domingo, 23 de fevereiro de 2020

Brasil é principal mercado de agrotóxicos 'altamente perigosos', diz ONG





Homens fumigando plantaçãoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMaior parte dos pesticidas considerados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente é vendidos a países pobres ou emergentes

Aproximadamente um terço da receita das principais fabricantes de agrotóxicos do mundo vem de produtos classificados como "altamente perigosos" — que têm como destino, em sua maioria, países emergentes, como Brasil e Índia, e países pobres.
Essa foi a conclusão de um levantamento feito pela Unearthed, organização jornalística independente financiada pelo Greenpeace, em parceria com a ONG suíça Public Eye. Em 2018, as vendas desse tipo de pesticida renderam cerca de US$ 4,8 bilhões às cinco maiores companhias do setor.
"Quase metade (41%) dos principais produtos das gigantes agroquímicas Basf, Bayer, Corteva, FMC e Syngenta contêm pelo menos um pesticida altamente perigoso (HHP, sigla em inglês para highly hazardous pesticides)", afirma a publicação.
As vendas dessas mercadorias, por sua vez, representaram 35% da receita das cinco multinacionais, segundo a Unhearted. Mais de dois terços das vendas foram feitas a países de renda média e baixa, sendo o Brasil o principal mercado.
"O Brasil compra mais pesticida do que qualquer outro país", diz a publicação. "A aprovação de novos produtos pesticidas por reguladores brasileiros, incluindo os que contêm HHPs, cresceram nos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro."
As empresas citadas discordam dos números por questionarem a classificação de agrotóxicos "altamente perigosos" feita pela Pesticide Action Network (PAN) e utilizada como base pela publicação.
Em entrevistas em meados do ano passado, quando o Brasil liberou novos defensivos agrícolas no mercado, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que os produtos não eram "veneno no prato de ninguém" se fossem usados corretamente e que os produtos novos são "menos tóxicos".

Fumigação de uma plantação de soja no BrasilDireito de imagemAFP
Image captionGrandes culturas de soja e milho transformaram o Brasil no principal comprador de agrotóxicos do mundo

'Altamente perigosos'

O levantamento da Unearthed com a Public Eye apontou ainda que 27% dos agrotóxicos vendidos em países ricos são considerados altamente perigosos. No Reino Unido, a proporção é de apenas 11%.
Por outro lado, 45% dos agroquímicos vendidos pelas cinco empresas em países de renda média e baixa se encaixam na categoria. Na África do Sul, a cifra sobe para 65%, na Índia, para 59% e no Brasil, para 49%.
O Brasil é o país que mais compra pesticidas no mundo, diz o levantamento, movimentando um total estimado em US$ 3,3 bilhões (R$ 14,5 bilhões) apenas em 2018 - ano do recorte da pesquisa. Os produtos são usados principalmente para o cultivo de soja, milho e algodão.
A vizinha Argentina comprou aproximadamente US$ 229 milhões em agrotóxicos no período, sendo 47% deles de HHP. Já o México, US$ 115 milhões, sendo 42% HHP.

Como o levantamento foi feito

A Unearthed e a Public Eye analisaram dados dos 43 países que mais consomem pesticidas no mundo, cruzando-os com a lista de produtos altamente perigosos da Pesticide Action Network (PAN).
A tabela — questionada pelas empresas citadas — inclui produtos que contenham pelo menos um componente identificado como altamente prejudicial à saúde ou ao meio ambiente por autoridades como a Organização Mundial de Saúde, a Agência Europeia de Substâncias Químicas, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer e a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.
"Os critérios considerados pela PAN são com frequência critérios ambientais ainda sem consenso ou respaldo (da OMS ou da FAO, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura)", afirmou Christoph Neumann, diretor de regulação internacional da CropLife, grupo lobista do qual fazen parte as cinco multinacionais mais a japonesa Sumitomo.
Ele acrescentou que 19 entre os produtos classificados como altamente perigosos e mais comercializados, 12 têm a venda permitida na União Europeia e 18, nos Estados Unidos.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, a Bayer qualificou a análise feita pela Unearthed como "enganosa", ainda que não tenha apresentado outros dados.

BayerDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionGrandes empresas do setor questionam classificação de muitos dos pesticidas considerados altamente perigosos

A CropLife já argumentou no passado que os HHP são uma ferramenta importante para lutar contra a perda de colheitas e um importante último recurso para produzir alimento suficiente para uma população em crescimento.
O grupo diz ainda que a maior parte dos produtos considerados altamente perigosos vendidos nos países emergentes e pobres não são fabricados por seus membros e que tem "liderado com o exemplo" capacitando milhões de pessoas com técnicas de redução de risco.
Baskut Tuncak, relator especial das Nações Unidas para substâncias tóxicas e direitos humanos, rechaçou, contudo, a ideia de que os riscos representados pelos HHP possam ser manejados de uma forma segura.
"Estamos em meio a uma explosão invisível do uso de agrotóxicos em países de renda média e baixa que estão mal equipados para lidar com esses perigos", afirmou Tuncak à Unearthed.

O que são os HHP

A OMS e a FAO definem os HHP como "pesticidas que reconhecidamente representam riscos agudos ou crônicos à saúde ou ao meio ambiente segundo os sistemas de classificação internacionalmente aceitos".
Os riscos ambientais incluem a contaminação de fontes de água ou a "interrupção de funções do ecossistema", como a polinização.
A ONU, entretanto, não tem uma lista própria dos HHP.
Tomando como a base a tabela compilada pela PAN, quase um quarto das vendas das cinco maiores empresas do setor em 2018 vieram de pesticidas que ofereceriam algum risco à saúde humano, incluindo alguns possivelmente carcinogênicos, enquanto 10% viria de produtos que tóxicos para as abelhas.

Os 'vilões'

Levando-se em consideração o volume de vendas, o destaque é do glifosato, que movimentou mais de US$ 1 bilhão em 2018, de acordo com a publicação.
Desenvolvido pela Monsanto antes de a empresa ser adquirida pela Bayer, o pesticida foi identificado como "possível cancerígeno" pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês), outra classificação questionada pelas companhias e por várias agências reguladoras.

GlifosatoDireito de imagemAFP
Image captionA proibição do glifosato é discutida em vários países europeus

Entre os agroquímicos que poderiam representar perigos crônicos à saúde há o glufosinato, herbicida produzido pela BASF, e o fungicida agrícola ciproconazol, da Corteva, que reguladores da União Europeia já classificaram como prejudiciais para o feto, à fertilidade e à função sexual.
A principal ameaça para as abelhas, por sua vez, são representadas pelos inseticidas neocotinoides produzidos pela Bayer e Sygenta, que já foram proibidos na União Europeia — mas que têm no Brasil um importante mercado.
A suíça Sygenta é também a principal vendedora de pesticidas classificados pela OMS como altamente tóxicos.
Entre eles se destaca o paraquat, herbicida tóxico proibido no país sede da companhia e na União Europeia.
BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Da janela do sobrado a donas da folia: como as mulheres driblaram o machismo na história do Carnaval



Desfile de corso na avenida Beira Mar, no Rio, em 1922Direito de imagemGUILHERME SANTOS/ACERVO MIS-RJ
Image captionA tradição dos 'corsos' carnavalescos começou no Rio de Janeiro e se espalhou para outras cidades do país
Em 2014, depois que viralizou no Facebook a foto em que um homem segurava um cartaz com a frase "eu não mereço mulher rodada", Renata Rodrigues e Débora Thomé decidiram criar um evento na rede social para protestar com humor contra o machismo do post. O sucesso da ideia, que atraiu centenas de participantes, as levou a fundar "o primeiro bloco feminista" do Carnaval do Rio.
"O Carnaval é um espaço muito machista. Quando chegamos, tinha muita mulher segurando estandarte de bloco, mas quase nenhuma tocando ou na produção", diz Renata.
Hoje, Renata, Débora e mais duas amigas são responsáveis pela organização do Mulheres Rodadas, que se prepara neste ano para seu sexto desfile com uma banda formada por 11 mulheres e apenas um homem. Não há uma restrição para a participação masculina entre os instrumentistas, mas a liderança é feminina.
"Os homens já têm esse espaço nos outros blocos. Aqui, fazemos como a gente acha melhor."
Essa é uma transformação recente na história centenária do Carnaval, uma festa na qual, no início, mulheres "de família" não deveriam participar — e, mesmo quando isso mudou, coube a elas um papel secundário e por vezes invisível aos olhos da maioria, em uma folia dominada por homens.
Isso porque, mesmo que o Carnaval seja visto muitas vezes como uma chance de alguém ser o que desejar e de subverter os papéis sociais que exerce no resto do ano, a ideia não passa de um mito, dizem pesquisadores.
"Apesar de se dizer que o Carnaval subverte mecanismos de controle social, ele reflete a vida — e a maneira como os sexos se veem — nos outros 365 dias do ano. A mulher é subjugada no emprego e na família e também é subjugada no momento de festa", diz Olga von Simson, professora do Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autora de Carnaval em Branco e Negro (Edusp).

Entrudos, bailes e corsos

Desfile do Mulheres RodadasDireito de imagemDIVULGAÇÃO
Image captionO bloco feminista Mulheres Rodadas foi criado por duas amigas após um post machista viralizar nas redes sociais
A origem do Carnaval brasileiro remonta aos entrudos, tradição trazida pelos portugueses na época da colonização em que as pessoas saíam às ruas nos dias que antecediam a Quaresma para travar batalhas com baldes, seringas e bisnagas d'água, além de limões e laranjas-de-cheiro, bolas feitas de cera com água perfumada dentro. Esse costume logo se espalhou do Rio de Janeiro para outras cidades do país.
"Mas poucas mulheres participavam, porque, durante todo período colonial, a rua era um espaço masculino. O papel da mulher era ficar em casa", diz Luiz Felipe Ferreira, criador do Centro de Referência do Carnaval e professor do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
O pesquisador explica que era mais comum as mulheres participarem do chamado entrudo familiar, que ocorria dentro das residências. "Essas festas também eram uma forma de contato social e uma chance das mocinhas assumirem a iniciativa nas relações amorosas, ao jogar um limão-de-cheiro no rapaz em que elas estavam interessadas", afirma Ferreira.
Esse tipo de festa reinou sozinha até a primeira metade do século de 19. A partir de então, as antigas tradições ligadas aos portugueses foram aos poucos dando lugar ou se misturando com novos costumes importados da Europa. Entre eles, um Carnaval mais sofisticado e elegante, com bailes a fantasia e desfiles de carros alegóricos, organizados pelos homens que estavam à frente de sociedades carnavalescas.
Nos bailes, as mulheres podiam assistir à festa dos camarotes, mas não pular Carnaval no salão. Também era das janelas dos sobrados que elas viam os carros alegóricos desfilarem pelas ruas.
A participação feminina, entretanto, não era totalmente vetada nos cortejos. "As prostitutas polonesas e francesas das casas mais ricas e sofisticadas desfilavam luxuosamente despidas nos carros. Foram elas, inclusive, que ensinaram aos homens como se fazia um Carnaval, porque muitos deles nunca tinham ido à Europa", diz Von Simson.
A cientista social conta que não demorou para que mulheres cariocas, insatisfeitas por não poderem participar do Carnaval, procurassem o escritor José de Alencar em busca de uma solução. Ele propôs, então, que fossem feitos bailes em que elas "pudessem tomar parte e não ser meras espectadoras".
Os arquivos da Biblioteca Nacional apontam ainda que, em 1907, surgiu no Rio um novo tipo de celebração que seria adotada em outras cidades brasileiras. Nos "corsos", as famílias mais ricas da cidade desfilavam em luxuosos carros abertos pela antiga Avenida Central.
A iniciativa partiu das filhas do então presidente Afonso Pena e foi copiada pelos outros donos de automóveis na época. Os ocupantes jogavam confete, serpentina e lança-perfume em quem estava nos outros carros ao longo do trajeto, enquanto as classes populares assistiam a tudo do chão.
"Mesmo assim, as mulheres participavam dos bailes e desfiles como acompanhantes do pai ou do marido, em um papel secundário de filha ou mulher", diz Ferreira.

As matriarcas do Carnaval

Grupo de foliões no Carnaval de rua do Rio, em 1914Direito de imagemAUGUSTO MALTA/ACERVO MIS-RJ
Image captionCom os blocos e cordões, começou a se afrouxar o controle sobre a participação das mulheres na folia
O controle sobre a participação da mulher no Carnaval começou a se afrouxar com o surgimento dos cordões, blocos e ranchos carnavalescos, na segunda metade do século 19.
Organizados por grupos de amigos e famílias das camadas sociais menos abastadas, os cordões e blocos desfilavam a pé pelas ruas da cidade.
A presença feminina foi de início bastante restrita ou mesmo nula nestes cortejos, porque eles eram proibidos pela polícia. Foi somente mais tarde, nas primeiras décadas do século 20, com o fim da repressão, que as mulheres começaram a participar em maior número.
Já nos ranchos, que faziam desfiles mais organizados e traziam elementos até então inéditos, como enredo e instrumentos de sopro e cordas, a participação das mulheres foi mais precoce.
Elas cumpriam papéis fundamentais nestes festejos, confeccionando as fantasias e adereços e organizando eventos para arrecadar o dinheiro necessário para bancar o cortejo — mas não só.
O Carnaval como conhecemos hoje existe em grande parte graças às "tias", mulheres baianas que abriam suas casas para a reunião dos sambistas ao longo do ano e ofereciam assim um espaço seguro para que eles se reunissem sem serem perseguidos pela polícia.
"As tias são o epicentro dessa cultura do Carnaval. Suas casas eram espaços de sociabilização e proteção", diz a jornalista Bárbara Pereira, doutora em história social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
Uma das mais famosas entre essas matriarcas do samba é Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata. Mas havia muitas outras, diz Pereira, que entraram para os registros históricos apenas como apoiadoras de seus maridos ou simplesmente foram esquecidas.
"Muitos dos relatos que temos hoje sobre o início do Carnaval foram feitos por homens, e quase não há registros da participação das mulheres, porque estes homens não as enxergavam. Elas foram invisibilizadas", afirma a pesquisadora.

As mulheres vão para a avenida

Desfile do Mulheres RodadasDireito de imagemDIVULGAÇÃO
Image captionDesfile do Mulheres Rodadas, no Rio de Janeiro
O Carnaval passaria por uma nova transformação entre o final dos anos 1920 e o início dos anos 1930, quando foram fundadas as primeiras escolas de samba — e, com elas, as mulheres começaram a conquistar um espaço próprio nos desfiles de Carnaval.
"O matriarcado na história do samba fez que houvesse uma presença feminina significativa desde o início das escolas, com a ala das baianas e a ala das pastoras, que cantavam em coro o samba-enredo junto com o puxador", diz o historiador e escritor Luiz Antônio Simas.
Isso abriu caminho para que as mulheres conquistassem com o tempo outros postos nos desfiles das escolas de samba. Simas destaca que a primeira mulher a sair na bateria foi Dagmar da Portela, em 1939.
Já os primeiros sambas-enredo assinados por autoras são da década de 1950. Carmelita Brasil, na Unidos da Ponte, foi a pioneira da composição, e, em 1965, Dona Ivone Lara tornou-se a primeira mulher a assinar um samba-enredo por uma grande escola.
"Aos poucos, como repercussão de mudanças na estrutura da sociedade brasileira, as mulheres vão conquistando espaços também em um meio bem machista como o do samba", diz Simas.
Foi a partir dos anos 1930 que as mulheres brasileiras conquistaram direitos políticos e de receber salários iguais. Passaram a não mais ter de pedir autorização aos maridos para trabalhar, ter conta em banco ou viajar sozinhas. E foram reconhecidas legalmente como iguais aos homens.
Ao mesmo tempo, na Avenida, elas ganham cada vez mais protagonismo nos desfiles, como passistas, rainhas de bateria e destaques de carros alegóricos.
Esses postos são frequentemente vistos apenas como mais uma expressão do machismo no Carnaval, que trata as mulheres como objetos sexuais. Mas Bárbara Pereira, que pesquisou as passistas em seu doutorado, diz que não é dessa forma que elas próprias se enxergam.
"Essas mulheres têm orgulho de serem passistas, porque muitas vezes é uma tradição passada de mãe para filha. E, a partir dos anos 1990, com o aumento da escolaridade feminina, muitas delas não são mulatas-show, mas estudantes e trabalhadoras que sambam porque querem sambar", diz a pesquisadora.
Ao mesmo tempo, as mulheres estão vencendo gradativamente o preconceito nas escolas de samba ao tocar instrumentos considerados "de homens", como surdo, caixa-de-guerra e tarol, e assumirem as funções de carnavalescas, diretoras e mestres de bateria, puxadoras e, inclusive, presidentes de agremiações.
"Mas ainda são poucas nestas posições, porque persiste a ideia de que há nas escolas lugar de mulher e de homem, especialmente nos postos de poder, como a diretoria, e de mais prestígio, como a composição", diz historiadora Marília Belmonte, que pesquisa a velha guarda e a ala das baianas de seis escolas de samba de São Paulo.

As mulheres conquistam espaço no Carnaval de rua

Desfile do Mulheres RodadasDireito de imagemDIVULGAÇÃO
Image captionDesfile do Mulheres Rodadas, no Rio de Janeiro
Belmonte diz que um movimento semelhante começou a ocorrer também com os blocos de rua, em meio a um debate recente e mais amplo sobre o papel das mulheres na sociedade atual.
"Isso gera uma maior conscientização entre as mulheres e faz com que elas questionem o machismo e busquem ter maior representação no Carnaval, ocupando espaços antes reservados aos homens e criando seus próprios blocos, onde conseguem se expressar sem serem cerceadas nem sofrer assédio", diz a historiadora.
Atualmente, já existe mais de uma dezena de blocos pelo país que são organizados por mulheres ou até mesmo exclusivamente femininos, como Ilú Obá de Min, Mulheres de Chico, Não é Não, Pagu, Filhas da Lua, Toco-xona e Siga Bem, Caminhoneira.
Renata Rodrigues, do Mulheres Rodadas, diz que o Carnaval de rua mudou nos seis anos em que seu bloco feminista desfila no Rio de Janeiro.
"Existe hoje uma discussão muito mais ampla sobre o assédio e uma consciência maior de que não é porque a mulher está pulando Carnaval que ela pode ser assediada ou violentada. Isso aconteceu porque as mulheres que apareceram no Carnaval colocaram esse assunto em pauta", diz.
Ao mesmo tempo, isso fez da folia um espaço mais seguro para as mulheres e no qual elas se sentem mais confortáveis para exibir o corpo conforme quiserem.
"Nós vemos hoje muito mais mulheres com o corpo à mostra. Com o maior número de mulheres, elas se sentem protegidas e capazes de dizer 'o corpo é meu, não quero que me toque'. É um corpo que não está ali para ser consumido. É um corpo político, que carrega uma mensagem de liberdade."
Também há mais mulheres participando ativamente do Carnaval, tocando instrumentos, montando suas bandas e fanfarras e criando seus próprios projetos. "Temos muito orgulho de ter ajudado nesta transformação junto com outros coletivos de mulheres."
O Mulheres Rodadas realiza oficinas ao longo do ano para ensinar mais mulheres a tocar instrumentos. O desejo de suas criadoras agora é passar a oferecer também cursos para que elas ocupem postos de comando em toda a cadeia do Carnaval.
"Ainda somos franca minoria na gestão. Queremos ter cada vez mais mulheres em posição de liderança, mas é justamente neste espaço que é mais difícil conseguir avançar."

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Carnaval de Pernambuco é marcado pela interiorização


Eric Gomes/Secult-PE/Fundarpe
Eric Gomes/Secult-PE/Fundarpe
Vários encontros de cultura popular marcarão a programação do Carnaval do Estado
A tradição de celebrar o Carnaval faz de Pernambuco um dos berços do reinado de Momo, período que se configura numa das principais identidades do Brasil. Desde o centenário Frevo, passando pelos tambores e vestimentas do Macaratu, pela religiosidade dos Afoxés, pelos Bonecos Gigantes ou pelos milhares de blocos de mascarados – que a depender de onde estejam ganham nomes de Papangus, Caretas, Caiporas, Tabaqueiros ou La Ursas –, é aqui que inúmeras manifestações carnavalescas estão representadas.
Sabendo disso, o Governo de Pernambuco, por meio da Secult/Fundarpe e da Setur/Empetur, apoia as festividades realizadas em 65 municípios, assinalando um número recorde de regiões com incentivo do Estado. Além dos polos propriamente ditos, há ainda a realização de encontros de cultura popular na Região Metropolitana do Recife e na Zona da Mata. Os valores investidos pelas duas pastas somam R$ 10 milhões.
O secretário de Cultura do Estado, Gilberto Freyre Neto, reforça a importância do processo de seleção dos artistas e grupos que participam da programação do Carnaval de Pernambuco. “Toda a programação é feita por meio de edital público, onde o artista ou grupo interessado em participar da grade se inscreve e é avaliado por uma comissão formada por representantes da sociedade civil e do poder público. Tudo é feito de forma muito transparente”, comentou.
Já o presidente da Fundarpe, Marcelo Canuto, ressalta a valorização da participação dos grupos de cultura popular como grande contribuição do Governo de Pernambuco no ciclo carnavalesco. “Incentivar os grupos de cultura popular do Estado é nosso papel, enquanto gestores públicos. Cada um desses integrantes é responsável por carregar nossos símbolos mais marcantes: a diversidade cultural e o respeito às tradições”, disse.
O secretário de Turismo e Lazer, Rodrigo Novaes, que também preside a Empetur, salienta a importância de o Governo do Estado expandir a sua participação nas festas realizadas em todas as regiões de Pernambuco. “A nossa festa é uma das mais ricas do País, mais variada e democrática. O Governo do Estado fez um esforço e estará presente em 65 localidades, reafirmando o seu compromisso com a cultura e com o turismo, que movimenta a nossa economia. Só neste Carnaval, a nossa expectativa é receber quase dois milhões de visitantes e de atingir uma movimentação financeira em torno de R$ 2 bilhões”, diz Novaes.
ENCONTROS - Além de incluir dezenas de artista e grupos na programação promovida pelos municípios, o Governo de Pernambuco também apoia encontros tradicionais de cultura popular. Em sua 30ª edição, o Encontro Estadual de Maracatus de Baque Solto de Pernambuco conta com a presença de 99 maracatus de baque solto de 24 cidades do Estado, além de um grupo da Paraíba. O evento acontece em Aliança, no Domingo (23/2) e na Terça Feira Gorda (25/2) e em Olinda, na Segunda-Feira (24/2). O evento é uma realização da Associação dos Maracatus de Baque Solto de Pernambuco.
Também em Olinda, o 20º Encontro Estadual de Afoxés de Pernambuco – promovido pela União dos Afoxés de Pernambuco, será realizado na Quarta-Feira de Cinzas (26/2), no Sítio Histórico, com a participação de 15 afoxés da Região Metropolitana do Recife.
Ainda em Olinda, mais precisamente na Cidade Tabajara, acontece o 16º Carnaval Mesclado da Casa da Rabeca, no Centro Cultural Casa da Rabeca do Brasil, reunindo 17 maracatus de baque solto, além de caboclinhos, bois e cavalos marinhos de 12 municípios pernambucanos. O evento ocorre no domingo (23/2) e segunda (24/2), sempre a partir das 8h.
Na Terça-feira Gorda (25/2), Bom Jardim recebe o 7º Encontro de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco. O evento começa às 8h e conta com Noé da Ciranda, Boi Dourado de Limoeiro e Maracatu Carneiro da Serra de Gloria do Goitá.
PRÉVIAS - Com o objetivo de preparar o clima para a Folia de Momo, diversos eventos que recebem apoio do Governo de Pernambuco acontecem durante as semanas anteriores ao Carnaval.
A Casa da Cultura, equipamento cultural gerenciado pela Secult-PE/Fundarpe, é palco, até sexta-feira (21/2), de programação carnavalesca com atrações que representam manifestações culturais pernambucanas. Todos os dias, haverá apresentação de grupos como orquestras, bloco lírico, afoxé e grupos de dança na área externa do espaço, com entrada gratuita. A programação teve início na última quarta-feira e acontece diariamente das 11h às 15h.
Dos encontros de Cultura Popular, destaca-se o Encontro de Blocos Líricos Aurora dos Carnavais, na Rua da Aurora, bairro da Boa Vista, no Recife, reunindo cerca de 30 blocos líricos do Estado. O evento ocorreu no último dia 7/2.
Outro evento, realizado no último sábado (15/2) e domingo (16/2) simultaneamente nas cidades do Recife, Cabo de Santo Agostinho, Vitória de Santo Antão e Timbaúba, promoveu apresentações de Bois de Carnaval em seus terreiros. Em sua 6ª edição, o projeto “Os Bois Brilham no Carnaval de Todos” é realizado pela Federação Cultural dos Bois e Similares do Estado de Pernambuco (Fecbois) com a participação de 13 grupos. A proposta é fomentar a cultura dessas agremiações, valorizando a presença dos grupos em seu território.
No Pátio de São Pedro, no Recife, quinze grupos de Maracatu Nação e Maracatu Rural celebraram seu brinquedo durante o 8º Encontro dos Mestres. O evento ocorreu na última segunda (17/2).
MUNICÍPIOS QUE RECEBEM A PROGRAMAÇÃO DO CARNAVAL DE PERNAMBUCO
RMR
ARAÇOIABA
CABO DE SANTO AGOSTINHO
ILHA DE ITAMARACÁ
ITAPISSUMA
OLINDA
PAULISTA
ZONA DA MATA NORTE
CARPINA
GLÓRIA DE GOITÁ
ITAMBÉ
LAGOA DE ITAENGA
MACAPARANA
NAZARÉ DA MATA
PAUDALHO
TIMBAÚBA
ZONA DA MATA SUL
AMARAJI
BARREIROS
CATENDE
CHÃ DE ALEGRIA
CORTÊS
ESCADA
GAMELEIRA
JAQUEIRA
PRIMAVERA
RIBEIRÃO
RIO FORMOSO
SÃO BENEDITO DO SUL
SÃO JOSÉ DA COROA GRANDE
SIRINHAÉM
TAMANDARÉ
VITÓRIA DE SANTO ANTÃO
AGRESTE SETENTRIONAL
LIMOEIRO
PASSIRA
SURUBIM
SANTA MARIA DO CAMBUCÁ
VERTENTE DO LÉRIO
AGRESTE CENTRAL
BEZERROS
LAGOA DOS GATOS
SAIRÉ
SANHARÓ
SÃO CAETANO
TACAIMBÓ
AGRESTE MERIDIONAL
ÁGUAS BELAS
BOM CONSELHO
CANHOTINHO
JUCATI
PARNAMIRIM
TUPANATINGA
SERTÃO DO MOXOTÓ
ARCOVERDE
BUÍQUE
SERTÂNIA
SERTÃO DO PAJEÚ
AFOGADOS DA INGAZEIRA
INGAZEIRA
SANTA TEREZINHA
TABIRA
TRIUNFO
SERTÃO DE ITAPARICA
JATOBÁ
SERTÃO DO ARARIPE
TRINDADE
SERTÃO DO SÃO FRANCISCO
BELÉM DE SÃO FRANCISCO
SANTA MARIA DA BOA VISTA
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Professor Edgar Bom Jardim - PE