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sábado, 14 de outubro de 2017

Do massacre à canonização: Papa Francisco decreta santidade de 30 mortos por holandeses no Brasil há 372 anos


Massacre em capela religiosa de Cunhaú, no Rio Grande do Norte: Os mortos identificados serão declarados santos neste domingo
Image captionQuadro mostra massacre em Cunhaú, no Rio Grande do Norte. Os mortos identificados serão declarados santos neste domingo | Imagem pintada por Padre Eladio

Uma missa de domingo em uma capela, uma celebração em campo aberto às margens de um rio e 150 pessoas brutalmente assassinadas. Dois massacres registrados no Rio Grande do Norte e apontados como símbolos da intolerância religiosa de holandeses que dominavam o Nordeste brasileiro em 1645 renderão ao país, 372 anos depois, 30 novos santos - "os primeiros santos mártires do Brasil".
Os chamados "mártires de Cunhaú e Uruaçú" - nomes de duas localidades da época que hoje correspondem aos muncípios potiguares de Canguaretama e São Gonçalo do Amarante - foram beatificados no ano 2000 pelo Papa João Paulo II e serão canonizados neste domingo pelo Papa Francisco.
Os 30 novos santos são os únicos mortos identificados em dois massacres que deixaram um saldo de aproximadamente 150 vítimas. Por esse motivo, somente eles serão reconhecidos na cerimônia.
O caso é considerado emblemático, entre outros motivos, porque os massacrados teriam "dado a vida, derramado o sangue, na vivência de sua fé", segundo a Igreja.
Em Cunhaú, 70 teriam sido assassinados em 16 de julho de 1645. O episódio é apontado como retaliação holandesa aos que seguiam a fé católica e se recusavam a migrar para o movimento religioso protestante que difundiam, o calvinismo.
O livro "Beato Mateus Moreira e seus companheiros mártires", escrito pelo Monsenhor Francisco de Assis Pereira a partir de pesquisas históricas e dados que embasaram a beatificação, afirma que os holandeses contaram com a ajuda de indígenas para invadir uma capela da região, fechar as portas e matar quem estivesse dentro, em uma manhã de domingo.
Quase três meses depois desse episódio, em 3 de outubro, outras 80 pessoas também viraram alvos em outro cenário: às margens do rio Uruaçú, foram despidas e assassinadas por não terem se convertido ao protestantismo.
Nem crianças foram poupadas do ataque. Uma delas, com dois meses de vida, foi uma das vítimas, junto com uma irmã e o pai.
Também parte desse segundo grupo, o camponês Mateus Moreira acabou virando símbolo do martírio porque, no momento de sua morte, teria bradado: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento". A louvação seria uma prova incontestável de sua fé, na visão católica. Ele foi morto ao ter o coração arrancado pelas costas.
A presença da igreja católica no Nordeste já era considerada "marcante" nessa época, como descreve o Monsenhor Pereira, postulador da causa da beatificação dos mártires, no livro. "Havia padres seculares (padres pertencentes a dioceses), numerosos conventos de franciscanos, carmelitas, jesuítas e beneditinos. Eram mais de 40 mil católicos", escreve ele.
Os holandeses aportaram na região em 1630. Eles chegaram nesse período a Pernambuco e assumiram o comando político e militar da área - estendendo o domínio posteriormente a outras capitanias, inclusive à do Rio Grande, como era chamado o Rio Grande do Norte.
Os colonizadores teriam perseguido e assassinado adeptos da religião católica que não aceitaram virar calvinistas. Na mesma época em que, por meio da Inquisição, a Igreja Católica ainda perseguia, julgava e punia acusados de heresia.

Adultos, jovens e crianças: quem são os mártires canonizados

A lista de novos santos inclui um total de 25 homens, entre eles dois padres, e cinco mulheres. Eram 16 adultos, 12 jovens e duas crianças - a mais nova, o bebê de dois meses de idade.
"A identificação dos que serão canonizados não se dá tanto pelos nomes, mas também por identificação de parentesco e de amizade (das vítimas)", ressalta o padre Julio Cesar Souza Cavalcanti, responsável por encaminhar a canonização dos mártires na Arquidiocese de Natal.
A missa solene em que o papa Francisco vai proclamar a canonização, na Basílica de São Pedro, em Roma, ocorre a partir das 10h deste domingo, no horário local (5h no Brasil).

Papa Francisco, no Vaticano: Canonização não exigiu que os mártires tivesssem realizado milagresDireito de imagemREUTERS
Image captionO Papa Francisco dispensou a exigência de milagres para canonização dos 30 novos santos brasileiros

"Do Brasil estamos esperando uma peregrinação em torno de 500 pessoas. Porém, como temos outras canonizações, cremos que estaremos com a praça lotada", diz o padre.
A professora aposentada Sônia Nogueira, de 60 anos, estará em Natal, a mais de sete mil quilômetros de distância da cerimônia, mas em vigília e "com o coração cheio de gratidão pelos mártires".
Ela diz que, por intermédio deles, pediu "a graça da cura e da libertação" para o marido, José Robério, que em 2002 começou a enfrentar as consequências de um câncer no cérebro.
Fortes dores de cabeça levaram o militar aposentado, hoje com 68 anos, ao diagnóstico.
O caminho trilhado a partir desse ponto foi marcado por "apreensão", mas também pelo que Sônia resume com letras maiúsculas em um texto: "MILAGRE DA SOBREVIDA!"
A frase foi escrita por ela em um relatório que enviou à Igreja Católica no Rio Grande do Norte, em 2016, para contar a história do marido em meio a exames, tratamentos de saúde, cirurgias e momentos de "fé".
Rezar foi a estratégia fundamental, segundo Nogueira, para que Robério resistisse à doença, que raramente possibilita sobrevida de mais de três anos aos pacientes após diagnóstico. No laudo médico que a professora apresentou para embasar cientificamente o que considera um milagre, o neurocirurgião que acompanhou o caso de Robério o coloca no rol de "exceções da medicina", porque ele sobreviveu.
"Já se vão 15 anos e 5 meses desde que soubemos do tumor", diz Sônia, em entrevista à BBC Brasil. Ela não tem dúvidas: "Foi um milagre. A medicina foi só um complemento".

Comprovação de milagres não foi exigida no processo

Robério e sua mulher estão entre os mais de cinco mil fiéis que já relataram à Arquidiocese de Natal "graças alcançadas" por meio dos "novos santos" do Brasil.
Não foram necessários, porém, milagres para fundamentar a canonização.
"O papa Francisco, quando decidiu pela canonização com a dispensa do milagre, colocou como um ponto básico (para a aprovação) a antiguidade do martírio e a perpetuidade da devoção do povo aos mártires", explica o padre Julio.
Por meio do chamado processo de equipolência, o papa reconhece a santidade considerando três requisitos: a prova da constância e da antiguidade do culto aos candidatos a santos, o atestado histórico incontestável de sua fé católica e virtudes e a amplitude de sua devoção.
O mesmo processo, em que milagres foram dispensados, foi adotado para a canonização de São José de Anchieta, outro santo do Brasil.

Os aposentados Sônia e Robério Nogueira atribuem o que chamam
Image captionSônia e Robério Nogueira: Militar aposentado descobriu tumor no cérebro em 2002 e atribui "milagre da sobrevida" aos mártires | Foto: Arquivo pessoal

Para Nogueira e Robério, no Rio Grande do Norte, o milagre que os mártires teriam realizado é, porém, inquestionável. "Robério foi bem aventurado no processo, por intercessão deles", justifica a aposentada. "Como um paciente pode chegar a (sobreviver) 15 anos tomando uma medicação que segura outros por no máximo três?".
Com dificuldades para falar e andar sem apoio, após a segunda e última cirurgia que fez, o marido faz coro: "Estava muito doente e os mártires me levantaram".
"Quem não vai ficar bom tendo um santo dentro de casa?", ele questiona, referindo- se ao fato de os novos santos terem origem no estado em que mora.
A canonização deste domingo eleva para 36 a quantidade de santos considerados nacionais. Até agora, só um deles, Santo Antônio de Sant'Ana Galvão, mais conhecido como Frei Galvão - santificado em 11 de maio de 2007 - é, porém, brasileiro de nascimento. Os outros cinco já oficializados, São Roque Gonzales, Santo Afonso Rodrigues, São João de Castilho, Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus e São José de Anchieta, são estrangeiros, mas desenvolveram missões no país. Eles são reconhecidos por milagres.
Para o padre Júlio, "a grande mensagem com a canonização é de reconhecer que mesmo pensando diferente, seja em qualquer campo, devemos sempre respeitar o outro e jamais destruir alguém, de nenhum modo".
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Papa denuncia "trevas da corrupção" no Brasil


papa Francisco surpreendeu com uma mensagem gravada em vídeo os milhares de fiéis presentes à missa campal de celebração dos 300 anos de Nossa Senhora Aparecida, realizada na manhã desta quinta-feira (12).
Com quase sete minutos de duração, o pronunciamento, enviado à TV Aparecida, foi exibido pelos telões, no início da missa realizada na área externa do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo. A mensagem direcionada aos brasileiros foi lida em português e incluiu uma espécie de pedido de desculpas do papa por não ter vindo ao país para a festa. Ele lembrou ter "manifestado a intenção" de estar presente para os 300 anos, quando visitou o santuário em 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude.
— Mas a vida de um papa não é fácil, por isso confiei a missão ao cardeal Giovanni Battista Re. Ele vai garantir a presença do Papa entre vocês. Ainda que não esteja fisicamente presente, quero, entretanto, manifestar meu carinho por este povo querido — justificou Francisco.
Nossa Senhora Aparecida é a padroeira do Brasil e uma das principais devoções católicas em todo o planeta. O santuário a ela dedicada foi visitado pelos três últimos pontífices, e uma vinda papal para a festa dos 300 anos seria natural, pela importância da data para o Vaticano. Mas Francisco tem evitado algumas viagens e encontros, principalmente com autoridades em relações às quais se acredita que ele tenha uma visão crítica. 
Na sua fala, ele pediu que os brasileiros não se deixem vencer pelo desânimo e citou textualmente o problema da corrupção no país, dando um tom político a sua participação.
— O Brasil hoje necessita de mulheres e homens que, cheios de esperança e firmes na fé, deem testemunho de que o amor manifestado na solidariedade e na partilha é mais forte e luminoso que as trevas do egoísmo e da corrupção. Com saudades do Brasil, com saudades do Brasil, concedo-lhes a benção apostólica, pedindo a Nossa Senhora Aparecida que interceda por todos nós.
Além do vídeo ("Rezem pelo papa e tenham certeza de que o papa sempre reza por vocês", disse ele na gravação), Francisco também endereçou um presente a Aparecida (uma rosa de ouro, exibida na missa ao lado de uma réplica da imagem da santa) e publicou um post em português no Twitter ("Nossa Senhora Aparecida foi encontrada por trabalhadores pobres. Hoje abençoa todos, especialmente aqueles que procuram um trabalho").


Felipe Guimarães / Santuário nacional de Aparecida
Estimativa é que 200 mil pessoas estiveram no santuário de Aparecida (SP) no feriado em homenagem à padroeira
Assistiam ao discurso transmitido pelo telão, em área reservada da cerimônia, o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) e os ministros Gilberto Kassab (PSD) e Antonio Imbassahy (PSDB), titular da Secretaria-Geral de Governo, que representava o presidente Michel Temer. O presidente não compareceu à cerimônia e também gravou um vídeo. Ao serem anunciados Alckmin, Kassab e Imbassahy foram vaiados brevemente pelos fiéis.
Com informações de Zero Hora
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Brasileiros pedem a intercessão de Nossa Senhora Aparecida para se livrar de Temer, da Crise, do Congresso e da Corrupção


Há 300 anos, o encontro da Imagem de Nossa Senhora Aparecida marcou o início de um novo tempo para a vida de fé do povo brasileiro. Do Altar Central do Santuário Nacional de Aparecida, na noite desta quarta-feira, 11 de outubro, a pequena imagem de Nossa Senhora foi coroada, reafirmando a devoção do povo a Padroeira do Brasil.
A celebração foi presidida pelo Arcebispo de Diamantina (MG), Dom Darci Nicioli, que lembrou aos devotos presentes no Santuário que rezar esta história é contemplar o futuro com um olhar de esperança, é assumir com alegria a vida missionária da Igreja.
“Os braços de um rio vem trazer alegria a uma cidade inteira. Nos alegremos na fé pelo Salvador que Maria nos traz. (...) Maria muito trabalhou para nossa Salvação, participou do projeto do Pai, por isso o Senhor Deus a distinguiu e adornou com a coroa da graça. Bendita és tu entre as mulheres, Maria, porque encontraste graça no coração de Deus”, afirmou Dom Darci.
“Mãe Aparecida, te coroamos. Digna Mulher de Israel, te coroamos! Perpetuo Socorro, te coroamos, Aparecida do Brasil!”, ressaltou aos devotos.
O arcebispo ainda pediu a intercessão de Nossa Senhora pela situação atual do Brasil: “Como estamos necessitados de esperança nesse Brasil! O trem da vida do nosso Brasil está desgovernado. Ajudai-nos! Iluminai-nos com a luz de vosso Filho”.
A Coroação teve a participação do cantor Daniel, dos grupos Cantores de Deus, Vida Reluz, Adoração e Vida, além da participação da Camerata do PEMSA (Projeto de Educação Musical do Santuário de Aparecida).
Uma novidade desse ano foi o livro da Campanha dos Devotos entronizado no Altar Central, contendo o nome de todos que colaboram com as obras sociais e de construção do Santuário de Aparecida.
e São José dos Campos, interior paulista, até Aparecida — “a capital da fé” por abrigar a imagem da Padroeira do Brasil —, os pés de Casimiro dos Reis, de 35 anos, percorreram 84,4 quilômetros para chegar ao destino, no dia da santa. O combustível, ele garante, foi a fé. Enquanto passava por ruelas e rodovias, fazia amigos e mentalizava, cheio de esperança, um pedido para Nossa Senhora Aparecida: encontrar um novo emprego.
— As coisas não estão fáceis, perdi meu trabalho há uma semana — conta ele, que era auxiliar de produção: — Mas também vim agradecer por tudo que Nossa Senhora faz por mim e minha família.


Casimiro dos Reis está desempregado e participou da romaria para pedir uma vaga no mercado de trabalho
Casimiro dos Reis está desempregado e participou da romaria para pedir uma vaga no mercado de trabalho Foto: Agência O Globo / Thiago Freitas

A dor nos pés inchados pela longa caminhada contrasta com a emoção dos romeiros ao chegarem a Aparecida. Na primeira missa do dia na Basílica, às 5h, alguns lutam para não fechar os olhos após uma noite sem dormir na estrada, mas até os mais cansados aplaudem com força a imagem da santa, apresentada por um dos padres. Além de Bíblias e crucifixos, quase todos os fiéis levantam seus celulares para registrar o momento. Edson de Jesus Leme, de 23 anos, segura firme seu terço e faz uma prece para abrir seu próprio negócio já no ano que vem.
— Sou fruteiro e, agora, quero abrir um hortifruti meu, para não correr o risco de ser demitido — diz Edson, já pensando em cumprir a promessa no ano que vem, caso seu pedido seja atendido.


Edson de Jesus Leme reza para conseguir abrir seu próprio negócio ano que vem
Edson de Jesus Leme reza para conseguir abrir seu próprio negócio ano que vem Foto: Agência O Globo / Thiago Freitas

Na Sala das Velas, onde os devotos fazem pedidos para a padroeira, Benedito Costa, de 45 anos, chama atenção dos outros fiéis. De joelhos no chão e olhos fechados, sua prece é para aumentar a renda familiar, que encolheu após a esposa mulher ficar desempregada, no início do ano.
— Estou aqui para pedir que minha mulher consiga um novo emprego. Ela trabalha na indústria de remédios e, por conta da crise, estamos muito apertados — explica Benedito, que mora em Hortolândia, no interior de São Paulo, e ganha um benefício do INSS desde que fez três cirurgias no quadril e ficou impossibilitado de trabalhar: — Infelizmente, ela não pôde viajar hoje comigo, por falta de dinheiro.


Benedito rezou por um emprego para a mulher
Benedito rezou por um emprego para a mulher Foto: Thiago Freitas / Agência O Globo

A apreensão pelas contas do fim do mês também motivou Fernando Freitas, de 24 anos, a acender uma vela. O auxiliar de pedreiro, que mora em Barretos, é autônomo e pede à Santa para que apareçam mais serviços em que ele possa trabalhar.
— São tempos difíceis e a gente vai se apertando aqui e ali — diz Fernando, que também foi à cidade para agradecer pela saúde de sua família.


Fernando Freitas dos Santos diz que os tempos são difíceis e pede mais trabalho
Fernando Freitas dos Santos diz que os tempos são difíceis e pede mais trabalho Foto: Thiago Freitas / Agência O Globo

Ajoelhada, a corretora de imóveis Regina Bolzan, de 55 anos, atravessa os 392 metros da Passarela da Fé, que liga a Basílica nova à antiga, para cumprir uma promessa após a padroeira ter atendido seu pedido para se reerguer financeiramente. Ela, que no ano passado tinha uma empresa de material de construção em Guarulhos, perdeu tudo por erros na administração e está aprendendo a se virar na nova profissão em meio à crise.
— Até com a crise tenho vendido muitos imóveis — diz, enquanto segura a mão da filha durante a travessia.


Regina agradeceu por ter saído da crise
Regina agradeceu por ter saído da crise Foto: Thiago Freitas / Agência O Globo

Na mesma passarela, Bruno de Paula, de 28 anos, também cumpre, de joelhos, a promessa que fez pela cura de uma doença de seu filho, de três anos. De costas, é impossível não perceber sua devoção: o empresário de Belo Horizonte exibe uma enorme tatuagem com a imagem da Padroeira e carrega, no pescoço, quatro terços.
— Desde pequeno, sou devoto da Santa. Vou voltar aqui todos os anos, até o dia que me faltar saúde — promete Bruno, que estava acompanhado da namorada, Camila Dias.


Bruno de Paula é devoto desde pequeno e vai todos os anos à Aparecida do Norte
Bruno de Paula é devoto desde pequeno e vai todos os anos à Aparecida do Norte Foto: Thiago Freitas / Agência O Globo

Duas irmãs da cidade de Matipó, em Minas Gerais, seguram a mão uma da outra, enquanto rezam ajoelhadas de frente para um altar com a imagem de Nossa Senhora, na Sala das Promessas da Basílica. Maria Helena Dorneles, de 65 anos, e Maria Aparecida Helena Pereira, de 58, pedem com intensidade, enquanto deixam as lágrimas caírem. As mineiras relembram os 14 irmãos que tiveram e contam que, hoje, são só seis.
— Perdemos mais dois irmãos esse ano e agora pedimos pela saúde da nossa mãe, que está com 65 anos e sofre de Alzheimer — conta Maria Helena, que trouxe um retrato da família para ofertar à Santa: — É muito emocionante estar aqui.


As irmãs Maria Helena Dornele e Maria Aparecida Helena rezam pela saúde da mãe
As irmãs Maria Helena Dornele e Maria Aparecida Helena rezam pela saúde da mãe Foto: Thiago Freitas / Agência O Globo

Para Gabriel dos Santos, é a fé que fortalece sua saúde. Essa é a explicação que o aposentado de 71 anos encontrou para ter disposição em pedalar quase 500 quilômetros entre Belo Horizonte, onde mora, e a capital da fé. Conhecido por muitos romeiros e apelidado como Gabriel Brasileiro, o ciclista faz esse percurso há 14 anos, sempre no dia 12 de outubro. Pelo caminho, recebe apoio de moradores e dorme em postos de gasolina.


Gabriel Alexandre dos Santos, 71 anos, pedalou 600 km de Belo Horizonte até a cidade da fé
Gabriel Alexandre dos Santos, 71 anos, pedalou 600 km de Belo Horizonte até a cidade da fé Foto: Thiago Freitas / EXTRA

— Qual é a explicação para eu, que tenho problema no joelho, conseguir fazer isso? É fé. Isso é mais do que eu mereço e ano que vem estarei aqui de novo — promete o aposentado, que foi até Aparecida para agradecer pela vida.
Segundo a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, 141 mil fiéis compareceram, ontem, à Festa da Padroeira. A estimativa é que 90 mil tenham chegado à cidade de carro ou ônibus, e o restante tenha feito o caminho a pé ou de bicicleta.
Com informações de A12.com/Extra/
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Brasil terá 11,3 milhões de crianças obesas em 2025, estima organização

Criança obesaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNos últimos 41 anos, obesidade disparou no Brasil e no mundo
A população mundial está ganhando peso rapidamente, principalmente crianças e adolescentes.
Segundo estudo publicado nesta terça-feira na revista científica The Lancet, a taxa global de obesidade em crianças disparou em 41 anos. Por outro lado, o índice de baixo peso caiu.
O Brasil segue na mesma direção. Entidades de saúde alertam que, se não houver uma mudança de rumo, o país, assim como a população global, enfrentará um forte crescimento de doenças associadas à obesidade, como diabetes, pressão arterial elevada e doenças de fígado.
De acordo com o estudo divulgado na Lancet, a prevalência de obesidade global em meninas saltou de 0,7% em 1975 para 5,6% em 2016. Em meninos, a alta foi ainda maior: saiu de apenas 0,9% em 1975 para 7,8% em 2016. Como consequência, 124 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos ao redor do mundo estavam obesos em 2016.
Os pesquisadores do estudo, coordenado pela universidade inglesa Imperial College London e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), alertam que, se a obesidade continuar crescendo nos níveis das últimas décadas, em cinco anos o mundo terá mais crianças e adolescentes obesos do que com baixo peso.
Sem uma mudança de hábitos, em menos de uma década a obesidade pode atingir 11,3 milhões de crianças no Brasil, de acordo com um alerta divulgado pela Federação Mundial de Obesidade.

Vilões

Hambúrgueres e batata fritaDireito de imagemPA
Image captionProdutos ricos em gordura estão entre os vilões da obesidade
A principal razão para a alta de peso na população mais jovem é o consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura, principalmente os industrializados.
"Essas tendências preocupantes refletem o impacto da publicidade da indústria alimentícia e das políticas públicas ao redor do globo, com alimentos saudáveis e nutritivos se tornando algo muito caro para famílias e comunidades pobres", afirmou em um comunicado a pesquisadora que liderou o estudo publicando na Lancet, Majid Ezzati, da Escola de Saúde da Imperial College London.
No Brasil a tendência é semelhante. Nas últimas quatro décadas, o índice de obesidade entre meninos saltou de 0,93% para 12,7%. Entre meninas, o crescimento foi menor, mas ainda assim elevado: passou de 1,01% em 1975 para 9,37% no ano passado, de acordo com dados compilados pela rede de cientistas de saúde NCD Risk Factor Collaboration, utilizados na pesquisa.
"O estudo mostra que, em 40 anos, o mundo passou por uma transição nutricional, de saída da desnutrição e de entrada na obesidade", afirma Maria Edna de Melo, presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
"A situação de Brasil é semelhante ao que o estudo aponta - vivemos em um ambiente em que o número de crianças abaixo do peso não mais preocupa. O que mais preocupa é o número de crianças com excesso de peso e de obesidade", avalia.

Questão de status

BalançaDireito de imagemPA
Image captionObesidade pode levar a uma série de doenças
Assim como nos outros países pesquisados, a elevação dos níveis de obesidade no Brasil está relacionada ao maior consumo de produtos industrializados, ricos em açúcar e gorduras.
No país, porém, o consumo não estaria relacionado apenas a uma disparidade de preços entre alimentos saudáveis (normalmente, mais caros) e industrializados (mais baratos), mas também por uma questão de status associada ao consumo desses itens.
"Hoje temos as famílias com disponibilidade grande de alimentos industrializados e isso, para algumas delas, é chique. É como se fosse uma afirmação social poder consumir produtos industrializados. Esses produtos são saborosos, mas ricos em sal, gordura e açúcares, e as pessoas não têm a real dimensão do quão nocivos eles são", alerta Melo.
De acordo com a Federação Mundial de Obesidade, o crescente nível de obesidade entre crianças e adultos coloca a saúde desse público "em perigo imediato".
Estimativa da organização aponta que, em 2025, 150 mil crianças e jovens no Brasil desenvolverão diabetes tipo 2, enquanto 1 milhão terão pressão arterial elevada. Outro dado alarmante é o número de crianças e jovens brasileiros que sofrerão com gordura no fígado - cerca de 1,4 milhão, segundo a entidade.
"O crescimento dos níveis de obesidade é muito preocupante porque não temos um sistema de saúde preparado para lidar com a obesidade e com os problemas que ela gera", aponta Melo.

Como reduzir

A médica afirma que muitas vezes o indivíduo não compreende o que é a obesidade e não imagina que seus filhos possam sofrer com o problema.
"As pessoas acham que uma pessoa só tem obesidade quando é a obesidade grave. Falta uma identificação correta da doença também pelos profissionais da saúde", aponta.
Aumentar o aleitamento materno na infância e limitar o consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura, como refrigerantes, biscoitos e fast food também é essencial para evitar que crianças se tornem obesas e para reduzir os níveis atuais da doença, alerta a Federação Mundial de Obesidade.
Também é importante encorajar os jovens a praticar exercícios físicos - de acordo com a entidade, 80% dos jovens não atingem os níveis recomendados de atividade.
Reduzir a presença da doença na população significa mudar hábitos, conceitos e retomar algumas lições. "Tem que voltar a comer arroz com feijão. Pelo menos uma vez por dia", afirma Melo. Para as crianças pequenas que estão ainda aprendendo a comer, é importante que a família não consuma produtos que são proibidos para a criança. "Os pais, antes de dizer não, precisam dar o exemplo."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Analfabetismo': por que tantos alunos terminam ensino fundamental sem ler ou fazer contas


EstudantesDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionInabilidade em compreender textos básicos afeta a obtenção de outras capacidades básicas
A conclusão do ensino fundamental é uma etapa essencial da vida estudantil, mas para grande parte dos alunos latinos-americanos ela é concluída sem que sejam aprendidas habilidades mínimas.
Segundo um informe recente do Instituto de Estatísticas da Unesco, braço da ONU para a educação, grande parte dos jovens da América Latina e do Caribe não alcançam os níveis exigidos de proficiência em capacidade leitora ao concluírem o que no Brasil equivale à segunda etapa do ensino fundamental, em geral, aos 14 anos.
O estudo diz que, em média, 36% das crianças latino-americanas no ensino fundamental não estão atingindo as habilidades mínimas de leitura. Em matemática, esse índice sobe para 52%.
Em números absolutos, 19 milhões de adolescentes do continente concluem o fundamental "sem conseguir níveis mínimos" de compreensão nessas áreas.
Especificamente no Brasil, dados compilados pela plataforma QEdu com base no Prova Brasil 2015 dão a dimensão do problema nessa etapa do ensino: apenas 30% dos alunos da rede pública saem do 9º ano com aprendizado adequado em leitura e interpretação.
Em matemática, apenas 14% dos alunos do 9º ano aprenderam o adequado em resolução de problemas.

'Novo analfabetismo'

Silvia Montoya, diretora do Instituto de Estatísticas da Unesco, considera "dramática" a ausência de compreensão de leitura em tantos estudantes do continente.
"O fato de haver crianças sem competências básicas, no que se refere a ler parágrafos simples e extrair informações deles, é o que eu consideraria uma nova definição de analfabetismo", diz ela à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.
"No mundo de hoje, ter um nível mínimo de alfabetização já não é (apenas) saber ler o próprio nome e escrever algum fato da vida cotidiana. Carecer de compreensão leitora é uma espécie de incapacidade de se inserir na sociedade, poder votar e entender as propostas dos candidatos, entender seus próprios direitos e deveres como cidadão. Afeta todas as dimensões."
Crianças estudando em computadoresDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAusência de infraestrutura adequada é um dos problemas observados pela especialista da Unesco
E, prossegue Montoya, a leitura é uma habilidade básica, sobre a qual se constroem as demais capacidades estudantis.
"Sem essa competência, estamos gerando crianças e adolescentes que vão (vivenciar) diretamente muitas frustrações pessoais e de integração social e profissional. Sem entender textos, é muito difícil avançar em qualquer área."
A situação se agrava quando se leva em consideração o grau de exigências do mundo atual, em que a informação disponível é complexa e tem diferentes graus de qualidade e confiabilidade - o que exige leitores com senso crítico e habilidade de interpretação.

Uma escola que não funciona

E se antes o desafio da América Latina era o da inclusão dos alunos ao sistema de ensino, hoje a questão é mais qualitativa do que quantitativa.
O relatório da Unesco afirma que "o desperdício de potencial humano evidenciado pelos dados confirma que levar as crianças à sala de aula é apenas metade da batalha. Agora, temos de garantir que todas as crianças naquela sala de aula estejam aprendendo as habilidades básicas de que precisam em leitura e matemática, no mínimo".
"Agora, a realidade é que as crianças estão dentro do sistema educativo, mas há uma inabilidade da escola em dotá-los do nível de aprendizado razoável e mínimo para as circunstâncias que demanda o mundo hoje e no futuro", afirma Montoya.
E isso é resultado de uma série de problemas, como formação deficiente que não prepara os docentes para lidar com os desafios de sala de aula, problemas de infraestrutura, numerosas perdas de dias letivos por conta de greves e outras questões - além, também, da própria situação socioeconômica dos estudantes, que "podem vir de lares de baixa renda e contar com menor apoio familiar".
"Há uma combinação de fatores que podem variar em cada lugar, mas evidentemente há uma ausência de políticas específicas para enfrentar o problema", afirma Montoya.
Ela agrega que é preciso analisar os currículos, a formação de docentes - para garantir que sejam capazes de ensinar crianças vindas de contextos sociais difíceis -, contar com um ambiente e uma infraestrutura adequados e ter uma rede de políticas sociais de apoio.
No Brasil, uma nova base nacional curricular, documento do Ministério da Educação que vai definir diretrizes de ensino, está atualmente em fase de consulta pública.
Meninas na escolaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAmérica Latina avançou na inclusão de alunos, mas agora precisa de avanços qualitativos no ensino
"Não há como resolver (o problema da educação) sem uma visão integral do sistema educacional", opina Montoya.
O problema não se restringe à América Latina - é um drama global.
O relatório da Unesco calcula que, no mundo, haja 617 milhões de crianças e adolescentes - o equivalente a três vezes a população total do Brasil - incapazes de entender minimamente um texto ou resolver problemas matemáticos básicos, o que seria esperado em sua idade escolar.
Na África Subsaariana, 88% dos alunos concluem os estudos equivalentes ao fundamental com problemas de compreensão em leitura. Para efeitos comparativos, esse índice cai para 14% na América do Norte e na Europa. Ángel Bermúdez
Professor Edgar Bom Jardim - PE