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domingo, 1 de maio de 2022

Como são as bactérias no intestino de uma pessoa em depressão




Ilustração mostra conexão entre o intestino e o cérebro

CRÉDITO,CHRISCHRISW / GETTY IMAGES

Se atribui a Immanuel Kant a frase "a mão é o cérebro exterior do homem". É verdade que o controle destas extremidades ocupa uma enorme parcela da função cerebral: basta olhar para as representações do "homúnculo".

Evidentemente, são essenciais tanto para a recepção da realidade externa quanto para a expressão de nossas ideias. No entanto, não são órgãos vitais. O intestino, sim, e sua relação com o cérebro vai muito além.

Que conexão existe entre o cérebro e o intestino?

Um estudo publicado na Nature pelo gastroenterologista Emeran A. Mayer explica como ambos os órgãos, cérebro e intestino, estão conectados.

Esta interação entre eles tem relevância não apenas na regulação das funções gastrointestinais, mas também no humor e na tomada de decisão intuitiva

Em primeiro lugar, vamos lembrar que existe uma complexa rede de terminais nervosos que revestem todo o sistema digestivo, especialmente o sistema intestinal (chamado sistema nervoso entérico)

Este deriva evolutivamente de células que migram da crista neural e se instalam definitivamente no intestino.

Há, por sua vez, estruturas no sistema nervoso central que poderiam ser chamadas de parte encefálica do sistema intestinal.

A comunicação entre o cérebro e o intestino é estabelecida por meio de vias nervosas, especialmente pelo nervo vago. Mas também pela corrente sanguínea, é claro.

Por outro lado, há outras células intrínsecas localizadas nas camadas mais internas do tubo intestinal (células enteroendócrinas ou enterocromafins) que são repletas de neurotransmissores.

Por exemplo, contêm peptídeos (que também se encontram no cérebro) e serotonina.

Na verdade, o intestino é o local da anatomia humana em que se encontra a maior quantidade de serotonina (mais de 90%). O restante se encontra nas plaquetas e apenas 1% no cérebro.

Mas o intestino não é apenas um tubo com neurônios próprios e neurotransmissores mais ou menos conectado com o cérebro e com neurônios específicos e neurotransmissores.

Nele, também vive uma grande quantidade de micro-organismos. Juntos, eles formam a chamada microbiota.

Ilustração simbolizando cérebro e intestino de mãos dadas

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

A interação entre o intestino e o cérebro tem relevância não apenas na regulação das funções gastrointestinais, mas também no humor e na tomada de decisão intuitiva

Trata-se de uma série de bactérias (mais numerosas do que nossas próprias células) que nos ajudam na digestão, no combate a outros patógenos e em muitos outros processos.

Sintomas físicos derivados da ansiedade e depressão


Muitos de nós já constatamos que estar estressado (por ter que falar em público ou fazer uma prova) nos predispõe, não só de forma aguda, mas também crônica, a vômitos, náuseas, diarreia ou constipação.

Na verdade, como é evidente, os sintomas seguem o estímulo estressante (que, às vezes, não precisa ser negativo). Há até uma expressão muito particular para definir estar apaixonado: "sentir borboletas no estômago".

A ansiedade e a depressão são os dois representantes mais claros dos problemas de estado de espírito.

Na verdade, é um dos motivos mais frequentes de consulta não só na clínica psiquiátrica, como também na atenção primária.

A depressão é cada vez mais frequente, e é um dos principais problemas de saúde pública.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) — e este já era o caso anos antes da pandemia —, será o principal problema de saúde do mundo em 2030.

Graças a estudos como o de Mayer, o papel do estresse nessas doenças está se tornando cada vez mais conhecido. Assim como nas alterações em neurotransmissores específicos e má regulação do sistema imunológico.

Mas um número significativo de pacientes é resistente aos tratamentos farmacológicos disponíveis para a depressão, que devem sempre ser acompanhados de psicoterapias.

E é por isso que existe uma necessidade premente de aumentar o conhecimento da sua fisiopatologia para desenvolver estratégias terapêuticas mais eficazes.

O estresse e sua influência na microbiota (e vice-versa)

Nas últimas duas décadas, foram apresentadas inúmeras evidências científicas, em modelos animais e em humanos, indicando que quando um indivíduo sofre estresse, ocorre uma alteração no intestino e a composição da microbiota pode, inclusive, ser modificada.

Inversamente, a alteração experimental da microbiota também pode induzir mudanças comportamentais.

Sabemos que o cérebro influencia a microbiota a partir de estudos nos quais foi demonstrado que o estresse nos estágios iniciais da vida diminui a concentração de Lactobacillus e faz emergir a concentração de bactérias patogênicas ao romper o equilíbrio fisiológico entre as diferentes populações de microrganismos.

Em contrapartida, a diferente composição da microbiota pode influenciar no comportamento: algumas bifidobactérias melhoram o comportamento depressivo em ratos.

O estresse também produz inflamação?

Nos últimos anos, inúmeros estudos indicaram que a inflamação crônica de baixo grau também pode estar desempenhando um papel na fisiopatologia da depressão.

A partir desta informação, buscou-se saber se poderia haver uma relação entre a inflamação de origem intestinal e o estresse.

Assim, vários estudos realizados por um grupo da Universidade Complutense de Madrid (Espanha) e outros pesquisadores mostram como o estresse (um importante fator de risco para a depressão) pode produzir um desequilíbrio intestinal.

Isso pode levar a uma instabilidade na barreira intestinal (tornando-a mais porosa) e, portanto, à passagem de componentes da parede bacteriana do intestino para a corrente sanguínea e outros órgãos.

É um processo chamado translocação bacteriana. Estes componentes podem ser tóxicos e desencadear uma resposta inflamatória generalizada.

Além disso, estes estudos mostraram que a composição da flora bacteriana fica alterada em pacientes com depressão, em comparação com a flora de indivíduos de grupos de controle saudáveis.

Em geral, a diversidade bacteriana diminui em casos de depressão. No entanto, ainda não entendemos a associação entre a microbiota e a inflamação detectada na depressão.

Agora sabemos que o dano celular oxidativo (que é a consequência final da inflamação) é maior em pacientes com um episódio ativo de depressão.

Além disso, estas pessoas também apresentaram níveis elevados de um componente de bactérias intestinais que está muito relacionado à resposta imune: o lipopolissacarídeo de bactérias do gênero Bilophila e Alistipes, diminuição da Anaerostipes e desaparecimento completo da Dialister.

Estas alterações não aparecem em pacientes em fase de remissão da doença.

Resta saber ainda se as toxinas das bactérias presentes na microbiota de pacientes com depressão podem circular por todo o sistema e chegar a sinalizar algumas estruturas do cérebro.

Por enquanto, sabe-se que em modelos animais estas bactérias são capazes de chegar ao cérebro e ativar receptores de resposta imune em neurônios e em outros tipos de células deste órgão.

E, além disso, que no tecido cerebral de pacientes com depressão que morreram por suicídio, é identificada uma hiperativação da resposta imune.

Mas ainda estamos longe de poder afirmar que existe uma causalidade entre estes fenômenos e a fisiopatologia da depressão.

No entanto, o desafio está lançado, e o trabalho da ciência biomédica é desvendar todos esses mecanismos para oferecer aos pacientes novos e melhores soluções de tratamento.

Neste momento, há um projeto aberto para o estudo do microbioma em relação à saúde mental, com o qual você pode colaborar voluntariamente (caso more em que algumas cidades da Espanha — veja aqui).

* Juan C. Leza é professor do departamento de farmacologia e toxicologia da faculdade de medicina, CIBERSAM, Universidad Complutense de Madrid, na Espanha.

Javier R. Caso é professor do departamento de farmacologia e toxicologia da faculdade de medicina, CIBERSAM, Universidad Complutense de Madrid, na Espanha.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em espanhol).

  • Juan C. Leza e Javier R. Caso
  • The Conversation* BBC


Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Secretaria de Saúde divulga novo protocolo de isolamento para casos de Covid-19 em Pernambuco



Após reunião do Comitê Técnico Estadual para Acompanhamento da Vacinação na manhã desta segunda-feira (31), a Secretaria de Estado da Saúde de Pernambuco (SES-PE) anunciou a atualização do protocolo estadual para o afastamento das funções e isolamento para casos positivos de Covid-19. Agora, o isolamento passa a ser de sete dias, para casos assintomáticos e sintomáticos

Com a mudança, o retorno às atividades após isolamento é recomendado para o oitavo dia, sendo necessário, no entanto, ter pelo menos 24 horas sem sintomas

Anteriormente, o período recomendado era de 10 dias e mais 24 horas sem sintomas, para sintomáticos, enquanto para assintomáticos, o isolamento já era de sete dias. 

De acordo com a secretária executiva de Vigilância em Saúde, Patrícia Ismael, a decisão do Comitê Técnico tem base nas ações adotadas em outros países e conta com aval dos especialistas membros do grupo. 

“Com a mudança no protocolo estadual, Pernambuco passa a igualar os casos sintomáticos e assintomáticos. A partir de agora, os casos positivos para doença, independente da presença de sintomatologia, passam a cumprir o isolamento de 7 dias. É importante deixar todos atentos a necessidade do cumprimento desse protocolo para proteção dos contatos próximos. Para o retorno às atividades cotidianas e de trabalho, este paciente precisa contabilizar pelo menos 24 horas sem sintomas, não sendo necessário realizar novo teste”, explicou


O médico infectologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), Demétrius Montenegro, fez considerações durante a reunião, sobre o comportamento das variantes da doença, destacando em especial a variante Ômicron, responsável por grande parte das infecções por Covid-19 no mundo atualmente. 

“Temos observado que o comportamento virológico da ômicron é mais curto, porém bastante importante, por isso precisamos estar atentos aos sinais e sintomas e a manutenção do isolamento, além do uso de máscara de forma correta”, afirmou o médico.

O Comitê também decidiu pela manutenção do afastamento de alguns profissionais de saúde, que se enquadram em grupos de risco da doença. 

“Resolvemos manter as recomendações já vigentes. Os profissionais com obesidade, ou seja, com IMC acima de 40, idosos acima com 70 anos e mais, gestantes e pessoas vivendo com HIV/Aids devem permanecer afastados. Entendemos que estes trabalhadores devem ser protegidos devido às suas condições, ainda mais neste momento de aceleração da circulação da variante ômicron da Covid-19”, disse o secretário estadual de Saúde, André Longo.

Com Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

O desejo sexual realmente desaparece com o envelhecimento?




Mãos de idosos entrelaçadas

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Claudia e Luis se conheceram muito jovens. E logo souberam que haviam sido feitos um para o outro.

O começo do relacionamento foi arrebatador, eles não conseguiam parar de pensar um no outro, de se idealizar, e seus corpos se excitavam só de encostar um no outro. Precisavam fazer amor com frequência.

Eles passaram uma vida inteira juntos. Embora tenha havido alguns problemas de saúde, eles estão bem de uma maneira geral e não dependem de ninguém.

Passam algum tempo no centro do bairro durante o dia, fazem caminhadas e dividem as tarefas domésticas. De vez em quando, cuidam dos netos. E ainda se sentem atraídos um pelo outro! Agora de maneira diferente, apreciando seu carinho e seus corpos. É um amor de companheiros, de estar com quem se ama e aproveitar.

A sexualidade e a sensualidade são aspectos diferenciais e inclusivos do ato sexual humano. Presentes ao longo de toda a vida, se aprende e modela no sentido do prazer do cotidiano, do corpo, da vontade e do prazer mútuo, do amor de companheiros.


Os idosos têm basicamente as mesmas necessidades de obter prazer e bem-estar que crianças, adolescentes, jovens e adultos — e, embora estas necessidades tendam a ser menos bem atendidas, sobretudo no caso daqueles que vivem internados em instituições, não desaparecem com a idade.

Continuar sendo um ser sexual durante o processo de envelhecimento deve ser considerado um direito fundamental e um preditor importante de qualidade de vida. A maneira como cada pessoa se sente e se expressa como mulher ou como homem é um fato biográfico que dura a vida inteira, é sua sexualidade.

A expressão deste fato voltado para a obtenção do prazer, com a participação do corpo por meio dos sentidos, é sua sensualidade, que se alimenta de desejos e habilidades para atrair alguém, seu erotismo, e se manifesta em inúmeros comportamentos, ora compartilhados, ora solitários, sua vida amorosa.

O prazer não diminui com a idade

A maioria dos idosos permanece sexualmente ativo, o interesse pelo sexo e o prazer não diminuem com a idade.

Embora a idade, por si só, não seja motivo para mudar as práticas sexuais que foram desfrutadas ao longo da vida, podem ser necessárias adaptações, em alguns casos, dadas certas limitações físicas, efeitos de doenças ou medicamentos.

Estas mudanças serão menos pronunciadas e o erotismo sensual associado menos afetado quando a pessoa tiver sido sexualmente ativa. A imaginação, a estimulação sensorial e outros subsídios ambientais podem aumentar a receptividade ao prazer e ao encontro.

Casal idoso se beijando

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Idosos têm basicamente as mesmas necessidades de obter prazer e bem-estar que crianças, adolescentes, jovens e adultos

Pesquisando sobre estas ajudas externas, perguntamos em lojas de produtos eróticos sobre as demandas mais frequentes levantadas por idosos.

Entre os homens, questões relacionadas à ereção são as mais consultadas, desde cremes tópicos até anéis penianos.

No caso das mulheres, são aspectos relacionados à lubrificação e atrito durante as relações sexuais e estimuladores eróticos, como perfumes, lingeries, massageadores e brinquedos.

No entanto, é preciso levar em consideração que há adultos que optam por não participar de atividades sexuais, e isso também é normal.

O efeito da viuvez

Os fatores psicológicos e sociais que afetam a sexualidade à medida que se envelhece são muito importantes.

Em muitas culturas, o sexo está vinculado à juventude, e é possível que as pessoas idosas se sintam menos desejáveis, podendo afetar negativamente sua autoestima, o que, por sua vez, pode afetar seu desempenho sexual.

Por exemplo, ficar viúvo tem inúmeras implicações no que diz respeito à saúde emocional e sexual, uma vez que pessoas que estiveram em um relacionamento durante a maior parte de suas vidas podem não saber como administrar seus sentimentos sexuais no longo prazo.

Casal de mãos dadas

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Ficar viúvo tem inúmeras implicações no que diz respeito à saúde emocional e sexual

De acordo com informações obtidas entre os alunos do programa para pessoas mais velhas da Universidade de Castilla-La Mancha (UCLM, Albacete, 2020), a sexualidade é um componente muito importante para seu bem-estar (93%), e embora a prática de atividades sexuais genitais, como o coito, diminua, o desejo sexual se mantém ativo (71%) e se desfruta do afeto e erotismo (69%).

O que era um amor intenso, apaixonado, genitalizado, sob efeito da dopamina, agora é um amor de companheiros, de estar com quem se ama e aproveitar, com grande envolvimento dos sentidos e emoções, mediado por neurotransmissores (serotonina e oxitocina), cujos efeitos são mais tranquilos.

Desinibição e entrega ao prazer

Estas mudanças podem se refletir na abertura emocional durante as práticas sexuais (91%), na desinibição e entrega ao prazer durante os relacionamentos (7%) e na satisfação com seu estado de espírito após a atividade sexual (9%).

Levando em conta o gênero, encontramos diferenças na autopercepção, por exemplo, quanto à intensidade da excitação sexual (54% homens / 45% mulheres) ou no equilíbrio entre o que se dá e se recebe (63% homens / 36% mulheres) .

Casal mais velho se beijando

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A busca por prazer se mantém e se expande ao longo da vida

A busca por prazer se mantém e se expande ao longo da vida.

Não devemos esquecer que, se já não formos, todos seremos idosos em poucos anos e vamos desejar o que todos desejamos: prazer, dignidade, privacidade e o cuidado atento de uma pessoa, sem interferências impertinentes.

*Marta Nieto López e Rigoberto López Honrubia são professores do Departamento de Psicologia da Universidade de Castilla-La Mancha, na Espanha.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em espanhol).

Fonte: BBC 
  • Rigoberto López Honrubia e Marta Nieto López
  • The Conversation*
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 16 de janeiro de 2022

Como diabetes sem controle pode causar impotência e cegueira

Prato com a palavra diabetes escrita com guloseimas

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Doença ligada à taxa de açúcar no sangue afeta 17 milhões de pessoas no Brasil com idades entre 20 e 79 anos e pode impactar diversos órgãos do corpo

O diabetes costuma ser chamado de doença silenciosa porque metade dos pacientes não sabem da presença dele e muitas vezes só descobrem isso tarde demais. Não é incomum que a pergunta "você tem diabetes?" interrompa a fundoscopia (exame de fundo de olho) em consultório oftalmológico e a resposta seja um "não que eu saiba, doutor". "E nesse momento o paciente é salvo pelo oftalmologista", conta à BBC News Brasil a médica endocrinologista Rosane Kupfer, membro do departamento de doenças oculares da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Outro caso comum de descoberta por acaso do diabetes silencioso é a disfunção erétil (ou impotência sexual). Há diversos fatores associados à dificuldade de o pênis ficar ou permanecer ereto, mas o excesso de glicose no sangue também pode lesionar pequenos vasos e dificultar a circulação de sangue no corpo todo, inclusive no pênis. Estima-se que esse mal afete metade dos homens com diabetes e seja a principal causa de disfunção sexual.

Mas por que o diabetes, um problema ligado à taxa de açúcar no sangue que afeta 17 milhões de pessoas no Brasil com idades entre 20 e 79 anos, pode impactar diversos órgãos do corpo, como os olhos e o pênis?

Primeiro, é preciso entender o que é o diabetes, mas em seguida a BBC News Brasil trará detalhes de sintomas e tratamentos dos impactos da doença na saúde sexual de homens e de mulheres também, além daquela que talvez seja a mais temida das consequências pelos pacientes: a cegueira.

Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e a Sociedade Brasileira de Diabetes, um pâncreas em condições normais produz hormônios que regulam o nível de açúcar no sangue. Essa taxa varia quando se ingere um alimento, por exemplo. Mas no caso do diabetes mellitus, o corpo se torna incapaz de controlar esses níveis de glicose no sangue por não ter o suficiente ou não conseguir usar direito o hormônio que faz essa regulação, a famosa insulina. Isso leva a diversos desdobramentos problemáticos no corpo, entre eles doenças nos olhos que podem levar à cegueira e a disfunção sexual em homens e mulheres.


Os dois tipos principais de diabetes são o tipo 1 e o tipo 2. O tipo 1 frequentemente é diagnosticado na infância e na adolescência por fatores genéticos e sintomáticos, como sede e fome constantes, vontade frequente de urinar, cansaço, fraqueza, perda de peso e mudança de humor.

O tipo 2, que afeta 90% das pessoas com diabetes, têm poucos sintomas ou até nenhum e se caracteriza geralmente por seu surgimento mais lento e gradual. Por praticamente não ter sintomas, este é o tipo considerado silencioso que pode ser descoberto por acaso num exame oftalmológico ou por episódios de disfunção sexual. A principal causa (ou fator de risco) do tipo 2 é a obesidade.


O diabetes pode interferir de várias formas no funcionamento do organismo humano, mas isso se dá principalmente por duas vias: neurológica, porque o diabetes mexe com os nervos que regulam o funcionamento do corpo, e cardiovascular, pois piora a circulação do sangue — danos nos vasos sanguíneos podem provocar complicações nos olhos e também na função sexual.

"O diabetes é uma doença que afeta as estruturas vasculares do organismo, e essas estruturas vasculares são responsáveis por levar oxigênio para as células. Então, quando você tem a oclusão (bloqueio) de um vaso, vai faltar oxigênio para um determinado órgão, para um determinado tipo de célula, para todo o organismo", explica Kupfer, da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Especialistas lembram que, em 90% dos casos, todas essas doenças e consequências poderiam ser prevenidas ou atenuadas com mudanças na alimentação inadequada e sedentarismo. Ou seja, com alimentação saudável e prática regular de exercícios físicos.

Mão masculina segura punhado de açúcar

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Os dois tipos principais de diabetes são o tipo 1 e o tipo 2

Diabetes e disfunção sexual masculina e feminina

Como citado acima, o diabetes pode interferir de várias formas no funcionamento do pênis, mas em linhas gerais são duas: a primeira é a neurológica porque o diabetes pode mexer com os nervos que regulam o funcionamento de órgãos como o pênis, por exemplo.

A segunda é a cardiovascular, devido a uma piora da circulação sanguínea que leva a um pior funcionamento do bombeamento de sangue para dentro do pênis, o que aumenta a pressão e gera a rigidez no ato sexual.

A disfunção erétil (a incapacidade que o homem tem de ter ou manter uma ereção suficiente para atividade sexual satisfatória) afeta mais da metade dos homens com diabetes, segundo uma análise de 145 estudos sobre o tema que foi publicada em 2017 na revista científica Diabetic Medicine. O diabetes é a principal causa de disfunção erétil em adultos.

"O homem pode ter uma falha, brochar (como se diz popularmente) de vez em quando. É normal porque ninguém é uma máquina", diz à BBC News Brasil o médico Eduardo de Paula Miranda, diretor do departamento de andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia. Quando isso pode ser um problema de saúde? "Quando começa a ser persistente, falhas umas atrás da outra, ao longo tempo e começa a interferir na qualidade de vida do sujeito", responde ele.

No caso dos homens, quando acontecem alterações nesses vasos sanguíneos e nos nervos do pênis, a ereção enfrenta obstáculos por causa do estreitamento das artérias e da diminuição da circulação do sangue — e as terminações nervosas responsáveis pelo desejo sexual também podem ser afetadas.

Nesse caso de problemas de irrigação sanguínea, o pênis acaba com dificuldades de ficar e permanecer ereto. E a partir de então é recomendado que esse paciente também procure um médico especialista para avaliar o aparelho cardiovascular, explica Kupfer, da Sociedade Brasileira de Diabetes. "Ali pode haver pista para outros acometimentos do diabetes."

A excitação sexual, é importante ressaltar, está ligada aos mais diversos aspectos, como estímulo visual, imaginação, toque e cheiro. Quando há um problema recorrente de impotência, especialistas ressaltam a importância de que seja feita também uma consulta médica a dois, quando se é um casal, pois as causas, além do diabetes, geralmente são orgânicas, psicogênicas (transtornos mentais) ou sexuais.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que a sexualidade é influenciada pela interação de alguns fatores, como biológicos, psicológicos, socioeconômicos, políticos, culturais, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais. Há também outras questões envolvidas, segundo especialistas, como identidades de gênero, sexo, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução.

Além de efeitos colaterais de remédios (como alguns para hipertensão) e de procedimentos cirúrgicos na bexiga ou na próstata. Recomenda-se que o diagnóstico seja feito apenas por médicos especializados.

Esse problema, porém, não afeta apenas homens e pênis. As mulheres também sofrem com o impacto do diabetes na função sexual, mas esse tema raramente é discutido, estudado ou divulgado.

Para Nick Oliver, especialista em metabolismo e diabetes da Universidade Imperial College London, no Reino Unido, há diversas razões para isso. Em editorial publicado na Diabetic Medicine, explica que há falta de compreensão sobre mudanças na função sexual feminina em decorrência do diabetes, desconforto em abordar o tema, tanto pela paciente quanto pelo profissional de saúde, e, por fim, falta de intervenções médicas com comprovação científica para tratar a disfunção sexual feminina.

Um estudo assinado por sete pesquisadores da Bélgica, Holanda e Austrália, publicado em 2021 pela mesma Diabetic Medicine, apontou que 36% das mulheres com diabetes tipo 1 relataram disfunção sexual, número maior que mulheres com diabetes tipo 2 e muito próximo ao número de homens com diabetes e impotência. Um estudo na Noruega, com menos pacientes, chegou a apontar a incidência de disfunção sexual em mais de 50% das mulheres com diabetes do tipo 1.

Mão pega bolachas de um pote

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No caso do diabetes mellitus, corpo se torna incapaz de controlar esses níveis de glicose no sangue por não ter o suficiente ou não conseguir usar direito hormônio que faz essa regulação, a famosa insulina

Tratamentos para disfunção sexual ligada ao diabetes

Para Miranda, da Sociedade Brasileira de Urologia, "o controle estrito e rigoroso do diabetes é fundamental para prevenir complicações da saúde sexual do homem e da mulher". Ele explica que a saúde sexual tanto masculina quanto feminina está associada à saúde geral deles, e a prevenção passa pelo controle de comorbidades e da saúde física e emocional do paciente (mais especificamente alimentação saudável, atividade física regular, sono de qualidade e redução do estresse).

"A saúde mental também é um dos grandes determinantes da saúde sexual", afirma Miranda. "Existe um problema na disfunção erétil que é: não importa o que levou o paciente a falhar, mas uma vez que ele falha, isso começa a afetar muito a autoestima e a autoconfiança dele, e então entra um componente psicológico muito importante que agrava ainda mais o problema."

Os tratamentos da disfunção erétil podem ser de dois tipos: os não medicamentosos e os medicamentosos.

Os primeiros giram em torno de terapias. É sempre indicado que esse paciente tenha suporte terapêutico para lhe ajudar a lidar com o estresse, excesso de adrenalina e preocupação, que atrapalham a ereção.

No caso das abordagens medicamentosas, para homens há remédios disponíveis no mercado que são capazes de melhorar a duração, rigidez e capacidade de manter a ereção por mais tempo. "Eles melhoraram a circulação de sangue no pênis e aumentam a pressão dentro dos corpos cavernosos que são as câmeras da ereção", explica Miranda.

Há pelo menos sete medicamentos disponíveis com diferentes características, sendo o mais comum o sildenafil (Viagra). Miranda alerta, no entanto, que esse comprimidos podem não funcionar no caso de pacientes com diabetes descontrolados e problemas mais severos nos nervos. "Muitas vezes esse paciente precisa ir para tratamentos farmacológicos mais intensivos ou invasivos, como as injeções que são administradas no próprio pênis na hora da relação sexual para poder ter uma ereção."

A disfunção erétil aumenta com o passar da idade, mesmo sem diabetes. Em geral, a partir dos 45 anos, há maior ocorrência de homens com problemas de ereção. No caso do paciente com diabetes, quanto mais tempo ele enfrenta essa doença, maior é a chance de ele desenvolver problemas de ereção mais cedo ou mais severo. Isso pode ser atenuado caso o diabetes esteja sob controle.

Mulher aplica insulina

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Uma pessoa com diabetes têm duas vezes mais chances de ter catarata e glaucoma

Por que diabetes pode causar doenças nos olhos e até cegueira

Segundo o Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais dos Estados Unidos, o diabetes afeta os olhos quando a taxa de glicose no sangue está muito alta e pode causar quatro doenças oculares: retinopatia diabética, edema macular diabético, catarata e glaucoma.

Uma pessoa com diabetes têm duas vezes mais chances de ter catarata e glaucoma, que pode ser uma complicação da retinopatia diabética que danifica o nervo óptico (estrutura do sistema nervoso que conecta o olho ao cérebro). Ambas as doenças, quando não tratadas, podem levar à perda de visão.

A cegueira é considerada uma das complicações mais graves e temidas do diabetes. "Se você perguntar para esse paciente qual é o seu maior temor, a maioria vai dizer 'eu não quero ficar cego'", explica Kupfer, da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Mas como a lesão chega a esse ponto? No caso da retinopatia diabética, Rodrigo Jorge, professor da USP Ribeirão Preto, explica que a glicose em excesso no sangue machuca uma célula chamada pericito, que dá suporte ao menor vaso presente na retina, o capilar. Essa é uma das primeiras alterações nos tecidos humanos causadas pela doença.

Perdendo esse suporte e com a morte dessas células, ocorre uma alteração nesse capilar da retina, revestimento interno no fundo do olho responsável por transformar a luz em sinais que o cérebro interpreta para que enxergamos e compreendamos as coisas.

"A hiperglicemia machuca a parede do capilar, e nesse movimento a retina é machucada, mas não somente e a partir daí tem microangiopatias. Ou seja, um machucado na circulação: os vasos ficam frágeis e rompem", explica o oftalmologista. "O primeiro sinal que se encontra no fundo do olho são pequenos pontos hemorrágicos ou os microaneurismas que são as dilatações na parede dos capilares da retina."

Para compreensão da apresentação do aneurisma, Jorge faz uma analogia com uma bola de futebol. "Quando ela perde um gomo, forma uma protuberância e a câmera sai para fora. O aneurisma é isso."

Kupfer, da Sociedade Brasileira de Diabetes, acrescenta que "o diabetes acelera o processo de envelhecimento dos vasos sanguíneos e pode provocar então pequenas isquemias (falta de oxigênio no tecido) na retina". Uma das consequências da retinopatia diabética é um edema macular diabético (inchaço), principal causa de baixa de visão no paciente com diabetes. Outra é que a visão pode ficar turva.

Mas como se detecta tudo isso? Pelo exame do fundo do olho (ou fundoscopia) relatado no início desta reportagem. A retinopatia diabética é dividida principalmente em duas fases.

1.Não proliferativa - Sem novos vasos formados. No começo da retinopatia diabética, esses vasos podem inchar, vazar para a retina. Aqui podem ocorrer pequenas dilatações, isquemias (falta de oxigênio no tecido). Se a mácula (responsável por nos fazer enxergar com maior riqueza de detalhes, cores e nitidez) não for atingida, pode nem apresentar sintomas.

2.Proliferativa - Com novos vasos formados - "Se você abrir a retina e esticar, ela vai ficar que nem uma pizza. No meio dela há o nervo óptico, com a mácula ao lado. A circulação sai do nervo e vai para a periferia, a borda da 'pizza'. Essa borda começa a sofrer com a falta de nutrição. As paredes dos vasos, as células se desunem e formam novos canais e vasos e esses novos vasos tentam nutrir essa retina que está sem suprimento", explica Jorge, da USP Ribeirão Preto.

A cegueira, por fim, é causada pelo descolamento da retina. Os novos vasos que surgem têm poder contrátil. "Imagine uma folha de papel em uma mesa e de repente começa a crescer um tecido em cima dela e ele retrai. A folha de papel fica enrugada e algumas partes vão se separar da mesa, essa parte que separa é o descolamento. Só que é um tecido que está forrando o fundo do olho", explica o professor e oftalmologista.

É possível prevenir essa evolução devastadora da retinopatia? Segundo especialistas, sim, com controle rigoroso da taxa de glicose no sangue e, por extensão, do diabetes. Recomenda-se também reduzir a taxa de colesterol elevada, controlar a hipertensão arterial e evitar o tabagismo, que aumentam o risco de doenças oculares e outros problemas de saúde.

"Se o paciente é hipertenso, tem que tratar a hipertensão. E se ele tem uma retinopatia, ele tem que ter um tratamento oftalmológico rigoroso para evitar que essa retinopatia evolua mal", afirma Kupfer. Além disso, ela ressalta a importância do controle da taxa glicêmica: "A glicose bem controlada não vai acelerar o processo de envelhecimento das artérias".

Jorge, da USP de Ribeirão Preto, reforça essa recomendação. "O paciente que controla melhor tem mais anos de doença sem complicação. As complicações estão relacionadas com a duração da doença. Quanto melhor você controla, mais tempo passa sem complicações. Por exemplo, há paciente com diabetes tipo 2 que em cinco anos desenvolve as complicações e há paciente que passa 20 anos e praticamente não tem complicação nenhuma. Isso com certeza se deve ao controle, com uma pequena percentagem ligada a características genéticas também. Mas o principal fator é o controle da glicemia."

Mulher afere indice de açúcar no sangue com aparelho

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Melhor forma de proteger a visão e a função sexual é manter o controle do nível glicêmico, dos níveis de colesterol e pressão arterial

E quando a retinopatia diabética evolui, há tratamento possível? Jorge afirma que atualmente as duas principais estratégias são o laser e a farmacológica.

"No caso do laser, ele destrói a retina periférica (a borda da pizza). Como na retina não é possível amputar, a saída é queimar com o laser. Ao destruir uma retina que está produzindo o agente causador das alterações, o VEGF (que estimula a formação de novos vasos) diminui."

A saída farmacológica é injetar um anticorpo contra a formação de novos vasos (VEGF). Essa opção é bem mais rápida, porém bem mais cara que o laser. "Os medicamentos intra oculares são uma realidade para poucos. Eles são caros e somente agora estão começando a entrar no SUS (Sistema Único de Saúde)", explica Kupfer, da Sociedade Brasileira do Diabetes.

A endocrinologista explica que os medicamentos, por outro lado, têm um efeito indireto: manter o paciente sob vigilância médica. "Isso porque os medicamentos são administrados em geral várias vezes. Então, essa é uma forma também de manter o paciente ligado à sua saúde e de evitar o caminho para um desfecho da cegueira. Mas há um longo caminho até chegar nisso."

E em que momentos as pessoas devem procurar um médico para avaliar a suspeita de retinopatia diabética? Há o surgimento de sintomas? Sim. Especialistas afirmam que pacientes com diabetes devem fazer consultas oftalmológicas todos os anos. Além disso, mudanças bruscas e repentinas na visão, pontos e flashes de luz indicam a necessidade de se buscar atendimento médico com urgência, pois podem estar ligados a um descolamento de retina.

Mas nem sempre os pacientes que dependem do SUS (sete em cada 10 brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE) conseguem acesso a consultas, acompanhamentos e tratamentos oftalmológicos.

"No SUS, por exemplo, essa especialidade é cada vez mais rara. O paciente que é tratado na rede particular ou por convênios de saúde, tendo mais conhecimento e mais acesso, têm mais chances ao fazer exames com um oftalmologista e evitar a evolução para uma retinopatia muito grave. Já o paciente que não tem acesso ao sistema de saúde ou tem, mas é um sistema de saúde sem oftalmologistas suficientes para atender a demanda, esse paciente vai ser muito prejudicado", diz Kuper.

A melhor forma de proteger a visão e a função sexual é manter o controle do nível glicêmico, dos níveis de colesterol e pressão arterial. Aliados a uma boa dieta e exercícios físicos.

  • Cristiane Martins
  • De Londres para BBC News Brasil

Professor Edgar Bom Jardim - PE