terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Sob novas regras, importação de armas de fogo bate recorde no Brasil





Armas expostas em parede

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Houve aumento de 12% na quantidade de revólveres e pistolas importadas, e de 574% na importação de fuzis, carabinas, metralhadoras e submetralhadoras

O volume de importação de armas de fogo no Brasil aumentou 33% em 2021 em relação a 2020 e chegou a US$ 51,9 milhões, contra US$ 38,9 milhões. É o maior valor da série histórica produzida pelo Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), do governo federal, que começa em 1997.

Os dados levantados pela BBC News Brasil mostram que o aumento não foi apenas no valor importado, mas na quantidade de armas que entraram no Brasil.

No ano passado, houve um crescimento de 12% no total de revólveres e pistolas importadas (sem contar outros tipos de armas de fogo), chegando a 119.147 contra 105.912 em 2020.

Entre fuzis, carabinas, metralhadoras e submetralhadoras houve um aumento de 574%. Em 2020, foram importadas 1.211 armas desse tipo. Em 2021, o número chegou a 8.160. Foi o segundo aumento expressivo consecutivo na importação desse tipo de armamento. Entre 2019 e 2020, houve um crescimento de 226% na entrada dessas armas no país, saindo de 371 em 2019 para 1.211 em 2020. Entre 2018 e 2019, o aumento havia sido de apenas 13%.

Especialistas em segurança pública ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que o aumento na importação de armas pelo Brasil é resultado das mudanças feitas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro que tornaram mais fácil comprar armas no Brasil e dizem que esse crescimento pode ter efeitos negativos para a segurança pública.


O Exército, responsável pelo controle das importações de armas no país, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, não ter estudos sobre as causas desse aumento e que o órgão vem executando o rastreio e controle de armas e munições de acordo com a legislação. Procurados, o Ministério da Justiça e a Presidência da República não se pronunciaram.

A fonte do levantamento feito pela BBC News Brasil é o sistema de estatística alimentado pelo Ministério da Economia e que está disponível na internet. Ele coleta informações de importadores e exportadores sobre os produtos que entram e saem do Brasil. Os dados não distinguem se as armas foram importadas por órgãos públicos, pessoas físicas ou empresas.

O levantamento reúne dados dos quatro grupos de armas entre as mais comuns e que podem ser adquiridas tanto por forças de segurança como polícias e Exército, quanto por empresas e civis e militares devidamente autorizados.

A única exceção é com relação ao grupo que agrega fuzis, carabinas, metralhadoras e submetralhadoras. As duas primeiras podem ser vendidas para pessoas físicas, enquanto as duas últimas são exclusivas para forças de segurança.

Isso ocorre porque a Siscomex agregou esses quatro tipos de armas em um único grupo e não detalha quantas armas de cada tipo foram importadas.

Revólveres, pistolas e fuzis em alta


​O aumento no volume de fuzis importados acontece após o presidente Jair Bolsonaro ter assinado, a partir de 2019, uma série de decretos que facilitaram a aquisição desse tipo de armamento.

Antes, cidadãos comuns que quisessem ter um fuzil precisariam ser cadastrados junto ao Exército como colecionadores, e só podiam acessar modelos com mais de 70 anos, ou seja, armas efetivamente antigas. Caçadores e atiradores registrados não poderiam ter acesso a esse tipo de armamento.

Com os decretos do presidente, porém, caçadores e atiradores também passaram a ter direito de adquirir fuzis.

Os decretos de Bolsonaro também aumentaram a quantidade que cada CAC (caçadores, atiradores esportivos e colecionadores) pode ter acesso.

Colecionadores, que só poderiam ter um fuzil de cada modelo, agora podem ter até cinco armas de cada modelo. Caçadores, que não poderiam ter fuzil, agora podem ter até 15 unidades. Atiradores, que antes também não poderiam ter fuzis, agora podem ter até 30 armas desse tipo.

Outra categoria de armas que também registrou crescimento foi a de espingardas e carabinas de tiro ao alvo, que teve alta de 35%, saindo de 4.125 armas importadas em 2020 para 5.572 em 2021.

Somando todos os grupos levantados pela BBC News Brasil, foram importadas 140.559 armas de fogo em 2021 contra 119.335 no ano anterior, um crescimento superior a 17%.

Os dados mostram que a Áustria foi o principal exportador de armas de fogo para o Brasil em 2021. A nação europeia exportou US$ 11,9 milhões em armas para o país. Ela é a sede da Glock, uma das maiores fabricantes de armas do mundo.

Em segundo lugar no ranking ficaram os Estados Unidos (US$ 8 milhões) e em terceiro vem a Itália (US$ 6,4 milhões).

Dados do Exército, que usa uma metodologia diferente, também apontam aumento no volume de pedidos de importação de armas de fogo entre 2020 e 2021.

Exército também aponta alta

Militares brasileiros marcham com armas

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

O Exército é responsável pelo controle das importações de armas no país

O Exército é responsável por dar autorização à entrada de diversos tipos de armas, entre elas revólveres, pistolas e fuzis.

De acordo com o órgão, o Exército autorizou a entrada de 144.992 armas, um crescimento de 111% em relação ao ano anterior, quando o órgão autorizou a entrada de 68.521.

Segundo nota enviada pela assessoria de imprensa do Exército, a diferença entre os dados do órgão e da Siscomex se devem, entre outros motivos, pelo fato de que o Exército contabiliza as quantidades contidas nas licenças de importação que chegam ao órgão, independente de a Receita Federal ter liberado a entrada dos produtos ou não.

Os dados do Exército mostram ainda que a maior parte dos pedidos de importação (69,08%) foi feito por empresas. O restante foi feito por órgãos públicos (30,7%) e 0,2% por pessoas físicas.

Tendência de alta

O Brasil vem registrando um crescimento no volume de importação de armas desde 2015, mas os dados mostram que essa tendência se acentuou durante o governo do presidente Jair Bolsonaro.

Em 2019, por exemplo, primeiro ano do seu governo, as importações de armas de fogo aumentaram 46%, bateram recorde e chegaram a US$ 23,8 milhões. Em 2020, o crescimento foi de 64% e um novo recorde: US$ 38,9 milhões.

O aumento aconteceu no mesmo período em que o governo federal alterou normas que facilitaram a compra de armas no país, uma promessa de campanha de Bolsonaro.

No Brasil, a posse e o porte de armas são regulados pelo Estatuto do Desarmamento, de 2003, e por uma série de portarias e instruções normativas.

Pessoas físicas que queiram adquirir uma arma de fogo precisam cumprir uma série de regras, como comprovar que não respondem a inquéritos e demonstrar aptidão psicológica.

A legislação ainda prevê a possibilidade para que integrantes de algumas categorias, como militares, possam comprar suas próprias armas de forma legal. Além disso, a lei prevê que caçadores, atiradores esportivos e colecionadores (CACs) também podem adquirir armamentos.

Desde 2019, o governo aumentou a quantidade de armas que CACs podem comprar, flexibilizou as regras para apresentação de antecedentes criminais e facilitou as exigências para apresentação de exames psicológicos para quem quiser comprar armas.

Em dezembro de 2020, o governo reduziu de 20% para zero a alíquota de importação para revólveres e pistolas, o que, em tese, tornaria esses produtos mais baratos no mercado nacional.

A medida, no entanto, foi suspensa por uma decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). O caso ainda precisa ser julgado pelo Pleno do tribunal.

Em fevereiro do ano passado, o presidente assinou uma nova série de decretos que aumentava de quatro para seis a quantidade de armas que um civil poderia comprar.

A nova norma também foi suspensa por uma decisão do STF, desta vez da ministra Rosa Weber.

Bolsonaro discursando

CRÉDITO,AGÊNCIA BRASIL

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Jair Bolsonaro assinou decreto em maio de 2019 que flexibilizou as regras para a compra de armas no Brasil

Bolsonaro também assinou decretos que tiravam do Exército a obrigação para fiscalizar prensas para recarregar munições de diversos calibres e a que ampliava para até 1 mil o limite de munições de calibre de uso restrito por CAC.

As medidas também estão suspensas liminarmente pelo STF, que ainda deverá decidir sobre o assunto de forma definitiva.

Em diversas ocasiões, o presidente defendeu que a população se armasse. Em agosto do ano passado, por exemplo, Bolsonaro incentivou apoiadores a comprarem fuzis.

"Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Tem um idiota: 'Ah, tem que comprar é feijão'. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar", afirmou o presidente.

'Demanda reprimida'

O empresário e conselheiro da Associação Brasileira de Importadores de Armas e Materiais Bélicos (Abiamb), Demetrius Oliveira, afirma que o aumento da importação de armas e munições no Brasil é resultado da conjunção entre "demanda reprimida" e medidas tomadas pelo governo nos últimos anos.

"Há uma demanda reprimida por variedade e qualidade de produtos nesse segmento. Esses produtos têm uma forte aceitação do público no Brasil [...] Os decretos mais recentes deram mais clareza às pessoas que queriam adquirir suas armas e isso também pode ter contribuído", afirmou.

Demetrius diz ainda acreditar que a posição política do governo Bolsonaro também contribuiu para o aumento das importações de armas no Brasil.

"Esse fenômeno se acentuou (importação de armas) talvez porque a gente tenha um governo de direita que olha pro cidadão dentro do seu direito constitucional à liberdade e fizeram com que tivéssemos uma mudança desse paradigma", afirmou.

Especialistas alertam para riscos à segurança pública

Para o gerente do Instituto Sou da Paz e autor de um livro sobre o mercado de armas no Brasil, Bruno Langeani, a quebra do monopólio das empresas nacionais e facilitação das regras para Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs) impulsionaram o aumento da entrada de armas estrangeiras no Brasil.

"Antes, havia uma norma que impedia a importação de armas a menos que não houvesse similar no mercado nacional. Essa mudança foi pensada antes, mas entrou em vigor no atual governo. Depois disso, houve uma série de facilitações para que os CACs pudessem comprar armas e munições. Tudo isso fez as importações aumentarem", afirma.

Na avaliação de Langeani, a facilidade para a importação tende a aumentar a quantidade de armas que podem chegar ao crime organizado.

"Antigamente, no mercado ilegal, fuzis custavam entre R$ 40 mil e R$ 50 mil. Agora, com as novas regras, esse preço pode chegar a R$ 20 mil. Quando você aumenta a quantidade de armas pesadas que civis podem comprar, você está aumentando a quantidade de armas que pode acabar abastecendo as quadrilhas e isso é ruim para a segurança pública", explica.

Para Langeani, um exemplo disso aconteceu na terça-feira (25/01), quando a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) apreenderam 26 fuzis, 21 pistolas, três carabinas e munição para fuzil em uma casa na Zona Norte da capital fluminense. De acordo com as investigações, o material havia sido adquirido por um traficante de armas que tinha uma licença de CAC. De acordo com a polícia e o MPRJ, o traficante comprava as armas de forma legal e repassaria os produtos a facções do crime organizado.

Retrato de Bruno Langeani em estúdio; ele aparece com sorriso tímido

CRÉDITO,DIVULGAÇÃO

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Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz e especialista em armas, diz que aumento da importação pode favorecer o crime organizado

"Essa apreensão é um exemplo do que a gente tem alertado. Essas mudanças criaram um acesso legal a um número alto de armas e munições de calibre restrito. Agora, traficantes de armas podem receber em casa esses produtos feitos no Brasil ou no exterior com um verniz de legalidade e depois repassar essas armas ao crime organizado", afirmou.

Para o pesquisador em segurança pública da International Action Network on Small Arms (Rede de Ação Internacional Sobre Armas Pequenas), Ivan Marques, as mudanças na legislação e a propaganda pró-armamentista feitas pelo presidente Jair Bolsonaro impulsionaram a importação de armas no Brasil nos últimos anos.

"O que levou a esse crescimento foi essa combinação entre flexibilização das normas e a propaganda feita pelo presidente que, publicamente, defende que as pessoas se armem", afirma.

Segundo ele, as consequências da entrada de cada vez mais armas no país são negativas.

"Há uma clara ligação entre os mercados legal e ilegal de armas. Armas que inicialmente são destinadas a um proprietário legítimo e que comprou dentro da lei acabam indo parar nas mãos de criminosos. Isso pode levar mais ou menos tempo, mas essa conexão é real", explica.

Demetrius Oliveira, que defende a importação de armas, disse que esse argumento não considera a rigidez do sistema de registro e monitoramento de armas.

"O sistema brasileiro é muito rígido e não é tão fácil assim para as armas compradas legalmente serem usadas no crime. Na minha empresa, por exemplo, não tenho nenhum registro de arma que eu importei e que tenha ido parar nas mãos de criminosos. O crime organizado não é clientes de importadores legais. Eles trazem armamento ilegal da mesma forma que a droga entra no país", diz.

Procurado, o Exército disse em nota que o órgão não tem estudos sobre o aumento das importações de armas. A nota diz ainda que o Sistema Nacional de Rastreamento de Produtos Controlados pelo Exército (Sisnar), que faz o controle e rastreio de armas de fogo e munições, "vem sendo executado de forma eficiente".

O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e a Presidência da República foram procurados pela reportagem, mas não enviaram respostas.


  • Leandro Prazeres
  • Da BBC News Brasil em Brasília
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Secretaria de Saúde divulga novo protocolo de isolamento para casos de Covid-19 em Pernambuco



Após reunião do Comitê Técnico Estadual para Acompanhamento da Vacinação na manhã desta segunda-feira (31), a Secretaria de Estado da Saúde de Pernambuco (SES-PE) anunciou a atualização do protocolo estadual para o afastamento das funções e isolamento para casos positivos de Covid-19. Agora, o isolamento passa a ser de sete dias, para casos assintomáticos e sintomáticos

Com a mudança, o retorno às atividades após isolamento é recomendado para o oitavo dia, sendo necessário, no entanto, ter pelo menos 24 horas sem sintomas

Anteriormente, o período recomendado era de 10 dias e mais 24 horas sem sintomas, para sintomáticos, enquanto para assintomáticos, o isolamento já era de sete dias. 

De acordo com a secretária executiva de Vigilância em Saúde, Patrícia Ismael, a decisão do Comitê Técnico tem base nas ações adotadas em outros países e conta com aval dos especialistas membros do grupo. 

“Com a mudança no protocolo estadual, Pernambuco passa a igualar os casos sintomáticos e assintomáticos. A partir de agora, os casos positivos para doença, independente da presença de sintomatologia, passam a cumprir o isolamento de 7 dias. É importante deixar todos atentos a necessidade do cumprimento desse protocolo para proteção dos contatos próximos. Para o retorno às atividades cotidianas e de trabalho, este paciente precisa contabilizar pelo menos 24 horas sem sintomas, não sendo necessário realizar novo teste”, explicou


O médico infectologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), Demétrius Montenegro, fez considerações durante a reunião, sobre o comportamento das variantes da doença, destacando em especial a variante Ômicron, responsável por grande parte das infecções por Covid-19 no mundo atualmente. 

“Temos observado que o comportamento virológico da ômicron é mais curto, porém bastante importante, por isso precisamos estar atentos aos sinais e sintomas e a manutenção do isolamento, além do uso de máscara de forma correta”, afirmou o médico.

O Comitê também decidiu pela manutenção do afastamento de alguns profissionais de saúde, que se enquadram em grupos de risco da doença. 

“Resolvemos manter as recomendações já vigentes. Os profissionais com obesidade, ou seja, com IMC acima de 40, idosos acima com 70 anos e mais, gestantes e pessoas vivendo com HIV/Aids devem permanecer afastados. Entendemos que estes trabalhadores devem ser protegidos devido às suas condições, ainda mais neste momento de aceleração da circulação da variante ômicron da Covid-19”, disse o secretário estadual de Saúde, André Longo.

Com Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Coreia do Norte divulga fotos do espaço após lançamento de míssil mais potente em 5 anos



Visão da Terra, supostamente vista de míssil norte-coreano

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,

Japão e Coreia do Sul dizem que o míssil atingiu uma altitude máxima de 2.000 km

A Coreia do Norte divulgou fotos que afirma terem sido tiradas após lançamento de míssil mais potente em cinco anos.

As fotos raras, tiradas do espaço, mostram partes da península coreana e áreas vizinhas.

Pyongyang confirmou nesta segunda-feira (31/1) que testou um míssil balístico de alcance intermediário (IRBM, na sigla em inglês) Hwasong-12.

Em sua potência máxima, ele é capaz de viajar milhares de quilômetros, colocando áreas como o território americano de Guam ao seu alcance.

O teste voltou a acender o alerta entre a comunidade internacional

Visão da Terra, supostamente vista de míssil norte-coreano

CRÉDITO,REUTERS

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Japão e Coreia do Sul dizem que o míssil atingiu uma altitude máxima de 2.000 km

A Coreia do Norte divulgou fotos que afirma terem sido tiradas após lançamento de míssil mais potente em cinco anos.

As fotos raras, tiradas do espaço, mostram partes da península coreana e áreas vizinhas.

Pyongyang confirmou nesta segunda-feira (31/1) que testou um míssil balístico de alcance intermediário (IRBM, na sigla em inglês) Hwasong-12.

Em sua potência máxima, ele é capaz de viajar milhares de quilômetros, colocando áreas como o território americano de Guam ao seu alcance.

O teste voltou a acender o alerta entre a comunidade internacional



Pyongyang realizou um número recorde de sete lançamentos de mísseis apenas no mês passado — uma intensa onda de atividade que foi fortemente condenada pelos EUA, Coreia do Sul, Japão e outras nações.

A Organização das Nações Unidas (ONU) proíbe a Coreia do Norte de realizar testes de armas balísticas e nucleares — e impõe sanções severas. Mas o país desafia regularmente a proibição.

Autoridades dos EUA disseram nesta segunda-feira que o recente aumento nas atividades justifica novas negociações com Pyongyang.

O que aconteceu no lançamento do Hwasong-12?

A Coreia do Sul e o Japão foram os primeiros a denunciar o lançamento no domingo, após detectá-lo em seus sistemas antimísseis.

Eles estimam que o míssil percorreu uma distância moderada para um IRBM, cerca de 800 km, e atingiu uma altitude de 2.000 km antes de pousar nas águas do Japão.

Em sua potência máxima e em uma trajetória padrão, o míssil é capaz de viajar até 4.000 km.

Duas fotos do lançamento do míssil da Coreia do Norte e duas da Terra tiradas do míssil no espaço

CRÉDITO,REUTERS

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Imagens divulgadas pela agência de notícias norte-coreana mostram o lançamento do míssil e fotos tiradas do míssil no espaço


A Coreia do Norte confirmou o lançamento do míssil nesta segunda-feira, por meio de reportagens na imprensa estatal. Os testes insubordinados do país são normalmente divulgados pela imprensa estatal um dia após sua ocorrência.

A agência de notícias estatal KCNA informou que o teste do míssil foi realizado para "verificar sua precisão". E foi angulado propositalmente para pousar "levando em consideração a segurança dos países vizinhos".

A imprensa estatal também publicou imagens raras, algumas das quais afirma terem sido tiradas por uma câmera instalada na ogiva do míssil.

Uma das imagens revela o momento do lançamento e outra aparentemente mostra o míssil em pleno voo, tirada de cima.

O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, não estava presente para observar o lançamento de domingo, diferentemente de três semanas atrás, quando fotos mostraram sua participação no lançamento de um teste de míssil hipersônico — um tipo mais avançado de tecnologia, desenvolvida para burlar os sistemas de detecção de mísseis.

Estes mísseis só foram testados pela Coreia do Norte três vezes no total.

Por que a Coreia do Norte disparou o míssil?

Ankit Panda, analista da Coreia do Norte, disse que a ausência de Kim e a linguagem usada na imprensa para descrever o lançamento sugerem que este teste teve como objetivo verificar se o sistema de mísseis funcionava como deveria, em vez de exibir novas tecnologias.

Infográfico faz comparação em relação ao alcance dos mísseis em poder da Coreia do Norte

Ainda assim, é a primeira vez que o Hwasong-12, um míssil com capacidade nuclear de porte significativo, é lançado desde que a Coreia do Norte começou a dialogar com os EUA durante o governo do ex-presidente Donald Trump — o que levou a uma desaceleração nas atividades de mísseis.

A última vez que o Hwasong-12 foi testado foi em 2017, quando Pyongyang o lançou seis vezes, incluindo duas vezes sobre a ilha japonesa de Hokkaido, o que disparou o alerta para os moradores de lá.

Em 2018, depois que Kim encontrou Trump, a Coreia do Norte anunciou uma suspensão nos testes de armas nucleares e mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) de maior alcance.

Mas no ano seguinte, à medida que as relações azedaram, Kim disse que eles não estavam mais presos à declaração de moratória.

No domingo, o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, disse que com o último lançamento, a Coreia do Norte "chegou perto de destruir a declaração de suspensão".

Há várias razões para o aumento das atividades de mísseis da Coreia do Norte neste ano, que foi sinalizada por Kim em seu discurso de Ano Novo.

Analistas dizem que os testes refletem o desejo de Kim de pressionar os EUA a voltarem às negociações nucleares há muito tempo estagnadas, representam uma demonstração de força para as potências regionais e globais e podem ser fruto de uma necessidade prática de testar novos sistemas de comando militar e de engenharia.

O momento também é significativo, dado que os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim começam no fim desta semana, e a eleição presidencial da Coreia do Sul está marcada para março.

"É consistente com seu comportamento passado de tentar intimidar a Coreia do Sul e o novo presidente", avalia Daniel Pinkston, professor de relações internacionais da Universidade de Troy, nos EUA, que mora na Coreia do Sul.

Também houve um aumento nos testes, à medida que a economia norte-coreana sofre com sanções lideradas pelos EUA, dificuldades impostas pela pandemia e décadas de má administração.

No início deste mês, os EUA impuseram mais sanções à Coreia do Norte.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 29 de janeiro de 2022

Memória Fotográfica do Rio Tracunhaém


Imagem Edgar S Santos - Museu de Bom Jardim



Rio Tracunhaém necessita de limpeza, obras de saneamento, contenção e regulação de enchentes. Chuvas de grandes proporções ocorrem em muitas cidades nordestinas neste mês de janeiro de 2022.


Professor Edgar Bom Jardim - PE

O que foi o Domingo Sangrento, que marcou conflito na Irlanda do Norte e completa 50 anos


Uma vítima do Domingo Sangrento é carregada pelas ruas de Derry
Legenda da foto,

Domingo Sangrento deixou 13 mortos e 15 feridos na Irlanda do Norte

Treze pessoas morreram e pelo menos 15 ficaram feridas quando membros do Regimento de Paraquedistas do Exército Britânico abriram fogo contra manifestantes de direitos civis em Bogside — uma área predominantemente católica de Londonderry/Derry, na Irlanda do Norte — no domingo de 30 de janeiro de 1972.

O dia ficou conhecido como Domingo Sangrento.

E é considerado em grande medida como um dos episódios mais sombrios do período de violência na Irlanda do Norte conhecido como The Troubles.

Os eventos que levaram ao Domingo Sangrento

A Irlanda do Norte abriga uma comunidade nacionalista de maioria católica que tradicionalmente favorecia a união com a República da Irlanda, e não com o Reino Unido, do qual faz parte.

A partir dos final dos anos 1960, essa comunidade católica ampliou sua reivindicação por direitos e oportunidades iguais à dos protestantes - e cresceu a percepção entre parte dos unionistas (os que defendiam a integração com o Reino Unido) de que o predomínio protestante da Irlanda do Norte estava ameaçado. A tensão se converteu em violência, e o governo britânico respondeu colocando tropas nas ruas em 1969.

Com a escalada, o governo também passou a impor um controle mais rígido sobre a Irlanda do Norte em 1971. Grupos paramilitares, tanto os republicanos quanto os leais ao Reino Unido, se tornavam cada vez mais letais.

Na manhã daquele 30 de janeiro de 1972, cerca de 15 mil pessoas se reuniam na área de Creggan, em Derry, para participar de uma passeata pelos direitos civis.

Manifestantes pelos direitos civis nas ruas de Derry no Domingo Sangrento

CRÉDITO,PA

Cinco meses antes do Domingo Sangrento, em agosto de 1971, em um cenário de escalada da violência e aumento de ataques a bombas na Irlanda do Norte, uma nova lei havia sido implementada dando às autoridades o poder de manter as pessoas presas sem julgamento. O governo britânico havia decidido que essa era a única maneira de restaurar a ordem.

Milhares de pessoas se reuniam em Derry naquele dia 30 de janeiro para uma manifestação organizada pela Associação de Direitos Civis da Irlanda do Norte para protestar contra a medida.

O governo havia proibido tais protestos. Tropas foram mobilizadas para policiar a marcha.

Como o dia se desenrolou

A passeata começou pouco depois das 15h (horário local), e o destino previsto era o centro da cidade.

No entanto, barricadas do Exército bloquearam os manifestantes — e a maioria foi direcionada para Free Derry Corner, em Bogside.

Free Derry Corner em julho de 1972
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Muitos manifestantes marcharam em direção a Free Derry Corner

Após prolongados embates isolados entre grupos de jovens e o Exército, soldados do Regimento de Paraquedistas começaram a efetuar prisões.

Pouco antes das 16h, pedras foram lançadas e os soldados responderam com balas de borracha, gás lacrimogêneo e canhões de água. Dois homens foram atingidos e ficaram feridos.

Às 16h07, os paraquedistas passaram a prender o maior número possível de manifestantes.

Às 16h10, os soldados britânicos começaram a abrir fogo.

De acordo com evidências do Exército, 21 soldados dispararam suas armas, descarregando ao todo 108 balas de verdade.

Qual foi a resposta imediata?

Os disparos provocaram uma ira generalizada em Derry e em outros lugares.

A Embaixada Britânica em Dublin foi incendiada por uma multidão enfurecida.

No dia seguinte ao Domingo Sangrento, o governo anunciou que haveria um inquérito liderado pelo presidente do Supremo Tribunal, Lorde Widgery.

Fotos das vítimas: Patrick Doherty, Gerald Donaghey, John Duddy, Hugh Gilmour, Michael Kelly, Michael McDaid, Kevin McElhinney, Bernard McGuigan, Gerard McKinney, William McKinney, William Nash, James Wray e John Young
Legenda da foto,

As vítimas, na fileira de cima (da esquerda para a direita): Patrick Doherty, Gerald Donaghey, John Duddy, Hugh Gilmour, Michael Kelly, Michael McDaid e Kevin McElhinney. Na fileira de baixo: Bernard McGuigan, Gerard McKinney, William McKinney, William Nash, James Wray e John Young

O julgamento de Widgery inocentou amplamente os soldados e as autoridades britânicas de culpa, embora ele tenha descrito os disparos dos soldados como "no limite do imprudente".

A conclusão foi ridicularizada pelas famílias das vítimas, que passaram anos fazendo campanha por um novo inquérito público.

O inquérito de Saville

O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair anunciou então que um novo inquérito seria realizado, liderado pelo juiz Lorde Saville.

Ele foi aberto em 1998 e finalizado em 2010, sendo o inquérito mais longo da história jurídica britânica, com um custo de cerca de £200 milhões.

O inquérito constatou que nenhuma das vítimas representava uma ameaça ou fazia qualquer coisa que justificasse os disparos.

E afirmou que nenhum aviso foi dado a nenhum civil antes de os soldados abrirem fogo — e que nenhum dos soldados disparou em resposta a ataques com bombas ou pedras.

Saville descobriu que houve "alguns disparos por parte de paramilitares republicanos", mas que, no geral, o Exército atirou primeiro.

David Cameron, que era primeiro-ministro na época da divulgação do relatório, disse que os assassinatos foram "injustificados e injustificáveis".

Apoiadores das famílias das vítimas do Domingo Sangrento na Guildhall Square, em Derry, assistindo ao pedido de desculpas do então primeiro-ministro britânico, David Cameron

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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A Guildhall Square, em Derry, ficou lotada quando David Cameron pediu desculpas em nome do Estado em 2010

O que aconteceu depois de Saville?

O Departamento de Polícia da Irlanda do Norte (PSNI, na sigla em inglês) abriu uma investigação de assassinato depois que o relatório Saville foi divulgado.

Demorou vários anos para ela ser concluída, e os detetives enviaram seu dossiê ao Ministério Público no final de 2016.

Após avaliarem 125 mil páginas de material, os promotores disseram em 14 de março que iriam processar o soldado identificado como F pelos assassinatos das vítimas James Wray e William McKinney.

Ele também foi acusado pelas tentativas de assassinato de outras vítimas: Patrick O'Donnell, Joseph Friel, Joe Mahon e Michael Quinn.

Em 2 de julho de 2021, foi anunciado que o Soldado F não seria julgado após uma decisão do Ministério Público.

Em um comunicado, o órgão público disse que, após "consideração cuidadosa", a decisão havia sido tomada devido a outra decisão judicial recente, que considerou inadmissíveis as evidências usadas na acusação do Soldado A e do Soldado C no assassinato de Joe McCann.

Isso ocorreu devido às circunstâncias em que as provas foram obtidas.

A decisão de não prosseguir com o caso agora é alvo de um processo de revisão judicial após uma contestação legal apresentada pelo irmão de uma das vítimas do Domingo Sangrento.

BBC



Professor Edgar Bom Jardim - PE