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domingo, 4 de março de 2018

Mulheres têm pouca voz nos filmes premiados com o Oscar, aponta levantamento da BBC

Janelle Monae, Rachel McAdams e Lupita Nyong'oDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAtrizes costumam ter falas menores que seus colegas masculinos de elenco
Em meio aos acalorados debates sobre igualdade de gênero em Hollywood, a indústria cinematográfica anglófona ainda não foi capaz de garantir a representatividade feminina no cinema, aponta uma análise realizada pela BBC a partir do chamado "teste de Bechdel", que mensura a participação de mulheres em obras de ficção.
Desde a primeira cerimônia do Oscar, em 1929 (a deste ano será realizada neste domingo), a influência política e social das mulheres cresceu em muitas áreas, mas não tanto no cinema - pelo menos segundo os critérios do teste.
Um filme passa no teste de Bechdel se tem ao menos duas personagens femininas que conversem entre si pelo menos uma vez sobre algo que não seja um homem.
Até agora, neste 90º ano dos prêmios da Academia, menos da metade dos vencedores do prêmio de melhor filme foram "aprovados" nessa mensuração, segundo a pesquisa da BBC.
E não houve melhora com o passar das décadas: vencedores recentes e relativamente recentes como Moonlight: Sob a Luz do Luar, Gladiador Quem Quer Ser um Milionário? não passam no teste, bem como dois dos indicados neste ano.
"Acho que está ocorrendo como sempre ocorreu - histórias contadas de forma similar a como foram contadas antes, sem questionamento", opina Ellen Tejle, que lançou um ranking para destacar, na Suécia, filmes que passam no teste de Bechdel.
Gráfico com proporção de falas com mais de 100 palavras ditas por personagens de filmes premiados com o Oscar
"Os integrantes da indústria (cinematográfica) precisam entender que têm poder e responsabilidade no processo de produção de um filme."
O Destino de uma Nação, indicado ao Oscar de melhor filme neste ano, cumpre o pré-requisito de ter duas mulheres, mas em nenhum momento do filme elas conversam entre si sobre algo que não seja um homem.
Dunkirk, que se passa durante a Segunda Guerra Mundial, sequer tem personagens mulheres com nomes - apenas intérpretes de uma "enfermeira" e uma "comissária de bordo".

Limitações

"O que eu odeio é que mulheres são enfiadas em filmes sobre homens; nós merecemos nossa própria narrativa", afirma a crítica de cinema Rhianna Dhillon. "Não é o bastante começar a fazer um filme antes de se dar conta de que apenas homens brancos são representados nele."
O teste foi batizado com o sobrenome da artista gráfica Alison Bechdel: em um cartum de 1985, duas personagens mencionam a mensuração como indicativo de se o filme deve ser visto ou não.
Ainda que a proposta nunca tenha sido criar um método oficial de mensuração, o teste é hoje amplamente utilizado na crítica cinematográfica - ainda que tenha diversas limitações.
"Adoro o fato de que o teste de Bechdel abre o diálogo a respeito do que está acontecendo (na indústria de cinema)", diz Holly Tarquini, diretora do festival de cinema de Bath, no Reino Unido.
"(Mas) a dificuldade é que muitos filmes misóginos passam no teste; ele não atesta nada a respeito de quem está contando a história. (O filme pornô) The Bikini Carwash Company passa no teste de Bechdel, mas Gravidade (em que a protagonista feminina, interpretada por Sandra Bullock, é praticamente onipresente) não passa."
Gráfico dos filmes dos anos 1970

Como os filmes foram mensurados

A BBC reviu dezenas de filmes, usando como medida de referência os padrões estabelecidos pelo teste de Bechdel. Também coletou e cruzou informações levantadas pelo site bechdeltest.com, abastecido pelo público coletivamente.
Em casos em que o revisor da BBC tinha questionamentos a respeito de como classificar determinado filme - ou em casos de discordância com relação ao bechdeltest.com -, acionavam-se ao menos outros dois revisores, até que se obtivesse um consenso.
Na Suécia, Ellen Tejle usa o teste para avaliar filmes em cartaz no país.
"Muitos filmes passam por conta de apenas uma cena", diz ela. "Recebemos diversos e-mails raivosos e contestadores, alegando que um determinado filme 'não deveria ter passado só por causa de alguns trechos'. Mas isso também é representativo de que as pessoas estão procurando por aquelas cenas - que estão prestando atenção e se importam com isso."

Interseccionalidade

Outros, no entanto, argumentam que o teste de Bechdel é restrito ao gênero, por não mensurar se os personagens dos filmes são bem representados sob outros critérios.
Corrina Antrobus, fundadora do site Bechdel Test Fest, diz que, se coubesse a ela pensar em novas formas de avaliar filmes, "seria de alguma forma que avaliasse a interseccionalidade", ou seja, que considerasse o modo como diferentes aspectos humanos, como etnia, classe e sexualidade, se afetam entre si.
Gráfico dos filmes dos anos 1990
"Seria uma mensuração de como poucos filmes retratam mulheres de diferentes raças, sexualidades, religiões e habilidades, para ter um retrato melhor de quem está faltando ou está mal representado", diz.
Segundo uma análise da Fundação Annenberg, dos 100 principais filmes de 2016, apenas 34 tinham uma personagem principal feminina.
Desses 34, três eram interpretadas por atrizes femininas pertencentes a grupos raciais ou étnicos subrepresentados.
"Quase a metade dos 100 filmes avaliados em 2016 não tinham nenhuma personagem mulher negra com falas (47 de 100) e dois terços ou mais não tinham mulheres asiáticas (66 de 100) e latinas (72 de 100)", aponta o estudo.
"Em contraste, só 11 dos 100 principais filmes de 2016 não tinham meninas ou mulheres brancas."
Estatuetas do OscarDireito de imagemAFP

Que tipo de falas?

Quarenta e três dos últimos 89 vencedores do Oscar de melhor filme passam no teste de Bechdel, incluindo Argo e A Lista de Schindler.
Em ambos os filmes, há bem poucas falas para personagens mulheres - só que, por acaso, essas falas cumprem os pré-requisitos do teste.
Críticos de cinema e espectadores têm debatido o quanto personagens deveriam dizer entre si, para o filme passar no teste de Bechdel.
Um exemplo é Spotlight - Segredos Revelados, que venceu o Oscar de melhor filme em 2016 abordando a investigação jornalística pelo Boston Globe do acobertamento de sacerdotes católicos acusados de abuso sexual. A obra gera debates no site do teste de Bechdel.
Uma das cenas alvo de discussão é a em que a jornalista Sacha Pfieffer (interpretada por Rachel McAdams) ouve de sua avó (cuja personagem não é nomeada no filme) um pedido por um copo d'água.
"Não acho que a (cena da) avó pedindo um copo de água ao ficar sabendo que sacerdotes cometeram abusos passe no teste", diz uma usuária do site.
Gráfico sobre representação feminina
Outra usuária discorda: "Na verdade, acho essa cena crucial e poderosa no filme. Ainda que a avó não seja nomeada, ela é um personagem importante - ela é a voz do leitor médio do (jornal Boston) Globe. O acobertamento sobre o qual ela está lendo é maior do que uma história de homens. Diz respeito a milhares de pessoas e ao fracasso de uma instituição."
Da mesma forma, uma cena de Forrest Gump - O Contador de Histórias provoca discussão: o momento em que duas mulheres conversam sobre veteranos da Guerra do Vietnã se qualifica como conversar sobre homens ou sobre questões maiores?
Ainda que esse levantamento se limite, sobretudo, a filmes americanos, é interessante notar que estudos do Instituto Geena Davis sugerem que a indústria cinematográfica de outros países tem tido maior sucesso em produzir filmes com maior equilíbrio de gênero.
Uma análise de filmes lançados entre 2010 e 2013 colocou a China com o país com o maior número de obras com igualdade de representação de gênero, seguida por Coreia do Sul, Reino Unido, Brasil e Alemanha.
Essa mesma análise apontou que, no caso brasileiro, apenas 9,1% dos diretores cinematográficos dessas obras eram mulheres.
A representação feminina nos bastidores cinematográficos, por sinal, é pequena no mundo inteiro.
Apenas um dos 89 vencedores do Oscar de melhor filme foi dirigido por uma mulher: Guerra ao Terror (2010), de Kathryn Bigleow - que também levou o Oscar de melhor diretora.
Seu filme, no entanto, não passa no teste de Bechdel.
"Por décadas, partiu-se do pressuposto de que as mulheres assistiam a esses filmes, quem quer que estivesse neles, porque eles eram tudo o que havia para assistir", afirma Rhianna Dhillon.
"Enquanto isso, homens têm mais liberdade de escolha porque estão sempre representados. Nós mulheres somos estereotipadas, mas não nos damos conta porque é tão subliminar."
Dhillon acredita que levará muito tempo até que Hollywood encare seus problemas com representação, mas ela vê esperança em filmes como Eu, Tonya e Pantera Negra (elogiado pelo Twitter pela ex-primeira-dama americana Michelle Obama - "graças a vocês (equipe do filme), jovens finalmente verão no cinema super-heróis que se parecem com eles", disse ela).
"Pantera Negra é muito animador, porque não foi feito por um estúdio pequeno; é um filme gigantesco da Marvel e da Disney", diz ela.
Ela nota que o o blockbuster tem diversos exemplos de mulheres "inteligentes e corajosas" que são representadas como "a norma". "É uma das razões pelas quais o público está tão empolgado com o filme", agrega.
Isso indica que pode haver benefícios financeiros aos estúdios que encamparem filmes mais representativos. E há pesquisas sugerindo que filmes com paridade de gênero faturam mais por dólar investido na produção.
"Ouse romper os estereótipos", diz Tejle a cineastas. "Talvez vocês acabem fazendo um filme melhor, com uma história melhor."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Artes:Pantera Negra é marco para a representatividade negra nos filmes de super-heróis

Elenco e produção são compostos, majoritariamente, por afro-americanos. Foto: Marvel Studios/Divulgação
Elenco e produção são compostos, majoritariamente, por afro-americanos. Foto: Marvel Studios/Divulgação

Não é preciso análise profunda para perceber quão pouco diversa costuma ser a produção audiovisual de Hollywood: quem frequenta cinemas deve notar o perfil étnico predominante nos filmes. Estudo publicado no ano passado pela Universidade de Southern, na Califórnia, apontou que brancos representavam 70,8% dos papéis com falas nos cem títulos de maior bilheteria de 2016. Já os atores negros eram apenas 13,6%, de um total de 4.583 personagens. Diante desse cenário pouco representativo, Pantera Negra, blockbuster da Marvel que tem sessões a partir de meia-noite, faz uma saudável inversão, com elenco majoritariamente afro-americano, além do diretor, Ryan Coogler, e outros integrantes da produção.

O núcleo do filme é encabeçado por Chadwick Boseman (T’Challa/Pantera Negra) e tem ainda Lupita Nyong’o (Nakia), Danai Gurira (Okeye), Daniel Kaluuya (W’Kabi) e Michael B. Jordan (Erik Killmonger), entre outros. Martin Freeman (Everett K. Ross) e Andy Serkis (Ulysses Klaue) são os únicos caucasianos no elenco principal. Ainda que seja alardeado como primeiro filme solo de super-herói negro, Pantera Negra não é pioneiro nesse campo, mas é a maior produção. Entre os exemplos anteriores estão os menos lembrados Aço (1997) e Spawn(1997), além do bem-sucedido Blade: O caçador de vampiros (1998), que rendeu duas sequências, em 2002 e 2004. Há, ainda, Mulher-Gato (2004), estrelado por Halle Berry, embora a personagem se enquadre melhor como anti-heroína. 

Seja como for, não é uma lista exatamente longa de filmes nem, muito menos, um problema específico das produções de super-heróis. Aliás, transcende a sétima arte: a falta de diversidade é notável também em outras mídias e expressões artísticas, dos programas televisivos aos videogames. E, claro, abrange outras esferas para além da questão étnica, incluindo a representatividade feminina, LGBT e de pessoas com deficiências, entre outras minorias. 

Pantera Negra nas HQs A despeito do nome, o personagem não fazia referência ao Partido dos Panteras Negras, chegou a declarar Stan Lee, cocriador ao lado de Jack Kirby. A inspiração viria de um personagem de revistas pulp cujo símbolo era justamente a pantera negra. Nas primeiras artes conceituais, Kirby chegou a anotar o nome Coal Tiger(Tigre de Carvão, em português). Herdeiro do trono de Wakanda, uma sociedade fictícia africana mais intelectual e tecnologicamente avançada, T'Challa é também líder do clã Pantera. 

A primeira aparição foi na HQ do Quarteto Fantástico, em julho de 1962 e, após participações especiais ao lado de outros personagens, ganhou um título próprio somente em 1973, na revista Jungle action. Ao longo das décadas, o herói chegou a ter algumas séries, a mais longeva delas com pouco mais de 60 edições. No Brasil, o Pantera nunca teve revista própria e a fase mais recente do personagem, que serve de base para o filme, é publicada em volumes encadernados, compilando as edições mensais, assinadas por Ta-Nehisi Coates (roteiro) e Brian Stelfreeze (arte). 

+ Em versosFã de quadrinhos, o rapper Emicida escreveu, ao lado de Felipe Vassão, uma música intitulada Pantera Negra, dedicada ao herói da Marvel. A faixa, já disponível nas plataformas de streaming, faz referências a outros personagens negros das HQs e à cultura Black e ancestralidade. "Com a garra, razão e frieza, mano/ Se a barra é pesada, a certeza é voltar/ Tipo Pantera Negra (eu voltei)/ Tipo Pantera Negra", diz o refrão da canção. 

Olhar Vencedora do Oscar de atriz coadjuvante por Histórias cruzadas (2012), Octavia Spencer estará no estado do Mississipi para o lançamento do filme e anunciou que irá bancar sessões destinadas a comunidades carentes. "Quero garantir que crianças negras possam se enxergar como super-heróis", disse a atriz, que fez ação similar no ano passado para exibição do filme Estrelas além do tempo.

Outros heróis negros 

John Stewart (1971) 
Substituto de Hal Jordan, o mais conhecido dos personagens a assumir o manto de Lanterna Verde, Stewart se tornou o protagonista da série durante alguns números nos anos 1980. Ganhou mais popularidade na série animada Liga da justiça, exibida de 2001 a 2006, o que influenciou nos quadrinhos, desfrutando de mais destaque a partir daí. Especula-se que John Stewart seja integrado ao universo cinematográfico da DC. 

Tempestade (1975) 
Já que as histórias dos X-Men traziam subtexto sobre tolerância e enfrentamento ao preconceito, fez todo o sentido a criação de Ororo Munroe, mutante descendente de uma linhagem ancestral de feiticeiras africanas. Mais conhecida pelo codinome de Tempestade, pela capacidade de manipular o clima, a personagem chegou a se casar, nos anos 2000, com o Pantera Negra, mas a união teve fim. 

Miles Morales (2011) 
O personagem negro e latino assumiu o manto do Homem-Aranha em uma linha de quadrinhos paralela ao universo original do herói. Posteriormente, Miles foi integrado à série regular de títulos da Marvel e coexiste junto com a versão clássica do aracnídeo, Peter Parker. Miles Moraes será o protagonista do longa-metragem em animação Homem-Aranha no Aranhaverso, que estreia nos cinemas em dezembro. 

Luke Cage (1972) 
Um dos primeiros super-heróis negros a ter revista mensal própria, Luke Cage foi transposto para as telas recentemente, em série da Netflix de mesmo nome. Com inspirações no movimento blaxploitation dos anos 1970, a HQ era ambientada no Harlem e, antes de se tornar um herói de aluguel, Cage foi membro de uma gangue e praticou pequenos delitos. Simbólico, o poder dele é ter uma pele invulnerável e superforça. 

Raio Negro (1977) Primeiro personagem negro da DC Comics a ter um título solo, repetiu, recentemente, feito similar na TV, estrelando série própria realizada em parceria entre o canal CW e Netflix. Após lidar com a perda do pai, morto por mafiosos locais, e sentir a ameaça de uma gangue poderosa, Jeff Pierce constrói, com a ajuda de um amigo, um uniforme com poderes elétricos e decide combater o crime no bairro. 

Riri Williams (2016) 
Com 15 anos de idade, a adolescente chamou a atenção do Homem de Ferro original, Tony Stark, por conseguir construir uma armadura similar à do herói. Com a bênção de Stark, que auxilia com treinamento e suporte tecnológico, a garota assume o lugar do herói. O arco inicial de histórias de Riri Williams começou a ser publicado recentemente no Brasil na revista mensal Homem de Ferro, da Panini. 
Com informações de Diário de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Tuiuti é campeão no coração dos brasileiros

O que importa é que a verdade para o povo brasileiro é que a Tuiuti foi a campeão das escolas de samba do Rio de Janeiro em 2018.


Cante:
Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social (Meu Deus) "

Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação

Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o valor? Pobre artigo de mercado
Senhor eu não tenho a sua fé, e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar escravidão e um prato de feijão com arroz

Eu fui mandinga, cambinda, haussá
Fui um rei egbá preso na corrente
Sofri nos braços de um capataz
Morri nos canaviais onde se planta gente

Ê calunga! Ê ê calunga!
Preto Velho me contou, Preto Velho me contou
Onde mora a senhora liberdade
Não tem ferro, nem feitor

Amparo do rosário ao negro Benedito
Um grito feito pele de tambor
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um homem de cor

E assim, quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
Áurea feito o ouro da bandeira
Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel

Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação


Compositor: Claudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal


samba enredo tuiuti 2018
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Arte:Das peças indígenas a fósseis: os itens culturais brasileiros que estão ou correm risco de ir parar no exterior


Desenho de índio com manto tupinambá
Image captionAquarela sobre pergaminho mostra índios brasileiros, um deles com um manto tupinambá; mantos conhecidos estão em museus da Europa

Os mantos tupinambás são resquícios exuberantes do povo que dominava a costa do Brasil há 500 anos. Há apenas seis exemplares preservados no mundo que ainda trazem quase intactos os trançados de fibras naturais e penas vermelhas de guarás e azuis de ararunas.
Mas, apesar de eles terem sido confeccionados em território nacional, os brasileiros que queiram conhecê-los terão de viajar ao exterior: todos os exemplares de mantos tupinambás de que se tem notícia estão em acervos da Europa.
O mais conhecido e conservado deles está no Nationalmuseet, em Copenhague, capital da Dinamarca. O exemplar foi exposto no Brasil em 2000, nas comemorações dos 500 anos do descobrimento pelos portugueses.
Foi nessa ocasião que povos que reivindicam ser herdeiros dos tupinambás, em especial os Tupinambá de Olivença, na Bahia, passaram a requerer o retorno do manto. Desde então, porém, apesar de contarem com o apoio de universidades e outras organizações, não tiveram sucesso em reaver os objetos.

Manto Tupinambá da coleção do Nationalmuseet, na Dinamarca
Image captionMuseu na Dinamarca que abriga um dos seis mantos tupinambás conhecidos no mundo diz nunca ter recebido uma solicitação formal para devolução ao Brasil | Foto: Niels Erik Jehrbo/Museu Nacional da Dinamarca

Segundo pesquisadores, os exemplares que estão na Dinamarca, na França, na Itália, na Bélgica, na Alemanha e na Suíça saíram do Brasil como consequência da invasão holandesa no Nordeste. Com a expulsão dos holandeses de Pernambuco no século 17, os mantos acabaram sendo levados para a Europa - ainda que não se saiba exatamente como chegaram aos museus onde estão hoje.
Por e-mail, o Nationalmuseet disse à BBC Brasil que o item consta de registros do museu que datam de 1689 e admitiu que não há "conhecimento sólido" sobre sua procedência.
A instituição afirmou que, por sua "longa tradição de diálogos positivos e trocas globais", é uma prática recorrente o empréstimo de peças a museus do exterior. O início de um processo de devolução, porém, depende de um pedido oficial do país - o que, segundo o Nationalmuseet, nunca foi feito em relação ao manto tupinambá.

Patrimônio nacional

Para além dos mantos tupinambás, o Brasil abasteceu - e continua abastecendo - acervos estrangeiros com peças arqueológicas, etnográficas e fósseis de dinossauros e animais pré-históricos.
Mas, se no passado, o colonialismo foi responsável pelas perdas, hoje o tráfico ilegal de obras de arte e fósseis é o maior responsável pelo problema.
Atualmente, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores (MRE), o tráfico ilegal de fósseis oriundos da região do Crato, na Bacia do Araripe (CE), é a principal área de preocupação do Brasil em relação à evasão de patrimônios nacionais. Alguns fósseis chegam a ser ofertados em sites especializados na internet. Uma lei de 1942 criminaliza a saída de fósseis do território nacional.

Fóssil de uma libélula encontrado na Bacia do Araripe
Image captionFóssil de uma libélula encontrado na Bacia do Araripe; local sofre hoje da evasão de fósseis por meio do tráfico ilegal | Foto: Marcos Santos/ USP Imagens

A pasta diz já ter feito questionamentos formais sobre a procedência de alguns itens alocados em museus internacionais, mas tais bens não foram encontrados.
O cenário de evasão de bens culturais como esses fez com que a célula brasileira do Conselho Internacional dos Museus (ICOM) - rede que reúne instituições do tipo em todo o mundo - passasse a desenvolver um mapeamento do que está em risco no patrimônio cultural nacional. Esse dossiê, batizado de Red List, faz um diagnostico dos tipos de bens mais vulneráveis - gerando, por exemplo, cartilhas de orientações para agentes que trabalham nas alfândegas por onde o patrimônio pode acabar escapando ilegalmente.
No caso do Brasil, há pelo menos três tipos de bens que deverão estar na Red List brasileira: itens arqueológicos, fósseis e peças do Barroco. É o que indica Maria Ignez Mantovani Franco, presidente do Conselho de Administração do ICOM no Brasil, que prevê que uma primeira versão do dossiê seja concluída ainda em 2018.
Apesar da situação, segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Marcelo Mattos Araujo, o Brasil não acumula uma quantidade expressiva de reinvindicações oficiais de peças que estão no exterior.

Tartaruga mais antiga do mundo e cobra de quatro patas

No que diz respeito aos fósseis, porém, há iniciativas incipientes de repatriação.
Há quase seis anos, o governo brasileiro iniciou um processo para repatriar seu primeiro fóssil. Trata-se de um exemplar da tartaruga mais antiga do mundo, a Santanachelys gaffneyi, hoje em uma universidade no Japão.

O único fóssil completo do pterossauro Tapejara navigans no mundo, encontrado na Bacia do Araripe
Image captionO único fóssil completo do pterossauro Tapejara navigans no mundo, encontrado na Bacia do Araripe | Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Atualmente, esse é um dos quatro fósseis que a Procuradoria da República no Ceará tenta recuperar por meio de cooperação com instâncias jurídicas do exterior. Os outros três itens com processos em aberto estão na França, Alemanha e Itália.
"O trabalho de repatriação está em curso", disse à BBC Brasil o procurador da República Rafael Rayol. "Todo mês temos notícias de pessoas que transportam, às vezes até como suvenir, fósseis do Araripe de forma irregular. Há também uma rede internacional de tráfico, e a Europa é o maior mercado. Em geral, os consumidores finais são colecionadores, mas vez ou outra esses itens chegam também a universidades."
Segundo Renato Pirani Ghilardi, presidente da Sociedade Brasileira de Paleontologia, é sabido que existem pesquisadores que receptam fósseis no exterior - e estes acabam muitas vezes figurando em estudos científicos prestigiados.
"Nos últimos cinco anos, posso apontar várias espécies que foram encontradas no Brasil, mas descritas lá fora", disse Ghilardi à BBC Brasil. "Nas publicações, eles dizem que o material estudado estava perdido em alguma coleção antiga, anterior a 1942 (quando foi implantada a legislação que criminaliza a saída de fósseis). Não achamos que as ciências devam ter fronteiras. Mas poderia ter uma regulação maior, com esse material voltando depois de um tempo, por exemplo".

Legitimidade de quem pede de volta e custos de devolução

No entanto, a experiência mostra que, na prática, a restituição de bens culturais esbarra em questões complexas: da legitimidade de quem pede de volta aos custos da devolução.
"Pelas regras da ONU e da Unesco, uma vez que a negociação de devolução é bem-sucedida, o país reivindicante deve arcar com as despesas da restituição. Isso implica que o país deve estar disposto a trazer o objeto", aponta Luiz Carlos Borges, pesquisador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), no Rio de Janeiro.

Ilustração mostra três cenas em três tipos diferentes de museusDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDebate sobre a restituição de bens culturais envolve outras questões complexas como a legitimidade dos requerentes e os custos da devolução

E, quando a consideração dos custos envolve também a manutenção e exibição dos artefatos, alguns especialistas são reticentes sobre as vantagens de reaver itens do patrimônio brasileiro no exterior.
"A gente não pode reivindicar sem ter condições de receber. Isso é calamitoso no Brasil", afirma Lúcio Menezes Ferreira, professor de Departamento de Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul. "E a repatriação não é receber apenas por receber, tem que haver um desejo das comunidades locais ou uma demanda dos pesquisadores que justifique o pedido."
Mesmo aqueles cientistas brasileiros cujo material de pesquisa nacional está a milhares de quilômetros de distância se dividem sobre trazer as peças de volta ou não.
No século 19, o pesquisador dinamarquês Peter Lund descobriu que a região mineira de Lagoa Santa guardava artefatos e resquícios de atividade humana de mais de 10 mil anos. O material abasteceu museus europeus ao redor do mundo.

Molduras de quadros expostasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionBrasil tem atuação oficial tímida na restituição de bens culturais

O pesquisador Danilo Vicensotto, da Universidade Federal do Rio Grande, estima que existam cerca de 30 crânios humanos retirados dali em museus como o de Zoologia da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, e o Museu de História Natural de Londres, na Inglaterra. Isso fora outros vestígios, como fósseis de animais.
"Às vezes temos que viajar para o exterior para fazer pesquisas. Mas, mesmo assim, não sei se seria a favor de trazer as peças para cá. Acho que não. A gente, com raríssimas exceções, não tem onde colocar o material. Faltam obra, pessoal, verba, manutenção. A ciência no Brasil é a última das prioridades, vista como um artigo de luxo, supérfluo", avalia Vicensotto.
Para a museóloga Maria Ignez Mantovani Franco, ainda que o Brasil tenha legitimidade para exigir repatriações, a projeção internacional de peças brasileiras é um aspecto que deveria ser levado em conta nesse debate.
"Quando o Abaporu (pintura de Tarsila do Amaral) foi para o Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, na Argentina), foi uma guerra. Muitas pessoas foram contra. Mas eu acho que aquele é um museu latino-americano, então ter uma peça expressiva ali é significativo", avalia.
"Há uma importância também de que a cultura brasileira e o Brasil sejam compreendidos em outras dimensões no exterior. É claro que não precisa ser com transposição do acervo todo, mas há outros caminhos de sensibilização, como exposições temporárias."

Quando os museus brasileiros são questionados


O Canhão de Cristiano, hoje no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro
Image captionO Paraguai reivindica a devolução do Canhão de Cristiano, hoje no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro | Foto: MHN

O Brasil, do seu lado, também já viu seus museus envolvidos em demandas por restituição.
O caso mais famoso, e nunca atendido, foi o pedido paraguaio pela devolução do Canhão de Cristiano, símbolo da Guerra do Paraguai (1864-1870) e hoje parte do acervo do Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro.
Já as demandas por objetos usurpados de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, uma grande discussão no mercado internacional de arte, também chegaram ao país.

Peças arqueológicas descobertas no Rio
Image captionItens arqueológicos, fósseis e peças do Barroco no Brasil estão vulneráveis a problemas como tráfico ilegal e dispersão de coleções | Foto: Agência Brasil

O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) tem peças em seu acervo reivindicadas por herdeiros de colecionadores judeus perseguidos durante a guerra - como a pintura O Casamento Desigual, de autor desconhecido, e uma coleção de esculturas em bronze do francês Edgar Degas.
Segundo o museu, porém, essas e outras peças nunca foram requisitadas formalmente, com "embasamento ou provas concretas", pelas famílias.
"O museu apoia a repatriação aos herdeiros de obras cujo histórico e procedência sejam comprovados em juízo (...) No entanto, também tem a missão de zelar por seu acervo, que é patrimônio nacional, e não pode agir a partir de solicitações informais", afirmou o Masp em nota.
BBC.
Professor Edgar Bom Jardim - PE