domingo, 25 de novembro de 2018

Geopolítica:Entenda a polêmica sobre o Brexit em 11 perguntas

homem com bandeiras da União Europeia e do Reino UnidoDireito de imagemAFP
Image captionA União Europeia e o Reino Unido acabam de assinar um acordo que prevê os termos da saída dos britânicos do bloco regional
A União Europeia e o Reino Unido assinaram neste domingo (25) um acordo proposto pela primeira-ministra britânica Theresa May que prevê os termos do Brexit- a saída do Reino Unido do bloco regional.

A negociação para assinatura do documento dominou as manchetes dos jornais europeus nos últimos dias.
Mas o que exatamente é o Brexit? A BBC News reuniu uma série de perguntas e respostas para você finalmente entender do que trata.

O que é Brexit?

Brexit é uma abreviação para "British exit" (saída britânica, na tradução literal para o português). Esse é o termo mais comumente usado quando se fala sobre a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia.

O que é União Europeia?

É um grupo formado por 28 países europeus que praticam livre comércio entre si e facilitam o trânsito de seus nacionais para trabalhar e morar em qualquer parte do território. O Reino Unido se tornou parte da União Europeia- na época chamada de Comunidade Econômica Europeia- em 1973.
Someone votingDireito de imagemGETTY IMAGES

Por que o Reino Unido está deixando o bloco?

Num referendo em 23 de junho de 2016, os britânicos foram perguntados se o Reino Unido deveria permanecer ou deixar a União Europeia. A maioria- 52% contra 48%- decidiu que o país deveria deixar o bloco regional. Mas a saída não aconteceu de imediato, foi agendada para o dia 29 de março de 2019.

O que aconteceu desde então?

O referendo foi apenas o começo de um processo. Desde então, negociações foram feitas entre o Reino Unido e os outros países da União Europeia.
As discussões se centraram nos termos desse "divórcio", que definiriam como seria essa saída do Reino Unido, não no que ocorreria após essa "separação". O acordo apresentado por Theresa May é conhecido como "acordo de retirada".

O que foi acordado?

O rascunho desse acordo de retirada do Reino Unido da União Europeia inclui:
- O valor que o Reino Unido deverá pagar para a União Europeia por quebrar o contrato de parceria: cerca de 39 bilhões de libras (R$ 191 bilhões)
- O que vai acontecer com cidadãos britânicos que moram em outros países europeus e com os europeus que moram no Reino Unido: cidadãos europeus que já estejam no Reino Unido antes do Brexit e do fim do período de transição poderão manter os atuais direitos de residência e acesso a serviços públicos (o mesmo vale para britânicos que moram em países europeus)
-Sugere uma forma de evitar o retorno a uma fronteira fechada entre a Irlanda do Norte (que é parte da Grã Bretanha) e a República da Irlanda (que é um país independente que faz parte da União Europeia)
Um período de transição foi acordado para permitir que Reino Unido e União Europeia formulem um acordo de comércio e para permitir que empresas se organizem.
Isso significa que, se o "acordo de retirada" receber sinal verde, não haverá qualquer mudança na situação atual entre 29 de março de 2019 e 31 de dezembro de 2020.
Outro documento bem mais curto foi elaborado com uma previsão de como será o futuro relacionamento entre Reino Unido e União Europeia. Trata-se de uma declaração política. Mas nenhum lado precisará se fiar exatamente no que prevê esse documento- é apenas um conjunto de intenções para as futuras negociações.

O que vai acontecer agora?

Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e Theresa MayDireito de imagemAFP
Image captionUm conjunto de "intenções" também foi assinado por líderes europeus para basear as negociações sobre o futuro das relações Reino Unido-União Europeia
Theresa May e os líderes de 27 nações europeias se reuniram neste fim de semana em Bruxelas e assinaram o acordo de retirada, bem como a declaração política sobre o futuro das relações Reino Unido-União Europeia.
A cerimônia oficial de assinatura demorou uma hora e meia. Theresa May agora precisa convencer os membros do parlamento britânico a aprovarem o documento.
A expectativa é que a votação ocorra em dezembro.

O acordo vai ser aprovado pelo parlamento?

Bom, no momento, parece que ele tem chances de ser rejeitado.
May não tem apoio suficiente dentro de seu próprio partido (o Partido Conservador), nem entre parlamentares de outras siglas.
São várias as reclamações, muitas das quais questionam se o acordo garantirá, de fato, a retomada do controle das fronteiras do território britânico. E alguns dos parlamentares que defendem a permanência do Reino Unido na União Europeia querem um novo referendo.

O que vai acontecer se o parlamento rejeitar o acordo?

Isso não está claro. Em tese, isso significaria a saída do Reino Unido sem um acordo com a União Europeia que pudesse amenizar os efeitos da retirada do país do bloco. Mas os parlamentares teriam, neste caso, 21 dias para propor uma solução.
Big BenDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionParlamentaresm pró-Brexit questionam se o acordo garantirá, de fato, a retomada do controle das fronteiras do território britânico. Outros que defendem a permanência do Reino Unido na União Europeia querem um novo referendo

O Reino Unido definitivamente vai deixar a União Europeia em 29 de março de 2019?

Está previsto em lei que o Reino Unido deixará o bloco às 23:00 do dia 29 de março (horário de Londres).
Mas, se não houver um acordo ou se o parlamento rejeitar o texto proposto por Theresa May, é impossível dizer ao certo o que vai acontecer.
O prazo de 29 de março pode, eventualmente, ser estendido- mas todos os 28 membros da União Europeia teriam que concordar com isso.
Outra possibilidade é permitir que a primeira-ministra tente mais uma vez aprovar o acordo de retirada no parlamento.
Uma terceira sugestão é fazer um novo referendo, possivelmente perguntando se os eleitores aprovam o acordo, em vez de voltar a perguntar se eles querem ou não deixar a União Europeia.

O que acontece se o Reino Unido deixar o bloco sem um acordo?

O "no deal" (sem acordo) significa que o Reino Unido falhou em encontrar um consenso sobre os termos de sua saída do bloco. A princípio, isso significaria não ter um período de transição após o Brexit (29 de março)- neste caso, o Reino Unido cortaria todos os laços com a União Europeia de um dia para o outro.
O governo já começou a fazer um planejamento para preparar o país para essa hipótese mais radical. Publicou, por exemplo, uma série de orientações que abarcam desde passaportes para bichos de estimação ao impacto no fornecimento de energia.
donald Tusk e Theresa MayDireito de imagemOLIVIER HOSLET/AFP
Image captionTheresa May agora terá que convencer o próprio parlamento a aprovar o acordo que ela assinou com líderes europeus. Há resistência por diferentes motivos entre parlamentares conservadores e trabalhistas
O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, diz que seria um "desastre nacional" se o Reino Unido deixasse a União Europeia sem um acordo. Mas alguns parlamentares defensores do Brexit minimizam o impacto do "no deal" e defendem uma ruptura clara com o bloco europeu.

Mais alguma coisa que eu devo saber?

A Irlanda do Norte figurou fortemente nas discussões sobre o Brexit. Tanto o Reino Unido quanto a União Europeia querem evitar o fechamento da fronteira entre a Irlanda do Norte da República da Irlanda. Atualmente não há guardas em postos de controle nem checagem de passaportes.
Há algumas explicações para isso. Primeiro, a ausência de uma fronteira "rígida" entre os dois territórios é um aspecto fundamental do acordo de paz de 1998, que encerrou conflitos entre defensores da independência da República da Irlanda e "unionistas", que defendiam um único território irlandês integrado à Grã Bretanha.
O segundo motivo é a forte integração econômica entre as duas Irlandas. Grandes quantidades de bens e serviços cruzam a fronteira todos os dias sem precisar passar por postos de controle.
Mas deixar a fronteira aberta após o Brexit significaria uma flexibilização da retomada do controle das fronteiras pelo Reino Unido, já que o fluxo livre de pessoas e bens continuaria, em grande medida, entre a República da Irlanda (que é União Europeia) e a Irlanda do Norte (que é Reino Unido).
Theresa May tenta incluir uma cláusula que diz que uma fronteira rígida entre os dois territórios jamais será implantada, mesmo que Reino Unido e União Europeia não cheguem a um acordo razoável sobre o futuro do comércio entre si.
Isso significa que a Irlanda do Norte- mas não o restante do Reino Unido- ainda seguiria algumas das principais regras de comércio e fluxo de pessoas da União Europeia.
Fonte:BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 24 de novembro de 2018

Amazônia:Desmatamento aumenta 13,7% em um ano


A área total desmatada alcançou 7,9 mil quilômetros quadrados

Publicado em: 24/11/2018 15:16 Atualizado em:

O desmatamento na Amazônia aumentou 13,7% entre agosto de 2017 e julho deste ano. A informação foi divulgada pelos ministérios do Meio Ambiente (MMA) e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

A área total desmatada alcançou 7,9 mil quilômetros quadrados (km²), enquanto no período anterior o desmatamento foi de 6.947 km². Os estados que apresentaram os índices mais elevados de desmatamento foram: Pará, Mato Grosso, Rondônia e Amazonas.

Os ministérios esclarecem que, apesar de ter aumentado em relação ao ano passado, o desmatamento registrado neste ano foi reduzido em 72% em relação à taxa de 2004, quando o governo federal iniciou o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm). O resultado também representa 60% da meta prevista na Política Nacional sobre Mudança do Clima.

A medição do território desmatado é feita pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), por meio do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes).

As imagens do satélite registram as áreas em que a cobertura florestal primária foi completamente removida em mais de 6,25 hectares, independente da finalidade.
Uso alternativo do solo

A nota conjunta dos ministérios explica ainda que estabeleceu um procedimento para sistematizar as informações sobre as áreas que são autorizadas para retirada de vegetação para uso alternativo do solo. A medida, segundo o governo, visa dar maior transparência e aperfeiçoar a diferença entre o desmatamento ilegal e o autorizado pelos órgãos ambientais.

Dados preliminares do Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor) mostram que, em 2018, a área autorizada para supressão vegetal foi de 615 km², enquanto no ano anterior foi de 499,7 km².

O levantamento aponta ainda que foi autorizada a exploração de 12.891.252 metros cúbicos (m³) de madeira em tora. Deste total, 8.583.159 m³ foram explorados.
Ações de combate

O Ministério do Meio Ambiente ressaltou que as ações de fiscalização ambiental e de combate ao desmatamento na Amazônia foram intensificadas desde o ano passado. Segundo a pasta, este ano o número de autuações pelo Ibama aumentou 6%.

O total de áreas embargadas cresceu 56%, o volume de madeira apreendida subiu 131% e o de equipamentos apreendidos, 183% neste último levantamento em relação aos resultados das operações contra ações ilegais do ano anterir

As ações de fiscalização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) também cresceram. Em 2018, de acordo com o ministério, aumentaram em 40% as autuações, 20% as áreas embargadas e 40% as apreensões de madeira e equipamentos feitas pelo ICMBio.

A pasta acrescenta ainda que foram criadas mais 2 unidades de conservação de uso sustentável, que totalizam mais 600 mil hectares. No período, também foram instaurados pela Polícia Federal mais de 820 procedimentos contra crimes relacionados ao desmatamento ilegal, como lavagem de dinheiro, tráfico de armas, drogas e animais e trabalho escravo.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Arte:Como Yayoi Kusama superou trauma e transtorno mental para se tornar a artista mais vendida no mundo


Yayoi KusamaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionYayoi Kusama superou trauma infantil, preconceitos e um transtorno mental antes de se tornar uma sensação mundial
Yayoi Kusama é a artista mulher mais vendida no mundo. Com quase 90 anos, ela se mantém impressionantemente produtiva e popular. Sua exposição na galeria Victoria Miro, em Londres, atrai multidões ansiosas para se fotografarem dentro do "instagramável" Quarto Infinito, repleto de bolinhas e cores que marcam obras e figurinos da japonesa.
Mas antes de chegar a essa posição de destaque, Kusama teve que superar um trauma infantil e assistir a suas ideias serem roubadas por colegas homens - episódios que agravaram um quadro de transtorno mental e tentativas de suicídio. Sua história extraordinária de sobrevivência é contada no fascinante novo documentário Kusama: Infinity.
exposição de Yayoi KusamaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA exposição de Yayoi Kusama - incluindo o seu Quarto do Espelho Infinito - atrai multidões e se provou amplamente popular no Instagram
A artista nasceu em 1929 na cidade provinciana rural de Matsumoto, no Japão, e desde nova estava determinada a ser pintora. Seus trabalhos iniciais revelam o que se tornaria uma persistente fascinação tanto por formas naturais quanto por bolinhas - as últimas supostamente apareceram em uma visão. Mas faltava a ela apoio familiar.
Não era comum que uma mulher tivesse ambições de carreira à época. "A expectativa era que ela se casasse e tivesse filhos - e não apenas se casasse, mas tivesse um casamento arranjado [como aconteceu]", afirmou Heather Lenz, produtora e diretora de Kumana: Infinity, em entrevista à BBC Culture.
A mãe de Kusama pegava seus desenhos antes que ela pudesse terminá-los, o que pode explicar seu impulso criativo obsessivo em que ela corre para terminar um trabalho antes que ele possa ser tomado dela.
Frustrada com a infidelidade do marido, a mãe da artista também forçava a filha a espiar o pai e suas amantes. A experiência, de tão traumática, resultou em aversão a sexo ao longo da vida.
Heather Lenz e KusamaDireito de imagemTOKYO LEE PRODUCTIONS
Image captionHeather Lenz - mostrada com Kusama - é a diretora do novo documentário sobre a artista
Kusama passou a buscar formas de escapar daquele ambiente doméstico sufocante. A pintora americana Georgia O'Keeffe, por exemplo, lhe despertava admiração pelas representações fantásticas e oníricas de sua obra. Por isso a jovem japonesa deu um passo extraordinariamente ousado ao escrever-lhe pedindo conselhos. "Estou apenas no primeiro passo de uma longa e difícil vida para me tornar uma pintora. Você gentilmente me mostraria o caminho?", perguntou.
Ela deve ter ficado paralisada quando O'Keefe escreveu-lhe de volta, mesmo que fosse para alertá-la que "neste país [EUA], uma artista tem dificuldades de sobreviver". Apesar disso, O'Keefe aconselhou Kusama a se dirigir às fronteiras americanas e mostrar seu trabalho a qualquer um que pudesse se interessar.
Na época, Kusama falava muito pouco de inglês, e era proibido mandar dinheiro do Japão para os EUA. Destemida, ela costurou notas de dólar em seu kimono e partiu pelo oceano Pacífico determinada a conquistar Nova York e fazer seu nome no mundo.

Ao infinito e além

Mas não seria assim tão fácil. O domínio masculino no mundo artístico de Nova York era tamanho que muitas comerciantes de arte não queriam exibir o trabalho de outras mulheres.
Embora Kusama tenha ganho elogios de Donald Judd, um reconhecido crítico e artista, no início de sua carreira, e mesmo que o pintor Frank Stella fosse um admirador seu, o verdadeiro sucesso sempre fugia de suas mãos. A jornada se tornou ainda mais agonizante quando teve que assistir a colegas ganharem reconhecimento às custas de suas ideias.
Kusama jovemDireito de imagemHARRIE VERSTAPPEN
Image captionNos primeiros anos de sua carreira, Kusama era subestimada, assistindo a seus colegas ganharem fama por suas ideias
Claes Oldenburg foi "inspirado" por seu sofá de tecido fálico para criar uma escultura mole pelo qual ele se tornaria famoso. E Andy Warhol copiaria em Papel de Parede de Vacas a ideia de Kusama de criar imagens repetidas numa obra, como ela fez na instalação Mil Barcos.
Mas o pior estava por vir. Em 1965, Kusama criou o primeiro ambiente de sala espelhada do mundo, um precursor do Quarto de Espelho Infinito, na Galeria Castellane, em Nova York. Como um homem se preparava para ir à Lua, Kusama foi a única a perceber o crescente interesse do público pelo infinito. Ela respondeu a esse conceito desalentador por meio de um ambiente aparentemente interminável.
Poucos meses depois, em uma total mudança de direção artística, o artista de vanguarda Lucas Samaras expôs sua própria instalação espelhada na bem mais prestigiada Galeria Pace.
Atormentada e abatida, Kusama se jogou da janela de seu apartamento.
Com o apoio de amigos, como Beatrice Webb, dona de galeria, a artista conseguiu se recuperar. E numa impressionante demonstração de determinação, Kusama se dirigiu à Bienal de Veneza, em 1966, sem convite, para expor seu Jardim Narciso.
Com uma abordagem espirituosa do comércio de arte no mundo, a obra compreende 1.500 bolas espelhadas, que ela vendeu por poucos dólares na época, antes que as autoridades colocassem fim àquilo.
"A partir de então, ela decidiu que não seria mais uma escrava do mercado de galerias e que não teria ninguém decidindo quando e onde ela exibiria sua arte", afirma a documentarista Heather Lenz.

Confrontando seus demônios

De volta aos EUA, Kusama passou a encenar atos em locais movimentados, como o Central Park e os jardins do MoMa, geralmente com a intenção de promover a paz ou com críticas ao sistema de arte. Mas muitos desses eventos envolviam nudez, o que provocou um escândalo no Japão e vergonha em sua família conservadora. Até parte da imprensa americana criticou o que foi interpretado como um incessante desejo de publicidade.
homens nusDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA nudez frequente em seus trabalhos escandalizou o Japão de Kusama e trouxe vergonha à sua família
Cada vez mais desiludida e deprimida, ela voltou ao Japão, onde, sem o apoio da família ou amigos, e se sentindo incapaz de pintar, tentou novamente se suicidar.
Mas parece que o desejo de Kusama de criar sempre foi maior do que seu desejo de morrer. Ela acabou encontrando um hospital onde os médicos tinham interesse em arteterapia e a acolheram.
Nesse ambiente seguro, se viu capaz de voltar a fazer arte. Seu primeiro trabalho foi uma série obscura de colagens em que ela adotou imagens dos ciclos naturais da vida, quase como se estivesse se desafiando a confrontar seus demônios.
KusamaDireito de imagemTOKYO LEE PRODUCTIONS
Image captionKusama se internou em um hospital que adotava a arteterapia - e começou a reconstruir sua vida e a fazer arte novamente
A essa altura, Kusama tinha praticamente sido esquecida tanto em casa quanto no exterior, mas, ao mostrar seu impulso criativo e sua determinação, ela começou a se restabelecer do zero. Seu trabalho começou a gradualmente ser reavaliado. Uma retrospectiva de sua obra foi exposta no Centro de Arte Contemporânea Internacional em Nova York, em 1989, e quatro anos depois, o historiador de arte japonês Akira Tatehata conseguiu convencer o governo de que ela deveria ser a primeira artista solo a representar o Japão na Bienal de Veneza, em 1993.
Embora uma delicada Kusama tivesse que ser acompanhada por um psicoterapeuta, pelo receio de ela sofrer uma crise nervosa, a exposição foi um sucesso fenomenal e garantiu uma enorme transformação no modo como ela era recebida e reconhecida no Japão.
exposição de Yayoi KusamaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO trabalho de Kusama foi gradualmente reavaliado - ela é agora a artista mulher mais vendida do mundo
Outras retrospectivas foram realizadas enquanto seu reconhecimento aumentava e seu ambiente de apoio permitia que Kusama continuasse a transformar seu trauma em arte. No entanto, quando Lenz começou a trabalhar no documentário em 2001, a reputação global de Kusama ainda estava engatinhando. "Ironicamente, pensei que o filme traria grande sucesso a ela", ri a cineasta.
O crescimento surpreendente de Kusama nos anos seguintes se deve muito às redes sociais, mas espera-se que o documentário encoraje as pessoas a largar seus telefones e a gastar um tempo para refletir apropriadamente sobre seu trabalho na próxima vez que forem contemplá-lo. Seja vendo abóboras, bolinhas ou imersos em um imponente quarto infinito, o que os visitantes estão admirando nada mais é do que o poder redentor da arte.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A solidão e a beleza: as respostas do mundo


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Admitir a solidão parece ser uma aventura que nem todos conseguem enfrentar. Vivê-la pode causar transtornos e caminhos para depressão. Mas muitos artistas negam os ruídos e se entregam ao silêncio. Nada é absoluto, mas não custa escutar a voz na sua intimidade maior. Assim pensava Rilke. Ele não queria mudanças no mundo. Procurava se livrar das inquietações, para navegar na palavra. Desejava o trabalho da poesia. Não exaltava a beleza como Oscar Wilde. Trilhava um conservadorismo em nome de se conhecer.
A solidão não abate as fronteiras com o resto do mundo. Há os outros e eles não fogem dos contatos. Não imagine uma escuridão sem vultos. Dentro de você moram muitos demônios estranhos, porém os anjos não se afastaram. Tudo é espaço para desenhar a vida. Talvez, ela se repita, ou seja ensaios de mudanças inúteis. Os vazio acontecem e puxam horas de recolhimento. Se há salvação, ela necessitar de compreender as possibilidades da ambiguidade. Nem todas as portas estão abertas. Nem sempre, a imagem no espelho é a definitiva.
Picasso desafiou as formas e as cores. Era compulsivo. Mas tinha sua entradas fechada, para recompor energias. O que dizer de Gabriel García  solto na escrita de Cem anos de solidão? O artista tem sua lucidez, não só delírio. Quem cogita de se desfazer de todas as medidas? Macondo convivia com Gabriel, ele alcançava a transcendência do sonho, sem negar que o vivido estava presente na fantasia mais alucinada. O belo deslumbra e assusta. na festa do pragmatismo, a arte é atacada pelo mercado. Há quem corra e se perca no labirinto de encruzilhadas medonhas.
A ousadia vence a mediocridade. Quem llê Octavio Paz observa que a solidão possui muitas vozes e que a beleza não é apenas um lugar sem regras, porém nos leva a quebrar o que parecia eterno. As diferenças movem a história, nem imagino uma sociedade com as mesmas cores do passado. Quando as continuidades se fixam, alguém grita e sai de um pesadelo infernizante. Na solidão, o mundo também se mostra. Talvez, existam muitas gramáticas inesperadas. O encontro se faz quando a solidão se aproximar do outro e se reconhece na distância. De olhos abertos, o belo se revela, nunca em todos os seus detalhes, porém atravessa o muro que engessava do desespero.
Paulo Rezende. A astúcia de Ulissses

Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 18 de novembro de 2018

A linda falsa vida que muitos sentem a necessidade de mostrar



Tem gente que anda tão preocupado em se mostrar bem e agradar, que acaba se perdendo de si mesmo. Quando a pessoa se deixa seduzir pelas tentações do ego e da vaidade, acaba entregando a vida para uma viagem só de ida. Só na tela.
São tantos que vivem iludidos por espelhos de pequenas ilusões e escondidos atrás de cortinas de grandes mentiras, que com o passar do tempo perdem a noção da realidade. Já não conseguem viver sendo verdadeiros.  É há uma cobrança coletiva por baixo disso. Somos cobrados pelo sucesso alheio e incentivados a sermos iguais. Mal sabemos que, em algumas situações, por detrás de uma foto postada, quase sempre há máscaras, quase sempre há pessoas com a alma ferida, tentando se mostrar fortalecidas.
Quando a pessoa se deixa seduzir pelas tentações do ego e da vaidade, acaba entregando a vida para uma viagem só de ida. Só na tela. Tentar competir com o mundo é a melhor e mais rápida maneira de ser derrotado.
Existe um enquadramento relacionado entre as redes sociais e sua fábrica de ilusões. Parece absurdo, mas, na maioria das vezes, só postamos aquilo que queremos que os outros vejam. Postamos aquilo que queremos ser (e muitas vezes não somos). A verdade nem sempre é mostrada. Poses e mais poses, filtros e mais filtros para se chegar na foto perfeita. Quantas são as vezes que em busca de aprovação de outras pessoas, pintamos um quadro totalmente disforme da realidade. Nem sempre é o que parece, por vezes as pessoas estão prestes a cair num precipício, mas querem que todos pensem o contrário. A busca doentia por “likes” transforma fulanos e fulanas em reféns de suas próprias mentiras.

A postagem dos outros se torna uma provocação e é preciso se mostrar melhor. Mudar a aparência não é mais suficiente, é preciso fingir outra vida.  

Na verdade, há casos em que a diferença de imagem entre a pessoa real e a pessoa mostrada na tela do computador é tão grande, que, na grande parte das vezes, é algo inacreditável. São figuras distintas, quase que irreconhecíveis quando colocadas lado a lado. A sociedade se reconfigura quando se projeta uma imagem vitoriosa.  Há uma aceitação maior. Há uma glorificação da figura do ser bonito, rico e perfeito e não se enquadrar nisso é dolorido para pessoas (em sua maioria) com a autoestima abalada demais ou elevada demais. Umas de um lado, outras de outro. Paradoxos difíceis de compreender. Um sonho de consumo que faz muitos se sentir inseguros e tristes. Um sonho de consumo que faz muitos se mostrar alegres e bem-sucedidos. Um sonho de ser além do que as outras pessoas comuns aparentemente são.
Os perfis são tão perfeitos, as pessoas tão alegres, as fotos tão bonitas, as comidas tão gostosas, as selfies mais incríveis, as festas mais chiques, os amigos tão sorridentes, as famílias tão impecáveis, empregos poderosos, romances maravilhosos, viagens inesquecíveis, as roupas mais caras: A melhor vida possível! Depois desse prazer dos diversos likes, essas ações viciam e tendem a se repetir.

Quando tudo isso é verdadeiro e realmente vivemos e temos essa vida, é bom demais expor as conquistas.

Ostentar sucesso e trabalhar o marketing pessoal, pode fazer parte, saudavelmente, do dia a dia do vaidoso. Quando é sem muitos exageros, melhor ainda. O perigo é quando muita parte do que é exibido não é real, é montado, disfarçado, é fake. Existe o risco de ser descoberto e o castelo cair, o prazer pode virar dor, a luxúria pode virar amargura, aplausos viram vaias, beleza vira vergonha e sorrisos viram choro.
É complicado pensar que atualmente os níveis de felicidade, realização e sucesso das pessoas são calculados pelo número de likes e coraçõezinhos em seu perfil. Cliques esses, muitas vezes feitos por pessoas que nem se conhecem.
osegredo.com.br
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Quem se esconde, quem se revela, quem desiste?


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Faça a sua escolha. Não gosta de sair, esconde-se no seu labirinto, então não negue que a solidão é gostosa. Siga suas aventuras, mesmo que desconheça o caminho mais fácil. Curte o balanço, não esquece o celular, desenhe seus rastros no quarto íntimo, não se sufoque. Solte as amarras e procure companhia para enganar qualquer dor. Difícil é ficar quieto, jogar-se na mudez. Tudo se movimenta com rapidez. Ligue a TV e veja. O mundo bebe tudo, se assanha com drogas, não se convence de que o acaso é uma armadilha e deus não sai de seu flat. Portanto, a localização de todos é sempre móvel e inquieta.
As tecnologias assombram, porém possuem alto poder de sedução. Quem não vende sua imagem nas páginas do facebbok em busca de boas energias? Há amarguras, mas sobram terapias. A nossa incompletude pede emergências, solicita novidades. Visitamos salas escuras acreditando em cores mágicas e corpos deformados. A temporada das iluminações não se dá sem a ajuda de perguntas. Não há como esgotar o real, fazer da ciência um saber neutro. Bombas se espalham nas guerras, religiões descobrem-se nas maracutaias políticas. A sociedade treme e deslumbra, suporta ambiguidades contínuas. Já comprou o seu tapete magico nas Lojas Americanas?
Temos leituras da cada ato. Precisamos de olhar os outros, porém não cansamos de sentir que a vida é repleta de  abismos ou pântanos. Escolha? As concepções de felicidade são obrigatórias. Há euforia que engana. Se  o consumo invade cada momento, não há como sacudir fora os espelhos. Somos o que temos, mesmo que  as descobertas intelectuais nos orgulhem. A ordem é acumular. Cuidado! A beleza não é aquela de Picasso ou de Da Vinci. Ela diz de um narcisismo especial que se une as páginas múltiplas de uma revista virtual. É uma outra história que atiça outros sentimentos. Já imaginou o vídeo da próxima cirurgia de Bolsonaro?  É um orgasmo para as redes sociais.
Os territórios do mundo estão divididos. A desigualdade existe e não há descrença que desbotem de vez  a política. Uns dizem que o socialismo é autoritário, outros acusam as manobras do capitalismo. A confusão e geral, porque a solidariedade é escassa e a Venezuela se mudará para provocar Guedes. Portanto, as interpretações se afastam da  profundidade e o Homem Aranha não recusou cargo na Polícia Federal. O importante é  a manchete, o jornal que ganha sacudindo verdades suspeitas, anunciando gelo nos trópicos. Quem se revela? Quem se mostra na interioridade.? Mas os desgovernos continuam: assassinatos, suicídios, milícias, arrogâncias, dólares perdidos em propinas vazias. Cada um segue uma estrada. Desiste de inventar saídas. O ir e vir das noites e dos dias pare escândalos. E daí?
Por Paulo Rezende/ A astúcia de Ulisses
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Mundo:O que é o protesto dos 'coletes amarelos' na França, que reuniu 280 mil pessoas contra alta do diesel

Um carro avança sobre um grupo de 'coletes amarelos', os manifestantes franceses que estão paralisando vias contra aumento do preço do diesel na FrançaDireito de imagemREUTERS
Image captionUm carro avança sobre um grupo de 'coletes amarelos', os manifestantes franceses que estão paralisando vias contra aumento do preço do diesel na França
Mais de 280 mil pessoas foram às ruas na França para protestar contra o aumento do preço dos combustíveis neste sábado. Uma pessoa morreu atropelada e mais de 200 ficaram feridas. O episódio está sendo chamado de protesto dos "coletes amarelos" (gilets jaunes, em francês), já que manifestantes usaram coletes refletivos amarelos, peça obrigatória nos carros franceses.
O preço do diesel - o combustível mais usado pelos carros franceses - aumentou cerca de 23% nos últimos 12 meses. Assim, chegou a custar uma média de €1.51 por litro (R$ 6,46). É o valor mais alto desde o começo de 2000, segundo a agência de notícias AFP. Nas bombas, o preço varia de £1.32 a $1.71 (R$ 5,64 a R$ 7,31) por litro.
Para comparação, no Brasil, o preço médio do litro do diesel está em R$ 3,68, segundo dados do início de novembro compilados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Por aqui, o aumento do preço do diesel também gerou uma forte onda de manifestações, promovida por caminhoneiros em maio deste ano - no Brasil, o diesel é mais usado para transporte de carga.
Segundo o ministro do Interior da França, mais de 280 mil pessoas participaram do protesto. Em vários pontos do país, os manifestantes bloquearam vias de passagem para automóveis. Em Paris, se aproximaram do Palácio do Eliseu, a residência oficial do presidente francês, e foram contidos pela polícia com gás lacrimogêneo.
O caso de morte ocorreu quando um motorista de caminhão foi cercado por manifestantes, entrou em pânico, acelerou e acabou atropelando e matando uma mulher de 63 anos. Ele estava levando a filha para o hospital e foi conduzido à polícia em estado de choque. Os episódios de ferimentos, em sua maioria, também ocorreram quando motoristas tentaram forçar a passagem pelo protesto.
No Sul da França, polícia francesa tenta conter manifestantes vestidos de coletes amarelos; um deles hasteia uma bandeira da FrançaDireito de imagemREUTERS
Image captionPolícia francesa tenta conter manifestantes franceses no Sul da França

Por que os motoristas franceses estão protestando?



Os manifestantes acusam o presidente francês Emmanuel Macron de ter abandonado os mais pobres. Até agora, Macron não se pronunciou sobre os protestos - em alguns deles, houve quem pedisse a renúncia do presidente.
Em um pronunciamento na última quarta-feira, o líder francês assumiu que não "conseguiu reconciliar o povo francês com seus governantes". Ao mesmo tempo, acusou seus opositores de usarem os protestos para barrar seu programa de reforma.
Macron falou ainda que a alta internacional no preço dos combustíveis é responsável por três quartos do aumento visto na França. De fato, o preço internacional dos combustíveis subiu - embora tenha caído em seguida.
Mas há um outro fator que levou ao aumento no preço do diesel francês. Este ano, o governo Macron aumentou os impostos sobre combustíveis fósseis, como parte de uma campanha para promover alternativas mais menos poluentes. A este respeito, Macron declarou que os impostos são necessários para financiar investimentos renováveis no setor de energia.
Além disso, o governo anunciou um novo aumento no preço dos combustíveis a partir de 1º de janeiro de 2018 - alta de 6,5% no diesel e de 2,9% na gasolina. A medida foi vista pelos manifestantes franceses como a gota d'água.
Manifestante envolvo em uma nuvem de gás lacrimogêneo, em protesto dos 'coletes amarelos', na FrançaDireito de imagemEPA
Image captionEm Paris, a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes

Qual o tamanho do movimento?

O protesto dos "coletes amarelos" recebeu enorme apoio. Segundo uma pesquisa de opinião realizada pelo instituto Elabe, 75% dos entrevistados disseram que apoiam os "coletes amarelos". Outros 70% querem que o governo francês reverta os aumentos nos preços dos combustíveis.
"As expectativas e o descontentamento em relação ao poder de compra são gerais. Não é algo que preocupa apenas a França rural ou as classes mais baixas", afirma Vincent Thibault, do instituto Elabe.
A repórter da BBC em Paris, Lucy Williamson, relata que o movimento cresceu pelas redes sociais e se transformou em uma crítica ampla às políticas econômicas de Macron.

Os políticos de oposição estão envolvidos?

Certamente, os políticos de oposição a Macron tentaram pegar uma carona no movimento. Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita francês, que concorreu contra Macron e foi derrotada no segundo turno, tem encorajado os protestos pelo Twitter.
"O governo não deveria ter medo do povo francês que vai manifestar sua revolta e faz isso de uma forma pacífica", falou Le Pen.
Laurent Wauquiez, líder de centro-direita dos republicanos franceses, instou o governo de Macron a voltar atrás no aumento de imposto sobre combustíveis fósseis, como uma forma de reduzir os preços.
Christophe Castaner, ministro do Interior da França, falou que as ações de sábado são "um protesto político, com os republicanos por trás".
Já Olivier Faure, líder do Partido Socialista, de esquerda, falou que o movimento "nasceu fora dos partidos políticos". "As pessoas querem que os políticos as escutem e respondam a elas. A sua demanda é por ter poder de compra e uma justiça financeira", falou.

Há algum espaço para negociação entre governo e manifestantes?

Na quarta-feira, o governo francês anunciou uma medida para ajudar as famílias mais pobres a pagarem a conta de energia e custos relacionados ao transporte. O primeiro-ministro Edouard Philippe afirmou que 5,6 milhões de famílias vão receber os subsídios. Atualmente, são 3,6 milhões.
Outra medida a ser implementada são créditos fiscais para aqueles que dependem do carro para trabalhar.
Fonte:BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE