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sábado, 15 de dezembro de 2018

Reconhecimento:Alceu Valença, um dos nossos maiores patrimônios culturais


Milhões de discos vendidos, prêmios importantes, um filme no currículo, inúmeras músicas de sucesso e público que atravessa gerações. Foto: Shilton Araújo / Esp. DP (Shilton Araújo / Esp. DP)
Milhões de discos vendidos, prêmios importantes, um filme no currículo, inúmeras músicas de sucesso e público que atravessa gerações. Foto: Shilton Araújo / Esp. DP






















No auge dos seus 72 anos, o múltiplo artista pernambucano Alceu Valença fez mais de 80 shows só neste ano e, ao longo da carreira, vendeu milhões de discos, ganhou prêmios importantes, dirigiu e lançou o filme A luneta do tempo - obra da qual ele se orgulha muito -, acumula inúmeras músicas de sucesso e seu público alcança diferentes gerações. Toda essa honrosa bagagem justifica a escolha do público em nomear Alceu como o vencedor da categoria Música, do Grande Prêmio Orgulho de Pernambuco, promovido pelo Diario de Pernambuco. “É uma honra e um prazer. Pernambuco está na essência da minha arte. Praticamente toda a minha obra gira em torno de temas que aprendi desde menino em Pernambuco. Minha poética e musicalidade estão diretamente ligadas a essas influências. É como sempre digo: me sinto como um espelho do meu povo. Eu me reconheço nele, ele se reconhece em mim”, poetiza.
Na infância, não havia radiola na casa onde ele morava com seus pais Décio e Adelma, em São Bento do Una, no Agreste pernambucano. O motivo era o medo que o pai tinha de que o pequeno Alceu se tornasse boêmio e, por isso, não incentivava a sua veia artística. Essa condição da época fez com que o músico escutasse poucas músicas até os dias de hoje. “A música que conheço, eu aprendi com os vaqueiros, os trios de forró, as duplas de violeiros e emboladores. Uma vez, no início da minha carreira, perguntei ao Hermeto Pascoal o que ele costumava escutar. Sabe o que ele respondeu? Nada. Para não me influenciar”, diz, aos risos. 

Foi apenas em 1969 que Alceu Valença, o então jovem de 23 anos, descobriu que tinha talento para a música, durante um curso de férias para o qual foi selecionado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Depois das aulas, ele levava seu violão para a praça e cantava xotes, baiões e martelos agalopados. “Os hippies e hare krishnas adoravam e dançavam em torno de mim”, recorda. Essas despretensiosas apresentações despertaram a curiosidade de um jornal de Massachusetts, que perguntou o que ele cantava. “Protest songs”, respondeu. Esse mesmo jornal definiu o pernambucano como o “Bob Dylan brasileiro”, quando ele nunca havia escutado uma música sequer do cantor e compositor norte-americano.

Nos Estados Unidos, onde descobriu seu talento, ele já foi chamado de Bob Dylan brasileiro. Hesíodo Goes / Esp. DP
Nos Estados Unidos, onde descobriu seu talento, ele já foi chamado de Bob Dylan brasileiro. Hesíodo Goes / Esp. DP
De volta ao Brasil, Alceu classificou uma música no Festival Internacional da Canção (FIC), e foi ali que ele começou a se sentir profissional. Dois anos depois, gravou o primeiro disco, Quadrafônico, em dupla com Geraldo Azevedo. “Eram poucas as horas de estúdio e gravávamos de madrugada, escondidos. Foi utilizado o sistema quadrafônico, uma novidade para a época”, relata. No início da carreira, as metáforas usadas em suas letras eram um método para driblar os censores. Em Quadrafônico, por exemplo, havia uma música chamada Talismã, com uma letra que dizia: “Joana, me dê um talismã / viajar”. A princípio, a letra não apresentava uma mensagem explícita, mas a censura alegou que “Joana é marijuana e viajar é uma referência a isso”. Por este motivo, a letra teve de ser modificada para “Diana, a caçadora”. “Troquei Joana por Diana e saí de lá com a música liberada”, relembra. 

EXTERIOR
Os Estados Unidos não foram o único país do exterior em que Alceu fez morada. Ele também residiu durante um ano - e depois voltou diversas vezes - na França, lugar pelo qual nutre um carinho especial. Durante as idas a Paris, o músico compôs aquele que seria o seu primeiro grande sucesso, Coração bobo. “Escrevi em uma noite em que eu tive muita saudade de casa. Eu me sentia em uma espécie de autoexílio. E essa música acabou abrindo o caminho para que eu me tornasse um artista realmente popular”, avalia. Alceu afirma que tem a expertise de compor uma música com facilidade e agilidade. Ele tem canções que falam de amor, de lembranças, de lugares. Outras que falam do Brasil, com mais ou menos esperança, dependendo da fase que o país esteja passando. “Muitas coisas me inspiram. Como diria o filósofo Ortega y Gasset: ‘Eu sou eu e as minhas circunstâncias’. Minha música reflete isso”, diz. 

Advocacia

Embora seu grande talento seja na música, Alceu vem de uma família de advogados. Seu pai foi procurador do estado e o incentivou a ingressar na profissão. “Eu fiz o curso completo na Faculdade de Direito do Recife, cheguei a estagiar em um escritório de advocacia, mas desisti porque achei que o réu tinha razão na primeira causa que apareceu”, diverte-se. “O Direito me ensinou a ver sempre os dois lados, a ter uma noção mais completa do que seja cidadania. E a Filosofia, minha disciplina favorita na faculdade, me ensinou a questionar sempre”, conclui. O artista também trabalhou como jornalista na sucursal do Jornal do Brasil e nas revistas da Editora Bloch. 

Projetos

Atualmente, o Maluco Beleza se prepara para o show que fará no Recife Antigo, durante o Réveillon Parador, no último dia do ano. Em janeiro, ele viaja de férias para Portugal e, no carnaval, volta à capital pernambucana para se apresentar na festa momesca, como faz quase todos os anos. Em 2019, a casa que o artista possui em Olinda será reformada e aberta ao público com exposição de fotos, discografias e figurinos de Alceu, nos quatros domingos de fevereiro que antecedem a festividade do carnaval. “A casa vai abrigar diversas atividades culturais. Será um lugar dedicado não só a mim, mas à cultura pernambucana e nordestina”, adianta. Já durante os quatros dias de carnaval, o espaço vai se transformar em camarote e casa de apoio para os foliões.
 De Diário de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Reggae é Patrimônio Imaterial da Humanidade

Foto: Jewel SAMAD / AFP
Foto: Jewel SAMAD / AFP
O reggae, estilo musical jamaicano que conquistou fama em todo o planeta graças a artistas como Bob Marley, passou a integrar a lista de Patrimônio Imaterial da Humanidade, anunciou a Unesco nesta quinta-feira. A decisão de incluir o reggae na lista foi tomada pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco, reunido esta semana em Port-Louis, a capital das Ilhas Maurício.

"É um dia histórico", celebrou a ministra da Cultura da Jamaica, Olivia Grange, que viajou a Maurício para a oportunidade. "Destaca a importância de nossa cultura e nossa música, cujo tema e mensagem é amor, união e paz", afirmou em uma entrevista à AFP.

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) destacou que a contribuição deste estilo musical "à reflexão internacional sobre questões como a injustiça, a resistência, o amor e a condição humana demonstram a força intelectual, sociopolítica, espiritual e sensual deste elemento do patrimônio cultural". A organização também recordou que, embora a princípio tenha sido uma expressão musical de comunidades marginalizadas, com o tempo o reggae foi "abraçado por amplos sectores da sociedade, sem distinção de sexo, etnia ou religião".

O reggae se une a uma lista criada em 2003 e que inclui quase 400 tradições ou expressões culturais, que vão da pizza napolitana até o flamenco, passando pela cerveja belga, a ioga e o tango. O comitê da Unesco, que precisava examinar quase 40 pedidos de inscrição durante a reunião, também incluiu em sua lista as Parrandas de Cuba. O reggae, apresentado pela Jamaica, se desenvolveu nos anos 1960 a partir do ska e do rocksteady, além de ter adicionado influências do soul e do rythm and blues americanos.

O estilo caribenho ganhou popularidade rapidamente nos Estados Unidos e Reino Unido, graças aos muitos imigrantes jamaicanos que chegaram ao país após a Segunda Guerra Mundial. Também se tornou música dos oprimidos, abordando temas sociais e políticos, a prisão e as desigualdades.

O reggae é indissociável do movimento espiritual rastafari, que sacraliza o imperador etíope Haile Selassie e promove o uso da maconha. Em 1968, a canção "Do the Reggay" do grupo Toots and the Maytals foi a primeira a utilizar o nome reggae, um ritmo que depois conquistou grande êxito mundial graças aos clássicos de Bob Marley e seu grupo The Wailers, incluindo "No Woman, No Cry", "Stir It Up" ou "I Shot the Sheriff".  "O reggae é exclusivamente jamaicano", afirmou a ministra da Cultura antes da votação. "É uma música que nós criamos e que penetrou em todo o mundo".

Ao contrário da lista de Patrimônio Mundial, a de Patrimônio Cultural Imaterial não se estabelece segundo critérios de "excelência ou de exclusividade", de acordo com a Unesco. Não busca reunir o patrimônio "mais belo", e sim representar sua diversidade e destacar as artes e habilidades das diferentes comunidades.
Com informações do DP.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Livro revela a Relação de Dom Hélder Câmara e as Artes


O livro traz 11 artigos, assinados por 17 pesquisadores. Foto: Reprodução
O livro traz 11 artigos, assinados por 17 pesquisadores. Foto: Reprodução

Algumas frases sintetizam pessoas e fatos. Para o arcebispo católico que comandou a Arquidiocese de Olinda e Recife de 1964 a 1985, Gilbraz de Souza Aragão cunha que “Dom Helder foi um homem múltiplo”. A expressão consta no livro que o professor prefacia e cujo lançamento está marcado para hoje, às 19h, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). A obra Andar às voltas com o belo é andar às voltas com Deus: a relação de Dom Helder Camara com as artes revela o sacerdote, conhecido mundialmente pela defesa dos direitos humanos, como alguém apaixonado e conhecedor do mundo artístico. E também um artista. No evento de hoje, serão exibidos trechos de filmes que o arcebispo assistiu e comentou, interpretadas quatro canções da MPB comentadas por ele e declamados quatro poemas de sua autoria, além da audição do VI Movimento de A sinfonia dos dois mundos.

Organizado por Newton Darwin de Andrade Cabral e Lucy Pina Neta, o livro traz 11 artigos, assinados por 17 pesquisadores. Entre eles, os próprios organizadores. Os textos, guiando-se pela análise de Gilbraz, abre perspectiva para se entender dom Helder por cores diferentes da repressão sofrida durante os governos militares. “A ética que dom Helder encarnou é pintada em muitos tons de cinza, sem atenção para o colorido estético que a revestiu e inspirou”, ressalta o prefaciador. Em meio às atividades eclesiais, às conferências e às denúncias de violência e tortura, o arcebispo bebia das fontes do teatro, do cinema, da poesia e da música.

A preocupação de dom Helder com o belo e o conhecimento se traduziu em encontros no Palácio dos Manguinhos, onde o arcebispo morou de 1964 a 1968. No prédio da Avenida Rui Barbosa, ele promoveu as “noitadas”. Essas, conforme o texto de Newton Cabral e Carlos André Silva de Moura, foram encontros que reuniram intelectuais de diversas áreas. Da filosofia à sociologia, à teologia, às letras. Na lista de quem participou ou foi cogitado a participar das noitadas figuram escritores, como João Cabral de Melo Neto e Mauro Mota; juristas, a exemplo de Lourival Vilanova; padres, como José Comblin; e artistas plásticos, entre esses, Francisco Brennand. A relação inclui pastores e gente ligada à música, ao teatro e ao ensino.

“Fica evidente a multiplicidade de áreas e temas pensados ou abordados”, afirmam Newton e Carlos sobre as noitadas. A multiplicidade refletia as preocupações de dom Helder, que propunha ou acatava sugestões. Além disso, o arcebispo ficava atento à agenda de visitas à arquidiocese. Quando podiam, os visitantes participavam das noitadas. Ora expondo. Ora participando somente das discussões. Haviam críticas à abertura do Palácio dos Manguinhos para os debates, mas a isso dom Helder responde em uma carta a amigos: “Neste Recife parado, traumatizado, com medo de pensar, um grupo excepcional de inteligências honestas e limpas ficou até meia-noite em pleno debate de ideias, sinônimo, a meu ver, de louvor a Deus”. As noitadas foram uma das maneiras encontrados pelo arcebispo de “encher, um pouco, Manguinhos”. E cujo último registro de realização data de março de 1969, quando mandavam a censura e a repressão impostas pelo Ato Institucional Nº 5, o AI-5.

A relação do arcebispo, um homem de gestos largos e por muitos classificados de teatrais, com o teatro é analisada por Cláudio Bezerra e Stella Maris Saldanha. No capítulo Um profeta escolhido teatro, eles apontam que dom Helder escolheu o teatro, mas na relação dele com a arte da representação se deu o contrário. Criança, Helder era carregado pelo tio, um diretor de teatro, para assistir ensaios de peças. O gosto por tal arte alçou o padre além da condição de público, mas a de autor. A ele, que se tornou personagem de dois espetáculos, é creditada a autoria de um auto inédito.

A condição de autor do arcebispo também se vê na música. Ouvinte assíduo, escreve Percy Marques Batista, em Variados tons de um Dom Helder e a MPB, o sacerdote ia a shows, promovia audições e discussões e escrevia sobre a música. É nítida a identificação dele com as composições de Chico Buarque. Das canções Pedro Pedreiro e A Banda, ambas lançadas em 1966, dom Helder se identifica com os sentimentos de esperança.

A esperança também está em A sinfonia dos dois mundos, obra que reúne os argumentos do arcebispo, preocupado em superar as fronteiras ideológicas, sociais e econômicas do mundo, e o talento do maestro suíço Pierre Kaelin. Quem analisa a sinfonia no livro é Cícero Williams da Silva. Executada em 39 cidades de 14 países, a sinfonia somente foi apresentada no Brasil em 1985, com o fim dos governos militares. Ela é considerada o ápice do lado artista de dom Helder artista, que bebeu das crônicas e da poesia para falar da fé, da pobreza, do carnaval e da arte. Por crer que “andar às voltas com o belo é andar às voltas com Deus”.

Serviço
Lançamento do livro Andar às voltas com o belo é andar às voltas com Deus: a relação de Dom Helder Camara e as artes
Quando: nesta terça-feira (27), às 19h
Onde: Auditório Dom Helder Camara, no Bloco A da Unicap (Rua Afonso Pena, 70, Santo Amaro) 
Preço: R$ 45 (nas livrarias) e R$ 39 (no lançamento)
Editora: Bagaço
296 páginas.
Com informações de Diario de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 24 de novembro de 2018

Arte:Como Yayoi Kusama superou trauma e transtorno mental para se tornar a artista mais vendida no mundo


Yayoi KusamaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionYayoi Kusama superou trauma infantil, preconceitos e um transtorno mental antes de se tornar uma sensação mundial
Yayoi Kusama é a artista mulher mais vendida no mundo. Com quase 90 anos, ela se mantém impressionantemente produtiva e popular. Sua exposição na galeria Victoria Miro, em Londres, atrai multidões ansiosas para se fotografarem dentro do "instagramável" Quarto Infinito, repleto de bolinhas e cores que marcam obras e figurinos da japonesa.
Mas antes de chegar a essa posição de destaque, Kusama teve que superar um trauma infantil e assistir a suas ideias serem roubadas por colegas homens - episódios que agravaram um quadro de transtorno mental e tentativas de suicídio. Sua história extraordinária de sobrevivência é contada no fascinante novo documentário Kusama: Infinity.
exposição de Yayoi KusamaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA exposição de Yayoi Kusama - incluindo o seu Quarto do Espelho Infinito - atrai multidões e se provou amplamente popular no Instagram
A artista nasceu em 1929 na cidade provinciana rural de Matsumoto, no Japão, e desde nova estava determinada a ser pintora. Seus trabalhos iniciais revelam o que se tornaria uma persistente fascinação tanto por formas naturais quanto por bolinhas - as últimas supostamente apareceram em uma visão. Mas faltava a ela apoio familiar.
Não era comum que uma mulher tivesse ambições de carreira à época. "A expectativa era que ela se casasse e tivesse filhos - e não apenas se casasse, mas tivesse um casamento arranjado [como aconteceu]", afirmou Heather Lenz, produtora e diretora de Kumana: Infinity, em entrevista à BBC Culture.
A mãe de Kusama pegava seus desenhos antes que ela pudesse terminá-los, o que pode explicar seu impulso criativo obsessivo em que ela corre para terminar um trabalho antes que ele possa ser tomado dela.
Frustrada com a infidelidade do marido, a mãe da artista também forçava a filha a espiar o pai e suas amantes. A experiência, de tão traumática, resultou em aversão a sexo ao longo da vida.
Heather Lenz e KusamaDireito de imagemTOKYO LEE PRODUCTIONS
Image captionHeather Lenz - mostrada com Kusama - é a diretora do novo documentário sobre a artista
Kusama passou a buscar formas de escapar daquele ambiente doméstico sufocante. A pintora americana Georgia O'Keeffe, por exemplo, lhe despertava admiração pelas representações fantásticas e oníricas de sua obra. Por isso a jovem japonesa deu um passo extraordinariamente ousado ao escrever-lhe pedindo conselhos. "Estou apenas no primeiro passo de uma longa e difícil vida para me tornar uma pintora. Você gentilmente me mostraria o caminho?", perguntou.
Ela deve ter ficado paralisada quando O'Keefe escreveu-lhe de volta, mesmo que fosse para alertá-la que "neste país [EUA], uma artista tem dificuldades de sobreviver". Apesar disso, O'Keefe aconselhou Kusama a se dirigir às fronteiras americanas e mostrar seu trabalho a qualquer um que pudesse se interessar.
Na época, Kusama falava muito pouco de inglês, e era proibido mandar dinheiro do Japão para os EUA. Destemida, ela costurou notas de dólar em seu kimono e partiu pelo oceano Pacífico determinada a conquistar Nova York e fazer seu nome no mundo.

Ao infinito e além

Mas não seria assim tão fácil. O domínio masculino no mundo artístico de Nova York era tamanho que muitas comerciantes de arte não queriam exibir o trabalho de outras mulheres.
Embora Kusama tenha ganho elogios de Donald Judd, um reconhecido crítico e artista, no início de sua carreira, e mesmo que o pintor Frank Stella fosse um admirador seu, o verdadeiro sucesso sempre fugia de suas mãos. A jornada se tornou ainda mais agonizante quando teve que assistir a colegas ganharem reconhecimento às custas de suas ideias.
Kusama jovemDireito de imagemHARRIE VERSTAPPEN
Image captionNos primeiros anos de sua carreira, Kusama era subestimada, assistindo a seus colegas ganharem fama por suas ideias
Claes Oldenburg foi "inspirado" por seu sofá de tecido fálico para criar uma escultura mole pelo qual ele se tornaria famoso. E Andy Warhol copiaria em Papel de Parede de Vacas a ideia de Kusama de criar imagens repetidas numa obra, como ela fez na instalação Mil Barcos.
Mas o pior estava por vir. Em 1965, Kusama criou o primeiro ambiente de sala espelhada do mundo, um precursor do Quarto de Espelho Infinito, na Galeria Castellane, em Nova York. Como um homem se preparava para ir à Lua, Kusama foi a única a perceber o crescente interesse do público pelo infinito. Ela respondeu a esse conceito desalentador por meio de um ambiente aparentemente interminável.
Poucos meses depois, em uma total mudança de direção artística, o artista de vanguarda Lucas Samaras expôs sua própria instalação espelhada na bem mais prestigiada Galeria Pace.
Atormentada e abatida, Kusama se jogou da janela de seu apartamento.
Com o apoio de amigos, como Beatrice Webb, dona de galeria, a artista conseguiu se recuperar. E numa impressionante demonstração de determinação, Kusama se dirigiu à Bienal de Veneza, em 1966, sem convite, para expor seu Jardim Narciso.
Com uma abordagem espirituosa do comércio de arte no mundo, a obra compreende 1.500 bolas espelhadas, que ela vendeu por poucos dólares na época, antes que as autoridades colocassem fim àquilo.
"A partir de então, ela decidiu que não seria mais uma escrava do mercado de galerias e que não teria ninguém decidindo quando e onde ela exibiria sua arte", afirma a documentarista Heather Lenz.

Confrontando seus demônios

De volta aos EUA, Kusama passou a encenar atos em locais movimentados, como o Central Park e os jardins do MoMa, geralmente com a intenção de promover a paz ou com críticas ao sistema de arte. Mas muitos desses eventos envolviam nudez, o que provocou um escândalo no Japão e vergonha em sua família conservadora. Até parte da imprensa americana criticou o que foi interpretado como um incessante desejo de publicidade.
homens nusDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA nudez frequente em seus trabalhos escandalizou o Japão de Kusama e trouxe vergonha à sua família
Cada vez mais desiludida e deprimida, ela voltou ao Japão, onde, sem o apoio da família ou amigos, e se sentindo incapaz de pintar, tentou novamente se suicidar.
Mas parece que o desejo de Kusama de criar sempre foi maior do que seu desejo de morrer. Ela acabou encontrando um hospital onde os médicos tinham interesse em arteterapia e a acolheram.
Nesse ambiente seguro, se viu capaz de voltar a fazer arte. Seu primeiro trabalho foi uma série obscura de colagens em que ela adotou imagens dos ciclos naturais da vida, quase como se estivesse se desafiando a confrontar seus demônios.
KusamaDireito de imagemTOKYO LEE PRODUCTIONS
Image captionKusama se internou em um hospital que adotava a arteterapia - e começou a reconstruir sua vida e a fazer arte novamente
A essa altura, Kusama tinha praticamente sido esquecida tanto em casa quanto no exterior, mas, ao mostrar seu impulso criativo e sua determinação, ela começou a se restabelecer do zero. Seu trabalho começou a gradualmente ser reavaliado. Uma retrospectiva de sua obra foi exposta no Centro de Arte Contemporânea Internacional em Nova York, em 1989, e quatro anos depois, o historiador de arte japonês Akira Tatehata conseguiu convencer o governo de que ela deveria ser a primeira artista solo a representar o Japão na Bienal de Veneza, em 1993.
Embora uma delicada Kusama tivesse que ser acompanhada por um psicoterapeuta, pelo receio de ela sofrer uma crise nervosa, a exposição foi um sucesso fenomenal e garantiu uma enorme transformação no modo como ela era recebida e reconhecida no Japão.
exposição de Yayoi KusamaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO trabalho de Kusama foi gradualmente reavaliado - ela é agora a artista mulher mais vendida do mundo
Outras retrospectivas foram realizadas enquanto seu reconhecimento aumentava e seu ambiente de apoio permitia que Kusama continuasse a transformar seu trauma em arte. No entanto, quando Lenz começou a trabalhar no documentário em 2001, a reputação global de Kusama ainda estava engatinhando. "Ironicamente, pensei que o filme traria grande sucesso a ela", ri a cineasta.
O crescimento surpreendente de Kusama nos anos seguintes se deve muito às redes sociais, mas espera-se que o documentário encoraje as pessoas a largar seus telefones e a gastar um tempo para refletir apropriadamente sobre seu trabalho na próxima vez que forem contemplá-lo. Seja vendo abóboras, bolinhas ou imersos em um imponente quarto infinito, o que os visitantes estão admirando nada mais é do que o poder redentor da arte.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Prefeitura diz que Paço do Frevo continua aberto, mas com horário reduzido


Localizado no Bairro do Recife, o Paço possui quatro pavimentos e 1.733 metros quadrados. Foto: Sol Pulquério/PCR/Divulgação.
Localizado no Bairro do Recife, o Paço possui quatro pavimentos e 1.733 metros quadrados. Foto: Sol Pulquério/PCR/Divulgação.
Após as especulações de fechamento do Paço do Frevo, que surgiram na manhã desta terça-feira (13), a Prefeitura do Recife informou que o equipamento continua aberto. No entanto, por estar em um período de transição, o Paço funcionará com horário reduzido até 1º de dezembro. As portas do museu estarão abertas ao público apenas no turno da tarde, das 13h às 17h, de terça a domingo. Até então, o centro cultural funcionava das 9h às 17h de terça a sexta e das 14h às 18h nos sábados e domingos.

De acordo com a administração municipal, acabou nesta terça o contrato, assinado em 2013, entre a administração pública e a Organização Social Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), para manutenção e oferta regular dos serviços e programações do equipamento. Um outro processo licitatório já foi realizado e vencido pelo mesmo IDG, que agora está na fase de implementação e regularização da operação. 

Sob a condição de anonimato, funcionários do Paço do Frevo disseram estar apreensivos com o destino do centro cultural. Segundo uma colaboradora do IDG, todos os funcionários já receberam, há um mês, aviso prévio da organização social que administra o equipamento. De acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), no aviso prévio, os funcionários têm duas opções: reduzir duas horas a jornada diária ou faltar sete dias corridos mantendo o salário integral. Os funcionários ouvidos pelo Diario disseram não ter certeza se haverá expediente nesta quarta-feira (14).

Entre 2015 e 2016, surgiram diversos rumores sobre o encerramento das atividades do Paço. Em 14 de novembro de 2015, o tratado entre Prefeitura do Recife e IDG foi aditado em 45 dias, se estendendo até o fim daquele ano, quando o presidente do conselho de administração municipal do IDG no Recife, Ricardo Piquet e o prefeito da cidade, Geraldo Julio, se reuniram e acordaram novo contrato.  

Os rumores em torno do possível fechamento do museu tiveram início quando os funcionários do IDG empregados no Paço do Frevo receberam aviso prévio. Na época, a empresa já rebatia as suspeitas de encerramento das atividades, alegando que a renovação do contrato estava sendo negociada. 

Museu
O Paço do Frevo é um centro de referência de ações, projetos e atividades de documentação, transmissão, salvaguarda e valorização de uma das principais tradições culturais brasileiras, reconhecida como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco: o frevo. Um lugar para estudar, criar, experimentar e vivenciar o universo de histórias, personalidades, memórias e linguagens artísticas.
Localizado no Bairro do Recife, tem quatro pavimentos e 1.733 metros quadrados. O imóvel faz parte do complexo turístico das cidades de Recife e Olinda, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1998, e abrigou até 1973 a Western Telegraph Company, empresa pioneira na implantação do telégrafo no Brasil. O Paço é uma iniciativa da Prefeitura do Recife, com realização da Fundação Roberto Marinho e gestão do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG).

O projeto conta com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), do Governo do Estado de Pernambuco, por meio da Secretaria de Turismo e da Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur), do Instituto Camargo Corrêa, do Instituto Votorantim, do Itaú, da Rede Globo e apoio do Iphan e do Ministério da Cultura, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.

Repercussão

Na tarde desta terça-feira (13), a situação do Paço do Frevo foi discutida na Câmara Municipal do Recife. O vereador Ivan Moraes (PSOL) usou a tribuna da Casa de José Mariano para afirmar que cobrou informações a respeito do caso com o Poder Executivo, mas não obteve respostas.

"O presidente da Fundação (de Cultura Cidade do Recife) não nos atendeu. Nos corredores, há quem diga que isso é notícia falsa (sobre o fechamento). A licitação teria sido finalizada na semana passada, mas ainda não temos definição do contrato. Podemos dizer, com base em dados oficiais, que o contrato se encerra hoje, e que as pessoas que trabalhavam nesse espaço estão sendo demitidas. Quem garante que ele abrirá amanhã?", questionou.

Confira a nota da Prefeitura do Recife na íntegra:
"A Prefeitura do Recife esclarece que o Paço do Frevo não está encerrando as atividades. O equipamento atravessa agora um momento de transição de gestão. Acabou hoje (13) o contrato, assinado em 2013, entre a administração pública e a Organização Social Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), para manutenção e oferta regular dos serviços e programações do Paço. Um outro processo licitatório já foi realizado e vencido pelo mesmo IDG, que agora está na fase de implementação e regularização da operação, para que possa seguir atuante na salvaguarda, promoção e renovação do frevo como genuína expressão cultural da cidade. Durante esse período de transição, até o dia 1º de dezembro, o Paço do Frevo continua funcionando no período da tarde, para atendimento ao público."
Com informações do Diario de Pernambuco


Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Arte:Espetáculo Ballet de Moscou no Gelo chega ao Recife

A direção artística é de Olha Halayko, a direção musical é de Vitaly Vidiniev e os figurinos de Ana Kondratova. Foto: Hyunreen/Divulgação
A direção artística é de Olha Halayko, a direção musical é de Vitaly Vidiniev e os figurinos de Ana Kondratova. Foto: Hyunreen/Divulgação

As famosas histórias de Cinderela O lago dos cisnes norteiam o espetáculo da escola do Ballet Russo, que está em turnê pelo Brasil e chega nesta terça-feira a Pernambuco. A montagem Ballet de Moscou no gelo preza por performances executadas em uma pista de 120m2 feita de gelo de verdade, além de um refinado figurino e coreografias repletas de brilho e cor. A apresentação será às 20h, no Teatro Guararapes, em Olinda, com ingressos a partir de R$ 75.
Dividido em dois atos (o primeiro com 47 minutos, e o segundo com 45), o espetáculo apresenta novas nuances de obras já conhecidas do público. "O lago dos cisnes é muito conhecido por todos, talvez tenhamos visto, em algum momento, essa história feita por algum balé, mas nunca a vimos sobre gelo aqui no Brasil. Igualmente é a Cinderela, uma das obras mais famosas, que o público mais conhece e que já foi apresentada muitas vezes, porém nunca sobre o gelo. Por isso escolhemos esses títulos", explica Alexander González, produtor internacional da peça.

Segundo González, a ideia é original, pois, no início, a tecnologia não permitia fazer o que o grupo está fazendo agora sobre o gelo. "Esse não é um show de patinação no gelo, não é um show de patinação artística, isso é balé clássico sobre o gelo. É muito diferente de tudo que já vi", comenta. "Essa modalidade nasceu dos russos, que têm o melhor balé do mundo e que têm a cultura do gelo. É algo maravilhoso que somente a tecnologia pode fazer, gelo de verdade no palco de um teatro", completa. 
A direção artística é de Olha Halayko, enquanto a direção musical é de Vitaly Vidiniev, com figurinos de Ana Kondratova. Já a responsável pela turnê é Oksana Kordiyaka. Em passagem pelo Brasil desde 14 de outubro, quando iniciaram as apresentações na cidade de Curitiba, o grupo já passou por Goiânia, e depois Brasília. As próximas paradas são em Natal, em 4 de novembro, e Fortaleza, em 8 e 9 de novembro.

HISTÓRIA
Fundada em 1967, tendo mais de cinco décadas de história, a escola do Ballet Russo se apresentou em 80 países, colecionando mais de cinco mil apresentações. No elenco, renomados patinadores, entre campeões olímpicos e mundiais, além de ex-atletas das principais seleções de patinação artística e no gelo. “É maravilhoso poder estar com esse espetáculo, que sempre traz alegria e aplausos. É um espetáculo que encanta. Quem assiste diz que é maravilhoso, majestoso e imperdível”, diz o produtor.
Entre os diversos espetáculos apresentados, estão as principais releituras de famosas obras como Romeu e Julieta, A bela e a fera, Quebra-nozes, Giselle e A bela adormecida. Com forte atuação principalmente no continente asiático, o grupo é conhecido no Japão e na Coreia do Sul como o Bolshoi on ice, em referência a uma das mais importantes e melhores escolas de balé russo.

Serviço
Ballet de Moscou no Gelo
Quando: nesta terça-feira, às 20h
Onde: Teatro Guararapes - Centro de Convenções de Pernambuco (Av. Prof. Andrade Bezerra, s/n, Salgadinho, Olinda)
Plateia A: R$ 290 e R$ 145 (meia)
Plateia B: R$ 250 e R$ 125 (meia)
Balcão: R$ 150 e R$ 75 (meia)
Fonte: Diario de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE