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quinta-feira, 27 de maio de 2021

Bom Jardim perde o Pastor Valdeci, o Pastor do povo





O Corpo do Pastor Valdeci será sepultado no início da noite de hoje. Antes de ir para o Cemitério de Bom Jardim, haverá uma passagem do carro funerário em frente à Igreja Batista. 

Nossa querida Bom Jardim perde nesta quinta-feira, 27 de maio de 2021, um grande servo do cristianismo em nossa cidade. Pastor Valdecí Manoel da Silva, homem generoso, amigo de todos, pessoa simples que vivia no meio de todos nós. Grande pai, esposo e amigão da Igreja e do povão.

Pastor Valdeci, natural de Limoeiro, chegou em Bom Jardim no início dos anos 90.  A Igreja Batista da nossa cidade tinha poucos membros. Com sua fé, carisma, simplicidade, união  e trabalho de evangelização conseguiu novos adeptos para a Igreja. Homem simples, pobre, honesto, trabalhador, grande empreendedor na ação evangelizadora, atuou atraindo novos devotos, falava simples, falava a linguagem do povo. Fez um trabalho social muito importante. Ajudou famílias carentes, trouxe a juventude bonjardinense para dentro  da Igreja Batista. Pregou a união de todas igrejas aqui em Bom Jardim. Fez amizades com padres e  pastores de outras denominações religiosas. Deixou um grande trabalho espiritual.

Na condição de líder espiritual e cidadão também participava da vida pública, marcava presença em   conferências  municipais de saúde, educação, assistência social, reivindicava melhorias para a comunidade em geral e para sua Igreja.  Visitava escolas, feiras livres, lojas, comunidades. Organizou passeios para os irmãos da Igreja. Constantemente convidava  pastores de outras cidades para celebrar, fazer palestras e  encontros de irmãos em nossa cidade. 

Pastor Valdeci foi um um revolucionário, reformou , ampliou o prédio da Igreja Batista, gostava de cantar,  organizou grupo musical da Juventude Batista, inovou a administração,  ajudou a construir outros templos em comunidades do município. Pastor Valdeci conseguiu ajudar muita gente. Livrou pessoas do mundo das drogas e de caminhos errantes. Vez ou outra falava de seu namoro com Dona Maria Soares, contava suas histórias de vida errante, dificuldades e superação.  É de fato um vencedor. Sempre agradecia ao bom Deus por suas vitórias com o povo da Igreja e familiares. Em suas pregações sempre pedia a Deus por Bom Jardim, por nosso povo e pelos enfermos. Sempre!

Firme na sua fé, firme na sua Igreja, firme na vontade de servir ao próximo, firme na arte de fazer amigos.  Estas são algumas memórias do Pastor Valdeci, servo da Igreja Batista, Crente no amor e na infinita bondade de Jesus. Obrigado Pastor!

Por. Edgar Severino dos Santos.

*Imagem Igreja Batista

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 3 de abril de 2021

O que aconteceu com a cruz em que Jesus foi crucificado




Três cruzes no entardecer

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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Jesus morreu crucificado, segundo Bíblia

Segundo a crença cristã, Jesus de Nazaré morreu crucificado por ordem do então prefeito romano na Judéia, Pôncio Pilatos, e sua jornada até seu calvário - uma série de episódios conhecidos como Paixão - é um dos elementos centrais celebrados na Semana Santa.

A crucificação foi tão importante na história do Cristianismo que a cruz acabou se tornando o símbolo das religiões que professam devoção à figura de Jesus Cristo.

Mas o que aconteceu com a cruz em que Jesus morreu?

Dezenas de mosteiros e igrejas em todo o mundo afirmam ter pelo menos uma peça da chamada "Vera Cruz (Verdadeira Cruz)" em seus altares, para louvor de seus fiéis.

E muitos deles baseiam a veracidade da origem de suas relíquias em textos dos séculos 3 e 4, que narram a descoberta em Jerusalém do exato pedaço de madeira no qual Jesus Cristo foi executado pelos romanos.

"Essa história, que inclui o imperador romano Constantino e sua mãe, Helena, foi a iniciadora desta história da cruz de Cristo, que sobreviveu até hoje", explica a professora Candida Moss, do Departamento de Teologia e Religião da Universidade de Birmingham (Inglaterra), à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC. Moss é estudiosa do Novo Testamento e historiadora do cristianismo.

Ela explica que a história da cruz de Cristo é baseada nos escritos de historiadores antigos, como Gelásio de Cesareia ou Tiago de Voragine. Mas, para muitos historiadores de hoje, eles não determinam a autenticidade das peças de madeira que vemos atualmente em vários templos ao redor do mundo - nem podem servir como confirmação de sua procedência.

"Provavelmente esse pedaço de madeira não é a cruz em que Jesus foi crucificado, porque muitas coisas poderiam ter acontecido com ela. Por exemplo, que os romanos a reutilizaram para outra crucificação, em outro lugar e com outras pessoas", diz Moss.

Jesus na cruz

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Cruz também simboliza sofrimento que Jesus suportou antes de sua morte, segundo as homilias

Mas então, por que surgiu a história da "Vera Cruz" e por que existem tantas peças que supostamente fazem parte da "árvore principal"?

"(Por causa) do desejo de ter uma proximidade física com algo em que acreditamos", diz à BBC News Mundo Mark Goodacre, historiador e especialista em questões do Novo Testamento na Universidade Duke (Estados Unidos).

"As relíquias cristãs são mais um desejo do que algo verdadeiro", acrescenta.

Helena

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Helena foi declarada Santa por Igreja Católica

'Lenda Dourada'

Na narrativa do Evangelho, após a morte de Jesus na cruz, seu corpo foi levado para um túmulo, no que hoje é a Cidade Velha de Jerusalém.

E por quase 300 anos não houve menção no relato cristão daquele pedaço de madeira.

Foi por volta do século 4 que se acredita que o bispo e historiador Gelásio de Cesaréia publicou um relato em seu livro "A história da Igreja" sobre a descoberta em Jerusalém da "Vera Cruz" por Helena, uma santa da Igreja Católica e também a mãe do imperador romano Constantino, que impôs o cristianismo como religião oficial do império.

A história, aludida por outros historiadores e escritores como Tiago de Voragine em seu livro "Lenda Dourada" do século 8, indica que Helena, enviada por seu filho para encontrar a cruz de Cristo, é levada para um lugar próximo ao Monte Gólgota, onde Jesus supostamente foi crucificado, e lá encontra três cruzes.

Algumas versões indicam que Helena, duvidando de qual seria a verdadeira, colocou uma mulher doente em cada uma das cruzes e aquela que finalmente a curou foi considerada autêntica.

Imagem de Constantino e de sua mãe, Helena

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Segundo vários relatos, Helena, mãe do imperador Constantino, foi quem encontrou a cruz em que Cristo morreu em Jerusalém

Outros historiadores afirmam que Helena a reconheceu por ser a única das três que apresentava indícios de ter sido utilizada para crucificação com pregos, já que, segundo o Evangelho de João, Jesus foi o único que foi crucificado com aquele método naquele dia.

"Toda essa história faz parte do desejo por relíquias que começou a ocorrer no cristianismo durante os séculos 3 e 4", diz Goodacre.

O acadêmico ressalta que os primeiros cristãos não estavam focados em buscar ou preservar esses tipos de objetos como fonte de sua devoção.

"Nenhum cristão no século 1 se lançou a colecionar relíquias de Jesus", diz.

"Com o passar do tempo e o cristianismo se espalhando pelo mundo naquela época, esses fiéis começaram a criar formas de ter alguma conexão física com quem eles consideram ser seu salvador", acrescenta Goodacre.

A origem da busca por essas relíquias tem muito a ver com os mártires.

Segundo historiadores, o culto aos santos começou a ser uma tendência dentro da Igreja e, por exemplo, foi estabelecido desde cedo que os ossos dos mártires eram evidências do "poder de Deus agindo no mundo", produzindo milagres e outros feitos que "provavam" a eficácia da fé.

E como Jesus ressuscitou, não foi possível encontrar os seus ossos: segundo a Bíblia, após três dias no túmulo, o seu regresso à vida e a subsequente "ascensão ao céu" foi corporal. Dessa forma, restaram apenas objetos como a cruz e a coroa de espinhos vinculados a ele.

"Este período, quase três séculos após a morte de Jesus, é o que torna improvável que os objetos encontrados em Jerusalém, como a cruz em que ele morreu ou a coroa de espinhos, sejam os verdadeiros", observa Goodacre.

"Se isso tivesse sido feito pelos primeiros cristãos, que tiveram um contato mais próximo com o que de fato aconteceu, poderíamos falar da possibilidade de que fossem reais, mas não foi o caso".

Relíquia

Reliquia

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Várias igrejas ao redor do mundo afirmam ter um pedaço da cruz em que Jesus morreu

Parte da cruz concedida à missão de Helena foi levada para Roma (a outra permaneceu em Jerusalém) e, segundo a tradição, grande parte dos restos mortais está preservada na Basílica de Santa Cruz da capital italiana.

Com a "descoberta", a expansão do Cristianismo na Europa durante a Idade Média e a cruz que se tornou o símbolo universal desta religião, començou também a multiplicação dos fragmentos que iam para outros templos.

Esses fragmentos são conhecidos como "lignum crucis" (madeira da cruz, em latim).

Além da Basílica da Santa Cruz, as catedrais de Cosenza, Nápoles e Gênova, na Itália; o mosteiro de Santo Toribio de Liébana (que tem a maior peça), Santa Maria dels Turers e a basílica de Vera Cruz, entre outros, na Espanha, afirmam ter um fragmento da cruz em que Jesus Cristo foi executado.

A Abadia de Heiligenkreuz, na Áustria, também guarda uma peça e outro segmento muito importante está na Igreja da Santa Cruz, em Jerusalém.

Junto com as evidências físicas, os concílios de Nicéia, no século 4, e de Trento, no século 16, deram validade espiritual à devoção dessas relíquias, tanto que foram registradas no catecismo:

"O sentido religioso do povo cristão encontrou, em todos os tempos, a sua expressão em várias formas de piedade em torno da vida sacramental da Igreja: como a veneração das relíquias", pode ler-se no artigo 1674 deste tratado que estabelece a doutrina da Igreja Católica.

Cristo na cruz

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Segundo historiadores, devido à perseguição, primeiros cristãos não guardaram muitos objetos relacionados à presença física de Jesus

Mas também indica que as próprias relíquias não são "objetos de salvação", mas significa alcançar a intercessão e "benefícios para Jesus Cristo seu Filho, nosso Senhor, que é apenas nosso redentor e salvador."

Da mesma forma, a multiplicidade de fragmentos foi questionada em sua época por vários pensadores.

O teólogo francês João Calvino (1509-1564) destacou no século 16, em meio a um boom do tráfico de relíquias em que se multiplicavam os pedaços da chamada "Vera Cruz" distribuída por igrejas e mosteiros, que "se coletássemos tudo que foi encontrado (da cruz), haveria o suficiente para transportar um grande navio. "

No entanto, essa afirmação foi posteriormente refutada por vários teólogos e cientistas ao longo da história.

Recentemente, Pierluigi Baima Bollone, professor emérito da Universidade de Turim (Itália), apontou em um estudo que se todos os fragmentos que afirmam fazer parte da cruz de Cristo fossem reunidos "atingiríamos apenas 50% do tronco principal".

Veracidade

"É muito provável que Helena tenha encontrado uma árvore, mas o que é muito provável também é que alguém a tenha colocado naquele lugar para dar uma ideia de que esta foi a cruz em que Jesus morreu", diz Moss.

A especialista indica que há outra dificuldade em provar se essas peças realmente pertenceram, pelo menos, a uma crucificação ocorrida na época de Cristo.

"Por exemplo, a datação por carbono-14, que seria uma das primeiras coisas a fazer, é cara e a igreja não tem recursos para esse tipo de trabalho", diz.

Oração com cruz iluminada

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Cruz se tornou o símbolo do Cristianismo

E embora tenha sido possível obter fundos para financiar tal estudo, a investigação poderia afetar a integridade da relíquia.

"Acrescente a isso que a datação por carbono é considerada invasiva e um pouco destrutiva. Mesmo que você precise apenas de cerca de 10 miligramas de madeira, ainda envolve o corte de um objeto sagrado", observa Moss.

Em 2010, o pesquisador americano Joe Kickell, membro do Comitê para a Investigação Cética, organização sediada em Nova York (Estados Unidos), fez um estudo para determinar a origem dos pedaços que eram considerados parte da "Vera Cruz".

"Não há uma única evidência que sustenta que a cruz encontrada por Helena em Jerusalém, ou por qualquer outra pessoa, seja a verdadeira cruz em que Jesus morreu. A história de proveniência é ridícula. E seu caráter milagroso, também", escreveu Kickell em um artigo.

Para Moss e Goodacre, a chance de encontrar a verdadeira cruz de Cristo é muito remota.

"Seria necessário fazer um trabalho arqueológico, não teológico. E mesmo assim seria muito improvável encontrar a árvore de mais de dois milênios atrás", ressalva Goodacre.

Nesse sentido, para Moss, as dificuldades vêm até do objeto que estaríamos procurando.

"A palavra cruz tanto em grego quanto em latim se referia a uma árvore ou pau vertical em que se praticava a tortura", esclarece a historiadora.

"Em outras palavras, possivelmente estamos falando de uma única árvore ou estaca, não do símbolo que conhecemos atualmente."

  • Alejandro Millán Valencia
  • BBC News Mundo
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

EVANGÉLICOS ESTÃO TOMANDO O LUGAR DOS CATÓLICOS NO MST DO RIO


Apesar da ligação histórica com o movimento, agora a Igreja Católica perde espaço no maior assentamento do Rio de Janeiro.


A APOSENTADA ZULMIRA CUNHA, 76 anos, se cansou da Igreja Católica. Assim como outras mulheres que vivem no assentamento Zumbi dos Palmares, em Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro, ela não se identificava com os padres católicos, jovens e sem experiência conjugal. Acabou se convertendo à Assembleia de Deus. Na ocupação do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, o MST, onde vivem mais de 500 famílias desde o fim dos anos 1990, a expansão do neopentecostalismo é gigantesca. Nos cinco núcleos do assentamento, há 12 templos e comunidades religiosas, 11 deles evangélicos. A Assembleia de Deus tem sete, a Igreja Universal do Reino de Deus, dois. A Igreja Católica, que outrora era dominante entre os assentados, resiste em uma única capela.

Maior assentamento do estado do Rio de Janeiro e quarto maior do país, o Zumbi dos Palmares viu o número de evangélicos assentados crescer cerca de dez vezes na última década. Eram meros 7% em 1999 – dois anos após a ocupação da área. Na época, 86% dos assentados se diziam católicos e 3% adeptos de religiões de matriz africana. Hoje, são 72% evangélicos, e apenas 15% são católicos. O número de seguidores de religiões afro não se alterou, enquanto o de evangélicos explodiu.

Os dados são da pesquisa “Pentecostalização Assentada no Assentamento Zumbi dos Palmares”, realizada pelo teólogo Fábio Py e o geógrafo Marcos Pedlowski, ambos professores do programa de pós-graduação em Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense, a Uenf. O estudo, que levou três anos, acaba de ser publicado na revista acadêmica Perspectiva Teológica, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte.

“É impressionante a quantidade de evangélicos nos assentamentos no Brasil e em movimentos como o MST e também o MTST [Movimento dos Trabalhadores Sem Teto]. Chama a atenção a quantidade de lideranças evangélicas que estão sendo construídas. E com uma atuação bastante relevante das mulheres”, constata Py, doutor em teologia. “Não são mais católicos, como eram no começo, são pentecostais. É uma outra linguagem que está se construindo nessas periferias rurais, nos assentamentos.”.

No assentamento, resistem cerca de 20 pessoas, em média, nas celebrações da Igreja Católica. Um dos espaços de oração dos católicos acabou fechado nos últimos anos por falta de público e de padre. Zulmira, fiel católica no início da ocupação, lembra, “com todo o respeito”, que era atendida por um padre “menino de 20, 30 anos, que tinha acabado de sair do seminário, não entendendo nada do que a vida tem”. Segundo ela, o padre “não sabe o que é criar filhos, netos, muito menos o que é se deitar todos os dias com a mesma pessoa trabalhando na roça”, disse ela ao pesquisador, em entrevista mencionada no estudo.

A falta de sintonia dos padres com a comunidade era evidente, segundo relatos. Em dezembro de 2017, numa celebração de fim de ano, um padre de 27 anos, que não visitava o assentamento havia dois anos, chegou ao local trajando uma vestimenta usada por jesuítas, com gola clerical e outros adornos. Estava ainda cercado por 20 seminaristas, todos jovens, que faziam uma barreira entre ele e o povo. Questionado por um outro religioso sobre a roupa, que não seria adequada para o local, o padre disse não haver “nada mais santo do que a roupa jesuítica”.

As mulheres do assentamento preferem conversar com os pastores, em vez dos padres, por achar que eles – que podem se casar –, entendem melhor os seus problemas. “Ao contrário do padre, que não pode se casar, namorar, pelo menos o pastor sabe da vida de casado”, disse Zulmira. “A vida na roça e de casa é muito dura para chegar uma vez no mês e escutar o padre falar sobre um monte de gente, histórias, estudos, e não falar nada para mim, nada da vida aqui. Ainda por cima, passa um monte de reza nas confissões”, desabafou.

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Assembleia de Deus é a igreja mais presente no assentamento: são sete templos. 

Foto: Arquivo Pessoal/Fábio Py

A CPT perde espaço

O assentamento Zumbi dos Palmares tem uma área de 8.500 hectares – o equivalente a 8,5 mil Maracanãs – que pertencia a uma antiga e falida usina de cana-de-açúcar, a São João, abandonada desde a década de 1980. Campos de Goytacazes viveu o apogeu da lavoura canavieira no país no início do século 20. Décadas depois, o setor enfrentou uma grave crise. As usinas faliram por conta dos cortes dos subsídios do governo federal para a produção de cana e álcool, e os trabalhadores rurais da região ficaram desempregados.

Formado por nove fazendas, o latifúndio da usina São João foi ocupado por 559 famílias, inicialmente, em abril de 1997. Entre os assentados, havia trabalhadores da usina e moradores de favelas de Campos e cidades vizinhas, como Macaé e São Francisco de Itabapoana, recrutados por líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e Comissão Pastoral da Terra, a CPT, órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e vinculado à Comissão Episcopal para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz.

Seis meses depois da ocupação, a área foi desapropriada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. No mesmo ano, houve a emissão de posse pelo Incra. No momento, estão lá 506 famílias. Onde só se plantava cana-de-açúcar, há agora o cultivo de frutas, legumes e hortaliças, além da produção de ovos, que geram renda para os assentados.

Pastores ‘fizeram um trabalho mais intenso no dia a dia junto às pessoas’.

Embora sem o apoio oficial da diocese de Campos dos Goytacazes – tradicionalmente ligada à ala conservadora católica –, membros da CPT sempre tiveram fortes vínculos com o assentamento Zumbi dos Palmares. Participaram ativamente de sua organização, incentivaram encontros em missas mensais, ajudaram na formação política dos cortadores de cana e de outros trabalhadores rurais sem terra e implantaram no local projetos como o Movimento Fé e Cidadania, Movimento pela Educação no Campo, escolinhas de agroecologia e de estudos bíblicos (ligados à leitura popular da Bíblia), além de ações de erradicação de trabalho escravo e o acompanhamento de comunidades quilombolas.

O órgão católico também ajudou a manter um ambulatório médico no acampamento. Entre outras atividades, seus agentes ensinaram os moradores a manejar uma horta com plantas medicinais. “Os padres atuaram e ajudaram muito mais o movimento na luta pela terra do que os pastores. Estiveram mais presentes. Não lembro de pastores contribuindo nas ações. Apenas um no assentamento tem proximidade com o movimento”, diz Alcimaro Martins, agente da CPT, trabalhador rural e assentado no Zumbi dos Palmares.

Ex-seminarista, ele observa, no entanto, que os pastores “fizeram um trabalho mais intenso no dia a dia junto às pessoas, formando uma nova comunidade no assentamento”. Embora seja presidida por um bispo católico, a CPT tem caráter ecumênico, ou seja, é composta por pessoas de diferentes religiões. Mantém em seus quadros membros de outras igrejas protestantes, por exemplo.

A proximidade, no entanto, não foi suficiente para frear a expansão neopentecostal.

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Igreja Católica ajudou a estruturar o espaço onde hoje são cultivados legumes, frutas e hortaliças. Hoje, sua presença minguou. Fotos: Arquivo Pessoal/Fábio Py

Uma nova comunidade

O MST disse não haver comprovação de que evangélicos são maioria em seus assentamentos pelo Brasil, porque não há um levantamento nacional sobre o tema. Nelson Freitas, membro da direção nacional do movimento e ex-integrante da Pastoral Operária Católica, reconheceu, no entanto, que os pentecostais são maioria hoje nos assentamentos no Rio de Janeiro. Disse acreditar que eles representam “uns 80%” dos assentados. Ressalta, porém, que é importante separar quem é da direção, as lideranças e a base do movimento. “A pessoa pode ser de uma religião evangélica, mas o seu comportamento político ser bem diferente daquele da igreja. O MST, nos assentamentos, mantém em prática a sua linha de ação e as suas diretrizes”, observa.

A mudança no perfil religioso dentro do assentamento do MST adianta a tendência do restante do país. De acordo com o último Censo do IBGE, em 2010, católicos somam 64,6% da população brasileira contra 22,2% dos evangélicos. Pesquisador da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, José Eustáquio Alves prevê que, em dois anos, os católicos estarão abaixo dos 50% pela primeira vez no país. Até 2040, a expectativa é que os evangélicos assumam a dianteira.

O teólogo Fábio Py, protestante de origem luterana e batista e que também presta assessoria à CPT, contou ter ouvido de um líder do MST em 2015 que 40% dos integrantes do movimento eram evangélicos. Em visitas depois a assentamentos, no entanto, constatou que o número era muito maior. Um exemplo: entre as 12 integrantes do coletivo de mulheres do Zumbi de Palmares, atualmente, 80% são evangélicas.

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Evangélicos são mais dinâmicos: alugam, abrem a igreja e, se não der muito certo, fecham e partem para outra.

 

Foto: Arquivo Pessoal/Fábio Py

Práticas de gabinete

O dirigente dos sem terra Nelson Freitas explica que o público do MST mudou muito nos últimos anos. Com o avanço do agronegócio, diminuiu, segundo ele, o número do trabalhador rural nato, aquele que vivia só no campo. “No Rio, onde a gente busca o público para as ocupações? Estão nas chamadas periferias, nos arredores das cidades grandes e médias. E uma das poucas organizações da qual esse público participa é a igreja. E hoje, qual é a igreja? É a evangélica”, responde.

Para ele, o fato de a Igreja Católica ter diminuído a força das comunidades eclesiais de base, as CEBs, e contido o avanço da Teologia da Libertação no Brasil acabou afastando grande parte dos militantes católicos das ações sociais na periferia. Esse vácuo foi ocupado pelos evangélicos, avalia. “Outra questão é que começamos a nos preocupar com a construção de um partido político nosso. Na medida que elegíamos alguém para o Legislativo, era uma vitória, mas arrastávamos para os gabinetes de vereador e deputado aquela pessoa que estava na rua no dia a dia fazendo um trabalho. Hoje, muitas dessas pessoas têm uma política bem intencionada, mas não têm vínculo com o povo. Têm práticas de gabinete”, detecta.

Para o padre e teólogo Manoel Godoy, professor da Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte e do Centro Bíblico Teológico Pastoral do Conselho Episcopal Latino-Americano, a Igreja Católica precisa se adequar à celeridade da vida urbana. Ex-assessor da CNBB, Godoy vê lentidão do catolicismo para responder às necessidades da população. “A demora para construção de um templo católico é tão cultural que, quando algo tarda muito, é costume dizer: ‘parece obra da igreja’. Alugar um salão para o funcionamento de uma comunidade católica não está nos planos da instituição. Ela sempre vai atrás de compra de terreno e construção. Os evangélicos não têm essa dificuldade. Alugam, abrem a igreja e, se não der muito certo, fecham e partem para outra. Isso não é da cultura da instituição católica”, observa.

Outro obstáculo, segundo Godoy, é a demora na formação de um líder na Igreja Católica, além da centralização exacerbada da evangelização nas mãos do clero. “Os inúmeros leigos e leigas que participam das comunidades católicas são muito passivos e dependentes do clero. Não agem com autonomia, nada decidem. Tudo se concentra nas mãos do clero. Desta forma, fica muito difícil a multiplicação de centros comunitários”.

Evangélicos ganharam mais força com os militares: era uma maneira de resistir à militância católica de esquerda.

Ele sugere medidas urgentes a serem tomadas pelas lideranças católicas, como a “celeridade na formação de lideranças, a flexibilização na lei do celibato, um melhor aproveitamento dos leigos e leigas que já participam da vida da igreja e a valorização maior sobretudo das mulheres”. Propõe ainda um resgate dos padres casados, “que são bem formados e capacitados para o exercício do ministério”. E acrescenta: “Ficar fixado num modelo único de padre é perder o bonde da história. Faz-se necessário criar novos modelos do exercício do ministério: casados, padres de equipes pastorais e ordenação de mulheres”.

O padre Godoy lembra que, desde a década de 1960, com o surgimento dos primeiros pastores televisivos, como Rex Humbard e Billy Graham, a pregação neopentecostal com base na teologia da prosperidade ganhou terreno no país, principalmente no rádio e televisão. “Com os militares, os evangélicos ganharam mais força, pois eles perceberam que seria uma maneira prática e barata de enfrentar a militância católica que se alinhava mais com as teses da esquerda, por meio das CEBs e da Teologia da Libertação”, afirma.

Godoy concorda que o avanço das igrejas pentecostais e neopentecostais “é um fenômeno nacional”, com crescimento vertiginoso nas periferias e favelas. “Um nordestino que chegava ao Rio de Janeiro subia o morro como Severino e descia como pastor, com a Bíblia debaixo do braço. Já se disse que era uma forma de sobreviver numa situação adversa e hostil. O terno e a Bíblia lhe conferiam uma certa autoridade”, afirma.

O ex-assessor da CNBB diz que, em regiões como a periferia de Belo Horizonte, onde atua, o crescimento evangélico é de tal magnitude que “o católico passou a ser identificado com características bem demarcadas: classe média e alta, escolarização superior, idade mais avançada e residentes de bairros mais nobres da capital”. Em Campos dos Goytacazes, a população católica hoje também está nas áreas nobres e centrais da cidade, enquanto os pentecostais predominam em assentamentos e nos bairros periféricos.

O papa Francisco terá muito trabalho para tentar reverter esse quadro.

Gilberto Nascimento
theintercept.com/
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 11 de outubro de 2020

Papa Francisco liga para padre Julio Lancellotti e diz: ‘Não desanime’





O padre Julio Lancellotti, líder da Pastoral do Povo da Rua e pároco da Arquidiocese de São Paulo, recebeu uma ligação do Papa Francisco no sábado 10.

A informação foi confirmada pela igreja e pelo próprio padre nas redes sociais, que destacou uma das frases ditas: para não “desanimar” frente os desafios postos.


A ligação foi feita por volta das 14h15, horário de Brasília.

“O Papa disse que viu as fotos que enviamos para ele e que sabe das dificuldades que passamos, mas que não desanimemos e façamos sempre como Jesus, estando junto dos mais pobres.”, diz a nota da Arquidiocese, escrita por Julio.

“Pediu para transmitir a todos os moradores de rua o seu amor e proximidade e que todos rezem por ele. Ele reza por todos nós também.”, encerra.

Lancellotti foi alvo de insultos do candidato à Prefeitura de São Paulo Arthur do Val, o “Mamãefalei”, e depois recebeu ameaças enquanto estava realizando seu trabalho com a população em situação de rua de São Paulo.

“O risco que estou correndo é cada vez maior, e a responsabilidade vocês sabem de quem é”, disse o padre em vídeo. Ele registrou um boletim de ocorrência.


Carta Capital

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 4 de julho de 2020

Catedral reabre com Jesus negro em pintura de última ceia no Reino Unido


Quadro A Última Ceia, da artista Lorna May WadsworthDireito de imagemLORNA MAY WADSWORTH
Image captionApoiadora do movimento Black Lives Matter em St Albans diz que o quadro da catedral causou uma conversa sobre o tema na comunidade

Uma pintura da Santa Ceia mostrando um Jesus negro foi instalada em uma catedral no Reino Unido, em um movimento que ativistas descreveram como uma "declaração ousada". O quadro, da artista Lorna May Wadsworth, foi colocado no Altar dos Perseguidos na ala norte da Catedral católica de St Albans, cidade a cerca de 35 km de Londres.

A igreja afirmou que tomou tal atitude em "apoio ao movimento Black Lives Matters" (vidas negras importam, em tradução livre), que registrou manifestações com cerca de 1000 pessoas na cidade. O trabalho original, pintado em 2010, já havia sido alvo de um tiro quando foi exibido em uma igreja de Gloucestershire.

Um apoiador do movimento na cidade disse que o uso do quadro pela catedral causou uma conversa mais ampla entre a comunidade.

A artista usou um modelo jamaicano de base para sua interpretação da obra do século XV de Leonardo da Vinci, e disse que ela queria "fazer as pessoas questionarem o mito ocidental de que Jesus Cristo tinha cabelo claro e olhos azuis".

A Last SupperDireito de imagemLORNA MAY WADSWORTH
Image captionO reverendo Jeffrey John, decano da catedral, disse: "Nossa fé ensina que somos todos feitos igualmente à imagem de Deus, e que Deus é um Deus de Justiça".

Responsáveis pela catedral informaram que a pintura de 2,6 metros de altura foi parte de uma instalação para marcar a reabertura da igreja, e convidar as pessoas a "olhar com olhos renovados para algo que você pensa que já conhece".

Em uma nota oficial, a catedral informou: "Nós apoiamos o movimento Black Lives Matter como aliados em prol da mudança, construindo uma comunidade forte e justa onde a dignidade de todos os seres humanos é honrada e celebrada, onde as vozes pretas são ouvidas, e onde vidas negras importam".

Um porta-voz acrescentou que era o "sentimento [do movimento] que nós apoiamos, e que não apoiamos de maneira acrítica nenhuma organização política".

The Last Supper by Leonardo da VinciDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPintura de Da Vinci mostra a cena da Última Ceia conforme narrada no Evangelho de João

O grupo do BLM para St Albans, que não é afiliado ao movimento nacional e é um grupo criado separadamente para a resposta da cidade ao movimento, disse que a pintura não tem objetivo de ser um retrato preciso da aparência de Jesus, mas de "promover uma conversa sobre como a história é frequentemente embranquecida".

Shelley Hayles, representante do grupo, afirmou: "Grande parte da nossa sociedade não tem problema em aceitar um retrato impreciso do Jesus 'branco', mas são rápidos a questionar o Jesus 'preto' e esse é só mais um exemplo do racismo sistêmico no Reino Unido", diz.

"A declaração corajosa da Catedral de St Albans trouxe uma conversa para a comunidade que seria pouco provável antes do Black Lives Matter ganhar espaço".

A instalação causou debate na página da catedral no Facebook, com uma postagem dizendo: "Por que precisamos transformar tudo em uma questão de cor? Se Jesus foi de Jesusalém teria provavelmente sido mais escuro, mas ele nos ensinou a amar a todos, essa é a minha crença".

Outros tinham opinião diferente: "Eu acho que é uma iniciativa muito bem-vinda. Obrigada por isso, é necessário".

BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE