Mostrando postagens com marcador Brasil. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Brasil. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

A economia como fraude

infraestrutura
Com o investimento público em infraestrutura, os governos querem ajudar a economia a funcionar de forma mais rentável


Uma das características da economia atual é o uso de uma lógica superficialmente plausível para afastar a discussão da substância real, adverte o economista Michael Hudson, pesquisador e professor emérito da Universidade do Missouri, nos Estados Unidos, e da Universidade de Pequim, na China.
Isso é feito, por exemplo, refinando-se a demagogia de que impostos baixos para os privilegiados são benéficos para o resto da sociedade. “O objetivo é compor uma história verossímil para convencer a população, especialmente as classes mais baixas, a identificar seu bem-estar com o da oligarquia, a acreditar que só aquele 1% mais rico pode salvá-los, oferecer-lhes empregos e financiamentos”, ensina Hudson.
Para desvendar os absurdos e as fraudes intelectuais escondidas na terminologia própria da economia, ele publicou neste ano o livro J Is For Junk Economics: A Guide to Reality In an Age of Deception, em que procura demonstrar “como um vocabulário orwelliano domina a mídia, o ensino da economia e até mesmo a representação estatística do seu funcionamento”.
Tudo se passa, diz, como se não houvesse exploração, quase nenhuma renda da propriedade e de investimentos nem ganhos de capital derivados da inflação dos preçosdos ativos, apesar de estes serem o principal  objetivo dos investidores imobiliários e financeiros.
A seguir, uma seleção feita por CartaCapital de verbetes do capítulo intitulado “Os 22 mitos econômicos mais prejudiciais do nosso tempo”, desvendados pelo autor.

Mito: O setor público é um peso morto e a atividade do governo é uma despesa extra desnecessária. A conclusão é de que os gastos públicos devem ser minimizados.
Realidade: O investimento em infraestrutura pública é um fator de produção. Seu papel é reduzir o custo de vida e facilitar os negócios, fornecendo serviços de transporte, comunicações e cuidados com a saúde, entre outros, a preço de custo, de forma subsidiada ou livremente. O investimento público em tais monopólios naturais os mantém fora das mãos de privatizadores, rentistas e financistas.
Mito: Os ganhos de capital não são receitas e, portanto, não devem estar sujeitos a Imposto de Renda ou contribuições para financiar a Previdência Social.
Realidade: Os administradores de investimentos definem os retornos totais como a renda corrente mais os ganhos de preço dos ativos. Esses ganhos são o principal objetivo dos investidores dos setores de finanças, seguros e imóveis.
No entanto, em nenhum lugar das contas nacionais ou nas estatísticas do balanço patrimonial do Banco Central há uma medida de ganhos de preços de ativos para terrenos, ações e outros títulos financeiros.
No que diz respeito às estatísticas oficiais, o princípio orientador parece ser o de que aquilo que não é visto, não será tributado ou regulamentado. O imposto sobre a renda nos Estados Unidos em 1913, por exemplo, aplicou as mesmas taxas para os ganhos de capital e os rendimentos, a partir da suposição de que o efeito seria o mesmo:  um aumento de riqueza e “poupança”.
Ao contrário dos salários e dos lucros, os ganhos de preços de ativos não resultam tanto do esforço próprio dos seus donos. É o caso dos ganhos a partir de: 1. Investimento em infraestrutura pública, aumentando o valor dos imóveis do entorno.
2. Aumento da demanda do mercado para habitação e de estoques a partir de uma maior prosperidade nacional.
3. Políticas de crédito fácil estabelecidas pelo Banco Central (quantitative easing, ou aumento do volume de dinheiro no mercado, provocado com a compra intensiva de títulos públicos pelo BC) para baixar as taxas de juro e aumentar os preços dos títulos.
Essas maneiras de enriquecer são tributadas com impostos mais baixos em comparação àqueles incidentes sobre os salários e os lucros industriais obtidos com a formação de capital tangível.
Foi isso que fez do 1% mais abastado da sociedade uma classe principalmente rentista, enriquecida com o subsídio público e beneficiando-se ainda de impostos baixos sobre os ganhos obtidos a partir da propriedade e os retornos financeiros da alavancagem da dívida. 
Wall Street
Wall Street e outras cleptocracias financeiras visam usar as privatizações só como oportunidades de ganho (Foto: Spencer Platt/Getty Images)
Mito: A privatização é mais eficiente do que a propriedade e a gestão públicas.
Realidade: investimento público em infraestrutura tem sido a principal categoria de formação de capital desde tempos imemoriais. Em vez de buscar lucro com esse investimento, os governos visam subsidiar os preços cobrados pelos serviços básicos de infraestrutura, de modo a tornar a economia mais competitiva.
O objetivo não é, entretanto, ajudar o setor privado a obter lucros, mas a funcionar de forma mais rentável. Os monopólios mais cruciais são aqueles que os governos mantiveram por muito tempo sob domínio público: estradas e outros transportes básicos, correios e comunicações, pesquisa e desenvolvimento, saúde pública e educação.
A privatização gera juros e outras taxas de propriedade para os rentistas, salários e bônus para executivos, ao mesmo tempo que oferece oportunidades de obtenção de aluguéis extorsivos. Usar esses setores como oportunidades para extrair renda, juros e taxas é o sonho das cleptocracias financeiras.
O objetivo é obter ganhos de capital, com políticas tributárias que revertem as reformas progressistas. O fornecimento e o preço dos transportes, das comunicações, da água e da saúde pública são em grande parte responsáveis ​​pelas diferenças de custos internacionais.
No entanto, em nenhuma parte da teoria do comércio de “mercado livre” esse papel do investimento público é levado em conta nos índices de custo comparativos ou nas análises de custo absoluto. As contas nacionais não creditam a formação de capital (infraestrutura pública) pelo governo como um ativo, em contrapartida aos gastos, no cálculo de déficits ou excedentes orçamentários.

Mito: Os déficits do governo são ruins, os orçamentos equilibrados são bons e os superavitários, ainda melhores.
Realidade: Quando os governos geram déficits (exceto para salvar bancos e pagar detentores de títulos públicos), eles colocam dinheiro na economia. Mas, se eles executam um orçamento equilibrado (ou, pior ainda, um orçamento superavitário), isso retira receitas da economia.
Foi o que ocorreu quando o ex-presidente Andrew Jackson, dos Estados Unidos, executou superávits orçamentários deflacionários na década de 1830, depois de fechar o Banco dos Estados Unidos. Aconteceu novamente após a Guerra Civil, quando os EUA procuraram reverter os preços para os níveis anteriores a 1860, causando depressão prolongada.
Os apelos para os governos manterem orçamentos equilibrados emanam do movimento do setor bancário para substituir os tesouros nacionais como fonte de dinheiro e crédito.
Quando o presidente Bill Clinton gerou um superávit orçamentário no final de sua administração, no fim da década de 1990, isso obrigou a economia americana a confiar em bancos comerciais para fornecer o crédito necessário para crescer.
Ao contrário dos gastos do governo, que podem ser autofinanciados, os bancos cobram juros e taxas pela criação de crédito – e criam crédito principalmente para aumentar os preços de ativos, não para estimular o emprego e a formação de capital tangível.

Mito: Os cortes nas despesas públicas colocam o Orçamento do governo em equilíbrio, restaurando a estabilidade.
Realidade: Ao contrário das dívidas do setor privado, as do governo não podem ser objeto de baixa contábil. Os empréstimos do Fundo Monetário Internacional aos governos, para resgatar os detentores de títulos privados (principalmente os bancos e o 1% mais rico), deixam inexoravelmente um resíduo de pressões e exigências do Fundo sobre os governos.
As condicionalidades impostas – reduções nas despesas públicas, da previdência e aumento dos impostos sobre o trabalho – aprofundam o déficit orçamentário. Isso leva o organismo e os ministros das Finanças a pressionar por uma austeridade ainda mais severa, como se o seu “remédio” não fizesse sangrar e não enfraquecesse a vítima endividada.
A espiral descendente resultante é o objetivo real da austeridade, porque o agravamento da crise financeira de um governo força privatizações. Isso é especialmente claro na conquista financeira da Grécia desde 2010.
Produção em taubaté
Os lucros da indústria são mais tributados que os do setor financeiro, mas tem menos a ver com o esforço dos seus donos (Foto: Renato Frasnelli/Volkswagen do Brasil)
Mito: O critério da ciência econômica é demonstrar que as economias tendem à estabilidade e a uma distribuição cada vez mais justa e equitativa de renda e da riqueza. Modelos de polarização ou atrofia não têm uma resolução matemática simples, portanto, não se enquadram na definição de ciência econômica propriamente dita.
Realidade: Os setores financeiro e imobiliário buscam controlar os conteúdos do ensino e os meios de comunicação para desencorajar reformas que retardariam a sua busca da monopolização da riqueza e do poder político.
Esse controle é realizado por meio da alteração do significado do vocabulário econômico e da eliminação do estudo da história econômica. O antídoto para a economia-lixo ensinada após essas modificações precisa, entretanto, explicar por que as economias tendem a se tornar mais instáveis e mais polarizadas como resultado de sua própria dinâmica interna e, acima de tudo, a sua dinâmica do crédito e da dívida e a não tributação da renda do investimento.
Com Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 6 de agosto de 2017

Por que Neymar, ganham tanto dinheiro?


Neymar no Paris Saint-GermainDireito de imagemREUTERS
Image captionQual a explicação lógica e matemática dos valores estratosféricos da ida de Neymar ao PSG?

A chegada de Neymar ao Paris Saint-Germain já ficou marcada na história do futebol, não ainda pelos ganhos esportivos do clube com o craque brasileiro, mas pelo lado financeiro do negócio.
O clube pagou 222 milhões de euros (R$ 815 milhões) ao Barcelona para contratar o jogador, o maior valor já visto em uma transação do futebol - é mais que o dobro do recorde anterior, a contratação do meio-campista Paul Pogba pelo Manchester United, da Inglaterra, por 105 milhões de euros no início deste ano.
Além disso, a equipe francesa ofereceu R$ 110 milhões por ano em salários para convencer Neymar a trocar Barcelona por Paris. Numa conta simples, isso equivaleria a mais de R$ 300 mil por dia - ou a R$ 12,5 mil por hora. Um valor que poucos conseguem ganhar em uma vida inteira de trabalho.
Os números parecem exorbitantes, fora de qualquer realidade. Mas, segundo especialistas consultados pela BBC Brasil, têm alguma explicação lógica e matemática.
"Hoje está evidente que (o futebol) é um mercado de entretenimento. Nos Estados Unidos, é mais normal ver o esporte como essa indústria, mas o futebol está se consolidando nisso agora. Está virando cada vez mais espetáculo", diz a economista Elena Landau, que trabalhou no BNDES, foi diretora do Programa de Desestatização do governo FHC e atuou no Atlético-MG e no Botafogo (seu time do coração).
"A final da Liga dos Campeões, por exemplo, é hoje em dia quase um Super Bowl (final da NFL, a liga de futebol americano)", compara.

Neymar e Brad Pitt

Landau compara o mercado do futebol ao mercado de entretenimento de Hollywood - um ator como Brad Pitt recebe valores altíssimos para fazer um filme, o que seria proporcional à movimentação financeira que se espera da película.
A lógica para o futebol hoje seria a mesma: as estrelas, como Neymar, são muito bem pagas porque são as protagonistas de um espetáculo que envolve cada vez mais dinheiro.

Final da Liga dos Campeões em junhoDireito de imagemREUTERS
Image captionFinal da Liga dos Campeões, em junho: 'é quase um Super Bowl' em termos de mercado de entretenimento e internacionalização, dizem analistas

"O futebol é um dos poucos segmentos, senão o único, em que o funcionário ganha mais que o patrão. O presidente de um clube ganha menos que o jogador", observou o especialista em marketing esportivo Erich Beting.
Isso porque sem os jogadores, sem as estrelas, não há o espetáculo que movimenta todo esse dinheiro, explica Beting. Ele ressalta que, principalmente na última década, os clubes europeus passaram a "internacionalizar" sua marca e, com isso, multiplicaram seus lucros.
"Eles estão a cada ano aumentando a receita porque as marcas dos clubes europeus se tornaram globais. O PSG tem programa de associação de membros (algo como um "sócio-torcedor") mundial, qualquer um pode se associar no mundo inteiro. Os clubes se tornaram potências globais como nunca foram, ajudados pela Liga dos Campeões, que também se tornou mundial."
Para se ter uma ideia desse crescimento, o Barcelona, por exemplo, aumentou quase 300% seu faturamento nos últimos 10 anos - de 259 milhões de euros em 2006 para 689 milhões em 2016 -, segundo os números oficiais do clube.
Em 2011, antes de ser comprado por um fundo de investimento do Catar, o PSG faturou 221 milhões de euros, de acordo com o estudo Football Money League, da consultoria Deloitte. Hoje, esse valor subiu para 520 milhões de euros - quase metade do faturamento do clube foi investido na contratação de Neymar.
"Esse investimento é irracional. O Real Madrid, por exemplo, não faria algo assim, a não ser que visse uma equação em que ganharia em todos os sentidos. Mas o PSG precisava dessa autoafirmação, então ele construiu essa loucura. Porque você não mede o retorno só do dinheiro, mas também do prestígio. E como o PSG tem um fundo de investimento por trás, ele tem dinheiro para correr esse risco", pontua Beting.

O fator Neymar

Tanto Landau quanto Beting classificam o caso Neymar como um ponto fora da curva nas negociações do mundo do futebol.
"O negócio não seria de risco se ele (clube) dissesse 'não me importo em perder dinheiro', o que talvez seja um pouco o caso do PSG, que tem o fundo por trás. E você olha para o clube e tem tudo a ver, porque lá ainda falta um ídolo, uma pessoa que vai levar mídia, uma visibilidade que eles não têm", afirma ela.

Ernesto Valverde, técnico do BarcelonaDireito de imagemREUTERS
Image captionO Barcelona, do técnico Ernesto Valverde (acima), aumentou quase 300% seu faturamento nos últimos 10 anos

Ainda carente do troféu mais cobiçado na Europa - o da Liga dos Campeões - e tendo esbarrado justamente no Barcelona diversas vezes na fase eliminatória, o Paris Saint-Germain vê em Neymar a chance de conquistar a taça que nunca veio e, consequentemente, as cifras que a acompanham.
"Existem os aspectos esportivo e econômico. Pelas cifras envolvidas, a gente pergunta: o Neymar vai se pagar? Não, ele não deve se pagar. É um negócio que dificilmente se paga na ponta do lápis", pondera Beting.
Mas ele agrega que o jogador brasileiro "tem sido cada vez mais frequente na mídia em geral, não só no Brasil. Tem grande relevância nas redes sociais. Na semana passada, estava jogando com o Barcelona nos EUA, e o Tiger Woods (jogador de golfe) tirou foto com ele e com a camisa do Barça, outros astros da NBA fizeram a mesma coisa. Ele transita em muitos territórios e, quando você tem um embaixador desse, é um baita ganho de imagem".
Além da visibilidade e da mídia que Neymar atrai consigo, os especialistas pontuam que, por causa dele, o PSG também deve ganhar novos patrocinadores, deve receber mais por cotas de TV, aumentar a receita de estádio e até vender mais produtos. A expectativa anunciada pelo clube é de vender 1 milhão de camisas do craque brasileiro - que renderiam ao time 40 milhões de euros.
E tudo isso, segundo Beting, está embutido no preço para contratar Neymar. Além, claro, de ter de convencê-lo a deixar o Barcelona, um time já consagrado mundialmente, para ir para uma equipe com prestígio bem menor.
"O cara está apostando a ficha de que o Neymar vai solucionar a empresa dele, então está disposto a oferecer muito", diz Beting. "A gente tem um salto financeiro que dificilmente paga todo o investimento, porque tem o custo mensal de salário, mas traz imensuravelmente um retorno para o PSG."

Escalonamento do mercado

Para entendermos um pouco melhor o salto nos valores de transferências e salários de jogadores é preciso levar em conta uma série de fatores - a presença da TV, por exemplo, já que os direitos de transmissão constituem uma parte significativa das receitas de clubes, seja em São Paulo ou Paris.
Mas um divisor de águas ocorreu em dezembro de 1995, quando a Corte Europeia de Justiça deu ganho de caso ao belga Jean-Marc Bosman em uma ação que começou como um litígio trabalhista do jogador contra seu clube, o Standard Liege, da Bélgica, que se recusara a vendê-lo e diminuira seu salário.
A decisão deu uma liberdade de movimentação sem precedentes para jogadores em clubes europeus. Na prática, as novas regras determinavam que os atletas poderiam simplesmente ir, de graça, para outras equipes no fim de seus contratos, o que aumentou incrivelmente o poder de barganha deles e de seus empresários em negociações salariais. No Brasil, a Lei Pelé, que veio em 1998, tinha o mesmo objetivo.
Na Inglaterra, por exemplo, o salário médio mensal de jogadores da Primeira Divisão na época da decisão da corte europeia girava em torno de R$ 40 mil. Dez anos mais tarde, já atingia a marca de R$ 195 mil. Em 2015, passava de R$ 700 mil.

Estatuetas do OscarDireito de imagemPA
Image captionEstatuetas do Oscar: mercado do futebol se tornou de entretenimento, assim como Hollywood

A mesma coisa se deu com o valor de transferências: entre 1997 e 2017, o "recorde mundial" de transações saltou de R$ 61,7 milhões para os mais de R$ 800 milhões pagos pelo PSG ao Barcelona pelos serviços de Neymar.
O peso de salários nas finanças das equipes também aumentou consideravelmente. No futebol europeu, a folha de pagamento de jogadores corresponde, em média a mais de 60% da receita dos clubes.
Mas para o jornalista e autor do livro Soccernomics ("Economia do futebol"), Simon Kuper, a lógica é até "simples" para justificar os altos valores de salário pagos para Neymar.
"O valor de um jogador é estabelecido dentro de campo. É ali que você julga se ele é bom ou é ruim. E Neymar é muito bom. É muito mais fácil julgá-lo por gols e passes. O valor de um executivo, por exemplo, é muito menos claro. Um executivo ruim pode ser ruim sem prejudicar a empresa. Eu posso ser diretor de uma multinacional e disfarçar, mas as pessoas vão perceber rapidinho se eu tentar jogar pelo Barcelona", diz.
"Um jogador de futebol se expõe ao julgamento do público toda a semana em uma atividade mais competitiva e implacável que a maioria das outras. E ninguém joga com a camisa 10 porque tem padrinho, ao contrário do que acontece no mercado de trabalho tradicional."
É importante mencionar, porém, que o mercado salarial dos milhões é restrito a uma imensa minoria. Segundo relatório da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deste ano, 82% dos jogadores que atuam no Brasil ganham menos de R$ 2 mil - e 96% deles não ganham mais do que R$ 5 mil.
"Mas se a gente for pensar, quantos atletas de primeira linha existem no futebol mundial? No futebol brasileiro vão existir só 12 clubes que podem pagar esses salários altos. E não para muitos jogadores", ponta Beting.
"No caso de jogadores que ganham no nível do Neymar, a quantidade é a mesma de bilionários no mundo. É que esses casos, como os do Neymar, estão na mídia, enquanto os que ganham R$ 1 mil não estão."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 5 de agosto de 2017

Procurador-geral corre para apresentar nova denúncia contra o peemedebista antes de ser substituído por Raquel Dodge

Rodrigo Janot e Raquel Dodge
Segunda na lista tríplice, Dodge foi a escolhida de Temer para substituir Janot


Enquanto a Câmara dos Deputados analisava a denúncia contra Michel Temer por corrupção passiva, Rodrigo Janot, procurador-geral da República, movimentava as peças de seu tabuleiro de xadrez para avançar novamente sobre o "rei", salvo por seus "súditos" na quarta-feira 2.
Às 16h42 do mesmo dia, Janot pediu ao Supremo Tribunal Federal que incluísse o peemedebista no rol de investigados em um inquérito já instaurado contra 15 parlamentares do PMDB da Câmara. Janot solicitou ainda que os ministros Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência, escudeiros de Temer, sejam investigados no mesmo processo.
Com o pedido, feito após uma solicitação da Polícia Federal, Janot procura um atalho para vincular relatos das delações da JBS sobre a atuação de Temer à frente do PMDB da Câmara com as investigações já em curso contra políticos e operadores do grupo, entre eles o ex-ministro Henrique Eduardo Alves, o doleiro Lúcio Funaro, o líder do governo no Congresso, André Moura, e o lobista Fernando Baiano.
O inquérito em curso relaciona-se com parte das delações de JBS que apontam para a atuação do grupo de Temer em desvios no Fundo de Investimentos do FGTS, representado pela Caixa Econômica Federal.

Enquanto municia a investigação em curso, Janot prepara uma segunda denúncia contra Temer baseada nas delações de Joesley Batista e de executivos da JBS. O grupo de trabalho da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República trabalha para apresentar mais uma peça contra Temer, que incluirá tanto a acusação de organização criminosa quanto o crime de obstrução da Justiça, ambos relacionados à gravação de uma conversa com Temer entregue por Joesley aos investigadores.
Derrotada na Câmara, a denúncia por corrupção passiva relacionava-se à estreita relação entre Temer e Rodrigo Rocha Loures, o "homem da mala". Segundo Janot, a entrega da mala de 500 mil a Loures, flagrada pela Polícia federal, era proveniente de um acordo de propina com a JBS que teria como beneficiário final o próprio presidente.
Na nova denúncia, a Procuradoria pretende explorar principalmente a narrativa de Joesley sobre a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e de Funaro, ambos presos, com o suposto objetivo de impedi-los de assinar uma delação contra Temer. A estratégia de manter a dupla calada parece ter falhado: ambos negociam um acordo de colaboração com o Ministério Público atualmente.

No áudio entregue por Joesley às autoridades, o empresário dá a entender que está pagando uma mesada à dupla. Temer replica: "Tem que manter isso, viu?". No mesmo encontro registrado em áudio, Joesley também relatou a Temer que tinha relações com dois juízes e um procurador em Brasília para obstruir ações da Justiça. No diálogo, Temer não fez qualquer objeção à narrativa de Joesley, como também não comunicou a suposta tentativa de obstrução às autoridades policiais, o que pode ser visto como prevaricação.

O tempo de Janot é curto. Seu mandato terminará daqui a apenas um mês e meio, o que o obriga a acelerar a apresentação da segunda denúncia antes da ascensão de sua colega Raquel Dodge. Escolhida por Temer como sua substituta, ela foi a segunda mais votada na lista tríplice apresentada pela Procuradoria. Foi a primeira vez desde 2003 que a escolha do chefe do parquet não atendeu à preferência da maioria dos procuradores.
Há riscos de o próprio Janot ser alvo de ações judiciais por parte de investigados da Lava Jato assim que deixar o comando, como informou a coluna da jornalista Mônica Bergamo, da "Folha de S.Paulo", nesta quinta-feira 3. Se as iniciativas contra Janot forem adiante, elas serão apresentadas ao Superior Tribunal de Justiça, pois o atual procurador-geral manterá foro privilegiado se seguir como subprocurador.
Com a escolha de Dodge, Temer pode ter influência sobre a Procuradoria para rever ou mesmo anular o acordo de delação firmado por Janot com a JBS e Joesley Batista. A proximidade da futura procuradora-geral com o ministro do STF Gilmar Mendes, um notório crítico da delação que atingiu Temer, também pode beneficiar o atual presidente.
Em julgamento sobre a homologação do acordo da JBS, Mendes sugeriu uma possível anulação do acordo caso se comprovasse que Joesley era "chefe de quadrilha". Na legislação sobre acordos de colaboração, um chefe de quadrilha não pode ser beneficiado com redução da pena por contribuir com a Justiça.

Em reportagem recenteCartaCapital apurou que uma das pontes de Dodge com o Palácio do Planalto nos últimos tempos foi justamente Loures. Além do contato com o “maleiro”, a futura procuradora-geral teria ido ao Planalto para reuniões noturnas e secretas. E ao gabinete de Gilmar Mendes, conselheiro e advogado informal do presidente. Temer e Mendes jantaram na casa do ministro no dia da eleição da lista tríplice. 
Recentemente, Janot garantiu que "enquanto houver bambu, vai ter flecha", ao se referir às novas acusações contra Temer a serem apresentadas antes do fim de seu mandato. Embora ainda haja "bambu" em abundância, ou seja, matéria-prima para "denúncias-flechas" da Procuradoria contra Temer, o próximo cacique não parece disposto a travar com o mesmo empenho a guerra contra as tribos do Executivo e do Legislativo.
Não há dúvidas de que haverá bambu suficiente para Dodge disparar flechas após o fim do mandato de Janot. Resta saber se o alvo continuará a ser o atual presidente e a classe política, ou o próprio trabalho do atual procurador-geral. 
Com Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Saem 'família' e 'Deus', entram 'reforma' e 'estabilidade': os termos mais ditos pelos deputados na votação de Temer


Votação do impeachment de Dilma e da denúncia de TemerDireito de imagemAGÊNCIA BRASIL/REUTERS
Image captionMenções a família e a Deus diminuíram muito na votação da denúncia contra Temer

Os deputados federais evitaram menções religiosas e a familiares em seus votos na sessão que salvou o presidente Michel Temer nesta semana. É o contrário do que ocorreu na votação que autorizou o impeachment de Dilma Rousseff, em abril de 2016. Falas sobre a situação econômica do país e a corrupção prevaleceram desta vez.
Em 17 de abril de 2016, quando a Câmara dos Deputados autorizou o prosseguimento do processo de impeachment de Dilma, a palavra "Deus" foi mencionada mais de 70 vezes pelos deputados. O termo "família" aparece 125 vezes nas notas taquigráficas da ocasião.
Já nesta quarta-feira, quando a Câmara decidiu pelo arquivamento do caso contra Temer, estes termos praticamente sumiram das falas dos deputados. "Deus" só foi citado oito vezes. E "família" surge apenas em 23 trechos no registro da sessão.
Ao todo, 263 deputados votaram a favor do presidente, e 227 contra. Para que ele pudesse ser processado criminalmente, seria necessário o aval de 342 deputados (dois terços da Câmara). Graças ao resultado favorável, a acusação de corrupção passiva contra Temer pela Procuradoria-Geral da República não será enviada para apreciação do Supremo Tribunal Federal.

Montagem com palavras mais citadas nas duas ocasiçõesDireito de imagemMONTAGEM
Image captionMontagem com palavras mais citadas na Câmara durante sessões do impeachment de Dilma, à esquerda, e de análise do relatório contra Temer, à direita

Durante a votação, os termos que mais apareceram foram aqueles que fazem menção às acusações de corrupção contra o peemedebista e à situação econômica do país. Explica-se: de um lado, a oposição tentava arranhar ainda mais a imagem de Temer e de seus aliados. De outro, a base aliada se mostrou afinada no discurso de "salvação nacional".
A palavra "denúncia" aparece 152 vezes nas notas da sessão de quarta-feira, junto com "investigação" (97 vezes) e "corrupção" (75 vezes). O discurso econômico também é muito presente. "Reforma" e "reformas" foram mencionadas 99 vezes, assim como "estabilidade" (62 vezes) e "economia" (57 vezes).
Um discurso comum entre os deputados que votaram a favor de Temer: o afastamento do presidente criaria, disseram eles, ainda mais instabilidade política no país, prejudicando a retomada da economia.
"Investigar é preciso, mas não é urgente. Urgente é unir trabalhadores e empreendedores do Brasil para desenvolver o país", declarou o deputado Júlio Lopes (PP-RJ) em seu voto. Ele se refere ao fato de que a investigação contra Temer voltará a tramitar na Justiça comum quando o peemedebista deixar a Presidência da República.
Arthur Oliveira Maia (PPS-BA) foi na mesma linha: "Eu voto a favor da recuperação da economia. Eu voto a favor de milhões de desempregados que estão vendo, neste momento de recuperação econômica, a sua salvação. Eu voto a favor do relatório do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG, favorável a Temer)".

Júlio Lopes (PP-RJ)Direito de imagemAGÊNCIA BRASIL
Image captionJúlio Lopes (PP-RJ) ressumiu discurso comum entre apoiadores de Temer: "investigar não é urgente"

O próprio Temer ecoou a tese dos aliados em uma declaração à imprensa, logo depois do fim da votação na Câmara.
"Estamos retirando o Brasil da mais grave crise econômica de nossa história. Embora seja repetitivo, eu digo que é urgente colocar o país nos trilhos do crescimento, da geração de empregos, da modernização e da justiça social", disse.
Na lista de palavras das votações que selaram o destino de Dilma e de Temer, o único ponto em comum são as menções constantes às investigações, geralmente por deputados de oposição. A palavra "corrupção" aparece 75 vezes nas notas taquigráficas de Temer, e 86 nas de Dilma.
"As digitais de cada um dos senhores ficarão na história. Ou você defende as investigações, o trabalho da Justiça, a Lava Jato, ou você se alia a esse governo, que é um governo que tira direitos e está mergulhado em um mar de corrupção", afirmou o deputado de oposição Aliel Machado (Rede-PR).

"Golpe" caiu em desuso

Ao longo do processo que terminou com o impeachment de Dilma, o PT e outros partidos de esquerda argumentaram que a ex-presidente foi vítima de um "golpe". Mas, a julgar pelo registro da sessão de quarta-feira, a tese do golpe já não tem mais tanta força para a oposição.
O termo "golpe" apareceu 141 vezes nas falas dos deputados nas 331 páginas de notas taquigráficas que registraram tudo o que foi dito durante a sessão do impeachment de Dilma. Já na votação da denúncia contra Temer, a palavra só foi dita 10 vezes.

Deputados da oposição em votação da denúnciaDireito de imagemEPA
Image captionOposição a Temer citou o termo "golpe" dez vezes durante votação na Câmara

A ausência de manifestações populares significativas durante a votação da quarta-feira também não passou despercebida aos deputados.
As "ruas" foram mencionadas 74 vezes na votação do impeachment de Dilma, mas só 12 vezes durante a votação que salvou o governo Temer.

Disputa de narrativa

Geralmente, a distribuição de cargos e verbas por si só não é suficiente para vencer votações importantes no Congresso. É preciso também criar uma justificativa plausível que deputados e senadores possam repetir para seus eleitores.
"No fim das contas, o governo foi bem-sucedido em duas frentes: tanto na negociação fisiológica de cargos, emendas e benesses, quanto na criação de uma narrativa convincente. A fisiologia é fundamental, mas precisa estar calcada num discurso", diz o analista político Richard Back, da corretora XP Investimentos.
"E de certa forma há dados para sustentar esse discurso. O desemprego finalmente parou de crescer, os juros estão recuando e o PIB (a soma de tudo que o país produz) não deve despencar em 2017", diz Back.
"Houve quem votasse com Temer com medo de que a crise política retroalimentasse a crise econômica. Era uma preocupação real para alguns deputados. Como se dissessem: 'podemos até não ser a solução, mas pelo menos não estamos aumentando o problema'", diz o analista, que acompanhou a votação no plenário da Câmara.

Nova denúncia?

Na quarta-feira, a Câmara determinou que a ação contra Temer só voltará a ser analisada pela Justiça quando o peemedebista deixar de ser presidente.
Mas a agonia do governo pode se repetir nos próximos dias. É possível que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente nova denúncia contra o peemedebista, desta vez pelos crimes de obstrução à Justiça e formação de quadrilha. Neste caso, todo o rito no Congresso se repetiria. Por BBC.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Com dívida de R$ 20 mil e sem salário, professora da Uerj compartilha extrato bancário zerado


Professora Stela Guedes Caputo, da UerjDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionProfessora Stela Guedes Caputo, da Uerj, não recebe salários há três meses e vê as contas acumularem

A professora Stela Guedes Caputo, de 50 anos, tomou um susto quando, na semana passada, checou sua conta bancária: estava vazia, zerada, sem nenhum tostão. Ela não tinha nem sequer um real para ajudar a pagar a passagem até a universidade pública onde dá aulas há cinco anos, a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Não que Caputo tenha dificuldade para administrar suas contas. O problema é outro: o governo do Estado não paga o salário dos professores da Uerj há três meses. Governado por Luiz Fernando Pezão (PMDB), o Rio de Janeiro passa por uma crise financeira que afeta o pagamento de servidores públicos de vários setores.
A gestão diz reconhecer a importância da universidade e ter concentrado esforços para solucionar os problemas financeiros da instituição.
Caputo, que dá aula em cursos de graduação e pós na área de educação, decidiu publicar o extrato de sua conta zerada no Facebook. Junto, postou um texto de protesto contra os atrasos salariais. A publicação já teve mais de 1,5 mil compartilhamentos.
"É como estar desempregada, só que trabalhando. Eu quis mostrar porque não sei se todo mundo entende o que estamos passando", escreveu ela. "Ver aquela conta zerada, o que nunca tinha acontecido comigo, foi um soco no coração."
Diante das "condições precárias da universidade", em suas próprias palavras, o reitor da instituição, Ruy Garcia Marques, anunciou nesta segunda-feira a suspensão das aulas dos cerca de 30 mil alunos.
Ele justificou a suspensão, que não tem prazo de acabar, citando o drama dos professores: "O atraso salarial, cada vez maior, gera endividamento crescente, insegurança, angústia e situações de estresse incontroláveis, maximizadas naqueles que se veem impedidos até da simples compra de medicamentos para manutenção básica da saúde".

Publicação da professora Stela Guedes Caputo no FacebookDireito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionStela Guedes Caputo diz que está devendo R$ 20 mil, além de prestações de seu apartamento

Em entrevista à BBC Brasil, Caputo diz que tem passado por problemas como os citados pelo reitor. "Estou me sentindo humilhada por dar aulas, por trabalhar e não receber. O (governador) Pezão está roubando a dignidade dos professores da Uerj", diz.
A universidade passa por uma crise financeira desde 2016. Há um ano, o governo estadual começou a pagar os salários dos 2,4 mil professores de forma fracionada. Em alguns meses, os vencimentos eram divididos em até cinco parcelas.
Desde outubro, no entanto, os atrasos começaram a ser constantes. A gestão ainda não pagou o 13º salário de 2016 e as férias de professores e funcionários. Também houve atrasos no pagamento de empresas terceirizadas de limpeza, vigilância e manutenção, contratadas por meio de licitações públicas. Neste ano, bolsas de docentes e alunos, inclusive cotistas, também não estão sendo depositadas.

Aluno entra em campus da Uerj, no RioDireito de imagemTÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL
Image captionA universidade pública passa por problemas financeiros desde 2016, com atraso de pagamentos

Muitas cobranças

As contas de Caputo começaram a se acumular com os atrasos da universidade. O último salário que ela recebeu foi o de abril, pago também de forma fracionada.
Hoje, ela diz que deve quatro parcelas - R$ 2.7 mil cada - do financiamento do apartamento que comprou em 2012. "O que eu faço se a Caixa Econômica resolver tomar minha casa por falta de pagamento?", questiona. O banco público já enviou cartas cobrando as prestações.
A professora também deve a fatura do cartão de crédito e cerca de R$ 20 mil para amigos e parentes que a socorreram em situações de emergência. Também desligou o telefone para não receber mais ligações de cobrança - sua luz já foi cortada.
Outro drama é manter as aulas, produção de pesquisas e participação em congressos acadêmicos sem receber salário.
No mês passado, Caputo viajou para um congresso em Maceió. Ganhou passagem e hospedagem, mas tinha apenas R$ 40 na conta para outras despesas. "É muito constrangedor quando você evita sair com seus colegas porque não tem dinheiro para pagar um jantar", conta.

Veículos abandonados no campus da UerjDireito de imagemTÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL
Image captionEmpresas de limpeza, manutenção e vigilância também sofreram com falta de pagamento de contratos

Greve e pagamento

Em junho, a Justiça do Rio intimou Pezão a cumprir uma liminar que obrigava o governo a pagar os salários dos servidores da Uerj em 48 horas. O governador disse que não tinha dinheiro para quitar a dívida.
Nesta segunda, o peemedebista pediu ao governo federal para ingressar no Regime de Recuperação Fiscal, uma espécie de socorro da União para ajudar a recuperar as finanças do Estado.
"A adesão ao regime de recuperação fiscal permitirá o reequilíbrio financeiro do Estado, possibilitando a regularização do pagamento dos salários dos servidores ativos, inativos e pensionistas e do custeio das atividades fundamentais para prestação de serviços à população", afirmou o governo estadual em nota à BBC Brasil. A gestão, porém, não deu prazos.
No início do ano, parte dos professores da Uerj iniciaram uma greve contra a falta de pagamento. Em março, Pezão ameaçou cortar os vencimentos dos grevistas em 30%.
O orçamento estadual previa um repasse de R$ 1,1 bilhão à universidade em 2016. No total, R$ 767,4 milhões foram enviados. Segundo o governo, a diferença ocorreu por causa da "crise finanças estaduais, provocada pela significativa queda na receita de tributos em consequência da depressão econômica do país, pelo recuo na arrecadação de royalties e a redução dos investimentos da Petrobras".
"Em relação ao pagamento de pessoal da Uerj, encontram-se em aberto os salário de maio e junho, assim como para demais categorias. No dia 14/7, foram pagos R$ 550 referentes ao salário de maio", disse a gestão Pezão, sem mencionar os valores referentes a julho.
Enquanto não recebe os salários atrasados, Caputo vive como pode. Tem feitos alguns trabalhos esporádicos, pois, como é contratada em regime de dedicação exclusiva, não pode ter vínculo empregatício com outra empresa.
Na manhã desta terça, a professora foi até a caixa de correio de seu prédio. Achou que receberia outra cobrança. Dentro de um envelope, encontrou R$ 450 e uma carta anônima.
"Fiquei emocionada. Não sei quem enviou a doação. A pessoa escreveu que admira a força dos professores da Uerj", conta.
Professor Edgar Bom Jardim - PE