"O que é urgentemente necessário agora é garantir a proteção do povo afegão. Os Estados deveriam concentrar suas mentes em facilitar vistos, dar segurança para o povo, fornecer assistência humanitária no país e buscar uma solução política pacífica", afirmou em comunicado.
BBC 18/08/21
Especial: Vietnã, 25 Anos Depois
O Vietnã revisitado
Ataque de napalm, no Vietnã
Brian Barron
Saigon já foi a capital de um país. Hoje, o nome da cidade e o país em questão - Vietnã do Sul - fazem parte apenas da memória.
Eles foram retirados do mapa por legiões de revolucionários do Vietnã do Norte, no que se tornou uma das vitórias mais surpreendentes dos tempos modernos.
Vinte e cinco anos atrás, a promessa dos Estados Unidos de ficar ao lado de seu aliado, Saigon, foi abandonada.
O major James Kean, um dos últimos homens a serem evacuados pelo teto da embaixada norte-americana em Saigon, relembra a humilhação.
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Os últimos marines deixam pelo teto da embaixada |
"Eu chorava e todos chorávamos. Nós chorávamos por uma série de motivos", ele diz.
"Mas mais do que tudo, nós estávamos envergonhados. Como os Estados Unidos da América pôde ter chegado à posição de enfiar o rabo entre as pernas e correr?"
Guerra Fria
No final dos anos 60, a Guerra Fria estava no auge e as superpotências tinham representantes no Vietnã.
A ex-colônia francesa havia sido repartida.
Hanói, capital do Vietnã do Norte, era apoiada pela então União Soviética e pela China comunista; Saigon, capital do Vietnã do sul, tinha o apoio dos Estados Unidos.
O Norte estava sob o patriarcado revolucionário de Ho Chi Minh, cuja cruzada era reunificar a nação.
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Vietnã: a primeira guerra televisionada |
O Sul era uma quase-democracia, mas corrupta e internamente dividida, com Washington tentando unificar as diferentes correntes.
Durante anos os EUA despejaram seus soldados no Vietnã, acreditando que um poder de fogo superior e a tecnologia iriam aniquilar os soldados comunistas do Norte e as guerrilhas do Vietcong.
O Pentágono sempre prometia uma lua no final do túnel.
Mas 58 mil vidas de norte-americanos foram perdidas.
A carnificina, sempre televisionada através dos EUA, provocou a revolta do público norte-americano com o conflito.
John Lennon e Yoko Ono estavam entre as celebridades que se juntaram ao movimento pacifista - que era tão intenso que tirou um presidente da Casa Branca, e eventualmente forçou a retirada de todas as forças norte-americanas do Vietnã.
Corrupção
Em 1973, um acordo de paz foi assinado.
Pelo acordo, o Vietnã continuava dividido, mas com enclaves de tropas comunistas espalhadas pelo Sul.
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Helicóptero em ação |
O líder de Saigon, presidente Nguyen Van Thieu, pode ter comandado o quarto maior exército do mundo, mas cravado de ganância e incompetência.
O coronel David Hackworth, o combatente norte-americano mais condecorado no Vietnã, diz que muitos dos generais do Vietnã do Sul que ele conhecia eram movidos por uma única coisa.
"Os norte-americanos eram tão ingênuos que eles estavam derramando dinheiro no Vietnã, enquanto os vietnamitas se apoderavam do dinheiro e abriam um negócio atrás do outro".
"Eles eram homens de negócio, e não generais em uma luta", diz Hackworth.
É um julgamento duro, mas correto.
Pânico
Há 25 anos eu estava em Tuy Hoa, na costa central do Vietnã, escrevendo sobre uma das maiores derrotas militares do final do século 20.
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Refugiados e tropas correm para sair do país |
Abalado por um levante comunista, o presidente do Vietnã do Sul, Nguyen Van Thieu, ordenou que um dos seus comandantes mais graduados retirasse secretamente seu exército das bases nas montanhas que asseguravam o controle da região central do país.
O exôdo que se seguiu se tornou conhecido como "o comboio de lágrimas".
"O pânico se estabeleceu", relembra o coronel Hackworth.
"A pior coisa que pode acontecer para um exército é ser dominado pelo medo… o esquema tático simplesmente vai pelo ralo".
"Foi isso o que aconteceu ali. Nós tivemos essa onda infernal de medo que tomou generais, coronéis, sargentos, soldados - todos correram. O caos tomou conta de tudo".
Comboio de lágrimas
Os veteranos comunistas do Norte ainda se lembram de quão fácil foi a destruição do "comboio do medo".
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Garoto refugiado desce para barco |
Mas o pior ainda estava por vir.
Logo em seguida, as notícias da retirada caótica das montanhas teve um impacto fatal na segunda cidade mais importante do Vietnã do Sul, Da Nang.
"Quando Da Nang caiu, foi o fim de metade do exército do Vietnã do Sul", diz o ex-analista da CIA sobre Saigon, Frank Snepp.
"E realmente foi o fim da metade superior do país".
"Naquele ponto, qualquer pessoa sensata teria começado a planejar algum tipo de evacuação. Mas isso não ocorreu", diz Snepp.
Evacuações
Em três semanas, o mapa do Sudeste da Ásia estava redesenhado.
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Aglutinação na embaixada dos EUA |
As tropas do Vietnã do Norte haviam tomado quase todo o sul e 15 divisões de tanques e infantaria comunistas estavam se aproximando de Saigon.
Multidões começaram a se aglutinar em torno da embaixada norte-americana, e os funcionários lá dentro tremiam.
Estima-se que pelo menos 90 mil vietnamitas do sul que haviam trabalhado para os norte-americanos deixaram o país.
Mas, enquanto os norte-americanos discutiam quão rápida deveria ser a evacuação, o tempo se esgotou.
Em Washington, o presidente Gerald Ford e seu secretário de Estado, Henry Kissinger, pensavam saber qual era sua obrigação.
"Nós tínhamos a obrigação de ajudar nossos aliados do Vietnã do Sul que queriam sair do país e ir para os Estados Unidos", diz Gerald Ford.
"Por um outro lado, o embaixador norte-americano em Saigon, Graham Martin, queria ficar e lutar até a última bala".
Traição
Entre os milhares de vietnamitas que receberam a garantia que seriam evacuados estava Kim Vin Luong, um intérprete da inteligência norte-americana, e seu marido, um piloto da força aérea.
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Tropas do norte tomam o Palácio da Independência |
Os comunistas iriam considerá-los como inimigos.
"Me disseram que um ônibus norte-americano iria até nossa casa para nos levar até o aeroporto", relembra Luong.
"Nada aconteceu, e eu esperei 18 anos com os comunistas por causa de uma promessa não cumprida da embaixada norte-americana".
Frank Snepp, o ex-agente da CIA, disse que estava aterrorizado pelos seus amigos vietnamitas que pediam para ser resgatados.
Eram gritos desesperados que chegavam por circuitos de rádio - um pesadelo sonoro.
"Eles diziam: eu sou Han, o tradutor, por favor, venha me buscar. E nós respondíamos: sim, claro, já estaremos aí - e, claro, nada nunca aconteceu".
Os norte-americanos deixaram a evacuação para muito tarde - perigosamente tarde.
Quinze horas antes da rendição de Saigon, centenas de vietnamitas cercavam a embaixada dos EUA.
Muitos receberam a promessa de entrar - e escapar -, mas a maioria foi deixada para trás.
O último militar norte-americano no Vietnã escapou pelo teto da embaixada, seguido por uma multidão de vietnamitas desesperados.
Eles lotaram o último helicóptero escalado para a evacuação, observados pelos vietnamitas do Norte que chegavam.
Mas o ex-gerneral do Vietnã do Norte, Vu Xuan Vinh, diz que as ordens eram para não atirar.
"Havia muitos helicópteros norte-americanos sobrevoando o local, mas tínhamos ordens de deixá-los escapar", ele relembra.
"Nós temíamos que, se atirássemos, a Força Aérea dos Estados Unidos iria interferir e isso iria atrapalhar a retirada".
Humilhação
Assim que os últimos norte-americanos se retiraram, 17 divisões das tropas do Vietnã do Norte se encaminharam para os portões da Palácio da Independência, em Saigon, que era a sede do governo.
Mas houve ainda uma humilhação seguinte no mar.
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Festa após a queda de Saigon |
Centenas de militares do sul escaparam em seus próprios helicópteros em direção à esquadra norte-americana de evacuação.
A movimentação foi tão grande que eles tiveram que atirar seus helicópteros no mar.
Não houve preocupação quanto aos custos - afinal, os norte-americanos já haviam gasto 12 anos e U$ 150 bilhões na cruzada perdida.
Cicatrizes
O envolvimento norte-americano no Vietnã terminou em um pesadelo de culpa e recriminação, e as cicatrizes permanecem abertas ainda hoje.
Frank Snepp relembra ter recebido um telefonema nas últimas horas de retirada, de uma mulher vietnamita que alegava que ele era o pai de seu filho.
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Uniformes foram deixados pelas ruas |
"Ela disse que tinha de deixar o país, ou iria matar a si e a seu filho".
"Eu disse: My Lai, eu não posso providenciar sua retirada agora - essa é a manhã do último dia. Ligue-me de volta em uma hora".
"Quando ela ligou novamente, eu estava em uma reunião no escritório do embaixador, então ela se matou e matou o garoto. Eu não pude atendê-la".
O presidente Ford reconhece que o fracasso para evacuar todos os prometidos pode ser considerada uma traição.
Mas ele diz: "Nós fizemos todo o possível. Eu me lembro que entre seis e sete mil pessoas nas últimas 24 horas foram evacuadas do teto da embaixada dos EUA".
Strip-tease
Assim que os vietnamitas do norte entraram em Saigon, os soldados vietnamitas do sul despiram-se de seus uniformes, em um strip-tease em massa.
Seus equipamentos de combate, roupas e botas foram deixados jogados pelas ruas.
Três divisões do exército do sul desapareceram em poucas horas - os soldados retornaram para seus vilarejos.
O coronel Hackworth diz que os soldados do Norte foram os mais motivados que ele já havia visto.
"Eles tinham muita munição em sua cintura. Eles tinham liderança. Eles eram totalmente dedicados e não estavam lutando em nome do comunismo", ele diz.
"Eles estavam lutando por independência, assim como os norte-americanos em 1776 lutaram contra os britânicos. Eles queriam o seu país livre de opressão estrangeira".
Isolamento
Hoje, um quarto de século depois daquele triunfo de dimensões épicas, o túmulo de Ho Chi Min em Hanói permanece como o chão sagrado do Vietnã unificado.
Mas os frutos da paz se provaram alusivos.
O isolamento do Vietnã se intensificou com o desaparecimento da União Soviética.
O Vietnã permanece atolado na interferência comunista e burocracia.
Novos hotéis estão vazios, e muitos investidores estrangeiros se retiraram.
Divisão
Para um repórter que retorna ao Vietnã 25 anos depois há muito que se admirar.
Como o profundo senso de auto-suficiência e progressos reais em saúde pública e educação.
Mas a audácia militar demonstrada pelo Norte ao promover a invasão do Sul nunca mais foi igualada por nenhuma audácia política.
Mesmo hoje, o único partido político e seus comunistas de estilo superado têm medo de idéias novas.
Sob a aparência de um Vietnã unificado, norte e sul permanecem como dois lugares bastante diferentes.
Brian Barron cobriu a Guerra do Vietnã como correspondente da BBC.