terça-feira, 28 de novembro de 2017

Educação:Quantas vezes o cérebro precisa ser exposto a uma palavra para aprendê-la?

Mulher com vários pontos de interrogação no quadroDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEspecialistas dizem que para aprender e se lembrar da maioria das palavras é necessário repetição e estímulos sonoros e visuais
Muita gente certamente já se perguntou quantas vezes precisa escutar uma palavra para incorporá-la ao vocabulário. Seriam necessárias cinco, dez, vinte vezes?
Em um estudo conduzido em 1965, os especialistas em educação e psicologia David Ausubel e Mohamed Youssef foram categóricos em dizer que um estudante precisaria ser exposto a uma palavra 17 vezes antes de aprendê-la e passar a usá-la.
Outras pesquisas apontam para uma média que varia entre 15 e 20 vezes.
Mas Catherine Snow, professora de educação na prestigiada Universidade Harvard, nos EUA, pondera que existem diferentes condições de aprendizado e, às vezes, basta ouvir a palavra uma única vez para aprendê-la.
"Você pode apontar para algo e dizer a palavra. Com isso, as crianças podem aprender, se lembrar dela e passar a usá-la a partir desse momento. Mas há muitas palavras cujo significado não dá para personificar em um objeto ou imagem", observa a especialista.
Catherine Snow
Image captionCatherine Snow afirma que, em média, exposição de 15 a 20 vezes bastam para aprender uma palavra | Foto: Universidade Harvard
Snow diz ainda que há muitos aspectos sobre as palavras para se aprender. "Não apenas as pronúncias ou o que significam, mas também o contexto adequado para usá-las."
Assim, explica a professora, algumas exigem mais repetições que outras. Ela afirma que a estimativa de 15 a 20 vezes serve como uma média entre o aprendizado de palavras mais fáceis e mais difíceis - ou seja, aquelas com significado simples e as mais complexas.

Aprender idioma estrangeiro

No caso do aprendizado de uma segunda língua, avalia Catherine Snow, espera-se que os estudantes aprendam uma média de 200 palavras por semana. "Mas não podemos assegurar que eles vão se lembrar dessas palavras", salienta.
A estratégia usada por muitos professores é ensinar essas 200 palavras e garantir que os alunos estejam expostos a elas cinco vezes em um dia, quatro no próximo e três vezes nos dois seguintes.
"E uma ou duas vezes na semana seguinte. Dessa forma, são muitas as possibilidades de que o aluno escute ou leia essas palavras. Assim, é possível assegurar a consolidação da memória", observa a especialista, referindo-se ao processo de transformação das lembranças de curto prazo em longo prazo.
Professora mostra foto a criançasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO uso de fotos ajuda a fixar novas palavras

Aprendizado varia com idade?

A professora de Harvard diz que o ensino de idiomas estrangeiros é uma das poucas formas que permite medir a frequência que uma palavra é exposta. "Com crianças pequenas, não sabemos com que frequência usamos uma palavra antes que tenham aprendido", justifica.
Para ela, a partir dos 15 anos estudantes são mais eficientes em aprender. Já podem fazer isso sozinhos e usar referências bibliográficas para reforçar os conhecimentos. "Então, creio que os mais jovens provavelmente precisam de mais exposição."
Questionada sobre qual a quantidade de vezes que um cérebro precisa estar exposto para aprender um idioma, Snow admite que, apesar de possível, são poucas as chances de se aprender uma palavra já na primeira exposição.
"Também é mais difícil ensinar palavras sem as relacionar entre si", observa.
Reprodução de um cérebro sobre um livroDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPara registro na memória de longo prazo, é preciso treinar ortografia, semântica e fonética das palavras

Estratégia para aprender mais rápido

Snow explica qual a estratégia que usa com seus alunos.
Primeiro, ela mostra uma foto relacionada a um tema que interesse os estudantes e os faz a pensar sobre as palavras das quais realmente precisam para falar sobre esse tópico.
Em seguida, ela apresenta leituras e cria oportunidades que eles escrevam as palavras relacionadas ao tema. Assim, diz a professora, elas vão se repetir muitas vezes.
Snow assinala ser muito importante praticar a forma oral e escrita das palavras, pois isso ajuda a formar a chamada representação léxica de alta qualidade, que inclui ortografia, semântica e fonética detalhada.
"Há palavras que conhecemos, apesar de não termos certeza de como as soletramos ou são pronunciadas. Ainda assim, podemos entendê-las quando as lemos. Essas palavras são frágeis no nosso vocabulário", observa a professora.
A solução, diz ela, é fazer com que os alunos entendam como usá-las - assim fica mais fácil de elas serem lembradas.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Pernambuco: família se pronuncia sobre acidente durante enterro de mãe e filho

Sepultamento da mãe estava marcado para as 18h, mas foi adiado para as 20h devido à morte do filho caçula. Foto: Rosália Vasconcelos/DP (Sepultamento da mãe estava marcado para as 18h, mas foi adiado para as 20h devido à morte do filho caçula. Foto: Rosália Vasconcelos/DP)
Sepultamento da mãe estava marcado para as 18h, mas foi adiado para as 20h devido à morte do filho caçula. Foto: Rosália Vasconcelos/DP


"Agradecemos as orações de todos. As pessoas que ajudaram dentro do hospital, no Instituto de Medicina Legal e no socorro após o acidente. Que todas essas pessoas sejam abençoadas por Deus e que sejam privadas de viver o que estamos vivendo"
. O lamento dos familiares de Maria Emília Guimarães, de 39 anos, e do pequeno Miguel Neto, de três anos, denuncia o nó na garganta que os recifenses vivem nas últimas 24 horas. A família foi devastada após um acidente de trânsito causado por um motorista embriagado em alta velocidade no cruzamento da Rua Padre Roma com a Estrada do Arraial, no bairro da Tamarineira, na Zona Norte. Além de mãe e filho, a babá Roseana Maria de Brito Souza, 23, grávida de três meses, também morreu. Os sobreviventes seguem internados. O pai, o advogado trabalhista e contador Miguel Arruda da Motta Silveira Filho, de 46 anos, foi submetido a uma cirurgia nesta tarde e está sendo sedado pelos médicos para não ter consciência do que aconteceu. A filha, Marcela Guimarães Motta Silveira, de cinco anos, passou por uma cirurgia no crânio e segue em estado considerado grave.

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Câmeras flagram momento exato de colisão que vitimou fatalmente duas mulheres         Polícia Civil designa delegado especial da Delitos de Trânsito para investigar acidente na Tamarineira

A família rompeu o silêncio durante o enterro de mãe e filho no Cemitério Morada da Paz, Paulista. Eles tinham optado por se preservar, mas como a tragédia teve forte comoção social, resolveram se pronunciar para evitar boatos. Uma prima foi a porta-voz. O pai não sabe de nada ainda. Por recomendação dos médicos, ele ficará sedado até quinta ou sexta, quando a família vai informá-lo sobre o falecimento da mulher e do filho.

O advogado Miguel Filho está sendo sedado pelos médicos para não saber o que aconteceu com a família. Foto: Facebook/Reprodução (O advogado Miguel Filho está sendo sedado pelos médicos para não saber o que aconteceu com a família. Foto: Facebook/Reprodução)
O advogado Miguel Filho está sendo sedado pelos médicos para não saber o que aconteceu com a família. Foto: Facebook/Reprodução


Segundo os familiares, Miguelzinho não teve morte cerebral. Ele chegou ao Hospital Santa Joana com traumatismo craniano grau 4 (o índice de variação é de 0 a 15) e hemorragia no abdômen, que não foi detectada no início do atendimento. Foi submetido a transfusões de sangue, mas o volume não subia. Só então, de acordo com a família, detectaram a hemorragia. O garoto entrou no bloco cirúrgico para conter o sangramento no abdômen, mas não resistiu e faleceu durante o procedimento. 

A irmã Marcelinha foi atendida no Hospital da Restauração e, nesta segunda, foi encaminhada ao Hospital Santa Joana. Ela chegou com traumatismo craniano grau 7 e foi submetida a uma cirurgia. Até então, o procedimento no crânio foi considerado bem-sucedido. Agora, ela está no bloco cirúrgico fazendo o monitoramento da pressão intracraniana, que ainda está alta.

Afora os sepultamentos de Miguelzinho e Maria Emília, nesta noite, ainda está sendo celebrada uma missa na Igreja de Casa Forte, em memória das vítimas. Ainda segundo os familiares, não houve doações de órgãos.

Enterro da babá Roseana Maria de Brito Souza comoveu município de Aliança. Foto: Dario Veiga/Divulgacao (Enterro da babá Roseana Maria de Brito Souza comoveu município de Aliança. Foto: Dario Veiga/Divulgacao)
Enterro da babá Roseana Maria de Brito Souza comoveu município de Aliança. Foto: Dario Veiga/Divulgacao


A babá Roseana Maria de Brito Souza era natural de Aliança, na Mata Norte. Ela estava grávida de três meses e deixou uma filha de três anos. "Ela era uma pessoa maravilhosa, trabalhadora, amava muito a filha, fazia de tudo para sua família", disse esta manhã a amiga e comadre da vítima, Priscila Adriana Vital da Silva, de 22 anos. De acordo com Priscila, Roseana trabalhava para a família há mais de um ano. O corpo dela foi sepultado no fim da tarde desta segunda no Cemitério Público São Francisco de Assis, em Aliança.
O ACIDENTE

Acidente deixou três mortos, incluindo uma criança e uma gestante, e duas pessoas feridas. Foto: Eduarda Abelenda/Cortesia (Acidente deixou três mortos, incluindo uma criança e uma gestante, e duas pessoas feridas. Foto: Eduarda Abelenda/Cortesia)
Acidente deixou três mortos, incluindo uma criança e uma gestante, e duas pessoas feridas. Foto: Eduarda Abelenda/Cortesia
O trágico acidente aconteceu por volta das 19h30 desse domingo. Um Ford Fusion, de placas NMN-3336, em alta velocidade, atingiu o carro da família, uma Toyota RAV4, de placas OEZ-4943, quando eles voltavam da casa dos pais do advogado Miguel Filho. O universitário João Victor Ribeiro de Oliveira, 26 anos, conduzia o Fusion. Segundo a Polícia Civil, o teste do bafômetro constatou nível 1,03 de alcoolemia. Ele sofreu ferimentos leves, foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento da Caxangá e, em seguida, para a Central de Flagrantes. Ele foi autuado em flagrante por duplo homicídio doloso e três lesões gravíssimas, com dolo eventual (quando assume risco de matar). Pouco tempo após a autuação, o Hospital Santa Joana confirmou a terceira vítima fatal do acidente, Miguel Neto.
Com informações da repórter Rosália Vasconcelos - Diário de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Vírus que rouba dados bancários é encontrado no Google Play pela 3ª vez


Um vírus que rouba dados bancários, o BankBot, foi encontrado na Google Play -loja de aplicativos do Android- pela terceira vez neste ano. O malware vem junto com aplicativos aparentemente inofensivos, como "Tomado FlashLight", "Lamp for DarkNess" e "Sea FlashLight" (lanternas), "Crypto Currencies Market Prices" (informações sobre criptomoedas), entre outros disfarces.

Depois de instalado no celular, o vírus, espécie de cavalo de Troia (que se esconde no momento da instalação), cria uma interface falsa em aplicativos bancários. Assim, quem entrar no app do seu banco e preencher a senha estará cedendo seus dados aos invasores.

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Segundo o Avast, empresa de anti-vírus que detectou a falha, o problema afetou usuários dos bancos WellsFargo, Chase, DiBa e Citibank. São 160 aplicativos bancários que podem ser alvos do malware. O BankBot foi encontrado entre os apps do Google Play em abril, setembro e, agora, em novembro.

Procurado, o Google respondeu por meio de nota. "Levamos a segurança muito a sério no Google Play e atualmente estamos investigando a situação para proteger os usuários", afirma a empresa. A Play Store já removeu todos os aplicativos identificados como "disfarces" do BankBot, mas os hackers podem criar apps com nomes de desenvolvedores diferentes a qualquer momento.

Cuidados

Não dê permissões para aplicativos de origem desconhecida Não baixe apps que não sejam estritamente necessários (a lanterna, por exemplo, é um recurso que vem embutido na maioria dos celulares) Verifique a classificação (nota) do app atribuída pelos demais usuários Não dê permissão de "administrador" para um app se ele não for absolutamente confiável Se a interface do app do seu banco parece estranha, não use
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Na Finlândia, alunos agora ensinam tecnologia para professores e idosos


Professor (ao centro) recebe ensinamentos de um garoto (esq.) e uma menina (dir.) em um tablet
Image caption'É maravilhoso ter crianças de até dez anos de idade dando aulas de tecnologia aos nossos professores, e os resultados têm sido surpreendentes', diz o diretor de uma escola | Foto: Divulgação
No pouco ortodoxo modelo de ensino que levou a Finlândia ao topo dos rankings globais de educação, uma inovadora inversão de papéis começa a tomar corpo: alunos estão dando aulas aos professores, para ensinar os mestres a otimizar o uso de tecnologias de informação e comunicação nas escolas.
"Crianças e adolescentes aprendem a lidar com novas tecnologias e aplicativos de maneira muito mais rápida do que nós, adultos. E eles não têm medo de tentar coisas novas", disse à BBC Brasil Pasi Majasaari, diretor da escola Hämeenkylä, na cidade de Vantaa, próxima à capital Helsinki.
"É maravilhoso ter crianças de até dez anos de idade dando aulas de tecnologia aos nossos professores, e os resultados têm sido surpreendentes. Tanto para os estudantes como para os mestres", destacou.
O projeto OppilasAgentti ("Agentes Escolares", em tradução livre) está sendo conduzido em cerca de cem escolas finlandesas, e a ideia é levar a nova experiência a um número cada vez maior do universo de 3.450 instituições de ensino do país.
Trata-se de um modelo para desenvolver as competências tecnológicas não apenas dos professores, mas de toda a comunidade escolar - e também do seu entorno: os alunos da escola Hämeenkylä, por exemplo, também estão dando aulas aos idosos de um asilo local sobre como usar redes sociais, iPads e outros dispositivos.
"Acreditamos que é importante ensinar nossas crianças a descobrir seus potenciais e a desenvolver seus valores, e mostrar a elas o impacto positivo que cada indivíduo pode exercer na sociedade", observa Pasi Majasaari.
"É preciso compreender a realidade à sua volta, e por isso nossos alunos também cooperam com a igreja local em programas assistenciais para a alimentação dos mais pobres e menos favorecidos em nossa sociedade", acrescenta o diretor.
A escola tradicional, dizem os finlandeses, já não funciona mais.
"O modelo de educação da era industrial treinava crianças para ficarem sentadas, quietas e em silêncio, e executar tarefas repetitivas. As crianças de hoje não querem e não precisam mais ficar sentadas. Elas precisam exercitar sua criatividade, exercer um papel ativo e serem ensinadas a pensar por conta própria", diz Majasaari.
Sala de aula com professores sentados nas carteiras e estudantes em volta deles, dando aulas
Image captionInversão de papéis: professores sentados nas carteiras e alunos em volta dando aulas | Foto: Divulgação

Constante evolução

A ideia de envolver os alunos na capacitação tecnológica dos mestres nasceu a partir de relatos de muitos professores, que diziam ter dificuldades em se manter atualizados com a constante evolução da era digital.
"Muitas inovações tecnológicas são compradas regularmente para equipar as escolas, como por exemplo novos aplicativos ou as imensas tevês inteligentes de tela plana que temos em nossos corredores. Mas vários professores ou não sabiam como usá-los em todo o seu potencial, ou não tinham tempo suficiente para se dedicar a essa tarefa", diz o diretor da escola Hämeenkylä.
Os alunos do projeto StudentAgents têm entre dez e 16 anos de idade. Pelo sistema, os estudantes interessados em participar se apresentam como voluntários, e relatam suas competências e habilidades em determinadas áreas. As escolas também oferecem treinamento aos alunos, em aulas ministradas por especialistas de diferentes empresas finlandesas que revendem soluções tecnológicas para o sistema de ensino do país.
A partir daí, os estudantes produzem um mapeamento das necessidades digitais da escola, sob a orientação de um professor. Eles fazem então um planejamento das atividades necessárias, e passam a atuar em três frentes.
Na sala dos professores, os alunos dão aulas ocasionais sobre como usar diferentes dispositivos e aplicativos. Professores também podem contatar os estudantes para pedir assistência individual, a fim de solucionar pequenos problemas. E os alunos-mestres também atuam como professores assistentes nas salas de aula, para prestar ajuda tanto aos professores quanto a outros colegas de classe quando determinada lição envolve o uso de tecnologia.
"Os alunos estão ajudando a implementar uma série de novas soluções digitais nas escolas, como a prestação de apoio técnico na introdução de sistemas", diz à BBC Brasil Risto Korhonen, da Ilona IT, uma das empresas finlandesas que vêm realizando treinamentos para os alunos do projeto StudentAgents.
As aulas de codificação são particularmente relevantes, ele diz:
"Grande parte dos professores possui um conhecimento limitado nessa área, e por isso os alunos desempenham um importante papel ao ensiná-los a lidar com dispositivos de codificação."
Os estudantes do projeto também realizam webinários (seminários transmitidos via internet) para ensinar colegas de outras escolas, além de treinar crianças menores em técnicas de edição e animação de vídeos.
"Nossos alunos estão ainda dando suporte técnico a uma série de atividades na escola. Por exemplo, eles desenvolvem os efeitos especiais e todo o sistema técnico para os concertos de música que realizamos", diz Pasi Majasaari.
Dois adolescentes ensinam um senhor de idade a jogar um jogo virtual, projetado na parede
Image captionAdolescentes também ensinam jogos virtuais para idosos | Foto: Divulgação

Alunos felizes e orgulhosos

Os resultados positivos da experiência foram apresentados recentemente durante o evento que a Finlândia classificou como a maior reunião de pais e professores do mundo - uma conferência realizada simultaneamente, nas escolas de todo o país, para debater a agenda de reformas necessárias a fim de preservar o nível de excelência do ensino público finlandês nos próximos anos.
"Os alunos estão felizes, e orgulhosos de si mesmos. Alguns deles, que não eram bons alunos em determinadas matérias, adquiriram uma nova autoconfiança. Uma de nossas crianças apresentava problemas de concentração, mas floresceu de forma surpreendente quando demos a ela esta oportunidade de participar de maneira ativa e positiva na escola", conta Majasaari.
Os professores também têm aprovado os efeitos da inovação. É uma lógica natural, aponta o diretor da escola:
"Quando ajudamos as crianças a identificar seus talentos e suas forças, elas se comportam melhor, aprendem melhor e obtêm melhores resultados nas escolas."
Inverter o papel tradicional dos alunos nas escolas é mais um pensamento fora da caixa do celebrado sistema finlandês, que conquistou resultados invejáveis nos rankings mundiais de educação com um receituário que inclui menos horas de aulas, poucas lições de casa, férias mais longas e uma baixa frequência de provas.
Um dos principais pontos do novo currículo escolar, adotado em agosto do ano passado, é fazer com que as crianças se transformem em aprendizes ativos.
"É um novo conceito de aprendizado", diz o diretor Pasi Majasaari.
"Nossos alunos do ensino médio já não usam mais livros escolares. Nas aulas de História, por exemplo, os estudantes aprendem a trabalhar com chromebooks (computadores pessoais) que permitem a eles coletar informações, analisar dados e escrever seus próprios livros eletrônicos. Assim, eles aprendem ao mesmo tempo história e tecnologia", ressalta.
"Nossa missão é encontrar novas formas de aprimorar a escola e dar aos alunos a possibilidade de descobrir seus talentos, desenvolver sua autoestima e aprender coisas que serão importantes para suas vidas no futuro."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 26 de novembro de 2017

Leilão de escravos na Líbia causa indignação em toda a África

Manifestação em Paris contra a escravidão na Líbia
Manifestação em Paris contra a escravidão na Líbia  AFP
Jovens africanos na rota migratória para a Europa, vendidos em leilões como escravos, surrados, sequestrados em troca de resgate. Isso há anos acontece na Líbia. Organizações sociais e as próprias vítimas já denunciaram várias vezes, com pouca repercussão. Entretanto, um vídeo contando como funciona esse mercado de seres humanos, divulgado há uma semana pela rede CNN, gerou uma onda de indignação na África.
Os presidentes da África ocidental, a região de origem da maior parte dos migrantes, reagiram com firmeza. O primeiro foi Mahamadou Issoufou (Níger), que solicitou uma investigação ao Tribunal Penal Internacional e convocou seu embaixador na Líbia para consultas. Idêntica decisão tomou Roch Kaboré (Burkina Faso), junto com um apelo às autoridades líbias para que atuem. O Governo senegalês exigiu uma investigação pelo que o presidente malinês, Ibrahim Boubacar Keita, denominou de “barbárie que interpela a consciência de toda a humanidade”. Todos solicitaram à União Europeia, à União Africana e às Nações Unidas que intervenham de uma vez.
Até o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declara-se “horrorizado” e não descarta a possibilidade de processar os responsáveis por crimes contra a humanidade. “A escravidão não tem lugar em nosso mundo”, disse Guterres nesta segunda-feira, “isto nos recorda da necessidade de abordar os fluxos migratórios de maneira global e humana (…) e reforçar a cooperação internacional para reprimir os atravessadores e traficantes, e para proteger os direitos de suas vítimas”. O Governo de unidade nacional da Líbia anunciou a abertura de um inquérito.
A sociedade civil africana também elevou a voz. Os mais midiáticos foram os jogadores de futebol que atuam na Europa, encabeçados por Geoffrey Kondogbia, atleta do Valencia de origem centro-africana, que neste domingo, durante um jogo contra o Espanyol, ostentou uma camiseta com os dizeres: “Futebol à parte, não estou à venda”. Da Inglaterra, o franco-guineano Paul Pogba, astro do Manchester United, pedia em seu perfil do Twitter “que esta crueldade acabe”. Tanto Pogba como Cheick Doukouré, jogador do Levante, comemoraram seus gols com um gesto expressivo, unindo seus antebraços como se estivessem atados.
No Twitter, as hashtags #stopslavery e #StopEsclavageEnLibye (“parem a escravidão” e “parem a escravidão na Líbia”) estão aglutinando as mensagens de uma campanha que foi sendo orquestrada aqui e ali, sob a liderança de artistas, intelectuais e ativistas que criticam a Líbia, mas também a União Europeia, acusada de cumplicidade com o regime desse país africano, “eleito como sócio encarregado de assegurar a fronteira sul da Europa”, segundo um manifesto assinado, entre outros, pelos cantores Tiken Jah Fakoly, Salif Keita e Angelique Kidjo, pelo ator Omar Sy, pelo ciberativista Cheik Fall, pelo escritor Alain Mabanckou e pelo ex-tenista Yannick Noah. “Senhores presidentes, estamos estupefatos por seu silêncio”, afirmou o conhecido cantor de reggae Alpha Blondy há alguns dias.
Neste sábado, cerca de mil pessoas saíram às ruas de Paris sob o lema “não à escravidão na Líbia”, enquanto os países começam a adotar medidas. Seguindo o conselho da União Africana, a Costa do Marfim decidiu repatriar no fim de semana 155 migrantes que estavam retidos em um centro de detenção de Zouara, no oeste da Líbia. Os jovens, incluindo 89 mulheres e vários menores de idade, desembarcaram na segunda-feira no aeroporto de Abidjã e se beneficiarão de programas de ajuda financiados pela União Europeia.
El País
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Educação:a representação do negro no material didático


Escravidão negra na Amazonia
Por Mírian Garrido

Todo fim de ano destinamos um tempinho para pensar sobre o que aprendemos. Quando mais jovem, esse período coincidia com o fim do ano letivo. Eu chegava da escola com a camiseta assinada pelos amigos e guardava meus livros didáticos. Fazia planos de como, no ano seguinte, eu me dedicaria ainda mais, sem deixar de fazer atividades extracurriculares que eu tanto adorava. Começava o ano e meu pai desembolsava um dinheiro significativo com livros didáticos – sacrifício de um metalúrgico que acreditava na educação como garantia de um futuro melhor –, em um ciclo que perdurou por 12 anos, ou seja, ensino fundamental e médio.
Na época, não me preocupei em avaliar o livro didático em si, se ele foi sido usado com excelência, isto é, utilizado como apoio, criticado pelos professores e complementado por eles. Tampouco refletia sobre o impacto dele sobre mim, se o que eu lia e tentava absorver era capaz de influir na visão que eu tinha de mim mesma, da minha família e da sociedade em que eu vivia. Pensava nas notas “azuis” e nas férias a serem curtidas à exaustão.
A perspectiva muda quando me vejo, já no mestrado, procurando livros didáticos para utilizar como fonte da pesquisai. Percebi o quanto esse objeto tem um papel central no ambiente escolar, ecoa na atenção da mídia, mas é efémero. Ficaria ainda mais surpresa quando aprofundasse na pesquisa, e descobriria, então, que o livro didático – esse que circula de mão em mão entre os jovens brasileiros – possui uma variável enorme de elementos que lhe dão forma.
Foi então que, como pesquisadora na área de História, busquei entender quais eram as representações dos negros em livros didáticos. A empreitada parecia fadada a reforçar a ausência do negro na literatura didática ou, ainda pior, a confirmação de que todos os tipos de estereótipos eram ensinados aos leitores dessas obras. Joel Rufino dos Santos, historiador e intelectual defensor das causas negras, já havia – na década de 1980 – condenado os livros didáticos e convocado professores a se livrarem de tais objetosii.
Mesmo assim, a tentativa tinha legitimidade, afinal o Brasil se tornou o maior comprador de livros didáticos do mundoiii e nós, brasileiros e financiadores dessa política de compras, precisamos conhecer os produtos adquiridos. Devemos conhecer essa mercadoria, não apenas pelo caráter econômico, mas, em última instância, porque serão, também, os instrumentos que ensinarão as crianças e adolescentes “que sociedade é essa”.
Como seria impossível dar conta de “toda a história”, fiz meu primeiro recorte: escolhi estudar como o pós-abolição é apresentado aos leitores dos livros didáticosiv. A justificativa era simples, era sabido que o elemento negro ocupava espaço significativo nos livros enquanto escravizados – numa dolorosa perspectiva de mercadoria que produz outras mercadorias. Mas conhecer a história dos que lutaram por sua sobrevivência, contra o passado de escravização e um Estado que os manteria afastados de direitos, conferia, a meu ver, um sentimento de pertencimento positivo muito maior.
A demanda de uma educação que valorize a cultura e história dos diferentes elementos constituidores da sociedade brasileira emergiu com força nas pautas dos movimentos sociais contemporâneosv. Essa atuação impulsionou a aprovação da Lei 10.639/2003vi, configurando-a em instrumento de valorização da História e da Cultura africana e afro-brasileira. Se a ideia “somos o que recordamos” é verdadeira, como esperar que alunos afrodescendentes queiram sentir-se parte de uma cultura e história dada como inferior? Elemento que teria nascido da escravização, e que teria – quando muito – contribuído apenas com palavras no vocabulário popular e comidas típicas?
Os afro-brasileiros merecem aprender que são originários de um continente cuja riqueza e diversidade construiu Impérios; Nações; Confederações; locais onde a autonomia não foi tomada completamente nem mesmo pacificamente. Devem aprender que descendem de homens e mulheres sequestrados e trazidos para um novo lugar, mas que foram capazes de se articular, criar laços, resistir e negociar, quando possível. Digo sempre: “parem de usar a palavra contribuir, eles não contribuíram, eles formaram o país”, e reforço “todos ganham com esses conteúdos, alunos negros e não-negros aprendem a diversidade que constitui a História”.
Retornando ao percurso da pesquisa, quanto mais eu lia a bibliografia sobre os livros didáticos – amplamente estudados academicamente no Brasil – mais notava que o conteúdo é “a ponta do processo”. Analisar o livro apenas pelo texto, imagem, atividade (dentre tantos outros elementos), era riscar na superfície de um objeto ainda maior.
O programa Nacional do Livro Didático, programa que avalia e compra os livros didáticos que serão distribuídos em todo território nacional. E, ao entrar nessa dimensão, passei a pensar no Edital de Convocação do PNLD como o espaço privilegiado para observar como o Estado é capaz de incitar a renovação de conteúdos didáticos, pois ali se encontram “as regras do jogo”. Qualquer elemento que julgue primordial para avaliação, o Edital precisa deixar claro, caso o contrário pode ser descreditado juridicamente pelas editoras.
E, afinal, quais são as representações dos livros didáticos para o pós-abolição? Os Editais de Convocação do Programa Nacional do Livro Didático auxiliaram na introdução de conteúdos não tradicionais? Os livros didáticos ainda devem ser descartados, como diziam intelectuais da década de 1980? As perguntas são inúmeras, as respostas serão bem abertas, principalmente, porque meu objetivo é propor reflexões e não responde-las com minúcia. Garanto que os livros didáticos mudaram muito depois de iniciadas as avaliações do PNLD, e isso se reflete, em especial, no ensino fundamental por ter sido alvo de maior número de avaliações. Inegavelmente, conteúdos não consagrados na literatura didática,
progressivamente, são incorporados, ainda que com limitações – não nos enganemos, ainda há muito por fazer. Defendo, também, que ele não deve ser descartado, criticado sim, mas compreendido na variedade de forças que lhe dão forma.
Desta forma, percebam o quanto o objeto “livro didático” é complexo, mais ainda, que na educação não existe espaço para amadores. Digo isso porque é crescente um movimento que insiste em criminalizar conteúdos didáticos e práticas docentes, sem se importar em compreender quão complexo é o processo que molda livros didáticos, bem como, a multiplicidade que influi na formação de profissionais da educação – assunto que deixo, inclusive, para especialistas. Movimento que, possivelmente, não é sensível aos conteúdos referentes a cultura e história afro-brasileira, por exemplo, no que tange o ensino das manifestações religiosas, importantíssimas para se compreender as visões de mundo nas diferentes sociedades, mas visto por eles como “doutrinário”.
Chegamos a mais um final de ano, do período letivo e a chegada do 20 de Novembro – Dia da Consciência Negra, também demanda do movimento negro que proponha a reflexão sobre como nossa sociedade lida com as questões raciais –. Momento, portanto, de reflexão sobre nossas ações ao longo do ano, o que aprendemos e o que ensinamos. Espero que nesse esforço se faça presente a preocupação com a importância da educação, alvo dos anseios sociais, mas, também, das políticas públicas, sejam elas as direcionadas aos livros didáticos ou as representações positivas do afro-brasileiro – questões que não estão, nem de longe, desconectadas.
Doutora em História pela Universidade Estadual Paulista, “Júlio de Mesquita Filho”, campus de Assis, a autora do texto tem se dedicado aos temas livros didáticos, políticas afirmativas, movimento negro (Brasil/Estados Unidos), afrodescendentes, biografias e independência de Moçambique. Suas pesquisas usufruíram de apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), incluindo estágio no exterior (University of Pittsburgh) e trabalho de campo (Maputo/Moçambique). Pesquisadora e docente, Mírian Garrido defende uma universidade pública de qualidade e para todos.
Carta Capital


www.youtube.com/watch?time_continue=148&v=vGAoGRq4oVI
Professor Edgar Bom Jardim - PE