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quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Nilton Mota na Secretaria da Casa Civil

Nova sede da Alepe
Nova sede da AlepeFoto: Henrique Genecy/ Folha de Pernambuco
A confirmação do nome de Nilton Mota para a Secretaria da Casa Civil caiu como uma bomba na Assembleia Legislativa. Nos bastidores, muitos deputados governistas demonstraram profunda insatisfação com a indicação. Se havia críticas à condução política com Antônio Figueira, a irritação foi potencializada pelo fato de Nilton Mota ser deputado estadual licenciado e candidato à reeleição.
Um dos governistas afirmava que Nilton é “reconhecido” por não resolver as demandas dos ocupantes da Casa de Joaquim Nabuco. Afirma que quando consultado diz “tá tudo resolvido”. “Só que nunca nada é resolvido. Agora ele vem para fazer a articulação política. Acredito que a relação da Casa com o Palácio vai piorar muito”, avaliou um governista.
Um outro, afirmando estar muito revoltado, não aceita o fato de a secretaria ter sido entregue a um candidato, que terá seis meses para pavimentar a sua postulação. “É trocar seis por menos seis”.
Um terceiro, fingiu-se de desentendido. “Não há nada confirmado”, repetiu várias vezes. Quando confrontado com a nota oficial, foi suscinto: “Não vou falar sobre isso”.
Durante toda a manhã desta quarta-feira (27), muitos governistas preferiram não atender o telefone. Aguardavam a confirmação da notícia. A partir de 15h15, quando foi divulgada a nota, houve um congestionamento de ligações.
Todas no mesmo sentido: criticar a indicação de Nilton Mota. 
Com Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 26 de setembro de 2017

STF afasta Aécio Neves


 Em maio, a REDE e o PSOL pediram a cassação do senador tucano, mas o pedido foi arquivado. Relembre a lista de senadores que votaram para arquivar o processo - http://bit.ly/2wRFx9K

Os ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) negaram nesta terça-feira 26, por 5 votos a 0, pedido da Procuradoria Geral da República (PGR) para prender o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Mas, por 3 votos a 2, determinaram o afastamento do parlamentar do mandato.
Aécio foi afastado do Senado no dia 18 de maio no âmbito da Operação Patmos, desdobramento da Lava Jato baseado em delações da JBS e que também atingiu Michel Temer (PMDB). Na ocasião, foi divulgado o conteúdo de um diálogo entre Aécio e Joesley Batista, dona da JBS, no qual o senador pede 2 milhões de reais ao empresário para pagar sua defesa na Lava Jato.
Acusada de operar propina para o irmão, a irmã e braço direito de Aécio, Andrea Neves, foi presa, assim como o primo Frederico Pacheco. O ministro Edson Fachin, relator da operação no Supremo, negou o pedido de prisão do senador.
O inquérito foi redistribuído no dia 30 de maio e, na ocasião, Marco Aurélio Mello assumiu a relatoria do caso de Aécio. Em 30 de junho, Mello determinou a devolução do mandato a Aécio Neves. Ao decidir sobre o caso, o ministro contestou os argumentos da PGR de que Aécio atuava para interferir nas investigações.
A volta de Aécio
Em 4 de julho, Aécio retornou ao Senado após a decisão do STF.  Em discurso, ele reafirmou sua inocência e disse ter sido vítima de uma "armadilha" montada pelo empresário Joesley Batista, da J&F, cuja delação premiada fez o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedir a prisão do senador.
"Não cometi crime algum. Não aceitei recurso de origem ilícita. Não ofereci ou prometi vantagens indevidas a quem quer que fosse e tão pouco atuei para obstruir a atuação da Justiça como me acusaram", afirmou Aécio. Sem citar Joesley, o tucano disse que foi "vítima de uma armadilha, engendrada e executada por um criminoso confesso de mais de 200 crimes".
Aécio admitiu que procurou Joesley, mas por motivos pessoais. "Por meio de minha irmã, reitero, ofereci a ele a compra de um apartamento de propriedade de minha família", disse. "Essa venda, sim, me ajudaria a arcar com as novas despesas que passei a ter com advogados", afirmou. Segundo Aécio, ele precisa se desfazer de parte do patrimônio de sua família porque não obteve "jamais, em tempo algum, vantagens financeiras através da política".
Ainda segundo o senador tucano, os dois milhões de reais que pediu a Joesley seriam um empréstimo, que não envolveu dinheiro público ou contrapartidas, e que seria quitado.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Robôs e 'big data': as armas do marketing político para as eleições de 2018

Ilustração com balão de quadrinhosDireito de imagemNIHATDURSUN/GETTY CREATIVE
Image captionFerramentas que estreiam no Brasil na disputa do próximo ano traçam perfil psicológico dos eleitores a partir das redes sociais
A disputa política por influência digital vem ganhando escala no Brasil desde as eleições de 2014 e já prepara terreno para a batalha do próximo ano.
O arsenal virá de empresas como a Stilingue, que varre a internet com um software de inteligência artificial capaz de ler textos em português - já usado para fazer previsões sobre as votações no Congresso -, e da Cambridge Analytica, a polêmica consultoria que trabalhou na campanha de Donald Trump e que desembarca no Brasil neste ano.
Companhias como essas processam toneladas de informação que vêm da rede e de bancos de dados para, por exemplo, mapear os perfis de eleitores. A prática é uma estratégia antiga dos marqueteiros, que sabem que a recepção de conteúdo pelos seres humanos é seletiva - pessoas com orientação progressista dificilmente dão atenção a discursos autoritários, por exemplo - e que, por isso, precisam adaptar o discurso de seus candidatos para elevar seu alcance e, em última instância, conseguir votos.
A diferença é que agora é possível ir além da divisão demográfica e ideológica, da direita e esquerda, e agrupar os brasileiros usando como critérios seus sentimentos - medos, desejos e ambições.

Aprendendo português

Jovens com celular na frente do rostoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAnálise de redes sociais permite traçar perfil psicológico dos eleitores e separá-los em grupos que vão além de direita e esquerda
Batizado de War Room, o software da Stilingue vem sendo construído há quatro anos através do que a ciência da computação chama de "processamento de linguagem natural". Em Ouro Preto (MG), o time de 35 desenvolvedores alimenta o computador com textos em português para ensiná-lo a entender e interpretar a língua, identificando padrões comuns.
Com a tecnologia, eles monitoram redes sociais - Facebook, Twitter, Instagram -, influenciadores e fazem análise do que é publicado na imprensa.
Para a política, as aplicações dessa vigilância robotizada vão desde gestão de imagem do candidato (a ferramenta consegue inclusive fazer reconhecimento facial para identificar memes, que à priori não são capturados nas leituras textuais) a psicometria - a análise de personalidade dos eleitores, útil na formulação do discurso político -, e ao chamado "community management".
Neste último caso, como o programa consegue identificar aqueles que são a favor e contra determinado tema, os candidatos teriam chance de fazer um "corpo a corpo" virtual para tentar, por exemplo, convencer os indecisos.
A empresa tem dois clientes pré-candidatos a cargos do Executivo, que contrataram o "pacote completo", conta seu presidente, Rodrigo Helcer, sem dar maiores detalhes. Com formação na área de administração, o paulistano é sócio de dois mineiros com experiência em computação.
Resultado da votação da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara
Image captionAnálise da atividade dos deputados na rede permitiu previsão da votação da reforma da Previdência na Comissão Especial | Crédito: Agência Brasil
"A inteligência artificial permite que a gente automatize um trabalho que antes era bastante operacional em uma escala muito maior. A mudança é comparável com a invenção do microscópio, que permitiu a descoberta de um mundo completamente novo, que antes era invisível", ele afirma.
Esse tipo de tecnologia vem sendo usada em diversos países - e campanhas políticas - há alguns anos, mas o número de softwares capazes de ler em português, segundo Helcer, ainda é pequeno.
A empresa conta com 50 funcionários em Ouro Preto e dez em São Paulo, cidade que concentra as atividades administrativas. Além da equipe robusta de desenvolvedores, a companhia tem uma relação próxima com polos tecnológicos como o da Universidade de São Paulo (USP), do campus da USP em São Carlos, da PUC do Rio Grande do Sul, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal de Lavras.

Monitor do Congresso

Um dos serviços já prestados aos clientes, que vão da indústria de bens de consumo às assessorias de comunicação, é o monitoramento do Congresso. O acompanhamento diário das atividades virtuais dos 513 deputados federais tem função, por exemplo, de prever resultados de votações na Câmara.
Exemplo recente nesse sentido foi a tramitação da reforma da Previdência na Comissão Especial da Casa. A análise feita a partir da interpretação de entrevistas e manifestações nas redes sociais dos 37 membros acertou o resultado com erro de dois votos.
Reportagem veiculada um dia antes em um jornal de São Paulo, diz Helcer, baseada nas declarações dadas pelos próprios parlamentares aos repórteres por telefone e por e-mail, errou quatro votos.

Brasileiros em 12 versões

Colocar os eleitores no divã é uma das especialidades da Cambridge Analytica. Com escritórios em Londres, Washington, Nova York e, mais recentemente, México, Malásia e Brasil, a empresa de 'big data' por trás da campanha de Donald Trump à Casa Branca no ano passado tem entre os investidores o bilionário Robert Mercer, que apoiou a candidatura do republicano.
A parceria com a brasileira A Ponte Estratégia foi anunciada em março e tem como foco a transferência e a "tropicalização" da metodologia de segmentação psicográfica, que traça o perfil psicológico dos eleitores, diz o marqueteiro André Torretta, à frente da empresa, rebatizada de CA-Ponte.
Esse tipo de análise, ele explica, é diferente do perfil demográfico, que divide os indivíduos por classe social ou grau de instrução, por exemplo, e do perfil ideológico, que posiciona os eleitores no espectro de direita a esquerda.
Trata-se de saber do que as pessoas têm medo, o que as inspira, quais temas rejeitam e quais apoiam para adaptar a mensagem do candidato ao público - estratégia usada por Trump no ano passado.
"O cara pode ser um medroso de direita ou um medroso de esquerda. Com qualquer um desses dois eu vou poder conversar sobre armamento, por exemplo, sobre controle de fronteira", explica Torretta, que espera dividir os brasileiros entre seis e 12 perfis.
O presidente dos Estados Unidos, Donald TrumpDireito de imagemREUTERS
Image captionA campanha de Trump usou 'big data' e psicologia para segmentar os americanos
Questionado sobre seus clientes, ele diz apenas que, "como empresário, vai onde o dinheiro está". "Em 2018 vamos ter umas 60 boas campanhas para governo de Estado e cinco ou sete para presidente."

Zap

O marqueteiro prefere Facebook e Twitter como fontes de informação sobre os eleitores a usá-los como plataformas de comunicação, meios para fazer a mensagem chegar a quem a campanha quer influenciar. A razão disso é, em parte, a própria legislação eleitoral brasileira, que impede que os candidatos paguem por exposição nas redes sociais. "Você é muito mais receptivo que ativo".
Assim, o meio alternativo à TV e ao rádio nas eleições de 2018, ele afirma, será o WhatsApp . "Ele é a grande rede social no Brasil".
Para a cientista política Luciana Veiga, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), o WhatsApp é uma plataforma mais eficiente do que as demais redes para falar aos indecisos, por exemplo. Em sua avaliação, ele passa a sensação de que é mais privado, mais "leve" e de ser um espaço em que se pode compartilhar conteúdo sem necessariamente se posicionar.
"As pessoas buscam estabilidade nas emoções. Muita gente se distancia das redes porque não está disposta a brigar. Os eleitores mais neutros acabam não sendo atingidos pelo Facebook, por exemplo", avalia a professora.

Poluição virtual

A atmosfera mais pesada que frequentemente paira sobre as redes sociais é criada muitas vezes de forma proposital, com o objetivo de manipular opinião, dizem especialistas da área.
Eles alertam, por exemplo, para a disseminação silenciosa dos social bots, perfis controlados por inteligência artificial que se manifestam politicamente e interagem com seres humanos nas redes.
"Muitos são criados para gerar a impressão de que todo mundo fala sobre determinado tópico", diz o professor do curso de ciência da computação da UFMG Fabricio Benevenuto, que alerta para o uso desse tipo de instrumento para espalhar notícias falsas.
Em 2013, seu grupo de pesquisa criou 120 contas-robôs no Facebook e no Twitter. Uma fração pequena foi bloqueada e alguns ganharam destaque a ponto de bater celebridades como Justin Bieber em medidores de influência como o Twitalyzer.
Teclado de computador com a inscrição Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA disseminação de notícias falsas vem sendo observada em eleições de diversos países
"Nossa preocupação é prover cada vez mais transparência, monitorar o espaço online", diz ele, que está atualmente no Instituto Max Planck, na Alemanha. Benevenuto é também consultor da Stilingue, onde desenvolve o núcleo dedicado a detectar e filtrar os bots - que, segundo ele, já foram usados nas eleições de 2014 e de 2016.
Outra zona cinzenta e que também vem protagonizando polêmicas em eleições pelo mundo, diz o pesquisador da Universidade de Washington Daniel Arnaudo, é a coleta, compra e venda de dados pessoais na internet. Na falta de uma lei que regulamente essa prática, muitas empresas negociam informações de usuários que não fazem ideia, quando aceitam seus termos e condições, de que sua privacidade poderia ser compartilhada com outras empresas.
"Existem as informações públicas, que estão nas redes sociais, e tem esse lado 'escuro'", diz o americano, que estuda as leis de cibersegurança brasileiras. A proteção de dados pessoais é tema do Projeto de Lei (PL) 5.276, que está parado na Câmara.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Brasil tem 68 partidos sendo criados

Eleitor anda sob centenas de santinhos
Image captionSe todos os partidos em formação fossem aprovados, o Brasil teria mais de 100 legendas lançando candidatos e recebendo Fundo Partidário | Foto: Ag. Brasil
Juntos, eles são 68. Já têm nome, sigla e estatuto. Alguns têm até hino. Mas, apesar de tudo isso, ainda são partidos em formação.
Para cada um deles ser uma legenda com direito a lançar candidatos e a receber uma fatia do Fundo Partidário, que, no ano passado, atingiu R$ 819 milhões, é preciso apresentar quase meio milhão de assinaturas que devem ser coletadas em pelo menos nove Estados - e de quem não é filiado a nenhuma sigla.
Na lista, tem sigla para todo o tipo de causa. Tem o dos Animais, o Militar, o Frente Favela Brasil, o Nacional Indígena, o da Família Brasileira e até o Movimento Cidadão Comum. Seis deles carregam a palavra "cristão" no nome.
As possíveis novas legendas defendem causas aleatórias que vão da proteção aos animais e ao meio ambiente a pautas específicas como o direito à segurança e defesa dos interesses de servidores públicos e privados e também dos pequenos e microempresários.
Há ainda releituras de legendas como a Arena e a UDN, que ajudaram a escrever a história política do Brasil, disputas por siglas como a Prona, do ex-deputado Enéas Carneiro (1938-2007), e até movimentos como o Conservador, que há mais de 20 anos tenta, sem sucesso, sair do papel.
Dos 68 partidos na fila, apenas dois estão em processo mais adiantado. São eles o Partido da Igualdade (ID), que defende a causa de pessoas com deficiência física, e o Muda Brasil (MB), que tem entre os idealizadores o ex-deputado Waldemar da Costa Neto, ex-presidente do PR e condenado no processo do mensalão.
O número de partidos em formação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mais do que dobrou em dois anos, como tentativa de driblar a legislação eleitoral, que passou a exigir fidelidade partidária dos eleitos a partir de 2007.
Isso porque o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que deputados federais, estaduais, distritais e vereadores podem perder o mandato caso troquem de partido, a menos que migrem para legendas recém-criadas.
Essa regra, contudo, não se aplica a cargos majoritários, ou seja, aos eleitos presidentes da República, governadores, senadores e prefeitos, conforme decisão da corte de 2015.
Se conseguirem o registro, as novas legendas dividirão com as 35 já existentes o auxílio financeiro distribuído pelo TSE, que vem do orçamento federal, de multas e doações.
Poderiam ainda abrigar deputados federais e vereadores já eleitos em seus quadros, que, ao trocarem de legenda, levariam com eles o tempo de TV no horário eleitoral gratuito proporcional aos votos recebidos por esses parlamentares.

Reforma política

As futuras novas legendas, contudo, podem ser as mais afetadas pelas mudanças nas regras eleitorais que estão sendo discutidas no Congresso. Debatida de forma fatiada, a atual reforma política ainda precisa passar pelos plenários da Câmara e do Senado até o 7 de outubro para valer nas eleições de 2018.
Mas a Câmara já aprovou o fim das coligações partidárias a partir das eleições municipais de 2020 e novas regras para distribuir o fundo partidário. Os deputados ainda precisam votar destaques para, em seguida, o Senado analisar as mudanças.
O texto-base que passou na Câmara estabelece a chamada cláusula de desempenho nas urnas já partir da eleição de 2018. Pelas novas regras, só terão acesso à assistência financeira e à propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV os partidos que preencham os seguintes requisitos: obtenham ao menos 1,5% dos votos válidos na eleição para deputados federais, distribuídos por ao menos nove Estados (com mínimo de 1% dos votos em cada um desses Estados); ou elejam ao menos nove parlamentares vindos de pelo menos nove Estados.
As barreiras aumentariam progressivamente até 2030, dificultando ainda mais a atuação de partidos novatos ou dos conhecidos como nanicos, título que a maioria das legendas com pouca ou nenhuma representatividade no Congresso rechaçam.
Se todos os partidos em formação saíssem do papel e fossem parar nas urnas eletrônicas, seria de mais de cem o número de legendas no Brasil. Aumentaria, assim, a concorrência entre as siglas, muitas delas dependentes do Fundo Partidário, em especial depois que as doações de empresas foram proibidas pelo STF.

Ideologia

De acordo com o texto aprovado pela Câmara para o fim das coligações, siglas com afinidade ideológica poderão, a partir de 2020, se unir em federações para disputar eleições para deputados federal, estadual e vereadores.
Se juntas atingirem as exigências da cláusula de desempenho, mantêm acesso ao fundo partidário e ao tempo de rádio e TV. Mas, em contrapartida, serão obrigadas a se manter unidas, atuando como um bloco parlamentar durante toda a legislatura.
Entre os partidos em formação, nem todos decidiram se seriam progressistas ou conservadores nem têm posições definidas sobre, por exemplo, qual deve ser a participação do Estado na economia.
"Obrigatoriamente teremos que nos posicionar em relação a todos os temas, mas isso fica para um momento seguinte, depois que virarmos um partido", diz Alexandre Gorga, presidente do Partido dos Animais.
Registrada em cartório no ano passado, a legenda se autointitula o "primeiro movimento político no Brasil visando a ampla defesa dos animais não humanos em todas as suas representações biológicas". Gorga diz que a sigla conta com o apoio de 102 ativistas veganos, integrantes de mais duas dezenas de ONGs e de protetores independentes em 18 Estados.
Mas o que os motivou a tentar tirar do papel um partido, em vez de defender a causa por meio de ONGs ou movimentos em defesa dos animais?
"Associações já tem muitas. Queremos mudanças que venham debaixo para cima. Estamos cansados de ver os políticos aparecendo de quatro em quatro anos e nenhum deles defendendo realmente a nossa causa", argumenta Gorga, que é funcionário público em Brasília.
Já o Partido Pirata do Brasil, ou simplesmente Piratas, quer "hackear" o sistema político por dentro para mostrar as disfuncionalidades do modelo brasileiro e "buscar o empoderamento popular", diz um de seus representantes, Daniel Amorim.
A possível sigla surgiu no Brasil enquanto movimento no final de 2007, a partir da rede Internacional de Partidos Piratas, que defendem acesso à informação, compartilhamento do conhecimento e transparência na gestão pública.
Questionado sobre se definirem como de direita ou de esquerda, Amorim diz: "Defendemos a democratização da economia e isso dá um bug nas pessoas" diz, emendando que no estatuto do Piratas está previsto ainda a liberdade de expressão, a plena autodeterminação individual e o ativismo hacker.

Dificuldades

Mas Amorim admite que, para um partido de militância como o Piratas, é muito difícil passar por todas as barreiras impostas pela legislação.
Como foi registrada em cartório em 2012, a legenda não precisa, por exemplo, recolher assinaturas em até dois anos - regra imposta pela Justiça Eleitoral para os partidos em formação criados a partir de 2015.Ainda assim, o representante afirma que o processo é caro e os entraves burocráticos, muitos.
"A lei de partidos é vaga, e às vezes falta um entendimento mais consistente por parte do próprio Tribunal Eleitoral. Tudo fica difícil e caro. Conseguir um CNPJ, abrir conta em banco, publicar o estatuto no Diário Oficial foi complicado para nós", diz.
Segundo ele, coletar mais de 460 mil assinaturas, número exigido pelo TSE, é também um desafio para quem não tem dinheiro. Além de informações pessoais, a assinatura precisa estar igual à do título do eleitor do apoiador.
Há mais de 30 anos o fotógrafo e arquiteto Elton Moreira tenta tirar do papel o Partido Conservador. Na sua opinião, no passado era ainda mais difícil conseguir cumprir todas as regras - mas convencer um eleitor a apoiar a criação de um partido está cada vez mais complicado.
"Muitas pessoas resistem e dizem que não querem apoiar o ladrão do futuro", lamenta Moreira, citando a decepção de muitos eleitores com os partidos e os políticos.

Como criar um partido

101
pessoas, em pelo menos 9 Estados, têm que aprovar e assinar um estatuto de criação
  • * Registrar ata de fundação em cartório
  • * Publicar estatuto no "Diário Oficial"
  • * Informar o TSE em até 100 dias
  • * Recolher mais de 490 mil assinaturas em 9 ou mais Estados em até 2 anos
Crédito: Agência Brasil
A ideia de criar o Conservador, que chegou a ser registrado em cartório em 1995 como PACO, renasceu no ano passado, quando Moreira e seus amigos viram que pautas como Estado mínimo e bandeiras contra o aborto, a legalização de drogas e a união homoafetiva passaram a ganhar mais adeptos.
O deputado federal Jair Bolsonaro é o nome que mais combina com as ideias do PACO, afirma ele.
O parlamentar, atualmente filiado ao PSC, está sendo cortejado e apoiado por diferentes legendas já criadas e outras em formação.

O nome é meu

O PEN (Partido Ecológico Nacional) conseguiu seu registro de partido oficial em 2012, mas decidiu mudar de nome para garantir a filiação de Bolsonaro. Adilson Barroso Oliveira, líder da sigla, fez uma consulta virtual para saber se seus apoiadores queriam manter o nome original ou se preferiam Patriota ou Prona.
Venceu Patriota, sugestão do próprio Bolsonaro, diz ele.
Mas na lista de partidos em formação há uma sigla com nome muito parecido: Patriotas. "O nosso é no singular", assinala Oliveira, que diz ter recebido um telefonema do presidente da possível legenda que leva o nome no plural pedindo para reavaliar o nome.
O PEN, contudo, deve levar a ideia adiante e pedir a troca de nome no TSE. "Ter ecológico no nome acaba sendo confundido com radicalismo. Não somos radicais, defendemos o sustentável", justifica Oliveira.
Ele espera poder usar o nome Patriota já na próxima eleição, mas isso depende da agilidade do TSE em aprovar o pedido.
Jair Bolsonaro discute com a deptuada Maria do Rosário no plenário da Câmara
Image captionPEN quer mudar o nome para Patriota para abrigar o deputado federal Jair Bolsonaro (centro) | Foto: Ag. Brasil
Outro partido que ainda nem saiu do papel, mas já apoia Bolsonaro é o Partido Militar, cujo principal mentor é o deputado federal José Augusto Rosa, o Capitão Augusto (PR-SP). A sigla em formação também tem uma relação próxima com a palavra "patriota".
"Assim como os petistas se chamam de companheiro, nós, no Partido Militar, nos chamamos de patriota", diz o parlamentar.
A ideia de criar o Partido Militar, diz Rosa, surgiu em 2010, quando ele se deparou com pesquisas que mostravam que uma grande parcela do eleitorado brasileiro não se identificava com nenhum partido e que um montante expressivo se declarava conservador.
Ele admite que foi criticado por colocar a palavra militar no nome do partido, mas diz que não há motivos para se ter qualquer tipo de receio de associação com o regime militar. Além disso, garante, a legenda não é nem será classista, ou seja, não é para membros das Forças Armadas. Mas vai defender a ordem, o progresso e a segurança pública, afirma.
Em 2010, para criar a legenda, ele conseguiu fazer um encontro virtual, com autorização da Justiça Eleitoral, que reuniu mais de 18 mil pessoas. Agora, corre contra o tempo para coletar as assinaturas que faltam para o Partido Militar poder disputar a próxima eleição.
"Não falta muito", diz, otimista.
Painel no plenário da Câmara
Image captionBrasil tem 35 partidos registrados, 28 deles com representação no Congresso | Foto: Ag. Brasil
Segundo ele, ainda há um esforço no Congresso para mudar a legislação em vigor e jogar para março de 2018 o prazo final para filiação partidária. Atualmente, é preciso se filiar um ano antes para disputar um cargo público.
Apesar de estar à frende de um partido em formação, o deputado acha que a Justiça Eleitoral precisa conter o aumento das legendas que não têm representatividade. "Ter partido é um grande negócio. Dá poder e dinheiro", diz, referindo-se ao que chama de "legendas de aluguel" por negociarem apoios em período eleitoral.
"Não acho que tenham que restringir a criação, mas tem que garantir a representatividade", completa.
Com BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE