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domingo, 6 de agosto de 2017

Como o Canadá se tornou uma superpotência em educação


Garota com bandeira do Canadá pintada no rostoDireito de imagemREUTERS
Image captionO Canadá subiu ao topo do rankings de educação internacionais

Em debates sobre os melhores sistemas educacionais do mundo, os nomes mais citados costumam ser de países nórdicos, como a Noruega e a Finlândia, ou de potências como Cingapura e Coreia do Sul.
Embora seja muito menos lembrado, o Canadá subiu ao topo dos rankings internacionais.
Na mais recente rodada de exames do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, entidade que reúne países desenvolvidos), o Canadá ficou entre os dez melhores países em matemática, ciências e interpretação de texto.
As provas são o maior estudo internacional de desempenho escolar e mostram que os jovens do Canadá estão entre os mais bem educados do mundo.
Eles estão muito à frente de vizinhos como os Estados Unidos e de países europeus com quem têm laços culturais, como o Reino Unido e a França.
O Canadá também tem a maior proporção de adultos em idade produtiva com educação superior - 55%, em comparação com uma média de 35% de países da OCDE.

Alunos imigrantes

O sucesso do Canadá em testes escolares é incomum ao ser comparado com tendências internacionais.
Os países com melhor desempenho costumam ser pequenos, com sociedades homogêneas e coesas e com cada pedaço do sistema educacional integrado a uma estratégia nacional - como em Cingapura, que tem sido usado como exemplo de progresso sistemático.

Fronteira entre Canadá e Estados UnidosDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO Canadá tem tido muito mais sucesso que seu vizinho, os EUA

O Canadá nem sequer tem um sistema educacional nacional, pois a organização é baseada em províncias autônomas. E é difícil imaginar um contraste maior entre uma cidade-Estado como Cingapura e um país de dimensões continentais como o Canadá.
Em uma tentativa de entender o sucesso do Canadá na educação, a OCDE descreveu o papel do governo federal no setor como "limitado e às vezes inexistente".
Também é bem conhecido o fato de que o Canadá tem um alto número de imigrantes em suas escolas. Mais de um terço dos jovens no Canadá têm ambos os pais oriundos de outro país.
Os filhos das famílias de imigrantes recém-chegados se integram em um ritmo rápido o suficiente para ter o mesmo desempenho de seus colegas de classe.

Cerimônia de recepção de novos cidadãos canadensesDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionCerimônia de recepção de novos cidadãos canadenses; alunos imigrante alcançam o nível de locais em pouco tempo

Quando o último ranking da OCDE é analisado em detalhe, os resultados regionais do Canadá são ainda mais impressionantes.
Se as províncias se inscrevessem no teste como países separados, três delas (Alberta, Quebec e British Columbia) estariam entre os cinco primeiros lugares em ciências, junto com Cingapura e Japão e à frente de lugares como Finlândia e Hong Kong.
Afinal, como o Canadá superou tantos outros países na área de educação?
Andreas Schleicher, o diretor de educação da OCDE, diz a característica que une os diversos sistemas educacionais do país é a igualdade.
Apesar de diversas diferenças nas políticas educacionais, um traço em comum entre todas as regiões do país é o comprometimento em oferecer igualdade de oportunidades na escola.
Schleicher diz que existe um forte senso de equilíbrio e igualdade de acesso - o que pode ser observado na alta performance acadêmica de filhos de imigrantes.
Até três anos depois de chegar ao país, os alunos imigrantes alcançam notas tão altas quanto as de seus colegas. Isso torna o Canadá um dos poucos países em que crianças imigrantes atingem um patamar similar aos das não-imigrantes.
Outra característica distinta é que os professores são muito bem pagos em comparação com os padrões internacionais - e o ingresso na profissão é altamente seletivo.

Oportunidades iguais

David Booth, professor do Instituto para Estudos em Educação da Universidade de Toronto, destaca um forte investimento de base em alfabetização.
Existiram esforços sistemáticos para melhorar a alfabetização, com a contratação de educadores bem treinados, investimento em recursos como bibliotecas nas escolas e avaliações para identificar escolas ou alunos que possam estar tendo dificuldades.
John Jerrim, do Instituto UCL de Educação de Londres, diz que o ótimo desempenho do Canadá nos rankings internacionais reflete a homogeneidade socioeconômica do país.
O país não é uma nação de extremos. Pelo contrário, seus resultados mostram uma média alta, com pouca diferença entre os estudantes mais e menos favorecidos.

Professora canadenseDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO Canadá paga altos salários aos professores comparado com a média internacional

No mais recente Pisa, o exame da OCDE, a variação de notas causada por diferenças socioeconômicas entre os estudantes canadenses foi de 9%, em comparação com 20% na França e 17% em Cingapura, por exemplo.
Os resultados mais igualitários explicam porque o Canadá está indo tão bem em exames internacionais. O país não tem nem uma fatia residual de estudantes com desempenho ruim, o que normalmente é algo relacionado à pobreza.
É um sistema consistente. Além da pouca diferença entre estudantes ricos e pobres, também há uma variação muito pequena entre diferentes escolas, em comparação com a média de países desenvolvidos.
Segundo o professor Jerrim, o alto número de imigrantes não é visto com um potencial entrave ao sucesso nos exames - o fato é provavelmente um dos ingredientes dos bons resultados.
Os imigrantes que vivem no Canadá, muitos de países como a China, a Índia e o Paquistão, têm educação relativamente alta, e a ambição de ver seus filhos se tornarem profissionais bem sucedidos.
O especialista afirma que essas famílias têm "fome de sucesso", e que suas altas expectativas provavelmente influenciam o desempenho escolar de seus filhos.
O professor Booth, da Universidade de Toronto, também cita esse fato. "Muitas famílias recém-chegadas ao Canadá querem que seus filhos tenham sucesso, e os alunos têm motivação para aprender", diz.
Este ano tem sido excepcional para a educação no Canadá. As universidades estão aproveitando o "efeito Donald Trump", com um número recorde de inscrições de estudantes que enxergam o Canadá como uma alternativa aos Estados Unidos após a eleição do atual presidente.
A vencedora do Prêmio Global de Professores também é canadense - Maggie MacDonnel está usando a condecoração para fazer campanha pelo direitos dos estudantes indígenas.
No ano em que celebra seu aniversário de 150 anos, o Canadá reivindica o status de uma superpotência em educação.
BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Portugal perpetua mito do 'bom colonizador' e banaliza escravidão


Escravos por DebretDireito de imagemJEAN-BAPTISTE DEBRET
Image captionPintura do francês Jean-Baptiste Debret de 1826 retrata escravos no Brasil

"De igual modo, em virtude dos descobrimentos, movimentaram-se povos para outros continentes (sobretudo europeus e escravos africanos)."
É dessa forma - "como se os negros tivessem optado por emigrar em vez de terem sido levados à força" - que o colonialismo ainda é ensinado em Portugal.
Quem critica é a portuguesa Marta Araújo, investigadora principal do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.
De setembro de 2008 a fevereiro de 2012, ela coordenou uma minuciosa pesquisa ao fim da qual concluiu que os livros didáticos do país "escondem o racismo no colonialismo português e naturalizam a escravatura".
Além disso, segundo Araújo, "persiste até hoje a visão romântica de que cumprimos uma missão civilizatória, ou seja, de que fomos bons colonizadores, mais benevolentes do que outros povos europeus".
"A escravatura não ocupa mais de duas ou três páginas nesses livros, sendo tratada de forma vaga e superficial. Também propagam ideias tortuosas. Por exemplo, quando falam sobre as consequências da escravatura, o único país a ganhar maior destaque é o Brasil e mesmo assim para falar sobre a miscigenação", explica.
"Por trás disso, está o propósito de destacar a suposta multirracialidade da nossa maior colônia que, neste sentido, seria um exemplo do sucesso das políticas de miscigenação. Na prática, porém, sabemos que isso não ocorreu da forma como é tratada", questiona.
Araújo diz que "nada mudou" desde 2012 e argumenta que a falta de compreensão sobre o assunto traz prejuízos.
"Essa narrativa gera uma série de consequências, desde a menor coleta de dados sobre a discriminação étnico-racial até a própria não admissão de que temos um problema de racismo", afirma.

Escravos por DebretDireito de imagemJEAN-BAPTISTE DEBRET
Image captionSegundo Araújo, livros didáticos portugueses continuam a apregoar visão "romântica" sobre colonialismo português

'Vítimas passivas?'

Para realizar a pesquisa, Araújo contou com a ajuda de outros pesquisadores. O foco principal foi a análise dos cinco livros didáticos de História mais vendidos no país para alunos do chamado 3º Ciclo do Ensino Básico (12 a 14 anos), que compreende do 7º ao 9º ano.
Além disso, a equipe também examinou políticas públicas, entrevistou historiadores e educadores, assistiu a aulas e conduziu workshops com estudantes.
Em um deles, as pesquisadoras presenciaram uma cena que chamou a atenção, lembra Araújo.
Na ocasião, os alunos ficaram surpresos ao saber de revoltas das próprias populações escravizadas. E também sobre o verdadeiro significado dos quilombos ─ destino dos escravos que fugiam, normalmente locais escondidos e fortificados no meio das matas.
"Em outros países, há uma abertura muito maior para discutir como essas populações lutavam contra a opressão. Mas, no caso português, os alunos nem sequer poderiam imaginar que eles se libertavam sozinhos e continuavam a acreditar que todos eram vítimas passivas da situação. É uma ideia muito resignada", diz.
Araújo destaca que nos livros analisados "não há nenhuma alusão à Revolução do Haiti (conflito sangrento que culminou na abolição da escravidão e na independência do país, que passou a ser a primeira república governada por pessoas de ascendência africana)".
Já os quilombos são representados, acrescenta a pesquisadora, como "locais onde os negros dançavam em um dia de festa".
"Como resultado, essas versões acabam sendo consensualizadas e não levantam as polêmicas necessárias para problematizarmos o ensino da História da África."

'Visão romântica'

Araújo diz que, diferentemente de outros países, os livros didáticos portugueses continuam a apregoar uma visão "romântica" sobre o colonialismo português.
"Perdura a narrativa de que nosso colonialismo foi um colonialismo amigável, do qual resultaram sociedades multiculturais e multirraciais - e o Brasil seria um exemplo", diz.
Ironicamente, contudo, outras potências colonizadoras daquele tempo não são retratadas de igual forma, observa ela.
"Quando falamos da descoberta das Américas, os espanhóis são descritos como extremamente violentos sempre em contraste com a suposta benevolência do colonialismo português. Já os impérios francês, britânico e belga são tachados de racistas", assinala.
"Por outro lado, nunca se fala da questão racial em relação ao colonialismo português. Há despolitização crescente. Os livros didáticos holandeses, por exemplo, atribuem a escravatura aos portugueses", acrescenta.
Segundo ela, essa ideia da "benevolência do colonizador português" acabou encontrando eco no luso-tropicalismo, tese desenvolvida pelo cientista social brasileiro Gilberto Freire sobre a relação de Portugal com os trópicos.
Em linhas gerais, Freire defendia que a capacidade do português de se relacionar com os trópicos ─ não por interesse político ou econômico, mas por suposta empatia inata ─ resultaria de sua própria origem ética híbrida, da sua bicontinentalidade e do longo contato com mouros e judeus na Península Ibérica.
Apesar de rejeitado pelo Estado Novo de Getúlio Vargas (1930-1945), por causa da importância que conferia à miscigenação e à interpenetração de culturas, o luso-tropicalismo ganhou força como peça de propaganda durante a ditadura do português António de Oliveira Salazar (1932-1968). Uma versão simplificada e nacionalista da tese acabou guiando a política externa do regime.
"Ocorre que a questão racial nunca foi debatida em Portugal", ressalta Araújo.

Passagem de livro didático em PortugalDireito de imagemMARTA ARAÚJO
Image captionLivro didático português diz que escravos africanos "movimentaram-se para outros continentes"

'Sem resposta'

A pesquisadora alega que enviou os resultados da pesquisa ao Ministério da Educação português, mas nunca obteve resposta.
"Nossa percepção é que os responsáveis acreditam que tudo está bem assim e que medidas paliativas, como festivais culturais sazonais, podem substituir a problematização de um assunto tão importante", critica.
Nesse sentido, Araújo elogia a iniciativa brasileira de 2003 que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio.
"Precisamos combater o racismo, mas isso não será possível se não mudarmos a forma como ensinamos nossa História", conclui.
Procurado pela BBC Brasil, o Ministério da Educação português não havia respondido até a publicação desta reportagem.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Noruega, o país onde todo mundo sabe o salário de todo mundo



NoruegaDireito de imagemGETTY IMAGES

Na última semana, os jornais britânicos revelaram o salário das estrelas da BBC - o que gerou polêmica no país pelos altos valores pagos a alguns e também pela diferença ainda notória nos pagamentos entre apresentadores e apresentadoras.
Na Noruega, por sua vez, esses "segredos" simplesmente não existem. Desde 1814, qualquer pessoa pode descobrir quanto a outra ganha - e isso raramente causa algum problema.
No passado, o salário dos noruegueses era publicado em um livro - uma lista do que todo mundo ganhava, o que cada um tinha e quanto de impostos pagava poderia ser encontrada em uma prateleira da biblioteca pública. Hoje, a informação está online, a apenas alguns cliques de distância.
A mudança aconteceu em 2001, e teve um impacto instantâneo. "Isso se tornou puro entretenimento para muita gente", disse Tom Staavi, que foi editor de economia no VG, um jornal local.
"Em algum momento você automaticamente ficaria sabendo quanto seus amigos do Facebook ganhavam - simplesmente fazendo login no próprio Facebook. Foi ficando ridículo."
A transparência é importante, segundo Staavi, em parte porque noruegueses pagam impostos de renda bastante altos - uma média de 40,2% do que ganham no ano, comparado com a média dos 27,5% do Brasil. A média europeia é 30,1%.
"Quando você paga tudo isso de imposto, você precisa saber que o resto do país está fazendo o mesmo e você tem de saber que o dinheiro está sendo bem utilizado", disse.
"Nós precisamos ter confiança nos dois, tanto no sistema de impostos quanto no sistema de seguridade social", afirmou.


Renda, bens e impostos pagos pela primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg
Image captionEm 2015, a premiê, Erna Solberg, recebeu 1.573.544 coroas (R$ 625 mil) de remuneração; sSeus bens foram avaliados em 2.054.896 coroas (R$ 815 mil) e ela pagou 677.459 coroas (R$ 270 mil) em impostos

Pouca diferença salarial

As vantagens da medida são consideradas muito superiores a qualquer problema que possa ser causado pela inveja.
Mas a verdade é que na maioria dos locais de trabalho noruegueses as pessoas têm uma boa ideia de quanto seus colegas estão ganhando, sem ter que ficar procurando por isso.
Salários em muitos setores são estipulados por meio de acordos coletivos, e as diferenças são relativamente baixas.
A disparidade por gênero também é pequena em comparação com padrões internacionais. O Fórum Econômico Mundial coloca a Noruega em terceiro lugar no ranking de 144 países em termos de igualdade salarial entre homens e mulheres pelo desempenho da mesma função.
Logo os números que aparecem no Facebook podem não ter pego muita gente de surpresa. Mas em determinado momento, Tom Staavi e outros negociaram com o governo para criar medidas que motivariam as pessoas a pensar duas vezes antes de bisbilhotar os detalhes salariais de um amigo ou colega.
Agora é preciso logar com seu número de identidade nacional para acessar o arquivo no site dos impostos do governo, e pelos últimos três anos tem sido impossível fazer essa busca de maneira anônima.
"Desde 2014, tem dado para saber quem está fazendo essas buscas sobre suas informações", explicou Hans Christian Holte, chefe das autoridades fiscais da Noruega.
"Nós vimos uma queda significativa, agora temos cerca de um décimo da quantidade de buscas que tínhamos antes. Acho que isso tem diminuído essa mentalidade bisbilhoteira das pessoas."


Hans Christian Holte, chefe das autoridades fiscais da Noruega
Image captionHans Christian Holte, chefe das autoridades fiscais da Noruega, encoraja os noruegueses a reportar suspeitas de evasão fiscal

Adeus bisbilhotagem

Há cerca de três milhões de pessoas pagando impostos na Noruega - a população do país é de 5,2 milhões. As autoridades fiscais contabilizaram 16,5 milhões de buscas no ano anterior ao da adoção das restrições.
Hoje, existem apenas dois milhões de buscas por ano.
Em uma pesquisa recente, 92% das pessoas disseram que não procuravam informações sobre amigos, familiares ou conhecidos.
"Antes eu fazia essas buscas, mas agora fica visível se você fizer isso, então não faço mais", Nelly Bjorge, disse uma mulher que conheci nas ruas de Oslo.
"Eu ficava curiosa sobre alguns vizinhos, sobre algumas celebridades… seria legal saber se pessoas muito ricas estavam burlando o sistema, mas você não consegue saber sempre. Porque há muitas formas de conseguir reduzir sua renda (nos dados do governo)."
As listas de impostos apenas indicam o rendimento líquido das pessoas, os ativos líquidos e os impostos pagos. Alguém com uma grande quantidade de propriedades, por exemplo, provavelmente valeria muito mais do que o número encontrado nessas listas, porque o valor da propriedade tributável geralmente é muito inferior ao valor de mercado que ela tem atualmente.


Desde 1814 os noruegueses conseguem saber quanto cada um de seus compatriotas ganha e quanto paga em impostos
Image captionDesde 1814 os noruegueses conseguem saber quanto cada um de seus compatriotas ganha e quanto paga em impostos

Bullying

Hege Glad, uma professora de Fredrikstad, no sul de Oslo, lembra que, quando era mais nova, adultos costumavam filtrar para examinar os "enormes e grossos" livros de renda e dados tributários, publicados uma vez por ano.
"Sei que meu pai era um desses que ficava procurando. Quando voltava para casa, estava sempre de mau humor porque nossos vizinhos bem de vida estavam listados lá com pouca renda, sem nenhum ativo, e a maioria deles tinha muito pouco imposto para pagar", contou.
Embora seja a favor da transparência nessa área, Glad admite que isso pode ter seus efeitos negativos. Foi o que ela pode constatar na escola.
"Lembro que uma vez eu estava entrando na escola e um grupo de garotos estava pronto para me dizer os rios de dinheiro que o pai de um dos meninos da sala ganhava", disse.
"Depois percebi que alguns dos garotos que geralmente andavam com esse grupo haviam saído de perto calados. O clima entre eles não era dos melhores."
Também havia histórias de crianças de famílias de classe mais baixa que acabaram sofrendo bullying na escola por colegas que bisbilhotavam a situação financeira de seus pais.


Coroa norueguesaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPara inibir os bisbilhoteiros, desde 2014 as buscas por informações não são mais anônimas

Mais segurança

Hans Christian Holte acredita que o governo hoje chegou ao equilíbrio. O fato de pesquisas anônimas não serem mais permitidas também inibe criminosos de pesquisarem pessoas ricas para colocar no alvo.
Mas as restrições não impediram que as pessoas continuassem denunciando quando vissem situações suspeitas.
"Nós gostamos quando as pessoas fazem buscas que nos ajudam a investigar a evasão fiscal, e a quantidade de denúncias que continuamos recebendo não caiu", disse ele.
"Talvez o prazer dos bisbilhoteiros tenha de uma certa forma acabado, mas você ainda tem motivos legítimos para fazer buscas no sistema. Conseguimos sentir os bons efeitos dessa transparência."
BBC.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 21 de julho de 2017

'Me dá pena, pena pelo Brasil', diz Mujica sobre manobra para salvar Temer na Câmara



José Mujica, ex-presidente do UruguaiDireito de imagemEPA
Image caption"Cada lei é uma negociação à parte. Então, em vez de ser um parlamento, o Congresso (brasileiro) acaba virando uma bolsa de valores", afirma Mujica

O ex-presidente do Uruguai e atual senador José 'Pepe' Mujica, de 82 anos, classifica como "triste" o fato de que se tenha trocado integrantes da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara para garantir a rejeição do parecer que recomendava o avanço da denúncia por corrupção passiva contra Michel Temer.
"Tudo isso é muito triste. É um cenário que coloca o Brasil, na visão internacional, como uma república muito desprestigiada. O Brasil não merece isso", afirma em entrevista à BBC Brasil. É, diz, algo que lhe faz sentir "pena".
"Me dá pena. Pena pelo Brasil por ver o que aconteceu com uma comissão que estava estudando as eventuais acusações, em que tiveram que mudar a composição dessa comissão. E tudo indica que houve muita influência para poder colocar gente que não decepcionasse o governo."
Professor Edgar Bom Jardim - PE