sábado, 8 de junho de 2019

Crise na Venezuela: qual o papel da Rostec, poderosa corporação russa de defesa




Putin e MaduroDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionVladimir Putin tem apoiado o governo de Nicolás Maduro

Um poderoso conglomerado russo, símbolo do país, que quer se converter em uma das maiores dez corporações industriais do mundo. A Rostec é responsável pela fabricação de produtos de alta tecnologia que exporta a dezenas de países ao redor do mundo - de aviões de caça a produtores farmacêuticos.
A companhia, cujas vendas contribuem para que a Rússia seja a segunda maior exportadora de armamentos do mundo - atrás apenas dos EUA -, acumula grandes empresas dos setores de aviação, defesa e eletrônica. Uma de suas mais recentes aquisições é a Corporação Unida de Aviação, principal fabricante de aviões da Rússia.
Menos conhecido internacionalmente que suas filiais, o nome Rostec tem circulado agora por causa de uma polêmica entre os Estados Unidos e a Rússia na crise na Venezuela.
Presença polêmica
"A Rússia me informou que tirou a maior parte de seu pessoal da Venezuela", escreveu no Twitter o presidente dos EUA, Donald Trump, na segunda-feira
O mandatário parecia confirmar uma informação publicada pelo jornal The Wall Street Journal, segundo a qual Moscou havia reduzido drasticamente a presença de seus assessores militares em território venezuelano, enviados pela Rostec.
Tanto a empresa como o governo russo negaram essa informação.
Durante os últimos meses, a presença de funcionários russos na Venezuela tem sido um motivo de disputa entre Washington e Moscou, que discordam sobre a legitimidade do governo do venezuelano Nicolás Maduro.
Trump considera que o mandatário venezuelano foi reeleito em maio de 2018 de maneira fraudulenta. Por isso, em janeiro a Casa Branca reconheceu Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, como presidente interino do país.
Maduro, que tem apoio do Kremlin, acusa Guaidó de encabeçar uma tentativa de golpe de Estado planejada por Washington.

O salva-vidas de Moscou

Nos últimos meses, o governo de Vladimir Putin tem dado claros sinais de seu respaldo a Maduro por meios diplomáticos, no Conselho de Segurança da ONU e em operações de segurança e defesa.

BombardeiroDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEm dezembro, a Rússia enviou dois bombardeiros Tupolev 160 à Venezuela

Em dezembro, dois bombardeiros russos Tupolev 160 (TU-160) aterrisaram na Venezuela para participar nos "voos operativos combinados Rússia-Venezuela".
No fim de março, outros dois aviões militares russos aterrisaram na Venezuela com militares encabeçados pelo segundo comandante do Exército da Rússia, Vasilly Tonkoshkurov, e 35 toneladas de equipamento, segundo informaram meios locais.
Trump respondeu e disse que a Rússia tinha que sair da Venezuela, enquanto seu enviado especial para o país, Elliot Abrams, assegurou à BBC que "os russos pagarão um preço" pelo que estavam fazendo.

Elliot AbramsDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO enviado especial de Trump à Venezuela, Elliot Abrams, criticou o envio de militares russos à Venezuela

Mas as advertências da Casa Branca não parecem ter sido atendidas por Moscou nem então nem agora.
Essa terça, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, negou que funcionários russos tenham estado falando com o mandatário americano sobre a presença de militares da Rússia na Venezuela e assegurou que os efetivos que se encontram ali seguem com seu trabalho.
"Não sabemos o que querem dizer com 'tiraram a maior parte de seu pessoal'. De fato, há especialistas que prestam serviços às equipes que foram enviadas à Venezuela. Esse processo continua de forma ordenada", disse Peskov aos jornalistas.
A retirada dos empregados de Rostec também foi negada na segunda-feira por um porta-voz da empresa.
Mas o que é Rostec e qual foi seu papel na estratégia do Kremlin?

Política e grandes negócios

A Corporação Estatal para Assistência ao Desenvolvimento, Produção e Exportação de Produtores industriais de Tecnologia Avançada, conhecida como Rostec, foi criada no fim de 2007 por um decreto do presidente Putin, que agrupava em um mesmo ente mais de 400 empresas estatais industriais, muitas das quais estavam falidas.

Sergey Chemezov, presidente executivo da RostecDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSergey Chemezov, o presidente executivo da Rostec, é considerado um dos homens mais influentes da Rússia

Durante seus primeiros anos, seus balanços financeiros não eram favoráveis. Foi em 2010 que começou a registrar ganhos.
Desde então, o conglomerado tem demonstrado uma crescente ambição e espera chegar à lista de maiores corporações industriais do mundo até 2025. Sua importância, no entanto, vai muito mais além de ser uma fonte de renda para Moscou.
"O Kremlin vê a Rostec como uma empresa bandeira do país, um conglomerado que usa como ferramenta em certas áreas. Seu objetivo é melhorar a capacidade da Rússia de competir no setor de alta tecnologia e de defesa", diz William Courtney, pesquisador senior adjunto da Rand Corporation, um think tank (centro de pesquisas) que desenvolve pesquisas e análises para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
"Seu papel na estratégia russa é promover as indústrias de defesa e de alta tecnologia, mas por ser controlada pelo Estado tem que se responsabilizar por qualquer tarefa que o Kremlin lhe dê por razões políticas", afirma.
Embaixo do guarda-chuva dessa corporação, Moscou colocou grandes empresas industriais de um amplo número de setores.
Isso inclui a fabricação de caminhões de carga, componentes eletrônicos de rádio, produtos médicos e farmacêuticos, plantas e estações de energia, veículos como o Lada, mas também fuzis Kalashnikov, helicópteros de guerra e de uso civil, bombardeiros e sistemas de mísseis.

Fotos de caçasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA Venezuela comprou da Rússia uma moderna frota de caças Sukhoi

Foi justamente esse último setor, de equipamentos e sistemas de defesa, que serviu para abrir as portas de Rostec na Venezuela.
Durante o governo do ex-mandatário Hugo Chávez, a Venezuela se converteu no principal comprador de armamentos da Rússia na América Latina e um dos maiores do mundo. Chávez e Putin assinaram acordos de milhões de dólares.
A Venezuela adquiriu mais de 20 bombardeiros Sukhoi de última geração, 40 helicópteros militares e de transporte, 100 mil fuzis Kalashnikov, quase uma centena de tanques e um avançado sistema de defesa antiaérea S-300, entre muitos outros equipamentos.
Esses armamentos foram vendidos por empresas como a Rosoboronexport, que é uma filial da Rostec dedicada à exportação de produtos de defesa.
Embora a maior parte dessas compras tenha se concretizado durante o mandato de Chávez, Moscou manteve boas relações com o sucessor Maduro.

Influência

"A Rússia usa a venda de armamento como uma ferramenta para adquirir influência em certos países e para obter lucro", diz Thomas Graham, pesquisador do Conselho de Relações Exteriores, um centro de estudos com sede em Washington.
Em seu informe de 2017, a Rostec dizia que seus produtos estavam sendo vendidos a 70 países ao redor do mundo e indicava que as exportações de seu equipamento de defesa tinham passado em uma década dos US$ 6 milhões anuais a US$ 13 milhões anuais.

Foto de Hugo ChávezDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDurante o governo de Hugo Chávez, a Venezuela se tornou a principal compradora de armas russas da América Latina

Uma parte dessas vendas foram direcionadas à América Latina, um mercado em que a Rússia começou a entrar mais incisivamente na década passada, mas que tem sido mais importante depois das sanções aplicadas pelos Estados Unidos contra Moscou por sua implicação na Ucrânia e na Crimeia.
Em 2013, a Rostec tinha escritórios de representação na Argentina, no Brasil, na Venezuela, na Colômbia, em Cuba, no México e no Peru.
Graham diz considerar que a Rostec "tem um bom desempenho dentro do contexto russo". "O presidente da Rostec, Sergey Chemezov, é próximo a Putin, pelo menos desde que ele se tornou presidente, há 19 anos. Ambos vêm do setor de inteligência e se conhecem há muitos anos", diz.

A crise na Venezuela

Qual é o papel da Rostec na crise da Venezuela?
William Courtney considera que, apesar do desmentido do Kremlin, é factível acreditar que a Rostec tenha retirado o grosso de seus assessores da Venezuela.
O especialista assegura que a Rússia se preocupa que, caso o governo Maduro caia, o governo que lhe substituir não queira reconhecer as dívidas adquiridas.
Como exemplo, ele cita o que aconteceu em 2003 com a invasão do Iraque, onde, depois de ter apoiado Saddam Hussein, a Rússia teve que assumir a perda de uma dívida que ele havia contraído por US$ 13 milhões.
A petrolífera russa Rosneft tem múltiplos acordos na Venezuela, o país com as maiores reservas registradas de petróleo do mundo e também rico em gás.

Sistema antimísseisDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA Venezuela comprou da Rússia sistemas antimísseis S-300

Para alguns analistas, além da assessoria técnica e o trabalho de mantimento dos sistemas de defesa, a presença de pessoal da Rostec na Venezuela é parte de uma estratégia aplicada pelo Kremlin para proteger Maduro - a permanência russa serviria como um elemento de dissuasão para qualquer tentativa de uso da força por parte de Washington na Venezuela.
Ao mesmo tempo, a presença da Rostec garante a Moscou um lugar em qualquer mesa de negociação sobre a crise no país sul-americano.
Para Graham, os Estados Unidos evitam desde a época da União Soviética ter um enfrentamento com a Rússia - para evitar uma escalada e a possibilidade de um conflito nuclear devastador.
"Por isso, os Estados Unidos evitam cuidadosamente operar onde possa haver militares russos", diz ele.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Professores de olho na luta pela aprovação do pagamento dos Precatórios do Fundef


“Foi uma grande e justíssima conquista dos professores”, reagiu o deputado federal Fernando Rodolfo (PL-PE) ao comemorar a aprovação, nesta quarta-feira (05/06), na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) da Câmara dos Deputados, do seu parecer a projeto de lei beneficiando os professores da rede pública. O relatório de Rodolfo propõe como adicional ao salário do magistério 60% dos precatórios do governo federal (valores devidos após condenação judicial definitiva) do Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental).
O TCU (Tribunal de Contas da União) havia sustado o repasse em junho de 2018, por liminar, quando muitas prefeituras já tinham efetuado a destinação, o que gerou, segundo Rodolfo, uma “divisão inaceitável” entre professores que receberam e aqueles que tiveram o benefício suspenso. É o caso, por exemplo, citou ele, da prefeitura de Ibirajuba, no agreste de Pernambuco, que possui R$ 4 milhões de precatórios do governo federal no Fundef para usar como adicional salarial e está impedida de aplicá-los na melhoria da renda do magistério local.
“Nosso parecer estabelece uma equiparação de direitos, porque não podemos permitir que uma parte dos professores receba o adicional e outra parte, não”, declarou o deputado pernambucano ao apresentar seu relatório. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP), que havia tentado retirá-lo de pauta na sessão da CFFC da semana passada e acabou pedindo vistas (adiamento) na ocasião, por solicitação do TCU e do Ministério da Educação, desta vez não se opôs. “Houve entendimento com o governo e o relatório é pertinente”, declarou ela.
A Proposta de Fiscalização e Controle (PFC) 181/2018 apresentada por Rodolfo e aprovada na CFFC determina que o TCU faça auditoria para garantir que as prefeituras apliquem, como adicional salarial dos professores, 60% dos precatórios que receberam no Fundef . Os prefeitos que não cumprirem a PFC sofrerão sanção do TCU, determina também o parecer.
Cerca de R$ 90 bilhões foram depositados pelo governo federal no Fundef como resultado de ação judicial das prefeituras que reconheceu não ter a União repassado tal quantia ao Fundo entre 1996 e 2007. Desse total, sublinha o parecer do deputado pernambucano,  R$ 54 bilhões – equivalentes a 60% – têm de ser destinados “ao pagamento da remuneração dos profissionais do magistério da educação básica”, conforme determina a lei que regulamenta o Fundef.
Avaliação
A professora Enedina Soares, presidente da Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Ceará (Fetamce), falou sobre a importância do parecer confirmado na Câmara Federal. “O parecer é um instrumento importante para reforçar a nossa luta pelo pagamento dos precatórios do Fundef. Nós temos diversos municípios onde os professores estão realizando manifestações, estão fazendo pressão, envolvendo a população e as câmaras municipais e estão seguindo todos os passos para a efetivação deste direito. Uma importância vitória, que intensifica as nossas lutas para que de fato esta correção de erros do passado seja resolvida, dando aos trabalhadores o que é deles por direito”, enfatiza a dirigente.
Já o advogado Dmitri Montenegro, que representa entidades representativas de servidores e professores municipais em diversas ações que cobram os precatórios do Fundef, avalia a notícia como um alento em meio a tantas incertezas. “Espero que em breve seja aprovada lei no Congresso definindo o direito dos professores a receber o seu direito. A aprovação de uma legislação favorável aos profissionais da educação pode encerrar a discussão, uma vez que o argumento contrário aos professores se baseia em dispositivos legais federais. Lembramos sempre que a nossa fundamentação se baseia na Constituição Federal, hierarquicamente superior as discussões ocorridas nos tribunais de contas”, destaca o jurista.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Comprovações:"Bolsonaro quer um país pobre, triste, assustado, violento e preconceituoso"



Bolsonaro não tem propostas, tem desejos. Deseja o caos para falar do caos. E é por isso que ele não faz nada. Pois se algo melhorar ele perde o palco.
Domenico de Masi lançou, em 2013, a obra intitulada O Futuro Chegou. Basicamente, o livro procura examinar vários exemplos de formas de organização das sociedades modernas. O autor apresenta o modelo econômico e social de alguns países que se destacavam no cenário global da época. China e Estados Unidos da América, por exemplo. Em outros capítulos, ele retrata o modo de produção capitalista, alguns exemplos de capitalismo mais social, comunismo e mais. A ideia de Domenico é apresentar pontos fortes e fracos de cada modelo e, no capítulo final, mostrar qual seria o melhor modelo para as sociedades do futuro.
Domenico de Masi é um sociólogo italiano. E é importante saber da nacionalidade do autor para entender o peso do capítulo final do livro. Após apresentar os modelos mais relevantes e conhecidos de nossa época e épocas passadas, Domenico apresenta o que para ele era o modelo mais avançado de sociedade e que deveria ser um sul (não gosto dessa visão de norte sempre sendo o referencial positivo) para todos os países do mundo. Domenico apresenta o Brasil. O Brasil de 2013.
Na visão do autor, o Brasil era um país capaz de reduzir a pobreza, sair do mapa da fome e ainda gerar riqueza. Era um país com uma cultura de tolerância do diferente, do aproveitamento do ócio e da procura da felicidade. Era assim que esse gigante da sociologia apresentava o nosso país para o mundo. O Brasil era o modelo que o mundo deveria seguir para ser feliz.
Quem diria, Domenico, que em 2019 teríamos um presidente perguntando sobre golden shower no twitter. Quem poderia imaginar um país dando aval para execuções em comunidades. Quem sonharia com uma nota lançada à imprensa pelo exército brasileiro acusando um pai de família de atirar contra as forças armadas, sem nenhuma investigação prévia do fato. O que deu errado?
Talvez Domenico não saiba, ou talvez tenha escolhido o título do seu livro de propósito, mas o Brasil já brincava de dizer que era o país do futuro. E a frase terminava dizendo que o futuro nunca chegava. Novamente o futuro foi para longe e ficamos com um passado que deixa o medievo com inveja.
Parece que o Brasil tem medo do futuro. E não só parece; ele tem. Por quê? Porque o fantasma da igualdade rondava o país.
Em 2018, o Brasil figurava na posição de número 99 do coeficiente Gini, o que indica que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, já que nada mudou desde que colocaram você sabe quem no poder. No ranking da desigualdade, perdemos apenas para o Paraguai, para a Namíbia e alguns outros.
Lula acreditou que o bolo poderia crescer por tempo indeterminado, ou seja, seria possível acabar com a pobreza sem mexer no lucro. E as margens de lucro das empresas instaladas no Brasil eram superiores as instaladas na Europa ou Estados Unidos até 2016.
Domenico, provavelmente, via que o bolo não cresceria para sempre, mas que, com um bolo grande e um país democrático, o Brasil teria a chance de ser mais igual (Domenico procura enxergar sinais de progresso nas ondas de pequenas violências, como no caso de crianças contratas em países pobres para trabalhos manuais).
E essa ideia não veio desacompanhada de outras análises. Thomas Piketty afirma, no livro O Capital no século XXI, que a tendência natural de um planeta globalizado e capitalista é um desenvolvimento mais acelerado de países mais pobres e desiguais, enquanto países mais ricos assistiriam a um esfriamento de suas economias. Essa previsão indica que os países subdesenvolvidos se tornariam desenvolvidos e as economias mundiais entrariam em uma espécie de equilíbrio. Algo muito semelhante as idealizações de Adam Smith e algumas projeções de David Ricardo. O mundo fantástico de Bob. Quer dizer: o mundo fantástico do livre mercado.
De fato, o início da derivada da ascensão econômica pelo tempo que Piketty previu aconteceu. Mas os países subdesenvolvidos não se tornaram desenvolvidos. Aconteceu o óbvio. Países desenvolvidos meteram a mão invisível no mercado para criar barreiras e dificuldades contra esse equilíbrio, pois ele significaria menos lucro, e talvez menos pessoas morrendo de fome. Mas o foco é o lucro.
Tivemos, com Trump, o aumento taxas de importação nos EUA, e outros países instituindo barreiras para produtos de nações subdesenvolvidas a fim de impedir um mundo mais igual. Existem muitos fatores para esse fenômeno, mas tudo começa com átomos, quarks, strings – as partículas essenciais.
Pois, antes de gregos ou troianos, somos indivíduos. E existe uma negação, um nihil que alguns tentam preencher com superioridade diante de outros, com sensação de poder, de razão de existência na visão de si como superior.
“Make America Great Again” é um jeito fofo de dizer: Ninguém pode descobrir que somos iguais, humanos! É preciso manter o folclore de que “lá nos estados unidos” tudo é perfeito. Lá o policial fala “PARADO” e se o cidadão não parar o policial pode dar 25 tiros nele. E no outro dia a população fará uma passeata em homenagem ao policial. Deixa esse povo descobrir que lá morrem cerca de 160 policiais/ano, enquanto existem países semelhantes em que a taxa não passa das dezenas.
“Make o pobre pobre again”. O risco do mundo mais igualitário é justamente a sua igualdade. Imagine se a eleição não tivesse o empurrãozinho do dono da Havan, da mamadeira erótica e da Record entrevistando um indivíduo, que propõe a morte ou a expulsão de todos que não pensam igual a ele, durante o processo eleitoral. Numa competição igual Bolsonaro não teria a mínima chance, pois ele não tem capacidade para ocupar nenhum cargo que exija inteligência. A parte boa é que ele mesmo admite isso. Acho fofo.
Na igualdade, o mero fato de nascer com privilégios não lhe daria a certeza de ascensão sobre o outros, não lhe daria o medíocre orgulho de ser mais que alguém. Orgulho que gente medíocre precisa para se sentir importante. Então é preciso manter a desigualdade e justificá-la, legitimá-la, colocá-la dentro de falácias.
São diversas as falácias, mas a mais comum é a que se resume no termo Foucaltiano “empreendedor de si”. Essa falácia incentiva o indivíduo a acreditar que ele é o único fator relevante para o seu próprio sucesso. O ambiente em que nasceu, o país em que nasceu, a tonalidade da pele, nada disso importa. Basta se esforçar. E é por isso que você nasceu na classe que nasceu. E é por isso que nasceu no Brasil, porque você não foi um zigoto dedicado o suficiente para nadar até a Suíça. Tudo culpa sua.
E nesse movimento, os ritos ganham importância como formas de sustentar a falácia. Você não é um brasileiro, você é um Hickmann. Você não é um humano, você é um americano. Você não é uma pessoa, você é um cristão conservador, mas que assiste pornografia em nome de… Deixa pra lá. Você é perfeito. E é perfeito porque merece, e aquele bandido merece a morte. Afinal ele nasceu assim, né?
Ele nasceu bandido e você nasceu santo. Hitler bem que tentou acabar com as pessoas que nasciam más.
E por falar em Hitler… Bolsonaro entra para um seleto panteão juntamente com Adolf, Mussolini e outras figuras históricas. Pois, apesar de muitos governantes usarem a ideia da divisão como um caminho para a vitória nas urnas – vide Trump com a visão de que é preciso extirpar os estrangeiros e os de matriz religiosa diversa da cristã do país – pouco líderes falaram de extirpar os seus.
Até mesmo Trump fala de união quando assumiu o governo, enquanto Bolsonaro fala de dividir, acabar, exterminar.
E talvez a minha fala lhe cause mágoas daqui para a frente, mas todos nós temos de admitir que Bolsonaro tem feito um ótimo serviço. Ele está cumprindo o que propôs como poucos fizeram. O problema é que ele não propôs melhorar nada.
Se você reparar bem, os discursos dele sempre diziam que “tem que acabar com isso aí” – a tosquíssima frase virou até chacota para se referir a uma fala sem conteúdo. Repare que ele não falou em melhorar o país, mas em mudar. E mudar pode ser para melhor ou para pior.
E tem gente surpresa com o fato dele se calar quando um cidadão brasileiro é executado pelo exército de seu país. Obviamente ele não falará nada, pois é exatamente isso que ele espera para o país. Bolsonaro não ficou triste nem surpreso, pois é exatamente esse o país que ele quer. Ou você acha que ele teria a mínima chance de vencer uma eleição ou se perpetuar no poder se o país progredisse?
Bolsonaro não tem propostas, ele tem desejos. O desejo dele é o caos para que ele fale do caos. E é por isso que ele não fez nada pelo Rio De Janeiro nesse longo tempo de legislativo que ele tem, porque se algo melhorasse ele perderia o palco. O caos é o palanque de Bolsonaro.
E nada disso é sem motivo. Domenico De Mais apontou um futuro o qual Bolsonaro não podia suportar. Um país no qual os preconceitos dele fossem malvistos. Onde a ignorância dele não lhe daria aval para colocar a família toda na política. Onde ele andaria diariamente vigiado por olhares de piedade.
Bolsonaro tinha duas opções: mudar a si ou mudar o país. E eu já disse em outros textos que mudar a si é coisa para gente corajosa.
Bolsonaro criou um país pobre, triste, assustado, violento e preconceituoso dentro de sua mente. E dessa ideia ele criou sua procissão política. Em nome de dias melhores para ele, onde ele não fosse visto como um ser fraco, mas como um mito. O mito da maldade em um sistema mal. Mito! Mito! Mito!
E o mundo permite a aproximação quando há afinidade. Ele bem que tentou ser amigo do Donald, mas não deu muito certo, já que Trump não quer um amigo, ele quer um servo, e isso o Bolsonaro sempre foi (o famoso militar que presta continência para a bandeira estrangeira. Eita desejo de ser americano). E foi assim que começou a relação do mitomaníaco com o Olavo de Carvalho. Pois ambos são muito parecidos. Ignorantes até os ossos, covardes, medrosos e orgulhosos.
Olavo era ruim demais para o Brasil que era feliz. Então ele foi embora daqui para não ver o nosso progresso. E lá de longe criou o Brasil dos sonhos dele. O Brasil das conspirações comunistas alienígenas que só poderiam ser derrotadas pelos cristãos assassinos em Cristo. E Olavo atirou pedras até que não houvesse mais nenhuma pelo chão. Jesus saiu de perto e apareceram os mestres do capitalismo para tentar ressuscitar aquele que tem o pensamento morto.
Olavo idealizou o Brasil da mais miséria, da mais desigualdade, da mais violência. E, juntamente com Bolsonaro, está construindo esse sonho. A educação está sendo sucateada, os policias podem matar e negociar preços sem maiores riscos, o tráfico de drogas segue lucrativo e as milícias agradecem. As evidências são queimadas em uma fogueira simbólica na Nova Berlim.
O Brasil se deteriora para você, cidadão brasileiro, mas se torna um paraíso para estes dementadores.
Não sou o único a tentar explicar esse fenômeno, e talvez sequer seja o mais claro. Portanto, segue uma lista de nomes de canais do Youtube que dissecam o quadro narrado acima: Normose; Henry Bugalho, Canal Púrpura, Coisas que você precisa saber, Meteoro Brasil, Frank Jaava, Tese Onze, Quadro em Branco, leitura Obrigahistoria, Justificando.
Martel Alexandre del Colle é policial há 10 anos. É aspirante a Oficial da Polícia militar do Paraná.
br.noticias.yahoo.com/bolsonaro-quer-um-pais-pobre
Professor Edgar Bom Jardim - PE