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domingo, 1 de julho de 2018

Copa:Conheça o professor de escola pública que fez seleção trocar pontapés por bom futebol


Durante décadas, a seleção do Uruguai carregou a fama de equipe violenta, uma herança principalmente dos jogos sanguinários realizados por Peñarol e Nacional nas Copas Intercontinentais, disputadas inicialmente pelos vencedores da Copa Libertadores e da Uefa Champions League em tensos jogos de ida e volta, um na América do Sul e outro na Europa.
 estigma só começou a ser dissipado quando a seleção celeste foi assumida, primeiro entre 1988 e 1990, e depois em 2006 até os dias de hoje, por um professor e diretor de escola pública chamado Óscar Washington Tabárez Silva.
Conhecido como El maestro ("o professor"), por ter de fato lecionado a língua de Cervantes por muitos anos em uma escola do bairro de Cerro, em Montevidéu, Tabárez é descrito como um treinador "diferenciado" por um dos jogadores que melhor lhe conhecem: o ex-zagueiro Diego Lugano, que durante anos o capitão da Celeste.
"Ele é professor de escola pública no Uruguai, vem de uma família toda de professores. É um cara muito diferenciado entre todas as pessoas que já conheci. Possui um grande vocabulário e uma cultura enorme", conta o defensor, em entrevista ao ESPN.com.br.
"Você pode falar com ele sobre qualquer tema, de qualquer parte do mundo, que com o conhecimento dele ele conversa sem problemas. O Tabárez possui o melhor vocabulário do idioma espanhol que já escutei. De todos os treinadores que já tive, sem dúvidas é o que melhor se expressa", completa.
El maestro já está há 12 anos no comando da equipe nacional de seu país, que assumiu em 2006 após ficar quatro anos parado, sem trabalhar como treinador.
Nesse tempo, teve como grande destaque a conquista da Copa América de 2011, além do 4º lugar na Copa do Mundo de 2010. Em sua primeira passagem pela Celeste, no final dos anos 80, aliás, ele já havia vencido também os Jogos Pan-Americanos de 1983.
Nesta década de trabalho, ele se notabilizou por fazer um trabalho muito sólido, mantendo a sempre presente garra charrúa, mas trocando as pancadas pelo bom futebol. Para isso, utilizou algumas habilidades e a experiência de seus tempos como diretor.
Em seu time, só jogam atletas com "valores e ética", segundo Lugano, que conhece o técnico desde março de 2006, quando foi convocado pela primeira vez por ele.
"A principal característica dele é que trouxe um projeto de institucionalização da seleção uruguaia. Ou seja, ele supervisionava tudo e tinha uma mesma forma de pensar desde a base até o profissional. E, neste processo, ele deu mais importância à formação de seres humanos", descreve o zagueiro.
"Antes de ser jogador de seleção do Uruguai, você precisa ser um bom ser humano para jogar com ele. Tabárez só convoca profissionais com valores e éticas. Isso importa mais para ele que ser um grande jogador. Se coincidirem as duas coisas, ótimo, mas essa é a ideia dele. Para estar na seleção, primeiro precisa ter esses dois requisitos: valores e ética. Se o cara é bom ou não vem depois", ressalta Lugano.
No Mundial da Rússia, o Uruguai levou um cartão amarelo e cometeu somente 33 faltas (média de 11 por partida). Neste sábadom às 15h (de Brasília), será a vez de Tabárez enfrentar o time de Portugal do técnico Fernando Santos, pelas oitavas de final da Copa do Mundo de 2018.
Resta saber qual professor irá dar uma "aula" em campo...

De zagueiro central a 'Maestro'

Antes de ser professor, Oscar Tabárez foi zagueiros de vários times pequenos e médios do Uruguai. Após pendurar as chuteiras, foi lecionar, ao mesmo tempo em que trabalhava como treinador de clubes como Bella Vista, Danúbio e Montevideo Wanderers.
Seus bons métodos lhe renderam sua primeira chance na seleção uruguaia sub-20 em 1983, com ele conquistando os Jogos Pan-Americanos com uma equipe montada em cima da hora. Aquilo chamou a atenção do gigante Peñarol, à época ainda uma grande potência sul-americana, que o contratou em 1986 para reconduzir a equipe às glórias.
No ano seguinte, os resultados já vieram, com os Carboneros vencendo a Copa Libertadores em uma final histórica contra o América de Cali-COL, decidida apenas com um gol no último minuto da prorrogação da 3ª partida - obra de Diego Aguirre, ex-atacante letal dos aurinegros e hoje técnico do São Paulo.
Em 1988, Tabárez assumiu pela primeira vez a seleção uruguaia, terminando como vice-campeão da Copa América de 1989, atrás somente do anfitrião Brasil de Romário.
Saiu em 1991, para assumir o também gigante Boca Juniors, sendo campeão argentino e da extinta Copa Masters da Conmebol em 1992, batendo o Cruzeiro por 2 a 1 na final.
Depois, El maestro se aventurou na Europa, comandando times como Cagliari-ITA e Oviedo-ESP. Seu maior feito foi ter chegado ao poderoso Milan, em 1996, mas ele não teve muito sucesso e acabou substituído após alguns meses pelo lendário Arrigo Sacchi.
O uruguaio voltou em 2001 à América do Sul, para comandar o Vélez Sarsfield-ARG, passando em seguida mais uma vez pelo Boca, em 2002, desta vez sem tanto sucesso.
Após ser demitido do clube de Buenos Aires, Tabárez "se aposentou" como treinador e ficou quatro anos apenas atuando como professor. Em 2006, porém, foi chamado para tentar resgatar as glórias da Celeste, assumindo a equipe que não havia conseguido se classificar para três das últimas quatro Copas do Mundo.
O comandante arregaçou as mangas e topou, aplicando imediatamente o "Processo de institucionalização de seleções e formação de seus futebolistas", criado por El maestro e citado acima por Lugano.
Esse método unificou os treinamentos de todas as seleções de base com a principal do Uruguai, colocando a formação 4-3-3 como padrão e criando janelas de tempo para os jogadores estudarem tática e entenderem melhor as ideias de seu comandante.
Hoje, 10 dos 11 jogadores mais convocados da história do Uruguai participaram de "El proceso", como ficou conhecido o método que tirou a Celeste Olímpica da ruína e a fez voltar a ser temida no futebol mundial, tanto em competições oficiais quanto de base.
"Ele é 100% gestor. Neste aspecto, é um dos melhores do futebol mundial. Já como treinador, não é de inventar. Ele estuda e se atualiza, mas não é inovador. Não é um Mourinho ou um Guardiola. É muito mais pragmático", salienta o defensor.
No gerenciamento do grupo, destacam-se sempre a calma e a educação.
"No dia a dia, ele é muito respeitoso. Em 11 anos, nunca escutamos uma palavra ruim dele. Ao contrário: nos momentos mais tentos e difíceis, sempre usou palavras justas, que acabam tranquilizando o jogador", relata o ex-capitão da seleção.
"Mas ele é muito firme. Muito firme mesmo! Sem nunca levantar a voz ou faltar com o respeito, mas é muito claro mesmo tomando decisões difíceis. E ele já tomou muitas na seleção. Todo mundo o respeita muito, tanto os que já jogaram, os que seguem jogando ou os que não tiveram oportunidade, pois Tabárez trata a todos com igualdade", acrescenta.

Tabárez quase tirou a faixa de Lugano

Como nos tempos de professor, Oscar Tabárez também é disciplinador quando necessário. Diego Lugano sentiu bem isso quando quase teve sua faixa de capitão retirada pelo técnico.
"Em 2007, quando eu estava jogando no Fenerbahce, participei de uma briga em um clássico contra o Galatasaray. Fui um pouco responsável (pela briga), e nessa época já era capitão do Uruguai. E se tinha algo que ele proibia era que um jogador da seleção deixasse esse tipo de imagem: de brigão, que não dá bom exemplo para o clube, para a sociedade e para o espetáculo", lembra o atleta, que jogou cinco anos pelo Fener.
"Eu achava que não tinha nada a ver uma coisa com a outra, né? Mas ele me ligou e me chamou a atenção. Disse que não tinha me escolhido para ser o capitão desse projeto dele para depois eu dar um exemplo desses em campo. Aí falou que iria pensar se eu era mesmo o cara indicado para cumprir a função mais importante do projeto dele. Ele quase me tirou a faixa, mas por sorte veio outra oportunidade depois e eu agarrei. Mas essa convicção, esse estilo dele, faz a diferença em muitos aspectos. Eu respeito muito", elogia.
Além do pragmatismo tático e do cuidado com a disciplina e o bom exemplo, Tabárez ainda exige que os jogadores estudem para se expressar melhor. De acordo com Lugano, ele já chegou a comemorar mais um prêmio acadêmico do que uma vitória charrúa.
Aconteceu em 2010, quando o Uruguai voltou da Copa de 2010, na África do Sul, com o 4º lugar. A seleção recebeu uma comenda da Real Academia Española, instituição fundada em 1713 e que tem como função a preservação do idioma espanhol, principalmente na elaboração de dicionários e concursos mundiais de literatura, poesia e textos em geral.
"Quando voltamos, ele me mostrou um prêmio que a gente tinha recebido, que reconhecia o Uruguai como seleção que melhor se expressou no Mundial. Ele falou isso com uma alegria enorme no rosto e na maneira de falar. Muito maior do que se tivéssemos ganho um jogo importante ou que fosse um prêmio por resultado esportivo", contou.
"Ele vê no nosso time algo muito além do esporte. É uma meta e uma obrigação que ele sente fazer a seleção representar de verdade o seu país. Eu nunca o vi tão alegre quanto no dia em que recebeu aquele prêmio. Nem na conquista da Copa América!", observa.

'Se não treinou, não vai jogar'

Outro fator da personalidade de Óscar Tabárez que chama a atenção para Lugano é sua incrível tranquilidade para lidar com qualquer tipo de situação, nas vitórias e nas derrotas.

"Claro que ele fica muito feliz quando ganhamos, mas acho que fica mais feliz por nós. Ele é uim cara que não é de fazer alarde na vitória e nem drama na derrota. É muito equilibrado. Em 10 anos, já passamos por muitos momentos difíceis, como eliminatórias, e êxtases como a Copa América e a Copa do Mundo. Para cada momento, sempre tinha palavras justas e coerentes. Ele te segura na empolgação, e te levanta na tristeza", elogia.
As palavras "justas e coerentes" muitas vezes também são duras, como o próprio Lugano ouviu durante a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, quando sentiu dores em meio ao torneio e acabou não jogando por opção de Tabárez, que seguiu sua coerência de sempre.
"Depois do jogo contra a Costa Rica, fiquei com uma dor muito grande no joelho e pedi para ficar três dias no departamento médico para tentar jogar na partida seguinte. Pedi para ele três dias de repouso. Ele disse que permitia, mas que eu iria perder o lugar no time, porque eu tinha que treinar com o restante do grupo para jogar", recorda.
"Para Tabárez, tem que treinar no mínimo quatro dias antes do jogo. Eu expliquei que havia jogado no dia anterior, que era o capitão há 10 anos e merecia essa exceção. Ele respondeu que não. Disse: 'Diego, aqui todos são iguais. Não posso abrir mão das leis do grupo por ninguém, nem você neste caso especial. Se você não pode treinar, não vai poder jogar. Muito fácil, sem mistério. Jogará um companheiro seu'. Técnico falar que trata todo mundo igual é fácil. Palavras qualquer um consegue dizer. Mas dar exemplo, como ele dá, é difícil", exalta.
Lugano também contou com Tabárez como "psicólogo" quando pensou recentemente em se aposentar da seleção uruguaia.
"Logo depois da Copa do Mundo, perguntei a ele: 'Óscar, está na hora de eu deixar de ser capitão, não é? Já faz 10 anos... Acho que já cumpri meu ciclo e tenho que deixar isso para os mais novos, não?'. Ele respondeu: 'Você pensa isso ou só quer escutar palmas e elogios? Se você quer deixar de ser capitão e jogar pelo Uruguai, a decisão é sua. Eu ainda acho que você tem muito a fazer. Agora, se quiser escutar elogios e palmas no seu ouvido, e que falem de você, tudo bem... Quem escolhe é você'", rememora o são-paulino.
"Então, ele me falou que o tempo passa e as novas gerações fazem com que você fique de fora da seleção. É a lei da vida. Mas falou para eu não forçar isso. Foi mais uma lição de vida que eu tive. Eu entendi que o processo natural é a seleção deixar você, não você deixar a seleção. Muitos abandonam a seleção antes de deixarem de ser convocados, por questão de orgulho pessoal. E eu quase fiz isso", admite.
El maestro o convenceu do contrário, e o ex-defensor do São Paulo ficou à disposição do time Celeste até sua aposentadoria, em 2017.
"Ele me fez questionar a mim mesmo. 'Você sente que pode jogar mais ou está querendo ouvir elogios, com medo de que seu momento final chegue?'. Então, eu mudei minha postura publicamente. É claro que aconteceu o processo natural e apareceram outros mais novos que pegaram minha antiga vaga. O treinador entendeu isso, pois sabia que eu não chegaria em condições competitivas na Copa de 2018, e deu prioridade a outros", explica Lugano.
Esta foi a última lição de maestro Tabárez ao seu antigo capitão.
espn.com.br

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 30 de junho de 2018

EUA:Documento da ONU lista 7 falhas no combate à pobreza extrema nos EUA - e governo Trump rebate


Casal espera por atendimento em ONGDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNos EUA, o número de brancos em situação de pobreza supera em 8 milhões o de negros
"Sua riqueza e conhecimento contrastam de forma chocante com as condições em que vivem grande parte dos cidadãos. Cerca de 40 milhões de pessoas vivem na pobreza, 18,5 milhões, na pobreza extrema e 5,3 milhões em condições de pobreza extrema típicas do terceiro mundo."
A afirmação se refere aos Estados Unidos e foi feita pelo relator especial sobre pobreza extrema e direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Philip G. Alston, em um documento do final de 2017, após ele viajar 15 dias pelo país.
O texto faz uma crítica escancarada à maior potência mundial e aponta problemas como a crescente desigualdade, a persistência do racismo e a existência de um viés daqueles que estão no poder contra os mais pobres e desfavorecidos.
"Num país rico como os Estados Unidos, a persistência da pobreza extrema é uma decisão daqueles que estão no poder. Com vontade política, poderia ser facilmente eliminada", diz Alston.
O informe diz que há uma série de ingredientes indispensáveis a uma política eficaz de eliminação de pobreza, como uma política de pleno emprego, proteção social aos mais vulneráveis, um sistema de Justiça efetivo, igualdade racial e de gênero. "Os Estados Unidos vão mal em cada uma dessas medidas."
O relatório de Alston foi apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU e criticado pelo governo de Donald Trump.
Representantes do governo americano discordam dos pontos levantados pelo relator. Dizem que o texto tem dados "exagerados" e que o número de pessoas na extrema pobreza não é de 18,5 milhões, mas de cerca de 250 mil.
A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, disse que o documento é enganoso e tem motivações políticas. Acusou o relator de "desperdiçar" recursos da ONU para investigar a pobreza "no país mais rico e livre do mundo", em vez de se concentrar em países onde governos provocam sofrimento em sua própria população, como Burundi e a República Democrática do Congo.
Eis alguns dos questionamentos mais duros que Alston faz.

1 - O sonho americano é uma ilusão

"Os defensores do status quo descrevem os Estados Unidos como uma terra de oportunidades e um lugar onde o sonho americano pode se tornar realidade, porque os mais pobres podem aspirar a chegar ao grupo dos mais ricos, mas a realidade é bem diferente. Os Estados Unidos têm hoje uma das taxas mais baixas de mobilidade social intergeracional dos países ricos", diz Alston.
"As altas taxas de pobreza infantil e juvenil perpetuam a transmissão da pobreza entre as gerações e asseguram que o sonho americano rapidamente se converta na ilusão americana. A igualdade de oportunidades, que é tão valorizada em tese, na prática é um mito, especialmente para as minorias e as mulheres, mas também para muitas famílias de trabalhadores brancos de classe média."

2 - Pobres são maus, ricos são bons

O informe critica a forma como "alguns políticos e veículos americanos" falam sobre as supostas diferenças entre ricos e pobres.
"Os ricos são retratados como trabalhadores, empreendedores, patriotas, que impulsionam o crescimento econômico. Os pobres, como desocupados, perdedores e desonestos. Como consequência, o dinheiro que se gasta em bem-estar social é jogado no lixo", critica Alston.
Comércio que aceita cupons de alimentaçãoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionApesar de terem empregos, muitas famílias precisam dos cupons de alimentação para conseguir chegar até o fim do mês
A realidade é, no entanto, "muito diferente", diz o relator. "Muitos dos mais ricos não pagam impostos na mesma proporção que outros, acumulam grande parte de suas fortunas em paraísos fiscais e obtêm seus lucros apenas a partir da especulação, em vez de contribuir para a riqueza geral da comunidade americana", aponta.
"Em toda sociedade, há quem abuse do sistema, tanto nos níveis superiores como nos inferiores. Mas, na verdade, os pobres são em sua maioria pessoas que nasceram na pobreza ou que caíram ali por circunstâncias que, em grande medida, estão fora do seu controle, como doenças mentais e físicas."
Esses preconceitos sobre ricos e pobres se refletem na formulação de políticas.
O relator destaca, por exemplo, que um dos principais argumentos para cortar benefícios sociais são as acusações sobre a existência de fraudes e que muitos dos funcionários com os quais ele conversou disseram que há pessoas que estão sempre tentando tirar proveito do sistema.
"O contraste com a Reforma Tributária é ilustrativo. No contexto dos impostos, acredita-se muito na boa vontade e no altruísmo dos beneficiários corporativos, enquanto que à Reforma do Estado de Bem-Estar Social aplica-se o pressuposto contrário."

3 - Empregados, mas pobres

Alston destaca que um dos argumentos usados nos Estados Unidos por aqueles que defendem cortes nos benefícios sociais é que pobres têm de deixar de depender da ajuda do governo e trabalhar.
"As pessoas acham que, numa economia desenvolvida, há muitos empregos esperando para serem ocupados por pessoas com pouca educação, que, com frequência, têm alguma deficiência, às vezes têm um histórico criminal (com frequência ligado à pobreza), têm pouco acesso ao sistema de saúde e treinamento ou ajuda efetiva para conseguir trabalho."
"Na verdade, o mercado de trabalho para essas pessoas é extraordinariamente limitado, mais ainda para aqueles que carecem das formas básicas de apoio e proteção social."
Para ilustrar a insuficiência da estratégia de combate à pobreza apostando no trabalho, mas sem o apoio das políticas sociais, Alston cita como exemplo o caso dos trabalhadores do Walmart, o maior empregador dos Estados Unidos.
"Muitos dos seus trabalhadores não podem sobreviver com um trabalho em tempo integral se não recebem cupons de alimentação. Isso se encaixa numa tendência mais ampla: o aumento da proporção de lares que, apesar de terem pessoas empregadas, também recebem assistência para alimentação. Essa proporção foi de 19,6% em 1989 para 31,8% em 2015", diz.

4 - A Justiça, fonte de recursos

Alston diz que um dos mecanismos que dificultam o progresso dos mais pobres é a grande quantidades de multas e taxas que se aplicam aos que cometem pequenas infrações e que se acumulam até se converterem num enorme peso para eles.
Cita como exemplo o fato de que os documentos de habilitação são suspensos por uma série de infrações, como não pagar uma multa.
"Essa é uma forma de fazer com que os pobres, que vivem em comunidades onde não há investimento em transporte público, sejam incapazes de ganhar um dinheiro que os teria ajudado a pagar uma dívida pendente."
Policial multa carro estacionadoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAs multas por pequenas infrações podem se tornar um peso para os mais pobres
Nesse sentido, o relator da ONU critica o uso, em todo o país, do sistema judiciário para arrecadar recursos e não para promover justiça.
Ele diz que se tornou um mecanismo para manter os pobres na pobreza enquanto gera recursos para financiar o sistema de Justiça e outros programas.

5 - A criminalização dos pobres

Entre as falhas do sistema legal, o informe também destaca que, em muitas cidades, os moradores de rua são criminalizados apenas pela situação em que se encontram.
"Dormir em lugar público, mendigar, urinar em público e uma infinidade de outras infrações foram criadas para responder à 'praga' dos sem-teto".
Alston diz que, segundo dados oficiais, em 2017, havia cerca de 553.742 pessoas nessa condição nos EUA, mas ressalta que há evidências de que o número seja muito maior.
Ele afirma que só na região de Skid Row, no centro de Los Angeles, há cerca de 1,8 mil sem-teto que dispõem de apenas nove banheiros públicos, um número que sequer está de acordo com padrões da ONU para campos de refugiados e situações de emergência.
Skid RowDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEm Skid Row, em Los Angeles, vivem milhares de sem-teto
"Que haja tantos sem-teto é algo evitável e reflete a decisão política de colocar a solução na mão da Justiça em vez de prover lugares para moradia adequados e acessíveis, serviços médicos, psicológicos e formação profissional."
"Castigar e prender os pobres é a resposta tipicamente americana para a pobreza no século 21", diz Alston na conclusão. "O encarceramento em massa é usado para tornar invisíveis temporariamente os problemas sociais e criar a ilusão de que se está fazendo alguma coisa."

6 - Desigualdade extrema

Segundo o relatório da ONU, os Estados Unidos são o país rico com o mais alto nível de desigualdade. Ele diz que os 1% mais ricos tinham 10% dos recursos nacionais em 1980 e passaram a ter 20% em 2017. No caso da Europa, foi de 10% a 12% no mesmo período.
"O que a desigualdade extrema significa é que algumas pessoas detêm o poder econômico e político e inevitavelmente usam isso para defender seus próprios interesses", diz.
"A alta desigualdade debilita o crescimento econômico. Ela se manifiesta em baixos níveis educacionais, um sistema de saúde inadequado e a ausência da proteção social para a classe média e os pobres, o que, por sua vez, limita suas oportunidades econômicas e inibe o crescimento geral."

7 - O legado da escravidão

"Ao pensar nos pobres, os esteriótipos raciais aparecem. A pessoas acham que os pobres são, em sua maioria, pessoas de cor, negros ou imigrantes hispânicos", diz o relator da ONU.
"A realidade é que há 8 milhões de pobres brancos a mais do que negros. O rosto da pobreza nos Estados Unidos não é só negro e hispânico, mas também branco, asiático e de muitas outras origens."
Fila para obter comidaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNegros americanos ganham menos do que brancos
Alston considera que a sociedade americana segue cronicamente segregada. Destaca que os negros têm 2,5 mais chances do que os brancos de viver na pobreza e uma taxa de mortalidade infantil 2,3 vezes mais alta.
Seu nível de desemprego é o dobro do que entre brancos, e eles geralmente ganham apenas US$ 0,82 para cada dólar ganho por brancos. Além disso, sua taxa de encarceramento é 6,4 vezes maior.
"Essas estatísticas vergonhosas só podem ser explicadas pela discriminação estrutural baseada na raça, o que reflete um legado duradouro da escravidão", conclui Alston.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 27 de junho de 2018

FENEARTE 2018 - A maior festa da criatividade vai começar




Considerada a maior feira de artesanato da América Latina, a 19ª edição da Fenearte será realizada de 04 a 15 de julho de 2018 no Centro de Convenções de Pernambuco. Durante os 12 dias, as mais surpreendentes criações artesanais do Brasil e do mundo podem ser encontradas no evento.
A Fenearte, juntamente com o Centro de Artesanato de Pernambuco, entre outras iniciativas do Governo do Estado, tem como objetivo valorizar e difundir os saberes tradicionais, estimular o potencial de crescimento dos artesãos e artesãs, funcionando como importante elemento estruturador da Cadeia Produtiva do artesanato local.
No evento, o público pode conferir:
- Fenearte Sustentável
- Espaço Interferência Janete Costa
- Espaço Sebrae de Artesanato
- Alameda dos Mestres
- Salão de Arte Popular Ana Holanda
- Salão de Arte Popular Religiosa de Pernambuco
- Galeria de Reciclados
- Espaço Infantil
- Oficinas de Artesanato
- Desfiles de Moda
- Rodadas de Negócios
- Praça de Alimentação
- Apresentações Culturais
- Food Park e Food Bike
Com informações Portal do Artesanato/ 
https://www.youtube.com/watch?v=yLswgNaQ08g

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Crianças traumatizadas:EUA detêm pelo menos 49 crianças brasileiras em abrigos


Brendan Smialowski / AFP
Brendan Smialowski / AFP
Pelo menos 49 crianças brasileiras foram separadas dos pais depois de entrarem nos Estados Unidos de maneira ilegal a partir do México. Enviadas a abrigos, elas estão detidas em diferentes Estados norte-americanos. O maior número, 29, está concentrado em Chicago, cidade que está a quase 2,5 mil km da divisa com o México. A criança brasileira mais nova é um menino de 5 anos, que está no Texas.

Segundo informações do Consulado do Brasil em Houston, um garoto de 8 anos tentou fugir ontem de um abrigo em Nova York, mas não teve sucesso. "Nós sabemos que as crianças estão traumatizadas", disse o cônsul adjunto na cidade texana, Felipe Santarosa. "Elas foram separadas dos pais e colocadas em um lugar no qual não conhecem a língua. Por mais que sejam bem tratadas, é uma situação muito difícil."

Além dos que estão em abrigos, há outros 25 menores brasileiros em um centro de detenção em San Antonio, no Texas, que estão acompanhados de suas mães - 21 no total. Santarosa disse que diplomatas brasileiros visitarão o local na próxima semana.

A informação sobre as 49 crianças que foram separadas dos pais foi enviada ao Consulado do Brasil em Houston na sexta-feira pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo dos EUA. A separação familiar é fruto da política de "tolerância zero" adotada em abril pelo governo do presidente Donald Trump, pela qual todos os que tentavam cruzar a fronteira de maneira ilegal são processados criminalmente. Com isso, os pais passaram a ser enviados a prisões federais, que não têm acomodações para menores. Na quarta-feira, (20) o presidente norte-americano assinou um decreto que acaba com a política. 

Reação

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil divulgou uma nota na qual afirmou que a separação familiar é uma "prática cruel e em clara dissonância com instrumentos internacionais de proteção aos direitos da criança". O governo brasileiro disse esperar que o decreto de Trump leve à "efetiva revogação" da separação familiar.

Depois de Chicago, o maior número de crianças brasileiras detidas está em Phoenix, no Arizona. No abrigo Estrella del Norte há sete menores. Três são irmãos, de 8, 10 e 16 anos, cuja mãe está presa em uma cidade a 90 km de distância. 

Também há quatro adolescentes, um de 14 anos e três de 17 anos. O mais velho deles completará 18 anos no dia 24 e será transferido para um centro de detenção de adultos. 

O Consulado do Brasil em Miami, na Flórida, informou que há pelo menos um menor separado da família em um abrigo na cidade. 

A maioria dos pais está presa no Texas, um dos Estados preferidos pelos imigrantes que cruzam a fronteira de maneira ilegal. Santarosa disse que o consulado está tentando identificar todas as crianças e determinar o paradeiro de seus pais. O segundo passo é estabelecer contato entre eles.

A diretora do Departamento Consular de Brasileiros no Exterior do Itamaraty, Luiza Lopes, disse que uma das garantias que o governo brasileiro tem é o livre acesso às crianças que estão nos abrigos. 

"Nossa cônsul em Chicago visitou os menores várias vezes e fez a ponte deles com seus pais", afirmou. "Mas, por mais que se tente amenizar a situação, ela trará consequências psicológicas para as crianças, principalmente as que são mais novas", disse Lopes.
Com informações do Diario de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE