segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Vírus que rouba dados bancários é encontrado no Google Play pela 3ª vez


Um vírus que rouba dados bancários, o BankBot, foi encontrado na Google Play -loja de aplicativos do Android- pela terceira vez neste ano. O malware vem junto com aplicativos aparentemente inofensivos, como "Tomado FlashLight", "Lamp for DarkNess" e "Sea FlashLight" (lanternas), "Crypto Currencies Market Prices" (informações sobre criptomoedas), entre outros disfarces.

Depois de instalado no celular, o vírus, espécie de cavalo de Troia (que se esconde no momento da instalação), cria uma interface falsa em aplicativos bancários. Assim, quem entrar no app do seu banco e preencher a senha estará cedendo seus dados aos invasores.

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Segundo o Avast, empresa de anti-vírus que detectou a falha, o problema afetou usuários dos bancos WellsFargo, Chase, DiBa e Citibank. São 160 aplicativos bancários que podem ser alvos do malware. O BankBot foi encontrado entre os apps do Google Play em abril, setembro e, agora, em novembro.

Procurado, o Google respondeu por meio de nota. "Levamos a segurança muito a sério no Google Play e atualmente estamos investigando a situação para proteger os usuários", afirma a empresa. A Play Store já removeu todos os aplicativos identificados como "disfarces" do BankBot, mas os hackers podem criar apps com nomes de desenvolvedores diferentes a qualquer momento.

Cuidados

Não dê permissões para aplicativos de origem desconhecida Não baixe apps que não sejam estritamente necessários (a lanterna, por exemplo, é um recurso que vem embutido na maioria dos celulares) Verifique a classificação (nota) do app atribuída pelos demais usuários Não dê permissão de "administrador" para um app se ele não for absolutamente confiável Se a interface do app do seu banco parece estranha, não use
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Na Finlândia, alunos agora ensinam tecnologia para professores e idosos


Professor (ao centro) recebe ensinamentos de um garoto (esq.) e uma menina (dir.) em um tablet
Image caption'É maravilhoso ter crianças de até dez anos de idade dando aulas de tecnologia aos nossos professores, e os resultados têm sido surpreendentes', diz o diretor de uma escola | Foto: Divulgação
No pouco ortodoxo modelo de ensino que levou a Finlândia ao topo dos rankings globais de educação, uma inovadora inversão de papéis começa a tomar corpo: alunos estão dando aulas aos professores, para ensinar os mestres a otimizar o uso de tecnologias de informação e comunicação nas escolas.
"Crianças e adolescentes aprendem a lidar com novas tecnologias e aplicativos de maneira muito mais rápida do que nós, adultos. E eles não têm medo de tentar coisas novas", disse à BBC Brasil Pasi Majasaari, diretor da escola Hämeenkylä, na cidade de Vantaa, próxima à capital Helsinki.
"É maravilhoso ter crianças de até dez anos de idade dando aulas de tecnologia aos nossos professores, e os resultados têm sido surpreendentes. Tanto para os estudantes como para os mestres", destacou.
O projeto OppilasAgentti ("Agentes Escolares", em tradução livre) está sendo conduzido em cerca de cem escolas finlandesas, e a ideia é levar a nova experiência a um número cada vez maior do universo de 3.450 instituições de ensino do país.
Trata-se de um modelo para desenvolver as competências tecnológicas não apenas dos professores, mas de toda a comunidade escolar - e também do seu entorno: os alunos da escola Hämeenkylä, por exemplo, também estão dando aulas aos idosos de um asilo local sobre como usar redes sociais, iPads e outros dispositivos.
"Acreditamos que é importante ensinar nossas crianças a descobrir seus potenciais e a desenvolver seus valores, e mostrar a elas o impacto positivo que cada indivíduo pode exercer na sociedade", observa Pasi Majasaari.
"É preciso compreender a realidade à sua volta, e por isso nossos alunos também cooperam com a igreja local em programas assistenciais para a alimentação dos mais pobres e menos favorecidos em nossa sociedade", acrescenta o diretor.
A escola tradicional, dizem os finlandeses, já não funciona mais.
"O modelo de educação da era industrial treinava crianças para ficarem sentadas, quietas e em silêncio, e executar tarefas repetitivas. As crianças de hoje não querem e não precisam mais ficar sentadas. Elas precisam exercitar sua criatividade, exercer um papel ativo e serem ensinadas a pensar por conta própria", diz Majasaari.
Sala de aula com professores sentados nas carteiras e estudantes em volta deles, dando aulas
Image captionInversão de papéis: professores sentados nas carteiras e alunos em volta dando aulas | Foto: Divulgação

Constante evolução

A ideia de envolver os alunos na capacitação tecnológica dos mestres nasceu a partir de relatos de muitos professores, que diziam ter dificuldades em se manter atualizados com a constante evolução da era digital.
"Muitas inovações tecnológicas são compradas regularmente para equipar as escolas, como por exemplo novos aplicativos ou as imensas tevês inteligentes de tela plana que temos em nossos corredores. Mas vários professores ou não sabiam como usá-los em todo o seu potencial, ou não tinham tempo suficiente para se dedicar a essa tarefa", diz o diretor da escola Hämeenkylä.
Os alunos do projeto StudentAgents têm entre dez e 16 anos de idade. Pelo sistema, os estudantes interessados em participar se apresentam como voluntários, e relatam suas competências e habilidades em determinadas áreas. As escolas também oferecem treinamento aos alunos, em aulas ministradas por especialistas de diferentes empresas finlandesas que revendem soluções tecnológicas para o sistema de ensino do país.
A partir daí, os estudantes produzem um mapeamento das necessidades digitais da escola, sob a orientação de um professor. Eles fazem então um planejamento das atividades necessárias, e passam a atuar em três frentes.
Na sala dos professores, os alunos dão aulas ocasionais sobre como usar diferentes dispositivos e aplicativos. Professores também podem contatar os estudantes para pedir assistência individual, a fim de solucionar pequenos problemas. E os alunos-mestres também atuam como professores assistentes nas salas de aula, para prestar ajuda tanto aos professores quanto a outros colegas de classe quando determinada lição envolve o uso de tecnologia.
"Os alunos estão ajudando a implementar uma série de novas soluções digitais nas escolas, como a prestação de apoio técnico na introdução de sistemas", diz à BBC Brasil Risto Korhonen, da Ilona IT, uma das empresas finlandesas que vêm realizando treinamentos para os alunos do projeto StudentAgents.
As aulas de codificação são particularmente relevantes, ele diz:
"Grande parte dos professores possui um conhecimento limitado nessa área, e por isso os alunos desempenham um importante papel ao ensiná-los a lidar com dispositivos de codificação."
Os estudantes do projeto também realizam webinários (seminários transmitidos via internet) para ensinar colegas de outras escolas, além de treinar crianças menores em técnicas de edição e animação de vídeos.
"Nossos alunos estão ainda dando suporte técnico a uma série de atividades na escola. Por exemplo, eles desenvolvem os efeitos especiais e todo o sistema técnico para os concertos de música que realizamos", diz Pasi Majasaari.
Dois adolescentes ensinam um senhor de idade a jogar um jogo virtual, projetado na parede
Image captionAdolescentes também ensinam jogos virtuais para idosos | Foto: Divulgação

Alunos felizes e orgulhosos

Os resultados positivos da experiência foram apresentados recentemente durante o evento que a Finlândia classificou como a maior reunião de pais e professores do mundo - uma conferência realizada simultaneamente, nas escolas de todo o país, para debater a agenda de reformas necessárias a fim de preservar o nível de excelência do ensino público finlandês nos próximos anos.
"Os alunos estão felizes, e orgulhosos de si mesmos. Alguns deles, que não eram bons alunos em determinadas matérias, adquiriram uma nova autoconfiança. Uma de nossas crianças apresentava problemas de concentração, mas floresceu de forma surpreendente quando demos a ela esta oportunidade de participar de maneira ativa e positiva na escola", conta Majasaari.
Os professores também têm aprovado os efeitos da inovação. É uma lógica natural, aponta o diretor da escola:
"Quando ajudamos as crianças a identificar seus talentos e suas forças, elas se comportam melhor, aprendem melhor e obtêm melhores resultados nas escolas."
Inverter o papel tradicional dos alunos nas escolas é mais um pensamento fora da caixa do celebrado sistema finlandês, que conquistou resultados invejáveis nos rankings mundiais de educação com um receituário que inclui menos horas de aulas, poucas lições de casa, férias mais longas e uma baixa frequência de provas.
Um dos principais pontos do novo currículo escolar, adotado em agosto do ano passado, é fazer com que as crianças se transformem em aprendizes ativos.
"É um novo conceito de aprendizado", diz o diretor Pasi Majasaari.
"Nossos alunos do ensino médio já não usam mais livros escolares. Nas aulas de História, por exemplo, os estudantes aprendem a trabalhar com chromebooks (computadores pessoais) que permitem a eles coletar informações, analisar dados e escrever seus próprios livros eletrônicos. Assim, eles aprendem ao mesmo tempo história e tecnologia", ressalta.
"Nossa missão é encontrar novas formas de aprimorar a escola e dar aos alunos a possibilidade de descobrir seus talentos, desenvolver sua autoestima e aprender coisas que serão importantes para suas vidas no futuro."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 26 de novembro de 2017

Leilão de escravos na Líbia causa indignação em toda a África

Manifestação em Paris contra a escravidão na Líbia
Manifestação em Paris contra a escravidão na Líbia  AFP
Jovens africanos na rota migratória para a Europa, vendidos em leilões como escravos, surrados, sequestrados em troca de resgate. Isso há anos acontece na Líbia. Organizações sociais e as próprias vítimas já denunciaram várias vezes, com pouca repercussão. Entretanto, um vídeo contando como funciona esse mercado de seres humanos, divulgado há uma semana pela rede CNN, gerou uma onda de indignação na África.
Os presidentes da África ocidental, a região de origem da maior parte dos migrantes, reagiram com firmeza. O primeiro foi Mahamadou Issoufou (Níger), que solicitou uma investigação ao Tribunal Penal Internacional e convocou seu embaixador na Líbia para consultas. Idêntica decisão tomou Roch Kaboré (Burkina Faso), junto com um apelo às autoridades líbias para que atuem. O Governo senegalês exigiu uma investigação pelo que o presidente malinês, Ibrahim Boubacar Keita, denominou de “barbárie que interpela a consciência de toda a humanidade”. Todos solicitaram à União Europeia, à União Africana e às Nações Unidas que intervenham de uma vez.
Até o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declara-se “horrorizado” e não descarta a possibilidade de processar os responsáveis por crimes contra a humanidade. “A escravidão não tem lugar em nosso mundo”, disse Guterres nesta segunda-feira, “isto nos recorda da necessidade de abordar os fluxos migratórios de maneira global e humana (…) e reforçar a cooperação internacional para reprimir os atravessadores e traficantes, e para proteger os direitos de suas vítimas”. O Governo de unidade nacional da Líbia anunciou a abertura de um inquérito.
A sociedade civil africana também elevou a voz. Os mais midiáticos foram os jogadores de futebol que atuam na Europa, encabeçados por Geoffrey Kondogbia, atleta do Valencia de origem centro-africana, que neste domingo, durante um jogo contra o Espanyol, ostentou uma camiseta com os dizeres: “Futebol à parte, não estou à venda”. Da Inglaterra, o franco-guineano Paul Pogba, astro do Manchester United, pedia em seu perfil do Twitter “que esta crueldade acabe”. Tanto Pogba como Cheick Doukouré, jogador do Levante, comemoraram seus gols com um gesto expressivo, unindo seus antebraços como se estivessem atados.
No Twitter, as hashtags #stopslavery e #StopEsclavageEnLibye (“parem a escravidão” e “parem a escravidão na Líbia”) estão aglutinando as mensagens de uma campanha que foi sendo orquestrada aqui e ali, sob a liderança de artistas, intelectuais e ativistas que criticam a Líbia, mas também a União Europeia, acusada de cumplicidade com o regime desse país africano, “eleito como sócio encarregado de assegurar a fronteira sul da Europa”, segundo um manifesto assinado, entre outros, pelos cantores Tiken Jah Fakoly, Salif Keita e Angelique Kidjo, pelo ator Omar Sy, pelo ciberativista Cheik Fall, pelo escritor Alain Mabanckou e pelo ex-tenista Yannick Noah. “Senhores presidentes, estamos estupefatos por seu silêncio”, afirmou o conhecido cantor de reggae Alpha Blondy há alguns dias.
Neste sábado, cerca de mil pessoas saíram às ruas de Paris sob o lema “não à escravidão na Líbia”, enquanto os países começam a adotar medidas. Seguindo o conselho da União Africana, a Costa do Marfim decidiu repatriar no fim de semana 155 migrantes que estavam retidos em um centro de detenção de Zouara, no oeste da Líbia. Os jovens, incluindo 89 mulheres e vários menores de idade, desembarcaram na segunda-feira no aeroporto de Abidjã e se beneficiarão de programas de ajuda financiados pela União Europeia.
El País
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Educação:a representação do negro no material didático


Escravidão negra na Amazonia
Por Mírian Garrido

Todo fim de ano destinamos um tempinho para pensar sobre o que aprendemos. Quando mais jovem, esse período coincidia com o fim do ano letivo. Eu chegava da escola com a camiseta assinada pelos amigos e guardava meus livros didáticos. Fazia planos de como, no ano seguinte, eu me dedicaria ainda mais, sem deixar de fazer atividades extracurriculares que eu tanto adorava. Começava o ano e meu pai desembolsava um dinheiro significativo com livros didáticos – sacrifício de um metalúrgico que acreditava na educação como garantia de um futuro melhor –, em um ciclo que perdurou por 12 anos, ou seja, ensino fundamental e médio.
Na época, não me preocupei em avaliar o livro didático em si, se ele foi sido usado com excelência, isto é, utilizado como apoio, criticado pelos professores e complementado por eles. Tampouco refletia sobre o impacto dele sobre mim, se o que eu lia e tentava absorver era capaz de influir na visão que eu tinha de mim mesma, da minha família e da sociedade em que eu vivia. Pensava nas notas “azuis” e nas férias a serem curtidas à exaustão.
A perspectiva muda quando me vejo, já no mestrado, procurando livros didáticos para utilizar como fonte da pesquisai. Percebi o quanto esse objeto tem um papel central no ambiente escolar, ecoa na atenção da mídia, mas é efémero. Ficaria ainda mais surpresa quando aprofundasse na pesquisa, e descobriria, então, que o livro didático – esse que circula de mão em mão entre os jovens brasileiros – possui uma variável enorme de elementos que lhe dão forma.
Foi então que, como pesquisadora na área de História, busquei entender quais eram as representações dos negros em livros didáticos. A empreitada parecia fadada a reforçar a ausência do negro na literatura didática ou, ainda pior, a confirmação de que todos os tipos de estereótipos eram ensinados aos leitores dessas obras. Joel Rufino dos Santos, historiador e intelectual defensor das causas negras, já havia – na década de 1980 – condenado os livros didáticos e convocado professores a se livrarem de tais objetosii.
Mesmo assim, a tentativa tinha legitimidade, afinal o Brasil se tornou o maior comprador de livros didáticos do mundoiii e nós, brasileiros e financiadores dessa política de compras, precisamos conhecer os produtos adquiridos. Devemos conhecer essa mercadoria, não apenas pelo caráter econômico, mas, em última instância, porque serão, também, os instrumentos que ensinarão as crianças e adolescentes “que sociedade é essa”.
Como seria impossível dar conta de “toda a história”, fiz meu primeiro recorte: escolhi estudar como o pós-abolição é apresentado aos leitores dos livros didáticosiv. A justificativa era simples, era sabido que o elemento negro ocupava espaço significativo nos livros enquanto escravizados – numa dolorosa perspectiva de mercadoria que produz outras mercadorias. Mas conhecer a história dos que lutaram por sua sobrevivência, contra o passado de escravização e um Estado que os manteria afastados de direitos, conferia, a meu ver, um sentimento de pertencimento positivo muito maior.
A demanda de uma educação que valorize a cultura e história dos diferentes elementos constituidores da sociedade brasileira emergiu com força nas pautas dos movimentos sociais contemporâneosv. Essa atuação impulsionou a aprovação da Lei 10.639/2003vi, configurando-a em instrumento de valorização da História e da Cultura africana e afro-brasileira. Se a ideia “somos o que recordamos” é verdadeira, como esperar que alunos afrodescendentes queiram sentir-se parte de uma cultura e história dada como inferior? Elemento que teria nascido da escravização, e que teria – quando muito – contribuído apenas com palavras no vocabulário popular e comidas típicas?
Os afro-brasileiros merecem aprender que são originários de um continente cuja riqueza e diversidade construiu Impérios; Nações; Confederações; locais onde a autonomia não foi tomada completamente nem mesmo pacificamente. Devem aprender que descendem de homens e mulheres sequestrados e trazidos para um novo lugar, mas que foram capazes de se articular, criar laços, resistir e negociar, quando possível. Digo sempre: “parem de usar a palavra contribuir, eles não contribuíram, eles formaram o país”, e reforço “todos ganham com esses conteúdos, alunos negros e não-negros aprendem a diversidade que constitui a História”.
Retornando ao percurso da pesquisa, quanto mais eu lia a bibliografia sobre os livros didáticos – amplamente estudados academicamente no Brasil – mais notava que o conteúdo é “a ponta do processo”. Analisar o livro apenas pelo texto, imagem, atividade (dentre tantos outros elementos), era riscar na superfície de um objeto ainda maior.
O programa Nacional do Livro Didático, programa que avalia e compra os livros didáticos que serão distribuídos em todo território nacional. E, ao entrar nessa dimensão, passei a pensar no Edital de Convocação do PNLD como o espaço privilegiado para observar como o Estado é capaz de incitar a renovação de conteúdos didáticos, pois ali se encontram “as regras do jogo”. Qualquer elemento que julgue primordial para avaliação, o Edital precisa deixar claro, caso o contrário pode ser descreditado juridicamente pelas editoras.
E, afinal, quais são as representações dos livros didáticos para o pós-abolição? Os Editais de Convocação do Programa Nacional do Livro Didático auxiliaram na introdução de conteúdos não tradicionais? Os livros didáticos ainda devem ser descartados, como diziam intelectuais da década de 1980? As perguntas são inúmeras, as respostas serão bem abertas, principalmente, porque meu objetivo é propor reflexões e não responde-las com minúcia. Garanto que os livros didáticos mudaram muito depois de iniciadas as avaliações do PNLD, e isso se reflete, em especial, no ensino fundamental por ter sido alvo de maior número de avaliações. Inegavelmente, conteúdos não consagrados na literatura didática,
progressivamente, são incorporados, ainda que com limitações – não nos enganemos, ainda há muito por fazer. Defendo, também, que ele não deve ser descartado, criticado sim, mas compreendido na variedade de forças que lhe dão forma.
Desta forma, percebam o quanto o objeto “livro didático” é complexo, mais ainda, que na educação não existe espaço para amadores. Digo isso porque é crescente um movimento que insiste em criminalizar conteúdos didáticos e práticas docentes, sem se importar em compreender quão complexo é o processo que molda livros didáticos, bem como, a multiplicidade que influi na formação de profissionais da educação – assunto que deixo, inclusive, para especialistas. Movimento que, possivelmente, não é sensível aos conteúdos referentes a cultura e história afro-brasileira, por exemplo, no que tange o ensino das manifestações religiosas, importantíssimas para se compreender as visões de mundo nas diferentes sociedades, mas visto por eles como “doutrinário”.
Chegamos a mais um final de ano, do período letivo e a chegada do 20 de Novembro – Dia da Consciência Negra, também demanda do movimento negro que proponha a reflexão sobre como nossa sociedade lida com as questões raciais –. Momento, portanto, de reflexão sobre nossas ações ao longo do ano, o que aprendemos e o que ensinamos. Espero que nesse esforço se faça presente a preocupação com a importância da educação, alvo dos anseios sociais, mas, também, das políticas públicas, sejam elas as direcionadas aos livros didáticos ou as representações positivas do afro-brasileiro – questões que não estão, nem de longe, desconectadas.
Doutora em História pela Universidade Estadual Paulista, “Júlio de Mesquita Filho”, campus de Assis, a autora do texto tem se dedicado aos temas livros didáticos, políticas afirmativas, movimento negro (Brasil/Estados Unidos), afrodescendentes, biografias e independência de Moçambique. Suas pesquisas usufruíram de apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), incluindo estágio no exterior (University of Pittsburgh) e trabalho de campo (Maputo/Moçambique). Pesquisadora e docente, Mírian Garrido defende uma universidade pública de qualidade e para todos.
Carta Capital


www.youtube.com/watch?time_continue=148&v=vGAoGRq4oVI
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 25 de novembro de 2017

Bom Jardim:Conferência Municipal de Educação

CONVITE
III Conferência Municipal de Educação
LOCAL: Escola Terezinha Barbosa
DATA: 27 de novembro 2017
INÍCIO: 7:30
Fonte:facebook.com/PrefeituraBomJardim/
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Doenças:De infecções a pneumonia, estudo mostra que moscas podem transmitir mais doenças do que se imaginava

Mosca varejeira
Image captionMosca doméstica e varejeira carregam, cada uma, cerca de 300 tipos de bactérias | Fotos: Raul Santana/Fiocruz
Cientistas descobriram que dois tipos de moscas muito comuns em ambientes urbanos podem transmitir mais doenças do que se imaginava.
A mosca doméstica (Musca domestica) e a mosca varejeira (Chrysomya megacephala) carregam, cada uma, mais de 300 tipos de bactérias, mostra um estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia (PennState University), nos Estados Unidos.
Muitas dessas bactérias são causadoras de doenças que afetam os seres humanos, incluindo infecções no estômago, intoxicações e até pneumonia.
Os micróbios se concentram nas pernas e nas asas dos insetos e se espalham pelo ambiente, por exemplo, cada vez que a mosca pousa sobre a comida. Cada movimento dos insetos pode espalhar as bactérias, afirmam os especialistas.
"As pessoas tinham alguma noção de que as moscas transportavam agentes patogênicos, mas não tinham ideia da dimensão desse fato e da escala em que essas bactérias podem ser transportadas", ressalta Donald Bryant, professor de bioquímica e biologia molecular da PennState University e um dos autores do estudo.

Surtos de doenças

Os pesquisadores analisaram 116 moscas de diversos habitats de três continentes e utilizaram técnicas de sequenciamento de DNA para identificar as bactérias que estavam sobre o corpo dos insetos.
A mosca doméstica, encontrada em todo o planeta, carrega 351 tipos de bactérias. A varejeira, mais comum em climas quentes, 316 tipos. Muitos dos microorganismos foram encontrados em ambas as espécies.
Os cientistas, que publicaram o trabalho no periódico Scientific Reports, destacam que as moscas podem estar sendo subestimadas pelas autoridades de saúde pública como fontes de surtos de uma série de doenças.
"Acreditamos que isso possa demonstrar um mecanismo de transmissão patogênica que tem sido negligenciado pelas autoridades de saúde pública, que as moscas podem contribuir para a transmissão de agentes patogênicos em situações de surtos", destacou Bryant.
"Vai fazer você pensar duas vezes antes de comer aquela salada de batata que está há horas sem tampa no seu próximo piquenique", ele acrescenta.
Mosca varejeira sob um microscópio eletrônico
Image captionMosca varejeira vista com microscópio eletrônico | Foto: Ana Junqueira e Stephan Schuster
Alguns pesquisadores acreditam, contudo, que as moscas podem ser úteis e funcionar como sistemas de alerta para determinadas doenças ou como "drones vivos" capazes de entrar em espaços reduzidos para procurar por micróbios.
"As moscas poderiam ser intencionalmente lançadas como drones biônicos autônomos aos menores espaços e fendas e, depois de recapturadas, prover informações sobre todo o material biológico que encontraram", ilustra Stephan Schuster, diretor de pesquisa na Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura.
Moscas domésticas são conhecidas por seus péssimos hábitos de higiene - entre frequentar aterros sanitários e se alimentar de todo tipo de comida em decomposição, animais mortos e matéria fecal. Elas são potenciais vetores de doenças para humanos, animais e plantas.
As varejeiras são as moscas mais comuns vistas sobre animais mortos. Elas são típicas de áreas urbanas e são frequentemente encontradas próximo a fábricas de processamento de carne, abatedouros e lixeiras.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

PGR pede que inquérito de “quadrilhão do PMDB” não seja paralisado


A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) manifestação pedindo para que o inquérito contra políticos do PMDB não seja paralisado. O pedido para que a investigação fosse suspensa foi apresentado pelas defesas de Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima, ambos atualmente presos.
A manifestação de Dodge é uma resposta ao pedido de Fachin encaminhado na semana passada. Ao decidir levar a suspensão do inquérito para o plenário do Supremo, Edson Fachin deu prazo para que Dodge se manifestasse. O pedido ainda não tem data para ser analisado pelos ministros.
O inquérito do chamado “quadrilhão” do PMDB da Câmara investiga pessoas sem foro privilegiado, como Geddel, Cunha, Henrique Eduardo Alves e Rodrigo Rocha Loures. Por terem sido acusados de integrar uma organização criminosa que inclui o presidente Michel Temer (PMDB), eles pedem que as investigações sejam paralisadas. A interpretação das defesas é a de que, como Geddel e Cunha foram acusados de organização criminosa juntamente com Temer, eles deveriam continuar no mesmo processo uma vez que Temer conseguiu suspender as duas denúncias contra ele até 2019, quando ele deve deixar a Presidência da República.
Enquanto a acusação que envolve Temer, Moreira Franco e Eliseu Padilha permanece no Supremo – uma vez que os três têm foro privilegiado – Fachin decidiu encaminhar para a Justiça Federal as investigações contra Geddel, Cunha, Henrique Alves e Rocha Loures. Se não for paralisado, o inquérito ficará à cargo dos juízes Sérgio Moro e Vallisney de Souza Oliveira, responsáveis pelas investigações da Lava Jato em Curitiba e em Brasília, respectivamente.

Congresso em Foco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

#AgoraÉQueSãoElas: Marina Silva, a incômoda presença


Muitas vezes já me perguntaram se sofri preconceito, na política, por ser mulher e negra. Sempre busquei respostas que combatessem o preconceito sem reforçá-lo. A política tem desses incômodos, que são explorados com habilidade e oportunismo por quem não está interessado no diálogo nem tem amor à democracia, mas tem interesse apenas em vencer disputas por qualquer meio.
Algumas causas – e as pessoas que as representam – sofrem de modo mais intenso essas tentativas de silenciar, tornar invisível para sequer enxergar, rotular para não precisar argumentar, ou ridicularizar para não ter que considerar. É o que acontece na maioria das vezes com as causas das mulheres e o olhar feminino sobre os assuntos contemporâneos, incluindo as questões da política, que tem que se afirmar vencendo preconceitos que de tão antigos até parecem naturais.
Mas há também uma força e sabedoria da mulher para enfrentar essas guerras. É o que tenho procurado usar como defesa. Desde a campanha eleitoral de 2014, em que enfrentei um volume gigantesco de ataques caluniosos, tenho recebido uma crítica insistente de que que estou “sumida”, calada ou omissa no debate dos problemas nacionais. Entretanto, todos os dias participo do debate público com os meios que disponho, principalmente minhas páginas na internet e nas redes sociais.
O mais interessante é que nas poucas vezes em que alguém publica minha opinião, sou criticada pelo “aparecimento repentino” e acusada de oportunismo. E se a chance de dizer minha opinião for em algum fórum de destaque internacional, isso parece deixar os críticos ainda mais irritados. Em abril desse ano, fui convidada para fazer a palestra de abertura da Brazil Conference, organizada por alunos brasileiros das universidades de Harvard e do MIT. A ampla cobertura dos principais jornais do país e do exterior não foi suficiente para evitar que o discurso do sumiço se repetisse algumas vezes naquele mesmo dia.
É possível e legítimo que algumas pessoas desconheçam o que faço como professora, ativista socioambiental e dirigente de um recém-criado partido político, a Rede Sustentabilidade. Mas me parece que não é disso que se trata. Há uma ação deliberada de silenciar e ocultar, certamente porque grande parte das causas que defendo incomodam a alguns segmentos muito zelosos de seu suposto poder de controle e intimidação.
Estamos em uma época em que o debate político é conturbado e fortemente influenciado pela indústria de notícias falsas. Existe um novo modelo de produção e disseminação das chamadas “fake news”. No final, são negócios: a calúnia tem rentabilidade, mesmo sendo eticamente condenável. Quanto mais sensacionalista a notícia é, melhor para os que lucram politicamente e financeiramente com esse tipo de negócio espúrio. Assim, a busca por audiência coloca os parâmetros éticos de ponta cabeça, em uma espécie de vale tudo por popularidade e dividendos eleitorais.
Quando as novas tecnologias são usadas para atualizar velhos preconceitos, não são poucos os rótulos e adjetivos depreciativos que aparecem, como vejo em minhas páginas na internet, alimentados por perfis falsos, anônimos e robôs. Por trás deles existem pessoas operando, bloqueando a livre interação e o debate democrático de ideias.
Tão grave e preocupante quanto o que acontece nas mídias sociais é o que acontece na política institucional. Durante a votação e discussão do Código Florestal, em 2011, estive no Congresso para pedir aos deputados que evitassem os retrocessos na legislação ambiental brasileira. Da tribuna, o deputado relator acusou meu marido de “fraudar contrabando de madeira”, sob aplausos daqueles que defendiam a anistia aos crimes ambientais. Assistindo do plenário, como cidadã e sem mandato parlamentar, não pude responder diretamente. Sofri o ataque sem ter direito de resposta.
O subtexto daquela acusação leviana era mais evidente que o texto principal, ao passar a ideia de que meu compromisso com as causas socioambientais não era genuinamente meu, e de que por trás deveria haver algum homem que me manipulava.
Mas em reação à menção mentirosa e caluniosa, não tive dúvidas. Entrei com uma representação no Ministério Público Federal pedindo a investigação das acusações que haviam sido proferidas contra meu marido. Se havia crime, a justiça poderia comprovar. Não houve nenhuma surpresa quando o parecer da Procuradoria Geral da República descartou a denúncia da existência de qualquer fato delituoso que pudesse ser investigado.
Tentam aviltar minha trajetória de vida e meu trabalho de décadas comprometido com a agenda socioambiental fazendo repetidamente o uso dessa mentira na internet. Perante os “donos da verdade”, pouco importa o trabalho das instituições da Justiça atestando que “não há um único elemento que confira votos de verossimilhança aos fatos noticiados”.
A participação das mulheres na política, por sua forma singular de perceber o mundo e por seu lugar de fala, pode ajudar a conter e diminuir esses casos de abuso, violência, assédio e desrespeito.Mas mesmo ocupando funções públicas não estamos imunes a isso. Quando fui eleita senadora pela primeira vez, em 1994, houve uma tentativa de folclorização debochada do meu mandato como ex-seringueira recém-chegada em Brasília, por parte dos eternos incomodados com o que não é espelho.
Convivo com esse mal-estar da invisibilidade, ou da visibilidade ridicularizada, há muito tempo. E sei, por experiência própria, como a violência contra as mulheres na política representa uma ameaça séria e crescente para a democracia. A crise de representação da política está diretamente atrelada à interdição de outras vozes e discursos na esfera pública, em uma tentativa carrasca de pintar de herética o surgimento de toda palavra nova.
Quando o poder deixa de ser exercido com as pessoas para ser exercido sobre elas, deturpa-se a própria natureza da atividade política. Quando o desapreço pelo exercício da alteridade disputa instaurar-se como regra, abre-se  o perigoso caminho pelo qual marcham, sem escrúpulos, os que se arvoram o direito de decretar destinos, eliminar as diferenças, usurpar a construção coletiva e cumulativa da verdade.
Recuperar o espaço do debate democrático na perspectiva do diálogo é um desafio urgente do nosso tempo. E nós mulheres temos um papel importante a cumprir nessa direção. Por mais que preguem nosso sumiço, nossa persistente e incômoda presença é a melhor forma de não compactuar com aqueles que tentam reduzir a singularidade de nossa forma de ajudar a inventar e dar sentido ao mundo, à mesmice de suas vontades.
Professor Edgar Bom Jardim - PE