quarta-feira, 15 de abril de 2020

Coronavírus: ‘Tive de usar saco plástico na cabeça’: médicos brasileiros relatam precariedade em hospitais na Espanha




Colagem de fotos da médica Gerytza e da enfermeira Natália. Gerytza, à esquerda, usa sacola plástica na cabeça, além da máscara e óculos. Natália usa máscara, óculos e touca de cabeloDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionAlguns profissionais, como Gerytza (à esq.) chegaram a ter que usar sacolas plásticas na cabeça para se proteger; Natália diz que a situação está dramática
A superlotação de hospitais e a falta de equipamentos de proteção obrigou médicos e enfermeiras na Espanha a improvisarem com soluções inusitadas - e precárias - segundo relatos de brasileiros que trabalham em hospitais locais.
A médica anestesista, Gerytza Chagas de Alcântara, 45 anos, que atua na linha de frente contra a covid-19 em um hospital em Barcelona, relatou à BBC News Brasil que teve de usar um saco plástico na cabeça por falta de equipamento de proteção individual (EPI).
"Por sorte, um colega conseguiu uma doação. Estamos racionando esse material, que deve durar umas duas semanas, reaproveitando máscaras", contou a anestesista.
"Estamos muito expostos, temos três médicos entubados. Qualquer superfície tem partículas do vírus. Mas quando você está na emergência, com 40 pacientes no corredor e nas salas, é muito difícil não tocar em alguma parte do seu corpo que não está exposta", diz.
Rafael Oliveira Caiafa, 40 anos, médico radiologista do Consórcio Sanitário Integral (CSI), na região metropolitana de Barcelona, também atua em um hospital superlotado de pacientes com covid-19 e reclamou da falta de EPI.
"Recebi uma máscara que deveria ser de uso único, mas tive que usá-la durante três semanas", conta.

'Situação horrorosa'

Natural de Fortaleza (CE), Gerytza chegou a Barcelona em 2007 para cursar um mestrado e desde 2009 trabalha no Hospital Sant Joan de Déu de Martorell.
Ela também contou que, como a emergência está saturada, os pacientes menos graves têm de esperar dentro da ambulância por um leito - e a maior parte dessas vagas surge quando outros doentes morrem.
"É uma situação horrorosa", lamenta Gerytza. "Morrem muitos pacientes, muitos. Em um dos meus últimos plantões, morreram 30 ou 40 pacientes, no mínimo."
A médica atende pacientes críticos com covid-19 e lembra que, quando o governo da Espanha decretou o estado de alerta, no dia 14 de março, já havia 30 casos no hospital.
"A partir daquele momento, a nossa maneira de trabalhar mudou totalmente. Cancelamos todas as consultas e cirurgias agendadas. Médicos que não lidam com pacientes clínicos também passaram a avaliar os casos suspeitos. E na sala de recuperação anestésica, montamos uma espécie de 'UTI intermediária'", descreve.
Ela diz que outras alas foram readaptadas com camas de internamento para acomodar mais pacientes, e o hospital passou a funcionar com cerca de 140% de sua capacidade.
A médica conta ainda o caso de um colega maqueiro que havia dado positivo para covid-19 e ficou 15 dias em confinamento.
"Quando ele se afastou, a situação ainda estava bastante controlada. Ao voltar, 15 dias depois, ele chorava muito, porque já havia levado dez cadáveres para o necrotério."

Mais de 18 mil mortes

A Espanha tem 172.541 casos confirmados no total, com 18.056 mortes, em dados desta quarta-feira (15) do Ministério da Saúde espanhol.
Superexpostos ao vírus, 26.672 profissionais de saúde foram infectados pela covid-19 na Espanha, o que representa 15,45% do total de casos.
O volume alto de pacientes - muitos deles em estado grave - com o novo coronavírus obrigou hospitais a se reorganizarem, a improvisarem leitos e a contratarem mais pessoal.
Médicos com equipamentos de proteção atendem paciente, cujo rosto não é visível, em cama de hospital na espanhaDireito de imagemEPA
Image captionAlgumas alas foram readaptadas para abrigar os paciente com covid-19
O secretário-geral do sindicato Médicos da Catalunha (Metges de Catalunya), Josep Maria Puig, confirma que falta de tudo: equipamento de proteção, respiradores, pessoal e infraestrutura em unidades de saúde.
Segundo ele, "alguns hospitais estão colapsados há semanas", como o da cidade de Igualada, o primeiro da Catalunha a registrar o surto de coronavírus.
Puig conta que, na falta de pessoal, as unidades de saúde convocaram médicos aposentados, prolongaram o contrato de residentes ou chamaram estudantes do último ano em cursos de medicina.
Mas o secretário adverte que a especialidade de cuidados intensivos requer uma formação de cinco anos, então contratar pessoal sem experiência para atuar nesta crise é uma solução "precária".

A hora e a vez dos novatos

Em meio à pandemia, recém-formados, como a enfermeira hispano-brasileira Natalia Leiria Dantas, 23 anos, têm entrado no mercado de trabalho.
Nascida em Barcelona e filha de brasileiros, Natalia fez uma entrevista de emprego por telefone e, no dia seguinte, foi chamada para trabalhar no Hospital del Mar, em Barcelona.
"No primeiro dia, me impressionei porque não pensei que havia tantos pacientes. Eu nunca tinha visto um andar reservado a pacientes infecciosos, foi impactante", diz.
"O nervosismo é grande, a insegurança, a pressão psicológica do hospital e minha também, pois quero me dedicar o máximo que eu puder."
A enfermeira comenta que, como não é a única novata, a equipe está saturada: "de trabalho, de pacientes, de pressão e de pessoas novatas como eu, que perguntam constantemente sobre o que fazer em alguns casos".
Para Natalia, o mais difícil dessa pandemia é ver um doente morrer sozinho.
"Durante os estágios, eu vi paciente morrer na minha frente, até segurei a mão da pessoa na hora que faleceu. Mas no caso da covid-19, as famílias não podem estar lá. Me abalou muito o paciente não ter acompanhamento familiar", lamenta a enfermeira.

Radiografias disparam

Mulher com a máscara abaixada apoia as mãos na cabeça do lado de fora de uma tenda onde está escrito "atenção, zona covid+"Direito de imagemAFP/GETTY
Image captionA Espanha está construindo hospitais de campanha para lidar com a crise
Nascido em Belo Horizonte (MG), Rafael Caiafa morou em Barcelona de 2007 a 2015, passou uma temporada com a família no Brasil e retornou à Espanha em 2018 para fazer a segunda residência.
No hospital, ele é um dos responsáveis por exames de diagnóstico e controle de pessoas com dificuldades respiratórias e afirma que o volume de radiografias e tomografias disparou.
O radiologista relata que os colegas estão nervosos por conta do risco de contágio e de levar o vírus para dentro de casa.
Seu maior receio é de que pacientes com outras doentes graves não sejam atendidos, pois a covid-19 não vai desaparecer.
"Meu medo é que o sistema permaneça saturado muito tempo e que pacientes com câncer não recebam tratamento adequado."
Para Caiafa, o Brasil pode tirar lições dos exemplos da Itália e Espanha, "onde se subestimou o impacto na economia e no sistema de saúde".
Segundo o médico, os brasileiros deveriam adotar o isolamento social rígido - só assim, a pandemia poderia ter um impacto menor.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 14 de abril de 2020

Chernobyl: incêndio se aproxima de reator da usina nuclear abandonada



FogoDireito de imagemEVN
Image captionChamas estão próximas à usina abandonada
Incêndios florestais que ocorrem há vários dias no norte da Ucrânia estão agora a poucos quilômetros da usina nuclear abandonada de Chernobyl, dizem fontes.
O operador de turismo Yaroslav Emelianenko afirmou que as chamas atingiram a cidade abandonada de Pripyat, que costumava servir à usina.
O fogo, segundo ele, está a cerca de 2 quilômetros do local onde estão armazenados os resíduos mais perigosos da usina.
O Greenpeace disse que o fogo era muito maior do que apontavam as autoridades.
Um representante do braço russo da ONG, em entrevista à agência Reuters, disse que o maior incêndio atingia uma área de 34 mil hectares, enquanto um segundo, a apenas um quilômetro da antiga usina, cobria uma área de 12 mil hectares.
A usina nuclear de Chernobyl e a cidade de Pripyat estão abandonadas desde 1986, quando o reator número 4 da usina explodiu.
Emelianenko também disse que se o fogo atingir Pripyat seria um desastre econômico, já que as visitas guiadas são fonte de receita considerável para a região.
Em 2018, mais de 70 mil pessoas visitaram a cidade. No ano passado esses números foram ainda maiores, graças ao sucesso da série da HBO sobre o desastre.

Corta-fogos ao redor da usina

Bombeiros tentam apagar incêndiosDireito de imagemEPA
Image captionAutoridades dizem que nível de radiação próxima ao local do incêndio estão em níveis "normais"
A polícia afirmou que o incêndio começou no dia 4 de abril, depois que um homem colocou fogo na grama seca perto da zona de exclusão. Desde então, as chamas têm se aproximado cada vez da antiga usina.
Mais de 300 bombeiros com dezenas de equipamentos especiais estão trabalhando para combater o fogo no local, enquanto seis helicópteros e aviões estão tentando apagar o incêndio do alto.
Kateryna Pavlova, presidente da agência que gerencia a zona de exclusão da usina, disse à Associated Press que "não é possível afirmar que o fogo esteja controlado".
"Trabalhamos a noite inteira, cavando corta-fogos ao redor da usina para protegê-la do fogo", ela disse.
No dia 5 de abril, Yegor Firsov, diretor do serviço estatal de inspeção ecológica da Ucrânia, disse em um post no Facebook que os níveis de radiação na área aumentaram acima do normal.
Oficiais do governo, mais tarde, negaram a afirmação, argumentando que os níveis radioativos na área estavam "dentro dos limites normais". Depois disso Firsov também voltou atrás em sua afirmação.
Agora, a fumaça do incêndio está se movendo em direção à capital, Kiev.
O fogo está agora a apenas 2 km da região da usinaDireito de imagemREUTERS
Image captionO fogo está agora a apenas 2 km da região da usina
A explosão de Chernobyl criou uma nuvem radioativa que passou por grande parte da Europa, sendo a área ao redor da usina a que foi mais afetada.
É proibido que pessoas morem a menos de 30 km da usina.
Apesar do desastre, Chernobyl continuou a gerar energia até que o último reator operacional foi finalmente fechado, nos anos 2000.
Viktor Sushko, vice-diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa Médica de Radiação, descreve o desastre de Chernobyl como o "maior desastre gerado pelo homem da história da humanidade".
O órgão estima que cerca de 5 milhões de cidadãos da antiga União Soviética, incluindo 3 milhões na Ucrânia, tenham sido afetados pelo desastre de Chernobyl. Na Bielorrússia, outras 800 mil pessoas também foram atingidas pela radiação.
Atualmente, o governo ucraniano paga pensões a 36.525 viúvas de homens que são considerados vítimas do acidente.
Em janeiro de 2018, 1,8 milhão de pessoas na Ucrânia, incluindo 377.589 crianças, tinham o status de vítimas do desastre, segundo Sushko.
Houve um rápido aumento no número de pessoas com deficiência entre esta população, passando de 40.106 em 1995 para 107.115 em 2018.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 13 de abril de 2020

"Quando você vê as pessoas entrando em padaria, em supermercado, grudadas, isso é claramente uma coisa equivocada.


Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

O ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse neste domingo (12) que o brasileiro não sabe se escuta ele ou o presidente Jair Bolsonaro e alertou que os meses de maio e junho serão os mais duros.

Ao ser questionado sobre a divergência de opiniões entre ele e o presidente, Mandetta pediu um alinhamento de discurso para evitar "dubiedade".

"Quando você vê as pessoas entrando em padaria, em supermercado, grudadas, isso é claramente uma coisa equivocada. Eu espero uma fala única, uma fala unificada. Porque isso leva o brasileiro a uma dubiedade. Ele não sabe se escuta o ministro, o presidente, quem ele escuta", disse em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo.

Mandetta também afirmou que o ministério acredita que maio e junho serão os meses mais duros no combate ao coronavírus.
Os técnicos do ministério trabalham com a hipótese de que o pico do surto seja atingido entre o fim de abril e início de maio. No entanto, a pasta esclarece que isso não significa que, após esse período, vai se seguir uma queda nos índices de casos registrados e óbitos.

A tendência é que esse período de alta transmissão da doença se mantenha na sequência por até dez semanas, provocando uma grande pressão sobre o sistema de saúde.

O ministro voltou a defender as políticas de isolamento social como forma de evitar a propagação do vírus.
"Quem vai escrever essa história é o comportamento da sociedade", afirmou.
Mandetta também afirmou que a realização de testes em massa em toda a população é inviável neste momento.

Com Foflha de Pernambuco/Rede Globo
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Equador retira 700 corpos de residências de Guayaquil




O governo do Equador informou neste domingo que conseguiu remover pelo menos 700 corpos de pessoas que morreram nas últimas semanas em suas casas em Guayaquil, o epicentro do coronavírus no país e onde os hospitais e os funerais foram afetados pela pandemia.
“A quantidade que coletamos, com a força-tarefa nas casas, excedeu 700 pessoas” mortas, disse Jorge Wated, que lidera uma equipe de policiais e militares criada pelo Executivo diante do caos desencadeado em Guayaquil pela COVID-19, o que atrasou a transferência de corpos.
Wated não especificou as causas das mortes ocorridas durante a emergência sanitária pela pandemia, que no Equador deixa 7.500 casos, incluindo 333 mortes, desde que a presença do vírus foi declarada em 29 de fevereiro.
A província costeira de Guayas concentra 72% dos infectados. E em sua capital, Guayaquil, existem cerca de 4.000 pacientes, segundo o governo nacional.
Há três semanas, as forças militares e policiais começaram a remover corpos das casas após falhas no “sistema mortuário” do porto de Guayaquil, o que causou atrasos no instituto médico legal e nas funerárias em meio ao toque de recolher diário de 15 horas que governa o país.
Diante da situação, os moradores de Guayaquil transmitem vídeos de corpos abandonados nas ruas e mensagens de ajuda de parentes para enterrar seus mortos nas redes sociais.
O governo equatoriano também assumiu a tarefa de enterrar os corpos devido à incapacidade de seus parentes em fazê-lo por várias razões, inclusive econômicas.
De Guayaquil, em uma coletiva de imprensa virtual, Wated apontou que os corpos de 600 pessoas identificadas foram enterrados em dois cemitérios da cidade.
Há quase duas semanas, Wated antecipou que “os médicos infelizmente estimam que as mortes nesses meses cheguem entre 2.500 a 3.500 por COVID, apenas na província de Guayas”.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 11 de abril de 2020

Caixa já registrou 32,2 milhões de cadastros para auxílio emergencial


Aplicativo Caixa Auxílio Emergencial
Aplicativo Caixa Auxílio EmergencialFoto: Isabelle Barbosa / Folha de Pernambuco
A Caixa Econômica Federal já registrou 32,2 milhões de cadastros para receber o auxílio emergencial de R$ 600. Os dados foram atualizados até as 12h deste sábado (11).

Já foram feitas 272 milhões de visitas ao site do programa emergencial. No dia, foram feitas 643,7 mil ligações para buscar informação na central 111, que já recebeu 9,6 milhões de telefonemas, no total. Os downloads do aplicativo chegaram a 33,5 milhões: 32,3 do Android e 1,2 iOS.

Paga a trabalhadores informais de baixa renda e a beneficiários do Bolsa Família, a renda básica emergencial de R$ 600 ou de R$ 1,2 mil (para mães solteiras) foi depositada de forma automática para quem já estava inscrito no Cadastro Único de Programas Sociais (CadÚnico) e tem conta no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal, na última quinta-feira (9). Os demais trabalhadores têm que se cadastrar no aplicativo Caixa Auxílio Emergencial ou no site Auxílio Caixa para começar a receber na próxima semana.

Quem está no Bolsa Família não precisa se cadastrar e receberá o auxílio emergencial no mesmo dia do pagamento do programa social, que ocorre entre nos últimos dez dias úteis de cada mês. O beneficiário desse grupo receberá o maior valor entre o Bolsa Família e a renda básica emergencial no fim de abril, de maio e de junho.
Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

OMS: fim do confinamento antes da hora pode causar “retorno mortal” da covid-19



O fim precipitado das restrições de confinamento impostas contra a pandemia de Covid-19 poderia levar a um “retorno mortal” do novo coronavírus, alertou na sexta-feira 10 a Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Sei que alguns países já estão preparando a transição para abandonar as restrições de confinamento. Como todo o mundo, a OMS quer que as restrições sejam levantadas. Ao mesmo tempo, suspender as restrições muito rapidamente pode levar a um rebote mortal”, disse o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em coletiva de imprensa virtual em Genebra.
“O refluxo [da pandemia] pode ser tão perigoso quanto a sua propagação, se não for administrado adequadamente”, acrescentou ele, da sede da agência da ONU.
A OMS consulta os países afetados para desenvolver estratégias para elevar progressivamente e com segurança as medidas de contenção.
Para isso, seis condições devem ser atendidas: controlar a transmissão do vírus, garantir a disponibilidade de assistência e saúde pública, minimizar o risco em ambientes expostos, como unidades de saúde permanentes; implementar medidas preventivas no trabalho, em escolas e outros locais de alta frequência; controlar o risco de casos importados e, finalmente, responsabilizar a população.
“Cada indivíduo tem um papel a desempenhar na superação da pandemia”, insistiu Tedros.
Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Coronavírus:Brasil 1056 mortos, Pernambuco contabiliza 65 mortos, Bom Jardim 01 óbito registrado oficialmente.



Brasil é o mais afetado pelo novo coronavírus na América Latina
Brasil é o mais afetado pelo novo coronavírus na América LatinaFoto: Douglas Magno / AFP
O Brasil, país mais afetado pelo novo coronavírus na América Latina, superou a marca das 1.000 mortes por COVID-19 nesta sexta-feira (10), informou o ministério da Saúde. Os números mais recentes das autoridades sanitárias brasileiras registraram um total de 19.638 casos confirmados, com 1.056 mortes.

Com um balanço global de mortos por coronavírus de mais de 100.000, o Brasil ainda tem cifras relativamente pequenas em comparação aos números de mortos em outros países duramente afetados pela pandemia, como Itália (mais de 18.000), Estados Unidos (cerca de 17.000) e Espanha (cerca de 16.000).

Mas as autoridades sanitárias brasileiras se preparam para uma piora no cenário. Especialistas preveem que o pico da pandemia ocorrerá no final de abril no Brasil. Temem sobretudo o que pode acontecer quando o vírus se espalhar por áreas mais pobres, especialmente as favelas, densamente povoadas e historicamente carentes de infraestrutura sanitária básica.

Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro enfrenta uma enxurrada de críticas por ter comparado a COVID-19 com uma "gripezinha" e a reação a ela de "histeria". O presidente tem entrado em confronto com prefeitos e governadores por suas decisões de manter fechados estabelecimentos comerciais e instituições de ensino e pedir para as pessoas ficarem em casa para conter a pandemia, o que ele alega que vai arruinar a economia.

Em seu último ato de desrespeito às recomendações de isolamento feitas por seu próprio governo, Bolsonaro voltou a caminhar pelas ruas de Brasília nesta sexta-feira e saudou simpatizantes. Apesar de tentar se manter próximo de seus correligionários, o presidente enfrenta um isolamento político crescente, ao ser ignorado por autoridades municipais e estaduais, que implementam medidas de distanciamento social para combater a disseminação da doença.
Com Folha de Pernambuco e G1 PE

Professor Edgar Bom Jardim - PE

O que está por trás das imagens da vala comum para mortos do coronavírus em Nova York


Nesta sexta-feira (10/04), Nova York tinha cerca de 170 mil casos. Isso representa quase 10% de todos os casos registrados no mundo até agora, cerca 1,65 milhão. Os Estados Unidos lideram com 484 mil.
A cifra supera os casos registrados na Espanha (157 mil) e na Itália (143 mil). Mas o número de mortes é menor: 7.844 em Nova York, ante 15.970 em território espanhol e 18.849 em território italiano.
É importante deixar claro que cada localidade realiza um volume diferente de testes, o que interfere no total de casos identificados. Além disso, os dados divulgados não seguem a mesma metodologia e os números absolutos acima também não levam em conta os tamanhos das populações.
A população da Itália (60 milhões) é o triplo da do Estado de Nova York (19,5 milhões) e quase 25% maior que a da Espanha (47 milhões).
Imagem aérea de vala comumDireito de imagemREUTERS
Image captionCerca de 40 caixões foram enterrados na quinta-feira

'Explosão silenciosa'

Por outro lado, o governador Andrew Cuomo divulgou que o número de pacientes com covid-19 internados em hospitais caiu pelo segundo dia seguido, para 200. Ainda é cedo, no entanto, para afirmar que há uma tendência consolidada.
Cuomo afirmou que os dados apontam que a estratégia de distanciamento social está funcionando. Segundo ele, a pandemia "é uma explosão silenciosa que se espalha por nossa sociedade com a mesma aleatoriedade e maldade que vimos no 11 de Setembro".
O governo federal dos Estados Unidos também divulgou dados mais positivos. Anthony Fauci, médico da força-tarefa criada pela Casa Branca contra o coronavírus, afirmou que as projeções indicam que cerca de 60 mil americanos devem morrer em decorrência da covid-19.
No fim do mês passado, Fauci estimava essa cifra entre 100 mil e 200 mil mortes. A projeção de 60 mil mortes está no mesmo patamar do total estimado de mortes de gripe nos EUA entre outubro de 2019 e março de 2020, segundo dados oficiais.
Mas o vice-presidente americano, Mike Pence, lembrou que o coronavírus é quase três vezes mais contagioso que o vírus influenza, causador da gripe sazonal.
Inicialmente, a Casa Branca estimou que 2,2 milhões de americanos morreriam por covid-19 se nenhuma medida fosse adotada, a exemplo das quarentenas em massa.
Mulher de máscara com bandeira americana desfocada ao fundoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEUA já superou China em número de casos de covid-19
As determinações para não sair de casa, exceto em casos essenciais, levaram ao fechamento de diversas empresas em 42 Estados americanos, levando a uma desaceleração drástica da atividade econômica no país.
Novos dados divulgados nesta quinta-feira (9) apontaram que mais 6 milhões ficaram desempregadas. Em três semanas, o total chega a 17 milhões de desempregados.

Disparidade racial

Há também um recorte racial no impacto da doença. Na cidade de Chicago, no Estado de Illinois, 70% das pessoas que morreram de covid-19 eram negras, sendo que elas representam 30% da população de 2,7 milhões de habitantes.
A cidade passou a adotar toque de recolher e suspendeu a venda de bebidas alcoólicas à noite para reforçar o distanciamento social, que tem sido amplamente desrespeitado ali.
Dados de outros Estados americanos, como Louisiana, Mississippi, Michigan, Wisconsin e Nova York, refletem a mesma disparidade racial nas infecções e mortes por coronavírus.
O presidenciável democrata Joe Biden cobrou a divulgação de mais dados estatísticos sobre o perfil racial das vítimas. Para ele, a pandemia joga luz sobre a desigualdade e o impacto do racismo estrutural.
Presidente Donald TrumpDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionTrump minimizou o risco de coronavírus no país desde início da pandemia

Impacto nos abortos

A pandemia levou também diversos Estados americanos a banirem ou limitarem a realização de abortos, desencadeando disputas judiciais em torno do tema.
No Texas, a Justiça derrubou, em parte, a medida que limitava a realização do aborto, adotada sob o argumento de que "procedimentos de saúde desnecessários" ocupariam recursos médicos valiosos que deveriam estar voltados para a covid-19.
Mas o juiz Lee Yaekel, indicado pelo ex-presidente e ex-governador republicano George W. Bush, afirmou que esse banimento representava "no mínimo, um ônus indevido ao direito da mulher à possibilidade de um aborto".
Outros Estados, como Alabama, Iowa, Ohio e Oklahoma, também adotaram medidas similiares contra abortos.
A chamada guerra cultural continua forte nos EUA, apesar da pandemia. Há disputas judiciais também pela abertura de lojas de armas e de igrejas, apesar das determinações que proíbem serviços considerados não essenciais e aglomerações.
Como os EUA chegaram a esse número de casos?
No fim de janeiro, Trump incumbiu o vice-presidente Mike Pence de liderar uma força-tarefa para combater a epidemia e, em 2 de fevereiro, o governo tomou sua primeira medida mais dura, ao decretar a proibição de entrada nos Estados Unidos de estrangeiros que haviam visitado a China nos 14 dias anteriores.
Uma decisão que, segundo o presidente americano, possibilitou salvar inúmeras vidas e que os especialistas, embora concordem com ela, ressalvam que não foi acompanhada de outras medidas para preparar o país para a pandemia.
"Demorou muito tempo para as autoridades perceberem que esse era um problema sério", diz Jeremy Youde, especialista global em políticas de saúde e reitor da Escola de Humanidades da Universidade de Minnesota, em Duluth.
Presidente Donald TrumpDireito de imagemREUTERS
Image captionEUA suspenderam entrada de estrangeiros de 26 países na Europa para impedir propagação do coronavírus
Além disso, as declarações de Trump durante essa pandemia geraram confusão devido a seu hábito de minimizar o risco para o país e o fato de, em inúmeras ocasiões, contradizer as informações passadas por outros integrantes de sua equipe ou pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Além da falta de liderança clara no combate americano à pandemia, uma das grandes falhas dos EUA nesta crise foi o "fracasso" em detectar novos casos no país.
"Grande parte da culpa pela situação se deve ao atraso dos testes nos Estados Unidos. Ficamos vendo a pandemia se desenrolar sem capacidade de testar e identificar casos. E isso resultou na propagação maciça de covid-19 nos EUA", diz Thomas Tsai, cirurgião e pesquisador de políticas de saúde da Universidade Harvard (EUA).
Acesso limitado a testes ou mesmo testes defeituosos estão entre os problemas citados por especialistas, que atrasaram a resposta da primeira potência mundial ao avanço da doença.
Paralelamente aos problemas com os testes e ao gerenciamento da crise pela Casa Branca, vários governadores de Estados dos EUA começaram a tomar rédeas da situação.
Além disso, outra dificuldade é que os EUA não têm um balanço de de infectados e mortos a nível nacional, apontam especialistas. Essa estatística é divulgada por cada Estado individualmente.
Aproximadamente, três em cada quatro americanos foram colocados sob alguma forma de confinamento, cerca de 245 milhões de pessoas em uma população de cerca de 327 milhões, e quase dois terços dos Estados emitiram diretrizes nesse sentido a nível estadual.
BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE