuação de prefeitos na pandemia de coronavírus, Bolsonaro chegou a defender que "o povo se arme". No dia seguinte, o governo publicou uma portaria elevando a quantidade de munição que civis com posse de arma autorizada poderia comprar.
"Como é fácil impor uma ditadura no Brasil. Como é fácil. O povo tá dentro de casa. Por isso que eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme! Que é a garantia que não vai ter um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui! Que é fácil impor uma ditadura! Facílimo! Um bosta de um prefeito faz um bosta de um decreto, algema, e deixa todo mundo dentro de casa. Se tivesse armado, ia pra rua", disse o presidente.
Ministros em reunião de 22 de abril, sentados diante de mesas em formato de UDireito de imagemPALACIO DO PLANALTO
Image captionGravação de encontro revelou ao país uma reunião dentro do Palácio do Planalto repleto de ataques a outras autoridades, termos chulos e declarações de cunho autoritário
Em outro momento da reunião, ele cobra fidelidade dos ministros a suas bandeiras, ao se dirigir à ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.
"Quem não aceitar a minha, as minhas bandeiras, Damares: família, Deus, Brasil, armamento, liberdade de expressão, livre mercado. Quem não aceitar isso, está no governo errado", afirmou Bolsonaro.

Vídeo não deve precipitar impeachment

Diante dessa expectativa de que o vídeo anime os apoiadores e desagrade os que já não apoiam o governo, os analistas ouvidos pela reportagem não acreditam que a divulgação do vídeo possa aumentar a pressão para que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, inicie um processo de impeachment contra Bolsonaro.
Já há mais de 30 pedidos apresentados nesse sentido, mas Maia têm dito que o momento é de o Congresso focar no enfrentamento à pandemia.
Para Antonio Lavareda, o andamento de um processo de impeachment dependeria de manifestações nas ruas pressionando o Congresso, o que é inviável devido às medidas de isolamento social para conter o coronavírus. Da mesma forma, ele acredita que a falta de mobilizações do tipo também reduzem o incentivo para que Augusto aras apresente um denúncia contra Bolsonaro.
"Ao mesmo tempo que a pandemia prejudica o presidente, por causa da crise econômica e da avaliação ruim sobre a resposta do governo ao coronavírus, ela também vai empurrando pra frente (o governo) e inviabilizando qualquer desfecho mais rápido da crise política", afirma.
Para Carlos Melo, do Insper, o que deve repercutir de forma mais negativa do conteúdo do vídeo é ausência de uma discussão séria sobre medidas do governo para conter a pandemia do coronavírus. No dia da reunião, o Brasil registrava quase 3 mil mortes e mais de 45 mil pessoas contaminadas. Em um mês, já são mais de 330 mil casos da doença e mais de 20 mil mortes.
"É o mais sério que pode ser explorado politicamente porque isso mexe com a vida das pessoas. A pandemia é o grande tema mundial, o mundo está discutindo o que fazer, e eles estão (na reunião ministerial) focados na defesa do governo", observa o professor.
Bolsonaro falando a apoiadores em área externa, à noite, com olhar consternadoDireito de imagemREUTERS/ADRIANO MACHADO
Image captionBolsonaro falou a apoiadores na noite desta sexta-feira (22), após divulgação de gravação do encontro com seus ministros em 22 de abril; ele minimizou conteúdo da reunião publicado
Apesar disso, Melo também não considera que isso seria suficiente para estimular o início de um processo de impeachment.
Na sua avaliação, o maior risco para o presidente está nas investigações conduzidas por Augusto Aras, principalmente depois que o empresário Paulo Marinho, ex-aliado de Bolsonaro hoje filiado ao PSDB, ter revelado que um dos filhos do presidente, o ex-deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro, lhe contou ter sido avisado por um delegado da PF no Rio de Janeiro sobre uma operação sigilosa que ocorreria no final de 2018, com potencial para afetá-lo.
Segundo Marinho, esse delegado disse a Flávio que a operação estava sendo segurada para não afetar a campanha presidencial de Jair Bolsonaro. Ela acabou deflagrada logo após a eleição, em novembro, atingindo deputados e servidores da Assembleia do Rio de Janeiro, mas sem envolver Flávio, então deputado estadual, e seu gabinete.
Depois disso, em dezembro de 2018, veio a público os indícios de que havia no gabinete de Flávio um esquema de rachadinha (quando pessoas contratadas devolvem parte do salário, num esquema de desvio de dinheiro público) operado por seu assessor Fabrício Queiroz.
Flávio nega qualquer ilegalidade em seu gabinete e acusa Marinho, que é seu suplente no Senado, de mentir para tentar ficar com seu cargo de senador.
Marinho prestou depoimentos ao Ministério Público Federal esta semana e Aras ainda avaliará se inclui essas acusações no inquérito que investiga a possível interferência de Bolsonaro na PF..
Acesse os Links abaixo e assista aos vídeos da reunião.


Professor Edgar Bom Jardim - PE