quarta-feira, 16 de maio de 2018

O afeto: celebrações fabricadas e ilusórias



A solidão absoluta é uma mentira. Todos temos momentos de isolamentos. O que era a vida na época que Atenas desfrutava dos ensinamentos de Platão? O que é hoje o cotidiano marcado pelas máquinas e anseios? A história não escolhe caminhos , pode vacilar e cair em abismos. Não há destinos. A vida corre entre alegrias, desprezos, abandonos. Portanto, não consagremos datas para exprimir afetos, sem desconfianças. É bom comemorar, porém observar as sinuosidades do consumo faz parte da sabedoria.A geometria do universo está fora do cognoscível, por isso as agonias nos fazem mínimos.
A troca de presentes não é novidade. Quem conta aventuras se lembra de Ulisses. Nada como uma dádiva, uma abraço, um acolhimento. Depois que o capitalismo assumiu a dominação houve mudanças expressivas. As mercadorias se multiplicaram, os lucros se acenderam, o movimento do comércio extrapolou. Cria-se uma calendário para forçar comportamentos. Tudo é feito com estratégia bem montada. É preciso anunciar, produzir imagens, soltar o verbo inventando prazeres. As ruas se enchem de carros, os restaurantes reservam lugares, os ruídos se ampliam, porém as apatias não morrem, nem a fragilidade desaparece.
Não como negar que muitos relaxam. Outros amanhecem com ressacas, se sentem cínicos e se descobrem no meios de farsas. Não há expectativas homogêneas e os prazeres respondem perguntas dos vazios de cada um. O mundo não tem uma único ritmo,a sociedade arquiteta relações festivas, mas há esquisitices e mesquinharias. Querer que as relações sejam todas sinceras é um tormento. Estamos numa sociedade de refúgios, de políticas enganosas, de valores trêmulos. As dúvidas estão no meio do corpo e não adianta sepultá-las. Há pessoas que pessoas que torcem pelo fracassos, trancam os lábios, pintam-se com a palidez da melancolia.
Os humanos são espertos. Não consolidam a felicidade, sentem que há estranhamentos, mas se armam com astúcias e escondem-se em labirintos. Ninguém vive solidões infinitas. A história possui seus eternos retornos. Há exílios doloridos, depressões orgânicas, drogas radicalizadas. Não pense que a batalha do bem contra o mal é o resumo da tudo. Tudo se desenha em tempos e lugares. As hesitações perturbam, mas alertam. Quem se banha de luzes pode também penetrar na escuridão. Relacionar-se é um pertencimento. Sem ele, mergulhamos em contabilidades. O calendário não deve se congelado, nem opressivo. Respirar é um dever, para não acumular repetições. Adão e Eva nunca se amaram. Acreditavam no pecado original e num Deus que não viam.
Por Paulo Rezende. A astúcia de Ulisses
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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