quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Rússia x Ucrânia: o que é a Otan e qual seu papel na crise




Soldados da Otan na Sérvia, 2021

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estão avaliando até onde devem ir para ajudar a Ucrânia, diante de uma possível invasão russa.

A aliança — que inclui EUA, Reino Unido, França e Alemanha — está intensificando sua prontidão militar e ajuda à Ucrânia.

O que é a Otan?

A Otan é uma aliança militar formada em 1949 por 12 países, incluindo EUA, Canadá, Reino Unido e França.

Os membros concordam em ajudar uns aos outros no caso de um ataque armado contra qualquer Estado membro



Seu objetivo era originalmente combater a ameaça da expansão russa durante o pós-guerra na Europa

Em 1955, a Rússia soviética respondeu à Otan criando sua própria aliança militar de países comunistas do Leste Europeu, o chamado Pacto de Varsóvia.

Após o colapso da União Soviética em 1991, vários países do antigo Pacto de Varsóvia se tornaram membros da Otan. A aliança agora conta com 30 membros.

Qual é a questão atual da Rússia com a Otan e a Ucrânia?

A Ucrânia é uma ex-república soviética que faz fronteira com a Rússia e a União Europeia.

Não é um membro da Otan, mas é um "país parceiro" — isso significa que há um entendimento de que pode ser autorizado a ingressar na aliança em algum momento no futuro.

Em meio à crise atual, a Rússia fez uma lista de propostas, entre elas uma demanda para que a Ucrânia não possa se tornar membro da organização. Na quarta-feira (26/1), o secretário de Estado americano, Antony Blinken, anunciou que estes e outros pedidos não foram concedidos.

A Ucrânia tem uma grande população de russos étnicos e vínculos sociais e culturais fortes com a Rússia. Estrategicamente, o Kremlin vê o país como o quintal da Rússia.

Mapa mostra expansão da Otan desde 1997

Com o que mais a Rússia está preocupada?

O presidente russo, Vladimir Putin, afirma que as potências ocidentais estão usando a aliança para cercar a Rússia e quer que a Otan cesse suas atividades militares na Europa Oriental.

Ele argumenta há muito tempo que os EUA não cumpriram com uma garantia feita em 1990 de que a Otan não se expandiria para o leste.

A Otan nega as acusações e diz que apenas um pequeno número de seus Estados membros compartilha fronteiras com a Rússia e que é uma aliança defensiva.

Muitos acreditam que o atual reforço das tropas russas na fronteira ucraniana pode ser uma tentativa de forçar o Ocidente a levar a sério as exigências de segurança da Rússia.

Mapa mostra onde as tropas da Rússia estão posicionadas

O que a Otan fez no passado em relação à Rússia e à Ucrânia?

Quando os ucranianos depuseram seu presidente pró-Rússia no início de 2014, a Rússia anexou a península da Crimeia, no sul da Ucrânia. Também apoiou separatistas pró-Rússia que tomaram grandes áreas do leste da Ucrânia.

A Otan não interveio, mas respondeu colocando tropas em vários países do leste europeu pela primeira vez.

Um soldado russo parado na frente de um navio da Marinha na Crimeia

CRÉDITO,GETTY IMGES

Legenda da foto,

Desde a anexação da Crimeia pela Rússia, a Otan colocou grupos de combate no leste europeu

Possui quatro grupos de combate multinacionais do tamanho de um batalhão na Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia, e uma brigada multinacional na Romênia.

Também ampliou o patrulhamento aéreo nos Estados bálticos e na Europa Oriental para interceptar qualquer aeronave russa que ultrapasse as fronteiras dos Estados membros.

A Rússia diz que quer essas forças fora.

Que promessas a Otan fez à Ucrânia?

O presidente americano, Joe Biden, disse que a Rússia pagaria um "preço alto e sério" por uma possível invasão.

Os EUA colocaram 8,5 mil soldados de prontidão para o combate, mas o Pentágono diz que eles só serão mobilizados se a Otan decidir empregar forças de reação rápida.

E acrescentou que não há planos de enviar as tropas para a Ucrânia em si.

Caças turcos sobrevoam a Polônia para a Otan

CRÉDITO,ANADOLU VIA GETTY

Legenda da foto,

A Otan reforçou suas defesas militares na Europa Oriental

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, alertou que qualquer nova escalada militar "teria um alto preço para o regime russo — econômico, político e estratégico".

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que o Reino Unido concorda que "os aliados devem adotar respostas retaliatórias rápidas, incluindo um pacote de sanções sem precedentes".

A Otan está unida em relação à Ucrânia?

O presidente Biden afirmou que há "total unanimidade" entre os líderes europeus em relação à Ucrânia, mas há diferenças no apoio que diferentes países ofereceram.

Os EUA dizem que enviaram cerca de 90 toneladas de "ajuda letal", incluindo munição, para "combatentes da linha de frente" na Ucrânia . O Reino Unido está fornecendo ao país mísseis antitanque de curto alcance.

Alguns membros da Otan, incluindo Dinamarca, Espanha, França e Holanda, estão enviando caças e navios de guerra para a Europa Oriental para reforçar as defesas na região.

No entanto, a Alemanha recusou o pedido de armas de defesa da Ucrânia, em conformidade com sua política de não enviar armas letais para zonas de conflito. Em vez disso, enviará ajuda médica.

Enquanto isso, o presidente da França, Emmanuel Macron, vem pedindo diálogo com a Rússia para amenizar a situação.

BBC


Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Morre Olavo de Carvalho: guru do bolsonarismo disse que covid era 'historinha de terror'


Olavo de Carvalho

CRÉDITO,JOÃO FELLET/BBC BRASIL

Legenda da foto,

Considerado o 'guru' do bolsonarismo, o ideólogo da direita brasileira morreu nesta segunda-feira

Diagnosticado com covid dias antes de morrer, o escritor e ideólogo da direita brasileira Olavo de Carvalho colecionava postagens no Twitter e Facebook questionando a letalidade do coronavírus, que chamava de "mocoronga vírus".

A causa da morte de Olavo não foi confirmada e não se sabe se a covid teve relação com caso - segundo mensagem veiculada em seu canal no Telegram no dia 15/01, ele havia contraído covid-19 e precisava cancelar as aulas de um curso de filosofia que ministrava online.

No entanto, nas redes sociais, centenas de pessoas passaram a resgatar publicações nas quais o escritor, conhecido como uma espécie de guru do bolsonarismo, criticava medidas de isolamento social, o uso de máscaras e duvidava dos riscos do coronavírus.

"O medo de um suposto vírus mortífero não passa de historinha de terror para acovardar a população e fazê-la aceitar a escravidão como um presente de Papai Noel", escreveu Olavo na sua conta de Twitter em maio de 2020.

Em janeiro de 2021, quase um ano depois do início da pandemia, o escritor continuava a duvidar da letalidade do coronavírus. "Dúvida cruel. O Vírus Mocoronga mata mesmo as pessoas ou só as ajuda a entrar nas estatísticas?", escreveu no Twitter.


Não há informações oficiais sobre se Olavo tomou ou não doses da vacina contra a covid-19.

Em publicações no Facebook, ele fez críticas à Coronavac, a que chamava de "vacina chinesa", e à ideia de tornar a vacinação obrigatória.


O medo de um suposto vírus mortífero não passa de historinha de terror para acovardar a população e fazê-la aceitar a escravidão como um presente de Papai Noel.

"O Brasil não quer vacina chinesa obrigatória, o STF quer. Quem manda mais? O Brasil não quer ideologia de gênero nas escolas infantis. O STF quer. Quem manda mais? O BRASIL NÃO MANDA NADA", escreveu em 27 de outubro de 2020, no Facebook.

Ao mesmo tempo, ele defendia, em suas redes sociais, medicamentos sem qualquer eficácia comprovada para o tratamento da covid, como a cloroquina.

"Na França o primeiro-ministro e o ministro da Saúde que vetaram a cloroquina perderam os cargos e respondem a processo. No Brasil, xingado de genocida é o presidente que, liberando a cloroquina, salvou milhares de vidas. Esse país é o paraíso da ignorância", escreveu Olavo em 15 de julho de 2020.

Na realidade, a demissão dos ministros franceses citados pelo escritor não teve qualquer relação com proibição de cloroquina. Eles foram acusados de falhar na resposta à pandemia, diante da escassez de equipamentos médicos nos hospitais franceses.

Críticas a lockdowns e defesa da cloroquina

Olavo de Carvalho também fez, ao longo da pandemia, diversas críticas a medidas de fechamento de comércio, uso de máscaras e isolamento social. Ele constantemente questionava os números oficiais de mortos e a letalidade do coronavírus, além de sugerir motivos conspiratórios por trás dos lockdowns anunciados por governos de diferentes países.

"Conselhos de saúde matam mais que o coronavírus", escreveu ele em 19 de março de 2020, no Facebook. "Paralisar a atividade econômica mundial para debelar uma epidemia que mata menos de 0,1 por cento DOS CONTAMINADOS (não da população inteira) é uma vigarice tão óbvia que o mero fato de aceitar essa proposta como hipótese para discussão já prova deficiência mental", completou ele em 21 de abril de 2020.

Pule Twitter post, 2

Final de Twitter post, 2

Em outra publicação, de 24 de abril de 2020, ele chamou as medidas para conter a propagação da covid de "crime". "Essa campanha para nos 'proteger da pandemia' é o mais vasto e mais sórdido crime já cometido contra a espécie humana inteira."

Em entrevista à BBC News Brasil em maio de 2020, ele mostrou total alinhamento com as posturas de Bolsonaro na pandemia de covid-19, criticando medidas de isolamento social e uso de máscara, embora a importância dessas ações para conter o vírus seja atestada cientificamente. Por outro lado, defendeu remédios sem eficácia comprovada em pesquisas científicas, como cloroquina.

"O nível de cura é imenso. No Brasil, o sucesso da cloroquina está mais do que comprovado", disse. A Organização Mundial da Saúde (OMS) expressamente desaconselha o uso de cloroquina para prevenção e tratamento de covid.

No Brasil, mais de 620 mil pessoas morreram de covid desde o inicio da pandemia. No mundo todo, o vírus já matou mais de 5,6 milhões.

Trajetória

Olavo de Carvalho

CRÉDITO,MATHEUS BAZZO/DIVULGAÇÃO

Legenda da foto,

Autoproclamado filósofo, embora não tenha formação acadêmica, Olavo se projetou a partir dos anos 1980 como articulista conservador

Autoproclamado filósofo, embora não tenha formação acadêmica, Olavo se projetou a partir dos anos 1980 como articulista conservador ao escrever em grandes veículos brasileiros, como os jornais Folha de S.Paulo e O Globo.

Após se mudar para os Estados Unidos, alcançou grande público por meio de cursos online e venda de livros com forte retórica conservadora e anticomunista. Seu canal no YouTube, criado em 2007, tem mais de um milhão de inscritos e acumula mais de 68 milhões de visualizações.

Em sua tese de doutorado que daria origem ao livro "Menos Marx, Mais Mises: O Liberalismo e a Nova Direita no Brasil", a cientista política Camila Rocha afirma não ter dúvidas de que a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 "não foi raio em céu azul, mas fruto da consolidação paulatina de uma nova direita brasileira que durou mais de uma década e que encontrou suporte em redes de contatos e organizações nacionais e estrangeiras construídas décadas atrás por intelectuais e acadêmicos pró-mercado".

E, segundo a pesquisadora, um dos principais influenciadores e fomentadores do surgimento de espaços de debate na internet ligados à formação de uma nova direita no Brasil no início dos anos 2000 foi o escritor Olavo de Carvalho, que, como explica Rocha, "se declarava a favor do livre-mercado na economia, tradicionalista e conservador no que tange à religião, anarquista em relação à moral e educação, nacionalista e contra o 'governo mundial' no que diz respeito à política internacional e um realista no campo da filosofia".

A eleição do presidente Jair Bolsonaro levaria então muitos dos pensamentos de Olavo para o coração do governo brasileiro, como a defesa da família tradicional e do amplo direito ao uso de armas, principalmente por meio da influência de um dos filhos do presidente, seu grande admirador, o deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Chegou a ter discípulos seus no primeiro escalão do governo, caso dos ex-ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Abraham Weintraub (Educação).

Hoje, o governo ainda abriga olavistas, como o secretário de Alfabetização do Ministério da Educação, Carlos Nadalim, e o Assessor Especial para Assuntos Internacionais da presidência, Filipe Martins. No entanto, o grupo acabou perdendo espaço para setores mais pragmáticos, com a entrada de integrantes do Centrão (grupo de partidos políticos de centro-direita, principalmente o PP) na gestão Bolsonaro.

"Eu quis que uma direita existisse, o que não quer dizer que eu pertença a ela. Fui o parteiro dela, mas o parteiro não nasce com o bebê", disse Olavo à BBC News Brasil em dezembro de 2016, poucos meses após o impeachment de Dilma Rousseff, momento em que movimentos de direita emergiram com força no país.

"Estou contra o comunismo e quero que o Brasil tenha uma democracia representativa efetiva", afirmou também na ocasião.

BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Ucrânia: EUA anunciam que têm 8,5 mil soldados em prontidão em meio à escalada de tensões



Soldados americanos de costas prestam continência

CRÉDITO,AFP/GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Segundo Pentágono, 8.500 soldados poderiam ser acionados em curto prazo

Cerca de 8.500 soldados dos Estados Unidos estão em alerta máximo para serem mobilizados em meio à crescente tensão na Ucrânia, segundo anunciou o Pentágono.

Enquanto isso, a Rússia nega planejar uma ação militar contra a Ucrânia, apesar de reunir aproximadamente 100.000 soldados nas proximidades deste país.

O Pentágono diz que ainda não foi tomada uma decisão definitiva sobre o envio de tropas. Isso só aconteceria se a aliança militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) decidir empregar forças de de reação rápida, "ou se outras situações se desenrolarem" no que diz respeito às tropas russas, segundo explicou o secretário de imprensa do Pentágono, John Kirby. Não há planos de ação na própria Ucrânia, acrescentou.

"Isso está provando a seriedade com que os EUA levam seu compromisso com a Otan", disse Kirby.

Alguns membros da Otan, incluindo Dinamarca, Espanha, Bulgária e Holanda, já estão enviando caças e navios de guerra para a Europa Oriental, como um reforço na defesa na região.


No fim de semana, cerca de 90 toneladas de "ajuda letal" dos EUA, incluindo munição para "defensores da linha de frente", chegaram à Ucrânia.

Nesta segunda-feira (24) o presidente americano, Joe Biden, e aliados europeus fizeram uma videochamada para discutir uma estratégia das potências ocidentais diante da mobilização russa.

Biden e mais dois homens de máscara olhando para tela com imagens de participantes de videochamada

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,

Joe Biden em encontro com conselheiros de segurança no dia 22, quando tema foi a crise russo-ucraniana

Enquanto isso, Boris Johnson alertou que investigações de serviços de inteligência sugerem que a Rússia está planejando um ataque-relâmpago à capital ucraniana, Kiev.

"A inteligência é muito clara de que existem 60 grupos de batalha russos nas fronteiras da Ucrânia, o plano para um ataque-relâmpago que poderia derrubar Kiev é algo à vista de todos ", disse Johnson.

"Precisamos deixar bem claro para o Kremlin, para a Rússia, que esse seria um passo desastroso."

Retirada de funcionários das embaixadas


O governo Biden recomendou a funcionários da embaixada e seus parentes que deixassem a Ucrânia no domingo. Kiev, por sua vez, classificou a decisão como "prematura" e "uma demonstração de cautela excessiva".

O Reino Unido também começou a retirar funcionários de sua embaixada, com cerca de metade deles já programados para sair de Kiev. A decisão veio um dia depois de o departamento de relações exteriores britânico acusar o presidente russo, Vladimir Putin, de planejar colocar um líder pró-Moscou no governo da Ucrânia.

O nome apontado para essa função, segundo o governo britânico, é do ex-deputado ucraniano Yevhen Murayev — que chamou essa alegação de "estúpida" em uma entrevista à agência de notícias Reuters. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia publicou no Twitter que o departamento britânico estava fazendo "circular desinformação".

Quando o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, se encontrou na semana passada com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, o russo expressou a esperança de que "as emoções diminuam".

Mas as negociações diplomáticas não conseguiram aliviar as tensões, e a moeda da Rússia — o rublo — perdeu muito valor. Os EUA e seus aliados ameaçaram novas sanções econômicas se os militares russos agirem contra a Ucrânia.

Quase uma década de turbulência

Mulher dá entrevista sorrindo, fardada e em meio a neve
Legenda da foto,

A ucraniana Marta Yuzkiv, que faz parte de grupo de voluntários pela defesa territorial do país

O Kremlin declarou que vê a Otan como uma ameaça à segurança e exige garantias legais de que a aliança não expandirá mais para o leste, inclusive para a vizinha Ucrânia. Mas os EUA disseram que a questão em jogo é a hostilidade russa, não a expansão da Otan.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, rejeitou a exigência de veto da Rússia, dizendo que a aliança representa "o direito de cada nação escolher suas próprias alianças".

A Rússia tomou parte do território ucraniano antes, quando anexou a Crimeia em 2014. Rebeldes apoiados por Moscou também controlam áreas do leste da Ucrânia perto das fronteiras russas. Esse conflito já custou cerca de 14 mil vidas, e um acordo de paz de 2015 está muito longe de ser cumprido.

BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE