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segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

20 mil mortos em Gaza



Imagem de bombardeio com logo da BBC Verify
  • Author,Merlyn Thomas*
  • Role,BBC Verify

Pelo menos 20 mil pessoas foram mortas em Gaza desde que Israel começou a retaliação aos ataques do Hamas de 7 de outubro.

A BBC Verify (unidade de checagem da BBC) analisa o que o número de mortos em Gaza revela sobre o conflito.

Dados do Ministério da Saúde em Gaza, administrado pelo Hamas, mostram que em média quase 300 pessoas foram mortas todos os dias desde o início do conflito, excluindo o cessar-fogo de sete dias. O diretor regional de emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS), Richard Brennan, diz considerar esses números confiáveis.

Contar as vítimas é um desafio em qualquer zona de guerra, e os médicos em Gaza dizem que o número de mortos provavelmente é maior do que o registrado, uma vez que não inclui corpos sob os escombros de edifícios bombardeados e aqueles que não foram levados para hospitais




Grande número de mortos

O ritmo de mortalidade nessa guerra tem sido "excepcionalmente elevado", diz o professor Michael Spagat, especializado em análise de contagem de vítimas em conflitos em todo o mundo, como a guerra do Iraque em 2003, o conflito civil na Colômbia, as guerras na República Democrática do Congo, bem como conflitos anteriores entre Israel e Gaza.

“Dentro da série de guerras em Gaza desde 2008, a atual não tem precedentes tanto em número de pessoas mortas como em matança indiscriminada”, afirma Spagat.

Gráfico mostra registros diários cumulativos de mortes em Gaza


O número de 20 mil mortos representa quase 1% dos 2,2 milhões de habitantes de Gaza.

A BBC conversou com especialistas em questões militares que apontaram que a grande variedade de bombas usadas por Israel — algumas de cerca de 45 kg e outras de até 900 kg — contribuíram diretamente para o grande número de mortes no conflito.

Estar perto do impacto de grandes bombas é como “surfar na Terra enquanto uma onda de choque liquefaz momentaneamente o solo”, explica Marc Garlasco, ex-analista sênior de inteligência do Pentágono e ex-investigador de crimes de guerra da ONU, que já conversou com vítimas e testemunhas dessas bombas.

O que as torna ainda mais devastadoras é que Gaza tem uma densidade populacional muito elevada. O território tem apenas 41 km de comprimento e 10 km de largura. Em média, antes do conflito, havia mais de 5,7 mil pessoas por km² em Gaza — o que é inferior à média da cidade de São Paulo, mas essa cifra sobe para 9 mil na Cidade de Gaza.

Israel iniciou a sua campanha militar em Gaza após os ataques do Hamas, nos quais 1,2 mil pessoas foram mortas, a maioria delas civis. Três meses depois, o país enfrenta pressão crescente devido ao número de vítimas civis em Gaza.

Nos conflitos mundiais entre 2011 e 2021, quando houve uso de explosivos em áreas povoadas, em média 90% das vítimas mortais eram civis, de acordo com o grupo de pesquisa Action on Armed Violence.

Segundo relatórios da inteligência dos EUA aos quais a rede americana CNN teve acesso, Israel lançou mais de 29 mil bombas sobre Gaza desde o início da guerra até meados de dezembro, sendo 40% a 45% delas não guiadas.

Essas bombas não guiadas "podem errar o alvo em até 30 metros, que é a diferença entre atingir um quartel-general do Hamas e um apartamento repleto de civis", explica Garlasco, que trabalhou em três conflitos anteriores em Gaza e que é agora conselheiro da organização de paz holandesa PAX.

As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) afirmam que tomam medidas de precaução para evitar danos à população civil.

Segundo as IDF, estas medidas incluem avisos antes dos bombardeios, nos casos em que é possível fazê-lo. Israel também insiste que o número de civis mortos no conflito tem sido melhor do que em outros conflitos internacionais.

As IDF afirmam que “abortarão os ataques quando for vista presença civil inesperada".

"Escolhemos a munição certa para cada alvo, para que não sejam causados danos desnecessários”, diz a força israelense.

Israel também afirma que o Hamas utiliza a população civil de Gaza como escudo humano.

Quantos civis morreram?

As mulheres e as crianças representam cerca de 70% dos mortos em Gaza no atual conflito, segundo o Ministério da Saúde gerido pelo Hamas.

Contudo, os números do Hamas não diferenciam civis do sexo masculino e combatentes.

Uma análise anterior feita pelo Gabinete de Comunicação Social do governo do Hamas e divulgada em 19 de dezembro indicava que dos até então 19.667 mortos registrados, mais de 8 mil eram crianças e 6.200 mulheres.

A contagem incluiu também entre os mortos 310 profissionais de saúde, 35 funcionários da defesa civil e 97 jornalistas — todos civis.

A guerra está tendo um impacto particularmente devastador nas crianças de Gaza. Quase metade da população do território tem menos de 18 anos, segundo dados divulgados em 2022 pelo Ministério da Saúde.

Mais de 52 mil pessoas foram feridas no conflito até agora, segundo o ministério.

Embora não existam números atualizados de crianças feridas, essa cifra era de 8.067 até 3 de novembro.

Gráfico mostra registros diários cumulativos de ferimentos em Gaza

Gaza é hoje o “lugar mais perigoso do mundo para ser criança”, segundo a agência da ONU dedicada à infância, a Unicef.

“Bairros inteiros, onde as crianças costumavam brincar e ir à escola, foram transformados em pilhas de escombros, sem vida”, diz Adele Khodr, diretora regional da Unicef para o Oriente Médio e Norte da África.

Como a situação em Gaza se compara a outros conflitos?

Cada conflito é único nas suas características, mas os especialistas com quem a BBC conversou concordam que a taxa de mortes em Gaza é significativamente maior do que em outros conflitos recentes.

“O que estamos vendo em termos de mortes de civis já ultrapassou em muito as taxas de qualquer conflito que documentamos”, afirma Emily Tripp, diretora da Airwars, uma organização que monitora mortes de civis em guerras e conflitos desde 2014.

Ex-analista de inteligência do Pentágono, Marc Garlasco afirma: "Para encontrar uma densidade semelhante de explosivos usados em uma pequena área povoada, talvez tenhamos que voltar à guerra do Vietnã para encontrar um exemplo comparável — como os ataques a bombas no Natal de 1972, quando cerca de 20 mil toneladas de bombas foram lançadas em Hanói durante a Operação Linebacker II."

Estima-se que 1.600 civis vietnamitas tenham sido mortos nesse atentado.

Já na ofensiva de quatro meses para expulsar o Estado Islâmico da cidade síria de Raqqa em 2017, os ataques aéreos e de artilharia da coligação liderada pelos EUA mataram menos de 20 civis por dia, em média, segundo a Anistia Internacional.

Não se sabe ao certo quantos civis viviam ali na época, mas funcionários da ONU estimaram que havia entre 50 mil e 100 mil. Além disso, mais de 160 mil civis teriam fugido das suas casas e se deslocaram internamente no país.

E uma investigação da agência de notícias Associated Press sugeriu que entre 9 mil e 11 mil civis foram mortos na batalha de nove meses pela cidade iraquiana de Mosul entre as forças iraquianas apoiadas pelos EUA e o Estado Islâmico, disputa que terminou em 2017.

Isto equivale a uma média de menos de 40 mortes de civis por dia.

Mosul tinha uma população estimada em menos de 2 milhões de pessoas quando o Estado Islâmico capturou a cidade, em 2014.

Já durante os quase dois anos de guerra na Ucrânia, a ONU estima que pelo menos 10 mil civis foram mortos.

No entanto, a missão de monitoramento de direitos humanos da ONU alertou que o número real pode ser significativamente maior, dados os obstáculos e o tempo necessário para a verificação.

E comparar as taxas de vítimas em diferentes conflitos é difícil, em parte porque são utilizadas metodologias variadas para estimar as mortes.

Homem agachado sobre escombros
Legenda da foto,

Homem agachado sobre escombros em Gaza

Quantos combatentes do Hamas foram mortos?

Israel declarou que o seu objetivo é destruir o Hamas, mas não está claro quantos membros do grupo palestino foram mortos.

Autoridades já falaram em “milhares”.

O Hamas é considerado uma organização terrorista pelos governos de Israel, do Reino Unido e de alguns outros países.

Mas quando questionado diretamente, as Forças Armadas israelenses disseram que “não têm um número exato de terroristas do Hamas mortos”.

Segundo a agência de notícias AFP, funcionários israelenses de alto escalão sugeriram que Israel matou dois civis palestinos para cada combatente do Hamas.

Essa proporção foi descrita pelo porta-voz das Forças Armadas, Jonathan Conricus, como “tremendamente positiva”.

A BBC não conseguiu estabelecer um método claro de verificação do número de combatentes mortos.

O professor Michael Spagat diz que "não ficaria surpreso" se cerca de 80% dos mortos fossem civis.

Não existem “números confiáveis” da razão entre civis e combatentes mortos em Gaza, dizem Hamit Dardagan e John Sloboda, da Iraq Body Count, uma organização com experiência na contagem e análise de mortes em conflitos no Iraque.

*Becky Dale contribuiu para esta reportagem.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Guerra: Vídeo explica o apoio americano a Israel. Assista


Pessoas carregando suprimentos em Gaza

CRÉDITO,AFP

Legenda da foto,

Pessoas levaram farinha e outros suprimentos básicos de armazéns e centros de distribuição no centro e sul de Gaza

Palestinos em meio a ruínas de edifício destruído por ataque aéreo israelense na noite de sexta-feira, 27 de outubro, no norte de Gaza

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Norte de Gaza foi alvo de bombardeio pesado de Israel na noite de sexta-feira





*Este vídeo foi modificado de acordo com a política editorial da BBC Desde que o grupo palestino Hamas fez o maior ataque ao território israelense em 50 anos, o presidente americano Joe Biden tem demonstrado repetidamente o que chama de apoio “sólido e inabalável” a Israel. Em comunicado divulgado dois dias após o ataque, Biden disse que “Esta não é uma tragédia distante – os laços entre Israel e os Estados Unidos são profundos”, reafirmou que os americanos caminham “ombro a ombro com os israelenses” e garantiu que os Estados Unidos farão “tudo para que Israel possa se defender”. As palavras de Biden têm sido acompanhadas de ações: nos primeiros quatro dias da crise, o presidente americano falou ao telefone três vezes com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ordenou o envio do mais moderno porta-aviões da marinha americana ao mediterrâneo, autorizou reforços para o Domo de Ferro, o escudo anti-aéreo israelense, despachou um navio recheado de munições e decidiu mandar seu secretário de Estado, Antony Blinken, a Tel Aviv. O presidente americano adiantou também que pedirá ao Congresso americano a aprovação de um pacote de auxílio militar a Israel. Nem o tom de indignação de Biden nem sua rápida movimentação para apoiar militarmente o aliado do Oriente Médio pode ser creditado aos mais de 20 cidadãos americanos mortos e a outros que estão como refém do Hamas. Tampouco são uma novidade na política americana. Neste vídeo, a correspondente da BBC News Brasil em Washington, Mariana Sanches, explica de onde vem esse apoio dos americanos a Israel

Professor Edgar Bom Jardim - PE

O mundo contra a guerra, o mundo contra Israel, o mundo contra a narrativa da mídia armada, capitalista. Assista o vídeo


Norte de Gaza na manhã de sábado, 28 de outubro, após bombardeio de Israel

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto,

Cerca de 100 aviões de combate foram usados na operação no norte de Gaza, descrita por Israel como "invasão limitada"






Hildegard Angel é jornalista. Trabalhou também como atriz no teatro, cinema e televisão nas décadas de 1960 e 70. Ficou conhecida nacionalmente também como colunista social e de televisão nos jornais O Globo (décadas de 80 e 90) e Jornal do Brasil (2003 a 2010). Vídeo completo aqui: https://youtu.be/Fcz-Nw2f7OE • Seja assinante do Brasil 247 e da TV 247 em https://brasil247.com/apoio
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Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 21 de outubro de 2023


Combatentes do Hezbollah

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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Hezbollah convocou "dia de fúria sem precedentes" contra Israel após explosão em hospital de Gaza

  • Author,Norberto Paredes
  • Role,BBC News Mundo


Israel começou a evacuar vilarejos na fronteira com o Líbano em meio a temores de uma escalada de violência na área.

A principal preocupação é com a possibilidade de um confronto armado com o Hezbollah, grupo islâmico libanês que, assim como o palestino Hamas, prega a destruição do Estado judeu.

O Hezbollah convocou uma "um dia de fúria sem precedentes" contra Israel na quarta-feira (18/10), após acusar o país de estar por trás de uma explosão em um hospital em Gaza que matou centenas de pessoas na noite do dia anterior.

Israel, por sua vez, afirma que foi a Jihad Islâmica Palestina que lançou este ataque, considerado o mais mortal até agora no conflito com o Hamas, que controla a Faixa de Gaza




Desde o ataque do Hamas, que matou pelo menos 1,4 mil pessoas em Israel — e a contra-ofensiva israelense que matou mais de 4 mil pessoas em Gaza, segundo oficiais palestinos — tem havido várias trocas de tiros na fronteira libanesa-israelense.

Três soldados israelenses morreram na semana passada em um confronto com militantes do Hezbollah que haviam atravessado o país vindos do Líbano.

O Exército israelense respondeu atacando combatentes do grupo em território libanês, matando três.

Desde a sua criação, o Hezbollah tem sido acusado de realizar uma série de ataques contra alvos judeus e israelenses.

O grupo é designado como organização terrorista pelos Estados Unidos, Israel e outros países da Liga Árabe.

Da mesma forma, o seu braço militar aparece na lista de organizações terroristas da União Europeia (UE)


Apoiadores do Hezbollaz em Beirute

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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Desde sua criação, Hezbollah vem sendo acusado de realizar uma série de ataques contra alvos judeus e israelenses

"O Hezbollah é atualmente a força militar não-estatal mais poderosa do mundo", diz Firas Maksad, especialista em política libanesa e geopolítica do Oriente Médio do think tank Middle East Institute (MEI), com sede em Washington, à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.

À medida que o conflito entre o Hamas e Israel se intensifica e as tropas israelenses se preparam para uma possível invasão terrestre na Faixa de Gaza, muitos temem agora que o Hezbollah se envolva plenamente no conflito e retome a sua luta contra o que considera ser um dos seus principais inimigos.

Origem



O Hezbollah — cujo nome significa "partido de Deus" — é um partido político islâmico xiita e um grupo paramilitar apoiado pelo Irã que exerce grande poder no Líbano.

Desde 1992, é liderado por Hassan Nasrallah e tornou-se agora a força militar mais poderosa da nação árabe.

O grupo também ganhou gradualmente influência no sistema político do Líbano e tem poder de veto no Executivo do país.

O Hezbollah é considerado por alguns libaneses como uma ameaça à estabilidade do país, mas continua popular entre a comunidade xiita libanesa que representa.

Apesar de o Hezbollah defender uma corrente do Islã diferente da do Hamas, sendo o primeiro xiita e o segundo, sunita, os dois grupos convergem quanto ao desejo de destruir Israel.

No entanto, lutaram em campos opostos na guerra civil síria.

O Hezbollah apoia Bashar al Assad, enquanto o Hamas quer derrubá-lo.

As origens precisas do Hezbollah são difíceis de rastrear, mas os seus precursores surgiram depois de Israel ter invadido uma parte do sul do Líbano em 1982, em resposta a uma série de ataques de militantes palestinos contra Israel, nomeadamente a tentativa de assassinato do embaixador israelense no Reino Unido.

Ariel Sharon, que era então Ministro da Defesa de Israel, visou expurgar a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) do sul do Líbano e impedir as incursões do grupo através da sua fronteira.

Alguns líderes xiitas no Líbano queriam uma resposta militante à invasão e romperam com o Movimento Amal, um grupo político que se tornou uma das mais importantes milícias muçulmanas xiitas durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990).

Os rebeldes formaram um movimento militar xiita que recebeu apoio militar e organizacional da Guarda Revolucionária do Irã (divisão das forças armadas do Irã, fundada depois da Revolução Iraniana) e foi denominado Amal Islâmico.

Pouco depois, essa organização aliou-se a outros grupos e criou o Hezbollah.

Objetivos

O Hezbollah anunciou oficialmente a sua criação em 1985, publicando uma "carta aberta" que identificava os Estados Unidos e a antiga União Soviética (URSS) como os principais inimigos do Islã.

No polêmico manifesto, o Hezbollah também levantou a destruição de Israel como um objetivo fundamental.

"É o inimigo odiado que temos de combater até que os odiados consigam o que merecem", diz o texto.

"Este inimigo é o maior perigo para as nossas gerações futuras e para o destino das nossas terras, especialmente porque glorifica as ideias de colonização e expansão, iniciadas na Palestina."

Manifestantes queimam uma bandeira israelense durante uma manifestação organizada pelo Hezbollah nas ruas da cidade de Sidon, no sul do Líbano

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Cresce temor de que Hezbollah se envolva plenamente no conflito entre Hamas e Israel

O governo dos EUA culpa o grupo por orquestrar os atentados à embaixada dos EUA e ao quartel da Marinha americana em Beirute, em 1983, que juntos deixaram 258 americanos e 58 militares franceses mortos e levaram à retirada das forças de manutenção da paz ocidentais.

Após o Exército sírio ter imposto a paz no Líbano em 1990, pondo fim à guerra civil, o Hezbollah continuou a sua guerra de guerrilha no sul do país.

Mas, gradualmente, também começou a desempenhar um papel ativo na política libanesa.

Em 1992, participou pela primeira vez nas eleições nacionais, obtendo mais assentos do que qualquer outro partido.

A organização emitiu um novo manifesto político em 2009, após conquistar 10 assentos no Parlamento, para destacar a "visão política" do grupo.

O Hezbollah retirou do manifesto de 1985 a referência à necessidade de criação de uma república islâmica, mas manteve sua linha dura contra Israel e os Estados Unidos e insistiu que precisava manter suas armas.

Pela sua influência política, militar e de segurança e também pelos serviços sociais que presta, no Líbano, o grupo é considerado um estado dentro do estado, ou seja, uma milícia, rivalizando com as instituições governamentais, o que gera críticas no país.

As suas capacidades excedem até as do Exército libanês.

O espectro da guerra de 2006

A violência em Gaza alimentou tensões entre Israel e o Hezbollah, que expressou solidariedade com o povo palestino.

O grupo militante libanês entrou em confronto pela última vez com Israel em 2006.

Naquele ano, militantes do Hezbollah lançaram um ataque transfronteiriço no qual oito soldados israelenses foram mortos e outros dois raptados.

O Hezbollah exigiu a libertação dos prisioneiros libaneses em troca de soldados israelenses.

Mas a resposta de Israel ao ataque foi rápida e firme.

Aviões de guerra israelenses bombardearam redutos do Hezbollah no sul do Líbano e nos subúrbios ao sul de Beirute, enquanto o Hezbollah disparou cerca de 4 mil foguetes contra Israel.

Mais de 1.125 libaneses, a maioria deles civis, morreram durante os 34 dias de conflito, bem como 119 soldados israelenses e 45 civis.

Desde então, o Hezbollah aprimorou e expandiu o seu arsenal, recrutando dezenas de novos combatentes.

Crianças segurando bandeira do Hezbollah

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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Gradualmente, Hezbollah passou a ter papel na vida política do Líbano

Capacidade militar

Segundo Firas Maksad, especialista em política libanesa, o Hezbollah é "exponencialmente mais poderoso" hoje do que era em 2006.

"O Hezbollah ganhou muito mais experiência, lutando na guerra na Síria e treinando e apoiando milícias pró-Irã no Iraque e no Iêmen", explica o especialista.

"Também se acredita que seu arsenal militar seja muito mais amplo e preciso em termos de mísseis, em comparação com 2006."

Em 2021, o líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, afirmou que o grupo tinha 100 mil combatentes.

Também possui foguetes de longo alcance que poderiam penetrar profundamente em Israel.

Por essas razões, Maksad acredita que uma guerra total entre o Hezbollah e Israel seria "devastadora" tanto para os libaneses como para os israelenses.

Combatentes do Hezbollah

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Em 2021, líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, afirmou que grupo tinha 100 mil combatentes

Financiamento

Segundo o Departamento de Estado dos EUA, o Irã fornece ao Hezbollah "a maior parte" do seu financiamento, bem como treinamento, armas e explosivos.

Teerã também envia "ajuda política, diplomática, monetária e organizacional", denuncia Washington.

Além disso, as agências antidrogas dos EUA e da Europa acusam o grupo libanês de lucrar com o tráfico de drogas.

O Hezbollah nega repetidamente tais acusações, alegando que é "religiosamente proibido fabricar, vender, comprar, contrabandear e consumir" drogas.

O Departamento de Estado dos EUA observa que o Hezbollah também lucra com contrabando de mercadorias, falsificação de passaportes, tráfico de entorpecentes, lavagem de dinheiro e fraude com cartões de crédito, imigração e bancos.

O Hezbollah se envolverá na guerra entre Israel e Gaza?

Combatente do Hezbollah em funeral de militante morto

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Hezbollah aprimorou e expandiu seu arsenal, recrutando dezenas de novos combatentes

Na visão de Maksad, existe a possibilidade de Israel e o Hezbollah travarem um conflito, apesar de nenhum dos lados estar "buscando-o ativamente".

O especialista acredita que Israel está ocupado em Gaza e não quer abrir uma segunda ou terceira frente, enquanto o Irã preferiria que o Hezbollah não perdesse a sua influência ou a sua força.

"O Hezbollah é a primeira linha de dissuasão para que Israel não ataque o programa nuclear iraniano, razão pela qual o Irã prefere que permaneça intacto", explica.

No entanto, Maksad acrescenta que se Israel avançar mais profundamente em Gaza, os líderes do Irã e do Hezbollah terão de tomar uma decisão difícil.

"Eles terão de decidir se vão sentar-se e ver Israel desmantelar os seus aliados palestinos ou juntar-se à luta para salvar o Hamas."

Maksad diz que uma segunda frente "possivelmente" já existe devido aos confrontos observados entre o Hezbollah e Israel perto da fronteira libanesa-israelense.

"O Hezbollah e os iranianos são especialistas em conflitos na zona cinzenta (entre a paz e a guerra)", explica.

"Eles continuarão a ameaçar Israel e a operar na fronteira, mas tentando evitar um confronto total e devastador", conclui

Professor Edgar Bom Jardim - PE