segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Caminhada pelo fim da intolerância religiosa


Representantes de diversas religiões participam de caminhada na praia de Copacabana em defesa da liberdade religiosa.
No Rio de Janeiro, umbandistas do Centro Espírita Irmãos Frei da Luz foram agredidos com pedradas pelos frequentadores de uma Iurd situada ao lado desse Centro, na Abolição. Uma adepta da Tenda Espírita Antônio de Angola, no bairro do Irajá, foi mantida por dois dias em cárcere privado numa igreja evangélica em Duque de Caxias, com o objetivo de que esta renunciasse à sua crença e se convertesse ao evangelismo. Em Salvador, […], uma iniciada no candomblé teve sua casa, no bairro de Tancredo Neves, invadida por trinta adeptos da Igreja Internacional da Graça de Deus, que jogaram sal grosso e enxofre na direção das pessoas ali reunidas durante uma cerimônia religiosa […] Em São Luís, capital maranhense, alguns fiéis da Assembleia de Deus residentes no bairro acusaram os chefes do Terreiro do Justino, localizado na Vila Embratel, de sequestro de um bebê, filho de um casal de frequentadores da igreja que residia na vizinhança. Acreditavam que o bebê teria sido raptado para ser sacrificado nos ritos do terreiro. […] O terreiro, fundado há 104 anos, é um dos mais antigos da cidade e vem sofrendo pressões por parte dos evangélicos do bairro para que seja transferido dali. […] Uma mãe-de-santo da Cidade Tiradentes em São Paulo reclamou de um carro de som, contratado por uma igreja neopentecostal das imediações, que parava ou circulava insistentemente em frente ao seu terreiro para anunciar em alto volume as “sessões de descarrego” realizadas na referida igreja. (SILVA, 2007, p. 12-14)

Brasil.
País de diversas negações e contradições sobre sua própria história, sobre a formação de seu povo e sobre os mais vergonhosos problemas que descendem dessa negação e contradição. Todas as verdades por aqui são mascaradas, sobretudo aquelas que exigem trabalho apurado de autocrítica e humildade para quebrar tabus e regras perigosamente arcaicas e promover mudanças permanentes.
O mito da democracia e liberdade de expressão que nunca experimentamos, o mito da comunhão racial cunhado em meio a efervescência contínua do racismo estrutural, a falsa valorização da figura da “mulher brasileira” que encobre a misoginia e potencializa estereótipos dentro e fora do país, o tratamento promíscuo e irresponsável que se dá a formação de nossas crianças e adolescentes, entre outras diversas incongruências que fazem parte do nosso estado natural de coisas e não estão na pauta do dia.
“O profundo das coisas não está na pauta do dia. De nenhum dia.” Micheliny Verunschk em Nossa Tereza – Vida e Morte de uma santa suicida.
Mas, essa atitude de jogar a sujeira para baixo do tapete, ao longo da nossa história, vem se mostrando de uma ineficiência persistente e proveitosa, pois vez por outra, um assédio aqui, um estupro coletivo ali, um Rafael Braga acolá, joga na cara da sociedade a sua hipocrisia passiva e covardia pujante.
Como é o caso dos recentes vídeos propagados nas redes sociais, onde traficantes evangélicos violentam casas de culto religioso africano (ou de dissidência africana), que trouxe para os 15 minutos de debates rasos e indignações passageiras, um sofrimento que, além de histórico é seguramente uma ramificação da expressão do racismo arraigado nas estruturas e instituições alocadas desde o extremo sul ao extremo norte do país.
E não devemos nos ater ao rótulo de ‘traficantes evangélicos’ para destilar argumentos e contrapontos, sob pena de cair em outro erro histórico característico do nosso povo: o esvaziamento sumário das discussões, uma vez que, o Brasil é racista e a manifestação desse racismo não é concentrada em um só ponto, em uma só pessoa ou instituição.
Há que se considerar os preconceitos de toda ordem que se assentaram no senso comum dos brasileiros e estão vivos nas mais variadas vertentes sociais, reverberando como heranças devidamente costuradas pela ação do tempo que transcorre sem confrontá-las de forma madura.
Um desses preconceitos gira entorno da crença de que se pode afetar e/ou interferir na vida de qualquer pessoa, pela manipulação de receitas e ingredientes mágicos, em rituais caricatos de feitiçarias e/ou bruxarias associadas a figura de uma legião de forças malignas ocultas que a princípio, daria esse enorme poder para seus adoradores. Isso faz parte das escusas intenções políticas que rondaram a igreja católica na idade da “Santa” Inquisição, onde se queimavam pessoas praticantes de outras expressões do sagrado.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

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