quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Delegado Waldir (GO), chama Jair Bolsonaro de “vagabundo” e fala que vai “implodir o presidente”.


Crédito: Reila Maria/Agência Câmara
Deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) (Crédito: Reila Maria/Agência Câmara)
O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) admitiu ter gravado a reunião da bancada do PSL em que o líder do partido, Delegado Waldir (GO), chama Jair Bolsonaro de “vagabundo” e fala que vai “implodir o presidente”. De acordo com o parlamentar, o objetivo foi “blindar” Bolsonaro na guerra declarada contra o presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE).
“Era uma estratégia pensada. Eu, Carlos Jordy (PSL-RJ), Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Carla Zambelli (PSL-SP), Bia Kicis (PSL-DF). Todo o grupo do Jair para gente poder blindar o presidente”, afirmou Silveira.
De acordo com o parlamentar, a estratégia foi pensada em reunião de Bolsonaro com 20 deputados da qual participou ontem, por volta das 16h, no Palácio do Planalto. Lá, eles iniciaram o plano de se infiltrar no grupo de parlamentares ligados a Bivar. Naquele momento, “bolsonaristas” e “bivaristas” travavam uma disputa na Câmara para recolher assinaturas. De um lado, os aliados de Bivar tentavam manter Waldir no posto, enquanto a ala ligada ao presidente tentava emplacar Eduardo Bolsonaro como líder.
Silveira e outros dois deputados foram para a reunião no gabinete da liderança do PSL. Para convencer que estava do lado de Waldir, ele assinou uma lista de apoio ao líder do PSL. Após gravar a conversa, Silveira voltou ao Planalto e mostrou a Bolsonaro a gravação. “Ele ficou p… da vida”, afirmou à reportagem.
O deputado tem experiência em trabalhar disfarçado. Quando era membro da Polícia Militar do Rio, ele atuou na área do Serviço de Inteligência, a chamada P2. A unidade é especializada em atuar disfarçado, muitas das vezes infiltradas, em organizações criminosas para buscar provas de crimes.
“Vou implodir o presidente”
Na reunião gravada por Silveira, ocorrida no fim da tarde de ontem no gabinete da liderança do PSL na Câmara, deputados relataram que estavam sendo pressionados por Bolsonaro a assinar a lista para destituir Waldir e apoiar o nome de Eduardo Bolsonaro como líder da bancada. O áudio do encontro, gravado por um dos presentes, foi obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo.
“Eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele. Não tem conversa. Eu implodo ele. Eu sou o cara mais fiel. Acabou, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo. Eu andei no sol em 246 cidades para defender o nome desse vagabundo”, afirma Waldir. Logo em seguida, alguém não identificado o alerta: “Cuidado com isso, Waldir.”
Embora o grupo ligado a Bolsonaro tenha apresentado uma lista com 27 nomes para destituir Waldir, a Câmara não aceitou todas as assinaturas e o manteve na liderança. No áudio, Waldir diz que pretende expulsar “um por um” dos que assinaram o documento contra ele.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

O fôlego frágil da paz


As intrigas não cessam e estimulam a violência. As disputas são muitas. Procuram firmar espaços suspeitos na economia, alimentam preconceitos culturais, minam resistências em defesa do meio ambiente. Um mapa da violência nos deixaria sem esperanças. Portanto, há quem use máscaras, se esconda em missões religiosas, agrade aos poderosos. O mundo se divide e se polariza. Não faltam suspenses. É difícil se imaginar a paz, a generosidade num sistema que consolida negócios obscuros e incentiva o comércio de armas. Os que se esforçam para encontrar saídas merecem celebrações, como o ministro da Etiópia, Abiy Ali. que luta contra segregações e ressentimentos, buscando anular pesos de inimizades seculares.
Ultrapassar os limites das tensões e mostrar boa vontade para o diálogo trazem sonhos e desmontam vinganças. O exemplo fica, embora a instabilidade permaneça e ameace sempre. Já houve tantas guerras, existem tantos ressentimentos que a sociedade não sossega. Basta observar a quantidade de refugiados, as promessas dos governos populistas, os militarismos tão defendidos pelos ditadores. Talvez, a reinvenção da história nunca aconteça. Fala-se do pecado original, outros esperam a redenção e muitos ganham dinheiro com as crenças populares. Simulam e brincam com a fé de forma cínica. As religiões pactuam com o individualismo, desfazem a força do sagrado, vendem mercadorias.
A convivência com as informações constrói um cotidiano de constante especulações. As redes sociais são espertas na busca de boatos, criam polêmicas, fragilizam parcerias solidárias. Elas funcionam como esconderijos privilegiados, embora haja resistências, denúncias. A complexidade é vasta, pois as tecnologias produzem elaboradas versões de desastres ecológicos, se articulam com os negócios e não querem compromissos com as verdades. Soltam as intrigas ou provocam as intrigas. Aproveitam-se das covardias e das armadilhas. A imprensa lucra com os desencontros e fustiga imaginações doentias. Estamos afogados na lama das controvérsias fabricadas. Parece estranho…
Houve expectativa com relação ao Nobel da Paz e surgiram nomes e argumentos dos mais diversos. Mas é importante compreender a dificuldade da escolha. Qual seria a grande questão? Há fôlego para se imaginar um mundo sem conflito? As utopias adoeceram e aguardam a morte? Há muitas indeterminações, o mundo é vasto, a política inquieta e sacode inseguranças. O nome de Raoni apareceu ,junto com o de Lula, nas especulações diárias. Causou polêmicas e justificou ironias. Nem todos se colocam no debate procurando se libertar de passados pesados , abrir as portas para conversar e recuperar reflexões comprometidas com transformações coletivas. A carga dos conflitos é imensa e o egocentrismo não se foi. A arquitetura da paz é frágil ou mesmo uma grande fantasia.
Paulo Rezende

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Diferença de rendimentos entre pobres e ricos é recorde, aponta IBGE



Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
O rendimento médio mensal do 1% mais rico da população brasileira atingiu, em 2018, o equivalente a 33,8 vezes o ganho obtido pelos 50% mais pobres. No topo, o rendimento médio foi de R$ 27.744; na metade mais pobre, de R$ 820.
A diferença entre os rendimentos obtidos pelo 1% mais rico e dos 50% mais pobres no ano passado é recorde na série histórica da PNADC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua) do IBGE, iniciada em 2012.
A desigualdade aumentou porque o rendimento real da metade mais pobre caiu ou subiu bem menos do que o dos mais ricos, sobretudo nos últimos anos.
De 2017 para 2018, por exemplo, o ganho dos 10% mais pobres caiu 3,2% (para R$ 153 em média) enquanto o do 1% mais rico aumento 8,4% (para R$ 27.774).
Desde o início da pesquisa, e coincidindo com o aumento na desigualdade, houve ainda uma diminuição no total de domicílios atendidos pelo Bolsa Família, de 15,9% no total do país em 2012 para 13,7% em 2018.
Vista de outro ângulo, a extrema concentração de renda no Brasil revela que os 10% da população com os maiores ganhos detinham, no ano passado, 43,1% da massa de rendimentos (R$ 119,6 bilhões). Na outra ponta, os 10% mais pobres ficavam com apenas 0,8% da massa (R$ 2,2 bilhões).
A disparidade de renda no Brasil tem ainda forte aspecto regional, com o Sudeste -com pouco mais de 40% da população- concentrando uma massa de rendimentos (R$ 143,7 bilhões) superior à de todas as outras regiões somadas.
Já o Sul, com cerca da metade da população do Nordeste, tem massa de rendimentos maior do que a dos nove estados nordestinos (R$ 47,7 bilhões ante R$ 46,1 bilhões).
Os dados de 2018 mostram ainda que o índice Gini, que mede a desigualdade numa escala de 0 (perfeita igualdade) a 1 (máxima concentração) aumentou em todas as regiões do Brasil e atingiu o maior patamar da série, chegando a 0,509.
A exceção foi o Nordeste, onde a desigualdade de rendimentos caiu porque as pessoas no topo perderam renda -e não porque os mais pobres ganharam mais.
Pelos cálculos da PNADC, o rendimento médio mensal de todos os trabalhos (de pessoas de 14 anos ou mais) em 2018 ficou em R$ 2.234, ainda abaixo do maior valor da série, os R$ 2.279 apurados em 2014.
O Nordeste é a região com o menor rendimento médio: R$ 1.497. O Sudeste, com o maior: R$ 2.572.
Apesar da extrema concentração de renda mostrada na pesquisa, ela não revela outros aspectos da questão.
Como se trata de uma pesquisa domiciliar, a partir de um questionário, as pessoas mais ricas e com outras fontes de renda -sobretudo de aplicações financeiras e aluguéis- tendem a não mencionar esses ganhos quando abordadas.
Já o Relatório da Desigualdade Global, da Escola de Economia de Paris e que agrega pesquisas domiciliares, contas nacionais (onde constam subsídios e incetivos a grupos) e declarações de imposto de renda, sustenta que a concentração de renda no Brasil é ainda maior: o 1% mais rico se apropria de 28,3% dos rendimentos brutos totais.
Na outra ponta, os 50% mais pobres ficam com apenas 13,9% do conjunto de todos os rendimentos.
Por esses cálculos, o Brasil é o país democrático mais desigual do mundo, atrás somente do autocrático e minúsculo Qatar.
Diferentemente de outras pesquisas que captam melhor ganhos de capital, na PNADC a renda do trabalho é preponderante para o cálculo do rendimento médio (representa 72,4% do total), seguida por aposentadorias e pensões (20,5%). O item "outros rendimentos" responde por apenas 3,3%.
Segundo especialistas, a desigualdade de renda no Brasil é alta e persistente por conta de fatores históricos e estruturais, como a herança escravocrata, o patrimonialismo que se apodera de recursos estatais e empregos públicos, políticas sociais voltadas a grupos que menos precisam e uma estrutura tributária regressiva, que cobra proporcionalmente mais impostos de quem ganha menos.
Com informação do Diario de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Paulo Freire é a solução para o Brasil.



Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) foi um educadorescritor filósofo pernambucano. Tendo sua formação inicial em Direito, Freire desistiu da advocacia e atuou durante o início de sua carreira como professor de Língua Portuguesa no Colégio Oswaldo Cruz, instituição em que o professor havia concluído o Ensino Básico. Freire também trabalhou para o Serviço Social da Indústria (SESI) como diretor do setor de educação e cultura, além de ter lecionado Filosofia da Educação na então Universidade de Recife.
Paulo Freire foi agraciado com cerca de 48 títulos, entre doutorados honoris causa e outras honrarias de universidades e organizações brasileiras e do exterior. É considerado o brasileiro com mais títulos de doutorados honoris causa e é o escritor da terceira obra mais citada em trabalhos de ciências humanas do mundo: Pedagogia do oprimido.
Leia também: Educação no Brasil

Biografia

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 19 de setembro de 1921, na cidade de Recife, capital de Pernambuco. Filho, junto com seus dois irmãos e uma irmã, de um policial militar e de uma dona de casa, Paulo Freire ficou órfão de pai aos treze anos. Sua educação inicial contou com o ingresso no Colégio Oswaldo Cruz, em Recife, por meio de bolsa concedida pelo diretor. Mais tarde, Freire tornou-se auxiliar de disciplina e, após formação, professor de Língua Portuguesa.
Em 1943, ingressou no curso de Direito da Universidade de Recife e, em 1944, casou-se com sua primeira esposa, a professora Elza Maia Costa de Oliveira, casamento que durou até o falecimento de Elza, em 1986. Em 1947, Freire foi nomeado diretor do Departamento de Educação e Cultura, do Serviço Social da Indústria, iniciando um trabalho com a alfabetização de jovens e adultos carentes e de trabalhadores da indústria.
Em 1959, Paulo Freire passou no processo seletivo para a cátedra de História e Filosofia da Educação, da Escola de Belas Artes da Universidade de Recife, com a tese Educação e atualidade brasileira. Em 1961, o professor tornou-se diretor do Departamento de Extensões Culturais, da Universidade de Recife, o que o possibilitou realizar as primeiras experiências mais amplas com alfabetização de adultos, que culminaram na experiência de Angicos.
Por possibilitar a alfabetização de jovens e adultos em cerca de 40 horas e com baixos custos, o método desenvolvido por Paulo Freire inspirou o Plano Nacional de Alfabetização, que começou a ser encabeçado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) ainda no governo de João Goulart. A experiência de Angicos causou alvoroço na cidade.
Uma greve de trabalhadores de uma obra que se recusaram a trabalhar enquanto não tivessem seus direitos garantidos, como descanso semanal remunerado e uma jornada de trabalho que respeitasse a jornada estabelecida pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), foi o início para a acusação de comunismo contra o projeto de alfabetização freireano. Empresários e fazendeiros, primeiramente do Rio Grande do Norte, não aceitaram a reivindicação dos trabalhadores, antes analfabetos e agora entendedores de seus direitos.
Outra questão entrou em jogo no cenário político: na época, somente poderia votar quem fosse alfabetizado. O Plano Nacional de Alfabetização poderia levar o letramento a até seis milhões de brasileiros, o que significaria seis milhões de novos eleitores fora das classes dominantes. Esses fatores foram decisivos para que, ainda em abril de 1964, o Plano Nacional de Alfabetização fosse cancelado. Esses também foram fatores decisivos para a prisão de Paulo Freire, Marcos Guerra (advogado e um dos coordenadores do projeto em Angicos) e dezenas de outras pessoas, que, como no caso de Freire, também foram exiladas.
Paulo Freire passou 70 dias presos e foi exilado. No exílio, foi primeiramente para o Chile, onde coordenou projetos de alfabetização de adultos, pelo Instituto Chileno da Reforma Agrária, por cinco anos. Em 1969, o professor pernambucano foi convidado a lecionar na Universidade de Harvard. Em 1970, foi consultor e coordenador emérito do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), com sede em Genebra, na Suíça.
Até o seu retorno ao Brasil, em 1980, Freire fez viagens a mais de 30 países pelo CMI, prestando consultoria educacional e implementando projetos de educação voltados para a alfabetização, para a redução da desigualdade social e para a garantia de direitos. Foi nesse período em que o pensador brasileiro implementou importantes projetos educativos em Guiné-Bissau, Moçambique, Zâmbia e Cabo Verde.
Em 1978, a Lei da Anistia permitiu o retorno de exilados políticos. Em 1980, Freire retornou ao Brasil. Após isso, passou a lecionar na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e na Universidade de Campinas (Unicamp). Em 1986, sua primeira esposa, Elza, com quem teve cinco filhos, morreu. Em 1988, Freire casou-se com sua segunda esposa, Ana Maria Araújo, com quem permaneceu até a sua morte, em 1997.
Entre 1988 e 1991, Freire foi nomeado secretário de educação do município de São Paulo pela então prefeita, Luiza Erundina, na época filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT). Ao sair do cargo antes do término da gestão, Mário Sérgio Cortella, então assessor de Freire e mais tarde seu orientando de doutorado na PUC-SP, ocupou o cargo até o ano de 1992.
No dia 2 de maio de 1997, Paulo Freire morreu, aos 76 anos, após passar por uma angioplastia e apresentar um complexo quadro de saúde devido a problemas no sistema circulatório. Em vida e postumamente, o professor Paulo Freire foi condecorado com 48 títulos honoríficos.
Em todo o mundo, cerca de 350 escolas e instituições, como bibliotecas e universidades, levam o seu nome como forma de homenagem. Em 2005, a deputada Luiza Erundina criou um projeto de lei para reconhecer Paulo Freire como Patrono da Educação Brasileira. O projeto de lei somente sancionado em 2012, por meio da Lei 12.612/12, pela então presidente Dilma Rousseff.
Segundo levantamento feito, em 2016, por Elliot Greeni, pesquisador especialista em estudos sobre desenvolvimento e aprendizagem da London School of Economics, a obra Pedagogia do oprimido, de Paulo Freire, é o terceiro livro mais citado em trabalhos da área de humanidades no mundo. Até o ano do levantamento, o livro de Freire já havia sido citado 72.359 vezes, estando à frente no ranking de pensadores como Michel Foucault, Pierre Bourdieu e Karl Marx. À frente de Freire estavam apenas Thomas Kuhn e Everett Rogers.
Paulo Freire é mundialmente conhecido pelas suas obras e contribuições à educação. (Créditos: Slobodan Dimitrov / Wikimedia Commons)
Paulo Freire é mundialmente conhecido pelas suas obras e contribuições à educação. (Créditos: Slobodan Dimitrov / Wikimedia Commons)

Método Paulo Freire

No auge da Guerra Fria, os Estados Unidos lançaram um projeto chamado Aliança para o Progresso, que visava a alavancar o processo de crescimento econômico e acabar com o que o bloco capitalista entendia como “crescente comunismo” que vinha assolando a América Latina. No entendimento de quem liderou o projeto, a erradicação do analfabetismo seria uma maneira de frear a ascensão socialista.
O Brasil foi um dos contemplados pelo projeto, e no Nordeste, ainda como fase experimental, a cidade de Angicos, no Rio grande do Norte, foi uma das primeiras grandes experiências de tentativa de erradicação do analfabetismo. A escolha da cidade e a verba destinada ao projeto de Angicos, cerca de 36 dólares por aluno, vieram desse plano norte-americano. Paulo Freire elaborou o projetoformou uma comissão de coordenadores treinou professores para aplicar o plano.
Em 40 horas, percorridas durante quase um mês300 jovens e adultos foram alfabetizados pelo método desenvolvido por Freire. O educador brasileiro criticava o modelo de educação que ele chamava de “educação bancária”. Esse modelo é baseado na visão de que o professor é o centro do processo e detentor do conhecimento das matérias, sendo o responsável por depositar aquilo que sabe em seus alunos.
Freire falava da importância de pensar-se em uma educação capaz de reconhecer a cultura do educando e agir com base nela, naquela realidade, pois somente assim ela faria sentido para aquele que vai ser alfabetizado. Nas palavras do filósofo:
a leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele.”ii
Na visão de Freire, a leitura (e, no mesmo sentido, a escrita) somente fará sentido se for acompanhada de uma capacidade de ler o mundo, de perceber o mundo, de reconhecer os papéis desempenhados pelos atores do mundo e de reconhecer-se como peça naquele mundo. Por isso, Freire agia com base nas palavras que faziam parte do cotidiano dos trabalhadores em processo de alfabetização para ensiná-los.
Marcos Guerra, advogado e coordenador do projeto em Angicos, conta que “a alfabetização era baseada em 12 a 15 palavras apenas que continham todos os fonemas da língua portuguesa. No debate sobre a palavra trabalho, o que é que vem? Vem as condições de trabalho. Aí evoca discussões sobre trabalho, condição de trabalho [...] remuneração de trabalho, garantias, direitos, deveres”.iii Palavras como tijolo, barro, trabalho, labuta e telha eram as norteadoras do método, que não foca no conteúdo ensinado, mas no processo.
Outra característica do método freireano é a tentativa de levar uma conscientização política e de classe para os educandos. Talvez esse seja o fator que mais tenha despertado a ira dos setores conservadores, responsáveis por extinguir o Plano Nacional da Alfabetização e por exilar o professor pernambucano. Os depoimentos descritos, a seguir, atestam essa ideia:
Depois do curso, uma greve na cidade parou a construção de uma obra. Acredita-se que eles teriam sido inspirados pelo ensino dos direitos trabalhistas em sala de aula, com a metodologia freiriana. Os trabalhadores disseram ao dono da empresa que sabiam que tinham direitos. Eles pediam carteira assinada, repouso semanal remunerado e férias. E o patrão disse: ‘eu não dou isso não, ninguém dá’, lembra [Marcos] Guerra.
[...]
Eles passaram a reivindicar direitos, como repouso semanal remunerado e jornada de trabalho, que era intensiva e ultrapassava as horas estabelecidas pela lei. A carteira assinada os entusiasmava, conta a juíza aposentada Valquíria Félix da Silva, 78, que foi uma das professoras do curso na cidade.iv
A obra de Paulo Freire e o seu método são profundamente marcados pela insistência de levantar-se um novo tipo de educação, capaz de dar autonomia às classes dominadas por meio do diálogo e de uma educação emancipadora.
Para quem se simpatiza com as ideias do filósofo pernambucano, essa tarefa é necessária para a criação de um novo Brasil, mais justo e igualitário. Para quem discorda de sua obra (não pretendemos fazer uma afirmação generalizadora, pois podem existir críticas pontuais plausíveis acerca do método ou da obra freireana, e lembrando que as críticas não presumem sua anulação), há, em geral, um medo de que ela seja a cartilha para fazer o que setores conservadores têm chamado de “doutrinação marxista nas salas de aula”.
Essa acusação, sustentada nos dias atuais por grupos políticos ligados à extrema-direita, era a mesma que condenava Paulo Freire em 1964. O doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e biógrafo de Freire, Sérgio Haddad, conta, em matéria publicada na Folha de São Paulo, acerca do relatório escrito sobre Freire para justificar a sua prisão, dias após o seu exílio.
O inquérito, comandado pelo tenente-coronel Hélio Ibiapina Lima, dizia que Paulo Freire era “um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos”, que “sua atuação no campo da alfabetização de adultos nada mais é que uma extraordinária tarefa marxista de politização das mesmas” e que Freire “é um cripto-comunista encapuçado sob a forma de alfabetizador”.v

Obras

Entre publicações em vida, publicações póstumas, cartas, entrevistas, ensaios e artigos, somam-se em sua obra quase 40 livros publicados. Os mais importantes, para a compreensão da trajetória intelectual do filósofo e educador, são as seguintes:
  • Pedagogia do oprimido: escrito ainda no início do exílio, quando Freire estava no Chile, o livro propõe uma revisão da relação entre educadores e educandos. O diálogo deve ser a base primeira para a constituição do processo de ensino e aprendizagem. Segundo Freire, “o diálogo é uma exigência existencial”.vi Com base nesse pressuposto, ele reconhece que a educação dialógica é a chave para levar uma educação libertadora às massas, sem excluir a própria massa do processo educativo. Em sua reflexão, Freire questiona-se: “Como posso dialogar, se parto de que a pronúncia do mundo é tarefa de homens seletos e que a presença das massas na história é sinal de sua deterioração que devo evitar?”vii Reconhecendo as massas e os outros e respeitando a diferença dos outros é como o educador deve atuar. Freire defende que a finalidade desse trabalhoso processo é propiciar uma libertação: a emancipação das massas de oprimidos por meio da educação.
  • Educação como prática da liberdade: escrito no exílio após o término de Pedagogia do oprimido, esse livro é uma autocrítica de sua atuação e uma proposta de educação que visa a acabar com a exclusão. Ele aponta a relação intrínseca entre educação, conscientização e inclusão.
  • Cartas à Guiné-Bissau: livro escrito entre 1976 e 1977, período em que Freire atuou no projeto de alfabetização popular promovido em Guiné-Bissau após a sua independência. O conjunto de cartas que compõem a obra tem um objetivo mais reflexivo de apontar a potência, a paixão e a criação daquele povo recém-independente e a aproximação da realidade social africana com a brasileira da época.
  • Pedagogia da autonomia: Freire tem um objetivo muito claro nesse livro de apresentar um conjunto de conhecimentos e práticas indispensáveis a qualquer educador. Como o próprio autor anuncia no escrito, não importa se se trata de um professor ou professora progressista ou reacionário, deve-se saber daquele conjunto básico. O livro carrega em seu primeiro capítulo o título que resume grande parte da defesa de Freire no reconhecimento da alteridade e do respeito à individualidade do educando: “Não há docência sem discência”. Um desses elementos básicos é o reconhecimento da importante relação entre teoria e prática que deve ser primordial e indissolúvel. Segundo Freire, “a reflexão crítica sobre a prática torna-se uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá, e a prática, ativismo”.viii
“Pedagogia do oprimido” é terceira obra mais citada em trabalhos de ciências humanas do mundo. (Créditos: Reprodução / Editora Paz e Terra).
“Pedagogia do oprimido” é terceira obra mais citada em trabalhos de ciências humanas do mundo. (Créditos: Reprodução / Editora Paz e Terra).
Leia também: Educação

Instituto Paulo Freire

O Instituto Paulo Freire surgiu com base na ideia do professor brasileiro de reunir instituições e implementar ações voltadas para a educação como pilar da inclusão social e da redução da desigualdade econômica.
Surgido em abril de 1991 e fundado oficialmente em setembro de 1992, o IPF atua, desde então, promovendo consultorias e elaboração de projetos voltados para a educação de jovens e adultos; implementação de currículo e projetos políticos pedagógicos; e cursos de formação para alfabetizadores e professores em geral. Para conhecer um pouco mais sobre o instituto, basta acessar a página.

Citações de Paulo Freire

  • “A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele.”
  • “Não existe docência sem discência.”
  • “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”
  • “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens educam-se entre si, mediatizados pelo mundo.”
  • “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.”
  • “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.”
ii FREIRE, P. A importância do ato de ler. 23 ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989. p. 11.
iii SOUZA, M. Criticada pelo governo, metodologia de Paulo Freire revolucionou povoado no sertão. Repórter Brasil. Disponível em: https://reporterbrasil.org.br/2019/03/criticada-pelo-governo-metodologia-paulo-freire-revolucionou-povoado-no-sertao/. Acesso em: 4 maio 2019.
iv Ibid
v HADDAD, S. Por que o Brasil de Olavo e Bolsonaro vê em Paulo Freire um inimigo. Folha de São Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/04/por-que-o-brasil-de-olavo-e-bolsonaro-ve-em-paulo-freire-um-inimigo.shtml. Acesso em: 4 maio 2019.
vi FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 18 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p. 79.
vii Ibid, p. 80.
viii FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 36 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. p. 22.

Por Francisco Porfírio
Professor de Sociologia
https://brasilescola.uol.com.br/biografia/paulo-freire.htm
Professor Edgar Bom Jardim - PE

PF realiza busca e apreensão em endereço ligado ao presidente do PSL



A Polícia Federal realiza, nesta terça-feira 15, mandado de busca e apreensão em um endereço em Pernambuco ligado ao deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE), presidente do partido. A ação faz parte da investigação sobre o uso de candidaturas laranjas pelo partido na eleição de 2018.
O PSL é o partido do presidente da República, Jair Bolsonaro. Os nove mandados foram autorizados pelo Tribunal Regional Eleitoral do estado, atendendo pedidos da polícia e do Ministério Público
A PF não informou a qual candidatura a operação desta terça faz referência, mas uma das investigadas, desde fevereiro, é Lourdes Paixão, que recebeu R$ 400 mil da direção nacional do PSL, terceira maior verba concedida pelo partido. A candidata obteve 274 votos em 2018.
O advogado de Lourdes informou, em fevereiro, que dinheiro repassado pelo partido teria sido utilizado para confecção de adesivos e santinhos para a candidata.Mas no endereço fornecido pela defesa funciona uma uma oficina, que está no local antes mesmo das eleições.
O laranjal do PSL, como ficou conhecido o escândalo, foi revelado pela jornal Folha de S. Paulo em uma série de publicações desde o início do ano. Após a reportagem a PF abriu investigação sobre o caso, o que deu início a uma crise dentro do partido chegando a ponto de Bolsonaro ameaçar deixar a legenda.
Na última sexta-feira (11), o advogado de Bolsonarro e ex-ministro do TSE Admar Gonzaga, solicitou acesso a dados financeiros do PSL. O objetivo é saber como Bivar está manejando as contas da legenda.
Com Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

15 de outubro, Dia do Professor:Quem são os inimigos dos professores?




Imaginem a prefeitura de Bom Jardim-PE, efetuando o pagamento dos 60% do Precatório do Fundef aos mais de trezentos professores que trabalharam em sala de aula durante a vigência do Fundo. O município de Bom Jardim tem mais de R$ 20.000. 000(vinte milhões de reais) para receber da União e repassar 60%  para os professores atuantes no período em tela. O que é o Fundef?
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) é um conjunto de fundos contábeis formado por recursos dos três níveis da administração pública do Brasil para promover o financiamento da educação básica pública.
Antes uma parcela das receitas públicas eram destinadas à educação como um todo. A proposta desse fundo era definir uma parcela que atendesse especificamente ao ensino fundamental (1ª a 8ª série), através de uma redistribuição dos recursos provenientes de impostos aplicados pelos municípios e Estados.
Apesar dos resultados positivos em muitos Estados, surgiu a proposta de sua substituição pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), que não investe apenas no ensino fundamental, mas também no ensino médio e na educação infantil, além de praticamente multiplicar por dez o aporte de complementação de recursos da União, de menos de 1% para 10%.
Foi implantado no Brasil pela Emenda Constitucional nº. 14 de 1996 no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, mas só começou a vigorar em 1998. Seu prazo de duração era de 10 anos, expirado em 2006.
A União deixou de repassar aos municípios R$ 90 bilhões de reais. Os PRECATÓRIOS são referentes ao ressarcimento de verbas não pagas pelo Fundef, entre 1998 e 2006. Pela lei, no mínimo 60% dos recursos do Fundo devem ser destinados para pagamento dos professores e 40% para investimentos em educação(compra de equipamentos, compra de materiais, etc).
A Conferência Nacional de Municípios (CNM) pressiona o Tribunal de Contas da União para que os prefeitos gastem os recursos de forma livre, autônoma, não respeitando o pagamento dos 60% devidos aos professores que trabalharam  entre 1998 e 2006.
O Tribunal de Contas da União  tomou decisão favorável aos prefeitos. A pressão, a mobilização funcionou, os poderes se entenderam. Os  prefeitos insistem. Querem o dinheiro.  Muitos lobos  livres na floresta para usar o dinheiro como querem. "Pobre chapeuzinho vermelho, pobre vovozinha". Prefeitos querem fazer obras. Só obras não desenvolve a educação, não resolve o problema da humanidade, as necessidades e a  felicidades dos seres humanos. O jogo é duro, pesado e cruel para o lado dos professores. O lado mais fraco é historicamente desrespeitado, massacrado, escravizado nessa guerra.

As assessorias jurídicas municipais lucram com esse jogo de empurra. O próprio tribunal já advertiu que a prática é ilegal.  Para que serve as leis, para que serve a justiça se não for para servir o povo!?
A prefeitura de Bom Jardim, governada por Miguel Barbosa e João Lira foi  provocada no sentido de se manifestarem na ação Ação 0001056-77.2007.4.05.8300 e os Embargos 0001131-72.20014.4.05.8300, que trata da implementação do pagamento de PRECATÓRIO, valores recebidos a menor, pelos professores da folha FUNDEF no período de vigência do mesmo. O município tem mais de R$ 20 milhões de reais para receber e repassar conforme o estabelecido na Lei 9424/96. O Ministério Público local, a Câmara de vereadores também foram provocados no sentido de acompanhar e tomar providências conforme suas competências legais. 
O prefeito João Lira, prometeu durante a campanha passada, pagar todo dinheiro devido aos professores, por meio de rateios. A hora da verdade chegou. Ainda não faz o devido esforço para beneficiar os professores, a educação municipal, o desenvolvimento da economia local, o comércio,  os prestadores de serviços, e, por fim toda cadeia produtiva do município. Prosseguir lutando na Justiça Federal, no Supremo, junto aos demais prefeitos o colocaria na vanguarda dos direitos dos professores,  o colocaria em posição de respeito diante dos professores e nos Anais da educação como defensor dos direitos do professor. Os 60% do precatório do Fundef é um direito sagrado do professor. 
TRISTE REALIDADE - Alguns professores que contavam com esse dinheiro para melhoria da sua qualidade de vida e de seus familiares já faleceram. Houve quem viu seu parente  falecer e não teve como ajudar. Há caso de professores que não teve condições de ajudar melhor  financeiramente no casamento ou na formatura de uma filha. Também há professores necessitando fazer tratamento de saúde. Outros  querem ajudar o filho  empreender, comprar um terreno, construir uma pequena morada, reformar um banheiro, fazer o reparo do carro, trocar o telhado, comprar um aparelho de TV, geladeira, um fogão novo para dentro de casa. Tem professor(a) querendo ir à São Paulo para  visitar sua filha. Sonhos, desejos, planos, vidas acabadas, gente sem  o direito de ser feliz com seu  próprio dinheiro, seu próprio suor trabalhado durante anos sendo privado pela burocracia, pela má vontade, incompetência e até mesmo golpismo ou plano de corrupção. São milhares de professores do Nordeste passando por este dilema.
Os inimigos dos professores são aqueles que tendo o poder de fazer algo pra ajudar, não ajudam. Inimigos dos professores são os próprios professores que não se unem para lutar,  buscar seus direitos. Inimigos dos professores também são inimigos dos pedreiros, dos proprietários de lojas, dos feirantes, são inimigos das crianças, dos estudantes. Quem não respeita o professor, não respeita a mãe de todas as demais profissões. Todo bom começo na vida de qualquer profissional passa pelo professor.
Ser autoridade e não respeitar o professor, ser autoridade e tratar os professores com desdém, humilhação, não reconhecer o esforço, o trabalho do professor é destruir aos poucos o desenvolvimento da vida, a felicidade das pessoas, é destruir o sucesso da educação, é ir contra o progresso da cidade, é matar do futuro da cidadania coletiva, destruir todos nós. Como o prefeito da sua cidade trata a educação e seus professores? Na sua cidade já houve pagamento dos precatórios do Fundef ? Você já  pensou quantos obstáculos os professores necessitam superar para terem seus direitos reconhecidos? Como você pode ajudar os professores da sua cidade?



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Professor Edgar Bom Jardim - PE