sábado, 18 de janeiro de 2020

Fuga de cérebros: os doutores que preferiram deixar o Brasil para continuar pesquisas em outro país



Fuga de cérebrosDireito de imagemCEMILE BINGOL/GETTY
Image captionComunidade acadêmica aponta espécie de diáspora que vem preocupando comunidade científica nacional, por causa das consequências disso para o desenvolvimento do Brasil
Os jovens pesquisadores brasileiros Bianca Ott Andrade, Eduardo Farias Sanches, Gustavo Requena Santos e Renata Leonhardt têm mais em comum do que apenas o pouco tempo de carreira e a nacionalidade.
Todos são doutores recentes e resolveram deixar o país em busca de melhores oportunidades para desenvolver seu trabalho em um ambiente mais favorável à ciência. Eles seguem uma tendência, não registrada nas estatísticas oficiais, mas que aparece nos muitos relatos de migração de talentos para outros países que vem aumentando, conforme pesquisadores chefes de grupos no país e jovens que foram embora, ouvidos pela BBC Brasil. Uma espécie de diáspora de cérebros, que vem preocupando a comunidade científica nacional, por causa das consequências disso para o desenvolvimento do Brasil.
Não há dados oficiais sobre esta fuga, porque os jovens doutores que deixam o país o fazem com bolsas das universidades ou centros de pesquisa do exterior que os contratam, e não das instituições brasileiras, como a Capes ou o CNPq.
A pesquisadora Ana Maria Carneiro, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está iniciando uma pesquisa pesquisa que tentará entender as trajetórias de migração da diáspora brasileira de Ciência, Tecnologia e Inovação e também as motivações e locais de inserção. "Entretanto, não há fontes de dados sistemáticas que permitam mensurar o tamanho deste fenômeno, pois é necessário ter informações sobre a saída, local de estabelecimento, tipo de inserção profissional e perfil sociodemográfico, especialmente a escolaridade", explica.
Está prevista no projeto a realização de um levantamento sobre o fenômeno, mas provavelmente não haverá informação quantitativa exaustiva que permita afirmar quantos brasileiros de alta qualificação vivem no exterior e se houve um movimento de ampliação, diz. "Será possível, no entanto, ter pistas qualitativas sobre a migração de pessoas altamente qualificadas."
Há alguns números de outras fontes, entretanto, que podem lançar luz sobre o problema. Embora não discrimine por profissão ou ocupação a saída definitiva de brasileiros para a o exterior, a Receita Federal mostra que o número passou 8.170 em 2011 para 23.271 em 2018, ou crescimento de 184%. Em 2019, até novembro, 22.549 pessoas fizeram declaração de saída definitiva do país. O crescimento foi mais acentuado a partir de 2015, quando o número foi de 14.981. Em 2016, pulou para 21.103, crescendo para 23.039 em 2017.
Entre esses migrantes, estão muitos cientistas, de acordo com o relato de acadêmicos ouvidos pela BBC News Brasil.
Segundo o geólogo Atlas Correa Neto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) "é um dreno geral", que inclui doutores mais antigos além de candidatos ao mestrado e também ao doutorado. Não se trata apenas de pessoas indo para realizar um curso, uma especialização ou realizar um projeto de pesquisa.
"Trata-se de saída em definitivo", diz. "Quem tem possibilidade está indo, mesmo sem manter a ocupação de cientista. Esse movimento não se restringe à área tecnológica e também afeta as ciências sociais. Aliás, se eu pudesse, se tivesse condições financeiras e sociais adequadas, iria embora também."

Debandada em áreas tecnológicas

bióloga Bianca Ott Andrade em pesquisa de campoDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionTemendo ficar desempregada, bióloga Bianca Ott Andrade mudou-se para os Estados Unidos, onde faz pós-doutorado na Universidade do Nebraska-Lincoln
De acordo com o pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luís da Cunha Lamb, que atualmente é secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do seu Estado, o fenômeno é mais intenso nas áreas que ele chama de "portadoras de futuro e com impacto econômico visível".
"Notadamente em ciência da computação, algumas áreas das engenharias, biotecnologia e medicina, por exemplo", diz. "Em particular, com o crescimento e o impacto da inteligência artificial em todas as atividades econômicas, os profissionais desta área têm oportunidades no mundo inteiro. Estamos perdendo jovens em áreas científicas, que são portadoras de futuro. Mundo afora, dominar setores como computação, estatística e matemática tem muito valor no mercado."
O biólogo Glauco Machado, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), também enumera algumas razões pelas quais a saída de pesquisadores está ocorrendo.
"Ela tem a ver com a redução do número de bolsas, o baixo valor das de mestrado e doutorado, que não são reajustadas há vários anos, e o pessimismo em relação a uma futura contratação — especialmente para as áreas em que o principal empregador é a própria academia -, que é fruto da recessão econômica que aflige o país há pelo menos cinco anos", diz.
Em nota, a Capes informou que há 7.699 bolsas congeladas e um total de 87.018 bolsas ativas. O CNPq, por sua vez, suspendeu em agosto, 4,5 mil bolsas que não estavam sendo usadas, segundo a instituição.
Ele acrescenta que, ao mesmo tempo, é importante olhar para o que está acontecendo fora do Brasil.
"Várias universidades no exterior estão criando programas de atração de talentos internacionais", diz.
É o caso, por exemplo, das universidades de Genebra, na Suíça, e Saskatchewan, no Canadá.
"O investimento em pesquisa e tecnologia tem crescido em vários países desenvolvidos e as oportunidades de bolsas e eventualmente trabalho em algumas áreas são maiores no exterior do que aqui. Portanto, sair do país é algo bastante atrativo para um profissional no início de sua formação."
Eduardo Farias Sanches, de 39 anos, que o diga. Ele considera que teve sorte de receber um convite para ir embora em um momento oportuno, "devido ao incessante ataque do governo federal às universidades (especialmente as públicas) e o corte de despesa em pesquisa e desenvolvimento, o que é uma lástima para a nova geração de pesquisadores que, assim como eu, está tentando se firmar no meio científico".
"Fico muito triste com essa situação, ao ver que muitos bons pesquisadores não terão um horizonte razoável no Brasil", lamenta. "Infelizmente para o país, a tendência é essa debandada aumentar".
Graduado em Fisioterapia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em 2007, com mestrado (2014) e doutorado (2015) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Sanches foi contemplado com uma bolsa de excelência do governo suíço, para desenvolver um projeto de pesquisa na Universidade de Genebra com duração de um ano.
Depois desse período, foi convidado por seu chefe, Stéphane Sizonenko, a permanecer lá, mas optou por retornar ao Brasil, onde tinha compromisso com seu antigo orientador. Ficou dois anos aqui, período em que o convite anterior para retornar a Suíça foi refeito. Dessa vez, ele aceitou e voltou para lá, em setembro de 2019.
Pesou na escolha a possibilidade de melhores salários. "Aqui na Suíça, além de ser levada muito a sério, a pesquisa científica é considerada profissão, ou seja, contribuo com impostos e tenho direito a aposentadoria", conta.
"Além disso, há melhores condições de trabalho, que são inegavelmente ótimos atrativos a deixar o meu país. No Brasil, a ciência e a cultura não são estimuladas e a inserção de pessoas altamente capacitadas no mercado de trabalho, por não haver incentivo à pesquisa e desenvolvimento, se torna muito difícil. É triste admitir que seremos uma nação meramente exportadora de commodities e importadores de tecnologia de ponta."
Procurados pela reportagem, o Ministério da Educação e a Casa Civil da Presidência da República disseram que quem poderia comentar o tema era a Capes, que, em nota, respondeu:
"A Capes aumentou em 9,1% o seu orçamento de 2018 para 2019, que subiu de R$ 3,84 bilhões para R$ 4,19 bilhões. Atualmente, há 95,4 mil bolsistas no País e 8,7 mil no exterior. Também foram lançados 21 editais de cooperação internacional e mais R$ 80 milhões para pesquisas de pós-graduação na Amazônia Legal, além de 1.800 bolsas que auxiliam no desenvolvimento regional. Para 2020, o Ministério da Educação busca meios para recompor o orçamento com outras ações orçamentárias. Nenhuma bolsa será cortada e todos os programas da CAPES serão mantidos."
O CNPq, por sua vez, respondeu, também por meio de nota:
"O êxodo dos pesquisadores brasileiro para outros países é uma preocupação, que norteia uma série de iniciativas que o CNPq tem fomentado para aperfeiçoar e ampliar mecanismos de fixação de nossos profissionais da ciência e tecnologia. Dentro das limitações orçamentárias e legais que se aplicam ao CNPq, a agência investe, por exemplo, em programas que, em parceria tanto com instituições públicas quanto a iniciativa privada, incentivam a realização de projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação dentro de empresas e indústrias.
O objetivo é, além de contribuir com a formação de recursos humanos mais qualificados, garantir empregabilidade dos pesquisadores. Importante ressaltar que em países como Japão, Coreia do Sul, Israel, EUA e China, mais de 60% do total de seus pesquisadores estão alocados em empresas, segundo dados de 2018 da OCDE. No Brasil, esse percentual é de apenas 18%."
Procurado pela BBC News Brasil, o MCTIC não retornou a solicitação até a conclusão desta reportagem.

Medo do desemprego ou de interrupção das bolsas

Renata LeonhardtDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionGeóloga formada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Renata Leonhardt recebeu uma bolsa da Universidade de Saskatchewan, uma das 15 melhores universidades do Canadá em pesquisa
Bem mais jovem, com 23 anos e cursando um mestrado, a geóloga Renata Leonhardt, formada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com estágio em empresas do setor petrolífero, igualmente partiu do Brasil em busca de melhores oportunidades e salários. Ela recebeu uma bolsa da Universidade de Saskatchewan, uma das 15 melhores universidades do Canadá em pesquisa.
O medo de ficar desempregada depois de formada foi outro motivo que a levou a ir embora.
"Até pouco tempo antes de me formar, o setor de óleo e gás ainda estava na expectativa de se recuperar da última crise", diz Renata. "Mas depois, as oportunidades na minha área ficaram um tanto escassas, mesmo para recém-formados que haviam estagiado anteriormente e buscavam contratação, como era o meu caso."
O atual cenário político brasileiro também foi levado em conta por Renata em sua decisão. "Ele não está muito favorável para a ciência", explica. "Eu temia, por exemplo, ficar sem bolsa no meio do curso — algo que era crucial para que eu continuasse a pesquisa."
Em agosto, o CNPq chegou a anunciar que havia risco de não pagamento dos seus mais de 80 mil bolsistas a partir de outubro. Isso não ocorreu, no entanto. O governo conseguiu cumprir o compromisso.
Essas também foram algumas das razões da bióloga Bianca Ott Andrade, formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), para se mudar para o exterior, no caso, Estados Unidos, onde faz pós-doutorado, na Universidade do Nebraska-Lincoln.
"No Brasil, eu tinha uma bolsa de pesquisadora de pós-doutorado, que ia se encerrar no final de 2019, mas havia grandes chances de ficar desempregada", conta.
Além disso, contribuiu para a decisão de Bianca a atuação do atual governo nas áreas de ciência e educação, com menos incentivo ao ensino superior e a políticas ambientais.
"Eu trabalho com ciência e educação, é isso o que eu amo, é o que eu sei fazer. Sinto que não tem espaço pra mim, pelo menos não agora. Decidi dar um tempo para minha cabeça."
No caso de Gustavo Requena Santos, razões pessoais e profissionais se somaram para que ele decidisse se mudar para o exterior.
"Sou casado com um americano e no final da minha bolsa de pós-doutorado na USP, em meados de 2017, ele obteve uma oferta de trabalho para voltar aos EUA e decidimos nos mudar", conta.
"Entretanto esta não foi a maior razão pela qual saímos do Brasil. Foi uma oportunidade para mudarmos para um local com melhores condições e perspectivas para o futuro."
Ele diz ainda que, como profissional, apesar de quase 10 anos de experiência em pesquisa, se sentia desvalorizado, sem benefícios ou vínculo empregatício. "O cenário ficou insustentável", explica. "Por isso, resolvi me mudar."

Menos valor para a economia

Seja qual for o motivo de cada um para ir embora, o certo é que o Brasil está perdendo jovens doutores, quando o número deles, em qualquer idade, já é menor que a média internacional. De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas 0,2% da população brasileira possui doutorado, enquanto a média dos países pertencentes à organização e de 1,1%.
Segundo dados do CNPq, o Brasil tem hoje 7,6 doutores por 100 mil habitantes, índice que está estabilizado.
"Esse número não é suficiente, haja vista que países desenvolvidos têm um número muito superior", diz a bioquímica Ângela Wise, da UFRGS, membro titular da Academia Mundial de Ciências e secretária regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no Rio Grande do Sul.
"Como é o caso do Japão, que é o país desenvolvido com o menor número de doutores: 13 por 100 mil habitantes. O Reino Unido, por sua vez, tem atualmente 41, enquanto Portugal, 39,7; Alemanha, 34,4; e os Estados Unidos, mais de 20."
É muito pouco, segundo o engenheiro cartográfico Antonio Maria Garcia Tommaselli, do campus de Presidente Prudente, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), cujo grupo de pesquisa já perdeu três doutores para instituições europeias.
"Para um país com uma economia complexa como a do Brasil e que precisa agregar valor tecnológico aos seus produtos, em vez de apenas exportar matérias-primas, o ideal seria dobrar ou triplicar o atual número de doutores", diz.
Apesar de ver aspectos positivos na diáspora, no cômputo geral, Tommaselli a considera prejudicial ao país.
"O lado positivo é que ela significa que formamos cientistas de classe internacional", explica.
"O dramático é que estamos perdendo os melhores pesquisadores e que nos substituiriam no futuro, levando consigo todo o investimento feito com recursos públicos e o conhecimento altamente especializado que eles detêm. Um erro estratégico que será sentido em alguns anos, com o apagão científico em várias áreas", ressalva.
Mas não é só isso. "O mais grave é que o governo atual não tem qualquer política para reter estes cientistas, ao contrário, entende como remédio reduzir a formação de doutores", critica Tommaselli.
"Encontramos o mesmo cenário em vários grupos de pesquisa brasileiros de expressão internacional e as consequências futuras serão muito ruins para a economia, que se baseia em conhecimento", acrescenta.
Segundo Atlas, não haverá renovação do quadro de pesquisadores e professores de nível superior.
"Ou, sendo menos pessimista, ela será aquém da necessária", diz. "Haverá déficit de cientistas. E eles e os educadores terão menos conhecimento. Seremos piores. Sem investimentos, sem incentivos, será feita ciência de baixa qualidade, os avanços serão pífios. Novas tecnologias não serão desenvolvidas, as já existentes não serão aperfeiçoadas. Nos tornaremos ainda mais dependentes de outros países e de multinacionais em termos de ciência, tecnologia e cultura."

Professor Edgar Bom Jardim - PE

'Na Alemanha ele estaria preso': Vídeo de Alvim inspirado em Goebbels configura apologia ao nazismo, diz presidente da OAB



Eles pensam assim? Eles são isso mesmo? É isso que querem para o Brasil?


frame de vídeo da Secretaria Especial de CulturaDireito de imagemREPRODUÇÃO/TWITTER

A fala do secretário de Cultura, Roberto Alvim, inspirada em discurso do nazista Joseph Goebbels configura apologia ao nazismo, segundo o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.
"Na Alemanha ele estaria preso. Lá o Código Penal proíbe esse tipo de referência", disse Santa Cruz à BBC News Brasil.
Para o presidente da OAB, "todos os limites foram ultrapassados ao claramente se idealizar uma política cultura nazista".
"O episódio tem que ser lido, por pior que pareça, dentro de uma escalada de lideranças do governo brasileiro de idealização do autoritarismo. Não é de hoje que o próprio presidente tem um histórico de defesa do autoritarismo, da ditadura no Brasil."
Um vídeo de Alvim divulgado pela Secretaria Especial de Cultura repercutiu nas redes sociais devido à semelhança com uma fala de Goebbels.
"A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não será nada", disse o brasileiro.
A frase foi comparada a um discurso de Goebbels reproduzido no livro Goebbels: a Biography, de Peter Longerich: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada".
A música utilizada no vídeo é a ópera Lohengrin, de Richard Wagner. Hitler era um amante de óperas e fã de Wagner. Na autobiografia Minha luta, ele descreve como assistir à obra wagneriana Lohengrin pela primeira vez, aos 12 anos de idade, foi uma experiência que mudaria sua vida.
O presidente Jair Bolsonaro comunicou pelas redes sociais o desligamento de Roberto Alvim.
"Um pronunciamento infeliz, ainda que tenha se desculpado, tornou insustentável a sua permanência. Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas. Manifestamos também nosso total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos valores em comum", escreveu.


Felipe Santa CruzDireito de imagemFELIPE FRAZÃO/AG. BRASIL
Image captionFelipe Santa Cruz diz que vídeo deve ser visto dentro de contexto de 'escalada de lideranças do governo brasileiro de idealização do autoritarismo'.

Santa Cruz afirmou que a fala de Alvim "vem dentro de um discurso do governo brasileiro de pouco apreço à democracia".
"O secretário só se sentiu livre para subir o tom acima do limite de tudo que é aceitável porque já há algum tempo lideranças no país vêm fazendo discursos autoritários e isso é muito preocupante", afirmou o presidente da OAB.
Ao afirmar que o vídeo de Alvim configura apologia ao nazismo, Santa Cruz citou a Lei 7.716 de 1989, que prevê reclusão de dois a cinco anos para "Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo".


imagem de texto de artigo 20 da Lei 7.716 de 1989Direito de imagemREPRODUÇÃO

Para o advogado criminalista David Metzker, sócio do Metzker Advogados, a situação configura crime "se o intuito é divulgar nazismo".
"Mas só configura crime se ele utilizar a suástica? Ao meu ver, não. Ao meu ver, mesmo não utilizando a suástica, mas utilizando de outras formas para divulgar nazismo, configura o crime. É o que chamamos de interpretação extensiva da norma."
E como seria o processo? "Basta o Ministério Público iniciar a investigação, não depende de alguém denunciar ou representar. Pode ser de iniciativa do MP, tomando ciência desse vídeo, iniciar a investigação. E ele poderia ser preso, mas seria muito difícil. A pena é de 2 a 5 anos. Para ser preso antes de sentença em transitado em julgado, só se iniciasse processo e ele atrapalhasse o andamento. Mas depois de condenação, só seria preso se pegasse pena acima de 4 anos. Menos que isso, é regime aberto."

Na Alemanha: pena de até três anos

O advogado alemão Christian Solmecke, um dos mais conhecidos do país na área de mídia, disse que Alvim poderia ser processado na Alemanha e condenado "a uma pena de até três anos de prisão ou multa".


Advogado Christian SolmeckeDireito de imagemTIM HUFNAGL
Image captionPara Solmecke, caso envolvendo secretário de cultura poderia parar na Justiça caso acontecesse na Alemanha

"Qualquer pessoa que dê tal discurso pré-constitucional (ou seja, que faça referência a elementos anteriores à última Carta Magna alemã, de 1949) na Alemanha e faça uma referência atual a ele com alterações, o conteúdo do qual então resulte em um intento contra a constituição da República Federal da Alemanha, poderá ser processada. Isso é punível com pena de prisão de até três anos ou com multa", disse Solmecke em entrevista à BBC News Brasil.
"Além disso, de acordo com o artigo 130 do Código Penal Alemão, isso pode ser um crime de incitação ao povo. Seria esse o caso se perturbasse a paz pública, incitando o ódio, a violência e atos arbitrários de violência contra 'grupos nacionais, raciais, religiosos ou étnicos' ou 'contra partes da população ou contra um indivíduo por conta de sua participação em um grupo ou parte da população acima referida'", acrescenta.

O que disse Alvim

Depois da repercussão do vídeo que fez referência à fala de Joseph Goebbels, Roberto Alvim disse que se trata de uma "coincidência retórica". Em seguida, afirmou que "a frase em si é perfeita".
Em perfil pessoal no Facebook, Alvim escreveu que "foi apenas uma frase do meu discurso na qual havia uma coincidência retórica" e diz que não citou Goebbels e "jamais o faria".
"Foi, como eu disse, uma coincidência retórica. Mas a frase em si é perfeita: heroísmo e aspirações do povo é o que queremos ver na Arte nacional", escreveu.
Alvim diz que "o que a esquerda está fazendo é uma falácia de associação remota" e que "é típico dessa corja".
No entanto, a associação foi vista com desconfiança inclusive por Olavo de Carvalho, considerado guru de parte dos integrantes do governo Bolsonaro. Ele escreveu: "É cedo para julgar, mas o Roberto Alvim talvez não esteja muito bem da cabeça. Veremos."


postagem de Olavo de CarvalhoDireito de imagemREPRODUÇÃO/FACEBOOK

Horas depois, Olavo de Carvalho escreveu: "Ou o Alvim pirou, ou algum assessor petista enxertou a frase do Goebbels no discurso dele para assassinar sua reputação."
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu o afastamento de Alvim e disse que o secretário "passou de todos os limites".
"O secretário da Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo", escreveu em sua conta no Twitter.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) informou, por meio de nota, que considera "inaceitável" o uso de discurso nazista por Roberto Alvim e pediu seu afastamento imediato.
"Emular a visão do ministro da Propaganda nazista de Hitler, Joseph Goebbels, é um sinal assustador da sua visão de cultura, que deve ser combatida e contida. Goebbels foi um dos principais líderes do regime nazista, que empregou a propaganda e a cultura para deturpar corações e mentes dos alemães e dos aliados nazistas a ponto de cometerem o Holocausto, o extermínio de 6 milhões de judeus na Europa, entre tantas outras vítimas. O Brasil, que enviou bravos soldados para combater o nazismo em solo europeu, não merece isso. Uma pessoa com esse pensamento não pode comandar a cultura do nosso país e deve ser afastada do cargo imediatamente."

Denúncia sobre o Palácio do Planalto

O vídeo polêmico, que gerou muita repercussão nas redes sociais, foi divulgado em uma semana que o presidente Jair Bolsonaro enfrenta denúncias da imprensa a respeito de conflito de interesses dentro do governo.
Reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelou que a empresa do titular da Secretaria Especial da Comunicação Social (Secom), Fábio Wajngarten, tem contratos em vigor com emissoras de televisão e agências de publicidade que recebem verbas do governo federal. A secretaria é responsável por direcionar os recursos de propaganda do Palácio do Planalto. A Secom disse se tratar de "mentira absurda, ilação leviana".
Com informações de  Laís Alegretti e Luís Barrucho

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Governo de Pernambuco convoca artistas e grupos para integrar programação do Carnaval 2020.Inscrições podem ser feitas pela internet, entre os dias 9 e 16 de janeiro



O Governo de Pernambuco – por meio da Secult/Fundarpe e Setur/Empetur- lança, nesta quinta-feira (9), o edital convocatório para os grupos e artistas que pretendem integrar a programação do Carnaval de Pernambuco 2020. O objetivo é selecionar e contratar artistas, grupos, orquestras e agremiações tradicionais do ciclo carnavalesco, que poderão se apresentar em municípios nas 12 Regiões de Desenvolvimento do Estado. As inscrições deverão ser realizadas no período de 9 a 16 de janeiro de 2020, exclusivamente pelo endereço www.pecarnaval.pe.gov.br, sendo aceito o envio até às 23h59 do dia 16. Confira aqui a Convocatória do Carnaval 2020.
Serão aceitas inscrições em cinco categorias:
1) Cultura Popular: na primeira categoria, estão incluídas as seguintes manifestações: afoxés, blocos líricos, bois, caboclinhos, cambindas, cirandas, clubes de bonecos, clubes carnavalescos, clubes de alegorias, cocos, escolas de samba, grupos de máscaras, mascarados ou similares (caiporas, caretas, clowns e papangus), grupos percussivos, maracatus de baque solto (rural), maracatus de baque-virado (nação), mazurcas, tribos de índios, troças carnavalescas e ursos.
2) Música de Tradição Carnavalesca: nessa categoria, o edital se refere a: “artistas e grupos de música ligados à tradição carnavalesca ou que tenham a tradição carnavalesca como fonte de pesquisa no trabalho a ser apresentado”.
3) Orquestras de Frevo: os inscritos podem concorrer tanto para apresentações de palco como para cortejos na rua, contanto que executem as modalidades dos frevos instrumentais.
4) Dança de Tradição Carnavalesca: valem, para efeito do edital, “artistas e grupos de dança ligados à tradição carnavalesca ou que tenham a tradição carnavalesca como fonte de pesquisa e criação no trabalho a ser apresentado”.
5) Música Popular Brasileira (MPB): para essa categoria, os critérios são: “artistas e grupos de outros gêneros musicais, desde que ligados à tradição carnavalesca ou que tenham a tradição carnavalesca como fonte de pesquisa no trabalho a ser apresentado”.
Para o edital deste ano, a Secult/Fundarpe e a Setur/Empetur decidiram que todos os artistas e grupos que não forem classificados como da Tradição Carnavalesca poderão ser enquadrados, sem distinção, na categoria “MPB”. Essa resolução facilita o julgamento das propostas, além de ampliar a oportunidade desses grupos e artista de se apresentarem em mais de um município. Cada grupo ou artista da MPB terá direito a duas apresentações, no máximo. Para os inscritos na categoria “Música de Tradição Carnavalesca”, o limite máximo é de três apresentações.
A análise das propostas ocorrerá em duas etapas. A primeira será uma análise técnica e documental, que será realizada por técnicos da Secult/Fundarpe e da Setur/Empetur. A segunda é uma análise que avalia se o artista poderá de fato ser enquadrado na categoria que ele indicará em sua proposta. É uma análise feita por uma comissão de avaliação específica, a ser posteriormente selecionada pelos órgãos governamentais. As inscrições só serão validadas após a entrega de toda documentação exigida pelo edital e da entrega do material obrigatório descrito no subitem 6.6, de forma presencial ou pelos Correios. A entrega de forma presencial deverá ser realizada em até 72 horas após o envio do formulário de inscrição eletrônico. Não serão validadas as inscrições, cuja documentação e material forem recebidos na sede da Secult-PE/Fundarpe, após o dia 24 de janeiro de 2020.
O secretário de Cultura, Gilberto Freyre Neto, destaca que a partir dos editais do Governo de Pernambuco, as festividades nos municípios do estado recuperaram inúmeras tradições que estavam sendo esquecidas, e que têm no Carnaval seu momento de apoteose. “Quando se fala em Carnaval de Pernambuco, os nossos símbolos são os caboclos de lança dos maracatus da Mata Norte, as tribos indígenas, maracatus e orquestras do Recife e Olinda, os Papangus em Bezerros, os Caretas em Triunfo, os Caiporas em Pesqueira. São dezenas de tradições que estão espalhadas por todo nosso território e precisam do aporte governamental para continuar a gerar essa representatividade que todo pernambucano sente nesta época do ano”, avalia Gilberto.
“É um modelo que temos aprimorado a cada ano e vem dando muito certo, pois garante que os artistas da tradição carnavalesca possam chegar, durante o Carnaval, a municípios que provavelmente não se apresentariam, não fosse o Governo promovendo este modelo de apoio ao Carnaval das dezenas de prefeituras do Estado. O diálogo com cada uma delas está sendo cada vez mais de entendimento que nosso Carnaval é da tradição, e que os artistas de Pernambuco dão conta da festa com muita competência, animando e atraindo grande público para todos os polos”, avalia Marcelo Canuto, presidente da Fundarpe.
“Por mais um ano, a Secretaria de Turismo e a Empetur se unem à pasta de Cultura e à Fundarpe para, em nome do Governo do Estado, realizar a seleção para o maior Carnaval do Brasil. Pernambuco tem uma festa linda, rica, com várias representações culturais, que arrasta turistas de todo o mundo. O processo de seleção evolui a cada ano, buscando ser cada vez mais democrático e aberto, assim como é o nosso Carnaval”, destaca o secretário de Turismo e Lazer, Rodrigo Novaes.
O edital está disponível no Portal Cultura.PE (www.cultura.pe.gov.br) e no site da Setur/Empetur (www.setur.pe.gov.br).
De:http://www.cultura.pe.gov.br/
Professor Edgar Bom Jardim - PE