segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Por que o ex-presidente Michel Temer foi preso?


História da atualidade: Governo Temer

Michel Temer

CRÉDITO,AFP

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Temer encerrou mandato com 5% de popularidade

A notícia da prisão de mais um ex-presidente da República agitou o Brasil nesta quinta-feira. Michel Temer (MDB) foi detido por agentes da Polícia Federal após deixar sua casa em São Paulo.

O juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, ordenou a prisão do ex-presidente e de outras nove pessoas - entre elas, o ex-ministro Moreira Franco e o coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo e amigo de Temer, João Baptista Lima Filho.

Nossa correspondente em Brasília, Mariana Schreiber, explica as acusações contra Michel Temer e as implicações futuras da decisão do juiz Bretas. Clique aqui para se inscrever no nosso canal do YouTube!

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Temer chegou à superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro por volta das 18h30 desta quinta-feira (21).

"As investigações apontam que a organização criminosa praticou diversos crimes envolvendo variados órgãos públicos e empresas estatais, tendo sido prometido, pago ou desviado para o grupo mais de R$ 1,8 bilhão", afirmou o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro em nota sobre as prisões.

Os investigadores apontam uma organização criminosa que atuou na construção da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro, "praticando crimes de cartel, corrupção ativa e passiva, lavagem de capitais e fraudes à licitação".

Na tarde desta quinta-feira, em entrevista a jornalistas, os procuradores que pediram a prisão de Temer usaram palavras duras ao tratar do ex-presidente. "Não é pelo fato de se tratar de um homem branco e rico que devemos ser lenientes com os crimes que ele praticou dentro do Palácio do Jaburu (residência oficial dos vice-presidentes, que Temer continuou usando depois de chegar à Presidência)", disse o procurador Eduardo El Hage. Temer "ocupava o cargo mais alto da República e cometeu os crimes mais baixos", disse Hage.

"Estranho seria se ele não tivesse sido preso. A prisão dele (Temer) é decorrência dos crimes que ele cometeu a vida inteira. A forma como ele praticava os crimes é algo que nos causou muita surpresa. Os crimes foram se sofisticando cada vez mais, com as empresas pagando a terceiras pessoas, em benefício de Temer", disse El Hage em outro momento.

Em nota, o MDB lamentou as prisões e o que chamou de "postura açodada da Justiça" em relação a Temer e Moreira Franco, também do partido. "O MDB espera que a Justiça restabeleça as liberdades individuais, a presunção de inocência, o direito ao contraditório e o direito de defesa", conclui o texto.

Mas que motivos justificaram a prisão dos investigados?

'Atos de contrainteligência'

Em nota, o Ministério Público Federal afirmou que havia um esquema em andamento para dificultar as investigações ligadas ao grupo liderado por Temer. "Diversas pessoas físicas e jurídicas usadas de maneira interposta na rede de lavagem de ativos de Michel Temer continuam recebendo e movimentando valores ilícitos, além de permanecerem ocultando valores, inclusive no exterior."

Ainda segundo os procuradores, "as apurações também indicaram uma espécie de braço da organização, especializado em atos de contrainteligência, a fim de dificultar as investigações, tais como o monitoramento das investigações e dos investigadores, a combinação de versões entre os investigados e, inclusive, seus subordinados, e a produção de documentos forjados para despistar o estado atual das investigações".

O MPF disse ter pedido a prisão preventiva de alguns dos investigados porque o inquérito aponta "para a existência de uma organização criminosa em plena operação, envolvida em atos concretos de clara gravidade".

O que a investigação aponta contra Temer?

A operação deflagrada nesta quinta-feira é um desdobramento das operações Radioatividade, Pripyat e Irmandade, braços da Lava Jato.

Segundo a Procuradoria-Geral da República, investigações indicaram o envolvimento de, pelo menos, duas empreiteiras (Andrade Gutierrez e Engevix) "em práticas ilícitas, em virtude da execução de contratos e aditivos celebrados com a Eletronuclear".

Em delação premiada, o ex-executivo da Engevix José Antunes Sobrinho afirmou ter pago R$ 1,1 milhão em propina a pedido do coronel Lima "com anuência" do ex-presidente.

Esse montante, segundo a delação de Antunes Sobrinho, seria uma propina destinada a Temer como recompensa por um contrato de engenharia eletromecânica de R$ 162 milhões da empreiteira com a Eletronuclear, que também envolvia a Argeplan e a finlandesa AF Consult Ltd.

"Para justificar as transferências de valores foram simulados contratos de prestação de serviços da empresa PDA para a empresa (de publicidade) Alumi", afirmou o MPF, que aponta o desvio de R$ 10,9 milhões ligados a esse contrato.

Michel Temer

CRÉDITO,AFP/GETTY IMAGES

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Temer foi detido pela Polícia Federal após sair de casa em São Paulo

Segundo Dodge, a Argeplan era usada para "captar recursos ilícitos, inclusive do nicho econômico do setor portuário, destinados a Michel Temer" e pertence, na verdade, ao ex-presidente da República. "João Baptista Lima Filho tem atuado em todas as relações comerciais entre Michel Temer e empresários do setor portuário, dissimulando sua existência, natureza e efeitos."

Em despacho que determinou a prisão do coronel Lima em março de 2018, no âmbito do inquérito ligado ao setor dos portos, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso menciona que a empresa de Lima Filho teve um crescimento exponencial nos últimos 20 anos em razão do contrato ligado à Engevix e à Eletronuclear.

A jornalistas, os procuradores da Lava Jato no Rio disseram que a Argeplan, empresa de Lima, tinha em seu portfólio apenas a construção de estações de metrô e outras obras pouco complexas - e não teria, portanto, capacidade de tocar obras em uma usina nuclear. Ainda segundo os procuradores, Lima já trabalharia com a Argeplan desde a década de 1980, embora só tenha passado a controlar formalmente a empresa nos anos 2000 - o que demonstraria que a empresa era usada para drenar recursos públicos.

Com o fim do foro privilegiado de Temer em janeiro, a delação do ex-executivo da Engevix foi remetido ao juiz Marcelo Bretas.

O que diz a decisão de Marcelo Bretas?

Em sua decisão, o juiz federal Marcelo Bretas inicialmente se previne sobre a possibilidade de envio do caso para a Justiça Eleitoral, à luz do novo entendimento no Supremo Tribunal Federal sobre caixa 2. Segundo decisão da corte neste mês, crimes como corrupção, se investigados em conjunto com financiamento eleitoral ilegal, são de competência da Justiça Eleitoral, e não da Federal.

"Se e quando houver nos autos elementos mínimos de prova que evidenciem a prática de crime da competência de outro Juízo, Eleitoral por exemplo, caberá decisão a respeito. Simples alegações ou oportunas conjecturas das partes interessadas são absolutamente insuficientes para tanto", afirma Bretas. O juiz afirma que o "próprio investigado Michel Temer, quando ouvido em sede policial, disse que o também investigado Coronel Lima jamais o auxiliou arrecadando recursos para campanhas eleitorais".

Em seguida, Bretas analisa a investigação realizada pelo Ministério Público Federal e afirma que "é convincente a conclusão ministerial de que Michel Temer é o líder da organização criminosa a que me referi, e o principal responsável pelos atos de corrupção aqui descritos."

Ao discorrer sobre os pedidos de prisão dos investigados, o juiz federal trata da necessidade da prisão requerida para garantia da ordem pública e evitar prejuízos à investigação. Segundo ele, há "efetivo risco que o agente em liberdade pode criar à garantia da ordem pública, da ordem econômica, da conveniência da instrução criminal e à aplicação da lei penal".

"Deve-se ter em mente que no atual estágio da modernidade em que vivemos, uma simples ligação telefônica ou uma mensagem instantânea pela internet são suficientes para permitir a ocultação de grandes somas de dinheiro, como parece ter sido o caso."

Em sua decisão, Bretas argumenta que "tão importante quanto investigar a fundo a atuação ilícita da ORCRIM [organização criminosa] descrita, com a consequente punição dos agentes criminosos, é a cessação da atividade ilícita e a recuperação do resultado financeiro criminosamente auferido".

Alvo de três denúncias

Temer deixou o governo como alvo de três denúncias criminais – todas foram enviadas à primeira instância ao fim do mandato.

As duas primeiras foram feitas pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tiveram origem na delação de executivos da JBS e acusam Temer e aliados de receber propinas de empresas beneficiadas por decisões do governo ou contratos públicos.

Em uma delas, o ex-presidente é acusado de chefiar uma organização criminosa - conhecida como "quadrilhão do MDB" - e de tentar obstruir a Justiça comprando o silêncio de Eduardo Cunha, ex-deputado do partido que está preso. Na outra, é acusado de corrupção passiva no caso da mala de dinheiro recebida pelo ex-assessor Rodrigo Rocha Loures.

Michel Temer coordena a última reunião ministerial de seu governo, no Palácio do Planalto

CRÉDITO,ANTONIO CRUZ/ AGÊNCIA BRASIL

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Presidente comanda a última reunião ministerial de seu governo, em dezembro

Na terceira denúncia, apresentada pela atual procuradora-geral da República, Raquel Dodge, Temer é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em inquérito que apura um esquema criminoso no setor de portos.

O ex-presidente nega todas as acusações e se diz vítima de uma perseguição.

Questionado por jornalistas se temia ser preso ao deixar o Planalto e perder o foro privilegiado garantido pelo cargo de presidente, Temer se mostrava ofendido.

"Não estou preocupado com esse assunto. Até porque chicotear o presidente é uma coisa. Já o ex-presidente já não vai ter muita graça", disse à revista Época no fim do ano passado.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 6 de novembro de 2021

Marília Mendonça: Imprensa internacional destaca 'legiões de fãs empoderadas' e 'país em choque'; veja as repercussões



Marilia Mendonca

CRÉDITO,DIVULGAÇÃO

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Marília Mendonça tinha 26 anos e era um dos maiores sucessos musicais do Brasil

A morte da cantora sertaneja Marília Mendonça em um acidente de avião em Minas Gerais foi destaque na capa dos sites de alguns dos principais veículos de imprensa do mundo na sexta-feira e neste sábado, como Guardian, Washington Post, La Repubblica e Spiegel.

O americano New York Times disse que "suas legiões de fãs foram empoderadas pelas letras de suas canções, que imploravam às mulheres que rejeitassem relacionamentos ruins e abusivos, e contavam histórias de personagens imperfeitos."

"Mendonça foi uma sensação nas redes sociais, com 7,8 milhões de seguidores no Twitter, 22 milhões no YouTube e mais de 38 milhões no Instagram."

O jornal destacou as manifestações de pesar do presidente Jair Bolsonaro e da cantora Anitta.

E também lembrou uma reportagem de 2019 da NPR, a rede de rádios públicas dos Estados Unidos, que falava que "alguns nos círculos cosmopolitas do Brasil desprezam as baladas country de Mendonça e as consideram 'brega', ou 'cafona'".

Naquela reportagem, a NPR falava de Mendonça: "Sentimental ou não, suas canções oferecem uma perspectiva feminina que não é muito ouvida na cultura machista do sertanejo, e isso faz de Mendonça a voz principal de um novo subgênero chamado 'feminejo' — música por e para mulheres".

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A NPR também destacou a morte da cantora neste sábado, com a manchete em seu site: "Marília Mendonça, cantora brasileira e ganhadora do Grammy Latino, morre em acidente de avião".

'País em choque'

A CNN destacou: "A notícia da morte da carismática vencedora do Grammy Latino, conhecido como 'A Patroa' por seus milhões de fãs, chocou o país na sexta-feira".

A notícia era uma das mais lidas na manhã deste sábado (6/11) no site em inglês de notícias da BBC.

"Vencedora do Grammy Latino em 2019, Mendonça ficou famosa por focar nas experiências das mulheres com relacionamentos fracassados", escreve a BBC News.

"Um dos maiores nomes da música country brasileira conhecida como sertanejo, Mendonça começou sua carreira ainda adolescente, e se tornou uma estrela nacional em 2016 com um hit sobre infidelidade."

"Ela era conhecida como a 'Rainha do Sofrimento' do país."

A BBC News também destacou a popularidade da cantora na internet.

"No ano passado, como os shows foram cancelados por causa da pandemia, ela se apresentou em uma série de shows online. Um deles estabeleceu o recorde de transmissão ao vivo mais assistida do mundo, com 3,3 milhões de espectadores no YouTube. Em 2020, ela foi a artista mais ouvida no Brasil no Spotify."

Foto do aviao acidentado

CRÉDITO,EPA

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A cantora viajava em um avião bimotor modelo Kingair C90A

A cantora Marília Mendonça, 26 anos, morreu na tarde de sexta-feira em um acidente de avião perto de uma cachoeira na serra da cidade de Piedade de Caratinga, no interior de Minas Gerais.

Mais quatro pessoas que estavam na aeronave morreram, incluindo piloto e copiloto.

Autora de diversos hits sertanejos, Marília estava em uma aeronave de pequeno porte, da fabricante Beechcraft, a caminho de shows que faria neste fim de semana. Uma das apresentações aconteceria na cidade de Caratinga, a poucos quilômetros de Piedade, na noite desta sexta-feira.

Ela deixa um filho de 1 ano e 10 meses de idade. O velório deve acontecer neste sábado (6) de manhã, em Goiânia.

A empresa que transportava a cantora de música sertaneja Marília Mendonça foi alvo de uma denúncia anônima seis meses antes do acidente.

A denúncia dizia que a aeronave operada pela PEC Táxi Aéreo tinha problemas no sistema antiembaçamento do para-brisa que dificultariam os pousos e decolagens. Não há indícios de que a falha denunciada possa ter relação com a queda.

O acidente trouxe à tona novamente a discussão sobre o índice de incidentes envolvendo a aviação particular no país. Aviões particulares — em geral, de menor porte, como o usado pelo cantora — estão envolvidos na maior parte dos acidentes de aviação no país.

BBC


Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Brasil cortou 93% da verba para pesquisa em mudanças climáticas


Gado em area desmatada

CRÉDITO,REUTERS

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Dados levantados pela BBC News Brasil mostram corte em pesquisas sobre mudanças climáticas no Brasil

O governo do presidente Jair Bolsonaro cortou em 93% os gastos para estudos e projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas nos três primeiros anos da sua gestão quando comparado com os três anos anteriores.

Os dados foram levantados pela BBC News Brasil por meio do Sistema Integrado de Orçamento do Governo Federal (Siop). Entre janeiro de 2016 e dezembro de 2018, os investimentos nessa área foram de R$ 31,1 milhões.Na gestão Bolsonaro, porém, os gastos foram de apenas R$ 2,1 milhões.

Procurados, os ministérios do Meio Ambiente e da Ciência, Tecnologia e Inovações, e a Presidência da República não se pronunciaram.

As mudanças climáticas são um conjunto de alterações no clima do planeta causadas pela ação humana. Entre os principais fatores está a emissão de gases causadores do efeito estufa como o gás carbônico e metano.

Estudos indicam que países altamente dependentes da exportação de commodities agrícolas como o Brasil estão particularmente vulneráveis ao fenômeno porque ele pode causar, por exemplo, alterações no regime de chuvas e ventos e resultar em eventos climáticos extremos como secas prolongadas, ondas de frio e de calor mais frequentes.

Pressionado por altas taxas de desmatamento nos últimos anos, o governo Bolsonaro participa da COP-26, Conferência do Clima da ONU, que acontece em Glasgow, no Reino Unido. O próprio presidente não viajou para a Escócia.

Um dos principais objetivos da delegação brasileira é convencer a comunidade internacional do seu compromisso com a agenda ambiental.

Na terça-feira (2/11), representantes de mais de cem países, entre eles China e Brasil, assinaram um acordo para proteção de florestas que tem como meta zerar o desmatamento no mundo até 2030. O Brasil também aumentou a meta de redução de gases poluentes de 43% para 50% até 2030 e se comprometeu em antecipar a meta de zerar o desmatamento ilegal de 2030 para 2028.

Na semana passada, a BBC News Brasil antecipou que o Brasil decidiu assinar um importante acordo sobre proteção de florestas conhecido como "Forest Deal".

Mais promessas, menos verba

O levantamento feito pela BBC News Brasil, porém, mostra uma redução drástica do investimento do governo federal em estudos para preparar o país para os efeitos da crise no clima.

Os dados consideram duas ações orçamentárias do governo federal destinadas, especificamente, a produzir estudos e projetos com essa temática: 20G4 — Fomento a Estudos e Projetos para Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima (sob responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente) e 20VA — Apoio a Estudos e Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento à Mudança do Clima (a cargo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações).

O levantamento aponta que o ritmo de investimento entre 2016 e 2018 era de redução. Em 2016, por exemplo, o governo gastou R$ 20,7 milhões. No ano seguinte, esse valor caiu para R$ 8,4 milhões. Em 2018, chegou a R$ 2 milhões.

Jair Bolsonaro

CRÉDITO,EPA/JOEDSON ALVES

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Governo Bolsonaro reduziu drasticamente recursos para estudos sobre efeitos de mudanças climáticas, apontam dados

A queda prosseguiu no governo Bolsonaro. Em 2019, o governo investiu R$ 1 milhão. Em 2020, foram gastos R$ 659 mil. Neste ano, até outubro, foram gastos R$ 426 mil.

Os dados mostram ainda que no Ministério do Meio Ambiente os investimentos em estudos sobre mudanças climáticas foram zerados a partir de 2019.

Política climática

A política ambiental do governo Bolsonaro é alvo de críticas domésticas e internacionais. Por outro lado, ele é apoiado por diversos setores do agronegócio e da mineração. Em sua campanha, em 2018, ele prometeu acabar com o que chamava de "indústria das multas" ambientais.

Em 2019 e 2020, o Brasil registrou as piores taxas anuais de desmatamento desde 2008. No período, foram desmatados mais de 20 mil quilômetros quadrados, uma área equivalente a 13 cidades de São Paulo. O avanço do desmatamento e dos incêndios florestais nesses dois anos despertaram reações de organizações não-governamentais e de chefes de estado estrangeiros como o presidente da França, Emmanuel Macron.

A posição de Bolsonaro em relação às mudanças climáticas também é fruto de críticas de ambientalistas e cientistas. Em 2019, após a COP-25, por exemplo, Bolsonaro chegou a afirmar que a pressão internacional em torno do assunto seria parte de um "jogo comercial" com o objetivo de prejudicar países em desenvolvimento como o Brasil.

"Eu quero saber... alguma resolução para a Europa começar a ser reflorestada? Alguma decisão? Ou só ficam perturbando o Brasil? É um jogo comercial, eu não sei como o pessoal não consegue entender que é um jogo comercial", disse o presidente.

O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, que ficou no cargo janeiro de 2019 a março de 2021, chegou a colocar em dúvida que as mudanças climáticas seriam causadas pela ação humana, na contramão do consenso da comunidade científica.

"Há mudanças climáticas? Sim, certamente, sempre teve. É causada pelo homem? Muitas pessoas dizem que sim, não sabemos com certeza", disse o ex-chanceler em um evento nos EUA, em setembro de 2019.

Gado em meio à queimada

CRÉDITO,REUTERS/RICARDO MORAES

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Política ambiental do governo Bolsonaro é alvo de críticas domésticas e internacionais

O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que ficou na pasta de janeiro de 2019 a junho de 2021, admitia a responsabilidade do ser humano nas mudanças climáticas. Mesmo assim, foi na sua gestão que a pasta extinguiu, no início do governo Bolsonaro, a secretaria responsável por elaborar políticas públicas sobre o assunto.

Foi apenas em 2020, em meio a críticas internacionais, que Salles determinou a recriação de uma secretaria dedicada às mudanças climáticas dentro do ministério. Salles deixou o cargo em junho deste ano em meio a investigações sobre seu suposto envolvimento com um grupo de empresários que faria contrabando de madeira da Amazônia.

Críticas

Especialistas ouvidas pela BBC News Brasil criticaram os cortes nos investimentos do governo em estudos sobre as mudanças climáticas. Segundo elas, o governo Bolsonaro prejudicou a política climática do país.

Para Natalie Unterstell, presidente do think tank Talanoa, os números mostram que os investimentos aquém da necessidade do Brasil para lidar com a crise climática.

"Estudos recentes mostram que o mundo deveria investir pesado em estudos e projetos para mitigar os efeitos da mudança climática. Esses cortes comprometem a forma como o Brasil se prepara. Isso mostra que ela não é prioridade para um órgão que deveria ser um importante formulador de políticas públicas. Isso é um reflexo da paralisação da agenda ambiental o governo que se deu dentro do MMA e a partir dele", diz Natalie.

"Um olhar para o esvaziamento da ação orçamentária referente ao fomento a projetos para mitigação e adaptação à mudança do clima mostra bem isso. Em 2021, foram empenhados na ação orçamentária 20G4 míseros R$ 110 mil reais até agora. Para 2022, estão previstos pouco mais de 500 mil reais. Nesses números fica patente a desatenção ao tema", afirmou a ex-presidente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pesquisadora sênior do Observatório do Clima, Suely Araújo.

A BBC News Brasil enviou questionamentos para o Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e para a Presidência da República sobre os cortes. Nenhum dos três se pronunciou sobre o assunto.

  • Leandro Prazeres
  • Da BBC News Brasil em Brasília

Professor Edgar Bom Jardim - PE