500 mil mortes por covid-19 no Brasil em 15 meses de pandemia.
O número por si só já diz muito. E desde o começo da pandemia temos comparado a situação do Brasil com outros lugares do mundo para tentar dimensionar a tragédia.
Cada tipo de cálculo tem suas limitações, mas em todos eles o Brasil aparece entre os 10 países onde mais morreu gente por covid.
Só para ter uma ideia, o Brasil tem 2,7% da população do planeta e atualmente concentra 30% das mortes pela doença no mundo inteiro.
O número de 500 mil mortes esconde um monte de diferença em relação a outros países, como o tamanho da população e a quantidade de idosos em relação à população total.
Ou seja, país com 200 milhões de habitantes tende a ter mais mortes por covid do que uma nação com uma população de 2 milhões.
Além disso, a covid-19 mata mais idosos em qualquer lugar do mundo. Então, ao compararmos o impacto da doença em dois países com a mesma população, aquele que tiver mais idosos tenderá a ter mais mortes. Mas há um monte de outros fatores que influenciam essas comparações.
Por outro lado, a comparação de mortes por 100 mil habitantes, que costuma ser usada por quem minimiza a tragédia no Brasil ou a relativiza ante um suposto impacto da maior da doença em países europeus, também ignora que as nações têm diferentes proporções de idosos.
Veja abaixo quatro maneiras de comparar o impacto da pandemia no Brasil e em outros países.
Mortes em excesso, acima da média histórica? Brasil entre os 10 primeiros
As chamadas "mortes em excesso" são a soma do número de mortes por todas as causas que supera a média histórica em um determinado período. Esse indicador não costuma sofrer variações grandes de um ano para o outro — apesar de haver grandes variações sazonais (julho costuma ser o mês com o maior número de mortes no Brasil). Em caso de grande variação, não há outra explicação para a diferença que não seja o coronavírus.
Mas há limitações em torno dessas análises. Muitos países não têm esse dados históricos, e parte daqueles que têm não disponibilizam dados tão detalhados, atualizados ou confiáveis. Além disso, não há uma grande instituição, como a Universidade de Oxford ou a Organização Mundial da Saúde (OMS), compilando esses dados.
De todo modo, há diversas iniciativas que buscam contornar esses obstáculos para possibilitar comparações entre países e de um próprio país com sua série histórica. Em geral, esses levantamentos apontam dados mais ou menos parecidos entre si.
O jornal britânico Financial Times, por exemplo, reuniu os dados mais recentes de 60 países, incluindo os registros de cartórios brasileiros. O líder é o Peru, com 122% de excesso de mortes. Ou seja, o número de mortes é o dobro do que se esperaria sem uma pandemia. O Brasil aparece em 9º lugar, com 34% mais mortes do que se esperava.
O estatístico Ariel Karlinksy, da Universidade Hebraica (Israel), e o especialista em aprendizado de máquina Dmitry Kobak, da Universidade de Tubinga (Alemanha), fizeram um levantamento envolvendo 95 países. O líder continua sendo o Peru, com 148% de mortes em excesso.
O Brasil surge em 7º, com 36%. Eles calculam que até 31 de maio de 2021 o país teve 499 mil mortes a mais do que se esperava, segundo a média histórica nacional. O número é equivalente ao total de mortes por covid até meados de junho, segundo o Ministério da Saúde: 488 mil.
Segundo seus cálculos, 169 países de um total de 178 (ou seja, 95%) tiveram uma taxa menor do que a do Brasil em mortes por covid-19, quando se comparam não só os números absolutos, mas o tamanho da população e os óbitos em cada faixa etária.
Isso quer dizer que, caso em todos esses países os cidadãos tivessem morrido na mesma proporção, por sexo e por idade, em que morreram no Brasil, só nove deles estariam em uma situação pior do que a brasileira — ou seja, nessa comparação, registraram mais mortes do que teriam tido. Sete deles são latino-americanos.
São eles: Peru, México, Belize, Bolívia, Equador, Panamá, Macedônia do Norte, Colômbia e Irã.
Hecksher ressalta que "comparações internacionais são quase sempre sujeitas a diferenças entre os métodos de apuração dos indicadores de cada país e os padrões de erro cometidos", mas "é necessário lidar com os dados disponíveis e buscar a melhor forma de compreender o que eles informam dadas as limitações de cada tipo de comparação".
Quantas mortes em números absolutos? Brasil em 2º lugar
O marco de 500 mil mortes por covid, atingido agora pelo Brasil, não leva em conta o tamanho da população ou a quantidade de idosos, como explicado acima, mas ele é bastante simbólico.
Mas a tendência é que o Brasil ultrapasse os EUA nos próximos meses porque o país norte-americano tem conseguido controlar o avanço da pandemia e ampliado a vacinação de sua população.
Especialistas brasileiros apontam, no entanto, que o Brasil está mais perto de se tornar líder no ranking mundial de mortes do que parece.
Análises apontam que em meados de junho o Brasil já pode ter ultrapassado a marca de 600 mil mortes por casos confirmados ou suspeitos de covid-19, 100 mil a mais que os dados do Ministério da Saúde. Essa diferença ocorre por causa da demora para inserir dados das mortes no sistema nacional. A correção desse atraso permite, portanto, "prever o agora" (nowcasting) e ter uma imagem menos distorcida da real situação atual do país.
Quantas pessoas morrem a cada 100 mil ou 1 milhão de habitantes? Brasil em 2º lugar
O segundo indicador que mais costuma ser usado para comparar a quantidade de mortes por covid do Brasil em relação a outros países é aquele que leva o tamanho da população sem ponderar quantidade de idosos, por exemplo.
Há levantamentos que apresentam o número de mortes a cada 100 mil habitantes ou a cada 1 milhão de habitantes.
A Universidade Johns Hopkins (EUA) afirma que o Brasil é o 2º com mais mortes por 100 mil habitantes entre os 20 mais afetados ao longo da pandemia inteira.
São eles: Peru, Brasil, Argentina, Colômbia, EUA, México, Romênia, Chile, Paraguai e Bolívia.
Por outro lado, a Universidade de Oxford (Reino Unido) apresenta uma comparação parecida, mas sobre dados mais atuais, e não relação à pandemia inteira. Nesse caso, o Brasil aparece com a 7ª pior média de mortes por 1 milhão de habitantes.
Dos 10 primeiros, 9 estão nas Américas.
São eles: Paraguai, Uruguai, Suriname, Argentina, Colômbia, Peru, Brasil, Trinidad e Tobago, Bahrein e Bolívia.
Os bonjardinenses têm mais uma preocupação além de vivenciar uma atmosfera de tristeza com tantas mortes de pessoas conhecidas, de amigos e familiares vitimados pela pandemia do novo Coronavírus.
Além de conviver com a falta de trabalho, alta abusiva dos preços das coisas, aumento do preço do gás de cozinha, da luz, inflação, falta de alimentos na mesa de muitas famílias, também precisamos nos preocupar com a ameaça da dengue, chikungunya e de um novo vírus da morte.
O Governo Municipal informa a toda população do campo e da cidade e aos demais moradores de municípios da região que foi detectada a circulação da variante P.1 em amostras coletadas em Bom Jardim e outros municípios do agreste.
É necessário redobrar os cuidados, usar sempre a máscara, lavar sempre as mãos com água e sabão, manter o distanciamento social, cuidar bem dos alimentos, fazer sempre a limpeza dos ambientes de casa e do localização de trabalho, não ficar circulando nos ambientes públicos e particulares sem necessidade, evitar ao máximo fazer aglomerações, evitar pegar em dinheiro. Quem não tomou a segunda dose da vacina deve voltar ao posto de vacinação com urgência.
Comerciantes, feirantes, prestadores de serviços, funcionários públicos devemos ter o máximo de cuidado com os ambientes de trabalho, os instrumentos de trabalho, mobiliários e objetos de uso pessoal.
A prefeitura precisa instalar pias, lavatórios urgente em locais públicos. Feirantes precisam vender os produtos usando máscara, não expor alimentos no chão. Mercado e Sanitário Público necessitam receber reforço na limpeza. Toyoteiros e motoristas de carros de lotação devem usar máscaras, fornecer álcool aos passageiros. Todos os funcionários de mercadinhos, lojas, farmácias, salão de beleza devem usar máscara sempre, trocar a máscara várias vezes ao dia. Os clientes devem ter sempre álcool para higienizar as mãos para evitar infecções.
Funcionários da coleta do lixo devem usar máscara sempre, lavar as mãos sistematicamente. Vacinadores precisam mostrar a vacina, a seringa antes e depois de aplicar no braço das pessoas. Medida protocolar correta da lisura, ética e transparência.
A população precisa fazer sua parte para amenizar os problemas. Os trabalhadores da saúde estão cansados de tanto trabalho, de tantas batalhas para salvar vidas. Sozinho o governo municipal não terá condições de amenizar a situação que é muito grave.
Ainda há gente que é contrária ao uso de Máscara. Fuja dos comentários dos negacionistas loucos e fanáticos que apregoaram a desinformação em relação a gravidade da pandemia.
É preciso tomar a vacina, tomar todos os cuidados com a limpeza do corpo da casa, do ambiente de trabalho, pedir a Deus pela vida e saber votar contra os políticos coveiros na próxima eleição. Já são quase meio milhão de mortos no Brasil. A morte pelo Coronavírus poderia ter sido evitada para centenas de milhares de brasileiros se não fosse a péssima gestão do presidente Bolsonaro.
Dos 493 casos graves notificados no Agreste Setentrional, desde o início da pandemia 452 resultou na morte dos pacientes. Ao prevalecer esta média anual teremos mais gente morrendo em Bom Jardim em 2021. Como explicar tanta gente que insiste em não usar máscara nas ruas, nas praças, nos mercados, nas lojas, nos carros de lotação, pessoas fazendo festinhas em lajes, no quintal, em ambientes "secretos". Por que tanta máscara no queixo.
Não é correto só colocar a culpa na administração municipal se o povo não colabora, não faz sua parte. O município não pode ficar parado diante de algumas situações ou repetir erros da gestão passada.
Nesta segunda-feira (24), o Governo de Pernambuco anunciou novas medidas restritivas para diferentes regiões do Estado. Confira:
Na Macrorregião 1, que contempla a Região Metropolitana do Recife e cidades da Zona da Mata, apenas atividades permitidas poderão funcionar nos finais de semana. Durante a semana, permanece o esquema atual, com fechamento às 20h. Da próxima quarta-feira (26.05) até o dia 6 de junho, os 53 municípios das Gerências Regionais (Geres) IV e V – que têm como cidades polo Caruaru e Garanhuns – no Agreste, e mais 12 cidades da Geres II, com sede em Limoeiro, entrarão em quarentena rígida também nos dias de semana.
Nas Macrorregiões 3 e 4 – ambas no Sertão do Estado – permanece o funcionamento das atividades em geral até 20h, de segunda a sexta, e até 18h nos finais de semana. De acordo com o pronunciamento do governador Paulo Câmara, a aceleração exponencial da contaminação pela Covid-19 no Agreste do Estado resultou em um aumento de ocupação em todo o sistema de saúde nas últimas semanas. “A consequência direta disso é mais tempo entre a solicitação de um leito de UTI e a transferência dos pacientes para uma vaga de terapia intensiva”, explicou.
Além destas ações, novas medidas sanitárias foram tomadas: mais 30 leitos de UTI serão abertos nesta semana, nos municípios de Caruaru, Bezerros e Garanhuns. Também serão distribuídos cerca de 100 concentradores de oxigênio para incrementar a capacidade de atendimento nas unidades locais de pronto-atendimento do Agreste. Haverá ainda a entrega, para todo o Estado, a partir desta terça (25.05), de um novo lote com 200 mil máscaras, e serão repassados R$ 4 milhões para ações de assistência social. Por fim, o governador anunciou também a ampliação das ações de fiscalização da Polícia Militar (PMPE) e do Procon-PE.
#PraCegoVer#PraTodoMundoVer Card com o texto centralizado: Governo de Pernambuco intensifica restrições para conter aceleração da Covid-19.
Cidades da 2ª Geres enquadradas na medida:
Bom Jardim, Casinhas, Cumaru, Feira Nova, João Alfredo, Limoeiro, Machados, Orobó, Passira, Salgadinho, Surubim e Vertente do Lério.
Pela primeira vez desde o início da pandemia da Covid-19, as internações em UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) de pessoas com menos de 40 anos são maioria absoluta.
Houve ainda um salto expressivo no número de pacientes graves com necessidade de ventilação mecânica e que não apresentam nenhuma comorbidade (como obesidade ou diabetes).
Os dados sugerem não apenas uma mudança do perfil dos doentes que necessitam de UTI, mas um agravamento do quadro geral dos pacientes em relação aos meses anteriores.
Em março, 52,2% das internações nas UTIs do Brasil se deram para pessoas até 40 anos; e o total de pacientes que necessitaram de ventilação mecânica atingiu 58,1%.
Ambas as taxas são recordes, segundo dados da plataforma UTIs Brasileiras, da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira).
No caso da necessidade de aparelhos de ventilação, houve salto de quase 40% em relação ao patamar do final do ano passado.
Entre setembro de 2020 e fevereiro deste ano, o total de internados em UTIs que necessitavam desse tipo de equipamento variou entre 42% e 48%.
Já os pacientes graves sem comorbidades que agora acabam na UTI são praticamente 1/3 do total –até fevereiro os doentes graves sem condições adversas prévias eram 1/4 dos casos.
O novo marco da epidemia no Brasil sugere pelo menos três conclusões, segundo Ederlon Rezende, coordenador da plataforma UTIs Brasileiras e ex-presidente da Amib:
1) as novas variantes do vírus devem ser mais agressivas; 2) a falta de cuidado de parcelas da população pode estar afetando sobretudo os mais jovens; e 3) a imunização dos mais velhos tem ajudado a conter os casos graves entre os idosos.
Segundo a pesquisa, antes de os jovens serem a maioria dos internados nas UTIs em março, entre dezembro de 2020 e fevereiro último os até 40 anos representavam 44,5% do total -percentual quase idêntico ao de setembro a novembro.
De lá para cá, o aumento das internações nessa faixa mais jovem foi de 16,5%.
Como a imensa maioria dos brasileiros tem menos de 40 anos, o incremento, embora possa parecer modesto, engloba milhões de pessoas. A tendência sugere ainda que há espaço para um agravamento da situação.
No mesmo período de comparação (e na contramão), as internações de pessoas acima de 80 anos despencaram 42%. Elas representam agora apenas 7,8% do total, pouco mais da metade do que vinha sendo registrado anteriormente.
Na faixa de idades intermediárias, as internações em UTI permaneceram mais ou menos no mesmo patamar, somando cerca de 40% do total.
O levantamento da Amib é feito a partir de uma amostra expressiva, englobando 20.865 leitos de UTI no país, o que representa cerca de 25% de todas as unidades, sendo 2/3 privadas e 1/3 públicas.
"Embora os dados mostrem que a vacina pode estar tendo o efeito esperado entre os mais velhos já imunizados, eles também revelam que, ao se acharem imbatíveis, os jovens, muitos sem qualquer comorbidade, são agora as maiores vítimas da epidemia", afirma Rezende.
Além de estarem se expondo mais em baladas e reuniões, há levantamentos e relatos de médicos na linha de frente dando conta de que os mais jovens, quando na UTI, ocupam por mais tempo os leitos -diminuindo o giro de vagas e contribuindo para saturar o sistema, como tem-se visto.
Com as novas variantes do vírus (como a P1), no entanto, não só as festas, frequentemente apontadas como as principais vilãs, podem estar por trás do aumento da infecção entre os mais jovens.
Com o fim do auxílio emergencial pago em 2020 (e que voltou só em abril e em proporção muito menor), muitas pessoas foram obrigadas a circular novamente atrás de alguma renda, sobretudo os informais -cerca de 34 milhões de pessoas, ou quase 40% da força de trabalho.
Em 2020, o auxílio emergencial foi pago entre abril e dezembro (R$ 600 ao mês a 66 milhões de pessoas) e foram empregados R$ 293 bilhões. A nova rodada (R$ 250 a 45,6 milhões) está prevista para durar apenas quatro meses e somar R$ 44 bilhões -15% do valor do ano passado.
No final de 2020, o contingente de informais na economia ainda era de 4,7 milhões de pessoas a menos do que um ano antes. Isso pode ser explicado porque, em função do auxílio emergencial robusto, muitos não estavam precisando sair de casa atrás de alguma renda.
Neste começo de 2021, isso mudou dramaticamente, levando milhares de informais a circularem novamente no pior momento da epidemia no Brasil.
O Brasil alcançou nesta quarta-feira (23/3) a marca de 300 mil mortes por covid-19, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Em pouco mais de um ano desde a confirmação do primeiro caso da doença no país, em 26 de fevereiro de 2020, o Brasil precisou lidar não só com um vírus com capacidade de transmissão inédita, mas também com novos e velhos problemas sociais e políticos que agravaram a resposta à pandemia.
Esta trágica combinação alçou o Brasil ao segundo lugar de país com mais mortes por covid-19 no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, onde 544.922 pessoas já morreram pela doença.
O tamanho da população de ambos países poderia explicar parcialmente a liderança em números absolutos. Entretanto, a posição do Brasil em termos relativos também é significativa: está no 23º lugar na taxa de total de mortes por um milhão de habitantes, segundo a plataforma Our World in Data.
Para os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, ignorar e subestimar a realidade são fatores que estão na raiz de todos os problemas que levaram o país ao colapso.
E essa negação encontrou ressonância nos gestores públicos de cidades, estados e governo federal, na comunidade médica e na própria população brasileira.
"O negacionismo é o eixo central que permitiu a sucessão de erros e a total ausência de preparação para um momento como este", analisa a enfermeira Ethel Maciel, doutora em epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo.
Presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a médica Gulnar Azevedo e Silva avalia que particularmente a falta de protagonismo do governo federal foi uma posição "deliberada".
"Um ano já era suficiente para se ter aprendido alguma coisa para a gestão pública da pandemia, mas a descoordenação foi deliberada: não há uma preocupação do governo federal para resolver essa crise."
Já o médico Marcio Sommer Bittencourt, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), chama a atenção para a falta de medidas de prevenção contra o vírus no país.
"O pouco que fizemos, em grande extensão, foi minado pelas lideranças federais, que nem sequer estimularam as medidas mais básicas de proteção", diz.
Confira a seguir seis fatores que ajudam a explicar a escalada e o pior momento da pandemia de covid-19 no Brasil.
1. Trocas no comando do Ministério da Saúde
Desde que a pandemia começou, o Brasil teve quatro ministros da saúde diferentes: Luiz Henrique Mandetta (até 16 de abril de 2020), Nelson Teich (de 17 de abril a 15 de maio de 2020), o general Eduardo Pazuello (de 2 de junho de 2020 a 15 de março de 2021) e Marcelo Queiroga (o atual ocupante do cargo).
"Que país aguenta isso, quatro ministros em um ano durante uma pandemia?", critica a médica Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Abrasco e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
"Essa troca de ministros é um atraso enorme, pois este é um momento em que todo mundo precisava estar trabalhando em plena capacidade. O ministro precisa conhecer todo mundo, os processos internos, mas tivemos pessoas erradas no lugar errado. Não precisa ser médico para ser um bom gestor, mas tem que conhecer o SUS (Sistema Único de Saúde), valorizar as experiências anteriores, ter competência", afirmou, mencionando particularmente o mandato de Pazuello, um militar da ativa.
Mandetta e Teich foram demitidos após divergências com Jair Bolsonaro — um dos principais motivos da discórdia era a defesa, pelo presidente, da adoção de drogas como hidroxicloroquina e azitromicina como "tratamento precoce" contra a covid-19.
Por um lado, Bolsonaro via (e continua vendo) esses remédios como uma possível solução para a pandemia, apesar das evidências científicas mostrarem justamente o contrário.
Por outro, os dois ministros, ambos com formação médica, resistiam ao chamado "kit-covid" e acabaram deixando o cargo após um intenso processo de desgaste.
Já o general Pazuello se manteve na liderança do ministério por nove meses e foi efetivado no cargo por conta de sua experiência em logística que, na avaliação do governo federal, seria importante num momento com recursos escassos e a chegada das primeiras doses das vacinas.
Mas, na prática, aconteceu o contrário: episódios como a falta de oxigênio na cidade de Manaus, no mês de janeiro de 2021, e a demora para a compra e a distribuição das vacinas acabaram arranhando a imagem do então ministro, que foi substituído em 15 de março pelo médico Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
No discurso oficial, porém, o manejo da pandemia feita por Pazuello é considerado bom. "[Marcelo Queiroga] tem tudo no meu entender para fazer um bom trabalho, dando prosseguimento a tudo que o Pazuello fez até hoje. A parte de gestão foi muito bem feita por ele [Pazuello] e agora vamos partir para uma parte mais agressiva no tocante ao combate ao vírus", discursou Bolsonaro na frente do Palácio da Alvorada, em Brasília, na noite do dia 15 de março, ao anunciar a substituição ministerial.
Embora tenha feito inúmeras manifestações públicas em prol das vacinas, do uso de máscaras e do distanciamento social, Queiroga já deixou claro que pretende seguir a política estabelecida pelo governo federal.
Resta saber como ele lidará nas próximas semanas com questões polêmicas e sensíveis, decisivas para a demissão dos seus antecessores, como a prescrição precoce de remédios sem eficácia e a resistência do Planalto à adoção de medidas mais rígidas, como o lockdown.
2. Falta de uma política centralizada e de medidas 'pra valer'
A troca de ministros é apenas a ponta do iceberg de um problema sistêmico, que envolveu setores técnicos do Ministério da Saúde e culminou em exonerações e pedidos de demissão de muitos servidores de carreira.
Essas mudanças administrativas tiveram influência na criação de políticas públicas centralizadas pelo governo federal na pandemia — muitos desses funcionários tinham experiência com a condução de outras crises de saúde pública do passado.
Além disso, desde a decisão por endurecer ou flexibilizar medidas de isolamento à compra de vacinas, as respostas dos governos municipais, estaduais e federais à pandemia têm sido consideradas descoordenadas — avaliação não só de especialistas, mas também dos próprios governantes.
No início de março, secretários estaduais de saúde publicaram uma carta pedindo planos nacionais de comunicação e de recuperação econômica, além de um pacto nacional para uma reação integrada à pandemia.
"A ausência de uma condução nacional unificada e coerente dificultou a adoção e implementação de medidas qualificadas para reduzir as interações sociais que se intensificaram no período eleitoral, nos encontros e festividades de final de ano, do veraneio e do carnaval", afirmou carta assinada por Carlos Lula, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
O fechamento do comércio e a restrição da circulação de pessoas pelas ruas, medidas conhecidas de forma genérica como lockdown, se mostraram eficazes em vários países que conseguiram controlar o número de casos e mortes por covid-19, como China, Taiwan, Coreia do Sul e Noruega.
Já o Brasil nunca teve um lockdown nacional de verdade. Muitas cidades até lançaram regras mais restritivas, como a proibição de circulação de pessoas em alguns horários do dia (geralmente na madrugada) e limitação do funcionamento do comércio e serviços.
Mas essas políticas variaram muito de acordo com a cidade ou o Estado — e tem muito prefeito que decidiu desobedecer e ignorar as normas do governo estadual ou não estabelecer uma fiscalização mais rígida para coibir as aglomerações e festas clandestinas.
Medidas de lockdown precisam ainda vir juntas de uma série de outras políticas e estratégias, como auxílio financeiro e programas de testagem e rastreamento (que, aliás, serão tema de nosso próximo tópico).
Ou seja, ações cujo protagonismo natural seria do governo federal.
"O SUS é concebido com a integração das esferas federal, estadual e municipal. Mas em uma pandemia, em que o Brasil inteiro é afetado, quem tem que liderar o processo é o Ministério da Saúde. Os Estados e municípios precisam do governo federal, não só para maior financiamento, mas na compra de vacinas e medicamentos, em que o ministério teria condições de fazer melhores acordos com a indústria de outros países", aponta Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Abrasco.
O governo também nunca lançou campanhas massivas de comunicação que incentivassem as medidas de proteção contra a covid-19. Foram poucas as falas sobre uso de máscara, distanciamento social, necessidade de permanecer em casa sempre que possível, lavagem de mãos…
Na contramão, Bolsonaro chegou até a lançar dúvidas sobre muitos dos cuidados validados cientificamente e que contam com o respaldo de entidades como a Organização Mundial da Saúde e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).
Um dos alvos mais contumazes do discurso presidencial foram as máscaras:
"Começam a aparecer estudos aqui, não vou entrar em detalhes, sobre o uso de máscara, que, num primeiro momento aqui, uma universidade alemã fala que elas são prejudiciais a crianças e levam em conta vários itens aqui como irritabilidade, dor de cabeça, dificuldade de concentração, diminuição da percepção de felicidade, recusa em ir para a escola ou creche, desânimo, comprometimento da capacidade de aprendizado, vertigem, fadiga... Então, começam a aparecer aqui os efeitos colaterais das máscaras, tá ok?", afirmou o presidente, numa transmissão ao vivo em 25 de fevereiro de 2021.
3. Ausência de programa de testagem e rastreamento de contatos
Desde abril de 2020, a OMS adotou três verbos para simbolizar as principais estratégias para conter a pandemia: isolar, testar e rastrear.
A covid-19 tem uma particularidade que complica demais o seu controle: uma parcela considerável de pacientes não apresenta sintomas da enfermidade, ou demora alguns dias para manifestar incômodos suspeitos.
Mesmo no período em que não há indício algum de doença, esses indivíduos são capazes de transmitir o vírus a outras pessoas, sem saber que também estão infectados. Isso, claro, complica demais o controle dos casos e facilita o espalhamento do agente infeccioso.
Mas o diagnóstico sozinho não é suficiente. Se o resultado do teste for positivo, é essencial fazer o isolamento do paciente e realizar o chamado rastreamento de contatos.
Em resumo, todos aqueles indivíduos que estiveram próximos de alguém doente deveriam ser avisados para tomarem os cuidados básicos e fazerem uma quarentena.
Assim, é possível quebrar as cadeias de transmissão e impedir que o vírus se espalhe ainda mais por toda a comunidade.
Essa foi a estratégia que permitiu aos países bem-sucedidos contra a covid-19, como Nova Zelândia, Taiwan e Coreia do Sul, normalizarem a situação com muito mais rapidez.
"Já a atuação do Brasil nesse aspecto foi nula. Não fizemos testagem para identificar e isolar os casos ou orientar quarentena para outras pessoas que tiveram contato próximo com alguém infectado", observa Bittencourt.
O médico destaca que, no atual contexto da pandemia no Brasil, lançar mão de um programa desses é praticamente impossível.
"Não dá para fazer busca ativa de contatos num momento em que temos 100 mil casos por dia. Seria necessário falar e orientar 500 ou 600 mil pessoas a cada 24 horas", calcula.
4. Insistência em tratamentos ineficazes
No primeiro semestre de 2020, até fazia sentido ter dúvidas e esperanças sobre o efeito benéfico de remédios como hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e nitazoxanida contra a covid-19.
Mas, com mais de um ano de pandemia, esse já é um assunto superado na maior parte do mundo.
Porém, no Brasil, o tema continua a render. Em uma transmissão ao vivo na última quinta-feira (18/03), Bolsonaro voltou a defender essa abordagem farmacológica:
"No meu prédio, as informações que tenho é que mais de 200 pessoas pegaram, fizeram algum tipo de tratamento inicial e deu certo. O tratamento inicial é bem-vindo, é uma esperança. Não vamos simplesmente remar contra, falar mal", declarou.
E não é só ele: alguns planos de saúde continuam a distribuir esses kits com remédios e vitaminas comprovadamente ineficazes.
Essas recomendações estão embasadas em estudos rigorosos, que avaliaram o poderio desses fármacos nas várias fases da infecção pelo coronavírus, e não encontraram resultado algum que justificasse a sua adoção.
"Esse é um tema cansativo. Não existe tratamento precoce contra a covid-19. Se existisse, todos os países do mundo estariam agora anunciando essa descoberta com a maior felicidade do mundo", supõe Maciel.
"O que temos são as estratégias precoces, que envolvem testar, isolar, monitorar os pacientes, ter um auxílio emergencial decente... Mas o Brasil não parece estar interessado em fazer essas coisas", completa.
5. Demora na negociação das vacinas
Em agosto e setembro de 2020, a farmacêutica Pfizer entrou em contato com o governo federal para negociar a venda de 70 milhões de doses de sua vacina, que naquele momento estava caminhando para a fase final dos estudos clínicos.
A empresa, porém, não recebeu nenhuma resposta.
O segundo semestre de 2020 também foi marcado por uma série de declarações polêmicas de Bolsonaro, que lançou dúvidas sobre a eficácia dos imunizantes e até "comemorou" a interrupção momentânea dos testes da CoronaVac, da Sinovac e do Instituto Butantan, em novembro, após a morte de um voluntário.
"Morte, invalidez, anomalia… Esta é uma vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos a tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser comprada. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", publicou em suas redes sociais.
Passados alguns dias daquele episódio, as pesquisas foram retomadas após os cientistas se certificarem de que o óbito nada tinha a ver com o imunizante: os testes prosseguiram normalmente e a CoronaVac foi aprovada em caráter emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em janeiro de 2021.
No pronunciamento feito pelas cadeias de rádio e televisão na noite de ontem (24/03), Bolsonaro disse que 2021 seria o ano da vacinação no Brasil. Mas, até agora, a campanha está bem devagar, segundo os especialistas.
E, por mais que o país tenha garantido recentemente mais de 500 milhões de doses de seis fornecedores diferentes, os cronogramas de entrega e distribuição estão sofrendo sucessivos atrasos, que comprometem qualquer planejamento nas esferas federal, estadual ou municipal.
"Nós temos um Programa Nacional de Imunizações do qual devemos nos orgulhar. Mas neste momento, infelizmente, estamos envergonhados com o que estão fazendo com ele", critica Maciel.
A especialista destaca que, até agora, não foi lançada nenhuma comunicação oficial sobre as vacinas contra a covid-19 em televisões, rádios, mídias sociais e outros meios.
"Pra mim é inacreditável que tenhamos chegado nesse nível. Todos os projetos de imunização de sucesso do passado foram precedidos de campanhas de informação", lamenta.
6. Pouco investimento em vigilância genômica
O surgimento de novas variantes do coronavírus não acontece em locais onde a pandemia está sob rédea curta.
O vírus sofre mutações onde circula com mais facilidade e sem controle algum, como foi o caso de Manaus.
A nova cepa detectada no início do ano na capital do Amazonas é mais contagiosa e pode até infectar de novo quem teve covid-19 anteriormente.
O Brasil não tem um programa amplo e bem estruturado de vigilância genômica, um tipo de serviço especializado em analisar os vírus em circulação para encontrar possíveis mutações preocupantes antes que elas se espalhem por vários lugares.
Já por aqui, não existe nenhuma estatística oficial sobre o assunto, mas especialistas estimam que o número de sequenciamentos semanais no país fique no máximo na casa das centenas.
Bittencourt avalia que, por mais importante que a vigilância genômica seja, ela não deve ser a prioridade no momento.
"Mesmo que descubramos novas variantes e elas sejam realmente mais preocupantes, as medidas de controle contra todas elas continuam as mesmas. Estamos num cenário em que precisamos implementar muita coisa antes disso", pensa.
O que fazer agora?
Para o médico da USP, a situação gravíssima da pandemia deixa o Brasil numa espécie de "cobertor curto", em que não há recurso e tempo suficiente para lançar mão de tantas medidas que seriam essenciais.
"Na nossa atual circunstância, ainda vamos ver muita gente se infectar, ser internada e morrer pela doença antes de começarmos a ver alguma melhora. Isso se as medidas necessárias forem adotadas", explica.
De acordo com o especialista, a primeira coisa a se pensar é uma estratégia ampla de testagem, para que seja possível isolar os casos confirmados.
"Também precisamos usar as mídias digitais e físicas, de redes sociais a outdoor, para estimular as pessoas a fazerem isolamento e a usarem máscaras adequadamente, de preferência as mais seguras, como a N95 ou a PFF2", detalha.
Outros passos essenciais envolveriam cancelar eventos de médio e grande porte, em que há aglomerações de pessoas, controlar a entrada de estrangeiros pelos aeroportos e reduzir ao mínimo possível o transporte entre as cidades.
"Por fim, deveríamos controlar a mobilidade das pessoas, orientando para que elas se encontrem pouco e, se necessário, que essas reuniões não aconteçam em locais fechados, com proximidade física e sem o uso de máscaras", finaliza o especialista.