sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

O que imagens de satélite revelam sobre movimento do exército russo na fronteira com a Ucrânia




Imagem de satélite mostra atividade militar russa em Belarus

CRÉDITO,MAXAR

As mais recentes imagens de satélite fornecidas pela empresa de tecnologia espacial americana Maxar mostram atividade militar russa em grande escala persistindo perto das fronteiras da Ucrânia, apesar de o governo russo ter afirmado que está retirando tropas após o fim de exercícios militares.

Imagens feitas em meados de fevereiro mostram que a Ucrânia permanece cercada com equipamentos de artilharia e concentração de tropas nas fronteiras com a Rússia e Belarus.

Atividade das tropas russas

Em especial, ucranianos se preocupam com a presença de um novo hospital de campanha a certa distância da área de treinamento de Osipovichi, no noroeste de Belarus.

Embora isso seja um elemento legítimo em qualquer exercício de grande escala, ele também pode ser uma indicação de um conflito iminente

Outras concentrações e atividades de tropas foram detectadas ainda mais próximas das fronteiras da Ucrânia
Hospital de campanha

Em 15 de fevereiro, foi fotografada uma ponte flutuante militar sobre o rio Pripyat. Ela fica a menos de 6 km da fronteira de Belarus com a Ucrânia.

Ponte flutuante

Analistas da McKenzie Intelligence Services, com sede em Londres, destacaram a grande área de preparação na margem direita do rio como um indicador da possível intenção de mover um grande número de veículos.

Alguns relatórios sugerem que a ponte pode ter sido removida.

Artilharia de treinamento

Outra imagem é de artilharia autopropulsada, ou canhões de grande calibre, montados em tanques em Brestsky, que fica a cerca de 50 km da fronteira.

Uma unidade recém-chegada de 20 helicópteros de ataque antitanque foi fotografada no aeródromo de Zyabrovka, a 30 km da fronteira.

Aeronaves

Os analistas da McKenzie Intelligence dizem que há 12 prováveis ​​helicópteros russos Hokum e cinco prováveis ​​helicópteros Hind ou Mi-28 Havoc.

É importante lembrar que a atual presença militar da Rússia com cerca de 30 mil soldados em Belarus, embora alarmante tanto para a Ucrânia quanto para a Otan, faz parte de exercícios conjuntos programados que devem terminar em 20 de fevereiro.

Portanto, um teste importante das intenções de Moscou virá depois dessa data, quando as imagens de satélite revelarão se a maioria das forças russas terá ido embora ou permanecido.

O que essas imagens não nos dizem

Não há nada nessas imagens que prove definitivamente que a Rússia está prestes a invadir a Ucrânia.

A Rússia continua insistindo que essa não é sua intenção e que tudo isso é apenas propaganda ocidental.

Mas as principais autoridades de defesa da Otan acreditam que a Rússia agora tem forças suficientes ao redor da Ucrânia para executar uma invasão se o presidente Putin der a ordem.

A escala, a magnitude e a disposição de soldados da Rússia perto das fronteiras da Ucrânia são inéditas - por exemplo, com unidades de defesa aérea trazidas de milhares de quilômetros de distância do leste da Sibéria.

Sob a liderança de Putin, as Forças Armadas da Rússia passaram por uma transformação dramática desde os dias sombrios da década de 1990, após o colapso da União Soviética.

GRAFICO DE ONDE AS TROPAS RUSSAS ESTAO

Aconteceram duas coisas que despertaram atenção internacional para as Forças Armadas da Rússia.

Em primeiro lugar, enormes somas de dinheiro do governo russo foram investidas na modernização e aprimoramento de tropas, equipamentos, armas, ciberataques e logística, desde as últimas versões de ataques cibernéticos até a reorganização de unidades de combate em "Grupos de Batalhão Tático" compactos com cerca de 800 soldados apoiados por tanques, artilharia e outras armas.

Em segundo lugar, os comandantes e estrategistas russos passaram os últimos sete anos ganhando experiência de combate na Síria e no leste da Ucrânia. Suas armas foram testadas no campo de batalha e os comandantes russos aprenderam com erros do passado.

De modo geral, analistas ocidentais acreditam que Moscou poderia, se quiser, manter uma presença militar considerável e ameaçadora ao redor das fronteiras da Ucrânia por semanas ou até mesmo meses.

  • Frank Gardner
  • Repórter de Segurança da BBC News
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Os Teimosos




Professor Edgar Bom Jardim - PE

'Rio voador', o fenômeno climático que ajuda a explicar tragédias de verão no Brasil




Bombeiros em Petrópolis

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,

Tempestade atingiu Petrópolis (RJ), causando destruição e mortes

As tempestades que vêm causando tragédias como a de Petrópolis, na região serrana do Rio, a mais recente de uma sequência desde o final do ano passado, têm em comum um mesmo fenômeno.

Assim como a água corre em terra, também há fluxos massivos de água nos céus.

Na América do Sul, um desses enormes corredores de umidade atmosférica vai da região amazônica até o centro-sul do país.

Esse "rio voador" carrega parte da água que evapora no norte para outras partes do território nacional


"É uma região muito úmida e tropical, onde tem um aquecimento constante. A Floresta Amazônica por si só já despeja uma quantidade enorme de água na atmosfera pela evaporação", explica Estael Sias, da Metsul Meteorologia

"O relevo da América do Sul, a cordilheira dos Andes, não deixa essa umidade escapar do continente, obrigando esse rio voador a descer."

Se esse corredor de umidade se encontra com uma frente fria vinda do sul, as nuvens carregadas tendem a ficar concentradas por alguns dias em uma determinada região.

Gráfico sobre 'rio voador'

Um fenômeno potencializa o outro, formando um terceiro - a chamada zona de convergência do Atlântico Sul, que é recorrente durante o verão nesta região do planeta e provoca fortes chuvas.

Foi o que aconteceu primeiro no sul da Bahia, no final do ano passado e, depois, em Minas Gerais, no início do mês.

Depois, foi a vez das chuvas torrenciais atingirem São Paulo e, agora, Petrópolis, provocando mais inundações, deslizamentos e mortes.

Sias explica que o rio voador da América do Sul corre a uma altitude entre 5 a 10 km do solo e fica ativo durante o ano todo.

Seu curso e alcance são influenciados pela dinâmica dos ventos na região e pela passagem de outros fenômenos pelo continente.

"No inverno, um sistema de alta pressão atmosférica não deixa a maioria das frentes frias subirem até o Sudeste ou o Centro-Oeste, por isso é um período muito seco nessa parte do país, e o rio atmosférico consegue ir até mais ao sul", afirma a especialista.

"No verão, esse bloqueio vai para o oceano, se afastando do continente, e as frentes frias conseguem subir. Quando sobe uma frente fria, ela se conecta à umidade amazônica, e elas vão andando juntas até parar em cima do Sudeste ou do Nordeste do Brasil e se transformar em chuvas e temporais."

Mapa mostra zona de convergência do Atlântico Sul

CRÉDITO,CLIMATEMPO

Legenda da foto,

Encontro de 'rio voador' com frente fria cria zona de convergência na região do Atlântico Sul

Sias afirma que, na semana passada, o rio voador estava mais disperso, mas que, nesta semana, uma massa de ar frio e seco chegou ao sul do país e criou uma barreira que não deixou o corredor de umidade avançar.

As nuvens ficaram então paradas sobre a região metropolitana de São Paulo e foram potencializadas pela frente fria, provocando fortes chuvas.

O resultado foi que choveu em poucos dias a média histórica para o mês inteiro, e isso foi fatal em uma região que já vinha sofrendo com tempestades.

Fenômeno é característico do verão

No entanto, apesar de muita gente pensar que chuvas assim são excepcionais, Francisco de Assis, do Instituto Nacional de Meteorologia, explica que as zonas de convergência são algo característico da América do Sul no verão.

"Dependendo do ano, ocorrem mais para o sul ou mais para o norte", afirma Assis.

Nesta época do ano, o corredor de umidade que vem da Amazônia ganha força. "Há uma alta liberação de calor e umidade da Amazônia devido às temperaturas elevadas,", afirma Assis.

Também há uma maior evaporação de água dos oceanos Pacífico e Atlântico, intensificando esses fenômenos meteorológicos, explica o especialista.

Carro em rua alagada em Franco da Rocha

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,

Em poucos dias, choveu a média de janeiro inteiro na região metropolitana de SP

Josélia Pegorim, meteorologista da Climatempo, reforça que as zonas de convergência acontecem todos os anos, com maior ou menor intensidade.

"Se pegarmos outros eventos de desastres naturais e de chuvas catastróficas, no Sudeste em particular, quase todos, ou a maior parte, estiveram associados à formação de zonas de convergência", diz Pegorim.

A especialista avalia que as tragédias ocorrem não pela intensidade das chuvas ou porque elas sejam imprevisíveis - na verdade, foi o contrário, dizem os meteorologistas ouvidos pela reportagem, e alertas foram emitidos com antecedência.

O problema é a falta de preparo e de reação das autoridades aos avisos.

"A culpa é da chuva até certo ponto. Não se pode dizer que é por causa das mudanças climáticas ou que nunca choveu assim, porque já teve chuvas até piores. Não teve surpresa", diz Pegorim.

Ao mesmo tempo, afirma a meteorologista, a canalização do ar úmido da região Norte em direção ao Centro-Oeste e ao Sudeste e a formação das zonas de convergência no encontro com frentes frias, formando tempestades, tem uma função importante.

"Esse sistema é fundamental para que consigamos recompor as reservas de água para os reservatórios de geração de energia e de abastecimento da população."

  • Rafael Barifouse
  • Da BBC News Brasil em São Paulo
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Tragédia em Petrópolis: chuvas de verão extremas são reflexo das mudanças climáticas?



Carros em alagamento na cidade de Petrópolis

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,

Temporal extremo causou tragédia em Petrópolis

Os temporais que atingiram desde o final do ano passado a Bahia, Minas Gerais, São Paulo e, agora, o Rio foram seguidos por dois tipos de reação.

A primeira é de dor e revolta, pelas vidas perdidas por causa dos desastres, mas é bastante comum ouvir também que esses eventos extremos são por causa das mudanças climáticas.

Mas dá pra dizer isso? Ou são as mesmas tempestades de verão de sempre?

A resposta está no meio do caminho, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasi


Isso porque, sim, nessa época do ano, costumam ocorrer chuvas muito fortes

Mas, ao mesmo tempo, a frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos está aumentando, de acordo com os dados científicos disponíveis.

A meteorologista Josélia Pegorim, da Climatempo, explica que essas tempestades são um resultado de um fenômeno climático conhecido como zona de convergência do Atlântico Sul.

Essas zonas se formam quando a umidade trazida pelos ventos da Amazônia se encontra com uma frente fria que vem do sul.

Isso faz com que as nuvens carregadas fiquem concentradas em uma região até desaguarem em temporais.

"Praticamente todos os anos a gente observa a formação dessas zonas de convergência, com maior ou menor intensidade. Não é nenhuma novidade, não dá pra dizer que é um fenômeno novo que as mudanças climáticas estão provocando", diz Pegorim.

Combinação


A meteorologista faz uma ressalva, no entanto: as zonas de convergência explicam os temporais em Minas, São Paulo e Bahia, mas, no caso de Petrópolis, tratou-se de um evento diferente e excepcional.

"Os outros eventos de chuvas fortes que teve foram chuvas que foram se acumulando em alguns dias, houve vários episódios de chuva intensa. Foram vários eventos de zonas de convergência atuando na mesma região ao longo de semanas. Em Petrópolis, choveu em três horas mais do que a média histórica do mês inteiro", diz Pegorim.

A meteorologista diz que houve na cidade fluminense uma "combinação perfeita" de fatores climáticos.

O ar já estava úmido por causa de uma frente fria que tinha passado. Ventos vindos do oceano trouxeram ainda mais umidade. E o encontro desse ar mais frio com uma massa de ar quente na região serrana favoreceu a formação de nuvens

Para completar, o relevo montanhoso fez com que os ventos úmidos subissem as encostas das serras e deixassem as nuvens ainda mais carregadas.

Foto noturna mostra pessoas na rua observando enchente à frente delas

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,

Enchente em Caieiras (SP) no final de janeiro

Estael Sias, meteorologista da Metsul, concorda que a chuva que atingiu Petrópolis foi incomum por causa da sua intensidade em uma área tão concentrada, mas diz que isso não chega a ser surpreendente.

Sias explica que o encontro entre massas de ar frio e quente costuma ser o gatilho de formação de nuvens com potencial "explosivo".

O relevo dessa área do Rio também contribui para que ocorram chuvas fortes.

"Não precisa ir muito longe, nas últimas décadas, a região serrana teve temporais, deslizamentos e mortes", recorda a meteorologista.

Ela cita especialmente as chuvas de janeiro de 2011, que deixaram mais de 900 mortos em Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis.

Mas Sias avalia que a ocorrência de uma sequência de chuvas tão intensas em tão pouco tempo, junto com outros eventos climáticos extremos, é um sinal das mudanças climáticas.

"Houve tempestades de areia no ano passado, calor muito forte no sul do país neste ano, cheia no Tocantins, secas intensas. Quando a gente olha tudo isso junto pode considerar um indicativo", diz Sias.

O climatologista Carlos Nobre diz ser raro que as mudanças climáticas provoquem eventos nunca vistos antes.

O mais comum é ver fenômenos extremos como esses cada vez mais intensos e frequentes.

"Basta olhar os relatórios científicos e ver que a frequência das ondas de calor é de três a quatro vezes maior do que há 150 anos, as chuvas intensas que causam desastres ficaram mais frequentes, os incêndios florestais e as secas, batemos recordes de temperatura. tudo isso está acontecendo por causa do aquecimento global", diz Nobre.

O cientista avalia que o que causa a tragédia não é exatamente a ocorrência das tempestades, mas o fato de muita gente morar em áreas de risco e continuarem a viver ali mesmo depois de tragédias como a de 2011, por exemplo.

Hoje, diz Nobre, 5 milhões de brasileiros vivem em áreas de risco. "Isso não é nada trivial", afirma o climatologista.

"O que a gente vê hoje acontece em meio a um aumento de pouco mais de 1 grau na temperatura do planeta e, mesmo que a gente tenha muito sucesso com as políticas ambientais, ainda vai subir mais, então, a gente precisa colocar em prática políticas para sermos mais resilientes a esses desastres naturais, e a melhor delas é não deixar as pessoas habitarem áreas de risco.

  • Rafael Barifouse
  • Da BBC News Brasil em São Paulo

Professor Edgar Bom Jardim - PE