sexta-feira, 22 de março de 2019

Dia Nacional de Luta contra a Reforma da Previdência



Sindicatos e Centrais Sindicais em pelo menos  78 grandes  cidades do Brasil organizam atividades para esta sexta-feira(22) contra o pacote de propostas que altera as regras para aposentadorias da população, sem combater privilégios e favorecendo o sistema financeiro.

É uma resposta à proposta de "reforma" apresentada pelo governo de Jair Bolsonaro. Ao todo, atos, panfletagens e outras ações contra a retirada de direitos .



Fonte:redebrasilatual.com.br

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 21 de março de 2019

Presos pela operação Lava Jato


O ex-presidente da República Michel Temer  e o ex-ministro de Minas e Energia Moreira Franco foram presos na manhã desta quinta-feira (21) por uma força-tarefa da Operação Lava Jato do Rio de Janeiro. Temer foi preso em São Paulo e foi levado ao Aeroporto de Guarulhos, de onde parte para a sede da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Os mandados que resultaram nas prisões de Temer e Franco foram expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio.
Segundo a reportagem da Folha de S.Paulo apurou, a prisão de Temer tem relação com delação de um executivo da empreteira Engevix, que envolveria propina para campanha eleitoral do ex-presidente da República. Ao ficar sem mandato neste ano, Temer perdeu a prerrogativa de foro perante o Supremo, e denúncias contra ele foram mandadas para a primeira instância da Justiça Federal.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Temer preso, Morreira Franco preso


Foto: Evaristo Sa/ AFP
Foto: Evaristo Sa/ AFP
O ex-presidente Michel Temer (MDB) foi preso na manhã desta quinta-feira (21) pela Operação Lava Jato. Os mandados de prisão foram expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, com base na delação do operador do MDB Lúcio Funaro, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Policiais estão nas ruas do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Porto Alegre. Entre os presos está o ex-presidente Michel Temer, que será levado de avião pela Polícia Federal de São Paulo, onde foi preso em sua residência, para o Rio de Janeiro. 

Os agentes também cumpriram mandado contra Moreira Franco, ex-ministro de Minas e Energia, um dos políticos mais próximos de Michel Temer. A ordem dos mandados de prisão é do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. 

A delação do doleiro Lúcio Funaro foi homologada no dia 5 de setembro de 2017. Segundo informações do jornal O Globo, a colaboração de Funaro, homologada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal tem 29 anexos que narram em detalhes como teria funcionado o esquema de corrupção no Congresso, chefiada por caciques do antigo PMDB como os ex-presidentes da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, preso em Curitiba, e Henrique Eduardo Alves, além dos ex-ministros Geddel Vieira Lima (preso há 6 meses), Moreira Franco e do ex-vice governador do Distrito Federal Tadeu Filippeli, que foi assessor especial do gabinete de Temer.

Ainda de acordo com O Globo, investigadores cruzaram informações e documentos fornecidos por Funaro com planilhas entregues à Justiça pelos doleiros Vinícius Claret, o Juca Bala, e Claudio Barbosa, o Toni, apontados pela força-tarefa como responsáveis por mandar valores para o exterior para políticos e empresários. Nessas planilhas repassadas, aparecem trasferências para Altair Alves Pinto, apontado como operador de Cunha. Altair foi apontado pelos doleiros como "o homem da mala" que repassava dinheiro para Eduardo Cunha e para o presidente Michel Temer.

Entre os anexos estão informações do doleiro sobre como funcionava o monitoramento para evitar que outros alvos da Lava-Jato fizessem delação premiada, as relações do Congresso com a Grupo JBS, do empresário Joesley Batista, além do Grupo Bertin, de operações de fundos de investimento da Caixa Econômica Federal, da campanha do ex-deputado Gabriel Chalita (MDB-SP, aliado de Temer, da LLX de Eike Batista, da CPI dos Fundos de Pensão e de medidas provisória irregulares. 
Com informações DP
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 19 de março de 2019

Os Estados Unidos alertam aos seus cidadãos para "nunca usar ônibus públicos em Recife"



Foto: Rafael Martins/Esp.DP
Foto: Rafael Martins/Esp.DP
Com acesso livre ao Brasil a partir de junho deste ano, após a dispensa do visto assinada pelo presidente Jair Bolsonaro na última segunda-feira (18), turistas americanos são alertados pela diplomacia do país que "exerçam cautela aumentada no Brasil devido ao crime." Em uma lista com cinco recomendações, Recife aparece em duas delas. 
Os Estados Unidos alertam aos seus cidadãos para "nunca usar ônibus públicos em Recife", além de "não ir à Praia do Pina, à noite". "Se você decidir viajar para o Brasil, preste atenção ao seu redor, especialmente quando viajar a áreas turísticas ou estiver em espaços públicos cheios", diz o texto datado de 6 de fevereiro publicado em inglês no site do Departamento de Estado Americano.
Confira lista completa

  • Não ir a regiões fronteiriças, com exceção do parque nacional de Foz do Iguaçu e o Parque Nacional do Pantanal;
  • Nunca usar ônibus públicos em Recife;
  • Não visitar favelas;
  • Não visitar cidades-satélite de Brasília à noite;
  • Não ir à Praia do Pina, em Recife à noite.

Curiosamente, em fevereiro, quando o texto de recomendações foi publicado, a Secretaria de Defesa Social apontou que, em todo Estado, o número de assaltos a ônibus caiu 16% em comparação ao mesmo mês no ano passado, diminuindo de 75 casos para 63. Contabilizando janeiro e fevereiro, esta modalidade criminosa teve baixa de 20,9%, chegando no total de 106 assaltos em 2019 - 28 a menos em comparação ao primeiro bimestre de 2018, com 134 vítimas. 
De acordo com a secretaria, ainda em fevereiro, o número de roubos em Pernambuco foi o menor em 46 meses. As estatísticas apresentadas pela SDS mostram que os Crimes Violentos Contra o Patrimônio (CVPs) caíram 25,41% em relação ao mesmo mês em 2018, além de afirmar que este foi o 18º mês consecutivo de redução da violência e que, desde abril de 2015, o quantitativo de queixas nunca havia sido tão baixo. 

Posicionamento da Secretaria de Defesa Social

Por meio de nota, a Secretaria de Defesa Social afirmou que as recomendações da diplomacia americana são baseadas em "avaliações equivocadas", uma vez que não reflete "o atual momento de redução das diversas modalidades criminosas em Pernambuco". A SDS informou, ainda, que a área da praia do Pina, por ter alta procura pela oferta de bares, restaurantes e áreas de lazer, "recebe toda a atenção dos policiais". Sobre a recomendação do transporte público, a secretaria disse "há um contraste com o cenário de redução significativa de casos de roubos em transporte coletivo em Pernambuco". 
"A Secretaria de Defesa Social esclarece que as recomendações aos funcionários do corpo diplomático e turistas americanos repetem avaliações equivocadas e desatualizadas de anos anteriores, não refletindo o atual momento de redução das diversas modalidades criminosas em Pernambuco, Estado Brasileiro que mais diminuiu homicídios em 2018, no comparativo com o ano anterior, conforme levantamento do projeto Monitor da Violência. Os roubos, seguindo a mesma tendência, caíram, em fevereiro de 2019, pelo 18º mês consecutivo no Estado.

No caso da praia do Pina, muito procurada pela oferta de bares, restaurantes e áreas de lazer, recebe toda a atenção dos policiais. Nesse trecho, o 19º Batalhão de Polícia Militar realiza o policiamento a pé e motorizado (motos e viaturas), com guarnições fixas e volantes, além de contar com o apoio do Batalhão de Choque, da Radiopatrulha e outras especializadas. Ações complementares estão em curso, envolvendo também a Delegacia de Boa Viagem, de modo a garantir a tranquilidade dos turistas e moradores. Tanto que, no primeiro bimestre deste ano, reduziram-se os roubos em 25% na Área Integrada de Segurança 3 (AIS 3), que engloba o bairro do Pina. 

Em relação à recomendação sobre os ônibus, há um contraste com o cenário de redução significativa de casos de roubos em transporte coletivo em Pernambuco. No acumulado deste ano (janeiro e fevereiro), essa modalidade criminosa retrocedeu em 20,9%. Nesse período, o trabalho da Força-Tarefa Coletivos colaborou com a prisão de 28 praticantes de investidas criminosas a ônibus e outros veículos do transporte público de passageiros.

Com as medidas já implantadas e as previstas para 2019, Pernambuco continuará sendo um dos destinos preferidos dos turistas, sejam americanos, de outros países ou brasileiros".

Posicionamento da Secretaria de Turismo do Recife
A Secretaria de Turismo do Recife também emitiu nota, afirmando que as recomendações da diplomacia americana não afeta o fluxo de turistas e o interesse do viajante em conhecer a capital pernambucana, uma vez que o Recife já está "consolidado como destino de lazer, se destacando entre outras cidades do Nordeste e do Brasil".
"A Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do Recife reforça que a capital pernambucana já está consolidada como destino de lazer, se destacando entre outras cidades do Nordeste e do Brasil. A recomendação americana sobre o Brasil, feita no início de fevereiro, não afeta o fluxo de turistas e o interesse do viajante em conhecer a capital pernambucana. Exemplo disso são os números registrados no início de março, durante o maior evento do calendário brasileiro, o carnaval. Só no Recife, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH-PE) registrou 97% de ocupação hoteleira. 

O Estado de Pernambuco bateu recordes de visitantes e de receita turística, neste último Carnaval. Segundo dados divulgados pela Secretaria de Turismo e Lazer de Pernambuco, em 2019, 1.870.971 visitantes brincaram a folia de Momo no Estado, o que representa um crescimento de 9,5% em relação a 2018, quando 1.707.878 visitantes participaram do Carnaval. O aumento do público impactou positivamente na receita turística da festa. Em 2019, os turistas e excursionistas injetaram na economia pernambucana R$ 1,982 bilhão, um incremento de 23,7% em relação ao ano passado, quando eles deixaram R$ 1,601 bilhão no Estado".
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 18 de março de 2019

Professor do ano: como brasileira entre 10 melhores do mundo quer revolucionar escola pública



Débora GarofaloDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionSe ganhar o prêmio, Garofalo diz que vai reverter todo o dinheiro para construção de laboratórios de robótica em escolas públicas do país
Crítica do projeto Escola sem Partido, Garofalo defende que a solução para melhorar a qualidade da educação básica no Brasil "não passa por gastar dinheiro público fiscalizando professor em sala de aula".
Débora Garofalo com os alunosDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionEm quatro anos, mais de 700 kg de lixo foram retirados das ruas pelos estudantes
"Um dos meus primeiros alunos passou agora em física na USP. É um orgulho enorme", conta a professora, que é formada em Letras e Pedagogia.
Quando criança, Débora Garofalo pediu à mãe uma pequena lousa com giz de presente. Com o brinquedo sempre em mãos, passou a dar aulas aos coleguinhas com dificuldade de aprendizado na escola. Hoje, aos 39 anos, a brasileira que, por opção, sempre lecionou em escolas públicas, está entre os 10 melhores professores do mundo.
Garofalo é finalista do Global Teacher Prize 2019, o prêmio internacional mais prestigiado da área da educação. O ganhador será anunciado no dia 24 de março. Ela concorre com professores da Grã-Bretanha, Holanda, Índia, Austrália, Geórgia, Índia, Japão, Argentina, Quênia e EUA.
No dia a dia como professora de tecnologias da escola EMEF Almirante Ary Parreiras, na capital paulista, Garofalo agrega à lousa outros instrumentos para ensinar.
Pelas mãos dela e de seus alunos, que têm entre 6 e 14 anos, o lixo jogado nas ruas das favelas de São Paulo se transforma em soluções para problemas da comunidade. Garrafas pet, vidro, restos de fiação viram filtro de água, semáforo, máquina de sorvete, e até tecnologia de energia renovável para substituir o gato elétrico em casas da favela.
"Coletamos lixo das ruas das comunidades próximas à escola e fizemos um primeiro carrinho movido a balão de ar. Esse carrinho virou febre e, no dia seguinte, tinha criança do lado de fora me esperando com materiais recicláveis querendo fazer o carrinho", disse Garofalo à BBC News Brasil.
Assim nasceu o projeto "Robótica com Sucata" - que virou referência no Brasil e ganhou a atenção do mundo.
Em quatro anos, mais de 700 kg de lixo foram retirados das ruas pelos estudantes; o resultado da EMEF Almirante Ary Parreiras no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb), que mede a qualidade do ensino, subiu de 4.2 para 5.2; e alguns alunos de Garofalo já decidiram que querem ser físicos, engenheiros ou programadores.
Garofalo diz que, se ganhar o prêmio de US$ 1 milhão daquele é considerado o "Nobel da educação", vai reverter todo o dinheiro na construção de laboratórios de robótica em escolas públicas do país. "E, se eu não ganhar, já fica a lição de que é possível fazer grandes coisas com poucos recursos e que precisamos aprender a inovar", afirma.
Em entrevista à BBC News Brasil, ela defende que, para gerar entre os jovens interesse em estudar, as escolas precisam "reinventar" a forma como o conteúdo é repassado. Segundo a professora, as novas gerações não aprendem da mesma maneira que as anteriores, de olho no quadro negro.
"A escola precisa ser atrativa e dar sentido prático ao que é ensinado. E os professores devem envolver as crianças na resolução de problemas, torná-las protagonistas do aprendizado. O meu papel é, junto com eles, errar, testar, fazer com que cheguem às conclusões e criem, sem simplesmente entregar a eles as respostas."
"Eu acho essa discussão totalmente infundada. Sou professora há 14 anos e nunca vivenciei isso (doutrinamento). Meu papel é fazer com que meus alunos sejam críticos e reflitam sobre diversos assuntos, sem emitir minha opinião pessoal, mas debatendo diversas vozes e opiniões."
Veja os principais trechos da entrevista de Garofalo à BBC News Brasil:
BBC News Brasil- Como surgiu a ideia de usar lixo para ensinar robótica?
Débora Garofalo - Quando comecei a dar aula de tecnologia na escola, vi que muitos dos meus alunos não vinham para a escola em dia de chuva por causa da questão do alagamento ocasionada pelo lixo. E eles diziam que o lixo incomodava, gerava ratos, insetos e doenças, como dengue. Isso começou a me causar inquietação e me gerou uma reflexão. Não adianta falar de robótica, programação, animação se eu não envolver essa questão do lixo que, para eles, é tão importante e fundamental.
Eu propus, então, que a gente fosse para a rua e fizesse um percurso. Nesse percurso, era para começarmos a recolher lixo, para ver que tipo de sucata era essa, e tentar reutilizar o material. Criamos, com o que foi coletado, um carrinho movido a balão de ar. E esse primeiro carrinho virou uma febre, porque um começou a contar para o outro.
No dia seguinte, tinha criança do lado de fora me esperando com materiais recicláveis querendo fazer o carrinho também. Aí eu pensei: 'acho que a gente encontrou o caminho para estruturar um trabalho de robótica com uma intervenção social, para que as crianças possam sensibilizar a própria comunidade e intervir na própria história.' Aí nasce a proposta de robótica com sucata.
Helicóptero de sucataDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionNo início do projeto, estudantes criavam brinquedos que sempre quiseram ter e não tinham
BBC News Brasil - O que vocês conseguiram criar com sucata desde que o projeto foi criado, há quatro anos?
Débora Garofalo - Foi um processo evolutivo. No começo, a gente já criou avião, barco, robôs, consoles, máquina de sorvete, máquina de refrigerante, helicóptero, baratinha robótica. Eram brinquedos que eles sempre quiseram ter e não tinham. Depois de um tempo, houve uma mudança de olhar deles. Eles perceberam que poderiam intervir em problemas sociais da comunidade.
Temos uma avenida que não tem semáforo, então criamos um semáforo inteligente. Tivemos incêndios dentro da comunidade ocasionados pela questão da irregularidade da energia, então decidimos criar uma casa com energia sustentável, inclusive com temporizador para economia de energia. Temos alunos com necessidades especiais, então fizemos um sensor para as cadeiras deles, para que pudessem ter maior autonomia. Então, a gente vê essa evolução sob outro viés, que é o de realmente atacar os problemas do dia a dia. Eles perceberam que eram capazes de criar soluções com tecnologia, inventividade e criatividade.
BBC News Brasil- Há alunos de escolas públicas que não recebem apoio em casa para estudar, precisam acumular responsabilidades, como cuidar de irmãos mais novos, ou até trabalhar para complementar a renda familiar. Como atrair a atenção dessas crianças para a escola?
Débora Garofalo - A escola precisa ser reinventada, precisa ser atrativa. Doía no começo, porque meus alunos não se achavam capazes. Eles não sentiam que havia perspectiva. No projeto de robótica, senti uma grande diferença nos alunos mais indisciplinados. Eles passaram a ser os que mais se dedicavam a fazer os protótipos. Houve uma mudança de cultura. A gente precisa trazer a tecnologia como propulsora do aprendizado nas escolas. Esses meninos nasceram nessa era da tecnologia e internet. As escolas ainda têm lousa e giz, mas os alunos aprendem de forma diferente.
Ouvir o aluno também é fundamental. O meu trabalho foi construído com base nas vozes deles. A gente sabe que, no mercado hoje, tudo está sendo automatizado. A inteligência artificial já faz parte do nosso dia a dia. Temos sistema de voz no o iPhone, por exemplo. A escola tem que se adaptar a esse novo momento. Não estou exigindo que meus alunos saiam de lá programadores, mas que eles trabalhem na escola o raciocínio lógico, entendam os dados de programação, sejam crítico e reflexivos.
Alunos de Garofalo posam com projeto desenvolvido a partir de sucataDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionAlguns alunos de Garofalo já decidiram que querem ser físicos, engenheiros ou programadores
BBC News Brasil - É essencial mostrar que a educação na escola pode solucionar problemas reais e que pode ter efeitos práticos imediatos?
Débora Garofalo - Sim, o aluno se envolve quando sente que pertence. É possível perceber pela voz dos meus alunos que eles estão envolvidos, eles falam com propriedade do que fizeram para solucionar os problemas. Então, envolver essas crianças na resolução de problemas é fundamental para tirá-las da passividade e levá-las ao centro do processo de aprendizagem. Elas viram protagonistas. Meu papel é mediar esse conhecimento. É errar e testar junto com os alunos, e fazer com que eles cheguem às conclusões sem que eu entregue as respostas.
BBC News Brasil - Que dificuldades você vivencia trabalhando em escola pública?
Débora Garofalo - Eu sou fruto da escola pública. E é onde eu acreditava que poderia fazer diferença na vida das crianças, mesmo tendo oportunidade de lecionar em escola particular. Mas a realidade de uma escola pública não é fácil. Hoje atuo numa escola cercada por quatro grandes favelas e, antes, trabalhei em outras escolas públicas. Vemos dificuldade de alimentação dos alunos, dificuldade de os pais estarem presentes no processo de ensino, dificuldade de não ter infraestrutura e recursos para desenvolver um trabalho. É importante que a escola e o professor levem em conta a realidade específica da comunidade onde a escola está inserida.
Aluna participando do projetoDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image caption'A escola precisa ser atrativa e dar sentido prático ao que é ensinado', diz Garofalo
BBC News Brasil - Quando a gente olha para os países com melhores resultados de ensino, todos têm em comum valorização de seus professores - não só com bons salários, mas também prestígio e oportunidades de crescimento na carreira. Você sente que é valorizada como professora no Brasil?
Débora Garofalo - A situação dos professores não é fácil. Existe uma grande desvalorização docente. Não temos incentivos para ser professor no Brasil. O problema já começa na formação. O professor sai da faculdade despreparado para enfrentar a sala de aula. Não há treinamento prático suficiente nos cursos de pedagogia e licenciatura. O meu curso de magistério foi muito melhor que a faculdade. Eu me tornei professora graças ao magistério, não à universidade, porque lá tinha a possibilidade de enfrentar o chão da escola, diferentemente da faculdade (de letras e pedagogia).
E a gente também não vê formação continuada para os professores. O professor tem que estudar muito e sempre, porque as coisas mudam - ele precisa dessa atualização. Outro ponto essencial é envolver o professor em políticas públicas de educação. Muitas vezes, essas políticas públicas vêm de cima para baixo. Por fim, temos que valorizar o que o professor já faz nas escolas, porque muitas das soluções para o ensino já existem em alguma sala de aula.
BBC News Brasil - Sobre valorizar o que já existe em sala de aula, o que precisaria ser feito? Falta intercâmbio de informações entre instituições?
Débora Garofalo - A gente ainda encara a escola como uma ilha. Aqui no Brasil funciona assim. A universidade deveria estar dentro da escola pública, a comunidade também. Eu busco muitas parcerias. Fiz um trabalho sobre cyber bullyinge trouxe uma defensora pública do núcleo dos direitos das mulheres para falar sobre os problemas envolvidos em compartilhar fotos íntimas de meninas na internet.
Na escola, há muitas crianças que trabalham, então eu fiz um projeto de conscientização sobre trabalho infantil e chamei uma promotora do Ministério do Trabalho para conversar não só com os alunos, mas também com os pais. A gente precisa integrar a escola à sociedade e abrir as portas para fomentar o diálogo.
Alunos criam câmera de sucataDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionA sucata já foi transformada em filtro de água, semáforo, máquina de sorvete e até tecnologia de energia renovável para substituir o gato elétrico na favela
BBC News Brasil - O contato com robótica despertou em alguns alunos interesse em trabalhar com tecnologia e robótica?
Débora Garofalo - Um aluno que participou da primeira leva do projeto passou agora em física na USP. Ele está em São Carlos e vai seguir nessa área. Ontem meu aluno Richard disse que quer trabalhar com animação em games, porque o curso de tecnologias na escola despertou esse interesse e ele gostou de programação. Tenho várias meninas que querem ser engenheiras nucleares. Essas crianças não tinham perspectiva e, quando você vê um aluno de escola pública passando na USP, é motivo de muito orgulho, principalmente na comunidade em que estão inseridos. Eu sempre falo que não é o lugar que determina quem eles podem ser, são eles próprios.
BBC News Brasil - O Brasil acaba de vivenciar uma tragédia, com dois jovens matando alunos e professores de uma escola pública de Suzano, em SP. Tendo como base sua experiência como professora, você enxerga caminhos para impedir que esse tipo de violência aconteça?
Débora Garofalo - Falta um aparato psicológico nas escolas. As escolas não estão preparadas para lidar com isso hoje em dia. E essa proposta de dar armas aos professores eu acho um absurdo. Não vai resolver nada. Só aumenta o massacre. Nós não somos policiais, nossa arma é nossa voz. A gente precisa é investir em políticas públicas e inserir cuidados sócioemocionais nas escolas.
É fundamental uma parceria na área da saúde para que haja uma atenção psicológica aos alunos. O crime foi planejado há um ano e meio. A gente não sabe o que ocorreu com esses meninos, mas a gente sabe que algo que pode ser melhor trabalhado nas escolas é a questão sócioemocional.
BBC News Brasil - Um dos principais temas em debate hoje no Brasil, quando se fala em educação, é a proposta Escola Sem Partido, que serviria para evitar um suposto doutrinamento nas escolas. Qual a sua opinião sobre isso?
Débora Garofalo - Eu acho essa discussão totalmente infundada. É um desperdício com dinheiro público usar recursos da educação para fiscalizar professor. Eu sou professora há 14 anos e nunca vivenciei isso (doutrinamento) em sala de aula. As salas de aula são locais de reflexão. Estou lá para fazer com que meus alunos sejam críticos e reflexivos sobre diversos assuntos, sem emitir minha opinião pessoal, mas debatendo diversas vozes e opiniões.
Acho que a gente tem que parar de falar de Escola Sem Partido. Não é só professor que faz a educação. Ele é parte disso, mas toda a sociedade tem responsabilidade e é necessário que todos abracem a sua escola. A única coisa que transforma uma vida é educação e a gente tem que parar com debates infundados e começar a buscar soluções. Temos que investir em alfabetização, em formação dos professores e incluir os professores na elaboração de políticas públicas.

Professor Edgar Bom Jardim - PE