terça-feira, 6 de março de 2018

Mundo: 10 perguntas para entender a guerra na Síria

Bebê sírio após ataqueDireito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionAtaque com armas químicas deixou ao menos 27 crianças mortas na Síria
ATENÇÃO: Este texto foi publicado em abril de 2017. Para uma versão mais atualizada, clique abaixo:
Pelo menos seis pessoas morreram após os EUA lançarem 59 mísseis Tomahawk na Síria na noite de quinta-feira. Autoridades americanas dizem que o alvo foi a base responsável pelo ataque com armas químicas que matou dezenas de civis na terça-feira.
O bombardeio, feito a partir de dois navios de guerra americanos estacionados no mar Mediterrâneo, dá novos contornos ao conflito, que já dura mais de seis anos. A Rússia, aliada do presidente Bashar al-Assad, condenou a medida - ela nega que o governo sírio esteja usando armas químicas.
O ataque dos Estados Unidos foi ordenado por seu presidente, Donald Trump, que até pouco tempo atrás citava Assad como um aliado na guerra contra o terror. Mas tudo mudou após imagens do ataque da terça chocarem o mundo. "Quando você mata crianças inocentes, bebês inocentes, bebês pequenos (...) isso passa dos limites", reagiu o republicano, que classificou o ocorrido como uma "afronta à humanidade".
Entenda, a seguir, os últimos acontecimentos e a origem de um conflito que já deixou mais de 400 mil mortos e provocado um êxodo de mais de 4,5 milhões de pessoas do país, segundo a ONU - o maior da história recente.
Enterro de vítimas da tragédiaDireito de imagemAFP
Image captionMortes após ataque na Síria chocaram o mundo

1. O que foi o 'ataque químico' que motivou a reação dos EUA?

De acordo com o grupo britânico de monitoramento do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, 86 pessoas - 27 delas crianças - foram mortas no incidente químico em Khan Sheikhoun, na província de Idlib.
Tanto a Organização Mundial da Saúde quanto a instituição de caridade médica Médicos Sem Fronteiras disseram que algumas das vítimas apresentavam sintomas consistentes de exposição a agentes que afetam o sistema nervoso.
O ministro da Justiça da Turquia, Bekir Bozdag, disse que as necropsias realizadas nos corpos de três vítimas confirmaram que armas químicas foram usadas e que as forças de Assad foram as responsáveis pelo ataque.
Trinta e duas pessoas foram levadas para a Turquia para tratamento - três delas morreram.

2. O que dizem os líderes americanos?

"Eu vou te dizer, aconteceu que minha visão em relação à Síria e Assad mudou muito", afirmou Trump após o ataque. Antes, ele citava o presidente do país em guerra como um aliado na luta contra o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico, que controla algumas regiões sírias.
Questionado durante uma reunião com o rei Abdullah da Jordânia na Casa Branca sobre estar formulando uma nova política em relação ao país do Oriente Médio, o americano disse a repórteres: "Vocês verão".
O que se seguiu foi o bombardeio realizado na noite da quinta-feira.
Ao falar da ofensiva, Trump chamou Assad de "ditador" por ter lançado um "ataque com armas químicas terríveis contra civis inocentes".
"É vital para os interesses de segurança nacional dos Estados Unidos prevenir e dissuadir a propagação e o uso de armas químicas", completou.
Donald Trump durante pronunciamentoDireito de imagemREUTERS
Image captionApós ataque, Trump mudou o tom em relação ao governo sírio

3. O que dizem os russos?

A Rússia reconheceu que os aviões sírios atacaram Khan Sheikhoun, mas diz que a aeronave atingiu um depósito que produzia armas químicas para serem usadas por militantes no Iraque.
A "aviação da Síria fez um ataque contra um grande depósito de munição terrorista e uma concentração de equipamento militar nos subúrbios a leste da cidade de Khan Sheikhoun", disse o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konoshenkov.
O governo russo condenou o ataque americano, classificando o bombardeio com uma "agressão contra uma nação soberana".
Dmitry Peskov, porta-voz do governo, disse que a ofensiva dos EUA "causa um dano significativo às relações entre Washington e Moscou". Segundo ele, o presidente Vladimir Putin vê o ataque como "uma intenção de distrair o mundo pela morte de civis provocadas pela intervenção militar no Iraque".
Clínica atingida por ataqueDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSegundo testemunhas, novos ataques atingiram clínicas onde feridos eram atendidos

4. Assad já usou armas químicas antes?

O governo sírio foi acusado por potências ocidentais de disparar foguetes de sarin (composto químico que age no sistema nervoso) em Ghouta, Damasco, matando centenas de pessoas em agosto de 2013.
O presidente Assad negou a acusação e culpou os rebeldes, mas concordou em destruir o arsenal químico da Síria. Apesar disso, a Organização pela Proibição de Armas Químicas continuou a reportar o uso de produtos químicos tóxicos em ataques no país.
Nesta quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid Muallem, voltou a negar esse tipo de ação.
"Reforço mais uma vez que nosso Exército nunca usou e não usará armas químicas", disse ele. "Não apenas contra nossos civis, nosso povo, mas também não usará armas químicas contra os terroristas que estão atacando e matando nossos civis com seus morteiros."
A Síria classificou o ataque americano na quinta como uma ação "tola e irresponsável".
"O que a América fez não é nada menos que uma atitude tola e irresponsável, que só revela sua visão míope e cegueira política e militar em relação à realidade", informou o gabinete de Bashar al-Assad.

5. Qual era a situação na Síria antes da guerra - e o que levou ao conflito?

Antes do início do conflito, muitos sírios se queixavam de um alto nível de desemprego, corrupção em larga escala, falta de liberdade política e repressão pelo governo Bashar al-Assad - que havia sucedido seu pai, Hafez, em 2000.
Em março de 2011, adolescentes que haviam pintado mensagens revolucionárias no muro de uma escola na cidade de Deraa, no sul do país, foram presos e torturados pelas forças de segurança.
O fato provocou protestos por mais liberdades no país, inspirados na Primavera Árabe - manifestações populares que naquele momento se estendiam pelos países árabes.
Pai reage à morte de seus filhos em ataque aéreo em AleppoDireito de imagemREUTERS
Image captionApós seis anos de conflito, ainda não é possível ver uma luz no fim do túnel na Síria
Quando as forças de segurança sírias abriram fogo contra os ativistas - matando vários deles -, as tensões se elevaram e mais gente saiu às ruas. Os manifestantes pediam a saída de Assad.
A resposta do governo foi sufocar as divergências, o que reforçou a determinação dos manifestantes. No fim de julho de 2011, centenas de milhares saíram às ruas em todo o país exigindo a saída de Assad.

6. Como começou a guerra civil?

À medida que os levantes da oposição aumentavam, a resposta violenta do regime se intensificava. Simpatizantes do grupo antigoverno começaram a pegar em armas - primeiro para se defender e depois para expulsar as forças de segurança de suas regiões.
Assad prometeu "esmagar" o que chamou de "terrorismo apoiado por estrangeiros" e restaurar o controle do Estado.
A violência rapidamente aumentou no país: grupos rebeldes se reuniram em centenas de brigadas para combater as forças oficiais e retomar o controle das cidades e vilarejos.
Em 2012, os enfrentamentos chegaram à capital, Damasco, e à segunda cidade do país, Aleppo.
O conflito já havia, então, se transformado em mais que uma batalha entre aqueles que apoiavam Assad e os que se opunham a ele - adquiriu contornos de guerra sectária entre a maioria sunita do país e xiitas alauítas, o braço do Islamismo a que pertence o presidente.
Destruição em Homs, na SíriaDireito de imagemREUTERS
Image captionHoms, chamada de 'capital da revolução', foi uma das cidades que mais sofreram
Isto arrastou as potências regionais e internacionais para o conflito, conferindo-lhe outra dimensão.
Em junho de 2013, as Nações Unidas informaram que o saldo de mortos já chegava a 90 mil pessoas.

7. Quem está lutando contra quem?

A rebelião armada da oposição evoluiu significativamente desde suas origens.
O número de membros da oposição moderada secular foi superado pelo de radicais e jihadistas - partidários da "guerra santa" islâmica. Entre eles estão o autointitulado Estado Islâmico e a Frente Nusra, afiliada à al-Qaeda.
Os combatentes do EI - cujas táticas brutais chocaram o mundo - criaram uma "guerra dentro da guerra", enfrentando tanto os rebeldes da oposição moderada síria quanto os jihadistas da Frente Nusra.
Também combatem o Exército curdo, um dos grupos que os Estados Unidos estão apoiando no norte da Síria.
Desde 2014, os EUA, junto com o Reino Unido e a França, realizam bombardeios aéreos no país, mas procuram evitar atacar as forças do governo sírio.
Já a Rússia lançou em 2015 uma campanha aérea com o fim de "estabilizar" o governo após uma série de derrotas para a oposição.
A intervenção russa possibilitou vitórias significativas das forças sírias. A maior delas foi a retomada da cidade de Aleppo, um dos principais redutos dos grupos de oposição, em dezembro de 2016.
Os presidentes da Síria, Bashar al-Assad, e Rússia, Vladimir PutinDireito de imagemREUTERS
Image captionCampanha aérea da Rússia de Putin (à dir.) tem beneficiado forças de Assad (à esq.)
Os rebeldes moderados têm requisitado armas antiaéreas ao Ocidente para responder ao poderio do governo sírio. Mas Washington e seus aliados têm procurado controlar o fluxo de armas por medo de que acabem indo parar nas mãos de grupos jihadistas.

8. Qual é o envolvimento das potências internacionais?

Na era Obama, os Estados Unidos culpavam Assad pela maior parte das atrocidades cometidas no conflito e exigiam que ele deixasse o poder como pré-condição para a paz.
Trump, por sua vez, dizia que derrubar o presidente sírio não era uma prioridade, mas sim derrotar o Estado Islâmico - e que Assad era um aliado nessa batalha. Após o aparente ataque químico ocorrido na última terça, porém, seu discurso mudou.
Já a Rússia apoia a permanência de Assad no poder, o que é crucial para defender os interesses de Moscou no país.
O Irã, de maioria xiita, é o aliado mais próximo de Bashar al-Assad. A Síria é o principal ponto de trânsito de armamentos que Teerã envia para o movimento Hezbollah no Líbano - a milícia também enviou milhares de combatentes para apoiar as forças sírias.
Estima-se que os iranianos já tenham desembolsado bilhões de dólares para fortalecer as forças sírias, provendo assessores militares, armas, crédito e petróleo.
Raqqa, o norte do país, sob controle do 'EI'Direito de imagemREUTERS
Image caption'EI' aproveitou debilidade do Estado sírio para tomar controle de várias cidades
Contrapondo-se à influência do Irã, a Arábia Saudita, principal rival de Teerã na região, tem enviado importante ajuda militar para os rebeldes, inclusive para grupos radicais.
Outro aliado importante dos rebeldes sírios, a Turquia tem buscado limitar o apoio dos EUA às forças curdas, que acusam de apoiar rebeldes do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão).
Os rebeldes da oposição síria têm ainda atraído apoio em várias medidas de outras potências regionais, como Catar e Jordânia.

9. Por que a guerra está durando tanto?

Um fator chave é a intervenção de potências regionais e internacionais.
Seu apoio militar, financeiro e político tanto para o governo quanto para a oposição tem contribuído diretamente para a continuidade e intensificação dos enfrentamentos, e transformado a Síria em campo para uma guerra indireta.
A intervenção externa também é responsabilizada por fomentar o sectarismo no que costumava ser um Estado até então secular (imparcial em relação às questões religiosas).
As divisões entre a maioria sunita e a minoria alauita no poder alimentou atrocidades de ambas as partes, não apenas causando a perda de vidas, mas a destruição de comunidades, afastando a esperança de uma solução pacífica.
Combatente rebelde na SíriaDireito de imagemREUTERS
Image captionRebeldes da oposição moderada têm recebido ajuda limitada de potências ocidentais
A escalada de terror causada por grupos jihadistas como o EI - que aproveitou a fragilidade do país para tomar o controle de vastas partes de território no norte e leste - acrescentou outra dimensão ao conflito.

10. Qual é o impacto da guerra?

O enviado da ONU para a Síria, Steffan de Mistura, estimou que a guerra já matou 400 mil pessoas.
Para a organização Observatório Sírio de Direitos Humanos, sediada em Londres, até setembro a cifra de mortos passava de 465 mil.
Já o Centro Sírio para Pesquisa de Políticas, outro grupo de estudos, calcula que o conflito já tenha causado a morte de mais de 470 mil pessoas.
Homem assiste ferido em DamascoDireito de imagemREUTERS
Image captionNão há cifras confiáveis para estabelecer o número de mortos no conflito sírio
Segundo a ONU, até fevereiro de 2016 mais de 5 milhões de pessoas haviam fugido do país - a maioria mulheres e crianças.
O êxodo de refugiados, um dos maiores da história recente, colocou sob pressão os países vizinhos - Líbano, Jordânia e Turquia.
Cerca de 10% deles buscam asilo na Europa, provocando divisões entre os países do bloco europeu sobre como dividir essas responsabilidades.
Deslocados síriosDireito de imagemREUTERS
Image captionQuase metade de população síria - 23 milhões antes do conflito - foi deslocada pela guerra
E as estatísticas terríveis não param por aí.
A ONU disse que são necessários US$ 3,2 bilhões para prover ajuda humanitária a 13,5 milhões de pessoas - incluindo seis milhões de crianças - no país.
Além disso, 70% da população não tem acesso a água potável, uma em cada três pessoas não consegue suprir as necessidades alimentares básicas, mais de 2 milhões de crianças não vão à escola e uma em cada cinco indivíduos vive na pobreza.
As partes em conflito têm complicado ainda mais a situação ao recusar o acesso das agências humanitárias aos necessitados.
De BBC.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 5 de março de 2018

STF pede a quebra de sigilo de do presidente Temer


O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso determinou o afastamento do sigilo bancário do presidente Michel Temer (MDB) no âmbito do inquérito que investiga irregularidades na elaboração da Medida Provisória 595, conhecida como a MP dos Portos, e que mais tarde deu origem ao decreto 9.048. A quebra abrange o período de 1º de janeiro de 2013 a 30 de junho de 2017. É a primeira vez que um presidente no exercício do mandato tem os seus dados financeiros abertos por ordem judicial.
A decisão data do dia 27 de fevereiro. O Banco Central já distribuiu ofício em que comunica a decisão às instituições financeiras e pede providências. O ministro autorizou ainda o levantamento do sigilo bancário de João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, José YunesRodrigo da Rocha Loures   todos ex-assessores do presidente , Antonio Celso Grecco e Ricardo Mesquita, esses últimos, respectivamente, dono e executivo da Rodrimar. Temer é investigado pela suspeita de ter agido para favorecer a empresa no Porto de Santos por meio do texto da MP 595. O presidente nega que tenha cometido qualquer irregularidade.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 4 de março de 2018

Marília Arraes fez plenária em Surubim


Marília Arraes (PT) participou neste sábado (3) de uma calorosa manifestação em apoio a sua pré-candidata na cidade de Surubim. Dezenas de lideranças populares, sindicais, comunitárias  e políticas de Surubim, Casinhas, João Alfredo, Bom Jardim, Passira, Orobó, Vertentes, vereadores, ex-prefeitos da região se fizeram presentes no encontro.  Luciano Duque, prefeito de Serra Talhada, Jaime Amorim (MST), deputada Teresa Leitão (PT),  Carlos Veras (CUT), Fernando Ferro, ex-deputado federal, Ernesto Maia, vereador de Santa Cruz de Capibaribe, Ivete, vereadora de Surubim, Israel Crispim, Zé Francisco , ex-prefeito de Orobó,  Vital, Maciel , Jonas por  Bom Jardim. 

A mensagem da música de campanha é  de  que Marília é Arraes e Lula. Os discursos  é que a candidatura de Marília  está consolidada em Pernambuco, que a grande mídia nega a candidatura própria do PT.. Muitas críticas aos golpistas, aos dirigentes do PT pernambucano, cobrança as ausências de Humberto Costa e João Paulo. 
"Nós, (PT ), vamos ocupar nosso espaço aqui, não seremos apoiadores do PSB", disse Fernando Ferro.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Aliados de Temer irão formar chapa única para disputar o governo do Estado em 2018


O grupo de  aliados de Temer que faz oposição ao governador Paulo Câmara (PSB) terá candidatura  única conforme foi anunciado em encontro político que reuniu lideranças do PTB, PMDB, PSDB e DEM, na cidade de Caruaru, neste sábado (3). Até o dia 7 de abril o grupo irá definir os nomes da chapa que irá participar das eleições. Será Armando Monteiro,  Fernando Bezerra, Bruno Araújo, Mendonça Filho?


Professor Edgar Bom Jardim - PE

Brasil tem 190 línguas em perigo de extinção

Os idosos Känä́tsɨ e Híwa, últimos falantes da língua warázu, sentados em frente à sua casa em RO, com a acessórios de seu povo indígena na cabeça
Image captionKänä́tsɨ (à esq.) e Híwa falam entre si uma língua que só eles conhecem | Foto: Liames/Unicamp
Moradores da fronteira do Brasil com a Bolívia, o casal Känä́tsɨ, de 78 anos, e Híwa, de 76, são os dois últimos falantes ativos da língua warázu, do povo indígena Warazúkwe.
Os dois se expressam mal em castelhano e português, e conversam entre si somente em warázu – embora seus filhos e netos que moram com eles falem em português e espanhol.
"Aquela casa desperta, para quem entra nela, uma sensação incômoda de estranheza, como se o casal idoso que vive nela viesse de outro planeta, de um mundo que eles nunca poderão ressuscitar", escrevem os pesquisadores Henri Ramirez, Valdir Vegini e Maria Cristina Victorino de França em um estudo publicado na revista Liames, da Unicamp.
Com ajuda do casal idoso, esses linguistas da Universidade Federal de Rondônia descreveram pela primeira (e possivelmente a última) vez o idioma do povo Warazúkwe.
O casal nasceu em Riozinho, em Rondônia, mas a comunidade warazúkwe em que viviam foi abandonada nos anos 1960, forçando os dois a se mudar diversas vezes entre Brasil e Bolívia até se estabelecido em Pimenteiras (RO).
O casal Känä́tsɨ (à esq.) e Híwa posa para foto
Image captionKänä́tsɨ (à esq.) e Híwa são os últimos falantes ativos da língua warazú | Foto: Liames/Unicamp
Segundo o estudo, além de Känä́tsɨ e Híwa, ainda haveria três pessoas que poderiam conhecer o idioma. Um deles, o irmão mais velho Känä́tsɨ, sumiu há anos. Os outros dois, Mercedes e Carmelo, vivem na Bolívia, mas já não conversam mais em warázu.
"Parece que a 'vergonha étnica' que os warazúkwe experimentaram foi tão intensa que Mercedes não gosta de proferir palavra alguma no seu idioma e Carmelo afirma que esqueceu tudo", diz o estudo.

País multilíngue

Da família linguística tupi-guarani, o warázu é apenas uma de dezenas de línguas brasileiras em perigo de extinção.
Segundo o Atlas das Línguas em Perigo da Unesco, são 190 idiomas em risco no Brasil.
O mapa reúne línguas em perigo no mundo todo – e o Brasil é o segundo país com mais idiomas que podem entrar em extinção, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Adauto Soares, coordenador do setor de Comunicação e Informação da Unesco no Brasil, explica que o mapa foi feito com a colaboração de pesquisadores especialistas em cada região e entidades governamentais e não governamentais.
A jovem Zahy Guajajara
Image captionOs guajajara consideram a língua um aspecto importantíssimo para preservação de sua cultura | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
No Brasil, as principais entidades que colaboraram foram o Iphan, a Funai, a Unaids e o Museu do Índio.
Soares explica que foram usados diversos critérios para definir se uma língua está em risco: o número absoluto de falantes, a proporpoção dentro do total da população do país, se há e como é feita a transmissão entre gerações, a atitude dos falantes em relação à língua, mudanças no domínio e uso da linguagem, tipo e qualidade da documentação, se ela é usada pela mídia, se há material para educação e alfabetização no idioma.
"Essa quadro (de línguas em perigo) pode ser revertido, e é por isso que a gente atua", diz Soares.
A morte de uma língua não é apenas uma questão de comunicação no dia a dia: a preservação da cultura de um povo depende da preservação do seu idioma. "Se a língua se perde, se perde a medicina, a culinária, as histórias, o conhecimento tradicional. No idioma estão a questão da identidade, o conhecimento do bosque, do mato, dos bichos", explica o linguista Angel Corbera Mori, do Instituto de Estudos da Linguagem, da Unicamp.

Mais ainda

O número de idiomas em risco pode ser ainda maior do que o apontado pela Unesco, porque é possível que algumas línguas, que nunca foram estudadas, tenham ficado de fora – o warázu, por exemplo, não está incluso no mapa.
Além disso, é possível que existam dezenas de línguas em perigo em comunidades isoladas, que nunca foram descritas.
Estima-se que, antes da colonização portuguesa, existissem cerca de 1,1 mil línguas no Brasil, que foram desaparecendo ao longo dos séculos, segundo Corbera.
Ele explica que durante o período colonial, os jesuítas começam a usar o tupi como uma espécie de língua geral – o que foi visto pela Coroa portuguesa como uma ameaça. O tupi – e posteriormente outras línguas indígenas – foram proibidos. E quem desobedecesse era castigado.
Jovem guarani mbyá da aldeia Mata Verde Bonita
Image captionConsiderado vulnerável pela Unesco, o idioma Mbyá Guarani, do tronco tupi-guarani, é falado por cerca de 6 mil pessoas no Brasil | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
A perseguição continuou por séculos. Na era Vargas, por exemplo, o português era obrigatório nas escolas, e quem desrespeitasse também estava sujeito a punição.
"A situação só melhorou a partir da Constituição de 1988", diz Corbera.
Segundo ele, uma das principais ameaças à língua hoje é a invasão dos territórios indígenas. "Políticas de preservação e registro da língua são importantes, mas não adiantam nada se eles não têm território, se são expulsos de suas terras", diz Corbera.
Alguns grupos que foram perseguidos têm o único registro escrito de suas línguas em trabalhos em naturalistas que visitam o país nos séculos passados. É o caso da língua dos povos do grupo Panará - nomeados pelos colonizadores de Caiapós do Sul – do aldeamento de São José de Mossâmedes, em Goiás, no século 18.
A única descrição linguística dos povos que ocupavam esse aldeia é encontrada em listas de palavras dos europeus Emmanuel Pohl (1782-1834) e Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), como descreve o linguista Eduardo Alves Vasconcelos em um artigo publicado no ano passado.

Os últimos

Uma das línguas que sobreviveram, ainda que em estado crítico, é o guató. O idioma tinha, em 2006, apenas cinco falantes, de acordo com a Unesco.
Os Guatô ocupavam praticamente toda a região sudoeste do Mato Grosso, na fronteira com a Bolívia, até começaram a ser expulsos de suas terras entre 1940 e 1950, segundo o Intituto Sócio Ambiental (ISA), por causa do avanço da agropecuária.
Chegaram a ser considerados extintos pelo governo, por isso foram excluídos de programas de ajuda e políticas públicas, até meados dos anos 1970, quando missionários identificaram índios Guatô e o grupo começou a se reorganizar e lutar por reconhecimento.
Escrita guajajara
Image captionO registro escrito é um dos fatores avaliados para definir se uma língua está em perigo | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Há línguas tidas como vulneráveis - possuem um número maior de falantes, mas ainda são consideradas em perigo. É o caso da língua guajajara, falada por um dos povos mais numerosos.
Há mais de 27 mil guajajaras no Brasil, segundo o sistema de informações do Ministério da Saúde. O guajajara é usado como primeira língua em muitas aldeias, mas nem todos os índios Guajajara falam o idioma. A língua guajajara pertence à família tupi-guarani e é subdividida em quatro dialetos.

Extintas

Das 190 línguas citadas pela Unesco, 12 já são consideradas extintas, ou seja, não têm mais nenhum falante vivo.
Uma das que foram extintas mais recentemente foi língua dos Umutina, povo indígena que vive no Mato Grosso.
Quando o Museu do Índio iniciou um trabalho de documentação de línguas, em 2009, ela ainda tinha falantes. Hoje está extinta, segundo a Unesco.
Os Umutina tiveram seu território invadido violentamente no início do século passado, segundo o ISA. Por isso acabaram perdendo sua terra tradicional e sua língua, que era do tronco lingüístico Macro-Jê, da família Bororo.
Além disso, centenas de umutinas morreram devido a doenças levadas pelos brancos.
Os que sobreviveram às epidemias tiveram contato com o antigo SPI (Serviço de Proteção ao Índio, antecessor da Funai extinto em 1967). Eles foram educados em uma escola para índios que os proibia de falarem sua língua materna e de praticar qualquer tipo de atividade relacionada à sua cultura, segundo o ISA.
Hoje são 515 pessoas, de acordo com a Secretaria Especial de Saúde Indígena, que falam predominantemente português e tentam recuperar a língua com ajuda de idosos e universitários indígenas. Segundo Corbera, o muitas vezes não se consegue recuperar a língua toda, às vezes só o léxico.
"Mas é muito importante, até por questões de identidade", conta ele.

Professor Edgar Bom Jardim - PE