sábado, 5 de outubro de 2019

O conceito de ecologia total que o Papa proporá em cúpula sobre Amazônia


Papa em comunidade na AmazôniaDireito de imagemAFP
Image captionSegundo o papa, ecologia também diz respeito às tradições perdidas por comunidades indígenas impactadas por grandes obras
Para o papa Francisco, a ecologia não deve ser associada somente a temas óbvios como a derrubada de florestas, a extinção de animais e a poluição do ar, mas também às múltiplas consequências do modelo econômico que levou o planeta ao estado atual de degradação social e ambiental.
Segundo o papa, ecologia também diz respeito às tradições perdidas por comunidades indígenas impactadas por grandes obras, aos humanos que foram substituídos por robôs em indústrias e às pessoas que vivem com crises de ansiedade e são incapazes de admirar a beleza ao redor

Essa noção de ecologia, que Francisco chama de "ecologia integral", será um dos eixos do Sínodo da Amazônia, no qual ele receberá bispos de todos os nove países amazônicos a partir deste domingo (6/10), no Vaticano. Cinquenta e sete bispos brasileiros participarão do encontro, que se encerrará em 27 de outubro.
Sínodos são reuniões entre o papa e seus bispos de determinada região ou tema para definir estratégias da igreja nessas áreas. São encontros mais restritos do que os concílios, que agregam bispos do mundo todo.
A cúpula é vista com preocupação pelo governo Jair Bolsonaro, que já vem enfrentando críticas no Brasil e no exterior por suas posturas em relação à Amazônia e à questão ambiental.
O coro contrário às políticas do governo inclui vozes importantes da Igreja Católica no Brasil, como o ex-arcebispo de São Paulo e atual presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica, Dom Cláudio Hummes.
Hummes, que será o principal responsável pela redação dos documentos produzidos no sínodo, defendeu recentemente o prosseguimento das demarcações de terras indígenas, iniciativa à qual Bolsonaro se opõe e que deve ser abordada no encontro no Vaticano (leia mais abaixo).

O exemplo de São Francisco

Em 2015, Francisco explicou o conceito de ecologia integral na única encíclica produzida inteiramente em seu papado, a Laudato Si' (louvado sejas, em italiano). Encíclicas são os principais instrumentos pelos quais a Igreja Católica aconselha seus cerca de 1,2 bilhões de fiéis espalhados pelo mundo.
No início do documento, o papa se referiu a são Francisco de Assis, que viveu entre os séculos 12 e 13 na Itália e de quem ele tomou o nome ao virar pontífice. Segundo Francisco, o santo italiano praticava a ecologia integral em seu dia a dia.
AmazôniaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPara proteger essa casa comum, o papa conclama "toda a família humana" a se unir "na busca de um desenvolvimento sustentável"
"Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenho na sociedade e a paz interior."
Para o papa, o exemplo de são Francisco mostra que a "ecologia integral requer abertura para categorias que transcendem a linguagem das ciências exatas ou da biologia".
Ele explica: "Tal como acontece a uma pessoa quando se enamora por outra, a reação de Francisco, sempre que olhava o sol, a lua ou os minúsculos animais, era cantar, envolvendo no seu louvor todas as outras criaturas."
"Se nos aproximarmos da natureza e do meio ambiente sem esta abertura para a admiração e o encanto, se deixarmos de falar a língua da fraternidade e da beleza na nossa relação com o mundo, então as nossas atitudes serão as do dominador, do consumidor ou de um mero explorador dos recursos naturais, incapaz de pôr um limite aos seus interesses imediatos."

Casa comum

O título da encíclica, "Laudato si'", é uma citação do Cântico das Criaturas, em que são Francisco exaltou a natureza como um reflexo da imagem de Deus.
O subtítulo da encíclica é "sobre o cuidado da casa comum", que trata de outro conceito associado à noção de ecologia integral. São Francisco se referia à "casa comum" como "nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras".
Para proteger essa casa comum, o papa conclama "toda a família humana" a se unir "na busca de um desenvolvimento sustentável e integral".
Em artigo na revista Pensar, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, o padre Delmar Cardoso diz que a associação que Francisco faz entre "casa comum" e "família humana" dialoga com a filosofia grega.
Na Grécia Antiga, diz Cardoso, a palavra que significava "família" era a mesma que significava "casa". "Francisco convida a olhar o mundo e as pessoas que nele habitam como uma única e mesma família ou como uma família de famílias", diz o padre.

Plástico, lixo, desperdício

Na encíclica, o papa lista ações práticas de uma ecologia integral, como "evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias."
Mas ele diz que as soluções para a crise planetária exigem simultaneamente "combater a pobreza" e "devolver a dignidade aos excluídos".
"É fundamental buscar soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais. Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise sócio-ambiental", diz o pontífice.

Humanos X máquinas

Na encíclica, Francisco trata ainda da questão do trabalho e de como o tema se liga à noção de ecologia integral.
Para ele, trabalhar é uma "necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal".
Mas ele afirma que a "orientação da economia favoreceu um tipo de progresso tecnológico cuja finalidade é reduzir os custos de produção com base na diminuição dos postos de trabalho, que são substituídos por máquinas".
Jair BolsonaroDireito de imagemREUTERS
Image captionO tema que tem gerado mais atritos entre a Igreja Católica e o governo Jair Bolsonaro é a questão indígena
"É mais um exemplo de como a ação do homem se pode voltar contra si mesmo", conclui.
Outro entrave à realização da ecologia integral é a falibilidade de governos e sistemas institucionais, diz o papa.
"As leis podem estar redigidas de forma correta, mas muitas vezes permanecem letra morta. (...) Sabemos, por exemplo, que países dotados de uma legislação clara sobre a proteção das florestas continuam a ser testemunhas mudas da sua frequente violação."

Questão indígena

O tema que tem gerado mais atritos entre a Igreja Católica e o governo Jair Bolsonaro é a questão indígena. Desde que se tornou papa, Francisco tem se reunido com representantes de comunidades nativas de várias partes do mundo e defendido suas formas tradicionais de existência.
Na encíclica, ele aborda a questão indígena e a associa à noção de ecologia integral. Para Francisco, "é preciso integrar a história, a cultura e a arquitetura de um lugar, salvaguardando a sua identidade original. Por isso, a ecologia envolve também o cuidado das riquezas culturais da humanidade, no seu sentido mais amplo."
Segundo o papa, o consumismo, incentivado pela economia globalizada atual, "tende a homogeneizar as culturas e a debilitar a imensa variedade cultural, que é um tesouro da humanidade".
Ele se refere então aos efeitos que a "intensa exploração e degradação do meio ambiente" podem ter para comunidades nativas por "esgotar não só os meios locais de subsistência, mas também os recursos sociais que consentiram um modo de viver que sustentou, durante longo tempo, uma identidade cultural."
Papa acompanha plantio de árvoreDireito de imagemREUTERS
Seria o caso, por exemplo, de terras indígenas afetadas pelo garimpo ilegal no Brasil. Especialistas relatam que, nos territórios onde ocorre a atividade, muitas famílias deixaram de fazer roças, de pescar e de caçar - tanto porque o garimpo afastou os animais, quanto porque com o dinheiro que recebem dos garimpeiros passaram a comprar comida industrializada nas cidades, abandonando tradições associadas à alimentação ancestral.
"O desaparecimento de uma cultura pode ser tanto ou mais grave do que o desaparecimento duma espécie animal ou vegetal", diz o papa. "A imposição de um estilo hegemônico de vida ligado a um modo de produção pode ser tão nocivo como a alteração dos ecossistemas."
"Neste sentido, é indispensável prestar uma atenção especial às comunidades aborígenes com as suas tradições culturais. Não são apenas uma minoria entre outras, mas devem tornar-se os principais interlocutores, especialmente quando se avança com grandes projetos que afectam os seus espaços", prossegue Francisco.
Ele diz que, para as comunidades indígenas, "a terra não é um bem econômico, mas dom gratuito de Deus e dos antepassados que nela descansam, um espaço sagrado com o qual precisam de interagir para manter a sua identidade e os seus valores".
"Eles, quando permanecem nos seus territórios, são quem melhor os cuida. Em várias partes do mundo, porém, são objeto de pressões para que abandonem suas terras e as deixem livres para projectos extrativos e agropecuários que não prestam atenção à degradação da natureza e da cultura."

Paz social e paz interior

Para o papa, ecologia integral também tem a ver com o cultivo da "paz social" e da "paz interior".
A primeira categoria diz respeito à "estabilidade e a segurança de uma certa ordem, que não se realiza sem uma atenção particular à justiça distributiva, cuja violação gera sempre violência".
A segunda trata da capacidade de desfrutar da beleza da criação divina.
"A paz interior das pessoas tem muito a ver com o cuidado da ecologia e com o bem comum, porque, autenticamente vivida, reflete-se num equilibrado estilo de vida aliado com a capacidade de admiração que leva à profundidade da vida."
Por fim, diz Francisco, a ecologia integral também é feita de pequenos gestos cotidianos, "pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo".
"Pelo contrário, o mundo do consumo exacerbado é, simultaneamente, o mundo que maltrata a vida em todas as suas formas."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Feira de Artesanato de João Alfredo




A Prefeitura Municipal de João Alfredo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SDSDH), tem realizado diversas ações que promovam a capacitação e empoderamento das mulheres do município. O projeto “Mulheres que Bordam" tem sido uma importante ferramenta neste processo. O projeto capacita e disponibiliza matéria prima para as mulheres confeccionarem panos de prato, além de capacitar para que tenham a capacidade de comercializar as peças produzidas, gerando renda e fortalecendo a economia local. A ação tem contemplado as famílias inscritas nos Programas Sociais do Cadastro Único (CadÚnico).

Atualmente, o grupo conta com 15 mulheres do Sítio Roque e outras 10 da comunidade de Pedra do Manso. “Começamos nestas duas localidades, mas estamos confiantes de que o projeto se consolidará. Temos certeza do sucesso que será a participação delas na Feira de Artesanato e, por isso, estamos pensando em investir em outras comunidades”, destacou a prefeita Maria Sebastiana. De acordo com a secretária da pasta, Anna Mendes, a SDSDH tem apoiado e incentivado o público feminino. “Vamos iniciar o recrutamento das famílias inscritas nos programas sociais. O objetivo é ampliar cada vez o número de pessoas beneficiadas”, destaca Anna. Durante a Feira de Artesanato, no período de 9 a 13 de outubro, elas terão um estande exclusivo para mostra e vendas. (Com informações da Assessoria)
Blog do Agreste
Professor Edgar Bom Jardim - PE

O tráfico de seres humanos na Nigéria


Mulher olhando para seu bebê
Image captionNa operação policial mais recente, quatro crianças e 19 mulheres foram resgatadas de uma 'fábrica de bebês'
Elas foram em busca de um emprego, mas acabaram escravizadas e estupradas — com seus filhos colocados à venda.
Na operação mais recente contra tráfico de seres humanos na Nigéria, a polícia libertou 19 mulheres e quatro bebês que eram mantidos em cativeiro no que eles chamam de "fábrica de bebês" em Lagos, a maior cidade do país africano.
De acordo com as autoridades, essas mulheres foram enganadas — prometeram um emprego a elas "com o objetivo de engravidá-las e depois vender os bebês."
A polícia afirma que as crianças seriam traficadas, mas ainda não está claro quem são ou de onde são seus potenciais compradores.
As meninas seriam vendidas por US$ 830 (R$ 3,4 mil) e os meninos por US$ 1,4 mil (R$ 5,8 mil).
Durante a operação, duas mulheres que atuavam como enfermeiras, sem ter treinamento, foram presas. O principal suspeito, no entanto, ainda está foragido.
Mulher grávida sem identificar
Image captionMuitas mulheres viajaram para Lagos iludidas por uma promessa de trabalho
Desde 2006, quando um relatório da Unesco denunciou pela primeira vez a existência de "fábricas de bebês" na Nigéria, esses centros proliferaram por todo o país, sobretudo por causa da pobreza e da falta de controle por parte das autoridades.
O mesmo documento indicava que algumas vítimas se dirigiam a esses estabelecimentos de forma voluntária, sem saber o que as esperava, em busca de dinheiro.

A farsa

No caso mais recente, as mulheres resgatadas, com idades entre 15 e 28 anos, foram levadas para Lagos com a promessa de emprego.
Mas, ao chegar lá, foram colocadas em cativeiro e estupradas.
Mulher desviando olhar da câmera
Image captionA pobreza contribui para que muitas mulheres sejam enganadas na Nigéria
"Uma mulher me buscou na rodoviária e me trouxe até aqui. No dia seguinte, fui chamada pela nossa cafetina, que me disse que eu não poderia sair da casa até o ano seguinte", conta uma das mulheres resgatadas ao jornal nigeriano Vanguard.
"Dormi com sete homens diferentes até descobrir que estava grávida. Me falaram que depois de dar à luz, receberia um pagamento generoso", completou.
Outra vítima relatou à BBC como foi mantida no estabelecimento contra sua vontade, e disse que não teve permissão para sair quando descobriu que seu bebê seria vendido.
Outra mulher afirmou teve o telefone e dinheiro confiscados, e disseram a ela que não poderia procurar atendimento médico, apesar de seu Estado.
Mapa

Um problema endêmico

"O problema das fábricas de bebês na Nigéria é endêmico e existe há algum tempo. O caso de Lagos é muito triste, mas não é de forma alguma um fenômeno novo", disse ao programa Africa Today, da BBC, Debbie Ariyo, fundadora da organização Africans Unite Against Child Abuse (AFRUCA).
Segundo Ariyo, a proliferação desses estabelecimentos se deve a três fatores fundamentais.
O primeiro é a pobreza nas áreas onde muitas dessas jovens vivem. O segundo é a rejeição que essas mulheres sofrem das famílias quando engravidam, sendo forçadas a deixar suas casas em busca de ajuda.
O terceiro, e mais importante, segundo Ariyo, é a falta de uma estrutura firme no país que seja capaz de deter, controlar e impedir o surgimento desse tipo de negócio.

Mais de 160 crianças resgatadas

Em abril de 2018, 100 meninas e 62 meninos foram resgatados pelas autoridades de uma "fábrica de bebês" e dois orfanatos não-oficiais em Lagos.
Alguns bebês e crianças mostravam sinais de abuso sexual.
Bebê no colo de uma mulherDireito de imagemAFP
Image captionO meninos são vendidos por cerca de US$ 1,4 mil
Em 2013, a polícia resgatou 17 adolescentes grávidas e 11 bebês de uma casa no Estado de Imo, no sudeste do país.
As jovens afirmaram terem sido estupradas por um único homem.

Esses são apenas exemplos de um problema grave com o qual as autoridades nigerianas parecem não saber como lidar.
BBC.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

O mundo é vasto e perigoso


O poeta nomeia o mundo. Sabe que os sentimentos são importantes, mas observa que a sociedade se mete num consumo avassalador. O deslumbramento se volta para as vitrines, para os passeios no meio das mercadorias. Pede-se desempenho. O poeta não consegue ultrapassar tantos impulsos marcados pelas ambições. É a tecnologia que atrai, apresenta sua magia, coisifica o desejo.Tudo tem seu preço. O verso do poeta mergulha, muitas vezes, em nostalgias. O mundo é vasto, porém quer fixar caminhos programados. Quem não ver que há pedras imensas atropelando as ousadias inquietas? Como dançar, esticar as astúcias, se pendurar nos trapézios?
O poeta não se retira de seus sonhos. Cobra fôlego, se abraça com as palavras, não discute sobre o vazio. Desconhece a solução final. Há um mistério universal ou deus se sente confortável com os sentimentos de culpa colados nas religiões? O poeta não se chama Raimundo, mas balança seu coração, puxa a imaginação, para que o corpo não se intimide com o ruído das máquinas. O mito é uma narrativa indispensável, nunca se ausentará das conversas, nem sufocará as acrobacias da cultura.Por isso, é preciso não anular as utopias, nem duvidar que os arcanjos ainda sobrevivem.
O perigoso é inutilizar o tempo e classificá-lo com calendários festivos e oficiais. A palavra do vencedor é sempre dúbia, envolvida com a estreiteza das possíveis opressões. Segue o ritmo de quem se fecha no individualismo e se segura em discurso planejado para empurrar as diferenças e inaugurar o abismo. Se o poeta cria mundos, os governantes buscam expandir orgulhos e armam-se para desfazer qualquer autonomia. O autoritarismo é forte, possui disfarces, engana e não apenas coage. Sacode a rebeldia no lixo e espalha regras com sinais de ordens inabaláveis.
Os escorregões acontecem, há necessidade de se entregar ao delírio, mesmo quando o labirinto toma conta das história. Portanto, a inquietação não é loucura, ser torto na vida pode ser um pulo para ultrapassar as banalidades. O poeta não é inimigo de Narciso, não se entrega a uma solidão que cega, nem testemunha o suicídio. Quando a arquitetura das palavras dialoga com a beleza as portas recebem luzes com chaves para para decifrar seus segredos. Quem suporta os espelhos e não contempla o mundo com seus olhos, se afastou do poeta para se escravizar no reino das mercadorias.
Por Paulo Rezende

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

BOLSONARO JÁ INTERVEIO EM METADE DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS QUE TIVERAM ELEIÇÕES PARA A REITORIA


DURANTE UM CAFÉ com parlamentares da bancada evangélica no Palácio do Planalto, na manhã de 11 de julho, Jair Bolsonaro entregou o jogo: literalmente lamentou que, por lei, o presidente deva escolher e empossar reitores indicados pelas listas tríplices das instituições federais de ensino. Formadas pelos três candidatos mais votados em eleições dentro das universidades, as listas são uma maneira de garantir a autonomia universitária.
“Ali virou terra deles, eles é que mandam. Tanto é que as listas tríplices que chegam pra nós muitas vezes não temos como fugir, é do PT, do PCdoB ou do PSOL. Agora o que puder fugir, logicamente pode ter um voto só, mas nós estamos optando por essa pessoa”, declarou Bolsonaro, sinalizando a intenção de privilegiar candidatos alinhados a ele para ocupar as reitorias, independentemente das escolhas expressas pelas comunidades acadêmicas (professores, funcionários e alunos).
O discurso é o mesmo do ministro Educação Abraham Weintraub. “Uma parte dos reitores veio do passado e tem ligação com PSTU, PSOL, PT, essas coisas maravilhosas. Mas tem uma parte que não é”, ele disse em entrevista ao Estadão no fim de agosto. A expectativa é que a escolha de reitores mais abertos ao bolsonarismo poderia contribuir para a adesão das universidades ao Future-se, programa proposto pelo governo federal que prevê que as universidades e institutos federais contratem uma organização social para gerir suas atividades e tenham investimento privado.
Embora Bolsonaro critique o aparelhamento das instituições por partidos de esquerda ou centro-esquerda, em governos anteriores os reitores empossados eram eleitos pelas próprias comunidades acadêmicas – e os presidentes apenas chancelavam o resultado dessas consultas internas, nomeando os primeiros colocados na lista. Essa tradição se repetiu por 15 anos – e foi rompida justamente pelo novo governo.
Até agora, Bolsonaro já fugiu à regra em metade das nomeações de reitores de universidades federais previstas para este ano – e em um Centro Federal de Educação Tecnológica, o Cefet, no Rio de Janeiro. Das 12 nomeações, ele escolheu reitores com poucos votos ou até mesmo fora da lista tríplice em seis delas. São as seguintes:
Ilustração: Rodrigo Bento/The Intercept Brasil
1. UFFS – Universidade Federal da Fronteira Sul
Data da nomeação: 30 de agosto
Reitor nomeado: Marcelo Recktenvald, último colocado na lista tríplice
Alvo de diversos protestos desde a posse, o professor Marcelo Recktenvald se define como “cristão conservador” na internet. Entre outras disciplinas, ministrou aulas de “espiritualidade e liderança” no curso de administração da universidade – “Jesus Coach”, de Laurie Beth Jones, era um dos livros indicados na bibliografia básica. Apoiador de Bolsonaro, Recktenvald teve apenas quatro votos do conselho universitário – Anderson André Genro Alves Ribeiro e Antônio Inácio Andrioli, professores concorrentes ao cargo, receberam respectivamente 26 e 19 votos. Em nota oficial, a direção da UFFS diz que a nomeação de Recktenvald “não representa o projeto democraticamente legitimado pela comunidade universitária da instituição”.
2. UFC – Universidade Federal do Ceará
Data da nomeação: 19 de agosto
Reitor nomeado: José Cândido Lustosa Bittencourt de Albuquerque, 2º colocado na lista tríplice
A UFC havia sido a primeira universidade do nordeste a rejeitar o programa Future-se. “O que se escancara, aos nossos olhos, é que se encontra em marcha uma estratégia para reduzir a presença do Estado [da União] na garantia do direito à educação e, ao mesmo tempo, abrir à financeirização do ensino público, transformando-se a educação em mercadoria que tem o lucro – e não o compartilhamento, a geração e difusão do conhecimento – como objetivo final”, dizia a nota da universidade de 14 de agosto, ainda sob o comando do reitor Henry Campos. Poucos dias depois, mal tomou posse, o professor Cândido Albuquerque aderiu ao programa. “A universidade brasileira precisa acordar para essa nova realidade do mercado de trabalho, precisamos dar aos nossos alunos novas e modernas habilidades para que estejam preparados para o futuro. Precisamos inovar, empreender e internacionalizar as novas ações. E o programa Future-se contará com a nossa contribuição”, afirmou, em Brasília. Albuquerque teve 9 votos no conselho universitário, enquanto Custódio Luís Silva de Almeida teve 25. Na consulta à comunidade, Albuquerque recebeu apenas 610 votos, ante a 7.772 de Almeida (o que corresponde a 64,8% do total).
3. UFVJM – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
Data da nomeação: 10 de agosto
Reitor nomeado: Janir Alves Soares, último colocado na lista tríplice
Reitor entre 2015 e 2019, o professor Gilciano Nogueira disputava reeleição e estava na primeira posição na lista tríplice na universidade. Em entrevista ao jornal O Estado de Minas, em 11 de agosto, questionou o fator político na decisão do governo. “A democracia na instituição foi ferida de morte. Para Brasília, foi só uma decisão. Para nós, afeta o destino da instituição”, criticou. “O presidente diz que não quer reitor com viés de esquerda e quer que tenha capacidade de gestão. Basta olhar os números da universidade. Em termos de viés, passei por seis ministros da Educação. Fui presidente do fórum reitores de Minas Gerais. Se identificou viés em mim, gostaria de saber qual”, questionou Nogueira, que recebeu 27,37% dos votos válidos na consulta aberta. Com uma proposta de gestão para “encontrar a melhor maneira de aproveitar os recursos humanos, físicos e financeiros” da universidade, Soares, novo reitor escolhido por Bolsonaro, obteve 5,21% dos votos.
4. UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Data da nomeação: 1° de agosto
Reitor nomeado: Fábio Josué Souza dos Santos, último colocado na lista tríplice
Foi preterida a professora Georgina Gonçalves dos Santos, que liderava a lista da universidade, tanto na consulta acadêmica junto aos alunos, quanto no conselho universitário. Georgina publicou uma carta aberta questionando a decisão presidencial. “Não podemos minimizar o que ocorreu. A pergunta é: por que não foi respeitado o desejo da comunidade da UFRB? Por que o governo brasileiro interferiu na normalidade institucional nomeando o terceiro indicado? Não podemos ser ligeiros ou precipitados nessa análise mas sim, investirmos todo nosso esforço de compreensão para entender o que aconteceu. Racismo? Homofobia? Misoginia? Nenhuma ingenuidade nos será perdoada”, criticou a docente, que recebeu 17 votos no conselho universitário. Professor de pedagogia, Santos recebeu 3 votos e foi escolhido. Curiosamente, ele pode ser chamado de petista: filiado ao partido desde 1999, já presidiu a sigla na cidade baiana de Amargosa.
5. UFTM – Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Data da nomeação: 17 de junho
Reitor nomeado: Luiz Fernando Resende dos Santos Anjo, 2º colocado na lista tríplice
O professor Fábio César da Fonseca, que tinha sido eleito pelo colegiado e pela comunidade acadêmica, foi preterido na escolha. Ele foi filiado ao PT (entre 1990 e 2005) e ao PSOL (de 2007 a 2018). Em nota, Fonseca considerou a decisão uma “afronta” à autonomia universitária. “Trata-se de uma nomeação ilegítima, desrespeitosa e provocadora de instabilidades institucionais. Uma nomeação geradora e intensificadora de problemas na UFTM, pois nasce fragilizada, traz, em sua essência, a marca indelével da ilegitimidade e o caráter antidemocrático e antiético. No âmbito da UFTM, a nomeação do 2º colocado é ainda uma afronta à moralidade e à eficiência administrativa”, escreveu Fonseca, cuja chapa recebeu 3.187 votos na consulta interna, realizada em junho do ano passado. Anjo obteve 2.649 e, na época, acusou “indícios de irregularidades” no pleito ao Ministério Público Federal, que arquivou e desconsiderou a denúncia.
6. UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados
Data da nomeação: 11 de junho
Reitora nomeada interinamente: Mirlene Damázio, que não estava na lista tríplice da universidade
Em março, o colégio eleitoral definiu a seguinte lista tríplice, em ordem: Etienne Biasotto, Jones Dari Goettert e Antonio Dari Ramos. Entretanto, o Ministério Público Federal abriu ação civil pública para questionar o pleito, sob argumento de que a formulação da lista foi antiética e desrespeitou o princípio da representatividade. Em abril, o Ministério da Educação pediu para a universidade refazer o processo eleitoral. No imbróglio, o MEC interveio e nomeou a professora de pedagogia Mirlene Damázio, que não estava na lista tríplice, como reitora pro tempore. Na primeira reunião com estudantes, foi chamada de “interventora”.
7. Cefet-RJ – Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro
Data de nomeação: 15 de agosto
Diretor nomeado interinamente: Maurício Aires Vieira, que era assessor de Abraham Weintraub
Físico gaúcho e ex-assessor do ministro Abraham Weintraub, Maurício Aires Vieira não tem vínculo acadêmico no Rio. Segundo o ministério, o processo eleitoral do centro está sob “análise administrativa” e, até a conclusão, foi designado um diretor-geral temporário – não foram divulgados detalhes das denúncias de irregularidades que impediram a posse do professor Maurício Motta, o mais votado na consulta interna da instituição. Hostilizado por estudantes ao entrar no campus, Aires Vieira também foi tratado como “interventor”.

Nas universidades restantes, foram nomeados os primeiros colocados nas listas tríplices na UFRN, no Rio Grande do Norte, UFRJ e Unirio, no Rio de Janeiro, e UFV, em Minas Gerais. Ainda faltam as nomeações de novos reitores na UFMA, no Maranhão, e UFPE, em Pernambuco. Em Pernambuco, o desfecho deve demorar: um grupo de 168 professores e empresários está contestando a lista tríplice da universidade. Liderado por um apoiador bolsonarista, o coronel da reserva da PM Luiz Meira, o movimento Docentes pela Liberdade levou ao MPF uma denúncia de “conduta irregular” na composição da lista.
Ilustração: Rodrigo Bento/The Intercept Brasil

As canetadas das intervenções

Por lei, o reitor e o vice-reitor de instituições federais de ensino são nomeados pelo presidente, que avalia a lista elaborada pelo colegiado das instituições, composto por professores (que representam 70% do grupo), funcionários e estudantes (os demais 30%). Em algumas universidades, adota-se o modelo paritário (o peso dos votos de professores, funcionários e estudantes é igual, 33,3%, a despeito da diferença numérica de votantes). Formalizar a escolha da consulta interna da universidade (isto é, nomear o primeiro colocado da lista tríplice) é uma forma de respeitar a autonomia universitária.
Mas, em diversas notas à imprensa, o MEC vem martelando o argumento de que não há hierarquia entre os indicados das listas tríplices. “A relação é enviada para o Ministério da Educação e a palavra final é do presidente da República”, diz o site oficial do MEC. E, na escolha dos novos reitores, o governo leva em conta até as redes sociais dos candidatos para se certificar de que eles estão alinhados com o governo. Os deputados de cada estado ajudam o governo a levantar a ficha de cada um dos possíveis reitores.
A intervenção não termina na nomeação – até porque os reitores perderam poder no novo governo. Em maio, Bolsonaro assinou um decreto que tira dos reitores a autonomia para nomear dirigentes (como diretores e pró-reitores) de instituições federais, que terão que passar pelo crivo de Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil. Os indicados a ocupar cargos nessas instituições serão investigados pela Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, e pela Controladoria Geral da União.
Em julho, Weintraub também assinou a portaria 1373/2019, que puxa para o ministério da Educação a prerrogativa de nomear e/ou dispensar cargos nas instituições de ensino.
As ações foram consideradas “ataques” à autonomia de universidades, institutos federais e centros de educação tecnológica. A assessoria jurídica do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, o Andes-SN, considera o decreto inconstitucional. “É mais uma tentativa do governo federal de controlar as universidades públicas e destituí-las de caráter republicano. Tirar a nossa autonomia para eleger, entre nossos pares, quem vai assumir os cargos do cotidiano do trabalho”, definiu, em nota, Eblin Farage, secretária-geral do sindicato.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Senado vota texto da reforma da Previdência. É a desgraça do povo . Assista aqui



O plenário do Senado Federal vota nesta terça-feira, 1º, o texto da reforma da Previdência. A proposta cria novas regras para que brasileiros possam se aposentar. A principal é a fixação de idade mínima: caso a reforma entre em vigor, é preciso ter 62 anos, no caso das mulheres ou 65 anos, se homem, para pedir o benefício.

Por se tratar de uma mudança na Constituição, a proposta precisa ser votada em dois turnos e aprovada por pelo menos 49 dos 81 senadores, equivalente a três quintos da Casa. Após a votação do primeiro turno, que acontece nesta quarta, são necessários intervalo de cinco sessões para que haja a segunda votação. Se aprovado em dois turnos, o texto é promulgado e as novas regras de aposentadoria começam a valer.
Com Veja/Abril/TV SENADO
Professor Edgar Bom Jardim - PE

“Interesse da Amazônia não é na porra da árvore”, diz Bolsonaro



O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou, nesta terça-feira 1, que “o interesse na Amazônia não é no índio, nem na porra da árvore, é no minério”. A declaração ocorreu em frente ao Palácio do Planalto, a garimpeiros da região de Serra Pelada, no estado do Pará. O presidente recebeu representantes da Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp).
A frase é uma crítica ao interesse de outros países à Floresta Amazônica. Bolsonaro afirmou que divulgará um vídeo sobre a exploração do grafeno e atacou novamente o líder indígena Raoni Metuktire.
“Esse vídeo é muito bom para abrir a cabeça da população de que o interesse na Amazônia não é no índio, nem na porra da árvore, é no minério. E o Raoni fala pela aldeia dele, fala como cidadão, não fala por todos os índios, não. É outro que vive tomando champanhe e em outros países por aí, esse tal de Raoni aí”, disse Bolsonaro.
Os garimpeiros querem uma “administração militar” na área. Bolsonaro afirmou que pode enviar as Forças Armadas ao local, se a medida por legal. Segundo o presidente, a mineradora Vale, responsável pelas tragédias nas cidades de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, “abocanhou” o direito mineral no Brasil.
“Esse é um país que é roubado há 500 anos. A gente conhece o potencial mineral do Brasil, em Roraima e no sul do Pará. Eu sei como a Vale do Rio Doce abocanhou, no governo FHC, o direito mineral no Brasil. Um crime, um crime o que aconteceu. Chamei o ministro de Minas e Energia, almirante Bento, para participar da rápida reunião nossa, que vai continuar agora com a Agência Nacional de Mineração, para a gente buscar alternativas. Se tiver alternativas, a gente vai até o final da linha. Não vou oferecer milagre para ninguém aqui”, afirmou.
O presidente também se queixou de críticas que, segundo ele, o mundo faz aos garimpeiros, mas não às empresas. Ele afirmou que o minério brasileiro é doado para outros países.
“O mundo falando, muitas vezes criticando o garimpeiro, agora, a covardia que fazem com o meio ambiente, por empresas de vários países do mundo aqui dentro do Brasil, ninguém toca no assunto. A propina, pelo que parece, corre solta”, acusou o presidente.
Com informação de Carta Capital

Professor Edgar Bom Jardim - PE