segunda-feira, 5 de agosto de 2019

O professor francês perseguido em SP por querer educar trabalhadores

Foto em preto e branco de Joseph JubertDireito de imagemREPRODUÇÃO/CDAPH-USF
Image captionJoseph Jubert nasceu na França por volta de 1876 e veio ao Brasil ainda criança
O período da República Velha foi marcado por intensos conflitos e mudanças sociais no Brasil. Era uma época em que grandes donos de terras, obrigados a substituir a mão de obra escravizada pela assalariada, enfrentaram ondas de insatisfação de trabalhadores - e rebeliões - em vários pontos do país. Uma época que produziu importantes figuras, mas que são desconhecidas pela história oficial.
É o caso de Joseph Jubert, um professor e advogado francês que enfrentou fazendeiros e desafiou autoridades por melhores condições de trabalho nas lavouras. Por isso, foi tachado de "vagabundo", "perigoso e com intuitos subversivos".
Após projetar escolas para trabalhadores e seus filhos, que seguiriam uma linha de ensino distante dos dogmas da instituição e mais próxima da ciência, entrou em confronto com membros da Igreja Católica.
Quando defendeu uma paralisação de trabalhadores nas fazendas de café, jornais da época cobraram "providências justas da polícia pela paz e prosperidade da terra", enquanto era intimidado no Judiciário por "interferir na atividade econômica" e "iludir os colonos".
Recebeu o apelido de "o terrível anarquista", por mais que registros da época mostrem um sujeito culto e distante de qualquer ato de violência.
Perseguido, Jubert respondeu diversos processos durante suas passagens por cidades do interior de São Paulo. Graças às essas ações, foi preso, torturado e, também, apagado da história.

'O terrível anarquista'

Jubert nasceu em Lyon por volta de 1876 e veio ao Brasil ainda criança, em um período de intensa imigração de trabalhadores assalariados europeus, que chegavam ao país para substituir a mão de obra escravizada nas fazendas. Muitos deles acabaram enganados sobre as reais condições encontradas por aqui.
"A maior parte [dos estrangeiros] vinha na expectativa de possuir terras e fugir da fome. Quando chegam aqui e são jogados para trabalhar nos cafezais, passam por maus tratos, dívidas com os armazéns, e muitos desses colonos vão se rebelar", conta Ricardo Rugai, doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP).
É nesse contexto, de desapontamento e abusos sofridos pelos colonos, é que as ideias de afronta à ordem vigente ganham força - e que Jubert inicia sua politização.
"A ideia dominante era a de que anarquistas, comunistas, sindicalistas e qualquer outro ator político tenham vindo para cá já politizados. Mas, na verdade, a maioria dos europeus se tornou anarquista, por exemplo, aqui no Brasil", conta Rugai.
Jubert se aproximou dos anarquistas, mas não se reconhecia como um deles.
"Ele era contra o poder do Estado, da Igreja e da propriedade privada. Mas se declara um livre pensador", afirma Sandra de Souza, que estudou a história de Jubert durante o mestrado pela Universidade São Francisco (USF).
A distância inicial, porém, não o livrou de ser tachado de perigoso. Logo, o francês foi apelidado de "o terrível anarquista", alcunhada dada por um jornal, e passou a sofrer perseguições de representantes da oligarquia rural.
Ilustração mostra plantação de café e montanhasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'A maior parte [dos estrangeiros] vinha na expectativa de possuir terras e fugir da fome. Quando chegam aqui e são jogados para trabalhar nos cafezais, passam por maus tratos', explica o historiador Ricardo Rugai

Problemas com a Justiça

O primeiro local em que Jubert teve problemas por causa de suas contestações é Atibaia, cidade no interior de São Paulo com milhares de imigrantes trabalhando nas lavouras.
Em meio a discussões sobre as novas relações de trabalho e seus consequentes conflitos, o francês, que atuava como professor e advogado, começou a enfrentar dificuldades.
Em 1907, ele foi processado pelo Judiciário local, com base no artigo 399 do Código Penal da época, por não possuir emprego fixo, sendo taxado como vagabundo e vadio pela sociedade da cidade, já que o processo era público.
Ao longo de sua trajetória no Brasil, ele responderia ainda a outros processos como forma de intimidação pelas suas atividades.
"Os processos eram utilizados para conter os chamados agitadores", diz Souza.

Mudança e perseguição

Documento envelhecido exibe as palavras: Comarca de Bragança, Delegacia de Polícia de BragançaDireito de imagemREPRODUÇÃO/CDAPH-USF
Image captionJubert se mudou para Bragança Paulista após ser processado em Atibaia
Após ser processado em Atibaia, e estima-se que absolvido, Jubert se muda para a vizinha Bragança Paulista como forma de diminuir a pressão sobre ele. Distante apenas 25 quilômetros, a nova cidade era famosa pelas fazendas de café e abrigo de milhares de imigrantes, principalmente italianos e portugueses. Um cenário fértil para a divulgação das novas ideias.
Ali, o francês ajudou a fundar a Liga Operária, uma associação que lutava por melhores condições de trabalho, salário mínimo e definição de jornada máxima, em um período no qual as leis trabalhistas ainda não existiam.
Após distribuir um boletim da Liga, escrito em português e italiano, com tais reivindicações, Jubert foi processado por fazendeiros locais como forma de intimidação por "iludir a boa fé dos colonos e causar uma paralisação forçada". O processo foi baseado no artigo 205 do Código Criminal da época que previa penas de prisão por "causar suspensão do trabalho para impor aos operários ou patrões aumento ou diminuição de serviço ou salário".
Segundo os produtores rurais, a intenção do professor para com os trabalhadores estrangeiros era "despertar-lhes paixões ruins, visando desviá-los dos trabalho, incitando à greve", de acordo com o processo, de 1911.
"Ou seja, para a Justiça, o operariado não possuía vontade própria, [os trabalhadores] estavam sendo enganados", conta Sandra. Os acusadores eram os fazendeiros Olympio Barra, Theophilo Francisco da Silva Leme e Felippe Rodrigues de Siqueira - os dois últimos deram seu nomes a vias importantes da cidade até hoje.
Para além da pressão dos donos de fazendas, a imprensa também auxiliava a proteger o status quo. Em artigo, o jornal Cidade de Bragança aconselha os colonos a "não serem ingratos para os patrões que lhe estimam e que não venham servir a anarquia social".
Jubert dispensou advogados no caso e fez a própria defesa, mostrando plenos conhecimentos jurídicos. Mas, com a pressão dos fazendeiros, juízes das comarcas próximas davam indicativos de que o professor seria considerado culpado por forçar os trabalhadores a pararem.
Mas, dado o parentesco e as ligações próximas dos julgadores com os acusadores, os três primeiros juízes foram considerados impedidos, graças aos recursos impetrados pela defesa. Assim, foi-se necessário a nomeação de um quarto juiz, da cidade de Jundiaí, que considerou a denúncia improcedente.
Em pouco tempo, entretanto, diversas greves foram registradas no município, mobilizando cerca de mil colonos em sete fazendas da região, fazendo com que o conflito social se agravasse.

Educação versus Igreja

Após essas paralisações do trabalho, a pressão ficou cada vez mais forte e o cerco ao francês se apertou.
Outra ideia do francês a causar polêmica foi o plano de fundar uma escola para os trabalhadores e seus filhos.
Chamadas de Escolas Modernas, as instituições eram inspiradas nas ideias do pedagogista anarquista espanhol Francisco Ferrer y Guardia. Esse método previa que meninos e meninas estudariam juntos (até então uma inovação), defendia o fim dos exames e dos castigos e, principalmente, uma educação com pouco espaço para o ensino religioso.
"O modelo de Ferrer é, justamente, uma educação que tenha por base um modelo científico aos estudantes", diz Silvio Gallo, professor doutor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
"É a razão contra o dogma. A ideia era contrapor a coisa pragmática com uma educação científica. Ferrer defende uma coeducação das classes, uma igualdade entre homens e mulheres e que eles deveriam ser educados juntos", afirma Gallo.
O plano da escola fez com que Jubert virasse alvo também da Igreja Católica na cidade, que, por meio do Centro Católico, associação destinada à defesa da religião, recebia recursos municipais para bancar a única escola da região.
Um padre chamado Leonardo Gioiele, vigário de uma das paróquias e vice-presidente da associação, processou Jubert sob acusação de calúnia e injúria, após o francês iniciar uma agenda de conflitos com o padre por causa dos rumos da educação na cidade.
Em artigo de jornal, o professor foi além e criticou a postura do padre em relação a vida social afirmando, em artigo no jornal A Lanterna, de 1910, que "padre Leonardo, que como um anjo de bondade, foi surpreendido no quintal de uma família, ao pé de uma jabuticabeira, a espera de administrar a sua bondade a certa mulher casada".
O Centro Católico era presidido por um dos fazendeiros responsáveis pelo primeiro processo contra francês em Bragança, acerca da distribuição dos boletins, o que dá uma ideia de como o poder econômico e a Igreja andavam de mãos dadas na época.
"Esse processo por injúria continua na mesma forma de intimidação feita pelos aliados, fazendeiros e membros da igreja, em cima de Jubert", diz Sandra de Souza.
Página envelhecida traz texto longo e título: 'Aos colonos das fazendas'Direito de imagemREPRODUÇÃO/CDAPH-USF
Image captionDistribuição de boletim fez francês ser processado por fazendeiros locais sob acusação de 'iludir a boa fé dos colonos'
Ele denunciou ao jornal A Lanterna, no início de 1911, que vinha sofrendo ameaças por meio de cartas anônimas e recados. Também afirmou que foi convidado a acompanhar policiais até a delegacia da cidade, onde foi revistado e ameaçado pelo delegado caso continuasse a falar do padre.
Nessa ação do padre e seus aliados, Jubert é condenado a cinco meses de prisão e ao pagamento de uma multa de cerca de quatrocentos mil réis, um valor considerável à época e, praticamente, impossível de ser obtido por um trabalhador.

Sorocaba, prisão e tortura

Após ter sido condenado, Jubert se mudou a Sorocaba como forma de fugir da punição. A cidade contava com grandes tecelagens e um amplo comércio de gado graças à ferrovia que a ligava a Santos. Ele passou então a dar aulas, por três anos, em uma Escola Moderna que já funcionava por lá.
Paralelamente, o professor também auxiliou a abertura de outra Liga Operária na região. Em 1912, esteve à frente da defesa de operários que trabalhavam na cidade de Votorantim, onde, após a confusão inicial, um promotor de justiça tentou expulsá-lo da cidade.
Segundo Jubert, em artigo no jornal A Lanterna, de 1912, as ameaças de deportação eram constantes, mesmo que ele tivesse cidadania brasileira e fosse apto a votar.
No ano seguinte, o jornal Correio Paulistano relata que Jubert, chamado de "anarquista perigoso e com intuitos subversivos" pelo periódico, é preso após o desfecho de uma ação por calúnia e difamação promovida por um advogado, Octávio Guimarães, após Jubert ter discutido com Guimarães nas páginas dos jornais locais, trocando artigos acusatórios sobre educação.
Mesmo com a sentença, Jubert vai à delegacia pedir autorização para um comício, ignorando o resultado do julgamento sobre esse processo por calúnia. O comício, claro, não ocorreu.
Torturado nos primeiros dias de prisão em São Paulo, para onde foi mandado, o professor ficou preso em uma pequena cela, só podia ler livros religiosos e era proibido de ler. Os carcereiros locais também molhavam o chão da cela duas vezes por dia, o que o impedia de deitar e o fez desenvolver artrite.
Após a prisão de Jubert, anarquistas de todo o país fizeram uma campanha por sua libertação e buscarem doações para auxiliar o pagamento das multas impostas pela Justiça. Só depois de quatro meses, Jubert é libertado, quando decidiu retornar ao interior.
Depois de Sorocaba, o professor seguiu para Bauru, onde se tornou responsável pela Escola Moderna da cidade, além de lecionar nas de Taquaritinga e Cândido Rodrigues. Ali, continuou a busca por inaugurar centros destinados à educação.
Jubert morreu por volta de 1945, na capital, após uma vida marcada pela contestação do poder. Mesmo com a trajetória de lutas a favor dos trabalhadores e da educação, histórias como a de Joseph Jubert permanecem escondidas do cenário nacional.
"Há um trabalho de ocultamento de memória de lutas, do poder vigente no Brasil, há muito tempo", analisa Ricardo Rugai.
Além da censura do Estado, para o historiador, a hegemonia do Partido Comunista Brasileiro na esquerda, a partir da década de 1930, faz com que a história do anarquismo no Brasil anterior a essa década fosse deixada de lado, perdendo força social.
"Para além do governo e das fontes oficiais, que ocultam muito histórias como a dele, o PCB também fez um trabalho de ocultamento do anarquismo e suas vertentes, ignorando-os ou fazendo críticas pesadas a esses personagens", conclui.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 3 de agosto de 2019

Pesquisa: Ensino Médio integral aumenta chances de chegar ao Ensino Superior

Estudantes do Ensino Médio reunidos em Jaboatão, Pernambuco

Foto: Pedro Menezes/Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco
Existe um filme já conhecido sobre o Ensino Médio que, invariavelmente, apresenta no roteiro baixa aprendizagem e altos índices de evasão e de distorção entre idade e série. Os personagens podem até mudar, mas os episódios se repetem ano após ano e, pouco a pouco, o público se afasta sem conhecer casos transformadores como o do impacto da política de Educação integral.
Um dos protagonistas dessa última história é Pernambuco. Em 2007, o estado enfrentava uma taxa de abandono de 24%, ou seja, um em cada quatro estudantes não completava a etapa, o que colocava a rede na 26ª posição no quadro nacional. De uma escola em tempo integral, com processo seletivo, aos poucos o projeto foi se abrindo a todos os alunos da rede. Atualmente, segundo dados da secretaria, 412 das 760 escolas de Ensino Médio estão em tempo integral, o que atinge 54% das escolas e 57% das matrículas, antecipando a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) prevista para 2024, que prevê que pelo menos metade das escolas ampliem sua jornada.
 “Dez anos atrás o Brasil acreditava que escola integral era um sonho impossível, que o estudante precisava trabalhar, que o custo era impossível de ser pago, que não haveria adesão. Pernambuco mostrou que isso não é verdade a partir do momento que os pais e alunos entenderam que [a Educação integral] pode fazer a diferença na vida deles”, diz o secretário Frederico da Costa Amâncio, que atribui ainda a virada nos resultados educacionais a outros três fatores: monitoramento de metas, gestão por resultado e avaliação das escolas.
Mas como quantificar essa diferença? Com um olhar para além dos rankings dos exames nacionais, um estudo realizado pelo LEARN/FGV (Laboratório de Pesquisa e Avaliação em Aprendizagem da Fundação Getúlio Vargas) e Instituto Sonho Grande avaliou as condições de vida de 2.814 estudantes que concluíram o ensino médio nas escolas estaduais do estado, entre os anos de 2009 e 2014.
Pesquisadores concluíram que alunos formados nas escolas de tempo parcial têm 46% de chance de ingressar no Ensino Superior, enquanto entre os egressos das escolas integrais essa chance sobe para 63%. Outros benefícios estão ligados a equidade e ao empoderamento de estudantes pardos ou pretos no mercado de trabalho. A diferença salarial que chega a 10% na escola parcial desaparece quando se olha para escolas integrais.
E aqueles que completam o Ensino Médio integral optam, com maior frequência, por carreiras com maior valor agregado, tais como atividades ligadas ao setor financeiro (e menos inserção na área comercial), além de maior presença no setor educacional e de saúde.
A escola integral de Pernambuco
A ampliação da jornada para 45 horas semanais, por si só não explica os resultados, segundo explica Vladimir Ponczek, professor da escola de economia de São Paulo da FGV e coordenador do LEARN. “Ampliar horário em sala de aula não traz grandes resultados no longo prazo. Agora, a ampliação de jornada com trabalho com o socioemocional combinado ao cognitivo, aí sim existe um efeito”, explica o professor, que vê a possibilidade de acesso ao Ensino Superior como importante, especialmente no Brasil, em razão da diferença salarial em relação a quem tem apenas a Educação Básica no currículo.
Síntese de Indicadores Sociais 2018, do Instituto Brasileiro de Educação e Estatística (IBGE), mostra que, no Brasil diploma universitário rende salário 2,5 vezes maior do em relação a alguém com Ensino Médio, enquanto em países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) esse valor é apenas 1,6 vezes maior.
A transformação de uma escola tradicional, com menos horas e pautada pelo conteúdo, para esse outro modelo, mais flexível, exige mudanças na gestão. “No programa iniciado pelo Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE) em Pernambuco foi feita a  revisão e a reforma da infraestrutura da escola, que precisa ter refeitório, quadra, uma biblioteca e sala de informática”, disse Rangel Barbosa, diretor de projeto do Instituto Sonho Grande.
“Também é feita uma revisão do modelo pedagógico para incluir elementos focados no protagonismo do estudante e seu projeto de vida, além de ações para formação do corpo acadêmico”, completa.
Para Amâncio, secretário de Educação do estado, quando o aluno tem a possibilidade de ficar por sete horas na escola, o professor consegue aprofundar o trabalho pedagógico, com vistas ao desenvolvimento de competências. “A gente plantou há 12 anos a semente da Educação interdimensional, do trabalho com protagonismo, projeto de vida e das competências socioemocionais que hoje estão na BNCC (Base Nacional Comum Curricular)”. Após atingir a liderança no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2015, o estado caiu para terceira posição em 2017, ano em que se destacou por apresentar a menor desigualdade de aprendizagem entre estudantes de nível socioeconômico mais baixo e mais alto.
Novo Ensino Médio
Como nas outras redes estaduais, o momento em Pernambuco é de discutir a implantação do Novo Ensino Médio. “Nosso time está discutindo isso agora. Estamos tentando não perder de vista que mesmo a escola regular precisa desenvolver outras competências com os estudantes e criar disciplinas transversais”, disse Amâncio.
Dentro da secretaria, segundo ele, a estratégia é ter uma visão mais ampla sobre os itinerários. “A gente não pode achar que todo esse esforço para Novo Ensino Médio e BNCC foi para ter mais aula da mesma coisa. Por exemplo, iniciação científica, algo que desenvolve habilidades e aprofunda o conhecimento, pode estar presente em qualquer itinerário formativo, não só nos da área de exatas”
POR:
Vinicius de Oliveira, do Porvir*
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Educação:O livro pode se tornar um instrumento valioso para lidar com os conflitos e instaurar o clima de paz


Pessoa escreve em um caderno de capa dura preta com pessoas desfocadas ao fundo
Foto: Getty Images
A escola é um lugar dinâmico e rico, principalmente no plano das interações sociais. No entanto, toda essa efervescência não existiria sem alguns instrumentos básicos para a aprendizagem e para a regulação das relações. Dois bons exemplos disso são o caderno do aluno e o livro de ocorrências, duas coisas tão naturalizadas na cultura escolar que geralmente não damos a devida atenção a elas.
Tanto o caderno do aluno quanto o livro de ocorrências são dois instrumentos que estão se consolidando como objetos de pesquisa no meio acadêmico. Embora a gente não se dê conta disso, o caderno do aluno é um instrumento complexo que requer o desenvolvimento de algumas habilidades para que ele seja utilizado adequadamente, especialmente quando se trata de crianças em processo de alfabetização. Sobre o livro de ocorrências não é diferente e é dele que falaremos nesse texto.    
O que é o livro de ocorrências?
No Brasil, o livro de ocorrências disciplinares se tornou um dos principais dispositivos criados para lidar institucionalmente com os conflitos na escola, especialmente quando se trata de problemas mais sérios como o desrespeito ao/à professor/a e as atitudes que atentam contra a dignidade dos colegas de escola. O registro de uma ocorrência ou de um conflito é feito para marcar um rito e significa que a mediação deve ser mais cuidadosa, tanto para acolher adequadamente a pessoa que se sentiu desrespeitada quanto para cuidar para que o impasse seja resolvido.
Esse rito que envolve a narrativa de uma discórdia registrada em livro e que, portanto, soa mais sério, passou a ser incorporado na rotina escolar, a ponto de se tornar importante para os profissionais da escola, para os alunos e até mesmo para as suas famílias, uma vez que a exigência de escrever sobre o ocorrido também pode partir dos estudantes e dos seus pais ou responsáveis.
A perpetuação desse tipo de conduta institucional nas escolas se deve ao fato de o livro de ocorrências disciplinares ter se tornado um traço importante da tão conhecida cultura escolar, que, nas palavras do sociólogo norte-americano Willard Walter Waller, é uma cultura que se distingue daquela existente em qualquer outra instituição, devido aos seus valores, práticas e sistema simbólico. É nesse sistema simbólico que o livro de ocorrências se enquadra e, por isso, ele se tornou um objeto tão peculiar e tão essencial na rotina escolar.
Afinal, o livro de ocorrências é bom ou ruim?     
Esta é uma boa pergunta para os/as diretores/as e para os/as professores/as das escolas brasileiras, e não só para aquelas escolas que adotaram o livro de ocorrências. Em tese, como qualquer outra coisa, o livro, por si só, não é bom e nem é ruim. Depende do uso que se faz dele. Em alguns lugares esse registro não passa de algo meramente burocrático, ao passo que em outros ele se tornou uma fonte preciosa de informações para a gestão, para os educadores e para as famílias.
O fato incontestável é que o livro de ocorrências pode ser um instrumento de coleta de dados indispensável para se tomar conhecimento do que acontece no dia a dia da escola, principalmente quando se trata dos problemas de relacionamento entre crianças e jovens. Para que isso ocorra, é importante tomar consciência desse potencial e decidir coletivamente sobre o uso que deve ser feito desse instrumento, até mesmo para saber o que extrair dele.
O que pode ter de importante no livro de ocorrência?
Para que o livro de ocorrências cumpra um papel fundamental na mediação dos conflitos e se torne um instrumento de coleta de dados para ajudar a compreender alguns problemas na escola ele deve ser pensado em duas etapas que são, a um só tempo, diferentes e complementares.
Em primeiro lugar, a maneira de descrever os acontecimentos deve ser considerada. Se o livro de ocorrências é um lugar de narrativas estas devem ser feitas na perspectiva de quem quer entender e esclarecer o ocorrido, não um relato de quem está fazendo um julgamento parcial, que pode comprometer a legitimidade da mediação que está sendo feita. Nesse sentido, a crença dos alunos no valor do instrumento passa pela imparcialidade da narrativa e do senso de justiça da pessoa que está mediando o conflito.
Em segundo lugar, o livro deve ser um instrumento vivo e dinâmico a ser utilizado pela escola para conhecer os problemas a partir dos dados que ele reúne e que podem se tornar informações valiosas para interpretar adequadamente fenômenos como a indisciplina e a violência, e até mesmo outros fenômenos mais complexos como a repetência dos alunos. Basta verificar para saber que boa parte dos alunos que protagonizam os conflitos na escola já passaram pela experiência da reprovação.
Que informações podem conter no livro de ocorrências?
Se os gestores escolares e os educadores chegarem à conclusão de que o livro de ocorrências não deve se tornar um mero objeto voltado para a lógica de disciplinamento dos estudantes, mas que ele deve ser um instrumento de coleta de dados que servirão para analisar e interpretar o ambiente de aprendizagem, várias informações estarão à disposição da escola. O livro de ocorrências pode nos dizer o que está acontecendo na escola. Nele podemos separar a indisciplina da violência e do bullying, só para citar um bom exemplo.
O aspecto de gênero
A primeira descoberta interessante que fazemos no livro de ocorrências é sobre o gênero dos estudantes que mais se envolvem nos eventos registrados. Geralmente, os meninos são os recordistas e isso nos informa sobre os tipos de masculinidades por trás desses comportamentos. Nesse caso, vale a pena saber também qual é a proporção de meninos e de meninas nas ocorrências e quais são os eventos mais protagonizados de acordo com o sexo dos estudantes.  
Os alunos mais recorrentes nos registros
Em relação a isso, duas coisas podem ser observadas. Primeiro, que nem todos os meninos estarão presentes no livro de ocorrências da escola e, segundo, que alguns serão mencionados mais frequentemente, enquanto outros aparecerão, no máximo, em dois registros, pois esse tipo de mediação tem a sua eficácia. 
A relação da faixa etária com certos tipos de eventos
O livro de ocorrências geralmente corrobora resultados de pesquisas sobre indisciplina e violência, ao constatar que certos tipos de conflitos ou de violências são mais comuns em alguns níveis de ensino, ou seja, os eventos protagonizados pelos alunos do 1º ao 5º ano serão diferentes daqueles protagonizados pelos alunos do 6º ao 9º ano e assim por diante, pois a idade do aluno diz muito sobre o que ele faz, sem desconsiderar que o sexo também é marcante nessa circunstância.   
Os acontecimentos mais comuns
Alguns eventos se repetem mais frequentemente e localizá-los em algumas categorias pode ser extremamente útil. Quando se identifica os eventos mais comuns nota-se que os seus protagonistas também apresentam algumas características semelhantes e isso ajuda a compreender melhor cada um desses problemas.    
O livro de ocorrência tem mesmo toda essa importância?
Sobre isso eu posso afirmar, com razoável segurança, que o livro de ocorrências é um instrumento muito valioso para lidar com os conflitos e para instaurar o clima de paz na escola. Para tanto, ele não pode se tornar uma fonte de ameaça e de medo para os alunos. Como bem já afirmou Ana Lúcia Silva Ratto, uma das pesquisadoras do tema, o livro de ocorrências não pode servir para objetivar os indivíduos e nem pode ser uma forma de explicá-los, classificá-los, avaliá-los ou defini-los. Tampouco deve ser visto como o lugar da escrita que vai isentar a escola de responsabilidades em conflitos mais graves que requerem a presença dos pais ou dos responsáveis. Não deve ser o lugar da confissão, seja através da palavra da criança ou assinando o livro e conferindo veracidade ao que nele consta, seja através daquilo que o adulto confessa por ela. Ao contrário de tudo isso, o livro de ocorrências deve ser uma fonte de pesquisa, onde os dados são transformados em informações, em virtude da relevância que eles apresentam.
Claudio Marques da Silva Neto é diretor da EMEF Infante Dom Henrique, em São Paulo. Tem experiência em direitos humanos, formação docente, cultura escolar, indisciplina, violência e gênero. É mestre e doutorando em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
POR:
Cláudio Neto
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

No Instagram, João Campos denuncia invasão de celular

Deputado federal João Campos, do PSB
Deputado federal João Campos, do PSBFoto: Humberto Pradera/PSB
Parlamentares continuam denunciando hackeamento de celulares no Congresso Nacional. Desta vez, o deputado federal João Campos afirma, em uma postagem nos stories do instagram que teve um celular do gabinete invadido. 

"Atenção, hackearam o nosso número de divulgação do mandato. Quem receber informações por esse contato, quais quer que sejam, desconsidere.Já estamos resolvendo a situação e avisaremos assim que recuperarmos o número", diz a mensagem.

A reportagem da Folha de Pernambuco teve acesso a uma mensagem enviada pelo celular de divulgação do deputado, perguntando se a pessoa usa o aplicativo do Banco do Brasil, pelo celular ou computador. 

Confira:
joão


joão campos
Por: Juliano Muta em 02/08/19 às 14H42, atualizado em 02/08/19 às 15H38
Folha de Pernambuco.
Professor Edgar Bom Jardim - PE