sábado, 16 de novembro de 2019

Golpe e violência:Crise na Bolívia: Organizações internacionais criticam "uso desproporcional da força" contra seguidores de Evo Morales


ChapareDireito de imagemAFP
Image captionBolívia viveu dia de repressão e violência nesta sexta, 15
As imagens que chegam de La Paz e Cochabamba, entre outras cidades bolivianas, dão conta que o país viveu outro dia de repressão, violência e luto nesta sexta, 15.
No final do dia, o governo divulgou dados policiais e militares informando que cinco pessoas foram mortas atingidas por tiros e ao menos 22 foram feridas. Os números ainda podem ser atualizados.
A cidade de Sacaba, onde produtores de folha de coca protestam contra a saída de Evo Morales da presidência, foi o epicentro dos maiores enfrentamentos. A cidade fica no centro da Bolívia e é capital da província de Chapare.
A grave crise boliviana, que está próxima de completar quatro semanas e que soma ao menos 13 mortos, e cenas de forte repressão registradas nos últimos dias casuaram preocupação de entidades internacionais.
cocalerosDireito de imagemAFP
Image captionOs protestos de cocaleiros deixaram 5 mortos
Uma delas é a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) da OEA (Organização dos Estados Americanos), que condenou o "uso desproporcional da força militar e policial". "As armas de fogo devem ser eliminada dos dispositivos utilizados para o controle dos protestos sociais."
A CIDH declarou, também, que "o uso indiscriminado de gás lacrimogêneo pelas forças policiais e militares na Bolívia atentam gravemente contra as normas jurídicas internacionais".
"O Estado tem o dever de respeitar o direito humano de protestar pacificamente", indicou a entidade.

Campo de batalha

Os enfrentamentos em Sacaba começaram quando a polícia tentou dispersar um protesto de cocaleiros de Chapare, a emblemática selva onde Morales se forjou líder sindical.
A massiva mobilização campesina rechaçava o governo transitório de Jeanine Áñez, que assumiu a presidência da Bolívia depois da saída de Evo.
Os produtores de folha de coca, como os grupos indígenas e de camponeses de diferentes cidades da Bolívia, não reconhecem seu mandato e pedem o retorno do ex-presidente, que agora está no México como asilado político.
Diferentes meios de comunicação bolivianos divulgaram, atribuindo a informação a fontes policiais, que objetos explosivos foram encontrados em poder dos manifestantes. Além disso, que a violência teria começado por causa da explosão de um dinamite que os grupos mobilizados carregavam.
gasesDireito de imagemREUTERS
Image captionOs apoiadores de Evo Morales exigem sua volta à presidência
Em Laz Paz, também houve episódios de violência protagonizados por manifestantes "evistas" e forças policials e militares.
Trincheiras, fogueiras e barricadas se multiplicaram em ruas e avenidas de diferentes pontos da cidade sede dos poderes na Bolívia.
Os gases lacrimogêneos foram o principal recurso com que as forças de ordem tentaram dispersar os grupos mobilizados, embora vários deles tenham permanecido nas ruas até o começo da noite.
Alguns desses grupos são qualificados por vizinhos como gangues ou blocos de delinquentes que aproveitam a grave crise política para saquear e destruir.

Condenação internacional à participação de militares

Uma das principais observações da CIDH foi sobre a participação das Forças Armadas nas ações repressivas.
"A CIDH expressão sua preocupação com o acionamento das Forças Armadas nas operações combinadas realizadas na Bolívia desde o início da semana", diz a entidade.
O órgão compartilhou por meio de sua conta no Twitter diversos vídeos e fotos que mostram um alto grau de repressão.
Jeanine Áñez
Image captionA Human Rights Watch sinalizou a Áñez que sua missão era convocar eleições
A Human Rights Watch (HRW), uma entidade de defesa de direitos humanos com sede em Washington, por sua vez, declarou que apoia o pedido de organizações civis bolivianas para que a CIDH envie uma comissão "para monitorar a situação".
José Miguel Vivanco, diretor para as Américas de HRW, disse que era "alarmante" que algumas autoridades do governo de Áñez queiram perseguir políticos adversários ou processar jornalistas.
"Áñez não deve esquecer que assumiu o cargo sem um só voto. Sua missão é convocar eleições o mais rápido possível", afirmou.

Reações na Bolívia

O governo de transição, por meio do ministro da Presidência, Jerjes Justiniano, reiterou na noite de sexta seu chamado à pacificação e ao diálogo com os setores mobilizados.
"Convocamos absolutamente todos os setores, movimentos sociais, à pacificação do país para que junto possamos nos sentar em uma mesa de diálogo", disse.
Mais cedo, a presidente Áñez falou sobre a identificação de grupos subversivos formados por "cidadãos bolivianos e estrangeiros", denunciando que seu objetivo era o bloqueio dos serviços básicos nas principais cidades do país.
"Identificamos grupos subversivos armados, formados por estrangeiros e nacionais. Identificou-se uma estratégia de bloqueio aos serviços básicos como mecanismo de asfixia às capitais, com grupos de pessoas que não estabelecem um argumento específico para justificar esses delitos contra a sociedade", declarou a mandatária.
A Andean Info Net (AIN), uma entidade de pesquisa que trabalha na Bolívia e tem diversos contatos com cocaleiros de Chapare, compartilhou listas de pessoas feridas por balas que, segundo as publicações, chegam a 33. Declarou, também, que o país vive um "estado de violência".
Evo MoralesDireito de imagemREUTERS
Image captionMorales falou com a imprensa internacional na sexta, 15
Enquanto isso, a "Defensoria do Povo", uma instituição boliviana estabelecida pela constituição e encarregada de assegurar o cumprimento dos direitos humanos no país, exigiu que o Ministério Público abrisse uma investigação imediata para estabelecer quem são os responsáveis pelas mortes em Sacaba.
"Instamos o governo a investigar se a atuação de ambas forças (militares e policiais) se deu dentro que estabelece a Constituição e os protocolos internacionais a respeito dos direitos humanos", declarou a entidade.
A Defensoria indicou que o governo transitório havia anunciado que "buscaria a pacificação do país".
"No entanto, hoje o povo boliviano deve lamentar 5 mortes que se somam às 13 contabilizadas pela instituição durante esse conflito", concluiu a entidade.

Com informações de
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Negros são maioria no ensino superior público


Ainda há, no entanto, discrepâncias em relação à permanência dos alunos nas universidades

A proporção de pessoas pretas ou pardas (que compõem a população negra) cursando o ensino superior em instituições públicas brasileiras chegou a 50,3% em 2018. Apesar desta parcela da população representar 55,8% dos brasileiros, é a primeira vez que os pretos e pardos ultrapassam a metade das matrículas em universidades e faculdades públicas.
Os dados estão no informativo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, divulgado nesta quarta-feira 13, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A comparação foi feita com as informações do suplemento de educação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – Contínua (Pnad Contínua), que começou a ser aplicado em 2016
A pesquisa mostra que a população negra está melhorando seus índices educacionais, tanto de acesso como de permanência, apesar de ainda se manter bem atrás dos índices medidos entre as pessoas brancas.
A proporção de jovens de 18 a 24 anos pretos ou pardos no ensino superior passou de 50,5% em 2016 para 55,6% em 2018. Entre os brancos, a proporção é de 78,8%. Na mesma faixa etária, o número de pretos e pardos com menos de 11 anos de estudo e que não estavam frequentando a escola caiu de 30,8% em 2016 para 28,8% em 2018, enquanto o indicador para a população branca é de 17,4%.

Outros percentuais

Os que já haviam concluído o ensino superior somavam 36,1% dos brancos e 18,3% dos pretos e pardos, enquanto a taxa de ingresso no terceiro grau é de 53,2% entre os brancos e de 35,4% entre pretos e pardos. Na faixa de 18 a 24 anos que concluiu o ensino médio, mas que não estava estudando por trabalhar ou precisar procurar trabalho, 61,8% eram pretos ou pardos.
A analista de indicadores sociais do IBGE Luanda Botelho disse que a melhora das estatísticas é reflexo de políticas públicas que proporcionaram o acesso e permanências da população preta e parda na rede de ensino.
“O estudo mostra para a gente que para todos os indicadores educacionais há uma trajetória de melhora desde 2016. Isso se reflete em menor atraso escolar, mais pessoas pretas ou pardas frequentando a escola na etapa de ensino adequada para a idade, menor abandono escolar, mais pessoas pretas ou pardas concluindo o ensino médio e ingressando no ensino superior”, afirmou.

FOTO: AGÊNCIA BRASIL/VALTER CAMPANATO
Os rendimentos de pretos e pardos se mantêm abaixo do segmento de brancos. O rendimento médio mensal entre brancos é de R$ 2.796 e entre pretos e pardos cai para R$ 1.608, uma diferença de 73,9%. Na comparação apenas entre quem tem curso superior, os bancos ganhavam por hora 45% a mais do que os pretos e pardos.
Para o pesquisador do IBGE Claudio Crespo, a melhora nos indicadores dos negros é relevante, mas como a desigualdade é histórica e estrutural, os ganhos para a população preta ou parda só aparecem com organização e mobilização social e políticas públicas direcionadas.
“A intervenção de políticas públicas é um fator essencial para a redução dessa desigualdade. Onde há avanços percebidos, apesar da distância que ainda reside, são espaços em que houve intervenção de políticas públicas e também organização do movimento social para a conquista de uma sociedade mais igualitária. Como as cotas para acesso ao nível superior”, explicou.

Representação política

Na representação política, os pretos e pardos também ficam muito atrás dos brancos, com apenas 24,4% dos deputados federais eleitos em 2018 tendo se declarado negros. Entre os deputados estaduais, o número sobe para 28,9% e, entre os vereadores eleitos em 2016, o índice sobe, com 42,1% tendo se declarado preto ou pardo.
Segundo o estudo do IBGE, a sub-representação começa nas candidaturas, com a autodeclaração de pessoas pretas e pardas totalizando 41,8% dos candidatos a deputado federal, 49,6% dos que tentam uma vaga nas assembleias estaduais e 48,7% dos que querem ser eleitos vereadores.
No recorte de verbas utilizadas nas campanhas, 9,7% dos candidatos brancos a deputado federal tiveram receitas superiores a R$ 1 milhão e, entre pretos ou pardos, o índice ficou em 2,7%. A representação das mulheres pretas ou pardas chega a apenas 2,5% dos deputados federais, 4,8% dos deputados estaduais e 5% dos vereadores.
Considerando todas as mulheres, elas representam 16,9% da Câmara dos Deputados, 31,1% das assembleias estaduais e 36,8% das câmaras municipais.
Os dados de cor ou raça só começaram a ser coletados pela Justiça Eleitoral em 2014, com a pergunta inserida na inscrição da candidatura.
Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Família de brasileiros é presa por comandar 'império' de bordéis, prostituição e drogas em Londres

Em redes sociais, uma família de três brasileiros colecionava elogios de parentes e amigos em fotos e vídeos a bordo de jetskis, um Rolls Royce, uma Ferrari e uma Lamborghini.
No Facebook, a família ostentava uma vida de luxos em Londres, uma das capitais mais caras do mundo, e criticava duramente a corrupção no Brasil, compartilhando textos e imagens em defesa de operações da Polícia Federal e do Exército em Brasilia e no Rio de Janeiro. "Os corruptos piram", diziam.
Há duas semanas, o jogo se inverteu e o casal de paulistas Flavia Xavier-Sacchi (23) e Renato Dimitrov Sacchi (43), e o irmão dele, Raul Sacchi (49), foram condenados e presos em Londres por comandarem um megaesquema de prostituição, escravidão moderna, bordéis clandestinos, segurança ilegal e venda de drogas na capital inglesa.
Flavia, Renato e Raul SocchiDireito de imagemMETROPOLITAN POLICE
Image captionTrês brasileiros - Flavia, Renato e Raul Sacchi - eram os cabeças de uma quadrilha que explorava mulheres, vendia drogas e controlava bordéis clandestinos em Londres, segundo a polícia
A quadrilha empregava pelo menos outros cinco brasileiros e faturava milhões de libras por ano, segundo a Scotland Yard, que trabalhou por mais de um ano com agentes infiltrados à paisana no esquema, descrito como "uma rede sofisticada de prostíbulos, pelos quais vendiam drogas e controlavam prostitutas, gerando lucros acima de um milhão de libras" - ou mais de cinco milhões de reais - por ano.
"As pessoas geralmente são reticentes ou têm muito medo de contribuir com investigações sobre escravidão moderna, por isso nosso trabalho é construir uma acusação e desmontar essas organizações criminosas usando todo tido de prova possível", disse a polícia metropolitana de Londres, em nota.
"Detetives passaram meses empregando diversas táticas para construir a investigação contra o grupo criminoso, adotando uma abordagem baseada em evidências para garantir que fossem condenados e levados à Justiça. Qualquer pessoa que considere explorar outros seres humanos para obter ganhos financeiros deve esperar enfrentar o mesmo nível de investigação e acusação de especialistas."

'Império milionário'

Dinheiro em espécie e chaves de carros de luxoDireito de imagemMETROPOLITAN POLICE
Image captionDinheiro em espécie e chaves de carros de luxo foram apreendidas nas casas dos brasileiros pela polícia de Londres
Em 24 de outubro, depois de negarem qualquer envolvimento em atividades ilegais, Renato e a esposa Flavia Xavier-Sacchi confessaram ter culpa e foram condenados a mais de 8 anos de prisão, cada um. Já Raul Sacchi, que não admitiu participação no esquema, foi condenado pela Justiça a uma pena maior: 9 anos e dois meses de prisão.
Segundo a Scotland Yard, os três eram os cabeças de rede de prostíbulos ilegais espalhada em seis bairros do norte de Londres e "desfrutavam de estilos de vida luxuosos, gastando os lucros obtidos com a exploração de profissionais do sexo em férias de luxo, veículos e joias".
O caso ganhou destaque nos maiores tabloides ingleses, que descreveram os brasileiros como líderes de "um império milionário" de bordéis, drogas e prostituição em Londres.
Toda a investigação começou a partir da denúncia de uma jovem brasileira, que procurou a polícia em abril de 2017.
A mulher, cuja identidade foi preservada, contou que foi forçada a trabalhar nos bordéis da quadrilha durante dois meses e que os brasileiros diziam que matariam a família dela no Brasil, caso ela tentasse deixar a prostituição. Com ajuda de autoridades britânicas, ela conseguiu fugir - a polícia, por sua vez, começou a visitar os bordéis e flagrar funcionários vendendo drogas, especialmente cocaína.
Segundo a lei da Grã-Bretanha, a prostituição - ou a oferta de serviços sexuais em troca de dinheiro - é uma atividade legal. Por outro lado, a exploração da prostituição - por meio das figuras conhecidas como cafetões ou cafetinas - e a existência de bordéis ou prostíbulos é proibida em todo o território.

'Não existe isso de garotas cansadas'

joias, relógios de ouro e dinheiroDireito de imagemMETROPOLITAN POLICE
Image captionBrasileiros ostentavam joias, relógios de ouro e dinheiro em redes sociais e grupos no WhatsApp
Depois de mais de um ano de trabalhos à paisana, os detetives fizeram batidas em bordéis controlados pela família nas regiões de Cricklewood Broadway e Kenton Court. Lá, prenderam Antonio Teca Miranda, um brasileiro que mais tarde confessou participar das atividades de cafetinagem e venda de drogas.
Ele foi condenado a dois anos e seis meses de prisão.
As batidas policiais continuaram e outros quatro brasileiros - Maria Carvalho, Tony Simão, Henim Almeida e Anna Paula De Almeida Prudente - foram presos por participação no esquema.
A família Sacchi foi presa em 7 meses antes do julgamento, em fevereiro deste ano. Na casa de Renato e Flavia, a polícia encontrou £ 50 mil libras (ou mais de R$ 250 mil) em dinheiro, dois tasers e uma lata de gás de pimenta - os artefatos eram usados, junto a bastões de beisebol, na segurança dos prostíbulos.
Em aparelhos de telefone confiscados, os investigadores encontraram uma série de trocas de mensagens pelo WhatsApp em que os réus discutiam métodos de segurança e detalhes sobre a operação dos bordéis. Em um dos grupos, Raul Sacchi escreveu: "Não existe isso de garotas cansadas. Elas estão ali para trabalhar."
Somadas, as penas de todos os envolvidos chegam a 39 anos de prisão.
O inspetor-detetive Dan Mitchell, que coordenou as operações, disse que "através de um exame minucioso dos dispositivos, os detetives descobriram que o grupo via suas atividades como um negócio legítimo e se esforçava ao máximo para protegê-las".
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Quando a mercadoria se impõe



O capitalismo cria suas manipulações e procura firmar suas ideias. Existem seus parceiro entusiastas. A sociedade não vive sem concepções antagônicas. No entanto, há descompromisso claro com a coletividade. A desigualdade ocupa um espaço imenso. Há França, Brasil,Noruega, Chile, Espanha. O mundo é múltiplo e o ferimentos não são os mesmos. O capitalismo tem muitas cores, espalha promessas, sem fugir da exploração e do culto ao cinismo. Não se construiu por acaso. Possui teorias, forma exércitos, arruma ordens jurídicas. Convence e consolida-se, mesmo que haja ações revolucionárias, rebeldias, propostas dissonantes.
Ninguém esquece que estamos no mundo das mercadorias. Vende-se a força de trabalho e os anúncios exaltam novidades.Portanto, não é fácil desvendar mistérios ou mesmos significados de discursos que produzem ilusões. A história não de desfaz da diversidade. Existem minorias que ampliam seus interesses e pouco ligam para os labirintos que formam. Nem todos observam o tamanho do buraco e as carências contínuas.É preciso fabricar fabricar mundos que deixam de viver lutas. A histoória nunca foi calmaria.
As concepções de mundo precisam de difundir pedagogias e propagar valores. Nem todos simpatizam com a violência que traz a exploração. Porém há quem a justifique. As escolas podem ser espaços importantes para sustentar políticas. O capitalismo invade e não faz cerimônia. Defende-se com seus fascínios e sua aparente boa vontade. Fala-se em desenvolvimento, mesmo que as ruas denunciem o desgoverno. As instituições educacionais sofrem cercos e os modismos também flutuam atraindo os exibicionistas.
É complexa a discussão e não é nova. A burguesia não vacilou. Lembre-se de Napoleão, das manobras dos Estado Unidos, das disputas por mercados. A questão não é só econômica. É ampla e cheia de armadilhas. Se tudo vira mercadoria, a grana se solta, seduz, celebra êxitos, exclui. O cuidado é importante. Existem vencedores e vencidos. Ninguém vive sem escolhas.Há quem se esconda e busque máscara sofisticadas. Quem nega o medo, a vaidade, o desejo de ampliar as riquezas pessoais? Mundo é vasto e confuso com covardias, coragens, destemores. Assim a história caminha e abala.
A astúcia de Ulisses
Professor Edgar Bom Jardim - PE

A invasão da Embaixada da Venezuela em Brasília que ofusca início da cúpula do Brics



Funcionário da embaixada venezuelana fala com jornalistas em BrasíliaDireito de imagemSERGIO MORAES/REUTERS
Image captionNegociação para saída dos invasores incluiu diplomatas e integrantes de movimentos sociais
Atualizada às 18h40
O grupo ligado ao autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, que invadiu a Embaixada da Venezuela em Brasília pouco antes do início da Cúpula dos Brics, deixou o local no fim da tarde desta quarta-feira, 13 de novembro, anunciou o ministro das Relações Exteriores venezuelano, Jorge Arreaza. A ocupação começou no início da manhã.
"Anunciamos que o grupo de pessoas que, de maneira violenta, entrou em nossa Embaixada em Brasília abandonou nosso território e instalações, de maneira pacífica, após atuação de autoridades. Agradecemos aos movimentos sociais brasileiros por seu apoio valioso", afirmou Arreaza em sua conta no Twitter.
Procurado pela BBC News Brasil, o Itamaraty informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a situação havia sido controlada pelas forças de segurança e que não tem, no momento, mais detalhes sobre o caso.
A invasão ocorreu em um momento em que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) recebe líderes de China, Rússia, Índia e África do Sul na capital federal para a cúpula do Brics
A representação da Venezuela em Brasília, ao menos até a última madrugada, continuava sob comando de diplomatas ligados ao governo de Nicolás Maduro — que o Brasil não reconhece mais como mandatário do país, mas segue tendo apoio dos demais países do Brics.
Inicialmente, o Itamaraty disse que não estava claro se houve uma invasão ou se uma parte dos diplomatas que representam o governo Maduro desertaram e convidaram os apoiadores de Guaidó.
No entanto, em nota divulgada pouco depois pela Presidência da República, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) reconheceu que a embaixada foi invadida "por partidários de Guaidó" e negou participação do governo no episódio, que qualificou de "fatos desagradáveis". Depois, o governo divulgou uma correção da nota em que retirou a menção a "apoiadores de Guaidó".
"Como sempre, há indivíduos inescrupulosos e levianos que querem tirar proveito dos acontecimentos para gerar desordem e instabilidade; o Presidente da República jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão da Embaixada da Venezuela; as forças de segurança, da União e do Distrito Federal, estão tomando providências para que a situação se resolva pacificamente e retorne à normalidade", dizia o comunicado atualizado.
O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela emitiu um comunicado condenando o que chamou de "ataque cometido por grupos violentos ligados à oposição política venezuelana".
O texto atribuiu às autoridades brasileiras uma "atitude passiva" diante da invasão e cobrou que o país cumprisse suas obrigações como Estado signatário da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas "que estabelece a obrigação de proteger as sedes diplomáticas em qualquer circunstâncias".
O presidente Jair Bolsonaro (dir.) cumprimenta o líder chinês Xi JinpingDireito de imagemADRIANO MACHADO/REUTERS
Image captionO presidente Jair Bolsonaro recebeu o líder chinês Xi Jinping na cúpula do Brics
Um diplomata e um policial do Batalhão do Rio Branco (unidade da Polícia Militar do Distrito Federal que cuida da segurança das embaixadas) foram ao local mediar as negociações entre os envolvidos e com objetivo de evitar conflitos, já que o Brasil é obrigado por leis internacionais a proteger a integridade de todos os estrangeiros em solo brasileiro.
A unidade consular continuou funcionando sob comando do governo Maduro devido à necessidade do Brasil de também manter sua unidade consular em Caracas dando apoio aos brasileiros que vivem na Venezuela.
Embora o governo Bolsonaro reconheça Guaidó como presidente da Venezuela, o Itamaraty não esclareceu qual seria o "desfecho" que interessaria ao Brasil nessa mediação.
Em suas redes sociais, Bolsonaro repudiou no início da tarde a "interferência de atores externos" no episódio. Não ficou claro se foi uma crítica a deputados de oposição, como Paulo Pimenta (PT-SP) e Glauber Braga (PSOL-RJ), que foram à embaixada em apoio ao governo Maduro.
"Diante dos eventos ocorridos na Embaixada da Venezuela, repudiamos a interferência de atores externos. Estamos tomando as medidas necessárias para resguardar a ordem pública e evitar atos de violência, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas", postou o presidente.
Já o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, se manifestou algumas vezes pelo Twitter apoiando a invasão.
"Nunca entendia essa situação. Se o Brasil reconhece Guaidó como presidente da Venezuela por que a embaixadora Maria Teresa Belandria, indicada por ele, não estava fisicamente na embaixada? Ao que parece agora está sendo feito o certo, o justo", postou logo cedo.
Um pouco mais tarde, já depois do governo brasileiro ter divulgado a primeira nota reconhecendo a invasão por partidários de Guaidó, o deputado escreveu novamente em sua rede social: "Embaixada da Venezuela mudou porque funcionários reconheceram Guaidó como presidente legítimo. Invasão é o que ocorre agora com os brasileiros esquerdistas querendo se intrometer na questão".
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se reuniu pela manhã com o presidente Jair Bolsonaro para discutir a situação. Às 11h, Bolsonaro teve um encontro bilateral com o presidente chinês Xi Jinping — ambos não mencionaram a Venezuela em breve pronunciamento depois do encontro.
Apoiadores de Maduro e de Guaidó discutem na frente da embaixadaDireito de imagemSERGIO MORAES/REUTERS
Image captionA representação da Venezuela em Brasília, ao menos até essa madrugada, continuava sob comando de diplomatas ligados ao governo de Nicolas Maduro

Reconhecimento

María Teresa Belandria Expósito, reconhecida pelo governo brasileiro como embaixadora de Guaidó no Brasil, disse por meio de uma nota que "um grupo de funcionários da embaixada da Venezuela no Brasil se comunicou conosco para nos informar que reconhecem o presidente Juan Guaidó".
"Eles abriram as portas e entregaram voluntariamente a sede diplomática à representação legitimamente credenciada no Brasil. Esta ação foi imediatamente comunicada ao Ministério das Relações Exteriores", afirma ainda Belandria no comunicado.
A nota da embaixadora de Guaidó diz ainda que os demais funcionários da Embaixada foram covidados a continuar trabalhando na sede diplomática como representantes do governo autoproclamado.
Segundo a agência de notícias russa Sputnik, o governo de Maduro cobrou do Brasil que garanta a segurança da embaixada venezuelana, em acordo com a Convenção de Viena sobre relações diplomáticas. 
"O apelo ao governo brasileiro é que ele garanta respeito à imunidade de nossa embaixada sob a Convenção de Viena. Esperamos que isso não se torne um precedente importante", afirmou o vice-ministro para a Europa do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil, ao Sputnik. 
"Não temos muita informação até agora, mas às 4 da manhã (no horário de Brasília) grupos irregulares vinculados a Guaidó entraram violentamente na embaixada na tentativa de ocupar o prédio", acrescentou Gil, segundo a agência russa.
Professor Edgar Bom Jardim - PE