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sábado, 3 de fevereiro de 2018

Parque livre para criança na tarde do município


Antes das 14 horas e 30 minutos, debaixo de sol quente, brinquedos pegando fogo, a garotada iniciava a brincadeira ingnorando a chegada da equipe da prefeitura chegar e organizar o evento na tarde da prefeitura. Alguns condutores de carros e motos passavam na rua cheia de gente.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Cidadania:Justiça suspende aumento de passagens de ônibus independente da decisão do CSTM


O juiz da 4ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Djalma Andrelino Nogueira, concedeu uma liminar, na tarde desta quarta-feira, negando o pedido da ação cautelar, movida por movimentos sociais, que solicitava o cancelamento da reunião do Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM), marcada para a próxima sexta (12). Durante o encontro, será deliberado o percentual de reajuste das tarifas dos ônibus que circulam na Região Metropolitana do Recife. Na liminar, contudo, o juiz Djalma Andrelino determinou, em primeira instância, a suspensão de qualquer aumento nas passagens, independente do que for decidido na reunião de sexta-feira. Entre as justificativas da medida, o juiz entendeu que o aumento das tarifas nos últimos três anos “teria superado em muito o índice do IPCA)”.

Governo determina adiamento de reunião do CSTM sobre reajuste de tarifa

Ainda segundo a decisão, aprovação de qualquer reajuste nas passagens não teria legitimidade porque o mandato dos membros que hoje compõem o CSTM foram encerrados em 2017. O juiz também dá um presente de dez dias para que o Grande Recife Consórcio apresente estudos técnicos, planilhas analíticas, entre outros documentos, que possam justificar o aumento das passagens de ônibus na RMR.
“Como conselheiro do CSTM, eu tenho propriedade para dizer que os estudos apresentados no site do Grande Recife Consórcio são sintéticos. Não fornece notas fiscais e planilhas que comprovem os gastos listados por eles. Hoje, sabemos que a receita bruta annual do sistema de transporte público na região metropolitana gira em torno de R$ 1 bilhão, com lucro líquido para os empresários de R$ 15 milhões por mês”, afirmou Márcio Morais, um dos conselheiros do CSTM que representa os estudantes.

CONFIRA NA ÍNTEGRA A NOTA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA


O juiz da 4ª Vara da Fazenda Pública de Pernambuco, Djalma Andrelino, decidiu, na Ação Popular 0001011-03.2018.8.17.2001, que a reunião do Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM), marcada para esta sexta-feira, (12/01), para discutir o aumento das passagens de ônibus no Grande Recife, não será suspensa. Porém, ele suspendeu a aplicação de reajuste das passagens, caso seja acordada na reunião do Conselho. A íntegra da decisão está em anexo.

Diário de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

O professor, sua esposa e a foto que gerou milhares de reações de apoio no Twitter


John Struthers e Justina
Image captionStruthers e Justina se conheceram na Universidade de Glasgow, na década de 1970 | Foto: @jjstruthersuk / reprodução Twitter

No dia 26 de dezembro, o professor John Struthers, cônsul honorário da Etiópia na Escócia, compartilhou no Twitter uma foto sua com a esposa, Justina. A imagem foi feita em julho de 2017, em uma festa no Queen's Garden de Edimburgo.
Na imagem, Struthers aparece vestido com o típico kilt escocês. Já a esposa estava com um colorido vestido de kente, um tecido tradicional em Gana.
A foto acompanhava uma mensagem sobre a luta contra o racismo.
"Achei que deveria compartilhar... Temos recebido olhares de desaprovação. Estamos cansados. 'Essa é a sua esposa?' e muitos outros atos questionando nossa relação durante mais de 40 anos! Nunca fraquejamos! A melhor forma de lutar contra o racismo é viver a sua vida de cabeça erguida e educando (as demais pessoas)", dizia o tuíte de Struthers.

o tuíte de Struthers
Image captionO tuíte de Struthers 'viralizou' de forma inesperada | Foto: @jjstruthersuk / reprodução Twitter

O comentário do professor sobre sua experiência como parte de um casal interracial encontrou eco em milhares de pessoas. Foram mais de 52 mil likes e 17 mil retuítes.
Struthers comentou depois que "as respostas ao post foram reconfortantes e massivas".
O post parece ter tocado um ponto sensível para outros casais interraciais e as famílias formadas por estes.
O usuário Michael Brown, da cidade de Rocky Hill (Connecticut, EUA) postou uma foto da sua cerimônia de casamento com a esposa, Kehinde, que é nigeriana. "Com certeza, viver uma vida plena é a melhor arma contra o ódio", disse ele.

Michael e Kehinde Brown ao se casarem
Image captionMichael e Kehinde Brown, no dia do seu casamento | foto: Bayline Studios photography

Também repercutiu muito nas redes uma foto do tuiteiro Jay Smith. Ele postou a imagem de um porta-retrato que mostra seus avós: um homem negro e uma mulher branca.
Para Jay, sua avó "escolheu o amor ao invés da ignorância e do fanatismo". Ela vive hoje com o esposo perto de Liverpool, na Inglaterra.

Porta-retrato
Image captionJay Smith postou a foto de um antigo porta-retrato de seus avós | foto: @jstands4jay / reprodução Twitter

"Respeito total pelos dois. Minha avó foi deserdada pela família dela no começo da década de 1950 por ter se casado com o meu avô, que veio da Nigéria (ela era do Condado de Mayo, na Irlanda)", escreveu ele.
O militar americano Jeff Price conheceu a esposa em Abuja, Nigéria, quando esteve por lá em 2010. A família vive hoje em Sacramento (EUA).
Price respondeu ao tuíte do professor Struthers elogiando-o pela coragem. Disse, que, nos nove anos de relacionamento com sua esposa, nunca experimentou um "pico de racismo".
"Mas não é como se isto fosse garantido; é algo pelo qual devemos dar graças", disse ele. "Gente como você e sua esposa abriram caminho para nós ao manter a cabeça erguida, educando e vivendo na diversidade", disse ele.

A família Price.
Image captionJeff e Kayla Price se conheceram em Abuja, Nigéria. Hoje vivem na Califórnia. | Foto: @BigJP10 / reprodução Twitter

Outro usuário identificado como Will respondeu ao tuíte de Struthers com uma foto de sua família. Eles vivem no norte de Londres, Inglaterra.
"Inspirador. Para nós já são 17 anos. Diversidade é a resposta", disse ele.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Menina de 11 anos viraliza com reportagens de brincadeira para denunciar problemas da periferia

Mirella, Marjory, Pablo e PetersonDireito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionMirella (à esq.) e os irmãos brincam de fazer um telejornal e mostram problemas do bairro onde vivem em Ribeirão Preto Foto | Reprodução
De férias e sem ter como sair para passear com os irmãos, Mirella Archangelo, 11, perguntou para a mãe, Amanda Sales, por que algumas crianças podiam ir todos os dias ao shopping e viajar enquanto eles precisavam ficar em casa.
A mãe então explicou que isso acontecia porque algumas pessoas tinham condições financeiras, o que não era o caso deles, já que ela e o marido se dividem para manter um estúdio de tatuagem e criar os quatro filhos - além de Mirella, os gêmeos Pablo e Peterson, 8, e Marjory, 6.
A menina quis saber mais, e ouvindo a mãe e pesquisando por conta própria, viu que assim como ela, outras crianças que vivem nas periferias não têm opções de lazer nas férias, já que os pais trabalham e não podem custear passeios.
Irmãos brincam de 'equipe de TV' para denunciar problemas na periferia de Ribeirão Preto
Alguns dias depois, a sala da casa da família, no bairro Parque Avelino, em Ribeirão Preto, interior paulista, havia se convertido em um estúdio de TV. Peterson levava no ombro uma câmera feita com caixas de sapato e tecido. Mirella caminhava segurando um microfone de espuma e plástico reciclado, com o logotipo da Globo.
Ela para em frente à falsa câmera e fala: "Esse é o 'Jornal Comunitário' e o assunto de hoje é férias. Fiz uma pesquisa e descobri que muitas crianças não têm nada para fazer nas férias. Os pais têm que ir trabalhar, não podem se divertir com aquela criança; aí a criança acaba indo para lugares errados, aprender coisas erradas. Muitos bairros não têm nada a oferecer às crianças. E os bairros que têm oficinas (culturais), elas poderiam ser mais divulgadas para as famílias levarem seus filhos". E encerra: "Agora vamos sair desse assunto chato e vamos descobrir um pouco mais de esporte com o Pablo".
O irmão então assume o microfone e começa a falar dos times brasileiros. Na sequência, é a vez da caçula Marjory informar a previsão do tempo: "Tá um pouco de chuva, mas vai que faz sol".

Jornalista ou prefeita

Postado no Facebook pela mãe, esse é um dos vídeos feitos pelos irmãos que viralizou nas redes sociais. Em todas as gravações, um tema em comum: Mirella, como repórter, aponta problemas em seu bairro e cobra do poder público ações que possam melhorar a vida das pessoas não tão favorecidas como ela.
No mais famoso deles, que chegou a ser exibido e inspirou reportagem no telejornal local da Globo, ela mostra os buracos e problemas constantes da sua rua, que fica alagada com frequência, e desabafa no final: "A população já cansou dessas buraqueiras. Será que vou ter que deixar meu sonho de jornalismo de lado para virar prefeita?".
Mas Mirella, que acaba de passar para o 6º ano do ensino fundamental, não tem muita ideia do que um prefeito faz. "Imagino que rouba verba das crianças nas escolas", diz ela à BBC Brasil, por telefone. "Ele deve dar umas melhorias também. Preciso estudar, me aprofundar sobre isso."
Ser política, no entanto, não está nos seus planos. Conta que falou aquela frase sem pensar muito, com a ajuda do pai, Julio Buyu.
"Eu queria ser professora, porque gosto de ensinar os outros. Eu ajudo meus irmãos com português e matemática. Mas agora desisti e quero ser jornalista", diz ela, que tem como inspiração Glória Maria e Rodrigo Bocardi. "Gostei das pessoas me reconhecerem na rua, de ajudar as pessoas, de arrumar a minha rua, poder ajudar a arrumar os lugares."
Mirella ArchangeloDireito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionMirella, que queria ser professora, agora está decidida a virar jornalista - ela tem como inspiração Gloria Maria e Rodrigo Bocardi
A denúncia em relação às más condições da própria rua, no entanto, ainda não surtiram efeito. Após seu vídeo circular nas redes sociais, uma equipe local da Globo foi até lá para gravar com a família de Mirella e mostrar os problemas. A prefeitura prometeu resolver tudo em um mês e meio e não cumpriu.
"Eu reclamo dos vazamentos e dos buracos há dez anos, nunca ninguém fez nada. Foi só aparecer esse vídeo para a prefeitura vir aqui olhar", conta a mãe, Amanda. Ela diz, no entanto, que nunca foi a intenção das crianças fazer esses vídeos só para apontar os problemas. "Tudo partiu da brincadeira deles."
Procurada pela BBC Brasil, a Prefeitura de Ribeirão Preto informou, via assessoria, que a recapagem da rua de Mirella e os outros serviços serão feitos no início de 2018. E explicou que as obras ainda não foram feitas "por absoluta falta de recursos, já que a atual gestão herdou uma dívida de quase R$ 2 bilhões (entre flutuante e fundada), para um orçamento de R$ 2,9 bilhões".

Inspiração

Mirella conta que aprendeu a imitar o trabalho dos jornalistas assistindo todo dia ao telejornal de manhã e que as ideias para os "jornais" surgem do que ela acha que "precisa arrumar", do que pensa na hora. A de falar da falta de opção de lazer nas férias foi assim.
"Tem muitas crianças que saem pro shopping e muitas ficam em casa sem fazer nada, tipo eu. Minha mãe explicou que era porque a gente não tinha muito dinheiro, e pensei em falar das oficinas para divulgar. Porque eu acho que devia ser igual para todo mundo. Ou ficava todo mundo em casa, ou saía todo mundo", diz ela.
Nesta semana, sua mãe, que é a verdadeira cinegrafista por trás dos vídeos, registrando a ação com um celular, lançou a página Jornal Mirim no Facebook para reunir os vídeos que ela e os irmãos fazem. A ideia, Amanda diz, é que eles postem vídeos quando tiverem vontade e que não façam apenas "reportagens" reclamando da falta de ação da prefeitura.
"As pessoas precisam saber que ela não é repórter investigativa. Ela é uma criança que brinca de ser repórter. Eu alimento a brincadeira com meus filhos pelo lado saudável. Eles fazem vídeos de dança, de várias coisas. Isso não é a profissão deles, eles são crianças que brincam com vídeos", afirma Amanda.
Mirella avisa que ela e sua equipe familiar produzirão vídeos com mais brincadeiras, mas sempre tratarão de algum tema importante. "No próximo eu quero falar de maltratar animais", diz a dona da cachorrinha Jade e de dois coelhos ainda sem nome.
Marjory, Mirella, Peterson e PabloDireito de imagemAMANDA SALES
Image captionDa esq. para a dir.: Marjory faz a previsão do tempo, Mirella é a repórter/apresentadora do jornal fictício, Peterson, o câmera, e Pablo, comentarista esportivo Foto | Amanda Sales
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

'Virei pintor após ficar tetraplégico'

Aos 34 anos, a rotina de Ronaldo Serafim era bastante agitada. Dentista, começava cedo no consultório, de onde saía apenas à noite, diretamente para a faculdade onde dava aulas. Voltava para casa tarde e ainda assim invadia a madrugada estudando para o mestrado. Serafim queria atender às expectativas de ser um profissional de sucesso: especializações, cursos no exterior, e trabalho, trabalho, trabalho.
Não havia tempo a perder, nem mesmo com o sono. A estratégia dele era reservar apenas três ou quatro horas diárias para dormir, algo considerado abaixo do necessário por especialistas. Até que um desses dias comuns na sua rotina terminou mal: na volta para casa de madrugada, ele dormiu ao volante.
"Eu estava com tanto sono que, um minuto antes do acidente, eu tirei o cinto de segurança. Estava chegando em casa. Só deu tempo de segurar no volante. Com sono, você não raciocina. Quando bati, eu fui projetado para o painel do carro, e aí fraturei entre a sexta e sétima vértebra da medula", contou à BBC Brasil.
Após o acidente em agosto de 2009, Serafim passou 40 dias no hospital e saiu de lá em uma maca, tetraplégico. Ele não mexia as pernas, as mãos e o abdômen, e tinha apenas alguns movimentos nos punhos e nos ombros. Teve de reaprender as coisas mais básicas com seu novo corpo - tarefas "simples" como ficar sentado, se alimentar e escovar os dentes viraram grandes desafios.
Mas as limitações não trouxeram apenas obstáculos e fizeram o então dentista descobrir uma nova vocação: as artes plásticas.
Foi no Centro de Reabilitação Sarah, no Rio de Janeiro, que Serafim entendeu que poderia ter uma vida "normal" com uma rotina diferente, porém não menos prazerosa.
"Durante a reabilitação, tem um pessoal que te mostra tudo o que você pode fazer. Lá eu vi que era possível ir para uma academia malhar, conheci o esporte que pratico hoje, o rúgbi em cadeira de rodas. E descobri que eu poderia pintar", afirmou.
Ronaldo Serafim pintando
Image captionSerafim moldou adaptador para conseguir segurar pincel e descobriu nova paixão | Foto: Arquivo Pessoal

Sem controle da temperatura corporal

Ronaldo Serafim havia inaugurado seu consultório próprio de Odontologia no Rio de Janeiro apenas duas semanas antes de sofrer o acidente que o afastaria definitivamente da profissão. No começo, resistiu em se desfazer do aparato de trabalho.
"Na época, ainda no hospital, eu não entendia a gravidade. Achava que se me esforçasse bastante, com muita fisioterapia e força de vontade, seria possível reverter (o quadro de tetraplegia)", contou.
O primeiro choque na volta para casa veio justamente com as ações mais prosaicas. "Nos três primeiros dias depois de chegar em casa, fiquei sem banho. Tivemos que adaptar o banheiro para eu poder entrar. Fora o fato de que, como fiquei muitos dias no hospital deitado, quando eu sentava para tomar banho, eu desmaiava. A primeira semana é bem punk, você tem que ter paciência para absorver aquilo."
Ronaldo Serafim na praia
Image caption"O acidente me fez enxergar que muitas vezes a gente pensa muito no fator dinheiro antes dos nossos sonhos", disse Ronaldo Serafim
Tetraplégicos não conseguem transpirar, por exemplo, e isso exige um cuidado especial com a temperatura ambiente. As necessidades fisiológicas também requerem uma atenção diferente.
"Pelo fato da lesão ser alta, ela atinge uma região da medula que faz uma regulação automática de uma série de ações da gente. Então, no calor, em vez de eu ficar transpirando, eu transpiro zero e a temperatura do corpo começa a subir. Você sente um calor absurdo e não se alivia, é desesperador. Eu já saí de um jogo de rúgbi com mais de 40 graus, por exemplo. O frio também é muito ruim, porque a sua temperatura abaixa muito", relata.
Ronaldo Serafim no rúgbi de cadeira de rodas
Image captionApós acidente, Serafim passou a jogar rúgbi de cadeira de rodas e viajou o país todo em competições (Foto: Thelma Vidales)
"Esse mesmo centro regulador é responsável por contrair a bexiga, então não há a capacidade de urinar sozinho. Preciso esvaziá-la de tempos em tempos, passar a sonda de 4 a 5 vezes ao dia. E aí é preciso de um lugar higiênico para não correr riscos de se contaminar".
Foi principalmente quando começou no rúgbi de cadeira de rodas, em 2012, que Serafim teve contato com outras pessoas que tinham a mesma deficiência e aprendeu estratégias para "driblar" as limitações físicas e levar uma vida independente.
"Quando você é cadeirante, parece que fica infantilizado. As pessoas começam a falar com você como se fosse uma criança. E todo mundo quer fazer tudo para você, para te ajudar. Isso acaba até te tolhendo de certa forma."
Ronaldo na academia
"O maior ganho para mim com o rúgbi é poder estar com gente que tem o mesmo problema que eu, isso é um aprendizado constante. Eu via os caras viajando de carro para os jogos e aí fui atrás de entender como poderia dirigir. Você participa de torneio, viaja de avião, vai para lugares que não são adaptados, e isso exige mais criatividade. Vai te dando segurança, autoconfiança."

Pintura

Se voltar a se exercitar e retomar atividades cotidianas trouxe alívio na rotina, a mudança mais profunda na vida de Serafim veio com a redescoberta da pintura. Acostumado a exercer uma profissão que exigia habilidades motoras e fina precisão manual, ele entendeu pouco tempo depois do acidente que o trabalho como dentista era inviável. Mas o talento com as mãos ainda poderia ser explorado.
Adaptador criado por Serafim para poder pintar
Image captionCom adaptador, Serafim consegue segurar pincel e ter estabilidade no traço
Adaptador criado por Serafim para poder pintar
Image captionAdaptador criado por Serafim para poder pintar
"A pintura era muito esporádica para mim (antes do acidente), se eu fizesse dois trabalhos por ano era lucro. Depois (como tetraplégico), eu não conseguia ver minha mão segurando um pincel ou um lápis. A gente não sabe nosso potencial e tem que estar com alguém que nos mostre que é possível."
Ainda no Centro de Habilitação, em 2011, Serafim pode experimentar um primeiro adaptador. A ferramenta não oferecia tanta estabilidade, mas operou maravilhas na auto-estima. "Eu pensei: bom, alguma coisa na vida eu vou conseguir fazer."
Já em casa, o conhecimento como dentista lhe valeu. Ele usou as resinas que antes aplicava nos dentes de pacientes para moldar seu próprio adaptador. "Peguei a resina, manipulei, fingi a posição da mão segurando uma caneta. Fiz um protótipo que durou cinco anos", contou.
Com ele, Serafim passou a pintar com frequência, melhorou sua técnica e viu que seria possível também escrever com um traço perfeito, como fazia antes do acidente. Assim, decidiu voltar a estudar e foi fazer um curso de alemão.
pintura de Ronaldo Serafim
Image captionRonaldo Serafim gosta de se inspirar em paisagens do mundo todo para fazer suas pinturas (Arquivo Pessoal)
"Você cria uma coisa e ela te abre possibilidades que antes você não pensava, porque você estava travado", disse.
Hoje, o adaptador que ele usa é um pouco mais sofisticado e resistente. "Moldei a mão no silicone industrial e, a partir dessa empunhadura, consegui esculpir um novo adaptador com mais refinamento. Para não quebrar quando caísse, eu usei três lâminas de fibra de carbono. Comprei material, estudei. Me acidentar e parar de trabalhar como dentista me fez ver possibilidades de aprender coisas novas."

Realizações

A rotina de Serafim hoje é bem mais tranquila do que a que levava como dentista. Aposentado na profissão, ele sobrevive com o valor do benefício que recebe do INSS e alguns rendimentos dos investimentos que aprendeu a fazer estudando finanças pela internet após o acidente. Treina rúgbi de cadeira de rodas duas vezes por semana, vai à academia com a mesma frequência e reserva um tempo quase diário para a pintura. E exercita a paciência a cada vez que sai de casa.
Com carro próprio, ele consegue amenizar um pouco as dificuldades rotineiras pelas quais passa um cadeirante no Brasil, mas reforça que a falta de lugares adaptados para pessoas com deficiência ainda é um grande impeditivo que faz com que muitos fiquem "presos".
quadro de Ronaldo
Image captionQuadro que Serafim começou a pintar com a reportagem da BBC Brasil (Arquivo Pessoal)
"Quem para na vaga de deficiente na rua é multado. Mas no shopping ainda não é. Eu já parei num shopping e aquela área grande do lado que é marcada com as linhas, uma moto da prefeitura parou exatamente na minha porta. O cara acha que aquela área rabiscadinha é para moto estacionar...e o carro que está ali do lado que se dane", contou.
Ronaldo Serafim e os obstáculos no caminho para a praia
Image captionNo caminho para a praia, Ronaldo Serafim precisa ir boa parte do trajeto pela rua por causa da falta de espaço nas calçadas
Com 42 anos de idade e quase uma década de tetraplegia, Ronaldo Serafim já aprendeu alemão, morou em Heidelberg (a 600 km de Berlim) por alguns meses, viajou o Brasil todo e visitou outros vários lugares do mundo jogando rúgbi em cadeira de rodas. Agora, ele usa sua memória visual das paisagens que conheceu para transformá-las em arte nos quadros que pinta em casa.
"Eu gostava de correr e jogar futebol, isso me faz falta. Mas substituindo uma coisa pela outra, eu vejo assim: antes, apesar de eu fazer tudo isso, eu tinha uma vida muito mais presa por causa do trabalho", pondera.
"Se existisse uma super cura, eu não voltaria para a Odontologia. Eu me profissionalizaria em artes plásticas. O acidente me fez enxergar isso. Que muitas vezes a gente faz opções porque a gente se escraviza com a rotina, se escraviza com a vida financeira. Não é que o dinheiro manda na gente, mas a gente pensa muito no fator dinheiro antes dos nossos sonhos. Comparando a vida que eu tenho hoje com a que eu tinha, é até difícil de dizer qual é melhor. "
*Edição do vídeo: Ana Terra
Fonte: Renata Mendonça* B B C
Professor Edgar Bom Jardim - PE