domingo, 30 de abril de 2017

Depressão no altar: quando padres e sacerdotes precisam de ajuda


Padre celebra missa em BrasíliaDireito de imagemMARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
Image captionPadre celebra missa de Corpus Christi na Esplanada dos Ministérios, em Brasília; como outros trabalhos, vida sacerdotal pode provocar estresse e depressão

No último dia 16 de novembro, o padre Rosalino Santos, de 34 anos, publicou no Facebook uma foto de quando era garoto.
O pároco da igreja de São Bartolomeu, em Corumbá (MS), parecia triste. Escreveu frases soltas na legenda, como "Dei o meu melhor" e "Me ilumine, Senhor".
O que parecia ser um desabafo se tornou um bilhete de despedida. Dois dias depois, o corpo do sacerdote foi encontrado, enforcado, dentro de casa.
O suicídio do padre Rosalino não foi um caso isolado. Oito dias antes, o padre Ligivaldo dos Santos, da paróquia Senhor da Paz, em Salvador (BA), já tinha colocado ponto final em sua história. Aos 37 anos, atirou-se de um viaduto.
Doze dias depois, outro caso. Pela terceira vez em menos de 15 dias, um sacerdote encerrava a própria vida. Renildo Andrade Maia, de 31 anos, era pároco da igreja de Jesus Operário, em Contagem (MG).
"A vida religiosa não dá superpoderes aos padres. Pelo contrário. Eles são tão falíveis quanto qualquer um de nós", diz o psicólogo Ênio Pinto, autor do livro Os Padres em Psicoterapia (editora Ideias e Letras).
"Em muitos casos, a fé pode não ser forte o suficiente para superar momentos difíceis", afirma Pinto, que atua há 17 anos no Instituto Terapêutico Acolher, em São Paulo (SP), voltado ao atendimento psicoterápico de padres, freiras e leigos em serviço à Igreja.
Desde a fundação, em 2000, o instituto estima ter atendido cerca de 3,7 mil pacientes, com média de permanência de seis meses a um ano.

Estresse ocupacional

O eventual comportamento suicida de sacerdotes intriga clérigos e terapeutas. Para especialistas consultados pela reportagem, há vários possíveis fatores: excesso de trabalho, falta de lazer, perda da motivação.
"O grau de exigência da Igreja é muito grande. Espera-se que o padre seja, no mínimo, modelo de virtude e santidade", afirma o psicólogo William Pereira, autor do livro Sofrimento Psíquico dos Presbíteros (editora Vozes).

Sacerdotes em missa em Brasília em 2015Direito de imagemAGÊNCIA BRASIL
Image caption'Espera-se que o padre seja, no mínimo, modelo de virtude e santidade', diz psicólogo autor de livro sobre sofrimento de sacerdotes

"Qualquer deslize, por menor que seja, vira alvo de crítica e julgamento. Por medo, culpa ou vergonha, muitos preferem se matar a pedir ajuda", diz.
Pesquisa de 2008 da Isma Brasil, organização de pesquisa e tratamento do estresse, apontou que a vida sacerdotal é uma das profissões mais estressantes.
Naquele ano, 448 entre 1,6 mil padres e freiras entrevistados (28%) se sentiam "emocionalmente exaustos". O percentual de clérigos nessa situação era superior ao de policiais (26%), executivos (20%) e motoristas de ônibus (15%).
A psicóloga Ana Maria Rossi, que coordenou o estudo, afirma que padres diocesanos, que trabalham em paróquias, estão mais propensos a sofrer de estresse do que monges e frades que vivem reclusos.
"Um dos fatores mais estressantes da vida religiosa é a falta de privacidade. Não interessa se estão tristes, cansados ou doentes, padres têm que estar à disposição dos fieis 24 horas por dia, sete dias por semana."

Problemas terrenos

Em 8 de janeiro de 2008, o padre José Chitumba ingressou na fazenda Santa Rosa, em Garanhuns (PE), uma das unidades do projeto Fazenda da Esperança, de recuperação de dependentes químicos em mais de 15 países.
"Quando caí em depressão virei alcoólatra, pensei em suicídio, perdi o ânimo para rezar. Passei oito meses sem celebrar missa. Achei que aquela noite não teria fim", recorda Chitumba, de 62 anos, hoje pároco da Igreja de Santo Antônio, em Chiador (MG).
A vida sacerdotal é mais atribulada do que se costuma imaginar. Inclui celebração de batizados e casamentos, visita a doentes, sessões de confissão, aulas em universidades, presença em pastorais.
Dados de 2010 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ajudam a entender essa demanda: havia no Brasil naquele ano 22 mil padres para 123 milhões de católicos, uma média de um padre para cada 5,6 mil fiéis.

Padre celebra missa em BrasíliaDireito de imagemAGÊNCIA BRASIL
Image captionNo Brasil há, em média, um padre para cada 5,5 mil fieis católicos; 'Sobra trabalho e falta tempo', diz diretor de casa de repouso para religiosos

"Sobra trabalho e falta tempo. Se não tomar cuidado, o sacerdote negligencia sua espiritualidade e trabalha no piloto automático", adverte o padre Adalto Chitolina, um dos diretores do centro Âncora, casa de repouso em Pinhais (PR) que atende padres e freiras com diagnóstico de estresse, ansiedade ou depressão.
"Ao longo de 2016, nossa taxa de ocupação foi de 100%. Em alguns meses, tivemos lista de espera", afirma.
O padre Edson Barbosa, da paróquia Nossa Senhora das Graças, em Andradina (SP), foi um dos religiosos atendidos no centro paranaense.
Há dois anos, dormia pouco, comia mal, andava irritado. Mas o alarme soou quando começou a beber além da conta. Em julho de 2015, pediu dispensa de suas atividades paroquiais e passou três meses no centro Âncora, entre consultas médicas, palestras de nutrição e exercícios físicos.
"Não sei o que teria acontecido comigo se não tivesse dado essa parada. Demorei a perceber que não era super-herói", afirma. Sóbrio há um ano e nove meses, o padre, de 36 anos, trocou o álcool por caminhadas e trajetos diários de bicicleta.

Preocupação na cúpula

Reitor do seminário São José de Niterói, o padre Douglas Fontes diz estar atento à saúde mental dos colegas. Em pregações, costuma alertar os futuros sacerdotes para a necessidade de cuidarem mais de si mesmos.
"Jamais amaremos ao próximo se antes não amarmos a nós mesmos. E amar a si mesmo significa levar uma vida mais saudável. Tristes, cansados ou doentes não cumpriremos a missão que Deus nos confiou."

Padre Edson BarbosaDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionPadre Edson Barbosa, de Andradina (SP), buscou ajuda especializada para superar vício em alcool

Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da comissão da CNBB que se ocupa da vida dos padres, diz que sacerdotes devem pedir ajuda ao bispo de sua diocese em caso de tensão psicológica ou esgotamento físicos.
"Os padres não estão sozinhos. Fazemos parte de uma família. E nesta família cabe ao bispo desempenhar o papel de pai e, como tal, zelar pelas necessidades dos filhos", afirma.
Outros locais do mundo também registram casos de padres com problemas psicológicos.
Uma pesquisa da Universidade de Salamanca, na Espanha, ouviu 881 sacerdotes de três países (México, Costa Rica e Porto Rico) e identificou incidência alta de transtornos relacionados à atividade.
"Três em cada cinco experimentavam graus médios ou avançados de burnout, a síndrome do esgotamento profissional", registrou a autora da pesquisa, Helena de Mézerville, no livro O Desgaste na Vida Sacerdotal (editora Paulus).
Na Itália, o burnout é conhecido por alguns sacerdotes como a "síndrome do bom samaritano desiludido".
Naturalmente, sacerdotes católicos não são os únicos sob risco.
"A natureza do trabalho é a mesma. Logo, estamos sujeitos aos mesmos riscos", avalia o rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista (CIP). O sheik Ahmad Mazloum, do Centro Islâmico de Foz do Iguaçu (PR), faz coro.
"É preciso satisfazer, de maneira lícita e correta, as necessidades básicas do espírito, mente e corpo. Caso contrário, estaremos sempre em perigoso desequilíbrio", alerta.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 29 de abril de 2017

Trump 100



Donald TrumpDireito de imagemAFP
Image captionHá 100 dias no governo, Donald Trump já mudou a relação dos Estados Unidos com o resto do mundo

O governo de Donald Trump nos Estados Unidos completa 100 dias neste fim de semana. A relação do país com o resto do mundo mudou de maneira significativa após a posse do novo presidente. A BBC Brasil lista abaixo sete dessas mudanças.

1 - Aumento de tensões nucleares na Ásia

Com Donald Trump na Presidência, as tensões em relação à segurança aumentaram muito na Ásia.
Antes mesmo de tomar posse, ele fez comentários sobre o Taiwan nas redes sociais, incitando uma reaproximação - o que irritou bastante a China. Depois, o secretário de Estado, Rex Tillerson, falou sobre bloquear o acesso da China às ilhas artificiais que ela própria está construindo no Mar da China Meridional, gerando alertas sobre um possível choque militar no jornal estatal.

Kim Jong-unDireito de imagemAFP
Image captionDonald Trump ainda não decidiu como vai lidar com este homem: Kim Jong-un

Japão e Coreia do Sul também foram o alvo de Trump por "confiarem demais" nos Estados Unidos - ele até disse que eles se beneficiariam se tivessem seu próprio arsenal nuclear.
E há ainda o Estado renegado da região, a Coreia do Norte, que está desenvolvendo suas próprias armas nucleares e que vem protagonizando um aumento da tensão com os EUA desde que Trump assumiu o cargo.
Sob o governo do presidente Barack Obama, a política diante do país era a de "paciência estratégica", ou seja, espremer a Coreia do Norte com sanções, convencer outros governos a fazer o mesmo - a China em especial - e esperar.
Mas o vice-presidente de Trump, Mike Pence, já disse que "a era da paciência estratégica acabou".
A administração dele diz que "todas as opções agora estão na mesa", e o anúncio de Trump de que ele estaria enviando uma "armada" de navios de guerra para a península coreana acendeu ainda mais a preocupação sobre uma possível ação militar americana na região.
Em resposta, a Coreia do Norte optou por desafiar Trump e ameaçou fazer testes de mísseis semanalmente e alertou que estaria "pronta para a guerra".
Mas a confusão foi aumentando dez dias depois, quando surgiu a notícia de que os navios militares dos Estados Unidos - aqueles que Trump disse ter enviado para a Península coreana - estavam, na verdade, indo para a direção oposta.
Enquanto a Casa Branca esclarecia o paradeiro dos navios e insistia que eles estavam a caminho, Trump mudou seu foco e passou a pressionar a China para tomar alguma atitude.
"A China funciona como a grande salvação econômica para a Coreia do Norte, então se ela quiser resolver o problema da Coreia do Norte, ela pode", tuitou o presidente.
Mas, neste fim de semana, o presidente voltou a defender a China depois de a Coreia do Norte afirmar ter realizado mais um teste com míssel, que fracassou antes mesmo de deixar o território do país.
Trump acusou Pyongyang de "desrespeitar" a China e seu presidente com o novo teste.
O próximo passo dele com relação a essa questão é desconhecido, mas as tentativas iniciais desse presidente imprevisível para enfrentar o país mais imprevisível do mundo já deram mostras de um ponto de conflito que terá mais e mais capítulos nos próximos anos.

2- Relação com a Rússia ainda mais complicada

Durante a campanha eleitoral dos Estados Unidos, Trump elogiou o presidente russo dizendo que Vladimir Putin era um "líder muito forte, com quem ele adoraria ter uma boa relação".
Isso foi antes das agências de inteligência americanas terem afirmado que a Rússia havia sido responsável por hackear os e-mails do Partido Democrata durante a campanha para a Presidência.

PutinDireito de imagemEPA
Image captionDurante a campanha eleitor, Trump elogiou o presidente russo dizendo que Putin era um "líder muito forte, com quem ele adoraria ter uma boa relação"

A publicação explosiva de um dossiê não verificado alegando que a Rússia teria um material comprometedor sobre Trump também levantou questões espinhosas sobre ele. O presidente, porém, descartou as acusações, dizendo que eram "notícias falsas".
Mas preocupações sobre vínculos de seu governo com a Rússia continuam a assombrar sua Presidência - tanto que o conselheiro de segurança nacional Michael Flynn renunciou ao cargo de repente após conversas com o embaixador russo.
Trump disse que queria começar o governo confiando no presidente Putin, mas alertou que isso "pode não durar muito". E parece mesmo que não durou. A relação aparentemente sofreu uma rusga depois do apoio da Rússia ao governo sírio, mesmo depois de um ataque químico no país, atribuído a Bashar al-Assad.
O presidente prosseguiu e disse que a relação entre Estados Unidos e Rússia "pode ter atingido um nível absoluto de distanciamento". Ele reiterou que "seria algo fantástico" se os dois países melhorassem seus laços, mas alertou que agora "pode estar acontecendo exatamente o contrário".

3 - Uso da força bélica

O ex-presidente Barack Obama foi eleito para acabar com as guerras americanas no Iraque e no Afeganistão e relutava muito sobre qualquer participação em outro conflito no Oriente Médio.
Mesmo quando a escala de atrocidades na Síria ficou clara para todos, ele continuou convencido de que intervenção militar seria um ato com um custo altíssimo.
Em vez disso, a administração de Obama focou em oferecer ajuda humanitária, financiar rebeldes moderados na Síria e promover a ideia do "cessar-fogo", fortalecendo negociações que pediam a saída do presidente Assad.
De início, Donald Trump também era contrário à ação militar americana na Síria, e achava que o foco deveriam ser as políticas domésticas. "Esqueçam a Síria e vamos fazer a América ser gigante de novo", tuitou ele em 2013.
Então foi uma bela reviravolta quando o presidente ordenou ataques de mísseis americanos em uma base aérea síria em abril e começou a demonstrar mais o uso da força militar dos EUA.
Trump justificou a ação na Sìria, dizendo que o ataque químico pelo qual o governo sírio teria sido responsável tinha mudado sua percepção das coisas.
"O ataque em crianças teve um grande impacto em mim", disse.
A resposta americana com mísseis marcou a primeira vez que os Estados Unidos tiveram o governo sírio como alvo direto desde que o conflito por lá começou.
Isso aconteceu apenas alguns dias antes do governo de Trump ter mostrado sua força militar mais uma vez, nos militantes do grupo autodenominado "Estado Islâmico" no Afeganistão com a explosão da chamada "mãe de todas as bombas", que até então nunca havia sido utilizada pelos americanos em combate.
Agora, com um gasto bem maior com defesa, os Estados Unidos aparentemente estão querendo assumir um papel mais ativo em conflitos externos.

Trump e Jens StoltenbergDireito de imagemEPA
Image captionTrump disse que a Otan era obsoleta e depois mudou de ideia sobre a aliança militar

4 - Foco na OTAN

Trump foi anteriormente um grande crítico da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma alicerce da política externa americana há mais de 60 anos.
Ele chegou a dizer que a organização era "obsoleta" e caracterizou seus membros como aliados ingratos que se beneficiavam da generosidade dos EUA.
O secretário de Defesa, James Mattis, alertou os membros da Otan em fevereiro de que Washington "moderaria seu compromisso" se os membros não atendessem à demanda do presidente de elevarem seus gastos de defesa para 2% do PIB.
Trump afirmou que seu discurso duro estava fazendo o "dinheiro entrar", embora analistas apontem que os países já estavam aumentando suas contribuições por causa de um acordo de 2014.
Mas durante uma coletiva de imprensa conjunta, em abril, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, agradeceu ao presidente dos Estados Unidos por sua atenção ao tema. "Todos estamos vendo os efeitos de seu foco em dividir os encargos dentro da aliança", disse.
Enquanto isso, Trump mudou de opinião e afirmou que a Otan "não era mais obsoleta".
Ele argumentou que a ameaça do terrorismo tinha sublinhado a importância da aliança militar e convidou os membros a fazerem mais para ajudar os "parceiros" iraquianos e afegãos.

5 - Futuro do livre comércio incerto

Com suas políticas de comércio, Donald Trump parece estar implantando a mudança mais significativa em décadas na forma como os americanos negociam com o resto mundo.
Ele já ameaçou acabar com uma série de acordos de livre comércio, como o Nafta, entre Estados Unidos, Canadá e México - ele culpa o bloco pelas perdas de emprego nos Estados Unidos. Ele chegou até a sugerir a saída do país da Organização Mundial do Comércio (OMC).

TPPA - protestoDireito de imagemREUTERS
Image captionEm seu primeiro dia no cargo, Trump deixou o TPP (Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica)

Desde que venceu a eleição, Trump focou em ameaçar empresas, principalmente as fabricantes de automóveis, dizendo que iria aumentar em 35% os impostos de bens fabricados no México.
Ainda não está claro o quão longe ele está disposto a ir com isso.
Mas em seu primeiro dia no cargo, Trump deixou o TPP (Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica), um acordo comercial que envolvia 12 países e representava 40% da produção econômica mundial. O acordo ainda não havia sido ratificado por um Congresso, que estava dividido, mas a ordem executiva de. Trump retirou completamente a participação dos EUA.
"O objetivo por trás de sua política comercial é criar empregos nos Estados Unidos, acabar com o déficit comercial e conseguir "bons negócios" para os americanos.
Para isso, ele já estabeleceu como alvo o programa de vistos de trabalho do país e exigiu uma revisão das isenções que eram permitidas por acordos de livre comércio para checar se eles permitiam que uma empresa estrangeira minasse uma americana no mercado internacional.
No entanto, ele voltou atrás numa promessa de campanha, quando prometeu chamar a China de "manipuladora do câmbio" - especialistas o alertaram de que isso poderia ter provocado uma guerra comercial.

6 - Repensando o aquecimento global

Outra promessa de governo que acabou não se cumprindo nesta fase inicial do governo está relacionada às mudanças climáticas.
Durante a campanha, Trump disse que iria "cancelar" o acordo de clima de Paris logo nesses primeiros cem dias. Isso não aconteceu e seus conselheiros estão agora como opiniões divididas sobre fazer isso ou não.

poluiçãoDireito de imagemSCIENCE PHOTO LIBRARY
Image captionTrump assinou uma ordem executiva em março que reverteu o Plano de Energia Limpa

Embora ainda não tenha cancelado o tratado, Trump deu grandes passos na promessa de reverter as regulamentações sobre mudanças climáticas introduzidas pelo presidente Obama.
Ele assinou uma ordem executiva em março que reverteu o Plano de Energia Limpa - que exigia que estados regulamentassem suas usinas - mas parou por aí, enquanto segue enfrentando processos na Justiça.
O presidente disse que a ordem era necessária para garantir a independência americana em energia e gerar mais empregos. Mas grupos ambientalistas alertaram que desfazer as regulamentações teria sérias consequências tanto nos Estados Unidos, quanto no mundo.
Trump também negou repetidamente a ciência da mudança climática causada pelo homem e a descreveu como "fictícia". Mas, assim como em muitas outras questões, ele expressou opiniões contraditórias sobre isso.
Em novembro, por exemplo, Trump disse ao New York Times que reconhecia que havia "alguma conectividade" entre a atividade humana e as mudanças climáticas e que "daria uma olhada" no acordo de Paris, em vez de manter sua decisão de tirar os Estados Unidos do tratado.
Mesmo que ele quisesse fazer isso, no entanto, o país continua legalmente dentro do acordo de Paris por quatro anos. Outras "barreiras legais e processuais" também inibiriam Trump de uma revisão completa da política de clima dos Estados Unidos, segundo o New York Times.
Mas críticos dizem que sua postura pode fazer com que outros governos fiquem relutantes e céticos sobre a questão de reduzir as emissões de gases que contribuem para o aquecimento global.

7 - Acordo nuclear com Irã em dúvida

Para o ex-presidente Barack Obama, o acordo que impunha sanções ao Irã se o país fizesse uso de suas armas nucleares havia sido um "tratado histórico".
Trump discorda. Ele classifica a negociação como "o pior acordo jamais negociado pelos Estados Unidos" e já afirmou que a prioridade seria acabar com o tratado - ainda que não tenha especificado o que faria no lugar.
Mais recentemente, o governo anunciou uma revisão de toda a política dos Estados Unidos no Irã - o que incluiria não somente o acordo nuclear, mas também as ações dos iranianos no Oriente Médio, onde o país é peça-chave no conflito da Síria e um rival da Arábia Saudita e de Israel.
O Ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, já pediu a Trump que se mantenha comprometido com o acordo nuclear, debatido com várias potências mundiais.
O líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, foi mais contundente. "Se rasgarem o acordo, nós vamos queimá-lo", disse ele, segundo a agência de notícias AP.
De toda forma, as relações dos Estados Unidos com o Irã não tiveram um bom começo sob o governo de Trump, com novas sanções impostas pelos americanos após o país realizar um teste de míssil balístico.
"O Irã está brincando com fogo", Trump tuitou.
Fonte:BBC.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Guarde essa lista para votar contra em 2018.

Deputados do Nordeste
Lúcio Vieira Lima, Waldir Maranhão, Bruno Araújo e Mendonça Filho: unidos na retirada de direitos



Na madrugada da quinta-feira 27, a Câmara dos Deputados concluiu a aprovação da reforma trabalhista, uma das prioridades do governo Temer e uma antiga promessa feita às entidades empresariais. Na análise do texto-base, foram 296 votos a favor do relatório do deputado tucano Rogério Marinho, do Rio Grande do Norte, e 177 contra. 
A bancada nordestina votou majoritariamente a favor do projeto, que altera pontos sensíveis da Consolidação das Leis do Trabalho. Entre as mudanças está a prevalência dos acordos negociados entre patrões e empregados sobre a legislação, obstáculos ao ajuizamento de ações trabalhistas, a possibilidade de parcelamento de férias em três períodos, a flexibilização de contratos de trabalho e o fim da contribuição sindical obrigatória. 
Dos 138 representantes de estados da região Nordeste presentes na votação, 81 votaram “sim”. Apenas as bancadas de Alagoas, Ceará e Sergipe registraram maior número de sufrágios contrários à reforma de Temer. 
Entre os deputados que aprovaram a redução de direitos trabalhistas, destacam-se o baiano Lúcio Vieira Lima (PMDB), irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, o cearense Danilo Forte (PSB), o ex-presidente interino da Câmara Waldir Maranhão (PP), além dos ministros da Cidade, Bruno Araújo (PSDB), e da Educação, Mendonça Filho (DEM), que reassumiram os mandatos parlamentares por Pernambuco para votar. 
Confira a relação completa:
AlagoasArthur Lira (PP)
Nivaldo Albuquerque (PRP)
Pedro Vilela (PSDB)
BahiaArthur Oliveira Maia (PPS)
Benito Gama (PTB)
Cacá Leão (PP)
Claudio Cajado (DEM)
Elmar Nascimento (DEM)
Erivelton Santana  (PEN)
João Carlos Bacelar (PR)
José Carlos Aleluia (DEM)
José Carlos Araújo (PR)
José Rocha (PR)
Jutahy Junior (PSDB)
Lucio Vieira Lima (PMDB)
Márcio Marinho (PRB)
Mário Negromonte Jr. (PP)
Pastor Luciano Braga (PRB)
Paulo Azi (DEM)
Paulo Magalhães (PSD)
Roberto Britto (PP)
Ronaldo Carletto (PP)
CearáAdail Carneiro (PP)
Aníbal Gomes (PMDB)
Danilo Forte (PSB)
Domingos Neto (PSD)
Gorete Pereira (PR)
Moses Rodrigues (PMDB)
Raimundo Gomes de Matos (PSDB)
Vaidon Oliveira (DEM)
MaranhãoAlberto Filho (PMDB)
Aluisio Mendes (PTN)
André Fufuca (PP)
Cleber Verde (PRB)
Hildo Rocha (PMDB)
João Marcelo Souza (PMDB)
José Reinaldo (PSB)
Junior Marreca (PEN)
Juscelino Filho (DEM)
Pedro Fernandes (PTB)
Victor Mendes (PSD)
Waldir Maranhão (PP)
ParaíbaAguinaldo Ribeiro (PP)
André Amaral (PMDB)
Benjamin Maranhão (SDD)
Efraim Filho (DEM)
Hugo Motta (PMDB)
Pedro Cunha Lima (PSDB)
Rômulo Gouveia (PSD)
Wilson Filho (PTB)
PernambucoAdalberto Cavalcanti (PTB)
André de Paula (PSD)
Augusto Coutinho (SDD)
Betinho Gomes (PSDB)
Bruno Araújo (PSDB)
Carlos Eduardo Cadoca (PDT)
Daniel Coelho (PSDB)
Fernando Coelho Filho (PSB)
Fernando Monteiro (PP)
Jarbas Vasconcelos (PMDB)
João Fernando Coutinho (PSB)
Jorge Côrte Real (PTB)
Kaio Maniçoba (PMDB)
Marinaldo Rosendo (PSB)
Mendonça Filho (DEM)
Ricardo Teobaldo (PTN)
PiauíÁtila Lira (PSB)
Heráclito Fortes (PSB)
Iracema Portella (PP)
Júlio Cesar (PSD)
Maia Filho (PP)
Marcelo Castro (PMDB)
Paes Landim (PTB)
Rodrigo Martins (PSB)
Silas Freire (PR)
Rio Grande do NorteBeto Rosado (PP)
Fábio Faria (PSD)
Felipe Maia (DEM)
Rogério Marinho (PSDB)
SergipeAndré Moura (PSC)
Laercio Oliveira (SDD)

Professor Edgar Bom Jardim - PE

1ª greve geral do país, há 100 anos, foi iniciada por mulheres e durou 30 dias


Trabalhadores no Cotonifício Crespi, na Mooca, São Paulo, em 1917Direito de imagemARQUIVO EDGAR LEUENROTH | UNICAMP
Image captionGreve teve início em uma fábrica têxtil em São Paulo, e só depois da adesão de outras categorias passou a ter demandas gerais

Em junho de 1917, décadas antes da consolidação das leis trabalhistas no Brasil, cerca de 400 operários - em sua maioria mulheres - da fábrica têxtil Cotonifício Crespi na Mooca, em São Paulo, paralisaram suas atividades.
Eles pediam, entre outras coisas, aumento de salários e redução das jornadas de trabalho, que até então não eram garantidos por lei. Em algumas semanas, a greve se espalharia por diversos setores da economia, por todo o Estado de São Paulo e, em seguida, para o Rio de Janeiro e Porto Alegre. Era a primeira "greve geral" no país.
Mas uma das principais diferenças entre aquela e a greve geral convocada para esta sexta-feira, em protesto contra as reformas trabalhista e da Previdência, é que, em 1917, ela não foi anunciada como tal, disse à BBC Brasil o historiador Claudio Batalha, da Unicamp.
"Não é uma greve que já tivesse bandeiras gerais. Ela começa com questões específicas dos setores que vão aderindo ao movimento grevista, alguns por solidariedade. Depois é que a pauta passou a incluir desde reivindicações relacionadas ao trabalho até reivindicações de cunho político - libertação dos presos do movimento, por exemplo."
Uma destas questões específicas, menos comentada nos livros de história, era o assédio sexual. Segundo Batalha, parte da revolta das funcionárias do Cotonifício Crespi era o assédio que sofriam dos chamados contramestres, funcionários que supervisionavam o chão de fábrica.
"Isso não era incomum na época. Greves anteriores já haviam começado contra determinado funcionário que tivesse um cargo de chefia e tirasse proveito desse poder", explica.

Crescimento

Mas se a convocação de 2017 reflete a insegurança causada pelo desemprego e pela recessão, em 1917, a indústria brasileira ia de vento em popa.
Na verdade, os lucros das empresas chegavam a duplicar a cada ano.
"Entre 1914 e 1917, com a Primeira Guerra Mundial, se passou de uma recessão econômica a um superemprego, porque os produtos brasileiros passaram a substituir os importados e a serem exportados", explica o historiador italiano radicado no Brasil Luigi Biondi, da Unifesp.
"Em 1914, o Cotonifício Crespi lucrou 196 contos de réis. No ano seguinte, o lucro foi de 350 contos de réis. E foi aumentando. Enquanto isso, aumentavam as horas de trabalho."
Com o aumento da produção, as fábricas brasileiras, que tinham poucas máquinas, vindas do exterior, tiveram que usá-las por mais tempo. Isso significava que os operários passaram a trabalhar até 16 horas por dia, sem aumento de salário.
De acordo com Biondi, a insatisfação das mulheres se explica também pelo fato de que elas acompanhavam mais de perto a perda de poder aquisitivo dos trabalhadores.
"Além de também serem operárias, porque naquele momento havia muito emprego para elas na indústria têxtil, elas também controlavam os gastos das famílias. Então viam o aumento acelerado da inflação dos produtos."
No final de junho, a paralisação dos operários do Crespi contagiou os 1.500 operários da fábrica têxtil Ipiranga. Em seguida, se espalhou pela indústria de móveis, concentrada no Brás, e chegou até a fábrica de bebidas da Antarctica.
"Em julho, a greve parou a cidade (São Paulo). Havia embates de rua e tentativa de saques aos moinhos que produziam farinha por causa da crise de abastecimento. Muitos foram mortos e feridos nos confrontos com a polícia", diz Biondi.
O movimento ganhou mais fôlego no dia 11 de julho, quando milhares acompanharam o enterro do sapateiro espanhol José Martinez, de 21 anos.
Ele morreu com um tiro no estômago depois que uma unidade de cavalaria da polícia dispersou manifestantes que quebraram barris de cerveja diante da fábrica da Antartica, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, que noticiou o confronto.
"A partir daí, a greve se alastrou para quase todas as cidades do interior de São Paulo. Campinas, Piracicaba, Santos, Sorocaba, Ribeirão Preto. Até Poços de Caldas, no sul de Minas, que não era uma cidade industrial, teve movimentos de greve", afirma o historiador.

Cortejo fúnebre do sapateiro Martinez, morto em confrontos com a políciaDireito de imagemARQUIVO EDGAR LEUENROTH | UNICAMP
Image captionRepressão a grevistas aumentou a adesão de trabalhadores à paralisação, diz historiador

Negociação

Em 16 de julho - mais de um mês após o início da paralisação no Cotonifício Crespi - um acordo entre autoridades, organizações trabalhistas e industriais, mediado por jornalistas, pôs fim à greve em São Paulo. Mais ainda não era o fim da greve geral.
"Só em São Paulo a greve de fato terminou com uma negociação única. No Rio e em Porto Alegre, os movimentos tiveram dimensões gerais, mas só terminaram na medida em que cada setor chegava a um acordo com seu patronato. O ritmo de saída da greve foi aos poucos, assim como a adesão", explica Batalha.
Segundo Biondi, até mesmo na cidade de São Paulo ainda havia categorias entrando em greve no dia 18 de julho, como os pedreiros. Parte dos empresários se recusava a assinar os acordos e queria negociar condições diretamente com os funcionários.
Mesmo com a assinatura dos acordos, a consolidação dos direitos só viria em 1943, durante o regime de Getúlio Vargas.
"O que acontecia muitas vezes na época é que algo era obtido com uma greve, passava-se algum tempo e essa reivindicação voltava para nada", diz Claudio Batalha.
"Em 1907, também houve uma série de greves pedindo a jornada de trabalho de oito horas. E elas chegaram a diminuir, mas, depois de algum tempo, o patronato voltou a estabelecer as jornadas anteriores. O mesmo ocorreu após 1917."
A experiência da primeira greve geral também fez com que os empresários se preparassem para enfrentar futuras paralisações - o que tornou novas negociações mais difíceis para os trabalhadores.
"Uma das coisas que levou ao sucesso relativo da greve em 1917 é que as fábricas não tinham estoques. Quando os operários paravam, não havia produtos nas lojas. A partir daí, eles passaram a ter grandes estoques, e podiam permanecer sem funcionar um certo período porque tinham produção para vender."
Batalha lembra, no entanto, que o acordo só surgiu depois que "a greve atingiu dimensões tais que não tinha mais como controlar o movimento".
"A primeira tentativa de lidar com a greve foi de repressão. Essa era a tônica do período, tanto que houve mortes. Parte do processo de ampliação da greve, inclusive, se deveu a essas mortes."
"Até hoje a solução repressiva pode ser um desserviço às autoridades. Se a gente pensar nos protestos de 2013, a virada no número de pessoas em São Paulo foi quando houve uma repressão desproporcional à manifestação", afirma.

Jornal A Gazeta de 11 de julho de 1917Direito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionDepois de tomar capital paulista, movimento de paralisação se espalhou pelo interior do Estado e chegou a Rio e Porto Alegre

Ideologia

Em fevereiro de 1917, meses antes da greve brasileira, mulheres que trabalhavam na indústria têxtil deram início a protestos e a uma paralisação que teria consequências ainda maiores do outro lado do mundo: a Revolução Russa.
Os protestos começaram contra a escassez de alimentos no país e rapidamente ganharam a adesão de outros trabalhadores e a simpatia das forças de segurança. Ao fim de uma semana, a mornaquia russa chegava ao fim, abrindo caminho para a revolução comunista, no fim daquele ano.
"Essa greve também é importante porque mostra a conexão do Brasil com o resto do mundo. Naquele ano, greves como aquela ocorreram em diversos países", diz Luigi Biondi.
Ideologias como o anarquismo e o socialismo marxista, que chegaram a São Paulo principalmente pelos imigrantes italianos, tiveram um papel importante na organização do movimento.
"Por causa da Rússia, eles tinham a ideia de que aquilo poderia levar a uma insurreição dos trabalhadores. Isso não ocorreu, mas a cidade foi tomada. Pela primeira vez isso espantou as elites do país, que começaram a se dar conta de que a questão social urbana era grave e tinha que ser considerada."
Batalha acha que as correntes socialistas "tinham certa liderança", mas que sua influência era maior sobre trabalhadores qualificados.
"O que faz com que uma greve funcione é que as pessoas sintam que aquele estado de coisas chegou ao limite. Uma das características importantes de 1917 é que, pela primeira vez, setores que não participavam desse tipo de movimento começaram a participar."
Professor Edgar Bom Jardim - PE