domingo, 12 de julho de 2020

Por que Bolsonaro está sendo acusado de colocar indígenas em risco em meio à pandemia de covid-19

Índia YanomamiDireito de imagemFIONA WATSON/SURVIVAL
Image captionMinistério da Saúde contabiliza até o momento 9.632 casos confirmados de covid-19 entre os indígenas e 198 óbitos, mas números estariam subdimensionados

Enquanto a pandemia do coronavírus avança pelo interior do país, lideranças indígenas acusam o presidente Jair Bolsonaro de não ter tomado as medidas emergenciais necessárias para proteger seus povos da covid-19.

Além disso, dizem que essas comunidades estão ainda mais vulneráveis à pandemia por causa de ações do seu governo anteriores à chegada da doença, como a redução do programa Mais Médicos, o fim das demarcações de terras indígenas e o apoio de Bolsonaro a atividades ilegais praticadas em seus territórios por invasores, como garimpo e extração de madeira.

O Ministério da Saúde contabiliza até o momento 9.632 casos confirmados de covid-19 entre os indígenas e 198 óbitos. Já a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) considera que esses números estão subdimensionados e calcula que já haja 461 mortos e mais de 13 mil infectados nas comunidades.

O monitoramento feito pelos povos contabiliza também indígenas atingidos pela covid-19 que moram fora das aldeias. Há também a possibilidade de dupla contagem em alguns casos, já que a Apib soma os casos confirmados diretamente pelas comunidades aos dados do Ministério da Saúde, que não divulga informações detalhadas sobre as vítimas, como nome ou comunidade a qual pertencia.

Segundo o governo, há 750 mil indígenas, de 305 etnias, vivendo em mais de 5,8 mil aldeias no Brasil hoje. A preocupação entre lideranças dos povos e organizações que apoiam sua causa é ainda maior no caso de comunidades isoladas ou de recente contato com a sociedade: eles afirmam que uma eventual entrada do coronavírus nesses grupos pode dizimar essas populações, que tem um nível de defesa imunológica mais baixo.

Nas últimas semanas, lideranças indígenas conseguiram vitórias no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Congresso Nacional para obrigar o governo a adotar ações emergenciais.

Bolsonaro, porém, vetou na quarta-feira (08/07) trechos de uma nova lei que prevê medidas de proteção às comunidades indígenas, como a obrigação de garantir acesso à água potável e a itens de higiene, e a oferta emergencial de leitos hospitalares e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

O presidente também vetou a elaboração de planos de contingências voltados especificamente para os povos isolados ou de recente contato com a sociedade.

"O plano do governo é não ter plano algum", crítica Juliana Batista, advogada do Instituto Socioambiental (ISA).

Para exemplificar a importância do planejamento para reagir à pandemia, ela cita a Terra Indígena (TI) Yanomami, a maior do país, uma área que se estende por Roraima e Amazonas, onde vivem 26.780 indígenas.

Xamãs do povo yanomami
Image captionAvanço do coronavírus pelo interior assusta povos indígenas, que acusam governo de não agir para evitar tragédias em aldeias

Além das aldeias, há sete povos isolados dentro desse território, onde a atuação de garimpeiros tem sido crescente. Hoje estima-se que 20 mil invasores trabalhem na exploração ilegal de ouro.

"Tem comunidade dentro da TI Yanomani que é preciso andar cinco dias para chegar à aldeia mais perto, onde tem pista de pouso para tirar de avião um infectado dentro da área. São situações extremas, que se não prevenir, não terá como remediar depois", alerta Batista.

O Conselho Distrital de Saúde Indígena, órgão do Ministério da Saúde, identificou até quinta-feira (9) 80 casos de covid-19 dentro da TI Yanomani.

Apenas nas comunidades de Waikás, há 37 doentes, o que representa cerca de um quinto dos 179 indígenas que vivem nessa região da terra indígena.

Segundo o ISA, é uma das áreas mais afetadas pela atividade do garimpo e o contágio começou com um indígena que viajou em um dos barcos dos garimpeiros.

Na quinta-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão contestou que sejam garimpeiros que estejam levando o coronavírus para dentro de comunidades: "A questão da chegada da pandemia nas terras indígenas... Não é por que têm elementos estranhos lá dentro que a pandemia chegou. As senhoras e os senhores têm que entender, na realidade amazônica, que o indígena sai de dentro da sua terra para ir até a cidade, seja para receber algum benefício, da nossa lei orgânica de assistência social, seja porque ele tem que comprar alguma coisa", disse, ao ser questionado por jornalistas.

Juliana Batista, do ISA, reconhece que esse também é um problema, mas culpa novamente a falta de planejamento do governo para evitar esse tipo de contágio.

Vacinação de indígenasDireito de imagemMINISTÉRIO DA SAÚDE
Image captionFila para vacinação de crianças indígenas no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Tocantins

Ela diz que uma terceira forma de contaminação também tem ocorrido por meio de agentes da saúde que não sabem que estão com covid-19 e vão às comunidades sem serem testados antes.

"Temos casos de indígenas que desceram (das aldeias para cidades) em massa para buscar auxílio emergencial. Isso também é falta de informação por parte do governo. São todas medidas que exigem planejamento, articulação governamental", diz Batista.

"O governo tomou algumas atitudes. Houve lugares com distribuição de cestas básicas para as comunidades não se deslocarem para as cidades. Mas não se vê uma medida estruturada. Como vai ser isso a curto, médio e longo prazo?", questiona.

Mortes crescentes entre Xavantes

A situação é tensa também entre os Xavantes, etnia de 23 mil pessoas que vive em uma área fragmentada em nove terras indígenas no Mato Grosso. Já são mais de 200 casos de infecção confirmados e 23 óbitos em decorrência da Covid-19, segundo dados do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei).

Já a Ana Paula Sabino, que atua há 20 anos com os Xavantes e coordena da campanha SOS Xavante A' uwe Tsari, diz que o coronavírus já matou 38 indígenas.

Ela conta que faltam insumos para tratar os doentes e que, por meio de doações, conseguiu mobilizar a compra de medicamentos com auxílio da ONG Expedicionários da Saúde. Além dessa carência, ela reclama que os indígenas não estão sendo orientados sobre o enterro das pessoas falecidas por covid-19, o que fez dessas cerimônias focos de novas contaminações.

"Numa pandemia dessas, você não pode mandar um caixão para a comunidade e achar tudo bem eles abrirem, é um absurdo. É verdade que os índios preferem levar os corpos para as aldeias, querem enterrar nos cemitérios deles, mas cade os protocolos, a orientação sobre como isso deve ser feito de forma segura?", cobra.

Segundo Sabino, entre os mortos havia indígenas que receberam hidroxicloroquina, substância defendida pelo presidente Bolsonaro como forma de tratar a covid-19, mas que não tem sua eficácia para esse fim comprovada cientificamente.

O uso do medicamento no caso de contágio por coronavírus é criticado por muitos médicos devido à possibilidade de causar efeitos colaterais graves que podem até provocar a morte.

"É um governo que está promovendo genocídio nas comunidades indiretamente, com tratamento ruim", critica ela.

Um documento obtido pelo jornal O Globo nesta semana confirmou que a substância tem sido usada em comunidades indígenas. Segundo o jornal, a ata de uma reunião promovida pelo Ministério Público Federal (MPF) em Roraima no dia 2 de julho mostra que o coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Leste, Tércio Pimentel, admitiu que a cloroquina enviada pelo governo faz parte de um kit dado pelo Ministério da Saúde para o tratamento da Covid-19.

Recursos para saúde indígena em queda

Médica cubana deixando o BrasilDireito de imagemORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE
Image captionCubana deixa Brasil com fim da parceria no Mais Médicos; Havana criticou Bolsonaro por questionar 'a dignidade, o profissionalismo e o altruísmo' dos profissionais

O Ministério da Saúde anunciou em junho que "investiu cerca de R$ 70 milhões em ações específicas de proteção aos indígenas para enfrentamento da covid-19". Os recursos foram usados para a compra de mais de 600 mil Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), insumos em saúde e medicamentos, que foram enviados aos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs).

Segundo a pasta, isso inclui "372,7 mil máscaras cirúrgicas e N95, 166,7 mil luvas, 13,4 mil aventais, 16,6 mil toucas, 6 mil frascos de álcool em gel e também mais de 29 mil testes rápidos que garantem a testagem de todos os profissionais que vão entrar nas terras indígenas para atender a população".

No entanto, levantamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) feito a pedido da BBC News Brasil indica que, mesmo com a crise do coronavírus, o total gasto pelo governo na saúde indígena no primeiro semestre deste ano ficou abaixo da despesa registrada na primeira metade de 2019.

Os dados foram extraídos do Siga Brasil, portal do Senado Federal que permite monitorar os gastos do governo, corrigidos pela inflação. Segundo essa fonte, foram efetivamente gastos com promoção e proteção da Saúde Indígena R$ 698,03 milhões de janeiro a julho do ano passado. Já no primeiro semestre desse ano, foram R$ 660,69 milhões (5,3% a menos).

Olhando o resultado por mês, os dados mostram que em abril e maio, meses em que a pandemia já estava com força no Brasil, essas despesas ficaram bem abaixo da registrada no mesmo período de 2019. Apenas em junho, houve uma alta relevante.

"Demorou muito tempo para o governo reagir e destinar recursos para a saúde indígena enfrentar a pandemia", crítica Leila Saraiva, assessora política do Inesc.

Ela ressalta que os recursos para área já vinham em queda no ano passado. O total efetivamente gasto com saúde indígena em 2019 foi de R$ 1,48 bilhão, 16% a menos da despesa de 2018.

Para Leila Saraiva, o argumento de que faltam recursos usado pelo presidente ao vetar nesta semana trechos da lei que previa medidas emergenciais de proteção aos indígenas é "falacioso".

Ela lembra que o Congresso aprovou um regime fiscal especial para enfrentamento da pandemia que permite aumentar o endividamento e romper o teto de gastos desse ano.

Além da redução dos gastos em saúde indígena, outro fator que, na sua opinião, deixou o atendimento aos povos mais precário nesse momento de pandemia foi a saída dos profissionais cubanos do programa Mais Médicos.

Logo após a eleição de Bolsonaro no final de 2018, o governo cubano decidiu deixar o programa brasileiro, se antecipando a uma decisão do futuro presidente. Isso porque Bolsonaro sempre atacou a parceria com o governo de Cuba no Mais Médicos.

Como é difícil atrair médicos brasileiros para atuar em territórios mais isolados, cerca de 90% dos profissionais do programa que atendiam em terras indígenas eram cubanos. Uma reportagem da BBC News Brasil mostrou que, após a saída de médicos cubanos, mortes de bebês indígenas cresceram 12%.

STF estabelece prazo para governo agir

Os vetos de Bolsonaro à lei que prevê as medidas emergenciais para os povos indígenas ainda podem ser derrubados pelo Congresso.

O governo, no entanto, já está obrigado a adotar uma série de providências por uma decisão do STF que saiu na quarta-feira (08/07), logo após o presidente vetar parcialmente a nova legislação.

A partir de uma ação apresentada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) com apoio de partidos de oposição, o ministro do STF Luís Roberto Barroso determinou que o governo crie uma Sala de Situação para a gestão de ações de combate à pandemia no caso de povos indígenas em isolamento ou contato recente, no prazo de 72 horas. Deverão participar representantes de comunidades indígenas, da Procuradoria Geral da República (PGR) e da Defensoria Pública da União (DPU).

Barroso também deu dez dias para o governo apresentar um plano de criação de barreiras sanitárias em terras indígenas, após ouvir a Sala de Situação.

Na decisão, o ministro reconheceu que o governo federal vem tomando iniciativas para mitigar a pandemia entre os povos indígenas.

Jair Bolsonaro, presidente do BrasilDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionBolsonaro vetou trechos de uma nova lei que prevê medidas de proteção às comunidades indígenas

"Entretanto, tais ações precisam ser coordenadas e precisam ser complementadas por medidas que não estão em curso. A criação sistemática de barreiras de proteção aos povos em isolamento e de contato recente não está em curso", ressaltou na decisão.

"A assistência à saúde dos inúmeros povos indígenas localizados nas muitas terras indígenas ainda pendente de homologação não está em curso, o que os coloca sob risco de perecimento", destacou ainda, ao acolher o pedido da Apib para reverter a decisão do governo de não garantir a todos os povos indígenas atendimento de saúde especializado.

Barroso determinou também que o governo crie em até 30 dias um Plano de Enfrentamento da Covid-19 para os Povos Indígenas Brasileiros, com a participação das comunidades e do Conselho Nacional de Direitos Humanos. Esse plano deverá conter medidas de contenção e isolamento de invasores em relação a terras indígenas.

Embora o Ministério da Saúde tenha elaborado em março o "Plano de Contingência Nacional para Infecção Humana pelo Novo Coronavírus em Povos Indígenas", o ministro destacou o argumento da Apib de que esse planejamento "expressa meras orientações gerais e não prevê medidas concretas, cronograma ou definição de responsabilidades". Além disso, ele frisou a importância de que as comunidades sejam ouvidas na elaboração dessas medidas.

"Esses pontos (medidas não tomadas pelo governo) só estão sendo percebidos porque os indígenas puderam se manifestar. Está claro, portanto, que tais povos, desde seu ponto de vista, são capazes de identificar providências e medidas, que, se ausentes, podem constituir um obstáculo para a efetividade das ações de saúde já pensadas pela União", acrescentou o ministro.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Governo libera R$ 3 bilhões para setor cultural ainda sem prazo para pagamento



Lei Aldir Blanc garantiu o pagamento de R$ 600 aos trabalhadores do setor e aguardava a liberação do crédito para poder ser regulada

O presidente Jair Bolsonaro editou, nesta sexta-feira 10, uma Medida Provisória que abre crédito extraordinário de R$ 3 bilhões direcionados ao setor cultural por meio da Lei Aldir Blanc, sancionada no dia 29 de junho.

A lei, que foi um projeto da deputada federal Benedita da Sila (PT-RJ), autoriza que artistas independentes recebam três parcelas de R$ 600 de suporte aos moldes do Auxílio Emergencial, programa que contemplou pessoas de baixa renda, desempregadas ou já pertencentes aos programas sociais federais.

São mais de 5 milhões os trabalhadores do setor que foram afetados pela pandemia e, até então, estavam sem auxílio específico para o período.

Na MP publicada hoje, há a determinação de que o valor seja repassado para os entes em uma parcela única e que está sob a tutela do Ministério do Turismo, pasta que abriga a Secretaria Especial de Cultura.

Os recursos destinados pela Lei, determina o texto, “serão executados de forma descentralizada, mediante transferências da União aos Estados, aos Municípios e ao Distrito Federal, preferencialmente por meio dos fundos estaduais, municipais e distrital de cultura ou, quando não houver, de outros órgãos ou entidades responsáveis pela gestão desses recursos”.

Com informações de Carta Capital

Foto: Edgar S. Santos

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Pastor Milton Ribeiro será o novo ministro da Educação




Ele é o quarto nome a liderar o MEC no governo Bolsonaro. Ministério está desde o dia 18 de junho sem um comandante

O pastor Milton Ribeiro será possivelmente o quarto ministro da Educação no governo Bolsonaro. O convite para assumir a pasta, feito pelo presidente, foi aceito nesta sexta-feira 10, data em que a pasta completa 22 dias sem um mandatário, após a saída de Abraham Weintraub no dia 18 de junho.

Segundo dados da plataforma Lattes, Ribeiro é graduado em Teologia e Direito, tem mestrado em Direito e doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo. Ainda é membro do Conselho Deliberativo do instituto Presbiteriano Mackenzie, entidade mantenedora da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Também atuou como reitor em exercício e vice-reitor da instituição.

Ainda de acordo com seu currículo, atualmente é relator da Comissão de Assuntos Educacionais do Mackenzie e Diretor Administrativo da Luz para o Caminho, instituição que cuida da área de mídias da Igreja Presbiteriana do Brasil. Também é membro da Administração Geral da Santa Casa de Santos, instituição pública, como irmão mantenedor.

O novo ministro da educação foi nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro, em maio de 2019, para a Comissão de Ética Pública ligada à Presidência da República, órgão que tem como objetivo investigar ministros e servidores do governo. Sua nomeação foi a primeira feita pelo presidente ao colegiado. O mandato de Ribeiro na Comissão termina em 2022, mas ele se mostrou disposto a abdicar do cargo para assumir o Ministério da Educação.

A nomeação de Milton Ribeiro acontece depois da saída do ministro Carlos Decotelli que ficou somente cinco dias à frente do ministério da Educação. Ele foi nomeado no dia 25 de junho e pediu demissão no dia 30 do mesmo mês. Decotelli não chegou a ter uma cerimônia de posse, devido a controvérsias envolvendo o seu currículo acadêmico.

As universidades de Rosario, na Argentina, e de Wüppertal, na Alemanha, negaram que ele tivesse títulos de doutor e pós-doutor, respectivamente, pelas instituições. Diante às manifestações, Decotelli alterou o currículo. A sua tese de mestrado na Fundação Getúlio Vargas (FGV) também foi alvo de denúncia de plágio, que passou a ser investigada pela instituição.

Com a sua breve passagem, Bolsonaro chegou a anunciar o secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, para o cargo, mas a nomeação não foi efetivada. A sugestão do presidente não teria agradado à ala olavista e os militares, que o pressionaram para rejeitar o secertário como possível chefe da pasta.

Os olavistas se incomodaram com a ligação de Feder ao chamado “centrão”, por ser funcionário do governo de Ratinho Júnior (PSD). Conforme mostrou CartaCapital, o PSD foi um dos partidos que abocanharam cargos após a aproximação com o chefe do Palácio do Planalto. Já os militares veem inexperiência em Feder. Líderes evangélicos também não se agradaram com o nome.

 Carta Capital

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Hidroxicloroquina está vetada em hospitais nos EUA


Bolsonaro bebendo águaDireito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionEm vídeo, presidente aparece tomando e elogiando hidroxicloroquina

Antes mesmo de ser diagnosticado com covid-19, no último dia 7, o presidente Jair Bolsonaro já tomava doses de hidroxicloroquina. Nos últimos dias, seu entusiasmo pelo medicamento só aumentou e ele divulgou um vídeo em que sorvia uma pílula branca com água e dizia: "estou tomando aqui a terceira dose da hidroxicloroquina. Estou me sentindo muito bem, estava mais ou menos no domingo, mal segunda-feira. Hoje, terça (dia 8), eu já estou muito melhor do que sábado. Então, com toda certeza, está dando certo".

Apesar disso, nos Estados Unidos, o país que catapultou a hidroxicloroquina globalmente como uma possibilidade de tratamento aos infectados com o novo coronavírus, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e o Instituto Nacional de Saúde do país retiraram o medicamento, originalmente criado para combater malária, do coquetel de drogas recomendados contra a covid-19.

E, há quase um mês, a agência reguladora de medicamentos e alimentos (FDA, na sigla em inglês), revogou a autorização de uso emergencial, dada em março, para que os hospitais americanos ministrassem hidroxicloroquina aos pacientes com covid-19.

"Com base em análise contínua de dados científicos emergentes, a FDA determinou que é improvável que a cloroquina e a hidroxicloroquina sejam eficazes no tratamento da covid-19. Além disso, à luz dos eventos adversos cardíacos graves e de outros efeitos colaterais sérios, os benefícios conhecidos e potenciais de cloroquina e hidroxicloroquina não superam os riscos conhecidos e potenciais do seu uso", afirmou o órgão, em um comunicado no último dia 15 de junho.

O órgão foi além e, há dez dias, publicou uma revisão dos casos de efeitos colaterais graves em pacientes com coronavírus que receberam doses da medicação.

As reações incluem graves arritmias cardíacas, problemas no sistema sanguíneo e linfático, falência do fígado e lesões nos rins. No relatório da FDA, dos 347 pacientes com covid-19 que apresentaram resposta adversa no uso da hidroxicloroquina, 77 morreram. No caso da cloroquina, dos 38 pacientes com reações graves, dez não sobreviveram.

Trump como primeiro garoto propaganda

O status atual da cloroquina nos Estados Unidos é o desfecho oposto do imaginado pelo presidente americano Donald Trump, o primeiro e mais importante garoto propaganda da suposta solução.

Em 21 de março, Trump tuitou: "HIDROXICLOROQUINA E AZITROMICINA, juntos, têm uma chance real de transformar a história da medicina. Espero que ambos sejam colocados em uso IMEDIATAMENTE. AS PESSOAS ESTÃO MORRENDO, MOVAM-SE RAPIDAMENTE E DEUS ABENÇOE A TODOS!".

A manifestação do presidente foi o suficiente para que as prescrições para uso doméstico da hidroxicloroquina aumentassem 46 vezes, de acordo com levantamento publicado pelo jornal The New York Times.

Trump falando no microfoneDireito de imagemWIN MCNAMEE/GETTY IMAGES
Image captionTrump foi um dos primeiros a promover uso da cloroquina

O entusiasmo desembarcou no Brasil pouco depois. Em vídeo postado no dia 29 de março, Bolsonaro afirmava: "Aquele remédio lá, hidroxicloroquina, está dando certo em tudo quanto é lugar, certo? Um estudo francês chegou para mim agora".

A insistência de Bolsonaro em liberar a prescrição da droga contra covid-19 no Brasil custou, ao menos parcialmente, a demissão de dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Interino no comando da pasta, o general Eduardo Pazuello assinou a liberação do uso da hidroxicloroquina para coronavírus assim que assumiu o cargo.

Convencido da eficácia da medicação, Trump também pressionou os órgãos de controle sanitário e médico dos Estados Unidos para incluir a droga no coquetel de remédios dados aos americanos infectados na pandemia. As gestões de Trump levaram o CDC a publicar, no início de abril, um endosso incomum à medicação. Em sua seção online intitulada "Informações para Clínicos sobre Opções Terapêuticas para Pacientes com a covid-19", o CDC dizia: "Embora a dosagem e duração ótimas da hidroxicloroquina no tratamento para a covid-19 sejam desconhecidas, alguns clínicos dos EUA têm reportado (o uso)".

Apenas 72 horas depois, o órgão voltou atrás e retirou o comentário do ar.

Quase 100 milhões de doses sem destino

Apesar das dúvidas sobre a eficácia e os riscos da hidroxicloroquina e da cloroquina no combate à covid-19, o estoque de medicamentos federal dos EUA foi reforçado com quase 100 milhões de doses, das quais pouco mais de 30 milhões foram repassadas aos Estados. Alguns deles, no entanto, também fizeram suas próprias compras. Ohio, por exemplo, adquiriu 2 milhões de doses.

CloroquinaDireito de imagemMARCELO CASAL/AGENCIA BRASIL
Image captionBrasil tem milhares de doses do medicamento sem destino

O destino final de todo esse material, que não pode ser comercializado e cuja validade não ultrapassa muito os 24 meses, era desconhecido quando, em meados de junho, a FDA retirou a autorização de uso hospitalar dos medicamentos.

Consultado pela BBC News Brasil, o Departamento de Saúde americano não informou até o fechamento desta reportagem o que será feito com as pílulas.

Duas semanas antes de publicadas as novas diretrizes da FDA, no entanto, em 31 de maio, os Estados Unidos enviaram 2 milhões de doses do remédio ao Brasil. O comunicado conjunto dos países sobre a doação informa que o Brasil usará a hidroxicloroquina na profilaxia à doença, especialmente para os profissionais de saúde, e no tratamento de pacientes. Novas doações podem ocorrer.

Uso doméstico ainda pode acontecer nos EUA

Atualmente, tanto o CDC quanto a FDA recomendam o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina apenas em ensaios clínicos de pesquisas científicas. Há pelo menos 59 delas em andamento hoje no país.

De acordo com os órgãos de controle, pelo acompanhamento e monitoramento minucioso dos pacientes em protocolos de pesquisa, especialmente em relação aos sinais cardíacos, essa seria a única maneira relativamente segura de uma pessoa infectada por coronavírus poder tomar a hidroxicloroquina nos Estados Unidos.

Testes em laboratórioDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAtualmente, tanto o CDC quanto a FDA recomendam o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina apenas em ensaios clínicos de pesquisas científicas.

Mesmo antes das mais recentes decisões, a FDA não recomendava que as drogas fossem usadas como o presidente Bolsonaro tem feito, fora de ambiente hospitalar.

Apesar das indicações, no entanto, a FDA não tem poder de impedir que médicos prescrevam a hidroxicloroquina para uso doméstico em pacientes com covid-19. Adotada no tratamento contra lúpus e artrite reumatoide, além de malária, a droga é vendida em farmácias e pode ser comprada por qualquer um que possua uma receita médica.

O próprio presidente Donald Trump, em maio, tomou pílulas de hidroxicloroquina mesmo sem ter sido diagnosticado com covid-19. Ele afirmou empregar o remédio para prevenção ao contágio, uso jamais endossado pela FDA ou pelo CDC. "Estou perfeitamente bem", afirmou Trump, ao anunciar que tomava o medicamento, prescrito pelo médico do presidente.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 9 de julho de 2020

CONVITE:Reunião sobre a implementação da Lei Aldir Blanc acontecerá nesta quinta (9), às 19h, em uma sala virtual do Google Meet, com transmissão pelo canal Cultura-PE no Youtube


Pernambuco receberá, do Governo Federal, em torno de R$ 150 milhões para aplicar em ações emergenciais para a cultura. O valor será repartido, meio a meio, entre governos estaduais e municípios. Os recursos fazem parte de um montante total estimado em R$ 3 bilhões, que serão destinados a todos os municípios e estados brasileiros. O benefício é uma conquista da recém-sancionada Lei Aldir Blanc, fruto de uma ação coletiva de parlamentares, gestores públicos e sociedade civil que conseguiu a liberação dos recursos do Fundo Nacional de Cultura (FNC) para o auxílio de toda cadeia criativa da cultura.

Para uniformizar um conjunto de informações já existentes sobre a Lei – por exemplo, a distribuição dos recursos e o papel de cada ente (estado e municípios) na divisão das competências – a Secretaria de Cultura de Pernambuco e a Fundarpe, em parceria com os conselhos estaduais de Cultura, farão uma nova webconferência nesta quinta (9), às 19h.

Diálogo e integração deverão dar o tom do encontro, que tem como propósito esclarecer, tirar dúvidas e atualizar a sociedade sobre os encaminhamentos da Lei. Também está na pauta da reunião a criação de uma nova agenda de webconferências específicas para todas as macrorregiões do Estado. Além de artistas, produtores e conselheiros de cultura, é esperada a participação de representantes dos órgãos de cultura dos municípios.

O encontro será aberto ao público, com limite de inscrição na sala virtual, que tem capacidade para até 250 pessoas. Para se inscrever, é preciso acessar o link abaixo e preencher os dados solicitados: docs.google.com/forms/d/1G-fuWmz7-TNEpqMxx2DFjkdv4k1JDLp_lrEoBOdzzdo/viewform?edit_requested=true.

O limite de participantes não impedirá que os demais interessados acompanhem as discussões. Quem não conseguir ter acesso à sala na plataforma Google Meet, poderá ver e ouvir a reunião pelo canal da Secult-PE/Fundarpe no YouTube (www.youtube.com/secultpe).

A reunião será aberta pelas falas do secretário de Cultura de Pernambuco Gilberto Freyre Neto, seguida por José Patriota, presidente da Amupe  (Associação Municipalista de Pernambuco); Jocimar Gonçalves, presidente do Conselho de Politica Cultural; Alexandre Santini, gestor cultural e um dos coordenadores da Articulação Nacional da Lei de Emergência Cultural; Silvana Meireles, secretária-executiva de Cultura de Pernambuco; e Pedro Vasconcellos, coordenador do Fórum de Gestores de Cultura da Associação Brasileira de Municípios. Os demais participantes também poderão se inscrever para fazerem perguntas.

CONSTRUÇÃO – Para tratar especificamente da Lei Aldir Blanc, a equipe da Secult/Fundarpe já participou de quase uma centena de reuniões e encontros, sejam entre Grupos de Trabalho da própria instituição, de abrangência estadual, GTs do Fórum Nacional de Dirigentes de Cultura, videoconferências, lives e grupos de discussão com gestores e coletivos culturais. O objetivo deste amplo diálogo é fazer com que a lei seja executada de forma plena e atinja seu maior objetivo: chegar aos que mais necessitam, sejam artistas, técnicos, produtores, equipamentos culturais e todo tipo de profissional cuja renda, oriunda de atividade artística, tenha sido prejudicada pela pandemia do Covid-19.

Ainda na fase de aprovação da Lei, a Secult-PE/Fundarpe realizaram uma webconferência, em parceria com o Conselho Estadual de Política Cultural, que abriu um canal de diálogo com deputados, gestores estaduais e municipais, Amupe e sociedade civil. Participaram, ainda, da articulação com os parlamentares pernambucanos durante a votação no Congresso Nacional e, desde então, ao lado do Conselho de Política Cultural, vêm promovendo encontros virtuais para discussão da lei.

Na mais recente, ocorrida na última quinta-feira (2), o secretário Gilberto Freyre Neto, o presidente da Fundarpe Marcelo Canuto e a secretária-executiva Silvana Meireles, entre diversos outros gestores estaduais, dialogaram por mais de cinco horas com membros dos três conselhos estaduais de Cultura de Pernambuco e dezenas de artistas, produtores e demais trabalhadores e trabalhadoras da cultura no Estado. Entraram na pauta os desafios para a execução da lei no Estado, na expectativa de contar com a fundamental participação de toda a sociedade. Com uma média de 120 pessoas presentes na sala virtual, o pico de audiência alcançou 151 participantes.

Os participantes também tiveram acesso a um estudo preliminar, produzido com a participação da Secult-PE, que trata dos impactos da pandemia no setor cultural e que faz uma projeção do número de pessoas físicas e jurídicas que podem ter acesso ao benefício em Pernambuco.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 8 de julho de 2020

MEC anuncia data das provas do ENEM



O MEC (Ministério da Educação) anunciou nesta quarta-feira (8) as datas do Enem 2020. As provas em papel vão ocorrer nos dias 17 e 24 de janeiro de 2021 e, no computador, em 31 de janeiro e 7 de fevereiro de 2021. O Enem ocorreria inicialmente em novembro deste ano. O ex-ministro Abraham Weintraub era contra o adiamento e só mudou de ideia com iminente derrota sobre o tema no Congresso.

O Senado chegou a aprovar texto exigindo a mudança de data por causa dos reflexos da pandemia de coronavírus.Weintraub então insistiu na realização de uma consulta com os inscritos, e afirmou que o resultado seria respeitado pelo governo. A maioria votou pela realização da prova em maio, mas, agora já sem ministro, o MEC ignorou essa posição.

O resultado da pesquisa foi divulgado após a saída de Weintraub. Técnicos do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) informaram à reportagem esta semana que o órgão aguardava o anúncio do novo ministro para definição das datas.
Mas, como a escolha do ministro já demora quase um mês (Weintraub foi demitido dia 18 de junho), o MEC entendeu ser importante não atrasar ainda mais a definição dessas datas. O exame tem 180 questões e é aplicado em dois dias. Esta será a primeira edição com uma aplicação em computador para parte dos candidatos, em caráter de teste.

Principal porta de entrada para o ensino superior público, o Enem recebeu neste ano 5,8 milhões de inscritos. s resultados também dão acesso a bolsas do ProUni (Programa Universidade Para Todos) e contratos do Fies (Financiamento
Estudantil).

Para decidir, o órgão ouviu entidades que representam secretarias de Educação, o ensino superior público e privado sobre as datas. Secretários estaduais de Educação cobravam o MEC pelo adiamento do exame por causa do fechamento de escolas em decorrência da pandemia de coronavírus. O Consed, que representa os dirigentes, apoia as novas datas.

O argumento para não realizar o exame em maio, como queria os estudantes, é que isso atrasaria muito o calendário das universidades e também dos programas como ProUni e Fies. O que também teria impacto negativo na desigualdade. A maior preocupação dos estados, que concentram a maioria das matrículas de ensino médio, é com o impacto que o fechamento de escolas vem causando para os alunos de escolas públicas, sobretudo os mais pobres.

Em maio, a Folha de S.Paulo mostrou que 3 em cada 10 concluintes do ensino médio em escolas públicas no exame de 2018 não tinham acesso à internet. Na escola privada, 3,7% disseram não ter conexão residencial. Diante dos impactos do coronavírus, o CNE (Conselho Nacional de Educação) aprovou nesta terça-feira (7) um parecer que recomenda às redes de ensino evitar reprovações de estudantes neste ano.

O documento ainda precisa ser homologado pelo MEC. Ele sugere que as redes reorganizem os calendários de 2020 e 2021, considerem atividades remotas também no próximo ano e façam ajustes nas avaliações. "O CNE recomenda fortemente a adoção de medidas que minimizem a evasão e a retenção escolar neste ano de 2020, reconhecendo, no entanto, que as decisões acerca dos critérios de promoção são de exclusiva competência dos sistemas de ensino", diz o texto.

O órgão aprovou em abril outro parecer com diretrizes para reorganização escolar nesse período. O texto ainda sugeria que a definição de cronogramas de avaliações, como Enem, considerasse a interrupção de aulas. O MEC homologou esse parecer, mas impôs uma exceção exatamente no trecho que falava das avaliações. O objetivo do governo foi deixar em aberto a possibilidade de fazer a prova ainda neste ano.
Com Folha de PE
Professor Edgar Bom Jardim - PE

O que se sabe sobre a derrubada de páginas ligadas a bolsonaristas no Facebook




Ícone do Facebook em telaDireito de imagemDADO RUVIC/REUTERS
Image caption'A atividade (da rede) incluiu a criação de pessoas fictícias fingindo ser repórteres, publicação de conteúdo e gerenciamento de Páginas fingindo ser veículos de notícias', comunicou o Facebook sobre retirada de páginas

O Facebook tirou do ar na tarde desta quarta-feira (08) uma rede de perfis, páginas e grupos ligados a partidários do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo a empresa, a rede estaria sendo usada para espalhar conteúdo falso.

Entre os operadores da rede estariam servidores dos gabinetes dos filhos do presidente: o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). O assessor especial da Presidência da República, Tércio Arnaud, também estaria ligado a algumas das páginas removidas.

Em comunicado, a empresa disse que foram removidos 35 perfis, 14 páginas e um grupo no Facebook. Também foram removidas 38 contas no Instagram, outra rede social pertencente ao grupo. Segundo o Facebook, a rede de páginas usava uma "combinação de contas duplicadas e contas falsas" para burlar as regras de uso da empresa.

"A atividade (da rede) incluiu a criação de pessoas fictícias fingindo ser repórteres, publicação de conteúdo e gerenciamento de páginas fingindo ser veículos de notícias. Os conteúdos publicados eram sobre notícias e eventos locais, incluindo política e eleições, memes políticos, críticas à oposição política, organizações de mídia e jornalistas, e mais recentemente sobre a pandemia do coronavírus", diz o comunicado do Facebook.

A empresa também disse que os responsáveis estavam ligados ao Partido Social Liberal (PSL), antigo partido de Jair Bolsonaro; e também a funcionários dos gabinetes dos deputados estaduais fluminenses Anderson Moraes (PSL) e Alana Passos (PSL), além de Eduardo, Flávio e do presidente da República.

Segundo a rede social americana, as páginas derrubadas eram seguidas por 883 mil pessoas no Facebook, e por 917 mil no Instagram. Cerca de US$ 1,5 mil (R$ 8 mil) foram gastos para promover as páginas que integravam a rede de desinformação.

Em nota, Flávio Bolsonaro disse que os perfis são "livres e independentes", fruto do apoio espontâneo ao governo. "O governo Bolsonaro foi eleito com forte apoio popular nas ruas e nas redes sociais e, por isso, é possível encontrar milhares de perfis de apoio. Até onde se sabe, todos eles são livres e independentes", disse o senador.

"Pelo relatório do Facebook, é impossível avaliar que tipo de perfil foi banido e se a plataforma ultrapassou ou não os limites da censura", diz o texto. "Julgamentos que não permitem o contraditório e a ampla defesa não condizem com a nossa democracia, são armas que podem destruir reputações e vidas", prossegue a nota de Flávio Bolsonaro.

O PSL também publicou nota. A agremiação disse que as contas suspensas nada tinham a ver com a sigla. Estavam relacionadas a assessores de deputados do partido, sendo de responsabilidade individual dos parlamentares. Os políticos "na prática, já se afastaram do PSL há alguns meses com a intenção de criar um outro partido", disse a legenda.

A BBC News Brasil também procurou a Secretaria de Comunicação da Presidência da República e o gabinete de Eduardo Bolsonaro, e atualizará a reportagem se houver resposta.

Eduardo Bolsonaro e Flavio Bolsonaro de perfil, engravatados, em eventoDireito de imagemREUTERS/ADRIANO MACHADO
Image captionEntre os operadores de rede de conteúdo falso estavam servidores dos gabinetes de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP; na foto, à esquerda) e Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ)

Luiza Bandeira é pesquisadora do Atlantic Council, um centro de estudos que mantém parcerias com o Facebook e que foi em parte responsável pela investigação. Ela disse ter encontrado ligações das páginas derrubadas com assessores de Jair Bolsonaro e seus filhos, via Tércio Arnaud, assessor do presidente e, segundo ela, ex-assessor de outro filho dele, Carlos Bolsonaro.

Ela diz ter encontrado conexões da rede de perfis derrubados com os deputados estaduais do PSL no Rio.

"A ligação que eu estabeleci (das páginas) foi com o Jair (Bolsonaro), pelo Tércio Arnaud, que é um assessor dele (...). Tércio foi assessor, antes, do Carlos Bolsonaro. O Eduardo Bolsonaro tem um assessor ligado a rede também, o Paulo Chuchu, de São Bernardo do Campo", diz ela.

"A Alana Passos costumava empregar o (militante) Leonardo Bolsonéas, cuja conta também foi retirada. Ele era assessor dela até pouco tempo. E o Anderson Moraes empregava no gabinete dele a namorada do Leonardo Bolsonéas, a Vanessa Navarro", diz Bandeira.

A BBC News Brasil está tentando contato com os deputados estaduais e atualizará esta reportagem quando eles responderem,

Os dados usados na pesquisa são públicos, diz Bandeira. Só o próprio Facebook tem acesso ao código-fonte da rede social. "A gente trabalha com open source, com dados abertos. Olhamos os registros dessas contas. Então no caso do Tércio Arnaud (...), a página de Instagram chamada 'Bolsonaro News' estava registrada em nome dele. Estava registrada com (a conta de) e-mail do Gmail dele. Então, está claramente vinculada a ele", diz.

Tércio Arnaud se aproximou de Jair Bolsonaro ainda durante a campanha eleitoral de 2018, e trabalha no Palácio do Planalto desde o começo do governo. Hoje, ocupa o cargo de assessor especial da Presidência da República e despacha no 3º Andar do Palácio do Planalto.

"No caso do Bolsonéas, ele é aberto sobre a conta ser dele. Mas, por exemplo, essa rede usava pelo menos duas páginas que diziam que eram jornais e eram, na verdade, sites superpartidários. Uma delas, chamada Jogo Político, foi registrado pelo Leonardo Rodrigues, o Leonardo Bolsonéas", explica ela.

Redes derrubadas em outros países

No comunicado da tarde desta quarta, o Facebook também disse ter retirado do ar outras três redes de desinformação em outros países.

Foram removidas, por exemplo, 72 contas e 35 páginas de Facebook na Ucrânia, voltadas para a política local. Outras 13 páginas de Instagram daquele país também foram tiradas do ar. A rede, diz o Facebook, foi particularmente ativa durante as eleições ucranianas de 2019.

Uma das maiores derrubadas de páginas aconteceu na terra natal do Facebook, os Estados Unidos. Foram 54 perfis e 50 páginas de Facebook derrubadas, e mais 4 páginas do Instagram. No caso dos EUA, a rede parecia estar desativada: foi usada principalmente no período de 2015 e 2016. A rede costumava publicar conteúdos sobre o operador político republicano Roger Stone.

Na América Latina, a "limpa" do Facebook encontrou páginas gerenciadas no exterior cujo alvo parecia ser influenciar a política interna de países do subcontinente.

Foram retirados 41 perfis e 77 páginas de Facebook, e 56 contas de Instagram. A rede era gerenciada a partir do Canadá e do Equador, mas tinha como alvo países como El Salvador, Argentina, Uruguai, Venezuela, Equador e Chile.


Professor Edgar Bom Jardim - PE