quinta-feira, 22 de março de 2018

Secult e Fundarpe divulgam roteiro dos espetáculos incentivados pelo Edital Pernambuco de Todas as Paixões


Pernambucanos e turistas que vão passar a Semana Santa no Estado têm a oportunidade de conferir o trabalho e valorizar artistas locais que encenam, com profissionalismo e muita dedicação ao teatro, espetáculos gratuitos da Paixão de Cristo. Por meio do X Edital Pernambuco de Todas as Paixões, o Governo do Estado (Secult/Fundarpe) está garantindo financiamento no valor de R$ 340 mil para 12 montagens em 14 municípios.
Wilker Mattos/Limoeiro em Foco
Wilker Mattos/Limoeiro em Foco
A Paixão de Cristo de Limoeiro é um dos espetáculos contemplados pelo edital
“São encenações que trazem as marcas do engajamento comunitário e do esforço de atores, figurinistas, iluminadores, enfim, de toda uma cadeia de agentes culturais que perpetuam esta tradição nas mais diversas regiões pernambucanas”, comenta Marcelino Granja, Secretário Estadual de Cultura.
As Paixões foram cuidadosamente selecionados por profissionais das artes cênicas que analisaram critérios como histórico dos espetáculos, estratégias para acessibilidade, geração de renda e ainda a coerência dos custos apresentados. Pelo quarto ano consecutivo, os membros da Comissão de Análise de Mérito Cultural também foram selecionados por convocatória pública. Entre eles, o ator, jornalista e pesquisador Leidson Ferraz.
“A primeira alegria foi ser aprovado nesta seleção pública, que qualquer pessoa ligada ao teatro pode participar. Sempre me interessou acompanhar esse processo porque trabalhei por onze anos na Paixão de Cristo do Recife e não conheço os espetáculos do Interior, já li muito sobre algumas montagens e acho que vai ser um enorme aprendizado poder ver as diferenças de encenação entre as regiões, como se dá a contação de uma história que é tão tradicional, mas que também permite muita ousadia por parte dos encenadores”, conta Leidson. Além de terem avaliado os projetos, os profissionais também farão visitas técnicas aos municípios, contribuindo para a ainda maior qualificação dos grupos cênicos. “Essa troca com os artistas vai ser um grande aprendizado, a ideia é chegar cedo, acompanhar desde os bastidores até a encenação e conversar com os realizadores não apenas sobre os espetáculos, mas também sobre os projetos, pois alguns grupos ainda têm certa dificuldade de escrever suas propostas, de colocar no papel o que desejam levar ao palco”, complementa o pesquisador.
Para a Presidente da Fundarpe, Márcia Souto, o “Edital Pernambuco de Todas as Paixões está consolidado na nossa política cultural como um instrumento de fundamental importância para o fortalecimento das cenas teatrais da capital e do interior, que estimula o turismo, premia a criatividade e impulsiona a economia das cidades”.
Divulgação
Divulgação
A Paixão de Cristo de Bom Jardim recebe novamente o incentivo do Governo do Estado
ROTEIRO DAS APRESENTAÇÕES – PERNAMBUCO DE TODAS AS PAIXÕES 2018
PAIXÃO DE CRISTO DE BOM JARDIM – FAZENDO HISTÓRIA EM PERNAMBUCO
Período e horário: 28 a 30 de março, às 20h
Locais: Início na Praça de São Sebastião e término na Capela de Nossa Senhora do Carmo – Centro 
PAIXÃO DE CRISTO DE LIMOEIRO
Período e horário: 28 a 31 de março, às 20h
Local: Centro Cultural Ministro Marcos Vinícius Vilaça, Praça da Bandeira, s/n 
PAIXÃO DE CRISTO: UM ESPETÁCULO DE FÉ
Dias e horário: 30 de março e 01 de abril, às 19h
Local: Praça Coronel Abílio, ao lado da Igreja Matriz – Orobó
JESUS DE NAZARÉ, UMA HISTÓRIA DE AMOR – ANO 30
Período e horário: 24, 29 e 31 de março, às 20h
24/03 – Praça da Igreja Matriz, Centro – Santa Cruz
29/03 – Avenida Francisco Coelho de Amorim, s/n, Pátio de Eventos – Bairro José e Maria – Petrolina
31/03 – Praça Central, ao lado da Igreja Nossa Senhora de Santana – Centro – Parnamirim
A PAIXÃO DE CRISTO DE SALGUEIRO
Período e horário: 28 a 30 de março, às 21h
Local: Pátio da Antiga Estação Ferroviária, Rua Tenente Osvaldo Varejão (próximo ao Centro Cultural) 
JESUS ALEGRIA DOS HOMENS
Período e horário: 29 a 31 de março, às 19h30
Local: Rua do Magano, Bairro do Magano (próximo ao ponto turístico Cristo do Magano) – Garanhuns
A FORÇA DA PAIXÃO
Dias e horário: 30 e 31 de março, às 19h
Local: Avenida Laura Cavalcante s/n, Praça Beira Mar de Gaibú (calçadão de Gaibú) – Cabo de Santo Agostinho
PAIXÃO DA PONTE – 2018
Dias e horário: 29 e 30 de março, às 20h
Local: Arena Paixão da Ponte, intersecção entre a Rua das Acácias e Rua das Dálias, Loteamento Cidade Jardim, Ponte dos Carvalhos – Cabo de Santo Agostinho
PAIXÃO DE CRISTO DE CAMARAGIBE – A PAIXÃO DOS CAMARÁS
Período e horário: 30 e 31 de março e 01 de abril, às 20h
Local: Praça de Eventos, Avenida Padre Oséas Cavalcanti – Bairro Vila da Fábrica (próximo ao SESI)
PAIXÃO DE CRISTO DE CASA AMARELA
Período e horário: 29 a 31 de março, às 20h
Local: Sítio da Trindade, Estrada do Arraial, 3259 – Casa Amarela – Recife
A PAIXÃO DE CRISTO DE SÃO LOURENÇO DA MATA
Dias e horário: 30 e 31 de março e 01 de abril, às 19h
30 e 31/03 – Rua Nova Esperança, s/n, Praça da Televisão, Bairro Pixete (próximo à sede do Grupo de Dança Unidos de Nova Esperança)
01/04 – Praça da Matriz, s/n, Bairro Matriz da Luz, em frente à Igreja Nossa Senhora da Luz (zona rural)
AUTO DA VIA DOLOROSA
Período e horário: 26 a 29 de março, às 19h
Dia 26/03 – Igreja de Santa Cruz, Rua de Santa Cruz, 413 – Boa Vista – Recife
Dia 27/03 – Igreja do Carmo, Rua do Bonfim, Carmo – Olinda
Dia 28/03 – Paróquia São José, Rua da Matriz, 27, Rosário – Bezerros
Dia 29/03 – Santuário Nossa Senhora da Conceição, Estrada do Morro da Conceição, Casa Amarela – Recife
De cultura.pe.gov.br
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Policial morto na Rocinha ‘queria mudar o mundo’: ‘Estado vê PMs como descartáveis’


Foto do soldado Filipe de Mesquita ao lado de crianças
Image captionSoldado morto em tiroteio buscava se aproximar dos moradores da Rocinha, principalmente das crianças | Imagem: Reprodução/Facebook

O soldado Filipe de Mesquita sonhava desde criança em ser policial militar, inspirado pelo exemplo do pai. "Ele era muito do bem. Tinha essa ideia de mudar o mundo", contou à BBC Brasil a designer Letícia Pinheiro, amiga de infância e vizinha do policial que trabalhava na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha.
Numa foto postada no Facebook, o PM contou que ficou emocionado quando crianças da comunidade pediram para tirar uma foto com ele. "São momentos como esse que fazem com que tenhamos certeza de que estamos no caminho certo", escreveu.
Segundo Letícia, o melhor amigo tentava se aproximar dos moradores da Rocinha, para explicar que não tinha a intenção de ferir. "O Filipe tirava bastante foto na comunidade, com as crianças. Ele sempre chegava falando que era gratificante uma criança chegar em você e dizer 'obrigada, você está protegendo a minha família'", conta.
"A visão que os bandidos passam na favela é que o policial é ruim. Ele queira mostrar que não era assim."
Mas, na quarta, os planos do jovem policial acabaram com um tiro. Num confronto com traficantres, na favela da Rocinha, ele foi baleado. Chegou a ser socorrido, mas não resistiu.

Postagem do soldado Felipe de Mesquita diz: 'São momentos como esse que fazem termos certeza que estamos no caminho certo'
Image captionMesquita queria ser policial desde criança e se emocionava com o carinho das crianças na comunidade | Imagem: Reprodução/Facebook

Filipe Mesquita passou a engrossar a longa lista de policiais mortos - 29 só neste ano e 134 em 2017, segundo dados repassados à BBC Brasil pela PM do RJ. "É um número fora do comum, mas não é inédito. Infelizmente, em outras oportunidades, já perdemos até mais policias num mesmo dia", disse à BBC Brasil o major Ivan Blaz, porta-voz da PM do RJ.

Operação nem sempre envolve fuzil

Alguns meses antes de "virar estatística", Filipe Mesquita viveu um breve momento de "fama". Estampou a capa de um jornal local que falava de uma operação policial na Rocinha.
"Ele vinha chegando à nossa rua e eu disse: 'Você tá famoso, ein?'. Ele não tinha visto o jornal. Quando viu começou a chorar e disse: 'Meu sonho era aparecer assim, vestindo a farda. Vou pegar esse jornal para mim e colocar na parede'", relatou Letícia.
Mas uma das operações da qual Filipe Mesquita mais se orgulhava não envolveu armas nem confronto com traficantes. Foi o socorro a uma mulher grávida que acabou tendo o bebê antes de chegar ao hospital.
"Hoje tive uma das melhores sensações da minha vida. Pude socorrer uma mulher em pleno trabalho de parto. Ela só falava que a gravidez era de risco. A bebê tinha sopro no coração. Imediatamente colocamos ela na viatura e fomos em direção ao Miguel Couto, quando avistamos uma ambulância", postou no Facebook.
"É até dificil de falar. Era uma pessoa muito boa…. A gente tem que ficar com as lembranças boas e tendo a certeza que ele fez o certo", afirma Letícia.

Postagem do soldado Filipe de Mesquita comemora nascimento de criança
Image captionUma das operações da qual Mesquita mais se orgulhava foi o socorro a uma mulher grávida que acabou tendo o bebê antes de chegar ao hospital | Imagem: Reprodução/Facebook

Outros dois mortos no mesmo dia

Além de Filipe Mesquita, outros dois policiais foram assassinados no mesmo dia, num intervalo de 12 horas. O sargento Maurício Chagas Barros morreu durante troca de tiros com criminosos no Gogó da Ema, em Belford Roxo, Baixada Fluminense. Já o cabo Luciano Coelho foi morto a tiros durante um assalto dentro de um loja de departamentos no Centro de Cabo Frio, na Região dos Lagos.
"Como será o meu dia amanhã? Enterrar um filho muito querido vítima da violência do Rio", escreveu Geraldino da Silva Barros, pai de Maurício, no Facebook, quando soube da notícia.
Meses antes, o policial havia feito uma homenagem no aniversário do pai.
"Pai, eu não poderia deixar de, no dia de hoje, lhe prestar está justa homenagem. Todos os dias agradeço a Deus pela benção que é o privilégio de ser seu filho, te amo e espero ser um dia um pai tão zeloso e exemplar quanto és para mim", escreveu Maurício Barros, numa foto ao lado do pai publicada na rede social.

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Image captionPai do sargento Maurício Chagas Barros lamentou a morte do filho em postagem no Facebook | Imagem: Reprodução

Os três PMs que morreram num intervalo de 12 horas têm nome, pais, filhos, amigos e histórias. Mas, na visão do presidente Associação de Oficiais Militares Estaduais do Rio de Janeiro (AME/RJ), coronel da reserva Carlos Fernando Ferreira Belo, são vistos pelo Estado e por parte da sociedade apenas como números, juntamente com os outros 134 policiais assassinados em 2017.
"A consideração é a de que o policial é um ser descartável. Se morrer, enterra, toca o hino, joga a terra em cima, dobra a bandeira, entrega para a família e coloca outro (PM) no lugar", disse ele à BBC Brasil.
"O número de mortes em 2017 e 2018 é assustador. Nós vemos policiais morrendo a troco de nada. Falta armamento, falta munição, falta viatura e a vida do PM não é valorizada", critica.

'Polícia no morro sem presença do Estado não resolve'

O coronel Belo elenca alguns problemas que considera graves nas forças de segurança do RJ: salários baixos para soldados (cerca de R$ 2,6 mil), atrasos nos pagamentos, falta de investimentos, número baixo de efetivo (déficit de 20 mil homens, segundo ele) e treinamento deficiente nas corporações menos especializadas.
Mas ele também argumenta que o modelo de instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) não trouxe resultado, expondo policiais e moradores das favelas a riscos.
Isto porque, segundo ele, não adianta "colocar só policiais no morro" sem garantir a presença do Estado em áreas como saúde, cultura e educação.

policiaisDireito de imagemREUTERS
Image captionPara major Ivan Blaz, policiamento sem política social não resolve violência no Rio de Janeiro

"A mídia divulgou tão bem as UPPs que inicialmente os bandidos fugiram. Mas os demais órgãos do Estado não estiveram presentes. Não tem saúde, educação e cultura, não tem presença do Estado. Só polícia não resolve. Os bandidos voltaram", opina.
O coronel ainda afirma que os policiais foram deslocados para as UPPs sem treinamento suficiente. "Colocaram as UPPs sem formação técnica para os policiais. Temos 9.500 homens nas UPPs apenas. Elas estão exauridas", diz ele, acrescentando que seriam necessários mais 20 mil policiais para dar conta da violência no Rio de Janeiro.
O major Ivan Blaz também defende que policiamento sem política social não resolve o problema da segurança pública. Mas, para ele, o problema não está na falta de recursos para a PM, mas sim na "ocupação desordenada do solo" e na ausência de ações sociais.
"Os recursos que faltam não passam pela PM. O que faltam são políticas públicas que tratem de urbanização. Também faltam políticas sociais que abracem uma população que tem entre 14 e 22 anos, para impedir que os jovens migrem para o crime."

Violência contra policiais e de policiais contra civis

São muitas as críticas de que a PM age com truculência em relação aos moradores de comunidades pobres. O alto número de vítimas da violência nas favelas evidencia que a população pobre é a que mais sofre com a guerra contra o tráfico.
No dia 16, uma mulher de 58 anos e um bebê de um ano foram mortos durante troca de tiros no Complexo do Alemão. Mais recentemente, a morte da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, executada com quatro tiros, chocou o mundo.
A polícia ainda investiga a autoria, mas as balas utilizadas teriam sido desviadas de um lote destinado à Polícia Federal. Marielle era uma crítica ferrenha da intervenção militar no Rio e da violência policial nas favelas.

vidro atingido por tirosDireito de imagemREUTERS
Image captionEm 2018, morreram 29 policiais. Em 2017, foram 134 mortos

"Nós vemos a morte de uma representante do povo e nós lamentamos profundamente e esperamos que quem fez isso pague nos termos rigorosos da lei. Se foi um policial, foi um bandido travestido de PM. Hoje toda a sociedade já colocou na cota da PM a morte dela", afirma o presidente da Associação de Oficiais Militares Estaduais do Rio de Janeiro.
Sobre a morte de moradores da favela, durante confrontos com policiais, o coronal Belo alega que a "culpa" é "quase sempre" atribuída aos policiais, ainda que os disparos tenham sido feitos por traficantes.
"É uma situação de alto risco e com estresse gigantesco. Quando morre alguém já se atribui ao policial. O policial sobe o morro com a preocupação de não morrer e de que uma bala perdida de bandido ou dele não atinja um inocente, porque a culpa vai ser dele de qualquer jeito", afirma, ressaltando, porém, que nenhum policial pode entrar "atirando a esmo".
Da BBC Brasil
Professor Edgar Bom Jardim - PE

De olho no Central de Caruaru


Finalista pela primeira vez na história do Campeonato Pernambucano, o Central é o centro das atenções após eliminar o favorito Sport nas semifinais. Com a vitória por 1x0 sobre os rubro-negros, no estádio Lacerdão, em Caruaru, o presidente alvinegro, Clóvis Lucena, revelou que alguns profissionais da equipe já sofrem com o assédio de outros clubes na temporada 2018.
“Já começamos a viver esse tipo de situação. Houveram contatos, mas todos seguem firmes em busca do tão sonhado título estadual. Mauro Fernandes, por exemplo, garantiu que quer essa conquista, assim como o restante dos jogadores do elenco. Temos pessoas sérias, compromissadas e responsáveis”, declarou o mandatário da Patativa em conversa com a Folha de Pernambuco.
Empolgado com o momento de sucesso, o presidente Clóvis Lucena ficou impressionado como a cidade de Caruaru acordou em festa. Apesar do entusiasmo pelo feito inédito, ele pregou pés no chão para levantar a taça do Estadual. O Central ainda espera o vencedor da outra semifinal entre Náutico e Salgueiro, no próximo domingo (25), na Arena de Pernambuco.
“Os caruaruenses merecem essa conquista, mas ainda não ganhamos nada. Com humildade, vamos lutar pelo título. Tenho certeza que o final vai ser ainda mais feliz aqui”, encerrou o cartola.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 21 de março de 2018

STF decide amanhã sobre prisão de Lula; quatro perguntas para entender o que está em jogo


Plenário do STF em 21 de março de 2018
Image captionOs ministros do STF estão divididos a respeito da prisão após a segunda instância | foto: Carlos Moura / SCO - STF

Depois da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em segunda instância, em janeiro, a defesa do petista adotou estratégias em diferentes frentes do Judiciário para tentar impedir uma eventual prisão do presidenciável.
No Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, os advogados de Lula questionaram pontos da decisão unânime dos desembargadores, que concordaram com a condenação imposta pelo juiz Sérgio Moro no caso tríplex do Guarujá.
Em Brasília, a defesa entrou com pedidos de habeas corpus - para garantir a liberdade do ex-presidente - no Supremo Tribunal Federal.
Depois de semanas de aumento da tensão nos cenários político e jurídico, Lula obteve duas respostas a seus pleitos nesta quarta-feira. No fim da manhã, o TRF-4 anunciou que julgará os recursos do petista na próxima segunda-feira, dia 26. No início da tarde, a ministra Carmén Lúcia surpreendeu os colegas ao anunciar que levará ao plenário da Corte o pedido de Lula para obter uma salvaguarda contra a prisão.
A BBC Brasil revisitou os recursos e explica o que motivou a mudança de panorama e o que está em jogo nos próximos dias.

1. Por que Cármen Lúcia pautou o caso de Lula? O julgamento estava previsto?

Em seu pedido de salvaguarda, a defesa de Lula alega que a prisão do petista poderia acontecer imediatamente após o julgamento dos recursos de Lula no TRF-4, sem que o petista tivesse esgotado as possibilidades de recursos de defesa na Justiça. Isso, ainda de acordo com o advogado Cristiano Zanin Martins, fere o princípio constitucional da garantia da ampla defesa.

Ex-presidente LulaDireito de imagemREUTERS
Image captionLula foi condenado pelo TRF-4 em janeiro a mais de 12 anos de prisão

A prisão nessas condições, no entanto, foi autorizada pelo próprio STF. Em 2016, o tribunal decidiu por 6 votos a 5 que condenados em segunda instância podem começar a cumprir a pena. No caso de Lula, os desembargadores do TRF-4 determinaram a prisão do petista tão logo acabassem os recursos disponíveis no tribunal.
Dada a proximidade da decisão em Porto Alegre, o julgamento no STF em relação à liberdade de Lula se tornava cada vez mais urgente. Paralelamente, alguns ministros da Suprema Corte passaram a criticar a decisão do Tribunal sobre a segunda instância e começaram a demandar que o STF revisitasse o assunto.
Apesar disso, o julgamento do pedido de habeas corpus da defesa de Lula no STF não estava previsto para este mês, tampouco para abril, o que gerou intensa pressão sobre a presidente da corte, responsável por definir a pauta do STF.
Além dos apoiadores de Lula, advogados de réus da Operação Lava Jato e parte da classe política queriam que Cármen Lúcia pautasse o tema o quanto antes. Defensores dos direitos humanos tinham a mesma visão: o "cumprimento provisório da pena" não atinge só políticos; existem casos de pessoas que foram condenadas em segunda instância por crimes comuns e já estão presas, mas podem ter a condenação revista pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou pelo próprio Supremo.
Do outro lado, os partidários da revisão passaram a ser acusados de casuísmo: estariam dispostos a alterar as mudanças das regras atuais apenas para prejudicar ou beneficiar Lula.
Mais do que isso, procuradores da Lava Jato e o próprio juiz Sergio Moro argumentaram publicamente que uma mudança de entendimento do STF significaria um "liberou geral" para políticos acusados de corrupção e investigados na Lava Jato: a ida para a cadeia só após o fim de todos os recursos criaria impunidade e levaria ao fim das apurações contra a corrupção. É essa também a posição dos movimentos sociais que pediram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Militantes do Vem Pra Rua reuniram-se com Cármen Lúcia no começo da tarde de hoje para tratar do assunto.

Marco Aurélio (esq.) e Ricardo Lewandowski (dir.)
Image captionMarco Aurélio (esq.) é o relator das ações que pedem o fim da prisão após condenação em segunda instância | foto: Carlos Moura / SCO - STF

Com a decisão de hoje, Cármen Lúcia tenta "driblar" as críticas que têm recebido de colegas do STF por não pautar o assunto, ao mesmo tempo em que não desagrada o grupo "pró-Lava Jato". A decisão será exclusiva para o ex-presidente Lula, e não terá impactos sobre as situações de outros políticos investigados.

2. Como os ministros Marco Aurélio, Celso de Mello e Gilmar Mendes pressionaram Cármen Lúcia?

Os três ministros têm liderado no STF o pedido da revisão da decisão de 2016. Marco Aurélio Mello é o relator das duas ações que questionam o "cumprimento provisório" da pena. No jargão do tribunal, as ações são chamadas de ADCs - Ações Declaratórias de Constitucionalidade.
Marco Aurélio liberou os processos para julgamento pelo plenário em dezembro passado. As ações foram apresentadas ainda em maio de 2016, pelo antigo Partido Ecológico Nacional (PEN), e pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A entidade de classe é contra o cumprimento da pena após a condenação em segunda instância. Já o Ministério Público é favorável.
Na última quarta-feira, Marco Aurélio conversou com Cármen Lúcia no intervalo da sessão de julgamento. Pediu que ela pautasse as ações, mas a presidente da corte desconversou.
Celso de Mello também conversou com Cármen Lúcia sobre o tema, e teria pedido uma reunião informal dos ministros para tratar do assunto, a portas fechadas. A reunião deveria ter ocorrido ontem, mas não existiu. Celso de Mello comentou com jornalistas sobre a gravidade da situação na Corte, que ele avaliava ser sem precedentes.
Marco Aurélio preparou-se então para fazer uma "questão de ordem", em plenário, demandando que Cármen Lúcia pautasse o tema. Se a maioria dos ministros concordasse, os processos seriam incluídos na pauta da próxima sessão.
Além de Celso de Mello e Marco Aurélio, o ministro Gilmar Mendes instou publicamente Cármen Lúcia, na última segunda-feira, a marcar uma data para o julgamento do pedido de habeas corpus de Lula.

A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia
Image captionCármen Lúcia sofreu pressão intensa nas últimas semanas | foto: Carlos Moura / SCO - STF

Pelo menos cinco ministros do STF são favoráveis à mudança da regra do "cumprimento provisório" da pena: Celso, Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski defendem a volta à regra anterior; enquanto Gilmar Mendes e Dias Toffoli desejam que a pena seja cumprida após decisão do STJ. Outros cinco ministros querem manter a regra atual. Rosa Weber, que votou contra a execução de pena em segunda instância em 2016, não se posicionou publicamente sobre o tema recentemente. Seu voto atual é desconhecido.

3. O que acontece se Lula for derrotado no STF amanhã?

O destino do ex-presidente depende de duas decisões judiciais: a do STF, amanhã, e a dos três desembargadores do TRF-4, em Porto Alegre. Os três desembargadores - Leandro Paulsen, Gebran Neto e Victor Laus - julgam na segunda-feira um "embargo de declaração" apresentado pela defesa do ex-presidente, no qual questionam possíveis omissões ou pontos obscuros da decisão na qual o petista foi condenado em segunda instância, no dia 24 de janeiro.
Se Lula obtiver um habeas corpus no STF, qualquer decisão do TRF-4 sobre sua prisão fica em suspenso - e ele não irá para a cadeia imediatamente. Ainda assim, uma eventual vitória no STF não anula a condenação de Lula que, em tese, o torna inelegível pelo que dispõe a Lei da Ficha Limpa.

O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins
Image captionA defesa de Lula alega que a prisão é inconstitucional. Na foto, o advogado Cristiano Zanin Martins | Foto: Filipe Araújo

Se perder no Supremo, tudo indica Lula deverá ser preso em no máximo 10 dias.
Se houver alguma divergência entre os três desembargadores do TRF-4 na segunda-feira, o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, deverá esperar a publicação do acórdão do julgamento do recurso. Este acórdão costuma ser publicado em até dez dias. Só então Moro poderá expedir o mandado de prisão contra o petista.
Mas se não ocorrer nenhuma divergência entre os desembargadores - cenário mais possível, já que no julgamento do caso, em janeiro, eles concordaram em tudo - Moro poderá emitir pedido de prisão contra Lula ainda na segunda-feira. Nas últimas prisões da Lava Jato, o próprio Moro têm determinado detalhes do cumprimento da pena, como a cidade e o local onde o preso ficará.

4. O julgamento de amanhã muda a situação de outros presos da Lava Jato?

Não. A decisão do STF sobre o Habeas Corpus de Lula refere-se exclusivamente à situação do petista. Ela não terá impacto direto na situação de nenhum dos outros políticos investigados ou processados na Lava Jato, e nem na situação dos presos por crimes comuns que hoje cumprem pena.
Professor Edgar Bom Jardim - PE