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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Brasil:os atrativos e as polêmicas da educação domiciliar, que virou caso de Justiça no Brasil


Educação domiciliarDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPara associação brasileira, educar em casa é parte de um 'projeto de vida' que envolve toda a família
As três crianças acordam às 7h, tomam café da manhã e preparam seu material escolar. Mas, em vez de irem para escola, sentam-se à mesa da sala. Enquanto um estuda português, o outro pode estar fazendo lições de matemática, sob a supervisão da mãe ou do pai caso as lições sejam difíceis. Fazem orações e, eventualmente, todos se reúnem para assistir a um documentário ou ir ao museu. À tarde, frequentam aulas de balé, violão ou esportes.
A família, de São Carlos do Paraná (PR), pratica a educação domiciliar plenamente há um ano. Assimcomo em outras estimadas milhares de famílias brasileiras, a mudança ocorreu quando os pais acharam que os filhos não se adaptavam bem à escola tradicional.
"O mais velho não conseguia aprender matemática e chegava em casa chorando", conta à BBC Brasil a pedagoga Iliani da Silva Vieira, de 37 anos, mãe de três filhos em idade escolar - de 15, 13 e seis anos - e de mais duas crianças, de 3 e 1 ano. "Minha filha do meio também reclamava de dores de cabeça por causa do barulho da escola. Tinha dificuldade em se concentrar."
Iliani e o marido decidiram educar as crianças em casa em tempo integral depois de o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso acatar, em dezembro de 2016, um recurso extraordinário sobre o tema e determinar que fossem suspensos todos os processos judiciais relacionados à educação domiciliar até que a corte tome uma decisão final a respeito, algo que ainda não tem prazo para acontecer.
Na visão de Iliani e de outros pais, a decisão de Barroso deu às famílias segurança, mesmo que temporariamente, para aderir ao homeschooling.
Apesar disso, Iliani foi surpreendida, nas últimas semanas, com uma denúncia do Ministério Público local e uma decisão da Justiça do Paraná obrigando-a a rematricular os filhos na escola, sob pena de perder a guarda deles. A família recorre e contesta a medida judicial, argumentando que ela fere a suspensão determinada pelo Supremo.
Educação domiciliarDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionFamílias que optam por educação domiciliar têm um grande descontentamento com a escolarização tradicional, diz especialista
Esse modelo vive, segundo especialistas, um grande "limbo" no Brasil: não há leis específicas nem proibindo nem regulando a educação domiciliar.
Na visão do Ministério da Educação e de diversos juízes, porém, deixar de matricular crianças na escola fere o Estatuto da Criança e Adolescente, a Lei de Diretrizes e Bases e a própria Constituição, configurando abandono intelectual. Além disso, críticos afirmam que, sem frequentar um colégio, as crianças são privadas da diversidade - e, sobretudo, da tutela do Estado.
Já para pais que praticam o homeschooling, o modelo aguça o interesse das crianças e livra-as tanto das distrações quanto das falhas do sistema educacional brasileiro.
"Em casa, é mais fácil eles quererem aprender", diz Iliani sobre os três filhos mais velhos. "Sem a pressão causada pelos professores que rotulam as crianças, o aprendizado flui. Ajudamos as crianças com a leitura, algo que a escola não faz de uma forma ampla. Os três estão mais curiosos e esforçados. Até detalhes, como a letra, melhoraram."

Críticas à escolarização

A Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned) calcula haver no Brasil entre 5 mil a 6 mil famílias educando os filhos em casa.
"Essas famílias têm em comum uma crítica severa à escola e a escolarização", explica à BBC Brasil Maria Celi Chaves Vasconcelos, professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e autora de tese de doutorado sobre o tema.
Luís Roberto Barroso, ministro do STF
Image captionEm dezembro de 2016, Barroso decidiu pela suspensão dos processos judiciais envolvendo educação domiciliar até decisão do STF | Foto: Fellipe Sampaio /SCO/STF
"Isso pode ter muitas motivações, por exemplo religiosas, de a escola ensinar diferente da fé que a família professa; econômicas, de pagar-se impostos sem ter educação (pública) de qualidade; de dificuldade da escola em integrar a criança com deficiência ou pela dificuldade de adaptação da criança ao processo escolar", explica.
"Geralmente são pais preocupados com a educação dos filhos e que fazem disso um projeto de vida. Abrem mão de empregos melhores para ficar pelo menos um turno com os filhos em casa e assumir o controle global do processo de educação deles", defende Ricardo Iêne Dias, presidente da Aned, que educou os dois filhos em casa depois de eles sofrerem bullying na escola onde estudavam, na região metropolitana de Belo Horizonte.

'Ensinar a aprender'

Dias explica que o modelo não exige que o pai e a mãe dominem todo o conteúdo escolar, nem que sigam a estrutura de disciplinas e conteúdo tradicionais: "Eles passam a ser mediadores - não precisam saber tudo, mas sim saber ensinar seu filho a aprender e a se tornar um autodidata. As crianças também fazem cursos esportivos, de idiomas e Kumon, por exemplo".
Muitos pais contam com a ajuda de telecursos e da internet, mas também aproveitam momentos do cotidiano familiar - assar um bolo ou visitar um parque, por exemplo - para ensinar conceitos.
Dias afirma que o mais importante é estimular as crianças a interpretar textos e desenvolver raciocínio lógico para que ganhem autonomia. E que a carga horária reduzida é compensada pela ausência das interrupções ocorridas nas escolas.
Educação domiciliarDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPais defendem que crianças educadas em casa ganham mais autonomia e pensamento crítico por não passaram por processo 'massificado' de educação
"Os professores costumam passar muito tempo tentando acalmar a turma e não conseguem dar atenção individualizada. Em casa, as distrações são menores e não precisamos interromper a aula de matemática (porque deu o horário). Se está indo bem, continuamos."
A principal referência são os Estados Unidos, onde a prática é reconhecida e também cresce: há estimativas de que cerca de 1,7 milhão de crianças sejam educadas em casa por lá.
A regulação depende de cada Estado: alguns exigem que as famílias se registrem no distrito escolar e especifiquem o que vai ser ensinado; outros não. E também lá isso é alvo de debate, o qual cresceu em janeiro quando veio à luz a história do casal Turpin, acusado de ter mantido os 13 filhos em cativeiro sob condições degradantes, durante anos.
Os Turpin haviam feito um registro de educação domiciliar no Departamento de Educação no Estado da Califórnia, onde não há nenhuma supervisão estadual para o homeschooling. Essa falta de controle, para os críticos, teria dificultado a descoberta do caso.
"O ensino domiciliar não dá liberdade às crianças, mas sim aos pais", disse à emissora CNN a porta-voz da Coalizão para a Educação Domiciliar Responsável, Rachel Coleman, cobrando regulamentação mais rígida.

Normas?

Dar salvaguardas às crianças é justamente o que torna importante uma regulamentação - seja favorável ou contrária - para a educação domiciliar aqui no Brasil, defende Vasconcelos, da Uerj.
"Não dá para trabalhar caso a caso, dependendo de cada comarca ou cada juiz. Há uma lacuna: o homeschooling, como está hoje, é um risco para as famílias e sociedade como um todo. Tem que ter uma relação instituída com o Estado. Não pode se limitar a tirar as crianças da escola. No momento, não conseguimos nem sequer ter um censo dessas crianças. O Estado não permite que uma mãe faça com seu filho o que ela quer. É preciso normatizar o processo", argumenta.
Educação domiciliarDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEspecialista diz que a principal preocupação é que as crianças sejam, de alguma forma, fiscalizadas pelo Estado
Tramitam na Câmara dos Deputados dois projetos de regulamentação do ensino domiciliar, de autoria de Lincoln Portela (PRB-MG) e Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), que preveem que as crianças educadas em casa sejam submetidas a avaliações periódicas, tal qual os alunos matriculados em escolas. Os projetos estão em debate na Comissão de Educação da Casa.
No que diz respeito a avaliações do aprendizado, crianças educadas em casa que queiram obter certificados de ensino fundamental e médio para se matricular na universidade prestam o Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos), explica Dias, da Aned. Ele diz que as famílias estão abertas à regulamentação, mas é cético quanto à capacidade de supervisão do Estado.
"Não acho que o governo tenha competência técnica e logística para isso. O que ele vai avaliar?", questiona.
Um exemplo de regulamentação vem de Portugal, país que permite a educação domiciliar, mas exige que as crianças sejam matriculadas no sistema de ensino, visitadas em casa por assistentes sociais e submetidas a avaliações constantes. "Se não passarem nas provas, elas precisam voltar para a escola", explica Vasconcelos, que estudou o modelo português.
Mas as críticas ao homeschooling vão além da questão regulatória. Muitos argumentam que a educação em casa cobra um preço em socialização e em acesso das crianças a pensamentos diferentes dos da família.
"A escola tem o papel de abrir para o mundo, e uma de suas características deve ser a diversidade", diz Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação da Unicamp.
Educação domiciliarDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionRotina de aprendizado inclui estudos com livros, mas também passeios e atividades domésticas
"A família tem valores privados. Se a família defende, por exemplo, o preconceito e o sexismo, é preciso que haja um lugar onde isso seja pensado de outra maneira. Pode ser que a escola esteja despreparada (para esse papel), mas há cada vez mais projetos de gestão democrática e combate ao bullying, por exemplo. É justamente na troca de experiências que as crianças aprendem. Mais do que trancar as crianças, vamos juntos melhorar a escola e exigir mais dela", opina Vinha.
Mas para Dias, da Aned, a questão é que, na prática, existe "uma escola ideal e uma escola real".
"Meu filho, quando tinha sete anos, apanhava na escola por ser baiano", conta. "Essa socialização eu não quero. Está muito longe de haver o exercício de tolerância nas escolas. Eu ouvi do MEC que a escola é o espaço do aprendizado e do exercício da diferença. Mas se fosse isso mesmo, talvez meu filho ainda estivesse na escola."
Ele defende ainda que crianças educadas em casa se destacam em trabalho em equipe e empreendedorismo porque "conseguem pensar fora da caixa por não terem passado pelo padrão massificado de aprendizado. Elas aprendem a interpretar textos e participam mais da vida domiciliar, onde a educação acontece o tempo todo".
Iliani, a mãe de cinco crianças em São Pedro do Paraná, acredita que "a primeira socialização da criança deve ser junto à família. É a partir daí que ela vai conseguir socializar com as pessoas de fora. O que vemos hoje na escola é criança se batendo e agredindo professor ou então só no tablet e no celular. Que convívio é esse?".
Para Vasconcelos, o mais urgente é que as famílias adeptas dessa prática sejam sujeitas a alguma relação formal com o Estado.
"Não posso concordar que as crianças sejam retiradas da escola na infância ou na adolescência e fiquem em homeschooling sem nenhuma satisfação ao Estado do que está sendo trabalhado", argumenta. "Não quer dizer que a fiscalização vai alterar (eventuais problemas). Mas pelo menos institucionaliza uma modalidade e (cria formas) de as crianças demonstrarem o que estão aprendendo."
Da BBC Brasil em São Paulo
Paula Adamo Idoeta
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Nota zero:cerca de 309 mil participantes zeraram redação do Enem 2017

A divulgação do resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) aconteceu na manhã desta quinta-feira (18). Nos primeiros 10 minutos, cerca de 80 mil candidatos conseguiram acessar a nota. Das 4.725.330 redações corrigidas, 309.157 tiveram uma surpresa negativa: a nota zero. Os principais motivos foram fuga ao tema (5,01%), redações em branco (0,80%) e texto insuficiente (0,33%). Em 2016, um total de 291.806 participantes zeraram a redação. Um total inferior à 17.351 se comparado a 2017.

Saiba mais: MEC antecipa abertura para inscrições do Sisu
O tema da redação do Enem 2017 foi "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil". Dos milhares de candidatos, 205 desrespeitaram os direitos humanos. Essa foi a primeira edição onde essa medida não invalidou a redação do participante. No entanto, interferia em 200 pontos a menos no valor total da avaliação do texto.

Foto: Pixabay
Arte: Isabela Veríssimo/Esp.DP
Foto: Pixabay Arte: Isabela Veríssimo/Esp.DP

Quem ainda não conferiu a nota, consegue acessar a Página do Participante no site do INEP. Segundo Mendonça Filho, ministro da educação, o sistema foi reforçado para suportar o grande número de acessos, problema recorrente dos anos anteriores.

Resultados dos participantes Enem 2017
Número de inscritos: 6.731.341
Participantes pagantes: 1.999.749
Participantes isentos: 4.731.592
 
Número de candidatos que faltaram as provas: 2.016.783 (29,96% do total de inscritos)
 
Resultado por prova
 
Redação
Média dos participantes – 558
Quantidade de redações nota 1.000 – 53
Quantidade de redações nota 0 – 309.157 (6,54% do total)
Quantidade de redações corrigidas – 4.725.330
 
Motivos para nota zero na redação
Fuga ao tema: 5,01%
Cópia do texto motivador: 0,09%
Texto insuficiente: 0,33%
Não atendimento ao tipo textual: 0,11%
Parte desconectada: 0,17%
Redações em branco: 0,80%
Outros motivos: 0,03%
 
Linguagens e códigos
Média dos participantes – 510,2
Nota máxima – 788,8
Nota mínima – 299,6
Quantidade de provas em branco – 3.803
Matemática
Média dos participantes – 518,5
Nota máxima – 993,9
Nota mínima – 310,4
Quantidade de provas em branco – 959
 
Ciências humanas
Média dos participantes – 519,3
Nota máxima – 868,3
Nota mínima – 307,7
Quantidade de provas em branco – 8.364
 
Ciências da natureza
Média dos participantes – 510,6
Nota máxima – 885,6
Nota mínima – 298,0
Quantidade de provas em branco – 676
 
*Escala de proficiência vai é de 0 a 1.000
 
Fontes: MEC e Inep
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 14 de janeiro de 2018

Educação:Quatro ideias de brasileiro em prêmio global para recuperar escola dominada por violência

Diego Mahfouz Faria Lima
Image caption'É um projeto que dá resultado se o gestor se abrir à gestão democrática', afirma o diretor Diego Mahfouz Faria Lima | Foto: Divulgação
A Escola Municipal Darcy Ribeiro costumava aparecer no noticiário de São José do Rio Preto (interior de São Paulo), mas não por motivos bons.
Em 2012, um adolescente foi flagrado em sala de aula com uma pistola semiautomática; em 2014, uma discussão entre dois alunos de 14 e 15 anos escalonou para agressões e virou caso de polícia. Salas e banheiros eram frequentemente depredados pelos próprios alunos.
Esse foi o cenário que Diego Mahfouz Faria Lima encontrou ao assumir, três anos atrás, a direção da Darcy Ribeiro, escola do ensino fundamental com mais de 800 estudantes. "Era uma das escolas mais violentas da região. Quando vim conhecê-la, não só achei a fachada feia, como vi que o muro era cheio de buracos, onde (usuários) guardavam suas drogas. Os banheiros não tinham nem vaso sanitário", conta ele à BBC Brasil.
Como reverter o ciclo de violência, desmotivação e baixas notas de escolas?
Lima adotou estratégias baseadas, sobretudo, em recuperação do espaço físico e no engajamento dos alunos e da comunidade.
Os resultados, diz ele, começaram a surgir no intervalo de um ano, a começar pelos altos índices de evasão: 212 alunos haviam abandonado a escola em 2013; o número baixou para dois no ano seguinte.
Alunos do Darcy Ribeiro
Image captionEscola conseguiu reduzir a evasão escolar | Foto: Divulgação
O desempenho dos estudantes melhorou, embora ainda permaneça bastante abaixo do ideal: em 2011, apenas 11% dos alunos do 9º ano tinham conhecimentos adequados em português e 6% em matemática; esses índices subiram, respectivamente, para 30% e 12% em 2015 (últimos dados oficiais disponíveis).
A reversão da espiral de violência e maus resultados trouxe reconhecimento internacional: Lima é hoje uns dos 50 finalistas do Global Teacher Prize, uma das mais importantes premiações de docentes do mundo e cujo vencedor será anunciado em março.
Antes e depois, uma sala de aula da Darcy Ribeiro
Image captionAntes e depois, uma sala de aula da Darcy Ribeiro: escola ganhou doações de materiais e foi revitalizada pela própria comunidade | Foto: arquivo pessoal
A avaliação da Varkey Foundation, responsável pelo prêmio, é de que "acima de tudo, a escola atualmente tem um lugar na comunidade, e todos sabem que são bem-vindos ali".
A seguir, quatro iniciativas que Lima aplicou na recuperação da Darcy Ribeiro:

1 - Dar voz aos alunos

Lima diz que, ao assumir a direção da escola, foi recebido com uma "rebelião" por alguns alunos, que atearam fogo aos banheiros.
"Peguei um microfone para dizer a eles que eu não iria embora e que estava disposto a escutá-los", recorda o diretor.
Ouviu de volta que os alunos achavam a escola feia e excessivamente punitiva - ou seja, que qualquer coisa era motivo para suspensão.
"Tudo começou a mudar quando dei voz a eles", diz Lima.
Foi criado um mural onde os alunos deixam seus elogios, críticas e sugestões, para serem lidos pelos professores em sala. As sugestões coletivas são levadas à direção. Além disso, assembleias e o grêmio estudantil foram fortalecidos.
Com a Câmara Municipal de Rio Preto, foi lançado o projeto "vereadores mirins": alunos escolhidos pela classe elaboram projetos levados a votação pelos vereadores "reais". A partir disso, diz Lima, foi aprovado um projeto de lei para a criação de laboratórios de informática nas escolas da cidade.
Clube de astronomia da escola
Image captionClube de astronomia foi uma das iniciativas para engajar alunos | Foto: arquivo pessoal
Outro ponto-chave é a mediação de conflitos: alguns dos próprios alunos do 9º ano foram treinados por Lima para identificar e mediar a resolução de casos de bullying e conflitos. Lima também atua como mediador atualmente.
"É ensinar a ouvir o outro, a se colocar no lugar do outro", afirma. "Buscamos os alunos mais indisciplinados para (comandar) a mediação, porque daí sua liderança negativa se torna positiva."

2 - Combater à evasão

Para enfrentar o alto número de desistências por parte dos alunos, a Darcy Ribeiro criou carteirinhas para seus estudantes, de forma a monitorar o número de faltas.
A cada três faltas consecutivas de um mesmo aluno, Lima ia ele próprio à casa do estudante descobrir o que estava acontecendo.
Outro problema é que a maioria dos alunos simplesmente não ia à escola nas sextas-feiras. Surgiu a ideia de tornar o ambiente escolar mais atrativo, com um show de talentos: pais e alunos passaram a realizar performances nesse dia da semana.
O distanciamento com as famílias também era um problema. Na primeira reunião de pais organizada por Lima, compareceram apenas nove familiares. Lima descobriu que muitos alunos não entregavam os comunicados das reuniões a seus responsáveis. A solução foi contratar um carro de som, que passa pelas comunidades próximas avisando as datas das reuniões escolares.

3 - Melhorar o desempenho e a relação entre alunos e a escola

Estudantes falam nas assembleias da Darcy Ribeiro
Image captionEscola passou a realizar assembleias para dar voz às insatisfações dos estudantes | Foto: arquivo pessoal
Desanimados com o mau comportamento das turmas, os professores da Darcy Ribeiro costumavam emitir cerca de 60 suspensões de alunos por semana. "Às vezes, quando o aluno era suspenso por sete dias, ele sequer voltava mais para a escola", conta Lima.
A maneira encontrada para aproximar docentes de estudantes foi criar um programa de tutoria, em que cada professor passou zelar pelo bem-estar e pelo desempenho de uma determinada turma.
Um questionário aplicado aos estudantes e à comunidade não apenas ajudou a identificar necessidades e sonhos dos alunos, como também despertou na equipe empatia por estudantes até então considerados "problemáticos" - e que, em alguns casos, enfrentavam grandes dificuldades pessoais até então desconhecidas dos docentes.
Um plantão de dúvidas no contraturno, em que alguns dos próprios alunos viraram ajudantes dos professores, ajuda a combater problemas de aprendizado. Para incentivar a leitura e enfrentar o alto índice de analfabetismo funcional entre os estudantes, foi criado o "Pare Para Ler" - intervalo diário de 15 minutos em que todos na escola - alunos e funcionários - se dedicam à leitura de textos escolhidos por eles próprios ou por professores.
E um clube de astronomia, que começou como uma forma de estimular o interesse pela pesquisa científica e pelas tarefas de casa, acabou virando um dos xodós da escola, levando inclusive à compra de um telescópio e ao disparo de uma sonda, acoplada a um balão de hélio, para captar imagens aéreas.
E o WhatsApp, antes proibido em classe, virou ferramenta para tirar dúvidas e discutir os projetos do clube.

4 - Embelezar a escola e melhorar os laços com a comunidade

A péssima infraestrutura - espaços abandonados, salas e banheiros degradados - era uma das principais queixas dos alunos da Darcy Ribeiro.
Lima começou pedindo, a outras escolas da região, materiais de construção e tinta que tivessem sobrado de reformas anteriores. Seu objetivo era melhorar a aparência da escola durante as férias, "para receber os alunos de uma forma diferente quando as aulas recomeçassem".
Diego Lima pintando a escola
Image captionManutenção da escola é feita com a ajuda da comunidade; acima, Diego Lima pintando parede | Foto: arquivo pessoal
Uma aluna viu a sala sendo pintada e a notícia da reforma acabou se espalhando, o que gerou uma onda de apoio: pais e estudantes passaram a se oferecer para ajudar.
"Hoje, temos um grupo de mais de 30 pais voluntários para a manutenção da escola, varrendo ou trocando torneiras", diz Lima.
A biblioteca, que antes era um depósito de materiais, foi revitalizada, ganhou 7 mil livros doados e agora é gerida voluntariamente pela mãe de um aluno. O muro foi pintado e grafitado, e as salas ganharam novas carteiras.
O tráfico de drogas no ambiente escolar foi coibido com a revitalização, pelos próprios alunos, da área mais degradada da escola, transformada em uma praça de leitura.
"Quando uma mãe vem e reclama que o filho (está usando ou traficando drogas), chamamos o aluno e tentamos parcerias para conseguir emprego para ele, mostrar que ele não precisa das drogas (para se sustentar ou passar o tempo)", diz o diretor.
A escola também passou a abrir aos fins de semana, com um projeto de música clássica, hoje realizado pela prefeitura em outro espaço.
A fachada da escola, antes e depois
Image captionA fachada da escola, antes e depois: embelezamento fez parte da estratégia de recuperação | Foto: divulgação

O que ainda falta fazer?

A escola alcançou em 2015 a nota 4,7 no Ideb, indicador oficial usado como referência da educação básica, que varia de zero a 10. A nota superou a meta para aquele ano, mas ainda está distante dos 6,0 que o Brasil usa como referência de qualidade e almeja para suas escolas até 2021.
Lima tem como objetivo, agora, reduzir a defasagem de parte dos alunos em relação à série que cursam, coibir as faltas - ainda em nível acima do desejado - e melhorar o trabalho pedagógico.
O mais importante para revitalizar outras escolas em situação semelhante, opina ele, é "mudar o olhar" dos gestores.
"É um projeto que dá resultado se você se abrir à gestão democrática, dar voz em vez de concentrar as decisões, valorizar o protagonismo dos alunos e abrir a escola como se ela não tivesse muros", afirma.
Professor Edgar Bom Jardim - PE