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sábado, 10 de março de 2018

Será o fim do Brasil ?


Professor Edgar Bom Jardim - PE

A corrupção e Delfim Netto, o " príncipe e mago da economia" na época da ditadura



O ex-ministro da Fazenda e do Planejamento no regime militar e ex-deputado federal Delfim Netto, de 89 anos, foi o principal alvo da 49.ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada na sexta-feira (9). Denominada Buona Fortuna, a investigação apura suspeita de pagamento de propina a políticos e agentes públicos pelo consórcio de empreiteiras responsável pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. A força-tarefa da Lava Jato afirma que o ex-ministro Antonio Palocci operou o repasse de R$ 15 milhões a Delfim. 

Segundo os investigadores, ficou comprovado que pelo menos R$ 4 4 milhões das empresas vencedoras da licitação foram pagos ao ex-ministro. Os recursos foram repassados por meio de contratos fictícios de consultoria a empresas que têm como sócios Delfim e um sobrinho. O ex-ministro nega e afirma que os serviços foram prestados.

De acordo com o Ministério Público Federal, Delfim ajudou a estruturar um consórcio, em conjunto com o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para participar da licitação das obras de Belo Monte. Os contratos teriam sido direcionados pelo governo federal ao consórcio Norte Energia com o objetivo de gerar propinas a membros do PT e do MDB. A participação do ex-ministro no esquema foi apontada por executivos das construtoras Andrade Gutierrez e Odebrecht que, em delação, confirmaram o pagamento a ele.

“Em virtude dessa ajuda que, na verdade, constituiu uma fraude ao leilão, Delfim Netto foi angariado com o direcionamento das vantagens indevidas que (Antonio) Palocci (ex-ministro dos governos Lula e Dilma) havia pedido ao PT e ao MDB”, afirmou o procurador da República Athayde Ribeiro.

Bumlai também citou Delfim como participante do suposto esquema. Em depoimento à Polícia Federal, o pecuarista afirmou que o consórcio vencedor foi acertado em 2010, durante reunião no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo. Por enquanto, os procuradores não encontraram indícios de pagamento de vantagens indevidas a Bumlai. 

A casa, o escritório e empresas de Delfim foram alvo de mandados de busca e apreensão. No total, foram cumpridos nove mandados em São Paulo e no Paraná.

Conforme as investigações, PT e MDB receberam 1% do total dos contratos de Belo Monte - R$ 14,5 bilhões -, o que daria R$ 60 milhões para cada partido. A força-tarefa afirma que do montante pago aos partidos, R$ 15 milhões foram repassados a Delfim pelas empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e J. Malucelli, todas integrantes do consórcio Norte Energia. 

Segundo os investigadores, as falsas consultorias foram firmadas com as empresas Aspen Consultoria e LS Consultoria, que estão em nome do ex-ministro e de seu sobrinho, Luiz Appolonio Neto. A relação entre as empresas e o ex-ministro eram feitas por Palocci, apontado pelo MPF como o “porta-voz” de Delfim. 

Athayde Ribeiro afirmou que Delfim Netto mentiu à PF ao prestar depoimento em 2016. O ex-ministro foi questionado sobre um repasse de R$ 240 mil pago pela Odebrecht através do setor de Operações Estruturadas, o chamado departamento da propina da empreiteira. “Ele não falou a verdade. Ele tentou mascarar o recebimento da vantagem indevida em supostos contratos de consultoria cujos serviços jamais foram prestados”, disse o procurador. 

No caso da Odebrecht, os pagamentos foram registrados no sistema com o codinome “Professor”. Os delatores da empreiteira afirmaram que não foi prestado nenhum serviço pelo ex-ministro. Em abril de 2016, Flávio Barra, da Andrade, também confirmou em depoimento repasse ao ex-ministro na fase final das negociações para a construção da usina.

Em sua decisão, o juiz Sérgio Moro determinou o bloqueio de R$ 4 4 milhões das empresas e das contas do ex-ministro e de seu sobrinho. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Com Informações do Diário de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Náutico vence o Bahia


O pulso alvirrubro na Copa do Nordeste ainda pulsa. Caso não quisesse se despedir da competição, ainda na fase de grupos, uma vitória diante do Bahia, neste sábado, na Arena de Pernambuco, se fazia necessária. E o objetivo foi alcançado com um placar mínimo. O gol do 1 x 0 foi marcado pelo atacante Robinho, ainda no início do primeiro tempo. É bem verdade que o torcedor do Náutico teve de sofrer bastante durante o jogo – e principalmente pela postura adversária durante toda a etapa final. Com o resultado, o Timbu chegou aos quatro pontos, além da primeira vitória na competição, e diminuiu a diferença para o vice-líder do grupo C, o Tricolor de Aço, para dois pontos.
Qualquer encontro entre pernambucanos e baianos é configurado como um clássico. Digo isso levando em consideração uma das principais características que define esses tipos de jogos. Independente da situação que qualquer uma das equipes se encontra, surpresas sempre podem acontecer. É inegável que havia um favoritismo para o jogo deste sábado entre Náutico x Bahia. Apesar de jogar no Recife, cabia ao Tricolor de Aço o papel de protagonismo no jogo. Dono da bola, a liderança nos números foi adversária, com picos de 65% de posse de bola durante o primeiro tempo, por exemplo. A efetividade, no entanto, foi Timbu. Fato que contribuiu para o 1x0 construído na primeira metade da partida.
Foi praticamente o primeiro ataque do Náutico no jogo. Aos 10 minutos, Ortigoza recebeu passe dentro da área, mas deixou a bola escapar. Robinho aproveitou o lance, ajeitou para a direita e chutou rasteiro no canto direito de Douglas. No primeiro tempo, esta foi a única finalização do time no gol adversário. Já o Bahia chegou mais vezes. Mesmo assim, o caráter decisivo pareceu pender apenas aos pernambucanos - Afinal, uma derrota alvirrubra faria o time ser eliminado da Copa do Nordeste. A ofensividade baiana acontecia de forma tímida. E o jogo foi, aos poucos, se mostrando propício para o Alvirrubro.
Tudo que havia sido construído antes do intervalo, por pouco não ruiu nos primeiros segundos da segunda etapa. Júnior Brumado, que havia acabado de entrar na vaga de Kayke, recebeu passe na pequena área, driblou o marcador e soltou uma bomba. No rebote, Edigar Junio finalizou para o gol e Bruno realizou outra grande defesa. Este susto não foi isolado. Por todo o início do segundo tempo, foram os baianos que tiveram uma postura mais agressiva no campo de ataque. Ao Náutico, coube se defender e apostar nas bolas longas. Escassas chances foram protagonizadas pelos anfitriões. Enquanto que o Bahia acumulou chances perdidas. Melhor para os pernambucanos, que seguem vivos na busca pela classificação para a próxima fase da Copa do Nordeste.
FICHA DE JOGO
NAUTICO
Bruno; Thiago Ennes, Breno, Camutanga e Kevyn; Negretti, Wendel (Josa) e Jobson (Medina); Robinho, Wallace e Ortigoza (Rogerinho). Técnico: Roberto Fernandes
BAHIA
Douglas; Nino, Thiago, Lucas Fonseca e Léo; Edson, Elton (Élber) (Allione), Vinicius e Zé Rafael; Edigar Junio e Kayke (Júnior Brumado). Técnico: Guto Ferreira
Local: Arena de Pernambuco, no Recife
Árbitro: Francisco Carlos do Nascimento (AL)
Assistentes: Rondinelle dos Santos Tavares e Esdras Mariano de Lima Albuquerque (Ambos de AL)
Gols: Robinho (aos 10 do 1ºT)
Cartões amarelos: Lucas Fonseca, Zé Rafael, Léo (Bahia); Wendel, Thiago Ennes, Medina (Náutico)
Público e renda: Não divulgados.
Com informação da Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Conflitos pelo mundo:5 pontos para entender a guerra civil no Iêmen, a pior crise humanitária do mundo

Crianças iemenitas sendo tratadas em setembro de 2017Direito de imagemEPA
Image captionO Iêmen vive uma grave epidemia de cólera, com 1 milhão de casos suspeitos até dezembro
A guerra civil no Iêmen, o país mais pobre do mundo árabe, deixa 22 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade, segundo os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), que considera essa a maior crise humanitária global em curso atualmente.
Só neste ano, 85 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas por conta do conflito iemenita, e o total de mortos ultrapassa 10 mil em três anos.
É uma guerra que opõe duas potências do Oriente Médio. De um lado, estão as forças do governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi, apoiadas por uma coalizão sunita liderada pela Arábia Saudita. Do outro, está a milícia rebelde huti, de xiitas, apoiada pelo Irã, que controla a capital, Sanaa.
Em meio à guerra, o país sofre com bloqueios comerciais impostos pelos sunitas, que impedem que ajuda humanitária e itens básicos, como comida, gás de cozinha e medicamentos, cheguem a 70% da população iemenita.
Os anos de conflito não só provocaram uma escassez aguda de alimentos como destruíram o sistema de saúde do país, dificultando o combate a uma grave epidemia de cólera. Em dezembro, o número de casos suspeitos de cólera alcançou 1 milhão.
Crianças iemenitas deslocadas pelo conflito estudam em tenda improvisadaDireito de imagemAFP
Image captionSó neste ano, 85 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas no país
A BBC listou alguns pontos do conflito para explicar o que acontece nesse país da Península Arábica:

Por que essa guerra importa para o resto do mundo?

O que acontece no Iêmen pode aumentar muito as tensões na região e os temores do Ocidente de ataques vindos do país à medida que ele se torna mais instável.
As agências de inteligência consideram o braço da organização extremista Al-Qaeda na Península Arábica como o mais perigoso, por causa de seus conhecimentos técnicos e alcance global. O surgimento, na região, de novos movimentos afiliados ao grupo extremista autodenominado Estado Islâmico também é motivo de preocupação.
O conflito entre os hutis e o governo também é visto como parte de uma batalha regional por poder entre os xiitas, liderados pelo Irã, e os sunitas, liderados pela Arábia Saudita.
Os países do Golfo Pérsico, que apoiam o presidente iemenita, Abd-Rabbu Mansour Hadi, acusam o Irã de apoiar os hutis (xiitas) financeiramente e militarmente, apesar de o Irã negar.
O Iêmen é estrategicamente importante, porque está no estreito de Bab-el-Mandeb, que faz ligação com a África e é rota de navios petroleiros. Além disso, muitas potências lucram indiretamente com a guerra iemenita: a coalizão saudita que bombardeia o Iêmen compra armas de países como Estados Unidos, Reino Unido e França.
Questionado a respeito disso na última terça-feira (6), o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, afirmou ser "verdade que há muitas armas sauditas (no conflito), mas também muitas armas iranianas".
Só as empresas britânicas teriam lucrado £6 bilhões ( R$27 bilhões, aproximadamente) com venda de armas à Árabia Saudita desde o início da guerra no Iêmen, segundo pesquisa da ONG War Child UK.

Como tudo começou?

Rebelde huti em SanaaDireito de imagemAFP
Image captionOs rebeldes xiitas hutis entraram em Sanaa em setembro de 2014 e assumiram seu controle meses depois
Essa guerra tem suas raízes no fracasso de uma transição política que supostamente traria estabilidade ao Iêmen após uma revolta na sequência da Primavera Árabe, em 2011, que forçou a saída do poder do ex-presidente Ali Abdullah Saleh, após 33 anos – ele acabaria sendo morto em dezembro, acusado de traição. Na época, ele passou o comando do país para o seu então vice, Abd-Rabbu Mansour Hadi.
Hadi enfrentou uma variedade de problemas, incluindo ataques da Al-Qaeda, um movimento separatista no sul, a resistência de muitos militares que continuaram leais a Saleh, assim como corrupção, desemprego e insegurança alimentar.
O movimento huti, que segue uma corrente do islã xiita chamada zaidismo e havia travado uma série de batalhas contra Saleh na década anterior, tirou proveito da fraqueza do novo presidente e assumiu o controle da província de Saada, no nordeste do país.
Desiludidos com a transição, muitos iemenitas – incluindo os sunitas – apoiaram os hutis e, em setembro de 2014, eles entraram na capital, Sanaa, montando acampamentos nas ruas e bloqueando as vias.
Em janeiro de 2015, eles cercaram o palácio presidencial e colocaram o presidente Hadi e seu gabinete em prisão domiciliar. O presidente conseguiu fugir para a cidade de Áden no mês seguinte.
Artilharia saudita sendo disparada contra Iêmen em 2015Direito de imagemAFP
Image captionUma coalizão internacional liderada pelos sauditas interveio no Iêmen em 2015
Os hutis tentaram então tomar o controle do país inteiro, e Hadi teve que deixar o Iêmen.
Alarmados com o crescimento de um grupo que eles acreditavam ser apoiado militarmente pelo poder xiita local do Irã, a Arábia Saudita e outros oito Estados sunitas árabes começaram uma série de ataques aéreos para restaurar o governo de Hadi.
Essa coalizão recebeu apoio logístico e de inteligência dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França.

O que aconteceu desde então?

Há dois anos e meio, essa guerra está em curso e nenhum dos lados parece disposto a ceder. A ONU tentou, por três vezes, sem sucesso, negociar um acordo de paz.
Forças pró-governo, constituídas principalmente por soldados leais ao presidente Hadi. sunitas de tribos do sul e separatistas conseguiram evitar que os rebeldes tomassem a cidade de Áden após quatro meses de uma batalha violenta, que deixou centenas de mortos.
Tendo assegurado um espaço no porto, tropas das forças de coalizão desembarcaram e ajudaram a expulsar os hutis para o sul. O presidente Hadi estabeleceu residência temporária em Áden, apesar da maioria de seu gabinete ter continuado exilada.
Os hutis, no entanto, conseguiram manter um cerco na cidade de Taiz e lançar morteiros e foguetes através da fronteira com a Arábia Saudita.
Os jihadistas da Al-Qaeda na Península Arábica e rivais de organizações parceiras do Estado Islâmico têm tirado proveito do caos, confiscando territórios no sul e realizando ataques mortais, principalmente em Áden.
O lançamento de um míssil em direção a Riad em novembro levou a Arábia Saudita a intensificar o bloqueio no Iêmen.
A coalizão alegou querer parar o contrabando de armas para os rebeldes do Irã, mas a ONU disse que as restrições poderiam desencadear "a maior crise de fome que o mundo já viu em décadas".
Garoto iemenita aliado dos hutis carrega arma no norte de Sanaa:Direito de imagemAFP
Image captionPopulação do Iêmen vive uma situação de emergência alimentar

Qual o impacto na população?

A população tem suportado o caos da guerra e sido constantemente vítima do que o conselho de direitos humanos da ONU chama de "incessantes violações do Direito internacional".
Os ataques aéreos da coalizão saudita foram as principais causas da morte de civis. A destruição da infraestrutura do país e as restrições de importação de comida, de medicamenteos e de combustível causaram o que a ONU diz ser uma situação catastrófica.
Mais de 20 milhões de pessoas, incluindo 11 milhões de crianças, precisam de ajuda humanitária imediata. Há 7 milhões de pessoas dependentes de ajuda para comer e 400 mil crianças sofrendo de desnutrição.
Ao menos 14,8 milhões estão sem cuidados básicos de saúde, e apenas 45% dos 3,5 mil postos de saúde estão funcionando e lutando para conter a maior epidemia de cólera do mundo, que até o final do ano passado havia resultado em 2.196 mortes.
Mulheres esperam na fila para encher bujões de gás de cozinha, em falta no paísDireito de imagemREUTERS
Image captionGás de cozinha e outros itens básicos estão em falta no Iêmen
E 2 milhões de iemenitas estão desabrigados por causa da guerra, além dos 188 mil que fugiram para países vizinhos.

Por que há um racha entre os rebeldes?

O assassinato do ex-presidente Saleh por rebeldes, em dezembro, evidenciou um racha. Saleh era aliado dos hutis, mas foi considerado "traidor" por se dizer disposto a dialogar com a Arábia Saudita, que apoia o governo iemenita.
Durante meses, houve sinais de que a aliança entre os hutis e os apoiadores de Saleh estava estremecida, o que se provou verdade com o assassinato do ex-presidente.
No dia 29 de novembro, conflitos entre os antigos aliados emergiram na capital Sanaa. Com cada um dos lados culpando o outro pela ruptura, no dia 2 de dezembro, Saleh apareceu na televisão dizendo à coalizão saudita estar aberto a um novo capítulo nas relações.
Ele pediu à coalizão para interromper os ataques aéreos e afrouxar o bloqueio no país. Também se dispôs a um novo diálogo, o que foi bem recebido pela coalizão, mas visto como uma traição pelos hutis, que o assassinaram.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 8 de março de 2018

Corrupção e desenvolvimento econômico


Desenho de homem com cartola segurando várias coisas em seus 'tentáculos'Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPesquisas encontram associações positivas entre corrupção e crescimento econômico na Ásia e na América Latina
Nos anos 1960, um grupo de acadêmicos abraçou a tese de que corrupção é o "óleo que lubrifica" as engrenagens do Estado e da economia. Segundo a vertente, certas práticas ilegais ou imorais poderiam ser até benéficas para os países, desde que mantidas sob certo controle, e deveriam ser vistas como chaves para favorecer o desenvolvimento econômico.
Ao longo das décadas seguintes, a Ciência Política e a Economia passaram a rechaçar essa visão funcionalista da corrupção. Mas agora, novas pesquisas sobre a Ásia e América Latina sugerem que estudiosos como Nathaniel Leff, Samuel Huntington e Colin Leys, partidários da tese de que a corrupção pode, sim, ter algum lado positivo, não estavam de todo errados.
Na visão de Leff, Huntingotn e Leys, a corrupção poderia, por exemplo, facilitar processos burocráticos ou até permitir o aquecimento da economia, com empresas ganhando contratos, gerando emprego e renda. Mesmo negócios informais, sem registro, teriam funcionamento garantido graças, por exemplo, à propina paga a fiscais.
Mas, com o tempo, acadêmicos de diferentes áreas começaram a preconizar que o fenômeno fosse visto como um mal a ser combatido. Não só porque consome recursos que poderiam ser usados em áreas como saúde, educação e redução da desigualdade, mas também porque a corrupção favorece certos interesses privados em detrimento do coletivo.
Agora, há sinais de que a controvérsia voltou a ser aberta graças a uma nova leva de produção científica que busca identificar associações positivas entre corrupção e crescimento econômico. Estudos publicados apontam essa correlação em alguns países asiáticos e também a associação entre corrupção e performance de empresas em países da América Latina. Segundo esses estudos, a corrupção não seria impeditivo natural para o crescimento econômico.
É importante ressaltar que a tentativa desafiar a lógica que corrupção traz apenas malefícios com a produção de evidências empíricas ainda é incipiente na produção acadêmica. Isso significa que ainda são poucos os estudos publicados sobre o tema. Além disso, também não é uma corrente de pensamento com muitos adeptos, uma vez que prevalece o entendimento de que os efeitos da corrupção são extremamente nocivos para a sociedade como um todo.

Corrupção e progresso

Em 2015, Chiung-Ju Huang, da Universidade Feng Chia, em Taiwan, publicou um artigo na revista acadêmica North American Journal of Economics and Finance com o provocativo título "Corrupção é ruim para o crescimento econômico? Evidência de países da Ásia e Pacífico". Nele, afirmou que os resultados do estudo "não apoiam a percepção comum de que corrupção faz mal para o crescimento econômico".
A análise estatística mostrou que o impacto da corrupção não foi significativo na economia em 12 dos 13 países da região. Para o estudo, o pesquisador usou índices de percepção de corrupção e de liberdade econômica, além do Produto Interno Bruto (PIB) per capita dessas nações referentes ao período de 1997 a 2013, e aplicou uma técnica capaz de avaliar relações causais.
Segundo o autor, os dados apontam a Coreia do Sul como exceção. No período analisado, há evidência de uma relação causal entre corrupção e um aumento no crescimento da economia sul-coreana.
Os achados de Chiung-Ju, nas palavras dele próprio, reforçam um estudo anterior, de 1997, que já apontava que o desenvolvimento econômico do país estava diretamente relacionado à práticas imorais e ilegais adotadas pelo governo e por empresários para selecionar e financiar os chamados chaebols, os conglomerados que tiveram papel chave na reestruturação da política econômica do país.
Pessoas lidando com planilhas e tabelasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEstudos recentes testam a relação entre corrupção, crescimento econômico de países e performance de empresas
O estudo de Chiung-Ju Huange também avaliou a relação causal inversa, ou seja, se o crescimento econômico é capaz de impulsionar corrupção. A resposta foi "não" para todos os países analisados, menos para a China.
"Mais especificamente, crescimento econômico na China aparece como tendo um efeito significantemente positivo na corrupção, indicando que um aumento no crescimento econômico leva a um aumento na corrupção", diz trecho do estudo, no qual o autor afirma desafiar o entendimento convencional de que corrupção é impeditiva para o crescimento econômico no caso da Ásia e do Pacífico.

O ovo e a galinha

Do outro lado do mundo, mais precisamente na América Latina, um estudo assinado pelo professor italiano Luciano Ciravegna, do King's College London, e outros três pesquisadores mede o impacto na performance e capacidade de internacionalização de empresas de economias consideradas emergentes com elevados riscos políticos e alta percepção de corrupção.
Ao realizar testes estatísticos com dados de 536 empresas do Brasil, Argentina, Peru e Chile, os pesquisadores concluíram que "corrupção tem um impacto positivo na performance" das empresas nestes países. Ou seja, segundo os autores, nos países onde há mais corrupção o lucro doméstico das empresas, levando em conta ganhos e ativos no próprio país, tende a ser maior.
Para medir o desempenho das empresas, os pesquisadores levaram em conta a rentabilidade de firmas e cruzaram com diferentes variáveis referentes à características individuais das companhias, perfil da economia dos países e o índice de percepção de corrupção da Transparência Internacional.
A partir de diferentes modelos estatísticos e regressões matemáticas, o estudo identificou também uma interação positiva entre corrupção e internacionalização, mas que não é estatisticamente significante.
Mala com caixa de presente em cimaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEstudo tenta descobrir por que empresas de países onde há elevada percepção de corrupção tendem a ter mais facilidade para expandir os negócios 'dentro de casa'
"Há alguma coisa de bom na corrupção? Não, eu ainda acho que é algo ruim", diz Ciravegna, completando que, teoricamente, não é uma ideia nova dizer que a corrupção é o "óleo que lubrifica as engrenagens" em especial em lugares onde há muitos entraves burocráticos.
Ele pondera, contudo, que há um dilema similar ao do "ovo e a galinha" quando se fala em burocracia e corrupção.
"A corrupção existe para driblar os entraves burocráticos ou a burocracia existe para dificultar a corrupção?", questiona, dizendo que, em países mais desburocratizados como o Reino Unido e Cingapura, por exemplo, corrupção significa custo do ponto de vista das empresas. Já em países da América Latina, engajar em atos corruptos pode valer o investimento.
Ciravegna diz que o artigo, publicado no Journal of World Business, é apenas o primeiro passo de uma pesquisa que pretende ir mais a fundo, explorando diferentes facetas do tema. Segundo o professor, a ideia é tentar entender diferentes comportamentos de empresas latino-americanas que passam a atuar no exterior.
"Elas são corruptas em casa e fora de casa, como, por exemplo, a Odebrecht? Ou elas passam a atuar no mercado internacional, aprimoram o comportamento para se ajustar e passam a adotar melhores práticas em casa? É isso que queremos avaliar", afirma, citando a empreiteira brasileira, que admitiu ter pago propina em diferentes países da América Latina e África para expandir os negócios.
Homem coloca dinheiro na mão de outroDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'A corrupção existe para driblar os entraves burocráticos ou a burocracia existe para dificultar a corrupção?', questiona o professor Luciano Ciravegna

Efeito doméstico

Os dados analisados pelo professor indicam, por ora, que turbulências políticas internas fortalecem a relação positiva entre internacionalização e performance de empresas em economias emergentes, porque essas companhias desenvolvem a habilidade de atuar, resistir e avançar em ambiente marcado por incertezas e desafios.
Da mesma forma, empresas de países onde há elevada percepção de corrupção tendem a ter mais facilidade para expandir os negócios.
"As empresas podem em algumas circunstâncias (por exemplo, as grandes empresas multinacionais da América Latina que examinamos) se beneficiar de altos níveis de corrupção, mas o efeito é, principalmente, um efeito doméstico, com pouca evidência de aprendizado ou transferibilidade quando se internacionalizam", pondera Ciravegna.
"Isso pode ser porque a corrupção é caracterizada por redes de relacionamentos localizadas e relativamente fechadas, que são difíceis de replicar no exterior, especialmente em países mais distantes, como aqueles fora da região de origem", diz trecho do estudo.
O próprio professor argumenta, contudo, que no mundo dos negócios há certas práticas que são consideradas ilegais ou imorais em determinados países, enquanto em outras nações são atos completamente comuns.
"Como não temos um sistema legal internacional, a corrupção não é vista da mesma forma em todos os lugares", afirma, citando como exemplo a forma como determinados segmentos fazem lobby e financiam campanhas nos EUA pode ser considerada ilícita em alguns países da América Latina.

Movimento incipiente

Os dados do estudo de Ciravegna também indicaram, porém, que operar em um ambiente altamente instável, ou seja, com alto risco político doméstico, está associado a um melhor desempenho internacional - sugerindo que, ao contrário da corrupção, nesse caso "há efeito de aprendizagem transferível".
Mapa do mundo interligando continentes com foto ao fundoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPesquisa indicou que empresas que operam onde há alto risco político doméstico têm melhor desempenho internacional
"É interessante descobrir que há evidências de que a corrupção em alguns casos contribui positivamente para o desempenho doméstico. Conhecemos os motivos teóricos: é o óleo que lubrifica as rodas. No entanto, ainda não sabemos por que isso acontece em alguns países específicos e qual o contexto temporal, ou como variar a depender do setor e do tipo de empresa", diz, o pesquisador, que é do departamento de desenvolvimento internacional do King's College, em Londres.
Ele acredita que essas evidências coletadas podem ser vistas como um bom ponto de partida para uma análise mais refinada sobre as chances reais de uma empresa crescer e lucrar significativamente mais quando, por exemplo, paga propina ou frauda licitações sem ser punida.
Para Ciravegna, não exite uma receita universal, e os achados da pesquisa também representam um forte indicativo de que a solução para o problema pode ser "caseira", uma vez que a corrupção entre empresários e autoridades públicas tende a ser localizada.

Críticas

Na visão do pesquisador e professor alemão Johann Graf Lambsdorff, um dos criadores do índice de percepção da corrupção nos anos 1990 usado pela Transparência Internacional, a busca pelo lado bom da corrupção não faz o menor sentido.
"O argumento de que corrupção é o óleo que lubrifica as engrenagens não se sustenta mais", salienta, criticando duramente os que insistem em defender essa hipótese.
Ele admite, contudo, que os mecanismos anticorrupção têm, ao longo dos anos, falhado em coibir a prática, e que pesquisadores começam a se perguntar se vale a pena gastar tanto com ferramentas ineficientes.
"Por mais de 20 anos, governos, empresas e organizações internacionais têm tentado medidas de combate à corrupção e têm falhado", diz Lambsdorff, observando que talvez o erro seja o foco dado somente à repressão.
Lambsdorff afirma que as punições são necessárias e têm efeito dissuasório, ou seja, é capaz de inibir certas práticas. Mas destaca a necessidade de se investir mais em ações de prevenção, que realmente tenham efeitos práticos. "Métodos preventivos, tais como recompensas pelo comportamento ético e motivação psicológica para que se adote boas práticas, são igualmente importantes para combater a corrupção."
Professor Edgar Bom Jardim - PE