segunda-feira, 15 de março de 2021

A história de amor 'não tão romântica' entre Napoleão e Josefina

Napoleão e Josefina

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O romance entre Napoleão e Josefina começou no outono de 1795

Esse famoso matrimônio completou 225 anos.

Foi no dia 9 de março de 1796 que um jovem general de brigada do exército francês sem dinheiro e, aparentemente, sem muito futuro, casou-se com uma viúva cinco anos mais velha, com dois filhos de um casamento anterior e uma longa fila de amantes.

Ele era Napoleão Bonaparte. Ela, a viscondessa de Beauharnais, se chamava Rosa Josefina Tascher de la Pagérie — seu primeiro nome, Rosa, não era usado com frequência nas conversas entre o casal, pois havia sido pronunciado demais por muitos de seus amantes.

O casamento deles durou apenas 13 anos, mas ficou registrado como uma das maiores histórias de amor de todos os tempos.

Mas a realidade é que a união foi apaixonada por um breve período e logo se tornou tempestuosa e terrível.

Início do romance

Tudo começou no outono de 1795, quando Napoleão foi convidado para uma festa oferecida por Paul Barras, um dos membros mais efetivos do Diretório, forma de governo adotada durante a Revolução Francesa.

"Barras era bissexual, esperto, corrupto, libertino e notório", descreve o escritor Xavier Roca-Ferrer, que traduziu para o espanhol o livro As guerras privadas do clã Bonaparte (sem versão em português), obra que reúne as memórias de Madame de Reìmusat, companheira da Imperatriz Josefina que ganhou a amizade de Napoleão.

Ao fazer o convite para a festa, Barras queria colocar o talento indubitável de Napoleão a seu serviço.

"Naquela época, Barras tinha entre suas amantes (além de sua jovem secretária) a viscondessa de Beauharnais, que já tinha se relacionado com outros homens daquele meio, entre os quais se destaca o prestigioso general Hoche", revela Roca-Ferrer.

Retrato de Josefina

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Retrato de Josefina em 1801 feito pelo artista François Pascal Simon Gerard

Josefina tinha passado maus bocados durante o Terror, a fase sangrenta que marcou a Revolução Francesa entre os anos de 1793 e 1794.

Seu marido havia sido guilhotinado e ela estava prestes a perder a própria cabeça também. Mas a viscondessa conseguiu sair da prisão antes de ser executada.

Agora livre, ela logo se tornou "rainha" da sociedade parisiense em parceria com sua amiga íntima, a espanhola Teresa Cabarrús, mais conhecida como Madame Tallien.

"Elas começaram a criar tendências de moda nas roupas que usavam e tomaram atitudes que modificavam até questões sexuais", explica Roca-Ferrer.

Napoleão ficou completamente deslumbrado com Josefina assim que a viu.

"Barras, naquela época apaixonado por um menino que se afogaria no rio Sena meses depois, queria se livrar de sua amante para se concentrar em sua nova paixão. Assim, ele 'deu' a viscondessa de Beauharnais ao pequeno general, que a aceitou de bom grado porque ele já a amava ao ponto da obsessão", completa o escritor.

Resultado: apenas seis meses após o encontro, Napoleão e Josefina marcaram o casamento civil para o dia 9 de março de 1796.

Na certidão de casamento, os dois mentiram sobre sua idade: ela subtraiu quatro anos, enquanto ele acrescentou um.

Cartas de amor

Carta de Napoleão para Josefina, datada de 23 de maio de 1796.

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Carta de Napoleão para Josefina, datada de 23 de maio de 1796

"No início, Napoleão estava perdidamente apaixonado por Josefina, não há dúvida disso", diz o historiador e jornalista Ángeles Caso, encarregado de compilar e traduzir para o espanhol a enorme correspondência que o casal imperial trocou ao longo de 13 anos de relacionamento.

"As cartas que ele escreveu para ela tinham um importante conteúdo erótico, ele estava morrendo de paixão e desejo por ela. Mas, depois dos anos, aquele fervor e fascínio não só acabou, como Napoleão passou a tratar Josefina muito mal", acrescenta.

"Quanto a Josefina, acho que ela nunca correspondeu a Napoleão, pelo menos não da mesma forma. Ela nunca viveu aquela paixão absoluta que ele sentia", observa.

A verdade é que ambos eram muito diferentes.

Napoleão e Josefina

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Segundo os historiadores, Napoleão e Josefina eram muito diferentes

O general era um homem culto, enquanto Josefina (nascida em uma família de colonos em Martinica, uma ilha caribenha que pertence à França) nunca foi vista com um livro nas mãos, segundo as memórias de Madame de Rémusat,.

"Desde a infância ela era caracterizada como uma 'estrangeira rica perfeita': preguiçosa, sensual, caprichosa e profundamente rebelde, algo que acabou deixando Bonaparte desesperado. De resto, o hábito de comer xarope de cana estragou seus dentes, característica que ela sempre tentava disfarçar colocando xales e leques na altura do rosto e dando um meio sorriso muito especial", enfatiza Roca-Ferrer.

Viagens e infidelidades

Poucos dias depois do casamento, Napoleão partiu para a Itália. Muito apaixonado, ele escrevia a Josefina diariamente, às vezes até duas vezes por dia, enchendo suas cartas com declarações de amor extasiadas.

Mas Josefina logo voltou à sua vida social agitada e continuou a ter amantes, embora nas cartas ao marido fingisse ter muitas saudades dele.

"Para justificar que não ia à Itália para fazer companhia como ele pediu, Josefina inventou uma gravidez e um aborto enquanto continuava a 'apanhar' garanhões famintos nas festas de Barras", explica Roca-Ferrer.

"Para controlá-la, Bonaparte mandou um de seus oficiais (Murat, seu futuro cunhado) a Paris com a ordem de zelar pelo bem-estar de sua esposa. Por fim, atendendo às exigências de Barras, Josefina foi à Itália para impedir que o general deixasse o exército e voltasse à França. Mesmo assim, ela foi acompanhada por um de seus favoritos, um jovem oficial chamado Hippolyte Charles."

Depois que o trabalho na Itália acabou, os dois voltaram para Paris.

Mas assim que uma nova campanha no Egito começou e Napoleão precisou marchar novamente, desta vez para a terra dos faraós, ela voltou aos seus velhos hábitos, voltando-se para seu amado Charles.

Desta vez, a separação durou 13 meses.

Napoleão Bonaparte

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Napoleão Bonaparte na Itália, no registro do dia 5 de abril de 1796

"Um dia, em julho de 1798, enquanto se dirigiam ao Cairo sob um sol escaldante, seu amigo e agora brigadeiro Junot revelou a Bonaparte as infidelidades públicas de sua amada e lhe falou sobre Charles", conta Roca-Ferrer.

De acordo com Bourrienne, o secretário particular de Napoleão, o general empalideceu como um moribundo com a notícia: "Suas feições se convulsionaram, uma expressão selvagem apareceu em seus olhos e ele começou a bater na cabeça com os punhos", descreve.

Cheio de fúria, ele investiu contra Bourrienne e Junot por não o terem informado antes.

A notícia das infidelidades de Josefina destruiu de uma vez por todas a paixão que Bonaparte sentia por ela.

"Josefina também não era apenas infiel, mas também desleal. Pelas costas de Napoleão, sem que ele soubesse, ela começou a se associar a negócios duvidosos. Entre esses empreendimentos estava a venda de sapatos em muito mau estado para o exército ou o fornecimento de comida de péssima qualidade aos combatentes. Isso significava um risco à vida dos soldados e do próprio marido, mas rendia muito dinheiro", analisa Caso.

Casamento por conveniência

Quando Josefina descobriu que o marido sabia tudo sobre as suas infidelidades e estava prestes a retornar a Paris, entrou em pânico.

Ela foi ao porto encontrá-lo na companhia de Hortensia, filha do casamento anterior que tinha uma ótima relação com Napoleão.

Mas o general desembarcou em outro lugar e se trancou em seu escritório antes de falar com a família.

Curiosamente, a partir desse momento, Josefina começou a amar profundamente Napoleão.

Mas era tarde demais: Hortensia atirou-se aos pés do padrasto pedindo perdão pela mãe.

Para espanto de todos os que o conheciam, Napoleão abandonou a ideia do divórcio e não puniu ninguém, mas disse a Josefina que a traição havia matado seu coração e ele nunca mais seria capaz de amar.

"À medida que Napoleão se afastava, Josefina ficou louca de ciúme. Não por amor, mas porque viu sua posição social abalada", diz Caso.

Eles continuaram a se comportar como marido e mulher para terceiros, mas a partir de então Napoleão deixou de ser um marido fiel.

A situação mudou completamente: ela se tornou uma esposa devotada e leal enquanto ele a traía. "O marido passou a maltratá-la, verbalmente e também fisicamente. Há testemunhos que revelam como pelo menos uma vez ele bateu nela", informa Caso.

O casal dormia em quartos separados, embora ele visitasse Josefina algumas noites quando tinha insônia e "precisava suar", segundo as memórias de Madame de Rémusat.

Quando Napoleão se tornou imperador dos franceses em dezembro de 1805, ele coroou Josefina como imperatriz na presença do Papa.

Ela aproveitou a presença do pontífice para também se casar pela Igreja, sugestão que foi prontamente acatada pelo esposo.

Josefina é coroada Imperatriz

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Em 2 de dezembro de 1804, Napoleão coroou a Imperatriz Josefina na Catedral de Notre Dame

"Napoleão continuou com Josefina porque o casamento o interessava do ponto de vista social, especialmente depois que ele foi coroado imperador", interpreta Caso.

Além disso, Josefina sabia muito bem o que significava ser imperatriz

A romancista Sandra Gulland, autora de Josefina Bonaparte: Sonhos e Confidências da Jovem Josefina (sem versão em português) escreve: "Embora bastante inteligente, ela não tinha realmente um grande intelecto. Porém, de alguma forma sabia como ser uma imperatriz".

O divórcio

Napoleão queria um herdeiro e Josefina nunca lhe deu um.

Então, no dia 14 de dezembro de 1809, ele se divorciou dela. A essa altura, o relacionamento entre os dois já estava completamente desgastado.

Mesmo assim, ele deixou Josefina com o título de imperatriz e com boas condições de vida.

"Em parte, isso deveu ao respeito por sua própria dignidade imperial e porque naquele momento final ele sentiu um certo carinho por ela", opina Caso.

Em 1810, após o desquite, Napoleão casou-se com Maria Luisa da Áustria, com quem teve um filho: Napoleão Francisco Carlos José, que seria intitulado rei de Roma.

"A lenda de que Napoleão e Josefina tiveram um amor apaixonado do começo ao fim não é verdade. Ele era um psicopata e ela gastava fortunas em roupas, joias e na decoração de seus palácios", garante Caso

Josefina e Napoleão

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O então imperador Napoleão divorciou-se de Josefina em 1810

"Ela também foi uma mulher sem nenhuma ética, que construiu seu destino na cama dos homens. Mas posso entendê-la, já que naquela época a mulher não tinha possibilidades de desenvolvimento pessoal ou profissional de forma independente", interpreta o historiador.

"Josefina foi uma mulher que usou o seu físico, a sua elegância e o seu charme para sobreviver primeiro, e depois manter uma posição social", completa.

Mas por que então se considera seu relacionamento com Napoleão como um dos grandes casos de amor da história?

"Porque o destino de Napoleão parece estar ligado de uma forma estranha ao seu casamento com Josefina", responde Caso.

"Antes do casamento, ele não passava de um general sem destino. É justamente após o matrimônio que começam as suas grandes vitórias. Assim que o imperador se divorcia para se casar com Maria Luisa, suas derrotas voltam a aparecer", continua.

"É como se Josefina, apesar de toda frivolidade e deslealdade, fosse uma espécie de amuleto para ele. E, claro, todo mundo gosta de lendas de amor, mesmo que elas sejam falsas", completa.

BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 12 de março de 2021

Como eram o amor, o sexo e o casamento no Egito Antigo





A figura da fertilidade feminina com caráter erótico. Antigo Egito. Reino médio.

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A figura da fertilidade feminina com caráter erótico: antigos egípcios não eram tão diferentes das sociedades modernas nas questões do coração e do desejo

Aviso: Este artigo contém conteúdo sexual explícito.

Você pode pensar que o comportamento dos antigos egípcios era muito diferente do nosso. Mas não muito: eles tinham as mesmas dúvidas, medos e motivações em relação aos conceitos de amor, sexo e casamento que nós.

A diferença está na maneira como lidavam com essas emoções.

No mundo moderno, "o sexo vende" e, às vezes, também pode ser considerado tabu. Isso é algo que um egípcio antigo típico não teria entendido.

Para os egípcios, sexo era um elemento básico da vida, junto com comer e dormir e, portanto, não era algo sobre o que se poderia rir, que se poderia evitar ou gerar vergonha.


E, por falar nisso, a língua egípcia, como as modernas, possuía vários vocábulos para a relação sexual. Assim como, naturalmente, eufemismos que podiam ser usados ​​poeticamente como "vincular-se", "encontrar-se", "passar uma agradável hora juntos"," entrar numa casa", "dormir com" ou "divertir-se com"...

Na verdade, a poesia é uma fonte notável de aprendizado sobre questões do coração e da libido no Egito Antigo.

A arte da insinuação

Eles também tinham várias palavras ara descrever os órgãos sexuais femininos, como xnmt (útero), iwf (carne), kns (região pubiana) ou k3t (vulva). Outros eram mais sutis, como keniw ou "abraço".

Um poema do Império Novo (período da história egípcia antiga entre o século 16 e o 11 a.C.), por exemplo, descreve um relacionamento romântico dizendo: "Ela me mostrou a cor de seu abraço". "Cor" costumava ser usada como eufemismo para pele, e na poesia encontramos frases como "ver a cor de todos os seus membros" ou "sua cor era suave".

No entanto, nem toda a poesia era tão sutil: há uma que descreve um jovem querendo "correr em direção à sua gruta", metáfora que realmente não precisa ser explicada.

Os antigos egípcios também usavam linguagem sexual para insultar, praguejar e como exclamações mais gerais.

Para apressar um colega de trabalho, um barqueiro egípcio poderia ter dito: "Rápido, fornicador!", como atestado no túmulo de Ti, do Império Antigo, em Sacara, um sítio arqueológico do Egito, que funcionou como necrópole da antiga cidade de Mênfis.

A expressão, aparentemente, foi considerada inofensiva o suficiente para ficar no túmulo com o falecido por toda a eternidade.

Embora o sexo fosse uma parte normal da vida cotidiana, era preferível que ficasse confinado ao casamento, razão pela qual a maioria das pessoas se casava, muitas vezes em uma idade jovem.

Como a poesia de amor do Império Novo é repleta de desejos sexuais e românticos, além de amor não correspondido, encontramos pistas sobre as práticas culturais da época por meio dos poemas. Por exemplo: "Ele não sabe da minha vontade de abraçá-lo, senão escreveria para minha mãe", permite-nos saber que, se um jovem quisesse se casar, deveria falar com a mãe da moça para obter permissão.

Um poema do Império Novo explica como tarefas simples são impossíveis por causa do amor: "Ele não me deixa agir com sensatez".

Os casais apaixonados também se davam apelidos afetuosos, como "O felino", "A tão procurada" e "Ela (que é) de temperamento explosivo como um leopardo".

Baixo-relevo com Ti em seu barco, Necrópole de Saqqara, Egito.

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As pinturas de Saqqara mostram que os antigos egípcios também usavam linguagem sexual para insultar

'Um ano comendo'

O casamento era um evento simples, sem cerimônia religiosa ou civil; geralmente a mulher — embora ocasionalmente o homem — simplesmente mudava-se para a casa do marido, talvez acompanhada por uma procissão pelas ruas e uma festa.

Sem nada cerimonial ou oficial, a maioria dos casamentos foi deixada em situação irregular, mas os casais ricos muitas vezes assinavam contratos delineando as consequências financeiras de um divórcio.

Mas mais intrigantes são os documentos que descrevem casamentos temporários ou de teste:

"Você estará em minha casa enquanto estiver comigo como uma esposa a partir de hoje, o primeiro dia do terceiro mês do inverno do décimo sexto ano, até o primeiro dia do quarto mês da estação das cheias do ano dezessete."

Este casamento temporário ficou conhecido como "um ano comendo" e permitia ao casal tentar o casamento, bem como uma saída rápida caso não houvesse filhos durante este período ou se decidissem que não estava dando certo.

Uma dançarina acrobática em pose graciosa sobre um um óstraco, fragmentos que os artistas usavam para fazer esboços ou grafites. Egito, 18ª Dinastia do Antigo Egito, cerca de 1280 AC.

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Uma dançarina acrobática em pose graciosa sobre um um óstraco, fragmentos que os artistas usavam para fazer esboços ou grafites (18ª dinastia do Antigo Egito, cerca de 1280 a.C.)

A vida de casado no Egito Antigo não era muito diferente do que é hoje, e um casal tinha muitas das mesmas preocupações: essencialmente criar, alimentar e prover um lar para sua família.

No entanto, nem todos os enlaces do Egito Antigo eram perfeitos, e papiros médicos mostram que os homens costumavam consultar médicos devido a problemas sexuais dentro do casamento.

Em caso de problemas…

Havia inúmeras receitas disponíveis para o marido seduzir a esposa:

"Remova a caspa do couro cabeludo de uma pessoa morta que foi assassinada e sete grãos de cevada, enterrados na sepultura de uma pessoa morta, e esmague-os com dez onças de sementes de maçã. Adicione o sangue de um carrapato de cachorro preto, uma gota de sangue do dedo anular da sua mão esquerda e o seu sêmen. Esmague-o até formar uma massa compacta, coloque-o em um copo de vinho... e deixe a mulher beber."

Certamente seria difícil persuadir uma esposa desinteressada a beber tal poção, mas, se o fizesse, acreditava-se que ela se apaixonaria perdidamente pelo marido novamente.

Detalhe do Papiro de Turim com cenas de prostitutas, seus clientes e várias posições para fazer amor. Antigo Egito

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Detalhe do Papiro de Turim com cenas de prostitutas, seus clientes e várias posições para fazer amor (Antigo Egito)

Nesse caso, dava-se o passo seguinte, que era moer sementes de acácia com mel e "esfregar isso no seu falo e dormir com a mulher". Se isso não funcionasse, o homem era aconselhado: "Esfregue seu falo com a espuma da boca de um garanhão e durma com a mulher."

O mesmo nível de ajuda médica não estava disponível para a esposa, pois era considerado impróprio para uma mulher consultar um médico sobre esses assuntos: "Uma esposa é uma esposa. Ela não deve fazer amor. Ela não deve ter relações sexuais".

Isso deixa claro que era considerado impróprio que uma mulher desejasse fazer sexo, pois ela só deveria estar disponível para o marido a seu pedido.

'Segure seu coração acelerado'

Os casamentos eram dissolvidos por vários motivos, sendo o mais comum a ausência de filhos ou o adultério.

Embora as mulheres em teoria não devessem desejar relações sexuais, o adultério era considerado "o grande crime (geralmente) encontrado em uma mulher".

Mas tanto homens quanto mulheres cometiam adultério, e tanto homens quanto mulheres podiam dar início a um divórcio por causa disso.

O adultério era tão comum que aparecia no Livro dos Mortos na chamada "Confissão Negativa", onde o falecido negava ter feito coisas consideradas ilegais ou socialmente inaceitáveis.

É na última categoria que cai o adultério, e a Instrução de Ani (dinastia 21 ou 22 por volta de 1.000 aC) aconselha os novos maridos: "Segure o coração disparado. Não vá atrás de uma mulher; não deixe que ela te roube o coração".

Detalhe do sarcófago pintado de Butehamon. No ato da Criação, o deus do ar Shu ergue a deusa do céu Nut, separando-a de Geb. Antigo Egito. 21ª Dinastia

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Detalhe do sarcófago pintado de Butehamon - no ato da Criação, o deus do ar Shu ergue a deusa do céu Nut, separando-a de Geb (Antigo Egito. 21ª Dinastia)

Divórcio

Embora o divórcio fosse geralmente concedido por adultério, se o marido desejasse, ele poderia solicitar que sua esposa adúltera fosse severamente punida, em alguns casos com mutilação ou execução. No entanto, essas punições severas geralmente eram o enredo de contos literários, e o divórcio era mais fácil e comum no mundo real.

Tanto homens quanto mulheres podiam se divorciar, basta o homem dizer um "te expulso", ou a mulher falar "estou indo embora", ou qualquer um dos cônjuges soltar um "estou me divorciando de você".

O divórcio geralmente era tão simples quanto um casamento, com a mulher saindo da casa do marido, voltando para a casa do pai ou para a sua.

O divórcio não trazia nenhum estigma social, e tanto homens quanto mulheres se casavam novamente e muitos tinham famílias numerosas.

No entanto, se uma mulher se divorciava quando tinha 30 anos, era raro ela se casar novamente. Nessa idade, ela era considerada velha.

Quando se trata de questões do coração, seja no mundo moderno ou no Egito Antigo, há muitas informações que simplesmente não são registradas.

No entanto, até certo ponto, podemos ter uma ideia de como os antigos habitantes do Vale do Nilo conduziam seus relacionamentos e sua visão de sexo e relacionamentos.

E, embora nossa ideia de como tudo isso funcionava certamente incompleta, muito é familiar: os antigos egípcios não eram tão diferentes de nós quando se tratava de relacionamentos... eles viveram, se apaixonaram, amaram, se casaram, se divorciaram e às vezes até faziam tudo isso mais de uma vez.

* Charlotte Booth é a autora de "Lost Voices of the Nile: Everyday Life in Ancient Egypt" ou "As vozes perdidas do Nilo: Vida cotidiana no Egito Antigo".

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