quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Secult-PE lança sete editais emergenciais para a Cultura em Pernambuco




No âmbito da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, a Secretaria de Cultura de Pernambuco irá investir R$ 22,3 milhões para o financiamento de projetos culturais oriundos de produtores de todos os segmentos da cultura. O montante representa 30% dos recursos totais da lei destinados a Pernambuco. A lei determina, em seu Inciso III, que tanto Estados quanto Municípios apliquem, pelo menos, 20% dos recursos recebidos em “publicação de editais, chamadas públicas, prêmios, aquisição de bens e serviços vinculados ao setor cultural e outros instrumentos destinados à manutenção de agentes, de espaços, de iniciativas, de cursos, de produções, de desenvolvimento de atividades de economia criativa e de economia solidária, de produções audiovisuais, de manifestações culturais, bem como à realização de atividades artísticas e culturais que possam ser transmitidas pela internet ou disponibilizadas por meio de redes sociais e outras plataformas digitais”.

Em Pernambuco, o diálogo da Secult com diversos setores governamentais e da sociedade civil resultou no formato de sete editais emergenciais distintos (confira abaixo resumo de cada um deles, com respectivos períodos de inscrição). O processo de inscrição para todos os editais será de modo eletrônico, por meio de preenchimento de formulários específicos e anexos, exclusivamente pelo Mapa Cultural de Pernambuco, na seção de “Oportunidades”.

A Secult-PE optou pela modalidade concurso nos editais da LAB PE, o que permite premiar propostas. No ato do recebimento da premiação, os proponentes deverão assinar Termo de Compromisso para garantir a execução da proposta até 31 de março de 2021, com entrega de relatório de execução até 30 de abril de 2021.

“A operação da Lei Aldir Blanc pelos estados brasileiros têm sido um enorme desafio. Então, é sempre com muito orgulho que avançamos em suas etapas. Depois de lançarmos o auxílio emergencial para as pessoas físicas, trabalhadoras e trabalhadores da cultura, apresentamos um conjunto de sete editais, que irá contemplar todos os segmentos da cultura, tanto na produção quanto na formação e pesquisa, chegando a todos os territórios, inclusive Fernando de Noronha. Os editais foram fundamentados em três eixos: inclusão, descentralização e socialização, diretrizes que irão nortear a sustentabilidade da cadeia da cultura em nosso Estado”, avalia o secretário Gilberto Freyre Neto.

“Hoje é um dia histórico para a Cultura em nosso Estado. São mais de R$ 22 milhões de reais distribuídos em sete editais para apoiar projetos e reconhecer trajetórias de trabalhadores e trabalhadoras da cultura pernambucana. Foi uma construção árdua e integrada, com o compartilhamento de propostas, modelos e dificuldades, com o Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura, envolvendo o corpo técnico, empenhado e comprometido da Secult-PE, que manteve um diálogo com os conselhos estaduais de Política Cultural, Preservação do Patrimônio Cultural e Consultivo do Audiovisual, além das setoriais artísticas”, pontua a secretária executiva de Cultura, Silvana Meireles.

A gestora destaca que o intercâmbio de ideias possibilitou aprimorar os editais, incluir especificidades de segmentos, na tentativa de alcançar o maior número de trabalhadores e trabalhadoras da cultura do estado. “O desafio não foi fácil, o tempo é muito curto, a legislação é pouco adequada ao universo da cultura, e os instrumentos existentes não atendem na totalidade às necessidades da lei, mas precisamos reconhecer as conquistas. Nesse trajeto, muitos foram e serão parceiros no processo, como o Sesc-PE, a UPE, a AMUPE, a ATI, outras secretarias estaduais de Pernambuco, e de outros estados. Agora, chegou o momento do setor inscrever as propostas e logo mais começar a executá-las”, destaca Meireles.

As informações, dúvidas e outros esclarecimentos sobre o conteúdo dos editais e o processo de cadastramento e inscrição no Mapa Cultural de Pernambuco serão prestados através do WhatsApp (81) 3184-3018. Confira abaixo a coletiva de imprensa do lançamento dos editais da Lei Aldir Blanc na íntegra:

CONHEÇA OS EDITAIS:

1. EDITAL CRIAÇÃO, FRUIÇÃO E DIFUSÃO – LAB PE
No valor total de R$ 6 milhões, este edital é aberto a propostas culturais de todas as linguagens e segmentos artísticos, sejam ações individuais ou em grupo, relacionadas com a criação, expressão, fruição ou divulgação/difusão de práticas artísticas. As inscrições estarão abertas no período de 21 de outubro a 6 de novembro de 2020, exclusivamente pelo Mapa Cultural de Pernambuco, na sessão “Oportunidades”. As propostas – que deverão ser criadas visando transmissão pela internet, redes sociais ou demais plataformas digitais – devem ser apresentadas para uma das faixas de valores que o edital estabeleceu. Podendo ser: projetos da Faixa 1 (R$ 10 mil), da Faixa 2 (R$ 20 mil) e da Faixa 3 (R$ 30 mil). Os selecionados só executam a proposta após o recebimento do prêmio. O prazo da execução é até 31 de março de 2021.

O princípio da regionalização será considerado na distribuição dos recursos deste edital. As regiões do Sertão; Agreste e Mata terão 20% dos recursos, cada. A Região Metropolitana ficará com 40%. As políticas sociais também conduzirão a aprovação para proponentes autodeclarados/as pretos, parda ou indígena (20%); Mulher cis ou mulher trans/travesti (20%), povos e comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, de terreiro e ciganos (15%), pessoa com deficiência (5%); pessoa idosa, com idade igual ou superior a 60 anos (5%); identidade não cisgênera ou ageneridade, tais como pessoas trans, travestis, não bináries, queer/questionando, intersexo, andrógine, fluido ou outra variabilidade (5%). Reservas tem fundamentos em discussões e legislações já aplicadas.

Outro recorte diz respeito aos percentuais que garantirão a diversidade de linguagens a serem contempladas pelo edital. Deste modo, os segmentos de Audiovisual, Circo e Cultura Popular ficarão com 5,1% dos recursos, cada. Estes segmentos serão alvo de editais emergenciais específicos. Enquanto que as linguagens de Artesanato, Artes Visuais, Dança, Design/Moda, Fotografia, Gastronomia, Literatura, Música, Ópera, Patrimônio e Teatro ficarão, cada uma, com 7,1% do valor dos editais. O edital prevê remanejamento de valores caso uma determinada região ou linguagem não alcance o teto que a ela está destinado.

2. EDITAL FORMAÇÃO E PESQUISA – LAB PE
No valor total de R$ 4,5 milhões, o edital contempla também todos os segmentos da cultura que apresentem propostas de ações formativas e de pesquisa nas áreas artísticas, culturais, técnicas e demais atividades de apoio das cadeias produtivas das artes e da cultura, que deverão ser publicadas/transmitidas pela internet ou disponibilizadas por meio de redes sociais ou demais plataformas digitais, em uma das faixas de valores descritas a seguir: projetos de R$ 7 mil (Faixa 1), de R$ 15 mil (Faixa 2) e 23 mil (Faixa 3).

As inscrições vão de 21 de outubro a 6 de novembro de 2020. Também haverá recorte de percentuais para garantir tanto a diversidade das expressões artísticas, quando a desconcentração pelo território de Pernambuco, nos mesmos moldes do edital geral de Criação, Fruição e Difusão.

3. PRÊMIO SUSTENTABILIDADE EMERGENCIAL DOS CIRCOS ITINERANTES – LAB PE
O edital tem como diretriz geral possibilitar a continuidade das atividades culturais incentivando a sustentabilidade dos Circos Itinerantes atuantes e com lonas instaladas no estado de Pernambuco por meio do reconhecimento de suas trajetórias, da valorização das suas práticas artísticas de criação e fruição assim como, da transmissão de saberes, fazeres e conhecimentos artísticos-culturais. Serão premiadas propostas de reconhecimento da trajetória profissional de Circos Itinerantes que tenham tido suas atividades impedidas de continuidade por conta da Pandemia Covid-19.

No valor total de R$ 375 mil, o edital concederá 25 prêmios de R$ 15 mil aos circos itinerantes selecionados. As inscrições acontecerão no período de 21 de outubro a 6 de novembro de 2020. No ato da inscrição o/a proponente poderá escolher a forma de preenchimento, se por escrito, gravação oral ou por meio de gravação em vídeo, respondendo às perguntas e campos do Formulário de Inscrição.

A comprovação da trajetória profissional do Circo Itinerante poderá ser realizada por meio de fotografias, certificados, matérias de jornais e de sites, impressos, revistas, cartazes, arquivos de vídeos ou links, livros (formato PDF), relatos escritos, folders, recortes de jornal, folhetos, material audiovisual (arquivos ou links da internet), links da internet (clipping), depoimentos orais, entre outros. Documentos como Autos de Vistoria do Corpo de Bombeiros – AVCB, Anotações de Responsabilidade Técnica – ARTs, alvarás ou declarações de Prefeituras ou de órgãos públicos, entidades, associações comunitárias ou culturais, entre outros materiais a serem anexados no formulário de inscrição.

4. EDITAL FESTIVAIS – LAB PE
Este edital – cujas inscrições também vão de 21 de outubro a 6 de novembro – é destinado à manutenção de festivais e mostras de arte e cultura pernambucanos, em seus diversos segmentos e expressões, transmitidas pela internet, ou disponibilizadas por meio de redes sociais, ou outras plataformas digitais. Serão aceitas propostas de categoria local, regional, nacional e/ou internacional, que atendam às seguintes exigências: serem festivais e/ou mostras realizados em Pernambuco; a última edição ter se dado no máximo há 24 meses anteriores à publicação da Lei Aldir Blanc; destinar, no mínimo, 80% do orçamento da proposta para contratação de profissionais e/ou serviços das cadeias produtivas de arte e cultura pernambucanas; ter na programação ações de difusão/exibição, formação e reflexão para profissionais e/ou público do segmento do Festival.

Serão destinados o valor total de R$ 2.5 milhões para o edital, distribuídos em quatro faixas de valor. Na primeira faixa, poderão ser premiados até 4 festivais, no valor de R$ 150 mil para cada (totalizando R$ 600 mil). Na segunda faixa, poderão ser aprovados até 6 festivais, no valor de R$ 100 mil cada (totalizando R$ 600 mil). Na terceira faixa, até 10 festivais poderão ser contemplados, cada um recebendo R$ 70 mil (totalizando R$ 700 mil). E na quarta e última faixa, até 15 festivais podem ser aprovados, recebendo R$ 40 mil cada (totalizando R$ 600 mil). Assim como nos demais editais, os recursos remanescentes nas faixas deste edital poderão ser transferidos para contemplar propostas classificadas nas outras faixas de premiação. Bem como, caso os recursos previstos não sejam utilizados em sua totalidade, a Secult-PE poderá remanejá-los para aplicação em outros editais da Lei Aldir Blanc em Pernambuco.

5. PRÊMIO DE SALVAGUARDA E REGISTRO AUDIOVISUAL DE SABERES TRADICIONAIS E DA CULTURA POPULAR – LAB PE – Eixo I e Eixo II
Este edital visa premiar a trajetória e atividades artísticas e culturais de mestres e mestras, coletivos, grupos e comunidades relacionados aos Saberes Tradicionais e da Cultura Popular, bem como o registro em audiovisual dos mestres e mestras contemplados/as, que deverá ser disponibilizado por meio de diferentes plataformas digitais. Inscrições vão de 21 de outubro a 6 de novembro.

Serão premiadas tanto as trajetórias e atividades artísticas e culturais de mestres e mestras, coletivos, grupos e comunidades pernambucanos ou domiciliados no território do Estado de Pernambuco; bem como propostas de registros audiovisuais sobre mestres e mestras, cujo proponente seja pernambucano ou domiciliado no território do Estado de Pernambuco.

No valor total de R$ 6.750 milhões, a premiação está dividida em dois eixos. O primeiro eixo é o de “Trajetórias e atividades artísticas e culturais de Mestres e Mestras, Coletivos, Grupos e Comunidade relacionados aos Saberes Tradicionais e da Cultura Popular”. O segundo, refere-se ao “Registro Audiovisual dos Mestres e Mestras relacionados aos Saberes Tradicionais e da Cultura Popular”.

A junção destes dois segmentos no mesmo edital – cultura popular e audiovisual – foi resultado de um debate com os setores e que identificou a necessidade de garantir o registro das trajetórias de mestres e mestras de nossa cultura, cujo conjunto de saberes e fazeres na maioria dos casos não está devidamente registrado em audiovisual, e cuja transmissão tradicionalmente se faz por meio da transmissão oral.

O primeiro eixo deste edital – focado na trajetória desses personagens – está dividido em duas faixas. Na primeira, serão distribuídos 150 prêmios de R$ 10 mil cada (totalizando R$ 1,5 milhão); na segunda faixa serão ofertados mais 150 prêmios, de R$ 15 mil cada (totalizando R$ 2,250 milhões). No eixo II, de Registro Audiovisual dos Mestres e Mestras, serão ofertados 150 prêmios, no valor de R$ 20 mil cada (totalizando R$ 3 milhões). Clique aqui e confira uma apresentação sobre os cincos primeiros editais da Lei Aldir Blanc.

6. PROPOSTAS ARTÍSTICAS E CULTURAIS DO ARQUIPÉLAGO DE FERNANDO DE NORONHA – LAB PE
Este edital é específico para premiação de propostas artísticas e culturais relacionadas com a criação, expressão, fruição ou divulgação/difusão de práticas artísticas e culturais a serem desenvolvidas pelos Espaços Culturais sediados no Arquipélago de Fernando de Noronha. Por não ser um município, e sim um distrito, Noronha não se insere entre os territórios que podem apresentar plano de trabalho ao Governo Federal para ser contemplado pelo Inciso II da Lei Aldir Blanc.

Os recursos deste inciso destinam-se aos municípios brasileiros, para que possam aplicar no apoio aos seus espaços culturais. Diante deste impedimento, a Secult-PE entendeu a necessidade de um edital específico para o arquipélago, para que seus espaços e coletivos culturais não sejam privados do recebimento dos recursos da LAB-PE. As propostas, com seus devidos orçamentos, deverão ser compatíveis com as atividades já realizadas pelos espaços culturais proponentes. No valor total de R$ 50 mil, o prêmio contemplará as atividades com valores de até R$ 5 mil. As inscrições também serão de 21 de outubro a 6 de novembro. Clique aqui e confira uma apresentação específica sobre o edital.

7. AQUISIÇÃO DE BENS E CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS CULTURAIS – LAB PE
O objetivo do edital é premiar propostas para o repasse de recursos com a finalidade da aquisição de bens e/ou a contratação de serviços vinculados ao setor cultural, produzidos no Estado de Pernambuco, a partir de inscrições apresentadas por entidades, equipamentos e espaços culturais sediados no estado. O valor previsto é de R$ 2.114.673,60 milhões. As inscrições seguem de 21 de outubro a 8 de novembro de 2020.

São diretrizes deste edital: viabilizar estrutura para grupos, coletivos, espaços e organizações culturais, todas formalizadas; possibilitar a qualificação ou a adaptação de projetos e ações interrompidas durante a pandemia da COVID -19; movimentar a economia por meio das aquisições de bens, equipamentos e materiais; estimular iniciativas culturais que possam adquirir e ofertar bens culturais para a população do Estado; e potencializar iniciativas culturais já desenvolvidas, contribuindo para a superação das desigualdades sociais e econômicas em nosso Estado. Clique aqui e confira uma apresentação específica sobre o edital.

Portal Cultura PE

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Suspensão de aulas por conta de casos da Covid-19 já era prevista pelo comitê do Estado





Em entrevista coletiva remota nesta quinta-feira (22), o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, informou que a suspensão de aulas por causa de estudantes infectados com o novo coronavírus já estava prevista no protocolo de retomada das aulas presenciais. 

Duas unidades de ensino particulares do Recife, o Colégio Damas e o Colégio Grande Passo, suspenderam aulas presenciais por confirmação de casos da Covid-19 entre os estudantes. "Por parte do comitê, nós avaliamos isso como uma situação previsível, prevista dentro dos nossos protocolos", informou Longo.

O retorno das aulas presenciais em Pernambuco se iniciou no dia 13 de outubro para as escolas particulares e, no dia 21, para escolas da rede estadual - dias depois das particulares devido à mobilização de trabalhadores da rede estadual de ensino contra a retomada. Nos dois colégios privados, já na segunda semana de retomada, foi necessária a suspensão presencial por conta de casos confirmados da Covid-19. 

Segundo Longo, o protocolo também prevê casos do novo coronavírus em trabalhadores das unidades de ensino. "Procuramos construir um protocolo que pudesse abranger todas as questões que poderiam estar envolvidas nesse processo de retomada, desde a estruturação das escolas até o processo de vigilância que passava por um monitoramento, pela avaliação das condições com que os alunos chegavavm as escolas até a possibilidade de eventuais necessidades de isolamento e de testagem", informou o secretário. 

De acordo com André Longo, o momento em que a retomada das atividades escolares presenciais foram liberadas foi o mais adequado. "Esse era um processo que estava previsto, a gente sempre tem dito que o vírus continua circulando e, não necessáriamente, esta contaminação se deu no ambiente escolar, ela pode ter se dado fora do ambiente escolar. O fato de as escolas estarem precocemente adotando medidas que estão previstas no protocolo reforçam que todas estão realmente antenadas com esse processo, procurando garantir segurança na retomada das atividades", salientou Longo. 

Na avaliação do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 os dados da doença no Estado ainda estão em queda quando comparados com dados colhidos no começo de março. "Estaremos sempre monitorando todas as ocorrências junto com as secretarias municipais de Saúde, acompanhando os números e buscando garantir toda a segurança para esse processo de retomada das atividades escolares", garantiu o secretário. 

Folha de Pernambuco



Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

As ‘grandes realizações’ do governo Bolsonaro




Ao colocá-los em sua linha de frente, o presidente mostrou os nossos generais em sua total falta de condição cognitiva

A despeito das inúmeras críticas que se pode fazer ao governo Bolsonaro, há realizações incontestes, diria mesmo, fantásticas. Realizações que nem mesmo grandes estadistas do passado conseguiram, tal o teor de sua grandiosidade. Bolsonaro é tão criticado que suas realizações passam ao largo do reconhecimento. Isso precisa ser resgatado, afinal, devemos a ele coisas que muitos jamais poderiam conceber. Vamos citar apenas duas, mas significativas da grandiosidade de sua obra.

 

 

 

A primeira grande realização de seu governo foi trazer para a linha de frente de seus ministérios a mais alta patente militar do nosso Exército: generais estrelados e que se mostram desnudados em sua essência. Generais sempre foram figura míticas no imaginário de muitas pessoas, e assim, eram considerados reserva moral, e até mesmo possuidores de condição intelectual admirável. Ao colocá-los em sua linha de frente, Bolsonaro mostrou os nossos generais em sua total falta de condição cognitiva.

Ainda nos foi mostrada a falta de cultura geral, pois vários simplesmente falam da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica como se fossem a mesma coisa. É sofrível vê-los no massacre da ortografia quando não conseguem combinar o tempo do verbo com o sujeito. E o negacionismo da Ciência é facilmente compreensível diante de sua cultura precária, em que apenas a subordinação à patente superior é algo valorizado e apreendido desde o início de suas carreiras.

A precariedade intelectual e cultural desses generais, frise-se que alguns deles ainda na ativa, traz um questionamento ainda mais sério: o verdadeiro papel das Forças Armadas em um país com tantas precariedades em seus serviços mais básicos e essenciais. Certamente a defesa não é, pois se houver ataque de uma grande potência, como a Argentina sofreu diante da Inglaterra nos anos 80 do século passado, igualmente será guerra de apenas alguns dias. Aliás, não temos força para enfrentamento sequer dos países da América Latina com suas exceções de praxe.

 

A precariedade intelectual e cultural desses generais, frise-se que alguns deles ainda na ativa, traz um questionamento ainda mais sério: o verdadeiro papel das Forças Armadas em um país com tantas precariedades em seus serviços mais básicos e essenciais

 

Talvez fosse o momento de discutir se em vez de construirmos um contingente tão fortemente armado do nada, para nada e por nada, não seria melhor a estruturação de policias de fronteira mais bem preparadas, além de policias mais eficazes para as regiões urbanas. O generalato jamais irá considerar a possibilidade dessa discussão, mas ao menos com a exposição promovida pelo presidente Bolsonaro sua verdadeira condição intelectual e cultural está exposta de modo irreversível. E se ainda houver incautos a manter no imaginário a mitificação desses militares, aí estaremos diante de uma psicopatia mais severa.

Outra grande obra admirável do presidente Bolsonaro foi a desmitificação do judiciário. Como em relação aos militares, havia muitas pessoas que tinham em seus imaginários que os juízes, tanto das primeiras instâncias como das superiores, eram pessoas probas e acima das intempéries políticas e sociais. Sua conduta, sempre no imaginário desses incautos, era pautada apenas e tão somente na fria letra das leis – e tudo que fosse pontuado por esses magistrados era algo ilibado sem qualquer margem de contestação.

Bolsonaro igualmente desnudou as mazelas do judiciário, primeiro trazendo para o seu ministério Sérgio Moro, um dos juízes que se consagrou como justiceiro e que pautou sua conduta muitas vezes à revelia da lei e agindo de acordo com o calendário político eleitoral. E para que não se cometa injustiça com o ex-juiz, ressalte-se que ele deu uma grande contribuição à essa desmoralização do judiciário ao aceitar ser ministro do governo que ajudou a eleger com suas manobras e atos crivados de ilegalidade, como o vazamento de uma conversa da ex-presidente Dilma Rousseff.

 

A total falta de decoro para o cargo por parte do presidente Bolsonaro é algo que para muitos é apenas algo bizarro e até mesmo risível. No entanto, as consequências de seus atos ainda são imprevisíveis

 

Mas Bolsonaro foi além disso, e a todo momento acena que as nomeações na área judicial que são prerrogativas suas, desde ministros da mais alta corte do País, e mesmo presidentes de tribunais e outras entidades, serão feitas de acordo com suas conveniências, principalmente para proteger sua própria família das muitas acusações de desmandos cometidos e alvos das mais diferentes investidas judiciais. Aliás, já havia se utilizado desses critérios para a escolha do procurador-geral da República. A total falta de decoro para o cargo por parte do presidente Bolsonaro é algo que para muitos é apenas algo bizarro e até mesmo risível. No entanto, as consequências de seus atos ainda são imprevisíveis. O judiciário está sendo mostrado como uma teia de interesses políticos em que as sentenças e pareceres obedecem a critérios nem sempre pautados nos fundamentos da legalidade.

E, igualmente, se ainda houver incautos a manter em seu imaginário a mitificação dos membros do judiciário, ah, estamos novamente diante de caso de psicopatia.

Ah, mas Bolsonaro tem obra relevante também na seara ambiental, e caminha célere para superar a destruição ambiental promovida pela presidente Dilma Rousseff com a construção da Usina de Belo Monte na bacia do Rio Xingu. Mas ele terá tempo para essa superação, é só aguardar…

https://www.cartacapital.com.br/


Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 18 de outubro de 2020

Por que os evangélicos fundamentalistas usam Jesus para justificar a brutalidade militar




VEZ POR OUTRA, meu velho chamava o moleque aqui para ir ao trabalho dele. Era representante de autopeças, negócio chato, mas que permitia andar de carro pela Grande São Paulo inteira. Em um dia como qualquer outro, na oficina de um cliente seu, fomos apresentados a uma figura excêntrica e exuberante. Era um homem baixinho, robusto, careca – na época, idos de 1988, me fazia pensar no Mestre dos Magos, da Caverna do Dragão. Mestre e mago, de certa forma, ele era.

Usando dos equipamentos da oficina, ele recarregava munição, preenchia cartuchos com pólvora, fixando as balas em cima. Erguendo uma de suas criações, me disse: “Isto é uma bala dum-dum. Ela é oca. Quando acerta, se divide em pedacinhos”, fazendo um gesto de guarda-chuva com mão. “Ninguém sobrevive. Já uma bala de fuzil bate e faz uma curva”, mostrou, inclinando o dedo para cima. “Se acertar na perna, tem que amputar”.


O homem fabricava munição, dessa forma precária, para seu negócio: um estande de tiro, que ficava atrás de sua casa. Mas o estande não era seu único negócio, nem o principal. Ele era um pastor pentecostal. Dizia ter sido capelão do Exército, vindo da Assembleia de Deus, mas agora estava lançando sua carreira solo, criando sua própria denominação, que ficava literalmente na garagem de casa.

Ele convidou meu pai a dar uns tiros e dar uma passada num culto. Fez os dois.

Sua igreja se chamava Exército Celestial. Usava uma batina, diferente de qualquer pastor que vi antes ou depois, mas adiantando a tendência da Igreja Universal em copiar símbolos católicos. Certamente ajudou a cravar a figura dele em minha memória como o Mestre dos Magos. E seria nessa igreja que me tornaria menino-pastor.

Costumava achar essa história apenas engraçada. O pastor Mestre dos Magos era um personagem de comédia policial, um maluco “durão” com fantasias violentas que não chegava a realizá-las – ou não na tela –, como o Tuckleberry de Loucademia de Polícia ou, hoje, Rosa e Pimento, de Brooklyn 99. Cheguei a ver ele atirando, quando um culto foi interrompido por assaltantes (vi, não; ouvi, porque me esconderam atrás dos bancos). Não acertou uma, os assaltantes correram, ninguém saiu ferido.

Pessoas distantes do pensamento fundamentalista costumam estranhar essa forma tão aparentemente violenta de cristianismo. Como pode o mesmo Jesus, que inaugurou a era do Deus do amor e do perdão, superando o Deus implacável do Velho Testamento, servir para justificar militarismo, armamentismo, brutalidade militar e policial, milícia?

Mas o “general Jesus” não é nem de longe uma excrescência ou invenção recente. É uma interpretação da Bíblia com raízes históricas profundas, que não está limitada a fundamentalistas evangélicos. Seu nome é milenarismo.

Comecemos pelo começo. Ou, melhor, o fim. O último livro da Bíblia. O Apocalipse. Uma igreja é milenarista quando acredita que a profecia do reino de mil anos do messias no Apocalipse é literal. Isto é, que vai haver, fisicamente, a batalha do Armagedom, na qual Jesus e seus exércitos vencerão as forças militares do Anticristo. Não em uma batalha etérea e incorpórea, mas física, entre pessoas, com tanques, drones, caças. Após o Armagedom, Jesus reinará por mil anos como líder planetário. Após esse período, o Milênio, chega o Juízo Final. Essa não é a visão do catolicismo nem das denominações protestantes históricas europeias, que ensinam que o milênio é alegórico – são amilenaristas.

“A dimensão de um apocalipse está em movimentos messiânicos e milenaristas [como os fundamentalistas evangélicos]”, afirma Jacqueline Moraes Teixeira, doutora em antropologia social e professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, a USP, ela própria ex-evangélica. “O Messias que aparece nessas histórias não é o Messias conciliador dos Evangelhos, mas é o Messias que volta para constituir seu Exército para vencer a batalha que marca o fim dos tempos e a instauração de um novo mundo”, explica.

Veja então que o milenarista tem dois “Jesuses”: o do passado, o “hippie” da Judeia que todo mundo reconhece, e o do futuro, que está mais para Rambo. A belicosidade é resultado do foco que dão ao Jesus do futuro.

Para quem acredita que Jesus voltará para matar pessoas, passagens bíblicas brutais, que outros cristãos consideram ultrapassadas, ganham nova relevância e se tornam parte central da mensagem. Um hino bastante tradicional diz o seguinte:

Vem com Josué lutar em Jericó
Jericó, Jericó
Vem com Josué lutar em Jericó
E as muralhas ruirão

Suba os montes devagar
Que o senhor vai guerrear
Cerquem os muros para mim
Pois, Jericó chegou ao fim

O tema no caso é a (não comprovada historicamente) conquista de Canaã pelos hebreus. No Velho Testamento, Josué é o sucessor de Moisés como líder do povo escolhido. Mas diferentemente de Moisés, é um líder militar. Um general. O Livro de Josué narra a conquista de Canaã, território atual de Israel e Cisjordânia, mais partes da Jordânia, Síria e Líbano.

O Livro de Josué é basicamente a narrativa de um genocídio. Um por um, os povos cananeus são escravizados ou exterminados até a última criança. Às vezes, o próprio Deus dá uma mão, fazendo cair os muros da citada Jericó, fazendo chover pedras do Céu, fazendo o Sol e a Lua pararem no céu. Mas a maior parte do trabalho é mesmo pelas espadas e tochas dos hebreus.

“Velho Testamento”, dirão cristãos moderados. A era de um Deus furioso, antes de mandar a si próprio para ser sacrificado para perdoar nossos pecados. Os fundamentalistas acreditam na mesma coisa, que a vinda de Jesus tornou obsoleto o Velho Testamento. A diferença é que, para eles, o futuro será como o passado.

O antropólogo (e ex-pastor, hoje ateu) Vinícius Esperança, professor da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, lembra que o militarismo não está só na letra, mas no estilo. “É importante nessas igrejas a ideia de marchar com Cristo.”

É uma das muitas heranças de um movimento nascido nos Estados Unidos. Sua tradição musical é importada. Seu ritmo é o de marcha militar, um estilo pensado para unir a tropa. Marcha, não marchinha: assim como os fundamentalistas rejeitam Carnaval como um festim diabólico, e música brasileira tradicional por ser africanizada, ligada às religiões afro-brasileiras, vistas como coisa do Diabo.

O evangelismo fundamentalista é um movimento que nasce militarizado por conta do contexto em que nasceu: os EUA pós-Guerra Civil (1861-1865) e da expansão para o Oeste (1832-1912). Como afirma Jacqueline Teixeira: “Essa retórica teológica [fundamentalista] está relacionada à Guerra de Secessão. O imaginário que essa guerra vai produzir é recuperado pelo movimento missionário pentecostal”.

‘Isso estabelece o imaginário de um cristianismo que se pensa por violência e disputa territorial e política’.

Há uma imensidão de fatores em como uma guerra civil massiva mexe com o imaginário de uma nação. Entre tantas coisas, a guerra enaltece a figura do militar, criando seus heróis e uma multidão de veteranos. E gera memórias violentas. É um caldo cultural onde o pensamento apocalíptico milenarista floresce.

E a outra parte desse caldo é o Velho Oeste. Uma situação na qual colonos civis cristãos enfrentavam, com violência, os indígenas pagãos e contavam com apoio dos militares. Os cristãos americanos tomando território indígena – numa missão sagrada de cumprir o Destino Manifesto do país – facilmente se reconheciam na figura de Josué conquistando Canaã, eliminando inimigos por ordem divina. “Isso estabelece o imaginário de um cristianismo que se pensa por violência e disputa territorial e política”, afirma a antropóloga.

E ela nota uma ponte importante: o catolicismo brasileiro tem uma história parecida. É também um cristianismo colonizador. Antes mesmo da colonização, os portugueses haviam se firmado tomando territórios islâmicos, na Reconquista Ibérica (711-1492). As Forças Armadas brasileiras se fundam nesse catolicismo colonial, reimaginando os símbolos de um Império oficialmente católico numa República supostamente secular, criada num golpe militar em 1889. “Dom Pedro I, em quadros republicanos, aparece não paramentado como um rei, mas como um militar”, lembra a Jacqueline Teixeira.

Assim já há um campo preparado para a aceitação de um protestantismo militarizado num país com um pensamento militar católico. E pouca coisa pode ser mais impactante em explicar essa aliança entre crentes fundamentalistas e militares – em sua maioria católicos, principalmente no comando – do que as histórias coletadas pelo antropólogo Vinícius Esperança em seu trabalho no Rio de Janeiro, que ele considera o tubo de ensaio do fundamentalismo evangélico que passou ao resto do país.

Esperança estudou as comunidades evangélicas nas favelas e em outras partes da cidade. “O Rio foi um experimento para o Brasil”, afirma. “Por dez anos, foi capital internacional em megaeventos [como megacultos]. O aumento das operações de GLO [Garantia da Lei e da Ordem], infelizmente nos governos de Lula e Dilma, as UPPs [Unidade de Polícia Pacificadora], a Ocupação da Favela da Maré, isso tudo aconteceu com um apoio muito próximo das redes evangélicas, especialmente pentecostais locais.”

Segundo o pesquisador, essas operações simplesmente excluíram todas as ONGs e todas as lideranças de igrejas afro-brasileiras: “Diziam: isso não pode, tem que ser cristão. Precisava de uma identificação ideológica, e eles detestavam as ONGs, que eram todas esquerdistas. Porque pastores e generais têm um projeto de cidadania em comum”.

No meio policial e militar, as metáforas bélicas dos fundamentalistas assumem uma forma bem literal. “Não passa pela cabeça do policial crente essa questão de laicidade; isso é coisa de intelectual”, diz Esperança. “Eles entendem ‘a gente está aqui porque Deus abriu essa porta para a gente’. Teve uma reunião entre pastores e militares que terminou com brados de ‘O Complexo [da Maré] para Jesus!’”. Um exemplo transparente do domínio territorial do cristianismo colonialista aludido por Jacqueline Teixeira.

‘Deus colocou essa missão de limpeza da sociedade. Quando ele mata o bandido, está matando satanás’.

E não, não são policiais que chegam perguntando se você já ouviu falar de Nosso Senhor Jesus Cristo, como testemunhas de Jeová no domingo de manhã. “Tem um grupo aqui no Rio chamado Tropa de Louvor”, lembra. “São policiais do Bope que fazem shows em igrejas, em espaços públicos. Eles vão de preto, todos de preto, e cantam músicas de batalha. Eles se veem como agentes divinos mesmo. Então, quando chega na favela atirando, matando, isso é plenamente justificado. É uma guerra santa mesmo. Deus colocou essa missão de limpeza da sociedade para ele. Quando ele mata o bandido, está matando satanás.”

“O cara mata e dorme com a consciência tranquila, vai pra igreja, não tem nenhuma análise”, afirma o antropólogo. E, para não dizer que não falamos em flores, nota: “Tem igreja no Rio, na Barra da Tijuca, um bairro novo, rico, que é igreja dos milicianos, notória por ter milicianos. Inclusive frequentada por sobrenomes Bolsonaro”.

Não é preciso muito esforço para ver como a simpatia pelo militarismo se estende à ditadura militar e justifica suas atrocidades. “O ideário militar defende que é preciso passar por um processo de crise para se obter a vitória”, afirma a antropóloga Jacqueline Teixeira. Guerra leva à paz. Guerra leva à liberdade. Guerra é um mal necessário para combater um mal maior. Foi assim na ditadura militar, o período “de crise” para “salvar a democracia”, como se prega nos quartéis. “É um imaginário que se estabelece sem fazer oposição entre militarismo e regime democrático. Então, as pessoas não sentem que estão com seus direitos civis em risco quando veem, por exemplo, uma gestão com 12 ministros militares entre 22.”

Como os militares, os fundamentalistas enxergam no projeto bolsonarista a mais pura democracia, bem melhor que a democracia corrupta da “esquerda” católica ou ateia. E essa é uma missão sagrada. A brutalidade policial ou militar se torna uma cruzada. E que Deus separe os mortos maus dos bons.

Essa quase literal bomba deixo no seu colo, cristão progressista: não será o ateu iconoclasta aqui a convencer fundamentalistas que não existe essa guerra. É preciso outro cristão para isso.

Você está pronto para essa batalha?

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Professor Edgar Bom Jardim - PE

Conheça os alimentos considerados patrimônio histórico





A forma de preparar determinada receita pode até ser diferente de um lugar para o outro. Mas os saberes e rituais praticados em volta dela, desde os primórdios, nunca mudam. Nesse ponto está o chamado ‘trabalho de salvaguarda’, organizado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), na garantia da preservação de processos culinários. Estes são únicos e enraizados no seu local de origem. Não cedem a pressões da modernidade ou a leis de comércio, mas fazem o mercado lembrar que o sabor especial de uma comida tem um sentido.

Razão para o chamado Livro de Registro dos Saberes relacionar bens imateriais que repassam conhecimentos e modos de fazer inseridos no cotidiano das comunidades. Essas informações são conhecimentos tradicionais associados a atividades desenvolvidas por entendedores das técnicas ou o uso de matérias-primas que identifiquem um grupo social ou uma localidade. Não à toa, por mais que o bolo de rolo seja uma receita possível de ser executada em outras regiões do País, é em Pernambuco que ele tem sua identidade preservada. 

Em Minas, o queijo
A maior prova de que processo é algo importante está numa típica iguaria mineira. O pão de queijo em si não é Patrimônio Imaterial pelo Iphan. E sim os seus padrões de preparo artesanal. Leia-se o uso do queijo minas curado ralado, com a possibilidade de vir da região da Serra da Canastra, que é registrado como Patrimônio Cultural e Imaterial Brasileiro. “Mas quando se fala de pão de queijo, sua grande importância é ele ser referência imediata de um lugar e trazer nele uma memória afetiva, assim como a tapioca remete ao litoral do Nordeste e o tacacá à região amazônica”, comenta o antropólogo e pesquisador Raul Lody, ao reforçar a ideia da denominação de origem, que agrega valor a uma determinada região.

Ainda em Minas Gerais, o modo de fazer queijo artesanal da região do Serro foi o primeiro bem registrado naquele Estado, ainda em agosto de 2002. O jeito de preparar, que inclui o cuidado com a vaca e a forma de extração do leite, chegou à região pelas trilhas do ouro, na bagagem dos colonizadores portugueses, e se constituiu desde então, sem perder o caráter simbólico para as terras de lá. 


Em PE, o bolo de rolo
Na sua coluna Folha Gastronômica, a pesquisadora Lecticia Cavalcanti garantiu que “o bolo de rolo é uma das mais generosas tradições de Pernambuco. E merece reverência. Por isso é preciso cuidado com afirmações apressadas sugerindo que sua receita deriva do rocambole”. Dessa noção vem a garantia de que a receita deve seguir critérios, como os que estão registrados desde 2007, através da Lei Ordinária nº. 379. O preparo é um só. Tem massa fininha feita com farinha de trigo, ovos, manteiga e açúcar. Ela é enrolada com uma camada de goiabada derretida. Ainda no País Pernambuco, outro bolo tem seu lugar ao sol no livro de Registro dos Saberes, desde 2007. O Souza Leão leva massa de mandioca, leite de coco e, pelo menos, dez gemas.


Na Bahia, o acarajé
Aqui, o reconhecimento está ligado ao ritual culinário das baianas do acarajé. Este foi, ao lado do ofício das “paneleiras” de Goiabeiras e do samba-de-roda do Recôncavo Baiano, um dos primeiros bens culturais de natureza imaterial tombados no país pelo Iphan. As origens do prato, as tradições que seu fazer guardam, a oralidade ancestral na transmissão da receita, o ritual para servir e até de degustar, fazem parte da forma de apreciar o acarajé. 


No Piauí, a cajuína
A origem no preparo da cajuína está nas comunidades indígenas. O caju, como fruta brasileira, pode ser encontrado em vários territórios no País. Mas o saber considerado patrimônio está circunscrito ao estado do Piauí, ligado à identidade das famílias piauienses, desde 2014. Isso leva em conta a produção do caju, a sua forma de colheita e, finalmente, a produção da bebida feita com o suco da fruta separado do seu tanino , coado várias vezes e então cozido em banho-maria em garrafas de vidro.


No Sul,  D.O. e I.P. 
Um produto com Denominação de Origem (D.O.) não é o mesmo que aquele tombado pelo Iphan. No primeiro caso, é como ter a certeza de que um presunto italiano veio mesmo de Parma ou o Champanhe da mesma região que o denomina na França. “Os produtores se organizam em associações que fazem esse pedido e passam a ser também o órgão gestor da Indicação Geográfica. A partir de então, eles seguem um regulamento de uso que estabelece os requisitos para esse produtor ganhar o selo e atestar a qualidade dos seus produtos”, explica o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Jorge Tonietto, ao falar da classificação para Indicação de Procedência (I.P.) e Denominação de Origem (D.O.). Independentes, a primeira reúne exigências mais flexíveis. Já ao segundo, a área geográfica precisa ser mais bem delimitada e envolver tradições e estruturações ainda mais técnicas.

O Brasil tem, por enquanto,  seis regiões vinícolas com Indicação Geográfica. Cinco delas com I.P. Sendo uma em Santa Catarina: Vales da Uva Goethe; e as outras quatro no Rio Grande do Sul: Altos Montes, Monte Belo, Pinto Bandeira e Farroupilha. Ainda na Serra Gaúcha, o Vale dos Vinhedos trabalha a D.O. 

Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE