sábado, 3 de junho de 2017

PF prende Rocha Loures, o empresário flagrado com mala que pode virar 'homem-bomba' do governo Temer


Rocha LouresDireito de imagemDIVULGAÇÃO
Image captionApelido de 'homem-bomba' é usado entre políticos em Brasília para falar de Rocha Loures

A prisão, nesta manhã, do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, aumenta a expectativa de que ele venha a se tornar uma espécie de "homem-bomba" para o governo do presidente Michel Temer.
Ele foi detido em Brasília por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, que também é o relator do processo da Operação Lava Jato.
Desde a delação premiada da JBS, a vida de Loures deu uma reviravolta. Logo ele ficou conhecido como o "homem da mala" por ter recebido, da empresa, dentro de uma mala, uma quantia de R$ 500 mil em propina.
O potencial explosivo de uma eventual delação por parte de Loures - que poderia revelar o destino final do dinheiro recebido pela JBS - fez com que ele passasse a ser chamado de "homem-bomba" em Brasília. Isso porque, segundo os delatores, os recursos seriam destinados ao próprio presidente da República.
Até então, os últimos 12 meses haviam sido bons para Rodrigo Rocha Loures. Com a ascensão de Michel Temer à Presidência, o aliado ganhou, em setembro passado, uma sala no mesmo andar do presidente, atuando como assessor especial de Temer. Na mesma época, sua mulher engravidou. Poucos meses depois, Rocha Loures voltou à Câmara dos Deputados, assumindo, por ser suplente, a vaga de Osmar Serraglio quando este foi nomeado para o Ministério da Justiça.
Com o retorno de Serraglio à sua cadeira na Câmara, na quinta-feira, Rocha Loures perdeu o foro privilegiado que tinha como deputado. A perda da imunidade parlamentar e sua situação familiar - e a gravidez da companheira, que já soma 8 meses - alimentam a expectativa de que o ex-assessor de Temer venha a falar.

Do smoking aos gritos de 'ladrão'

A maré virou na noite em que o escândalo das delações da JBS explodiu no Brasil. Rocha Loures estava longe, em Nova York. Na véspera, vestira smoking para prestigiar João Doria, no jantar de gala em que o prefeito de São Paulo recebeu o prêmio de Personalidade do Ano pela Câmara do Comércio Brasil-EUA.
Na volta da viagem, em que aconselhou potenciais investidores americanos sobre as reformas no Congresso, Rocha Loures desembarcou em Guarulhos sob gritos de "ladrão", já afastado da Câmara por decisão do Supremo Tribunal Federal.
A alcunha de "homem-bomba" está muito distante do apelido de vida toda, o de Rodriguinho - filho de "Rodrigão", o conhecido empresário paranaense Rodrigo Costa da Rocha Loures, fundador da Nutrimental e presidente do Conselho Superior de Inovação e Competitividade, na Fiesp.
A empresa, que teve faturamento de R$ 400 milhões em 2014, é pioneira das barrinhas de cereais no Brasil, que começou a desenvolver ao ser procurada por Amyr Klink nos anos 1980. O ilustre navegador buscava opções de alimentação saudável para abastecer suas longas travessias marítimas.
Hoje, é mais conhecida pela marca que nasceu dessa história, a Nutry - que Rodrigo, o filho, ajudou a desenvolver nos anos que passou à frente da empresa, antes de enveredar pela política.

'Choque' entre conhecidos

Quem acompanhou a trajetória do político e administrador de empresas nascido em 1966 entre os Rocha Loures - uma tradicional família do Paraná - diz que foi um "choque", uma "surpresa", ver e rever as imagens do ex-deputado saindo da pizzaria Camelo, em São Paulo, com a mala de R$ 500 mil.

Policiais federais durante operação em BrasíliaDireito de imagemAG BRASIL
Image captionAgentes da Polícia Federal apreenderam documentos no gabinete de Rocha Loures

Semanas antes disso, Rocha Loures fora indicado pelo presidente Michel Temer ao empresário Joesley Batista - quanto este lhe perguntou quem poderia lhe ajudar a resolver um problema da empresa.
"No Paraná, todos tinham uma boa impressão do Rodrigo", diz o deputado federal João Arruda, que pertence à bancada do PMDB do Estado na Câmara.
"Todos foram pegos de surpresa. Ninguém poderia imaginar que o Rodrigo estaria envolvido... Não estou fazendo aqui um pré-julgamento, ainda temos esperar até que ele se defenda. Mas o flagrante coloca ele em uma situação muito difícil."
Arruda, sobrinho do senador Roberto Requião (PMDB), conviveu com Rocha Loures quando ele iniciava sua trajetória política, em 2002.
Na época, o ex-assessor de Temer participou ativamente da campanha de Requião ao governo do Paraná. Com sua vitória, tornou-se chefe de gabinete do então governador em 2003 e lá permaneceu até 2005.

'Persona non grata'

Quando o escândalo veio à tona, Requião falou no Twitter sobre a decepção com o antigo protegido. O senador apoiara a primeira candidatura de Rocha Loures, ajudando-o a obter o cargo de deputado federal, que assumiu em 2007.
"Rodrigo Rocha Loures, idealista, meu amigo. O que fizeram de você, Rodrigo Rocha Loures? Vejo tudo com indignação e muita tristeza. CANALHAS!", escreveu o senador.

Twitter de Roberto RequiãoDireito de imagemREPRODUÇÃO/ TWITTER
Image captionTweets do Senador Roberto Requião no dia em que Loures foi preso

A decepção foi expressa também por estudantes da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo. Foi lá que Rocha Loures se formou, em 1988, em administração de empresas; e presidiu o diretório acadêmico do curso (DAGV) durante um ano. Agora, a atual gestão do diretório publicou uma carta declarando-o persona non grata.
"Mais novo, era como qualquer aluno da Fundação. Hoje tornou-se um criminoso nacionalmente conhecido", diz a carta.
"A grande pergunta é: o que separa o nosso futuro, hoje alunos e alunas, do que foi o futuro para Rodrigo Rocha Loures, aluno ontem?"
O DAGV afirma que "apenas a moral" poderia impedir os estudantes de hoje a se tornarem também "um criminoso."
"Rodrigo fez uma opção. Pelo poder se corrompeu, ou por ele mostrou o que realmente era. Em tempos de crise e fora dela, tomaremos decisões que influenciarão o nosso futuro e o futuro de outros. Que nenhuma delas seja como as de Rodrigo Rocha Loures", declarou o DAGV.

Advogado contrário a delações

Rocha Loures está sendo investigado por ter negociado, de acordo com delatores da JBS, o pagamento de propinas semanais por até 25 anos em troca da intermediação de um acordo em benefício ao grupo J&F com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Seu advogado anterior teria buscado informações junto à Procuradoria-Geral da República sobre uma eventual delação premiada. No início desta semana, entretanto, Rocha Loures contratou um novo advogado, Cezar Roberto Bitencourt, que tem posição contrária ao instrumento da delação.
À Folha de S. Paulo, o criminalista disse nesta semana, antes de ser preso, que negociar um acordo de colaboração premiada seria a "última opção", e que o flagrante com a mala teria sido provocado deliberadamente, o que seria ilegal. "Criaram uma armadilha, uma situação fantasiosa para incriminar alguém", afirmou.
Procurado pela BBC Brasil, o advogado não quis conceder entrevista. Sua assessoria de imprensa afirmou que ele está focado na defesa do cliente.

'Belíssima figura da vida pública'

Rocha Loures nasceu em Curitiba dois anos antes de seu pai fundar a Nutrimental, em 1968. Passou a infância com a família em São Paulo, estudando na escola de elite Dante Alighieri e formando-se depois na FGV.
Após obter o diploma da faculdade de administração, em 1988, voltou ao Paraná e assumiu a empresa do pai em São José dos Pinhais, ficando na direção da empresa até 2002, período marcado pela expansão de produtos da marca Nutry.
No primeiro mandato na Câmara dos Deputados, entre 2007 a 2010, teve atuação nas áreas ambiental, de energias renováveis e de educação, entre outras. Habilidoso em articulações políticas, tornou-se vice-líder do PMDB na Câmara.
Foi nesta época que começou a se aproximar de Michel Temer - então presidente da casa.
Quando Temer foi eleito vice-presidente na chapa com Dilma Rousseff, Rocha Loures foi chamado para trabalhar como chefe de Relações Institucionais da Vice-presidência, em 2011.
Em 2014, tentou se eleger novamente para a Câmara dos Deputados, mas só conseguiu 58 mil votos, 30 mil a menos que na primeira candidatura; o suficiente, entretanto, para ficar como suplente.
Mas ele contou com apoio de peso. Dos R$ 3 milhões que arrecadou para a campanha, R$ 200 mil foram doados pelo então vice-presidente, Michel Temer; e R$ 50 mil pelo prefeito de São Paulo João Doria, de acordo com registros do TSE.
Temer chegou a gravar um depoimento em vídeo para a campanha de Rocha Loures, elogiando sua atuação como deputado federal e afirmando que, em seu gabinete, ele o "ajudou enormemente".
"É com muito gosto que eu cumprimento os paranaenses e dou este depoimento verdadeiro, real, em relação a esta belíssima figura da vida pública brasileira, que é o Rodrigo Rocha Loures", conclui Temer no vídeo de campanha, de 2014.

Ascensão após impeachment

Apesar da proximidade do presidente, Rocha Loures é descrito como um aliado conhecido mais pela fidelidade do que pela influência nos bastidores.
"Ele acompanhou a ascensão do presidente Michel Temer, fazia parte do grupo de pessoas que acompanhavam o presidente já há algum tempo", diz o deputado João Arruda.
"Mas nunca foi cotado para ser ministro pelo PMDB, nunca teve espaços importantes. Nunca imaginamos que tivesse grande influência nas decisões do presidente e sua equipe", considera Arruda. "Não consigo ver nele um negociante nem um intermediário para fazer esse jogo para alguém. Para mim o que aconteceu foi chocante, para mim e para todos nós do Paraná, porque eu imaginava que ele não tinha esse perfil."
Outro político que trabalhou com Rocha Loures no Paraná e conviveu com ele "socialmente", mas prefere não se identificar, diz que Rocha Loures foi ganhando espaço à medida que outros articuladores de peso foram derrubados pelas investigações da Lava Jato - como o ex-assessor José Yunes e o ex-ministro do Planejamento Romero Jucá.

Rocha Loures durante campanha em 2014Direito de imagemDIVULGAÇÃO
Image caption'Ele é um deslumbrado. Vendia uma coisa que não entregava, um prestígio que não tinha', diz antigo colega de Loures (à dir.)

"Ultimamente ele andava por ministérios e pelo Congresso falando em nome do presidente. Mas nunca teve atuação muito expressiva", considera.
"Ele não um grande quadro do PMDB. Era uma pessoa meio inocentona. Queria estar sempre perto das pessoas certas, sempre aparecer nas imagens", diz.
"Sinceramente? Ele é um deslumbrado. Vendia uma coisa que não entregava, um prestígio que não tinha", afirma o antigo colega.
Ainda assim, o conterrâneo diz que o flagrante da mala foi "uma absurda surpresa." "Para mim ele podia ser todas essas coisas, mas picareta ele não era."
Um conhecido em Brasília afirma que Rocha Loures vinha dando sinais de cansaço com a vida política.
"Ele falava em fazer um mestrado no exterior, ir para algum lugar como Harvard", lembra o conhecido, que diz ter ficado chocado ao vê-lo envolvido no escândalo.

'Tradicional família paranaense'

A família Rocha Loures é uma das mais antigas do Paraná, de acordo com o sociólogo Ricardo Costa de Oliveira, professor e coordenador do Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP), da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Estudos traçando a genealogia da família indica que ela remonta aos clãs patriarcais fundadores de Curitiba, há mais de 300 anos, e faz parte da elite dominante do Estado desde o século 17, aliando poder econômico e político - como constata o artigo "Um exemplo de 'Old money' no Paraná: a família Rocha Loures", de Ana Vanali e Katiano Miguel Cruz, publicado na revista do NEP.
"O Rodrigo representa essa oligarquia familiar tradicional de Curitiba, com o pai empresário, parentes com cargos no Legislativo, no Judiciário, donos de cartórios, boa circulação entre a elite", afirma Oliveira.
Ele diz que esse entrelaçamento entre poder econômico, político e conexões sociais contribui para que elas se mantenham no topo do estrato social ao longo de gerações - assim como ocorre com dezenas de famílias oligárquicas brasileiras.
Agora com o escândalo enfrentado por Rocha Loures, Oliveira diz que a reação em Curitiba é de "silêncio", diferente da reação "de ódio" que, acredita, seria vista se a acusação fosse contra o PT.
"As pessoas não querem comentar, procuram invisibilizar e seguir adiante. É um mal-estar, mas o fato é silenciado", afirma. "Não teve protesto, ninguém bateu panela, querem superar esse assunto o mais rápido possível."
"Mas não há uma reação de indignação com o escândalo, nem de exigir uma atitude ou uma renúncia. Não, as pessoas apenas batem a mão na cabeça, como quem diz, 'ele fez algo errado'", diz o sociólogo.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Como o jogo do bicho se tornou a maior loteria ilegal do mundo


Material de banca de apostas do jogo do bichoDireito de imagemCOLETIVO PANDILLA
Image captionMaterial de banca de jogo do bicho no Rio; pesquisa usou ferramentas da economia para investigar estratégias de sobrevivência de negócio ilegal multimilionário

Como explicar a um estrangeiro uma instituição tão brasileira como o jogo do bicho, uma antiga rifa de zoológico que existe há 125 anos, é proibida por lei e se tornou uma das maiores loterias ilegais do mundo?
A pergunta surgiu em um bate-papo sem pretensão, mas motivou o cientista político paulistano Danilo Freire a investigar o assunto a fundo.
Usando ferramentas da economia, ele chegou a conclusões inéditas sobre as regras informais e mecanismos de força que ajudaram essa bolsa ilegal de apostas a sobreviver a mais de 30 governos no Brasil, de ditaduras a democracias.
Estudos sobre jogo do bicho no país foram feitos, sobretudo, dentro da antropologia e da história. Trabalhos excelentes, diz Freire, mas com foco em aspectos simbólicos - como a influência de sonhos e fatos cotidianos nos palpites dos apostadores - ou momentos do jogo em determinada época.
"Tentei analisar o jogo do bicho como uma empresa capitalista, pois, antes de tudo, é isso o que ele é. Foi criado para gerar lucro", conta o pesquisador de 34 anos, que analisou o tema em seu doutorado em economia política no King's College de Londres, uma das universidades mais prestigiadas do mundo.
A teoria da escolha racional - uma das ferramentas da economia empregadas por Freire - assume que as pessoas pensam em termos de custo-benefício. Tentam sempre melhorar seu bem-estar, embora não tomem as melhores decisões o tempo todo nem consigam prever o futuro. Mas fazem o possível para aumentar suas oportunidades.

Papeis com resultados de sorteios de jogo do bicho no RioDireito de imagemCOLETIVO PANDILLA
Image captionPapeis com resultados antigos de sorteios de jogo do bicho no Rio; prática sobrevive há 125 anos e movimentaria de R$ 1 bilhão a R$ 3 bilhões por ano no país

"O jogo do bicho é um negócio, e me parece razoável que os bicheiros sejam racionais. Se não o fossem, é improvável que tivessem conseguido acumular a fortuna e influência que têm. São pessoas com ótimas habilidades comerciais e pensamento estratégico para negociar, legalmente ou não, com políticos e policiais, entre outros."

Circunstâncias históricas

O embrião do jogo do bicho surgiu em 1892, quando o barão João Batista Drummond teve uma ideia para atrair visitantes a seu zoológico em Vila Isabel, zona norte do Rio.
O local tinha espécies exóticas e belas vistas da cidade, mas faltava público. Entre as novas sugestões de entretenimento para o local, uma se destacou: uma rifa.
Pela manhã, o barão escolhia um animal em uma lista de 25 bichos e colocava sua imagem numa caixa de madeira na entrada no zoo. Quem participava ganhava um tíquete com uma estampa de algum desses 25 animais.

Bilhete de jogo do bicho do século 19Direito de imagemMIS-RJ
Image captionTíquete de entrada de 1896 no jardim zoológico do Rio que autorizava o visitante a participar de rifa

Ao final do dia o barão abria a caixa e mostrava a figura. O vencedor levava 20 vezes o valor da entrada - o que já superava, por exemplo, a renda mensal de um carpinteiro da época.
"Poder escolher o animal foi uma ótima ideia, pois tornou o jogo muito mais interessante. Eventualmente isso fez com que as pessoas passassem a interpretar sonhos, placas de carro e números, de maneiras muito divertidas também", afirma Freire, que também tem mestrado em Ciência Política pela USP e em Relações Internacionais pelo Instituto de Altos Estudos Internacionais de Genebra.
A loteria foi batizada de jogo de bicho e logo virou febre - bilhetes começaram a ser vendidos não apenas no zoológico, mas em lojas pela cidade. A repressão não demorou - autoridades criminalizaram a atividade ainda no final dos anos 1890, pelo bem da "segurança pública".
Freire aponta quatro facetas do Brasil do final do século 19 que ajudam a explicar a emergência do jogo do bicho:
1) População urbana crescente e excluída do mercado de trabalho;
2) Fluxo de imigrantes com redes familiares que incentivavam a participação no comércio;
3) Aumento na circulação de capital, motivada por fatores como a abolição da escravatura e a industrialização nascente;
4) Sistema judicial fraco na repressão criminal.
"As cidades começaram a crescer, e o fim da escravidão e a entrada de imigrantes no país aumentou o contingente de pobres urbanos. O mercado ilegal era a única opção de renda para muita gente", explica o cientista político.
"Além disso, embora o jogo fosse ilegal, a lei nunca foi aplicada com muito rigor. Até hoje o jogo é considerado apenas uma contravenção, um delito menor (prevê quatro meses a um ano de prisão). Assim, a punição não era forte o suficiente para amedrontar os bicheiros - os lucros compensavam o risco de ser detido."

Modus operandi

No jogo do bicho, cada um dos 25 animais corresponde a quatro números: do avestruz (01 a 04) à vaca (97 a 00). Há diferentes opções de apostas, e o prêmio varia com a possibilidade de vitória.

Tabela do jogo do bichoDireito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionTabela com 15 primeiros bichos do jogo; 'Poder escolher o animal fez o jogo muito mais interessante e fez com que as pessoas passassem a interpretar sonhos, placas de carro, números', diz pesquisador

Em geral, seu animal ganha se os dois últimos números do milhar anunciado na Loteria Federal correspondem ao número do bicho. Por exemplo: se a loteria sorteou o número 3350, o vencedor é o galo (49 a 52).
É possível também apostar no milhar (a chamada aposta "na cabeça"): escolher os quatro números e torcer para os quatro saírem no primeiro sorteio. É a jogada mais alta: costuma pagar R$ 4 mil por R$ 1 apostado.
"Os bicheiros tentam expandir seus negócios e oferecer algo que atraia os apostadores. Quando uma aposta dá certo em um lugar, provavelmente ela será copiada pelos vizinhos e testada em outros mercados", afirma Freire.
A estrutura do jogo tem três níveis de hieraquia. Os bicheiros ou anotadores são a face mais visível do negócio: vendem as apostas com seus bloquinhos e carimbos. Os gerentes são contadores que cuidam dos bicheiros de determinada área, intermediando o contato e o fluxo de dinheiro aos banqueiros (também conhecidos como bicheiros), a elite financeira do jogo.
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas estimou que o jogo do bicho tenha arrecadado de R$ 1,3 bilhão a R$ 2,8 bilhões no país em 2014 - número que alguns consideraram subestimado.
Nos anos 1990, empregaria 50 mil pessoas só na cidade do Rio de Janeiro - a Petrobras, por exemplo, tem 68 mil empregados.

Banca de jogo do bicho no RioDireito de imagemCOLETIVO PANDILLA
Image captionBanca de bicho no Rio; bicheiros são face mais visível, e montam bancas próprias ou dentro de outros negócios

Tudo para dar errado

Mas como esse negócio conseguiu se diferenciar de outros mercados ilegais e se tornar lucrativo a longo prazo? Em tese, tudo conspirava para dar errado: quem iria dar dinheiro a um contraventor e esperar que ele pagasse de volta?
"Quem ganha e não recebe não pode reclamar no Procon, abrir um processo na Justiça ou chamar a polícia", lembra Freire.
Além disso, sorteios eram realizados em locais escondidos (normalmente as "fortalezas", os QGs dos banqueiros) e a prática tinha fama de vício moral e forte oposição da Igreja Católica.
O pesquisador identifica dois mecanismos que reduziram o estigma em torno do jogo: a construção de uma forte reputação de honestidade e a oferta de incentivos específicos para clientes e funcionários.
A confiança veio com medidas como a publicação dos resultados dos sorteios à vista de todos (em postes, por exemplo), pagamentos em dia e uma fórmula de multiplicador fixo para os prêmios - se um apostador ganhar o menor prêmio, por exemplo, receberá 18 vezes o investimento, independentemente do valor da aposta.
"Cada apostador já sabe de antemão o quanto pode ganhar. É mais fácil para as pessoas entenderem e deixa o bicheiro numa situação em que todos sabem o quanto ele tem que pagar", afirma Freire.

Resultado de sorteio do jogo do bichoDireito de imagemCOLETIVO PANDILLA
Image captionPapel com resultado de sorteio do jogo; exposição pública de resultados é estratégia para melhorar reputação e criar confiança em prática ilegal

Desde os anos 1950, quando os banqueiros do bicho transferiram suas operações para as "fortalezas", os sorteios saíram dos olhos do público, o que poderia reduzir a confiança e os lucros da atividade.
O negócio, contudo, resolveu esse problema de "assimetria de informações" ao começar a usar os números vencedores da Loteria Federal em seus sorteios, pegando carona na credibilidade da bolsa oficial de apostas.
Outra estratégia para criar boa reputação, aponta Freire, foi o financiamento de atividades culturais, sobretudo as escolas de samba do Rio.
"Elas dão empregos a moradores, geram lucros para as comunidades, aumentam o turismo no Rio e, claro, acabaram virando símbolo nacional", afirma o pesquisador, que cita ainda a fundação por banqueiros do bicho, em 1985, da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro).
"As escolas de samba começaram a receber apoio estatal em meados dos anos 1930. Mas o governo intervia em sambas e desfiles. O bicho deu certa liberdade às escolas, e permitiu desfiles mais elaborados e que as escolas se profissionalizassem", completa.

Resolvendo problemas internos

O negócio ilegal teve que lidar ainda com problemas comuns a qualquer empresa: funcionários preguiçosos, patrões carrascos, falta de dinheiro em caixa. Como garantir, por exemplo, que os empregados das bancas não embolsassem dinheiro de apostas? Há, naturalmente, ameaça de retaliação violenta, mas não é algo comum.

Bloco de anotador de aposta de jogo do bichoDireito de imagemCOLETIVO PANDILLA
Image captionBloco com registro de apostas; trapaça de funcionários é coibida com benefícios coletivos e individuais, e violência é recurso pouso usado

Uma tática mais frequente, diz Freire, é a oferta de "benefícios coletivos", como a segurança privada proporcionada por pistoleiros e policiais corruptos, pequenos empréstimos sem juros para despesas inesperadas, como tratamento de saúde, e gorjetas de apostadores.
"Seria como se os banqueiros do bicho pagassem bônus e compartilhassem parte dos lucros para que os funcionários se esforcem. É algo que várias empresas também fazem", aponta.
Há ainda o risco de "quebra da banca" - quando o negócio não consegue pagar os prêmios em caso, por exemplo, de uma aposta muito alta. A solução para possíveis problemas de liquidez foi a "descarga": bicheiros menores fazem um "seguro" ao pagar parte das apostas a um bicheiro maior, que garante apostas altas caso seja necessário.
"Bancos e empresas fazem a mesma coisa com contratos de risco compartilhados, operações de "hedge" e seguros. O mecanismo é o mesmo", explica Freire - o mecanismo, porém, tende a enriquecer os bicheiros mais poderosos.
O jogo do bicho também cresceu na colaboração com autoridades públicas. O cientista político diz que essas parcerias criminosas ganharam fôlego na ditadura e se mantiveram no atual período democrático. Políticos, por exemplo, se beneficiam de doações via caixa 2 e do acesso dos bicheiros a comunidades pobres.

Capa de jornal do Pará nos anos 1980Direito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionJornal do Pará nos anos 1980 com reportagem sobre relação entre bicheiros e policiais; associações criminosas com Poder Público impulsionaram negócio

Questões em aberto

Após se debruçar por mais de um ano sobre a maior loteria ilegal do mundo, Freire ainda vê questões que precisam ser mais estudadas, como a relação entre o jogo e o tráfico de drogas e entre bicheiros de diferentes Estados.
"Os bicheiros são muito anteriores ao crescimento do tráfico. Como ambos compartilham espaços? Há mais cooperação ou conflito? É possível que apenas dividam áreas de influência e mal se comuniquem, mas talvez façam negócios, troquem informações e se ajudem quando necessário. Mas é algo ainda em aberto", diz.
E após estudar o tema a fundo, como ele vê, por exemplo, o projeto de lei de 2014 do Senado que legaliza jogos de azar no Brasil, inclusive o bicho?
"Eu sou a favor. Se uma pessoa aposta por livre e espontânea vontade, cada um gasta seu dinheiro como quiser. O argumento que a legalização levaria a vícios não me parece convincente. Qual a diferença entre jogar no bicho e na Loteria Federal?", questiona.
"Além disso, como o jogo do bicho prova, o fato de o jogo ser ilegal não fez com que as pessoas parassem de apostar. O Estado poderia até arrecadar com tributos do bicho. Resta saber se os bicheiros estão interessados em pagar impostos, o que tenho minhas dúvidas."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 2 de junho de 2017

“Você se mexe e o mundo mexe junto”


Mais de 70 atividades físicas foram realizadas no município de João Alfredo na quarta-feira (31) durante o Dia do Desafio SESC. Com o tema “Você se mexe e o mundo mexe junto”, a programação começou nas primeiras horas do dia e seguiu pela noite. Empresas, escolas, repartições públicas, academias, oficinas e laboratórios foram alguns dos lugares que receberam os educadores físicos. Esse conjunto de ações resultou em milhares de moradores saindo do sedentarismo. O evento contou com caminhada, corrida, musculação, aeróbica, jump, ginástica laboral, zumba, alongamento, futsal, dança, vôlei, passeio ciclístico, judô, karatê, além de atividades livres.
Com informações de Governo Municipal.
Publicação de 02 de junho 2017.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

O descolamento de iceberg gigantesco da Antártida


FissuraDireito de imagemNASA
Image captionFaltam apenas 13 km para que enorme bloco de gelo se desprenda completamente, afirmam cientistas

A enorme rachadura na plataforma de gelo Larsen C, na Antártida, que pode gerar um dos dez maiores icebergs do mundo, mudou radicalmente de direção.
"A fenda avançou por mais 16 km, com uma aparente e significativa curva à direita perto do final. Agora, só faltam 13 km para que o iceberg se desprenda completamente", diz à BBC Adrian Luckman, professor da Universidade de Swansea, no Reino Unido.
Ele acrescenta que a fissura pode estar "muito próxima".
Mas Luckman ressalva que nada ainda é totalmente certo.
Os dados mais recentes foram colhidos entre 25 e 31 de maio pelos satélites Sentinel-1 da União Europeia.
Os registros foram feitos com a ajuda de radares por causa do início do rigoroso inverno, quando a Antártida permanece praticamente no escuro.
Depois de ter avançado em dezembro, o ritmo de aumento estacionou depois que a fenda entrou na chamada zona de "sutura", uma região de gelo flexível e mole.
Mas o cenário mudou no início do mês passado, quando a ponta da rachadura bifurcou, e a nova ponta mudou de direção rumo ao oceano.

Larsen CDireito de imagemBAS
Image captionBloco de gelo que ameaça se desprender tem 5 mil km² (o equivalente a 500 mil campos de futebol ou à área do Distrito Federal)

Quando o iceberg se desprender, o enorme bloco deve se afastar gradualmente da plataforma de gelo.
"Isso não deve acontecer rapidamente porque o Mar de Wedell é repleto de gelo, mas tenho certeza de que será mais rápido do que todo o processo de ruptura dos últimos meses. Tudo dependerá das correntes e dos ventos", explica Luckman.
O bloco de gelo que ameaça se desprender tem 5 mil km² (o equivalente a 500 mil campos de futebol ou à área do Distrito Federal).
A Larsen C é a maior plataforma de gelo no norte da Antártida. As plataformas de gelo são as porções da Antártida onde a camada de gelo está sobre o oceano e não sobre a terra.
Segundo cientistas, o descolamento do iceberg pode deixar toda a plataforma Larsen C vulnerável a uma ruptura futura.
A plataforma tem espessura de 350 m e está localizada na ponta oeste da Antártida, impedindo a dissipação do gelo.
Os pesquisadores vêm acompanhando a rachadura na Larsen C há muitos anos. Recentemente, porém, eles passaram a observá-la mais atentamente por causa de rupturas das plataformas de gelo Larsen A, em 1995, e Larsen B, em 2002.
No ano passado, cientistas afirmaram que a rachadura na Larsen C estava aumentando rapidamente.
Mas, em dezembro, o ritmo aumentou a patamares nunca antes vistos, avançando 18 km em duas semanas.

Aquecimento global

Os cientistas dizem, no entanto, que o fenômeno é geográfico e não climático. A rachadura existe por décadas, mas cresceu durante um período específico.
Eles acreditam que o aquecimento global tenha antecipado a provável ruptura do iceberg, mas não têm evidências suficientes para embasar essa teoria.

Fissura
Image captionImagens de radar mostram iminente descolamento de gigantesco iceberg

No entanto, os cientistas permanecem preocupados sobre o impacto do descolamento desse iceberg do restante da plataforma de gelo, já que a ruptura da Larsen B em 2002 aconteceu de forma muito semelhante.
Como vai flutuar sob temperatura constante, o iceberg não aumentará o nível dos mares.
Mas novas rupturas na plataforma podem acabar dando origem a geleiras que se desprenderiam em direção ao oceano. Uma vez que esse gelo derrete, afeta o nível dos mares.
Segundo estimativas, se todo o gelo da Larsen C derreter, o nível dos mares aumentaria cerca de 10 cm.
Há poucas certezas absolutas, contudo, sobre uma mudança iminente no contorno da Antártida.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Barragem de Siriji no nível máximo de armazenamento

Fotos: Divulgação/Compesa

A Barragem de Siriji, localizada na Zona da Mata Norte, atingiu o nível máximo de armazenamento hoje (2). Com capacidade de armazenar 17,3 milhões de metros cúbicos de água, o manancial é responsável por abastecer oito cidades da região: Vicência, Buenos Aires, Itaquitinga, Aliança, Condado, Machados, Macaparana e São Vicente Férrer. Outros sistemas complementares se somam à Barragem de Siriji, o que garantirá a sustentabilidade hídrica dessas cidades por cerca de dois anos. “Em abril, no início da quadra chuvosa da região, o reservatório estava com 59% de acumulação e com as chuvas intensas registradas, nos últimos dias, respondeu positivamente, recuperando rapidamente o volume máximo de armazenamento”, avalia o gerente de Unidade de Negócios da Compesa, Denis Fernando Mendes. 

Por ser uma região que apresenta boa pluviometria, a água de Sirij foi uma excelente alternativa técnica encontrada pelo Governo do Estado e Compesa para retirar da situação de colapso as cidades de Surubim, Bom Jardim, João Alfredo e Orobó, no Agreste Setentrional, por meio da obra de integração dos Sistemas Palmeirinha (alimentado pela Barragem de Pedra Fina) à Siriji.  O Sistema Palmeirinha é responsável por atender essas quatro cidades, mas que estão em colapso desde abril deste ano. Essa integração será possível  graças à construção da Adutora de Siriji que está praticamente pronta. “A nossa expectativa é que os técnicos da Compesa iniciem a fase de testes do sistema já na próxima semana“, informa o diretor Regional do Interior, Marconi de Azevedo.
  
A obra foi executada pelo Ministério da Integração Nacional em parceria com o governo do estado, um investimento de R$ 34 milhões, e já está praticamente concluída, faltam apenas alguns ajustes na unidade de bombeamento (estação elevatória) do sistema que fica no distrito de Siriji, no município de Vicente Férrer. O projeto, elaborado pela Compesa, também é composto por uma adutora de 37 quilômetros de extensão, que sai da Barragem do Siriji até a estação de bombeamento localizada na unidade operacional Buraco do Tatu, em Bom Jardim, onde a tubulação será integrada ao Sistema Palmeirinha com uma vazão de 150 litros de água, por segundo. “A partir dos testes, a Compesa será responsável pela operação da Adutora de Siriji, beneficiando mais de 100 mil pessoas”, complementa o diretor da Compesa.

Com Informações da Compesa 
Postado Júnior Silva/ Cultural FM
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Procuradoria denuncia Aécio Neves ao STF por corrupção passiva e obstrução


A PGR (Procuradoria-Geral da República) denunciou o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) ao STF por corrupção passiva e obstrução à Justiça por fatos apontados por delatores da JBS.

Para os investigadores, o tucano usou o cargo para atuar em benefício da J&F, a holding da JBS, além da ingerência do PSDB em assuntos governamentais. Aécio nega as acusações.

Aécio aparece, segundo as investigações, em gravação pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, sócio da JBS e delator.

A quantia foi entregue posteriormente a um primo do tucano, em ação filmada pela Polícia Federal.

Quando abriu o inquérito, a PGR começou a investigar Aécio junto com o presidente Michel Temer e seu antigo assessor, Rodrigo Rocha Loures.

A Procuradoria, no entanto, já estudava pedir o fatiamento das investigações a fim de acelerar o oferecimento de denúncia contra o tucano, uma vez que os indícios contra Aécio já eram considerados suficientes para isso, apurou a reportagem.

A PGR havia pedido a prisão de Aécio e o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), negou, mas determinou o afastamento de suas funções como parlamentar.

A defesa de Aécio entrou com recurso contestando a decisão que o afastou do cargo e pediu o fatiamento das investigações.

Fachin atendeu o pedido de fatiamento e colega Marco Aurélio foi sorteado como novo relator.

Agora, cabe a Marco Aurélio pedir para ouvir as defesas, preparar um relatório e levar a denúncia para ser analisada na Primeira Turma.
Com Informações da Folha de Pernambuco.
Professor Edgar Bom Jardim - PE