quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Produtora no Recife conta que foi espancada por mulher após criticar Bolsonaro


Mais um caso de agressão por motivações políticas veio à tona nesta quarta-feira (10). Em post nas redes sociais, a produtora Érica Colaço denunciou violência contra uma amiga também produtora Paula Pinheiro Ramos Pessoa Guerra, 37, em um bar no bairro do Arruda, na Zona Norte do Recife, no último domingo (7), dia do primeiro turno das eleições 2018. 

A vítima, que utilizava bottons e adesivos em apoio ao candidato Ciro Gomes e ao movimento #EleNão, foi espancada por uma mulher, enquanto três homens imobilizaram os garçons do local e uma pessoa que a acompanhava.

De acordo com Érica, os agressores seriam apoiadores de Bolsonaro e iniciaram uma discussão no bar. "Depois começaram a ameaçar com uma arma, então ela fez um vídeo e me enviou mostrando quem eram, depois disso perdi contato com ela e soube hoje que eles a atacaram covardemente", diz o post, que mostra fotos da produtora com vários hematomas no rosto e um grave ferimento no braço. Paula contou à reportagem da Folha de São Paulo que fraturou o rádio,osso do antebraço, e teve de passar por uma cirurgia na noite do último domingo.

Em outra publicação nas redes sociais, a filha da vítima diz que o braço direito da produtora foi quebrado pelos agressores. Ainda de acordo com o post, os garçons do bar tiveram que abrigar a produtora dentro da cozinha do estabelecimento enquanto ela ligava para a polícia, mas sem sucesso. "Imagine se eles tivessem uma arma? Eles falaram, com todas as letras:'eu vou te matar', não conseguiram, mas poderiam", diz a filha.

A servidora pública da Fundação Joaquim Nabuco conta que estava com adesivos colados na camisa do candidato Ciro Gomes (PDT) e da candidata ao governo de Pernambuco Dani Portela (PSOL). Também havia bottons com as inscrições "ele não" e "lute como uma garota". "Fui ao bar, que frequento há muito tempo, para acompanhar a apuração. Gosto muito de política. 

Antes da confusão, chegamos a conversar com eleitores de Bolsonaro normalmente", explicou. "Foi tão agressivo que eu filmei com o meu celular. Depois, fui para a minha mesa. Uma mulher que estava com eles se dirigiu a mim, mandou eu levantar e já me deu um murro no rosto. Caí no chão e comecei a ser espancada. Só a mulher me agrediu. Entrei em pânico", diz.

Em seguida, de acordo com Paula, outros três homens que acompanhavam a agressora imobilizaram os garçons. "A pessoa que estava comigo também foi imobilizada. A mulher, após várias agressões, estourou o meu celular no chão. Eu não lembro direito de tudo o que ocorreu porque fui muito agredida", conta.

Paula e a pessoa que a acompanhava foram trancadas pelos garçons, na cozinha do bar. Pouco tempo depois, o grupo foi embora. Na tarde desta quinta-feira (11), ela vai se reunir com a secretária da Mulher do Governo de Pernambuco, Silvia Maria Cordeiro, para cobrar investigação sobre o caso.

Fundaj
Em nota divulgada numa rede social, a Fundação Joaquim Nabuco - local de atuação da servidora espancada - afirmou que repudia qualquer tipo de violência e defende a apuração dos fatos pelas autoridades policiais e a punição dos envolvidos na agressão à servidora. A Fundaj finalizou se solidarizando com a vítima e se colocando à sua disposição. Folha de Pernambuco

Vítima ficou com vários hematomas e teve um osso do braço quebrado





Professor Edgar Bom Jardim - PE

O mistério do voto: escolhas e agitações


Resultado de imagem para vaidade

A história é tempestade. Não há como compreendê-la na sua totalidade. Soltamos impressões, fabricamos comportamentos, porém a exatidão foge. Quando se entra no sentimento, os embates são maiores. Jair teve uma votação surpreendente. Era um desconhecido. Caminhou com agressividades. Alguns achavam que estava delirando. Foi conseguindo simpatias e admirado por outros que pareciam transtornados. Não parou. Subiu as montanhas, se armou. Disse besteiras ou simulou loucuras? Nada o desaprumou. Venceu o primeiro turno com facilidade. Será que os que o apoiam são todos irresponsáveis? Por que tanto alarde?
Insistem em proclamar a fixação da irracionalidades. A massa está tonta diante de um messias. Muitos o apontam como o mito, não observam que divaga sem conexões. Não surgiu do nada. Consultou, pactuou, desenvolveu uma estratégia. Escutou as reclamações e seduziu com seus ataques que decretavam a afirmação de preconceitos. Costurou bem as raivas e enfrentou intelectuais que o desprezavam. Hoje, as teorias são muitas. É um liberal extremado? Um fascista que lembra genocídio? Um ser tenebroso e cheio de vícios perversos?
Portanto, acendeu análises, destruiu profecias, conquistou lideres. Correm atrás de sua fama. Ri, como se fosse o rei do acaso.  Solta um vocabulário que agrada pelo deboche. Porém, está convencido de que vitória será fácil? Não sei , como andam os ânimos. O território da vaidade é escorregadio. Haddad suspira. Tremeu nas bases com a apuração. Busca mais autonomia, firmar alianças, derrubar Jair nos debates. O conservadorismo é forte. Traz a família e a pátria. Exige ordem e progresso. Combate a homo-afetividade e subestima argumentos dos antigos sábios.
Não adianta explicitar razões. As pessoas se apaixonam com se esperasse um milagre. O reino do faz de conta se transforma em fake news, Recebo muitas. São elaboradas para surtir efeitos demolidores. Não esqueçam que o cinismo é uma mercadoria valiosa. A grana se espalha e seus donos são pragmáticos. As eleições pedem redefinição da política. Mas como se ela vive no mundo dos negócios e é parceira da bolsa de valore? Ela não abandonou sua sede de ser a rainha. encontrou seus súditos, nada ingênuos e irracionais. O medo faz seus estragos. Já comprou seus dólares?
A astúcia de Ulisses/ Paulo Rezende.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

PSDB pode pedir desculpas e se reinventar ou dar guinada à direita e desaparecer, diz cientista político


João Doria, Ana Amélia e Geraldo Alckmin em convenção do PSDB em agostoDireito de imagemREUTERS
Image captionJoão Doria, Ana Amélia e Geraldo Alckmin em convenção do PSDB em agosto; para cientista político, grupo de Doria conduz partido no sentido contrário à autocrítica
Mesmo com resultado ruim nas eleições, o futuro do PSDB pode ser bom, acredita o cientista político José Álvaro Moisés. O partido precisaria apaziguar brigas internas, pedir desculpas por seus erros e ir às ruas para falar com a população, mas uma reconstrução seria possível.
Haveria, no entanto, um entrave: João Doria.
Para o professor da USP, que foi um dos fundadores do PT e integrou o governo Fernando Henrique Cardoso, o candidato do PSDB ao Estado de São Paulo tem atitudes pouco democráticas, como a de declarar apoio a Jair Bolsonaro (PSL) antes de uma decisão coletiva do partido.
Sua ascensão, pondera, poderia levar ao desaparecimento da sigla como ela é hoje, fazendo-a caminhar para cada vez mais para a direita.
"Não faz sentido imaginar que, pelo fato de ter adquirido muita força na campanha e eventualmente ser eleito, ele (Doria) possa impor sua vontade unilateralmente ao partido. Isso seria um desastre. Aí, sim, é a profecia do (fundador do PSDB) Bolívar Lamounier, aí seria funesto."
Na terça-feira, a legenda anunciou que não apoiará nenhum dos candidatos ao segundo turno da eleição presidencial. Na reunião da Executiva Nacional, Doria reafirmou sua fidelidade a Bolsonaro.
Houve também um desentendimento entre o empresário e seu padrinho político e candidato derrotado à Presidência, Geraldo Alckmin. O último teria dito que não era "traidor", alfinetando o pupilo por seu aceno ao capitão reformado ainda no primeiro turno. O episódio evidenciou o racha entre os tucanos.
Segundo Moisés, o fortalecimento do grupo de Doria conduziria o PSDB para a direção oposta à que ele considera ideal, de autocrítica e revisão de rumos. Autor de três livros sobre a democracia brasileira, o professor defende que a legenda assuma um papel de moderação entre os extremos, ajudando a combater a violência que cresce no cenário político do país.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
BBC News Brasil - O que achou da decisão do Comando Nacional do PSDB de liberar os filiados para apoiar qualquer um dos candidatos no segundo turno?
Moisés - Talvez neste momento seja a melhor decisão, tendo em vista que há uma divisão interna muito forte. Isso vai permitir que algumas lideranças definam melhor sua posição.
BBC News Brasil - Um dos fundadores do PSDB, Bolívar Lamounier disse em entrevista recente que, após as eleições, o partido enfrentará um longo "período fúnebre", por causa dessas rixas. Você concorda?
Moisés - Não sei se será um período fúnebre, mas certamente será um período de muita discussão interna, de controvérsia, e espera-se que seja um período também em que o partido tenha capacidade de fazer uma autocrítica, uma avaliação de seu desempenho.
Não só nessa eleição, mas no período recente, que vem desde 2014.
O PSDB desempenhou um papel muito importante no Brasil. Estou entre as pessoas que acham que no espectro político ideológico brasileiro, que agora tem uma direita expressiva, é importante ter um partido como o PSDB que, ao mesmo tempo, tenha um pé no mercado e uma preocupação social.
E que ofereça uma alternativa para as posições que estão nos extremos de direita e de esquerda. Mas, para isso, o PSDB vai ter que passar por uma profunda fase de reavaliação para entender onde o partido se desconectou dos eleitores a ponto de chegar ao resultado que seu candidato teve na eleição presidencial, de 4% dos votos.
Para um partido que esteve duas vezes na Presidência e por um período muito longo em São Paulo, não faz sentido. Esse resultado indica que houve falhas importantes.
BBC News Brasil - Que tipo de falhas?
Moisés - O PSDB teve um comportamento errático, por exemplo, com o governo Temer.
Embora ele tenha apoiado o impeachment, em determinado momento houve uma discussão interna sobre se deveriam participar do governo ou não. Prevaleceu a ideia de participar inicialmente, e depois uma parte do PSDB saiu do governo, mas nunca sinalizou com clareza qual era sua posição. Isso confundiu os eleitores e os deixou sem alternativa clara.
Seria extremamente negativo para a política brasileira, principalmente com a onda conservadora que está se expressando no país, se um partido com o conteúdo ideológico do PSDB desaparecesse.
O Congresso Nacional, em BrasíliaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'Seria extremamente negativo para a política brasileira, principalmente com a onda conservadora que está se expressando no país, se um partido com o conteúdo ideológico do PSDB desaparecesse', avalia cientista político
BBC News Brasil - Você fala sobre o papel do PSDB em um cenário de extremos. Num momento em que o eleitor clama por uma "nova política", há espaço para o PSDB?
Moisés - O espaço do PSDB tem que ser um espaço de moderação na política, de reconhecimento de que o pluralismo é central na democracia e, ao mesmo tempo, de diálogo com forças da esquerda e da direita para trabalhar em torno dos temas de interesse nacional.
As decisões que deverão ser tomadas são muito difíceis e duras, como a do ajuste fiscal, eventualmente a reforma da Previdência, são questões que vão demandar um entendimento no Congresso e na sociedade.
E, para isso, precisamos de interlocutores que sejam capazes de dialogar, que não façam apenas contraposição.
BBC News Brasil - Mas o PSDB que vemos hoje é um partido fragmentado, com o grupo de João Doria, que apoia a Bolsonaro, se fortalecendo e tentando expulsar membros, como aconteceu com Alberto Goldman. Esse partido não é o mesmo que você menciona.
Moisés - Você me perguntou o que eu achava da posição do Bolívar, para quem o partido vai entrar numa fase fúnebre. Não precisa ser necessariamente uma fase fúnebre. Pode ser uma fase de reconstrução, de reencontrar um prumo.
Agora, isso significa que, em vez de excluir pessoas como o Alberto Goldman, o PSDB tem que unificar os diferentes grupos que existem dentro do partido. Em vez de fazer uma política de divisão, é necessário uma política de união, de reconstruir a ideia de que, mesmo com posições diferentes, esses dirigentes têm algo para oferecer ao país.
Essa é a missão de um partido que pode ter um papel de equilíbrio.
BBC News Brasil - O cenário de reconstrução do partido que o senhor menciona é o ideal. Algo muda nessa projeção se João Doria for eleito no segundo turno, tornando-se o membro com cargo mais importante dentro do partido?
Moisés - Existe um risco grande de que, com a vitória de João Doria no segundo turno, em vez de se abrir espaço para um debate crítico, construtivo e capaz de retomar a origem do partido, evolua-se uma nova visão do PSDB: pragmático e mais situado à direita.
Seria uma perda para o significado que a social-democracia pode ter no Brasil.
BBC News Brasil - No caso de uma vitória do Doria, pode haver uma guinada à direita, talvez mais próxima da de Bolsonaro?
Moisés - Se ele for eleito e passar a ser a força predominante no PSDB, vejo que, talvez, em vez de autocrítica e de redefinição do partido, haja uma solução pragmática apoiada apenas nas posições que ele defende.
Por exemplo, ele anunciou um apoio ao Bolsonaro independentemente de uma decisão do partido. Ele sobrepõe decisões pessoais às do partido.
BBC News Brasil - Para você, o que isso mostra sobre Doria? O que ele pode representar para o PSDB?
Moisés - Esse gesto, de apoio ao Bolsonaro sem esperar uma decisão do partido, é uma atitude pouco democrática. Não há disposição de ouvir as pessoas de seu próprio partido que pensam diferente e aceitar uma decisão colegiada.
Um partido que pretende desempenhar um papel importante na política brasileira deve valorizar a possibilidade de tomar decisões colegiadas. Partidos dessa natureza sempre têm posições diferentes. Não existe um partido, nem à direita, nem à esquerda, que seja completamente homogêneo.
Para ter significação para diferentes segmentos do eleitorado, o partido deve tomar decisões que escutem as várias posições.
Agora, ele tomou uma decisão antes da decisão do partido. Dessa maneira, querendo sugerir que, por causa da força que adquiriu na eleição e por estar no segundo turno, pode impor sua vontade.
Isso é evidentemente antidemocrático. Assim como foi absolutamente antidemocrático o compromisso que ele assumiu com a população de São Paulo e depois descumpriu.
Ele sempre tem uma justificativa, (dizendo) que vai trabalhar melhor. Só que ele assumiu compromisso com um mandato e boa parte dos eleitores de São Paulo esperava que ele cumprisse aquela promessa.
Não era só uma promessa, era um compromisso de levar até o final a prefeitura de São Paulo. Ele não fez isso. São sinais de que falta democracia no comportamento do João Doria.
Foto mostra homem lendo jornal ao lado de outro exemplar que diz: "Bolsonaro e Haddad disputam a presidência"Direito de imagemAFP
Image captionO PSDB anunciou que não apoiará nenhum dos candidatos ao segundo turno da eleição presidencial
BBC News Brasil - Você acha que, como liderança do partido, ele poderia levar o PSDB para uma direção menos democrática, com menos espaço de discussão?
Moisés - Isso é difícil de dizer porque não estamos nesta situação, pelo menos não até agora, de ele estar postulando ser o dirigente do partido. Ele vai ter que colocar suas posições num contexto que envolve pessoas que pensam diferente dele. É um processo que não está definido.
O que estou dizendo é que não faz sentido imaginar que, pelo fato de ter adquirido muita força na campanha e eventualmente ser eleito, ele possa impor sua vontade unilateralmente ao partido.
Isso seria um desastre. Aí, sim, é a profecia do Bolívar Lamounier, aí seria funesto.
BBC News Brasil - Seria funesto se Doria impusesse sua vontade ao partido?
Moisés - (Se) ele tentar impor a vontade. Porque aí destrói o partido de uma vez por todas.
BBC News Brasil - Depois de o grupo de Doria tentar expulsar Alberto Goldman, o tucano citou o AI-5 e disse que "tem gente que pensa que é ditador". O que você achou da expulsão?
Moisés - A expulsão do Alberto Goldman evidentemente foi uma sinalização de uma postura antidemocrática do grupo do Doria.
Porque, veja bem, se eles acham que o Goldman apoiou o (candidato a governador de São Paulo) Márcio França e isso representa uma deslealdade com o partido, tem que abrir um processo, a comissão de ética deve se pronunciar, e ele deve ter direito de defesa, como ocorreu em outras situações.
Sem isso, não faz sentido. Se transforma numa decisão mandatória, de predomínio antidemocrático, autocrática.
Alckmin sentado em mesa de eventoDireito de imagemEPA
Image caption'A campanha do Alckmin se apoiou num diagnóstico equivocado sobre o que estava acontecendo no Brasil', diz Moisés
BBC News Brasil - Após um resultado ruim no primeiro turno, qual pode ser o futuro de Alckmin dentro do partido?
Moisés - A campanha do Alckmin se apoiou num diagnóstico equivocado sobre o que estava acontecendo no Brasil.
A campanha e o próprio Alckmin não souberam dar uma resposta para a extrema indignação e desconfiança da maior parte dos eleitores com os políticos, com os partidos e com tudo o que vinha acontecendo na política brasileira.
Eu esperava que o Alckmin tivesse sido mais direto, mais explícito em dizer que, se fosse eleito, teria o compromisso de não poupar seu partido cometendo práticas de corrupção, como ocorreu com o PT e com figuras do PSDB.
Não apenas dizer isso, mas indicar que caminhos adotaria para reforçar a operação Lava Jato, para dar uma resposta à indignação da população. Ele não fez isso e deixou o espaço ser ocupado por Bolsonaro.
Nem a campanha nem Alckmin entenderam com clareza a profundidade da crise brasileira e o grau profundo de nojo que um contingente grande dos eleitores passou a ter pelos políticos tradicionais. Ele deveria ter sinalizado que tinha compreendido a lição, que começou com as manifestações de 2013, e iria em outra direção. Ele não fez isso.
Daqui para frente ele precisará rever, de maneira profunda, sua carreira política. Um político que quer continuar a carreira e quer prestar um serviço ao país, com o grau de crise que temos, deve ser capaz de reconhecer publicamente seus erros.
BBC News Brasil - Uma autocrítica seria suficiente para um eleitor que quer a "nova política"?
Moisés - O PSDB, assim como outros partidos, precisa se reinventar. E esta reinvenção tem duas etapas fundamentais.
A primeira é pedir desculpas para a população brasileira pelos erros que cometeram e por envolvimento com corrupção. Isso vale para o PT também, que nunca desmentiu completamente sua responsabilidade nos casos do mensalão e do petrolão.
Precisa dizer "olha, erramos, como qualquer ser humano, mas queremos mudar".
Em segundo lugar, o PSDB precisa fazer uma coisa que raramente fez, que é ir à sociedade. Criar laços com segmentos da sociedade, não só com a classe média, mas com a população da periferia, da área rural. E, num debate com esses segmentos, definir o que deve ser seu rumo daqui para frente.
BBC News Brasil - É sair da classe média e tentar ser mais representativo para outras camadas da sociedade?
Moisés - Um partido, como o próprio nome diz, é uma parte da sociedade. Ele tem que, de alguma maneira, ampliar essa capacidade de diálogo. Mas para isso precisa estabelecer vínculos fortes com a sociedade sob pena de não ouvir qual é o clamor das pessoas, o que as preocupa, para onde elas querem ir.
Se você levar em conta a importância que tem a internet e as redes sociais, o PSDB não se utilizou muito das redes. Mas essa porta não está fechada. Qualquer partido pode fazer isso se tiver o que propor.
O PSDB, entre outras coisas, defende o voto distrital misto e o parlamentarismo. São duas medidas de reforma política que, num certo sentido, se constituem como respostas para crises graves.
O Brasil tem um sistema de presidencialismo de coalizão que em 30 anos teve dois impeachments. Impeachment é uma coisa traumática. Ele divide a sociedade, contrapõe os partidos.
Não podemos continuar com um sistema político que só prevê esse remédio quando existe abuso do poder. Precisamos de um outro sistema no qual seja mais fácil mudar governo, mais fácil enfrentar crises. O parlamentarismo oferece uma alternativa para isso.
O PSDB precisa voltar a defender essas propostas, mas não apenas formalmente, ele tem que defender na sociedade, ir às universidades, aos bairros, aos sindicatos. Ele deve mostrar a importância dessas propostas para revalorizar o papel da política e o direito que as pessoas comuns têm de usar a política para defender seus interesses.
BBC News Brasil - Estamos falando de um cenário ideal, de reconstrução do partido. Mas num caso de fortalecimento do grupo de Doria e de uma aproximação do PSDB da direita de Bolsonaro, quais podem ser as consequências para a sigla?
Moisés - Minha avaliação é que, se for nessa direção, o partido vai correr o risco de desaparecimento.
BBC News Brasil - Deixar de existir literalmente ou como já foi um dia?
Moisés - O PSDB com a significação que eu mencionava antes, de um partido que tem uma responsabilidade de mercado, mas ao mesmo tempo tem um olho social para enfrentar as questões sociais que são próprias do capitalismo.
Isso é típico da social-democracia. Se for nessa direção que você está perguntando, o risco de desaparecimento é grande. Poderia manter o nome, mas desapareceria essa perspectiva, esse lugar próprio do PSDB na política brasileira.
BBC News Brasil - Quais seriam as consequências do desaparecimento do PSDB para a política do país?
Moisés - Poderia estimular a polarização que vimos nessa eleição.
Uma polarização muito mais difícil e complexa da que existia antes, entre PT e PSDB. Agora não é uma polarização entre PT e PSL, é uma polarização entre esquerda e direita, entre uma esquerda que cometeu erros muito graves e uma direita que vai cada vez mais numa versão da extrema direita, que tem propostas assustadas para o país.
BBC News Brasil - É uma polarização mais perigosa do que uma entre dois partidos?
Moisés - Lembraria que tivemos nesse período recente alguns sinais de reintrodução da violência na política brasileira.
Teve o assassinato da Marielle Franco, os tiros contra a caravana do Lula no Paraná, o atentado contra Bolsonaro e, nesta semana, um líder de capoeira que foi assassinado em Salvador porque votou no PT.
Tem havido nas ruas episódios de agressão contra homossexuais, ameaças contra pessoas de cor negra. São todos sinais muito negativos aparecendo com essa onda conservadora que corresponde ao resultado das eleições de domingo.
A polarização de duas posições extremas pode levar a resultados desastrosos, fratricidas, de divisão.
O PSDB tem que continuar representando uma alternativa que seja de centro, democrática, moderada, e que esteja ligada aos principais problemas enfrentados pela população.
Em particular, desemprego, segurança, qualidade de serviços públicos como educação e, ao estar ligado com esses temas, ter propostas para resolvê-los. Não pode deixar um vazio em que apenas duas posições extremas apresentam propostas. Foi o que aconteceu na campanha.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Daciolo pede anulação do primeiro turno por fraude


O candidato derrotado à Presidência, Cabo Daciolo (Patriota-RJ) solicitou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE ), nesta quarta-feira (10), a anulação do resultado do primeiro turno das eleições, ocorrido no domingo (7).

Ele também pediu o uso de cédulas de votação em papel nas eleições do país. Jair Bolsonaro, que concorre à Presidência pelo PSL, também é crítico em relação às urnas. Ele afirmou várias vezes que ouviu centenas de relatos de eleitores que não conseguiram concluir o voto para Presidente.
Segundo o TSE, não há registro de fraude nas urnas eletrônicas desde 1996, quando começaram a ser implantadas.
Com informação da Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE