segunda-feira, 30 de março de 2020

Pernambuco tem 6ª morte por Covid-19; casos confirmados chegam a 77


Ilustração do novo coronavírus
Ilustração do novo coronavírusFoto: Pixabay

Pernambuco registrou a sexta morte por Covid-19, segundo balanço epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) divulgado nesta segunda-feira (30). Trata-se de um idoso de 62 anos, com quadro clínico de hipertensão e diabetes, que morreu na tarde desse domingo (29). O total de casos confirmados da doença provocada pelo novo coronavírus no Estado subiu para 77, quatro a mais em relação ao balanço anterior.

O idoso deu entrada no Hospital dos Servidores do Estado (HSE), no bairro do Espinheiro, na Zona Norte do Recife, na última quarta-feira (25), depois de ser encaminhado por uma unidade de saúde do município de Goiana, na Região Metropolitana do Recife, com quadro de infecção no trato respiratório. 

No HSE, o idoso recebeu tratamento intensivo, foi entubado em ventilação mecânica e teve as amostras colhidas para os exames laboratoriais, que confirmaram a Covid-19 na última sexta-feira (27), de acordo com a SES-PE. O paciente evoluiu com piora do quadro clínico e veio a óbito na tarde do domingo.

As mortes no Estado envolvem cinco homens e uma mulher, todos acima dos 60 anos. Dos quatro novos confirmados, segundo a SES-PE, três são homens e um é uma mulher. Todos estão na faixa etária entre os 30 e 80 anos. Dois são residentes do Recife, um de Olinda, na Região Metropolitana do Recife (RMR) e um de Palmares, na Mata Sul, sendo o primeiro caso confirmado nessa cidade. Dois dos pacientes estão em isolamento domiciliar e dois em leito de UTI.
Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 28 de março de 2020

Bom Jardim não tem estrutura para salvar doentes com coronavírus

    Foto: Centenas de pessoas circulando sem proteção.

Muita gente continua circulando na cidade de Bom Jardim-PE. A Organização Mundial da Saúde, o  Ministério da Saúde, o Governo  do Estado,  o Ministério Público,  o Governo Municipal com o apoio de parte  da  grande imprensa   recomendam o isolamento social. Ficar em quarentena em casa, lavar as mãos com sabão, usar álcool em gel 70%, não manter contato com as mãos, não dá abraços e beijos são medidas importantes para evitar a contaminação pela covid-19. O que será de nós se para boa parte da população bonjardinense não há obediência às recomendações propostas?
      Na contramão da pandemia de coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro defende que comércios, escolas, empresas e serviços de transportes continuem funcionando normalmente. A posição de Bolsonaro foi divulgada em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão em 24 de março. A repulsa foi grande em todo país. Panelaços contra Bolsonaro demostram que o "rei " está nu.

         Assistimos nas redes sociais líderes religiosos querendo manter  cultos com a presença dos amados fiéis. Igrejas cheias  para receber dízimo no cartão de crédito, em doze suaves prestações. Na Matriz de Sant'Ana, as celebrações católicas acontecem pela internet.   A tecnologia tem aproximado as pessoas neste momento: Professores e estudantes interagem, profissionais de diversas áreas realizam trabalhos em casa pelo computador(home office), shows, festas, aniversários, compras e vendas se concretizam via internet. Navegar é preciso. Para manter a saúde da mente todos são chamados  a ocuparem-se de pequenas ações em suas casas: Movimentar-se, ter vida sadia, conviver mais com a família, realizar tarefas para não ficar exclusivamente na frente da televisão. 


        Lojas de  roupa,  perfumarias, movelarias, sapatarias, salões de beleza, lanchonetes e  muitos outros tipos de comércio  e prestadores de serviços devem ficar fechados por tempo indeterminado. Continuam funcionando as farmácias, mercadinhos, postos de gasolina, casas de ração, distribuidores de gás de cozinha, água e casas funerárias. A medida deixa muita gente do comércio formal e informal em situação bastante difícil. Como pagar as contas aos fornecedores, funcionários, água, luz, telefone, tributos? Os governos precisam agir rápido, criar mecanismo para proteger pequenos empreendedores locais, desempregados, trabalhadores informais que irão ficar parados durante muito dias. 
        Nas redes sociais o clima é de país dividido. Tem gente defendendo as loucuras, gritos, fingimentos do presidente Bolsonaro. Há os que  criticam as atitudes do presidente focadas em grandes interesses do capital externo. Será que estamos testemunhando o fim  da era Bolsonaro? Bolsas de valores em queda no mundo. No Brasil, o dólar ultrapassa os R$ 5,00 (cinco reais). Ricos ficam mais ricos, pobres ficam mais pobres. Coronavírus e fome resulta em desnutrição. Sinal verde para agravar  doenças, provocar mortes em todo país.  Situação  feia para os mais carentes também nos mercadinhos. Sem nenhum senso de responsabilidade e solidariedade aumentaram o preço do feijão, arroz, fubá, carne, sabão, detergente, frango, papel higiênico, sabonete. O que dizer destas pessoas que se aproveitam de um momento como este para lucrar mais e dificultar a vida da população de baixa renda? É a lógica do capitalismo selvagem e excludente.


         É fato que a chegada do coronavírus pegou  governos, empresas e o todo povo despreparado para uma situação de guerra. Nós, bonjardineses, estamos fazendo muita coisa errada ao descumprir as orientações das autoridades de saúde. É aquela falsa segurança, falsa sensação de que não vai acontecer aqui em nosso território. E como se justifica: "É a necessidade de trabalhar para garantir a comida na mesa para as famílias"... É gente sem noção se expondo na rua, desafiando a ciência e o grande número de mortos já registrados na China, Itália, Espanha, Irã, Estados Unidos e agora se multiplicando diariamente no Brasil. 
        Só Deus para nos livrar da morte. Uma pessoa contaminada com o coronavírus pode contaminar mais cem pessoas rapidamente. Há muito descuido, teimosia, falta de consciência entre nós. Há oportunismo de alguns políticos que vivem do clientelismo, negociatas, truques, vantagens descabidas até nestas horas. Há também representantes do povo que somem.

        A feira  livre,  um lugar bonito, democrático, ambiente cultural, agora ficou perigoso com a possibilidade do ataque de um inimigo invisível.  Feirantes vacilam,  colocam produtos, alimentos no chão da rua suja, contaminada. Dinheiro circula de mão em mão. Mãos que não se cuidam com luvas,  água e sabão ou álcool em gel. Cadê a presença do poder público para promover uma ação educadora, fiscalizadora de apoio? Varredores de rua que recebem menos de salário mínimo arriscam suas vidas todos os dias, são pessoas simples, heróis anônimos que merecem todo apoio e respeito da população. Não é para qualquer um deixar a cidade limpa. Não é fácil.  Mototaxistas foram impedidos de trabalhar. O capacete pode propagar o vírus para os passageiros. Poderia haver uma outra saída neste caso?


        A campanha de vacinação começou contra os três tipos do vírus influenza e parou por  falta de vacinas. Falta máscaras, falta álcool em gel no comércio, e nos postos de saúde. O prefeito João Lira fez distribuição de kits contendo material de limpeza para uns e  kits contendo cestas básicas para outros. Será que essas medidas são bem aplicadas, resolvidas ou são feitas no calor de um grave problema social? Qual o peso destas ações  em ano eleitoral? Será que os verdadeiros necessitados serão contemplados? O que será feito para atender a população que vive em situação de vulnerabilidade mais grave? A prefeitura tem um plano econômico para socorrer com um empréstimo pequenos comerciantes por um período de três ou até seis meses? E como ficam os idosos que ainda não possuem aposentadoria, doentes, desempregados, endividados que trabalham fazendo bico, feirantes que não podem vir vender seus produtos na feira livre?

        O ex-presidente Lula aconselhou que é preciso colocar dinheiro na mão dos pobres, dos trabalhadores para fazer justiça social e manter a economia em equilíbrio. Bolsonaro queria destinar R$ 200,00 para o trabalhador autônomo. A Câmara ouvindo as pressões que vêm  das ruas aprovou um auxilio emergencial de R$ 600,00 para ajudar trabalhadores autônomos durante 90 dias. Bolsonaro ainda chegou a editar uma Medida Provisória que permitia suspender salários de trabalhadores com carteira assinada por até quatro meses. Pense o que seria do trabalhador ficar sem receber seu salário por este período?

        No hospital municipal uma equipe de bravos guerreiros, funcionários efetivos e contratados atendem o povo com muita coragem e também medo dos riscos. Nosso hospital não tem estrutura para receber alguém que esteja com essa doença respiratória. Hospitais de Pernambuco e do Brasil também não terão condições de atender muitos pacientes. É preciso ter cuidado, ficar em casa, cobrar do prefeito, do governador e do presidente ações imediatas para que não haja necessidade do povo ficar na rua multiplicando as chances de uma pandemia em Bom Jardim . Por que a prefeitura não compra e instala  uns quatros respiradores no hospital Miguel Arraes? Por que os deputados federais, estaduais  não fazem doação destes equipamentos para nosso hospital? A Câmara de Vereadores pode comprar um equipamento deste para doar ao hospital?  Por que falta equipamentos, estrutura hospitalar?

        Bom Jardim não tem estrutura para salvar pacientes com coronavírus. A solução é atender as recomendações exitosas da OMS para poupar vidas e atenuar o número de mortes provocado por uma pandemia regional a exemplo do que acontece em diversas parte do mundo. É preciso unir esforços neste sentido. Precisamos ser solidários com todos. O Brasil tem 114 mortes  e 3904 casos confirmadas. Pernambuco tem 5 óbitos e 68 casos confirmados. Estados Unidos contabiliza mais de 2000 mil mortos. Na Itália são mais de 10.000 mortos. Peçamos proteção à Deus para superar este grande desafio. É preciso ter calma, manter o foco nos cuidados para neutralizar o vírus.. 


Foto:Feira Livre de Bom Jardim-PE, em tempo de covid19.
Por Edgar Santos - 28/03/2020.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Bolsonaro atropela, finge, joga o povo no abismo. Justiça federal proíbe governo de veicular campanha contra isolamento social


Cena do vídeo da campanhaDireito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionGoverno diz que vídeo foi feito em caráter experimental e não chegou a ser divulgado em canais oficiais
A Justiça Federal proibiu na manhã deste sábado (29/03) o governo federal de veicular a campanha "O Brasil não pode parar" contra as medidas de isolamento social adotadas por Estados brasileiros nas últimas semanas para combater a pandemia do novo coronavírus.
A decisão em caráter liminar foi tomada pela juíza Laura Bastos Carvalho em resposta a uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, que argumenta no processo que a campanha é abusiva e pode levar a população a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde.
A juíza ordena que o governo se abstenha de divulgar peças publicitárias desta campanha ou qualquer que "sugira à população brasileira comportamentos que não sejam estritamente embasados nas diretrizes técnicas, emitidas pelo Ministério da Saúde, com fundamento em entidades científicas de notório conhecimento no campo de epidemiologia e de saúde pública".
Isso se aplica a todos os perfis oficiais vinculados ao governo federal em redes sociais, aplicativos de mensagens ou qualquer outro canal digital.
O governo deve ainda, em até 24 horas, divulgar em canais de comunicação físicos ou digitais uma nota em que reconhece que a campanha não está embasada em informações científicas e que, portanto, seu conteúdo não deve ser seguido pela população ou por autoridades como embasamento para decisões relativas a medidas de saúde pública.
O Planalto também é obrigado a promover uma campanha de informação sobre as formas de transmissão da covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus, seguindo as recomendações técnicas atuais, no prazo de 15 dias.
Enquanto isso não for feito, diz a juíza, as empresas responsáveis pelas redes sociais Facebook, Twitter e Instagram, pelo portal YouTube e pelos aplicativos de mensagem WhatsApp e Instagram devem impedir a circulação de áudios, vídeos ou imagems relativos à campanha nem usar hashtags associados a ela.
Estas companhias também devem veicular em massa mensagens que esclarecem à população que o distanciamento social deve ser mantido até que testes e dados científicos apontem que as atividades podem ser gradualmente retomadas e que países que demoraram a adotar essas medidas "registram milhares de mortes e colapso de seus sistemas de saúde".
O descumprimento da decisão implicará no pagamento de uma multa de R$ 100 mil por infração.

Planalto nega que tenha veiculado campanha

Em nota, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) informou que o vídeo da campanha que circula em redes sociais foi produzido em caráter experimental e seria uma "proposta inicial para possível uso nas redes sociais, que teria que passar pelo crivo do Governo". Mas, segundo a Secom, a campanha "não chegou a ser aprovada".
A juíza, em sua decisão, afirma que a campanha foi promovida em publicações oficiais do governo. A Secom afirma por sua vez que ela não foi veiculada "em qualquer canal oficial do governo federal".
"Cabe destacar, para não restar dúvidas, que não há qualquer campanha do governo federal com a mensagem do vídeo sendo veiculada por enquanto, e, portanto, não houve qualquer gasto ou custo neste sentido", diz nota.
"Também se deve registrar que a divulgação de valores de contratos firmados pela Secom e sua vinculação para a alegada campanha não encontra respaldo nos fatos. Mesmo assim, foram alardeados pelos mesmos órgãos de imprensa, que não os checaram e nem confirmaram as informações, agindo, portanto, de maneira irresponsável."

Bolsonaro ignora evidências científicas, diz MPF

Na ação, o MPF-RJ diz que, "desde a emergência da crise sanitária decorrente da pandemia causada pelo novo coronavírus, o Presidente Jair Messias Bolsonaro tem sistematicamente negado a gravidade da Covid-1910, a despeito dos conhecimentos científicos até agora angariados sobre o vírus e o estado de pandemia mundial".
Em pronunciamento pela televisão na última terça-feira (24/03), o presidente atacou governadores, criticou o fechamento de escolas e comércio e disse que o Brasil deveria "voltar à normalidade" mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus.
Retrato de Jair BolsonaroDireito de imagemREUTERS
Image captionEm pronunciamento, Bolsonaro disse que Brasil deveria 'voltar à normalidade' mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus
"Nossa vida tem que continuar. Os empregos devem ser mantidos. O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércio e o confinamento em massa", disse Bolsonaro.
"O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Então, por que fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs, com menos de 40 anos de idade. Noventa por cento de nós não teremos qualquer manifestação, caso se contamine."
A fala provocou repúdio de parlamentares, profissionais de saúde, opositores e até aliados do presidente.

Campanha pode gerar danos irreparáveis á população, diz juíza

De acordo com a juíza Laura Bastos Carvalho, os dados mais recentes apontam que há até o momento 3.417 casos confirmados do novo coronavírus no Brasil e 92 mortes e que o vírus está circulando livremente entre a população, algo que foi oficialmente reconhecido pelo Ministério da Saúde.
A redução da velocidade do surgimento de novos casos é indicado "pela comunidade científica como medida necessária para que os sistemas de saúde mantenham sua capacidade de tratar os doentes, sob pena de entrarem em colapso, o que resultaria em um número muito maior de mortes — tanto por covid-19 como por outras causas", disse Carvalho.
Na decisão, ela cita um estudo da Imperial College of London que aponta que as medidas de isolamento social poderiam reduzir pela metade o número de mortos em comparação com a adoção de medidas de distanciamento social, que são menos rígidas e amplas.
"O incentivo para que a população saia às ruas e retome sua rotina, sem que haja um plano de combate à pandemia definido e amplamente divulgado, pode violar os princípios da precaução e da prevenção, podendo, ainda, resultar em proteção deficiente do direito constitucional à saúde, tanto em seu viés individual, como coletivo. E essa proteção deficiente impactaria desproporcionalmente os grupos vulneráveis, notadamente os idosos e pobres", afirma a juíza.
"Na dita campanha não há menção à possibilidade de que o mero distanciamento social possa levar a um maior número de casos da Covid-19, quando comparado à medida de isolamento, e que a adoção da medida mais branda teria como consequência um provável colapso dos sistemas público e particular de saúde. A repercussão que tal campanha alcançaria se promovida amplamente pela União, sem a devida informação sobre os riscos e potenciais consequências para a saúde individual e coletiva, poderia trazer danos irreparáveis à população."
Com informação da BBC.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Sair do isolamento agora é querer voltar a mundo que não existe mais, diz virologista Atila Iamarino




Retrtao do Virologista Atila IamarinoDireito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionDoutor em microbiologia pela USP, Iamarino estuda a disseminação de vírus e a forma como evoluem
Interromper agora as medidas de isolamento contra o novo coronavírus é querer voltar a uma realidade que não existe mais, alerta é o biólogo e divulgador científico Atila Iamarino.
O mundo (e o Brasil) mudaram com a disseminação do novo coronavírus, e a preocupação de governos e empresas agora deveria ser a de se preparar para esta nova realidade, diz ele em entrevista à BBC News Brasil.
Nos últimos dias, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e alguns empresários têm insistido na necessidade de restabelecer o funcionamento do comércio e de outros serviços.
Carreatas com essa bandeira foram organizadas em diversas cidades brasileiras. O argumento é de que os danos econômicos serão irreversíveis caso o país continue parado por muito tempo.
O consenso entre cientistas da área, no entanto, é de que é fundamental manter medidas de isolamento social por enquanto, diz Atila — inclusive para ganhar tempo a fim de trabalhar em alternativas.
"Manter as medidas que a gente tem agora é o que vai fazer dar tempo para buscarmos outras medidas lá na frente. Na verdade, parar agora é ganhar o tempo para fazer escolhas", diz ele.
Doutor em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP), Atila concluiu dois pós-doutorados estudando a disseminação (ele prefere o termo "espalhamento") dos vírus e a forma como esses organismos evoluem. Um desses pós-doutorados foi na própria USP, e o outro na Universidade Yale, nos Estados Unidos.
Em sua carreira, o pesquisador de 36 anos estudou vírus como ebola e HIV. A ideia desse tipo de pesquisa, explica ele, é analisar o material genético dos vírus para entender como eles se propagam entre os humanos.
Atila se tornou conhecido por sua participação no canal de YouTube do Nerdologia, um dos maiores do país. Nos últimos dias, tem feito transmissões ao vivo sobre o novo coronavírus.
Uma delas atingiu a marca de 5,2 milhões de visualizações em menos de uma semana e fez com que o nome do biólogo chegasse à lista de assuntos mais comentados pelos brasileiros no Twitter.
Atila conversou com a BBC News Brasil por telefone, na última quarta-feira (25/02). Confirma a seguir alguns dos principais trechos da entrevista.
BBC News Brasil - À luz do que já se sabe sobre a pandemia, o que você acha das últimas intervenções presidente da República, Jair Bolsonaro, dizendo que o país precisa "voltar à normalidade"?
Atila Iamarino - Eu acho que não importa (o discurso do presidente). Felizmente, isso vai contra o que todos os países estão fazendo. Quase que sem exceção. Todos os países sobre os quais estou informado estão tomando medidas na direção contrária, de fechar em diferentes graus, e até de deixar a população em casa, como a Índia acabou de fazer com mais de 1 bilhão de pessoas.
Então, em relação às políticas internacionais, não faz sentido (o discurso de Bolsonaro).
E, aqui dentro do país, não nos importa, porque os Estados e as cidades estão tomando medidas para fechar em diferentes graus. Todos os Estados adotaram medidas para restringir o comércio não essencial, e restringir a circulação das pessoas. Estão de acordo com a orientação internacional.
Portanto, em última análise, tanto faz o que o presidente falar, desde que as cidades e os Estados continuem agindo como estão agindo.
A esta altura, dado o pouco tempo que a gente tem, a gente precisa focar, na verdade, em atitudes. O país, os Estados e as cidades estão tomando atitudes que vão proteger as pessoas? Estão. Então, tá ótimo, tanto faz o que estão falando.
A gente tem três, quatro meses para agir, dado qualquer estudo sobre como é o espalhamento desse vírus.
Atila IamarinoDireito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionPara Atila, tanto faz o que o presidente fala, desde que as cidades e os Estados continuem agindo como estão
BBC News Brasil - A exemplo do presidente da República, outras pessoas se mostram preocupadas com o efeito econômico do isolamento. Nesta semana você disse ao podcast Xadrez Verbal que essa perspectiva é um tanto "inocente". Por quê?
Iamarino - Existe uma preocupação séria com a economia, claro. E uma preocupação legítima seria a de como adequar a economia a essa nova realidade (imposta pelo vírus). O que a gente pode fazer para que os comércios consigam vender online e fazer entregas da melhor maneira possível; o que a gente pode fazer para que as pessoas consigam trabalhar à distância da melhor maneira possível.
Que medidas econômicas a gente pode tomar para que as pessoas continuem em casa e continuem com uma vida produtiva, e tenham condições de se manter, porque nem todo mundo pode continuar trabalhando de casa.
Existe um problema econômico, muitos países estão cientes e tomando medidas sérias para saná-lo.
Isso é diferente de ter uma preocupação econômica de não deixar a situação mudar. Isso pra mim é muito mais um luto do que uma preocupação séria. E não acho que seja uma decisão deliberada das pessoas fazer isso.
Mas quem ainda está pensando em não deixar a economia atual desandar, na verdade, está tentando resgatar um mundo que não existe mais. Que é o mundo de janeiro de 2020.
O mundo mudou, e aquele mundo (de antes do coronavírus) não existe mais. A nossa vida vai mudar muito daqui para a frente, e alguém que tenta manter o status quo de 2019 é alguém que ainda não aceitou essa nova realidade.
Jair Bolsonaro fala à imprensaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionBolsonaro criticou o fechamento das escolas e disse que medidas de distanciamento social afetariam o desempenho da economia
BBC News Brasil - Mas o que será diferente? Por que você diz que o mundo do fim de 2019 "acabou"?
Iamarino - Bem ou mal, involuntariamente, o mundo inteiro está passando por um experimento agora. A gente está vendo como diferentes regimes políticos, sistemas de organização social e diferentes medidas funcionam contra o coronavírus e grandes problemas de saúde pública.
A gente está vendo países que jamais cogitariam isso em outras situações, como os Estados Unidos, aceitando que é necessário dar um suporte financeiro grande para seus cidadãos e distribuindo dinheiro. Empresas descobrindo o quanto as pessoas produzem ou não trabalhando de home office. Escolas descobrindo o quanto os alunos aprendem ou não por conta própria, em casa, e qual o valor ou não de usar o ensino à distância.
A gente está descobrindo o que são os serviços essenciais, e estamos voltando a entender o valor de ciência, da mídia (profissional) e dos serviços de saúde. E de sistemas que são fundamentais desde sempre, mas que, em períodos de bonança, são fáceis de negligenciar.
O sistema de saúde de vários países vai ter que ser reavaliado. Garanto para você que o sistema de saúde norte-americano vai ter um estresse maior que o do resto do mundo, inclusive pelo modelo (sem saúde publica universal) de tratamento que eles seguem.
A gente vai descobrir quais são as vulnerabilidades que o regime de trabalho moderno, com terceirização, com trabalho por aplicativo, cria num momento desses. A gente vai descobrir mais cedo também a importância de se usar sistemas de venda online, de pagamentos sem contato e outras coisas.
Mudanças que o mundo levaria décadas para passar, que a gente levaria muito tempo para implementar voluntariamente, a gente está tendo que implementar no susto, em questão de meses.
Então, independentemente da progressão da pandemia e das mortes que podem acontecer ou não, só as mudanças para se adaptar a ela já estão adiantando ou atrapalhando alguns passos que a humanidade daria nas próximas duas décadas.
E ainda tem — e isto está em aberto e a resolver — qual vai ser o trauma das pessoas. O que é que este período de confinamento fará conosco, se a relação entre os familiares aumenta ou diminui. Como as pessoas vão suportar esse período de isolamento, que valor que a gente vai dar para uma reunião, um almoço, uma festa, algo assim.
Tudo isso vai ser muito diferente quando a gente sair do surto.
BBC News Brasil - O que aconteceria com a economia se nada fosse feito?
Iamarino - Vamos supor que a gente seguisse a recomendação de alguns e, no máximo, isolasse os idosos ou fizesse algo assim.
Numa realidade dessa, se você é dono de uma empresa e os seus funcionários pegam a covid-19, em menos de um mês a empresa inteira estaria contaminada, pelo menos 10 a 20% dos seus funcionários precisariam ser hospitalizados.
Os outros 80% vão ter graus diferentes de complicação, e alguns vão precisar trabalhar de casa, ou parar de trabalhar por causa de febre, dor de cabeça, dor no corpo.
Então, mesmo se a gente não fizer nada, se a covid-19 chega numa empresa, parte dos funcionários some. Parte não vai ter condições de trabalhar, e a parte que ficar trabalhando não vai ter nem a moral, nem o estado de saúde para render o que rendia. Mesmo que a gente não fizesse nada, a economia já ia sofrer e muito com a queda de produtividade.
Então, é uma realidade que nos foi imposta, na verdade. Quem está tentando manter a economia de 2019 está se recusando a aceitar essa realidade. Na verdade a gente já deveria estar virando a chave e tentando entender como sair do outro lado.
Dando um exemplo meu: tem um restaurante aqui perto de casa que frequento regularmente. Não cheguei para eles e falei "Olha, quando o covid-19 vier, não feche". Porque eu sei que não existe essa possibilidade. Eu falei para eles: "Avise seus clientes que você faz entrega. Já vai testando os diferentes aplicativos de entrega para ver quem cobra a melhor taxa. Já prepara as pessoas que trabalham na cozinha para revezar turnos, e se prepara financeiramente, por que vai ser um impacto grande". Tenho que aceitar que isso aconteceu e mudou.
BBC News Brasil - A Coreia do Sul parece estar tendo sucesso com uma abordagem que combinou testes em massa, uso de aplicativos de celular e isolamento dos doentes. E que permitiu manter a economia funcionando. Algo parecido teria sido feito no Japão. Uma abordagem desse tipo seria viável aqui?
Iamarino - Ela pode ser viável. A questão é que a gente ainda não tem a infraestrutura pronta aqui no Brasil para produzir o volume de testes necessário. E importar esses testes leva tempo, porque o mundo inteiro está tentando comprá-los agora.
Então, parar, manter as pessoas em casa, manter essa quarentena, manter esse isolamento e esse distanciamento dá o tempo necessário para a gente poder chegar nessa situação, inclusive.
Tem diferentes respostas, e parar o país não precisa ser a única coisa que a gente vá fazer. A questão é que, em qualquer estimativa de crescimento da covid-19, o problema vai se impor em questão de meses, até o fim de agosto provavelmente, se nada for feito.
Manter as medidas que a gente tem agora é o que vai fazer dar tempo para buscarmos outras medidas lá na frente. Na verdade, parar agora é ganhar o tempo para fazer escolhas.
Pessoa sendo submetida a teste de temperaturaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA testagem em massa é uma das razões para que a Coreia do Sul esteja conseguindo controlar a covid-19
BBC News Brasil - Dias atrás, seu nome chegou aos assuntos mais comentados do Twitter, depois que você mencionou a possibilidade de 1 milhão de mortos no país. Que avaliação você faz hoje desse episódio?
Atila Iamarino - Essa experiência me mostrou como uma mensagem pode ser fragmentada e pulverizada na internet. Porque, por mais que tenha feito um vídeo com todos os cuidados, para dizer "isso não é um destino, não é uma profecia, é o cenário em que nada é feito, ou pouco é feito, e o que a gente quer é não ter esse cenário".
Não estava fazendo previsões, estava extrapolando (para o Brasil) os números de um estudo que estava prevendo o que acontece. E são números com os quais o Ministério da Saúde e as secretarias de Saúde (de Estados e municípios) estão trabalhando também. Se você leva em conta quando eles falam, por exemplo, que até metade do país pode pegar, isso é o consenso (científico), na verdade.
Pelo menos metade das pessoas precisaria pegar covid-19 e se imunizar para o problema se resolver sozinho. Na falta de uma vacina, na falta de uma solução de larga escala, a transmissão começa a cair quando pelo menos metade das pessoas pega o vírus. E tende a acabar quando lá pelos 60, 70, 80% (das pessoas desenvolveram imunidade), dependendo da simulação.
Isso é o consenso, e digo que é porque já foi inclusive dito pelo Ministério da Saúde. E quando você lida com esses números e imagina o que é 1% de mortalidade de 50% dos brasileiros, fica evidente que a escala é essa mesmo. Está todo mundo lidando (com estes números).
O choque do que eu falei foi simplesmente colocar isso 'na lata' e falar para as pessoas de uma forma que, por mais que estivesse dentro de um contexto ali, foi picotado e espalhado de outra forma na internet.
O grande problema é em quanto tempo isso (as mortes) tendem a acontecer. Vou pegar um exemplo que está todo mundo dando. "Acidentes de carro matam 300 mil pessoas por ano e nem por isso a gente diz para as pessoas não andarem de carro." Com razão: a gente toma uma série de medidas para proteger as pessoas, para diminuir esse número. Agora, se todas essas mortes acontecessem num intervalo de um mês, de uma semana, em uma única região, isso com certeza seria uma coisa traumática e preocupante.
Esse é o ponto da covid-19: se ela for espalhada ao longo de um ano, de dois anos, porque a gente tomou medidas para que isso, porque deu tempo de surgir uma vacina, deu tempo de um tratamento ser validado, isso é uma coisa que a sociedade absorve e sai do outro lado como se fosse uma gripe mais séria mesmo. Mas, para que isso seja uma gripe mais séria, a gente tem que trabalhar muito.
Meu ponto era esse, na verdade. Estava querendo comunicar não o número (de um milhão de mortes), que pode mudar, mas a ideia de que esse número mude. As medidas que foram tomadas no dia seguinte ao que eu falei (como o fechamento do comércio) já contribuem, e muito, para isso, para mudar o cenário, para que este número não aconteça.
O importante era que as pessoas entendessem que a situação mudou. E que elas não estão ficando em casa porque é só um probleminha, é que a vida de muita gente depende disso. E a gente tem que começar a trabalhar e pensar sobre como viabilizar essa nova vida de uma maneira que seja mais próxima do normal que a gente tinha antes. Porque aquele normal não existe mais.
BBC News Brasil - Brasília foi uma das primeiras cidades a fechar o comércio, em 19 de março. Muita gente na época considerou essa medida precipitada, diante da possibilidade de vários meses de isolamento. Hoje ainda dá para dizer isso?
Iamarino - Pelo contrário. A diferença entre a Itália e a China foi de menos de uma semana, do momento em que passaram de cem casos para o momento do isolamento. E a Itália foi pelo caminho que foi. Esse é o problema, na verdade. A covid-19 se espalha muito rápido. E causa problemas muito cedo. O ideal é que a gente pare o quanto antes e, depois, revise para ver se aquilo era o ideal de ter sido feito ou não. No caso dessa doença, pela velocidade com que ela se espalha, é preferível errar pela (pelo excesso de) precaução, na verdade.
A gente tem o privilégio, aqui no Brasil, de ter recebido poucos visitantes de fora, de estarmos distantes o suficiente da China para a doença não chegar aqui antes. Então, a gente está a um mês, vinte dias, dez dias atrás da situação de vários países, de modo que a gente pode acompanhar o crescimento deles e ver o quanto poderemos ser afetados.
Um exemplo bem prático e muito direto para o Brasil: o nosso crescimento do número de casos, até aqui pelo menos (quarta-feira, 25 de março) está dobrando a cada três dias. Esse é um ritmo de crescimento pior do que o da Itália. E muito parecido, muito próximo do da Espanha. Que demorou até mais tempo que a Itália, desde os cem casos, para parar (as atividades).
Então, a gente já tem uma régua para medir. A gente está 11 ou 12 dias atrás da Espanha em termos epidemiológicos, em número de casos e evolução da doença. E a gente leva um tempo para ver se as medidas funcionaram. Se daqui a um mês, no começo de abril, a gente estiver crescendo menos que o surto espanhol cresceu até lá, a gente vai saber que as medidas estão funcionando.
Tem outros países que entraram no surto antes da gente e que estão em situação melhor ou pior e nos quais a gente pode se espelhar. Se nosso crescimento deixar de ser um dos piores, como o da Espanha, e passar a ser um dos melhores ou cair para outro patamar, a gente tem como saber que as nossas medidas funcionaram, porque já temos a experiência deles para comparar.
Também vamos ver a diferença entre regiões. Se Brasília, que adotou medidas antes, tiver um crescimento menor do que em São Paulo, ou do Rio, que levou um pouco mais de tempo, ou de outro lugar, a gente vai saber disso. E, de repente, podem voltar a relaxar mais cedo, porque a coisa funcionou. Mas o ponto é: parar antes te dá essa liberdade de olhar, respirar, ver o que aconteceu e decidir. Não parar é o que a Itália fez. E, se você não para, a covid-19 para você.
Mulher em isolamento socialDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionIsolamento social é recomendado por autoridades para evitar a propagação do novo coronavírus, que já infectou mais de 480 mil pessoas pelo mundo
BBC News Brasil - Uma quarentena formal, com a polícia impedindo as pessoas de saírem de suas casas, seria apropriado ou necessário?
Iamarino - Talvez seja necessário, mas não sei se seria apropriado. Foi o que a China fez, e o corpo técnico e científico da Organização Mundial de Saúde que avaliou a resposta chinesa classificou a ação deles como a mais coordenada, a mais rápida, mais agressiva e intensiva que a humanidade já viu para conter uma doença.
Acho inclusive que isso descalibrou o que o mundo esperava da covid-19. Não estando na realidade da China, é difícil entender a escala massiva do que eles fizeram. O que os outros cientistas que leram esse relatório técnico questionaram é quais são os princípios humanos e éticos violados para isso. E quem questiona isso diz que justamente o resto do mundo não necessariamente toleraria alguma coisa nessa escala. O que a Europa está tentando agora é alguma coisa próxima disso, dentro do que a realidade europeia permite. E a gente tem como acompanhar, de um mês atrás ou vinte dias atrás, o quanto está sendo efetivo ou não.
Talvez seja necessário, mas eu sinceramente não sei dizer. A gente vai descobrir com a Itália e a Espanha agora. A Itália tomou meias medidas e está conseguindo reduzir um pouco da mortalidade, mas não necessariamente conter (a epidemia). Talvez a gente descubra com o tempo que seja a única saída (a quarentena). Mas, de novo: precisamos ganhar tempo para poder descobrir isso antes de ter um problema maior.
BBC News Brasil - Por enquanto, a abordagem brasileira é a de reservar os testes para quem está internado, em mau estado de saúde, e para os profissionais de saúde. Essa estratégia não seria contraproducente, no sentido de que poderemos acabar gastando mais com UTI depois?
Iamarino - Não chamaria de estratégia, na verdade. Isso é o último recurso. Quando você não tem testes suficientes, é obrigado a reservar eles para o pior momento, que é quem está sendo internado. Ou, se a situação ficar mais crítica e o volume de testes continuar sendo pequeno, para diagnosticar quem morre, na verdade.
Não acho que essa situação seja uma opção. É o que a gente consegue fazer com os poucos recursos que a gente tem. Daí (a importância de) ganhar mais tempo para produzir e distribuir esses testes por aqui. Porque se a gente comprar agora 200 milhões de kits para testar cada brasileiro, mas os kits levarem 3 meses para chegar, quando eles chegarem, a gente arrisca que boa parte dos brasileiros esteja com covid-19.
Por isso meu pragmatismo. A única saída agora é tentar ganhar tempo para buscar novas soluções. Qualquer coisa que não contribui para isso não importa mais.
Médico com máscara segurando tubo de exame de coronavírusDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionFoi com a chegada do vírus a outros países depois da China que tivemos noção do tamanho do problema, segundo cientista
BBC News Brasil - Como a sua percepção sobre o novo coronavírus mudou desde o começo da crise? Qual informação ou detalhe fez você mudar de ideia?
Iamarino - Tudo o que a gente estava entendendo sobre o espalhamento da covid-19 no mês de janeiro era baseado na experiência de um país, a China, que implementou uma solução que é impraticável (na maioria dos lugares) e inédita no mundo.
Então, as estimativas de número de casos, de contágios, de número de mortos e qualquer coisa do tipo que a gente tinha no primeiro mês foram feitas dentro de um cenário que é impraticável para o resto do mundo. A gente estava muito descalibrado do que esperar da covid-19. Quando ela saiu da China para a Itália, para a Coreia do Sul e para o Irã, a coisa explodiu nos países todos. (A exceção é) a Coreia do Sul, que já teve problemas com a Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio) e, por isso, estava muito preparada para a covid-19 agora.
Foi aí (com a chegada aos outros países) que a gente teve noção do tamanho do problema, de fato. E aí a estimativa de quanto tempo ia levar para a covid-19 se espalhar num país, que poderia ser de até um ano, dois anos, caiu para três a cinco meses. Esse é um tempo que não dá nem para distribuir qualquer coisa, mesmo que a gente já tivesse uma solução na manga.
Minha opinião mudou muito, mesmo, quando começaram a sair os primeiros grandes estudos olhando para o espalhamento da doença fora da China e dizendo que ela toma conta da população em três a cinco meses. Isso é menos que qualquer tempo de resposta de qualquer país, de qualquer infraestrutura, a não ser da China. Minha opinião mudou muito não quanto ao perigo do vírus — sobre isso a gente já tinha estimativas boas —, não sobre a seriedade de um problema desses, porque eu já estudo espalhamento de vírus há muitos anos, mas quanto ao tempo de resposta que a gente tem.
BBC News Brasil - O que se sabe até agora sobre a imunidade ao vírus? Uma vez que você tenha a doença e se cure, você para de transmitir?
Iamarino - O que a gente sabe é que, para a maioria das pessoas, em até 14 dias depois dos sintomas surgirem você está curado. E não transmite mais. A China, por precaução, prorrogou esse período para 28 dias, porque algumas pessoas continuavam com o vírus incubado no corpo por mais tempo e acabavam desenvolvendo os sintomas mais na frente. Eles não viram muita transmissão (vindo) destas pessoas, mas, para poder garantir a interrupção da cadeia de transmissão, eles as estavam isolando de qualquer forma.
O que a gente entendeu, olhando para as pessoas, é que acontece de elas testarem negativo para o vírus, depois de 14 dias, mas mesmo assim ter uma produção pequena de vírus no pulmão e depois de um tempo voltarem a testar positivo.
A gente não pode fazer experimentos em pessoas para saber se a imunidade protege 100%. Mas, em macacos, já fizeram, e eles estavam totalmente imunes ao Sars-Cov-2. O macaco rhesus (primata originário da Índia e amplamente usado em laboratórios) que pega a covid-19, quando se cura, não pega mais.


E tem uma possibilidade, que é o que acontece com a Mers, também causada por (um outro tipo de) coronavírus. Por volta de um ano ou dois depois que a pessoa pega, ela pode voltar a contrair, mas desenvolve sintomas muito mais leves. Esse é o precedente que a gente tem, mas ainda não tem um ano de covid-19 para saber se isso vai acontecer com a gente.
Professor Edgar Bom Jardim - PE