segunda-feira, 7 de agosto de 2017

A economia como fraude

infraestrutura
Com o investimento público em infraestrutura, os governos querem ajudar a economia a funcionar de forma mais rentável


Uma das características da economia atual é o uso de uma lógica superficialmente plausível para afastar a discussão da substância real, adverte o economista Michael Hudson, pesquisador e professor emérito da Universidade do Missouri, nos Estados Unidos, e da Universidade de Pequim, na China.
Isso é feito, por exemplo, refinando-se a demagogia de que impostos baixos para os privilegiados são benéficos para o resto da sociedade. “O objetivo é compor uma história verossímil para convencer a população, especialmente as classes mais baixas, a identificar seu bem-estar com o da oligarquia, a acreditar que só aquele 1% mais rico pode salvá-los, oferecer-lhes empregos e financiamentos”, ensina Hudson.
Para desvendar os absurdos e as fraudes intelectuais escondidas na terminologia própria da economia, ele publicou neste ano o livro J Is For Junk Economics: A Guide to Reality In an Age of Deception, em que procura demonstrar “como um vocabulário orwelliano domina a mídia, o ensino da economia e até mesmo a representação estatística do seu funcionamento”.
Tudo se passa, diz, como se não houvesse exploração, quase nenhuma renda da propriedade e de investimentos nem ganhos de capital derivados da inflação dos preçosdos ativos, apesar de estes serem o principal  objetivo dos investidores imobiliários e financeiros.
A seguir, uma seleção feita por CartaCapital de verbetes do capítulo intitulado “Os 22 mitos econômicos mais prejudiciais do nosso tempo”, desvendados pelo autor.

Mito: O setor público é um peso morto e a atividade do governo é uma despesa extra desnecessária. A conclusão é de que os gastos públicos devem ser minimizados.
Realidade: O investimento em infraestrutura pública é um fator de produção. Seu papel é reduzir o custo de vida e facilitar os negócios, fornecendo serviços de transporte, comunicações e cuidados com a saúde, entre outros, a preço de custo, de forma subsidiada ou livremente. O investimento público em tais monopólios naturais os mantém fora das mãos de privatizadores, rentistas e financistas.
Mito: Os ganhos de capital não são receitas e, portanto, não devem estar sujeitos a Imposto de Renda ou contribuições para financiar a Previdência Social.
Realidade: Os administradores de investimentos definem os retornos totais como a renda corrente mais os ganhos de preço dos ativos. Esses ganhos são o principal objetivo dos investidores dos setores de finanças, seguros e imóveis.
No entanto, em nenhum lugar das contas nacionais ou nas estatísticas do balanço patrimonial do Banco Central há uma medida de ganhos de preços de ativos para terrenos, ações e outros títulos financeiros.
No que diz respeito às estatísticas oficiais, o princípio orientador parece ser o de que aquilo que não é visto, não será tributado ou regulamentado. O imposto sobre a renda nos Estados Unidos em 1913, por exemplo, aplicou as mesmas taxas para os ganhos de capital e os rendimentos, a partir da suposição de que o efeito seria o mesmo:  um aumento de riqueza e “poupança”.
Ao contrário dos salários e dos lucros, os ganhos de preços de ativos não resultam tanto do esforço próprio dos seus donos. É o caso dos ganhos a partir de: 1. Investimento em infraestrutura pública, aumentando o valor dos imóveis do entorno.
2. Aumento da demanda do mercado para habitação e de estoques a partir de uma maior prosperidade nacional.
3. Políticas de crédito fácil estabelecidas pelo Banco Central (quantitative easing, ou aumento do volume de dinheiro no mercado, provocado com a compra intensiva de títulos públicos pelo BC) para baixar as taxas de juro e aumentar os preços dos títulos.
Essas maneiras de enriquecer são tributadas com impostos mais baixos em comparação àqueles incidentes sobre os salários e os lucros industriais obtidos com a formação de capital tangível.
Foi isso que fez do 1% mais abastado da sociedade uma classe principalmente rentista, enriquecida com o subsídio público e beneficiando-se ainda de impostos baixos sobre os ganhos obtidos a partir da propriedade e os retornos financeiros da alavancagem da dívida. 
Wall Street
Wall Street e outras cleptocracias financeiras visam usar as privatizações só como oportunidades de ganho (Foto: Spencer Platt/Getty Images)
Mito: A privatização é mais eficiente do que a propriedade e a gestão públicas.
Realidade: investimento público em infraestrutura tem sido a principal categoria de formação de capital desde tempos imemoriais. Em vez de buscar lucro com esse investimento, os governos visam subsidiar os preços cobrados pelos serviços básicos de infraestrutura, de modo a tornar a economia mais competitiva.
O objetivo não é, entretanto, ajudar o setor privado a obter lucros, mas a funcionar de forma mais rentável. Os monopólios mais cruciais são aqueles que os governos mantiveram por muito tempo sob domínio público: estradas e outros transportes básicos, correios e comunicações, pesquisa e desenvolvimento, saúde pública e educação.
A privatização gera juros e outras taxas de propriedade para os rentistas, salários e bônus para executivos, ao mesmo tempo que oferece oportunidades de obtenção de aluguéis extorsivos. Usar esses setores como oportunidades para extrair renda, juros e taxas é o sonho das cleptocracias financeiras.
O objetivo é obter ganhos de capital, com políticas tributárias que revertem as reformas progressistas. O fornecimento e o preço dos transportes, das comunicações, da água e da saúde pública são em grande parte responsáveis ​​pelas diferenças de custos internacionais.
No entanto, em nenhuma parte da teoria do comércio de “mercado livre” esse papel do investimento público é levado em conta nos índices de custo comparativos ou nas análises de custo absoluto. As contas nacionais não creditam a formação de capital (infraestrutura pública) pelo governo como um ativo, em contrapartida aos gastos, no cálculo de déficits ou excedentes orçamentários.

Mito: Os déficits do governo são ruins, os orçamentos equilibrados são bons e os superavitários, ainda melhores.
Realidade: Quando os governos geram déficits (exceto para salvar bancos e pagar detentores de títulos públicos), eles colocam dinheiro na economia. Mas, se eles executam um orçamento equilibrado (ou, pior ainda, um orçamento superavitário), isso retira receitas da economia.
Foi o que ocorreu quando o ex-presidente Andrew Jackson, dos Estados Unidos, executou superávits orçamentários deflacionários na década de 1830, depois de fechar o Banco dos Estados Unidos. Aconteceu novamente após a Guerra Civil, quando os EUA procuraram reverter os preços para os níveis anteriores a 1860, causando depressão prolongada.
Os apelos para os governos manterem orçamentos equilibrados emanam do movimento do setor bancário para substituir os tesouros nacionais como fonte de dinheiro e crédito.
Quando o presidente Bill Clinton gerou um superávit orçamentário no final de sua administração, no fim da década de 1990, isso obrigou a economia americana a confiar em bancos comerciais para fornecer o crédito necessário para crescer.
Ao contrário dos gastos do governo, que podem ser autofinanciados, os bancos cobram juros e taxas pela criação de crédito – e criam crédito principalmente para aumentar os preços de ativos, não para estimular o emprego e a formação de capital tangível.

Mito: Os cortes nas despesas públicas colocam o Orçamento do governo em equilíbrio, restaurando a estabilidade.
Realidade: Ao contrário das dívidas do setor privado, as do governo não podem ser objeto de baixa contábil. Os empréstimos do Fundo Monetário Internacional aos governos, para resgatar os detentores de títulos privados (principalmente os bancos e o 1% mais rico), deixam inexoravelmente um resíduo de pressões e exigências do Fundo sobre os governos.
As condicionalidades impostas – reduções nas despesas públicas, da previdência e aumento dos impostos sobre o trabalho – aprofundam o déficit orçamentário. Isso leva o organismo e os ministros das Finanças a pressionar por uma austeridade ainda mais severa, como se o seu “remédio” não fizesse sangrar e não enfraquecesse a vítima endividada.
A espiral descendente resultante é o objetivo real da austeridade, porque o agravamento da crise financeira de um governo força privatizações. Isso é especialmente claro na conquista financeira da Grécia desde 2010.
Produção em taubaté
Os lucros da indústria são mais tributados que os do setor financeiro, mas tem menos a ver com o esforço dos seus donos (Foto: Renato Frasnelli/Volkswagen do Brasil)
Mito: O critério da ciência econômica é demonstrar que as economias tendem à estabilidade e a uma distribuição cada vez mais justa e equitativa de renda e da riqueza. Modelos de polarização ou atrofia não têm uma resolução matemática simples, portanto, não se enquadram na definição de ciência econômica propriamente dita.
Realidade: Os setores financeiro e imobiliário buscam controlar os conteúdos do ensino e os meios de comunicação para desencorajar reformas que retardariam a sua busca da monopolização da riqueza e do poder político.
Esse controle é realizado por meio da alteração do significado do vocabulário econômico e da eliminação do estudo da história econômica. O antídoto para a economia-lixo ensinada após essas modificações precisa, entretanto, explicar por que as economias tendem a se tornar mais instáveis e mais polarizadas como resultado de sua própria dinâmica interna e, acima de tudo, a sua dinâmica do crédito e da dívida e a não tributação da renda do investimento.
Com Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Filmes para saber mais sobre Arte


Crédito: Patrick Cassimiro

O cinema permite nos aproximar de histórias, explorar conceitos, conhecer e ter contato com outras realidades. Apesar de ser um recurso interessante para trabalhar em sala de aula, também pode ser uma ferramenta de formação do próprio professor. Por isso, listamos 10 títulos disponíveis no catálogo da Netflix que podem auxiliar nestes dois casos, além de indicar conteúdos de NOVA ESCOLA complementares aos temas.Selecionamos filmes para trabalhar arte urbana, consumo e cidade; para discutir o declínio do cinema mudo; literatura e feminismo e o impacto da música na vida escolar e pessoal dos alunos. Além disso, indicamos três produções biográficos sobre artistas plásticos que deixaram suas marcas estilísticas na arte. Uma boa dica para aproveitar as férias - ou o fim de semana. Confira:

ARTE URBANA1. Cidade CinzaEste documentário brasileiro tem tudo a ver com as atuais discussões sobre Arte e cidade. Dirigido por  Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, “Cidade Cinza” tem como cenário a capital paulistana e traz depoimentos de grafiteiros que ilustram prédios e muros de São Paulo, como Os Gêmeos, Nina e Nunca. Com a Lei Cidade Limpa, que propõe diminuir a poluição visual da cidade, muitos grafites começaram a desaparecer encobertos por tinta cinza pela prefeitura. Também é mostrado a relação dessa forma gráfica com o hip-hop. Apesar de contemplar apenas o grafite, o documentário pode ser ponto de partida para discussões sobre cultura urbana, como as pichações se encaixam nesse contexto e como os movimentos e campanhas de “limpeza” da cidade influenciam o urbano. Para ajudar na reflexão, indicamos dois textos disponíveis em NOVA ESCOLA: Pixação é vandalismo? e O hip-hop das ruas chega às aulas.


2. Saving Banksy
Ainda falando sobre arte urbana, esse documentário aborda o tema sobre um outro viés: aqui os artistas que depõem no filme também têm suas obras apagadas e já foram presos quase 100 vezes por pintarem nas ruas. No entanto, essas artes - depreciadas como vandalismo e punidas por isso - têm ganhado outros espaços: leilões de luxo. Quem corre o risco de fazer seu grafite na cidade não recebe nada dessas vendas, mas têm suas obras comercializadas a um preço alto por terceiros. “Saving Banksy” (“Salvando Banksy” em tradução livre), referência à um dos maiores artistas de rua do mundo - e dono das obras mais valiosas -, abre a discussão para a apropriação cultural e comercialização não autorizada a partir do caso de Banksy. Sugerimos quatro textos sobre como o grafite pode se relacionar com a escola: “Traços de cidadania”“Do muro para a classe e de volta para as ruas”“Grafite transformador” e “O grafite das ruas agora também está na escola”.

Colecionadores de arte passam meses negociando com proprietárias de imóveis que têm grafites do artista britânico Banksy para tentar fazer as remoções da superfície com a obra sem apagar o desenho. Crédito: Reprodução


PERSONALIDADES
3. Frida
Um dos maiores nomes da arte mexicana, Frida Khalo (1907-1954) passou por uma série de doenças, acidentes, lesões e operações que a levaram a dar início à carreira como pintora. Considerada a primeira artista surrealista da América Latina, adotou em suas obras temas do folclore e da arte popular do México, além de explorar autorretratos. O filme é biográfico e vale para conhecer melhor a artista e a partir de seu trabalho discutir a técnica de autorretrato na pintura com a turma. Confira um plano de aula sobre o tema e conheça mais sobre as características de seu trabalho aqui.

Crédito: Reprodução 

4. Grandes OlhosDirigido por Tim Burton, o filme conta a história da pintora americana Margaret Keane. Ilustrando principalmente mulheres, crianças e animais, sua principal marca são os olhos grandes (e, diga-se de passagem, profundos e tristes) que dá aos personagens que pinta. Pelo difícil reconhecimento de trabalhos com autoria feminina nos anos 50 e pelo machismo que permeia sua vida, Margaret aceita que suas obras sejam assinadas com o nome do marido para conseguir vendê-las. Diante da popularidade dos quadros, ele passa a afirmar que as obras são de sua autoria. As mentiras começam a desmoronar e o caso é levado ao tribunal. Para verificar a veracidade do autor, ambos são colocados a pintar na sala em que acontecia a audiência. Além da discussão sobre feminismo, é possível debater com "Grandes Olhos" como identificar e utilizar as marcas estilísticas de um autor, seja nas artes plásticas, literatura ou outra expressão artística.
5. Escada para o CéuGuo-Qiang não é um nome muito conhecido por aqui, mas seu trabalho é, literalmente, um espetáculo de cores e formas que vale a pena conhecer. O artista chinês desenvolve sua arte com pólvora e fogos de artifício (isso mesmo!). E se a matéria-prima explosiva é inusitada, a técnica não fica atrás: após colocar a pólvora sobre o papel e tela, ateia-se fogo. O resultado é surpreendente. Guo-Qiang acredita que cabe aos artistas transformar o não artístico em obra de arte, como é o caso do uso que faz da pólvora. Além disso, seus trabalhos com pirotecnia são mais do que dignos de serem revisitados: ele foi o responsável pelos efeitos pirotécnicos nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. A partir do trabalho do artista contemporâneo é possível discutir o que define algo como sendo uma obra de arte (material, técnica ou valor, por exemplo). Veja aqui um plano de aula sobre o tema.
MÚSICA6. AmadeusO filme retrata um dos mais conhecidos compositores clássicos, Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), pelo viés de um outro compositor de ópera: Antonio Salieri. Salieri narra de um manicômio sua admiração por Mozart que se transforma em inveja. A trama mostra a elite cultural século XVIII em Viena - a “cidade dos músicos” -, na Áustria. Outros nomes como Ludwig van Beethoven também fizeram sua história na cidade apesar de não serem citados no filme. Saiba mais sobre como trabalhar música clássica com os estudantes em “É tudo música, do clássico ao erudito”“Música popular e música erudita” e “Keith Swanwick fala sobre o ensino de música nas escolas”.
7. Crescendo, the Power of MusicTrabalhando com a ideia de que a música pode ser um instrumento de promoção social, este documentário americano acompanha duas crianças da Filadélfia e uma em Nova York que têm suas vidas transformadas após integrarem um programa de Educação musical gratuito intitulado “El Sistema”. Com origem na Venezuela, o programa também foi implementado nos Estados Unidos. Veja como recursos culturais podem agregar para a formação dos estudantes.

O filme mostra o poder social da música para as crianças e jovens. Crédito: Reprodução

8. A voz do coraçãoAinda usando o poder da música para transformar, “A voz do coração” é um filme que tem como cenário um internato. Entre confusões e rebeldias de alunos e de uma gestão que não colabora, um professor novato decide criar um coral no colégio. O movimento cria uma relação de confiança entre ele e os estudantes e, à medida que os talentos são revelados, o comportamento das crianças muda. Leia mais sobre como a cultura pode influenciar a Educação em “Violeta Hemsy de Gainza fala sobre Educação musical” e “Música para aprender e se divertir”.

Crédito: reprodução

CINEMA9. O ArtistaO longa retrata o declínio do cinema mudo em Hollywood no ano de 1927. O personagem George Valentin, astro do mutismo, sofre com a mudança da indústria cinematográfica enquanto seu par romântico faz sucesso no cinema falado. O tema rende discussão na aula de Língua Portuguesa trabalhando discursos. Confira o plano de aula “Cinema mudo: narrativas sem palavras, expressão de sentimentos” e a reportagem “Filmes para ensinar os tipos de discurso”.
LITERATURA10. Orgulho e PreconceitoO clássico da escritora britânica Jane Austen (1775-1817) foi publicado pela primeira vez em 1813 e adaptado para as telonas pelo diretor Joe Wright. Em um contexto bucólico, o filme retrata os anseios e aventuras da protagonista Elizabeth Bennet, cuja mãe têm entre seus maiores desejos garantir um bom casamento para suas cinco filhas. No entanto, o espírito aventureiro de Elizabeth não aceita qualquer proposta de casamento. Por meio de suas personagens criados há mais de 200 anos, Austen transmite sutilmente alguns dos principais ideais feministas, como a noção de igualdade e a conscientização sobre a ideia de inferioridade sobre as mulheres na sociedade. Confira como trabalhar o tema com os textos “Mostre para a turma que as meninas podem ser o que elas quiserem” e “8 jeitos de promover o empoderamento feminino desde a alfabetização”.

Tem outras indicações de títulos imperdíveis para enriquecer as discussões de Arte? Não deixe de compartilhar suas sugestões nos comentários!

*Os filmes e documentários aqui indicados estão disponíveis no catálogo de julho de 2017 da Netflix. Devido à rotatividade de títulos da plataforma, o catálogo pode sofrer alterações.
Por Laís Semis. Nova Escola
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Sexismo no Google? A polêmica carta de funcionário sobre política de diversidade da empresa


Escritório do Google em LondresDireito de imagemEPA
Image captionMulheres são minorias em cargos de gestão e tecnológicos do Google, segundo relatório

A opinião de um funcionário do Google sobre as políticas de diversidade de gênero da empresa têm provocado polêmica internamente - e agora também do lado de fora.
Um comunicado interno escrito por um engenheiro de software argumenta que a ausência de mulheres nos altos cargos de tecnologia ocorre por "diferenças biológicas" entre homens e mulheres.
"Precisamos parar de achar que as lacunas de gênero ocorrem por sexismo", escreveu em um documento que foi bastante criticado, mas que, segundo o autor, recebeu "muitas mensagens privadas" de apoio por colegas do Google.
Publicado em um fórum de discussão interna, o artigo foi divulgado na íntegra em inglês pelo site de tecnologia Gizmodo.

Ellen Pao, em 2015Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEx-diretora do Reddit Ellen Pao foi uma das várias mulheres que criticou o documento do funcionário do Google

Ele argumenta que "as habilidades de homens e mulheres são diferentes em parte devido a causas biológicas, e que essas diferenças podem explicar por que não vemos uma representação igual de mulheres na tecnologia e em liderança."
O autor, não identificado, diz que mulheres geralmente "preferem trabalhos em áreas sociais e artísticas" enquanto "mais homens se interessam por programação de computadores".

'Não nos representa'

O artigo gerou uma resposta da nova diretora de diversidade do site de buscas, Danielle Brown, diante do "acalorado debate" sobre a questão.
Em um email interno, divulgado pelo site Motherboard, ela disse que o texto "não representava o ponto de vista que ela ou a companhia aprova, promove e incentiva".
"A diversidade e a inclusão são parte fundamental de nossos valores e da cultura que continuamos a cultivar", acrescentou.
"Somos inequívocos em nossa crença de que a diversidade e a inclusão são muito importantes para o nosso sucesso como empresa, e vamos continuar defendendo e sendo comprometidos com isto no longo prazo."
Na rede social, mulheres criticaram o documento e as atitudes sexistas no trabalho de forma geral.
Entre elas, a funcionária do Google Kelly Ellis, que escreveu: "Eu senti isso no Google e fiquei frustrada por eles não agirem sobre essa retórica que prejudica seus empregados".
E ainda: "Há muitas pessoas no Google que compartilham a visão desse sujeito. Eles fazem avaliações de desempenho e entrevistam as pessoas. Eles discriminam".

GoogleDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDiretora de diversidade da empresa rebateu carta

Já Ellen Pao, ex-CEO do Reddit, escreveu no Twitter que está na hora do Google "limpar a bagunça que criou ou que assiste acontecer repetidamente".
Ela se tornou um símbolo no debate de gênero no Vale do Silício depois de processar sua ex-empresa Kleiner Perkins Caufield & Byers por discriminação.
No site Medium, a ex-engenheira do Google Erica Baker comentou estar "decepcionada, mas não surpresa".
"Não é um comportamento totalmente novo... O que é novo é que esse empregado se sentiu seguro o suficiente para escrever e compartilhar oito páginas de ladainha sexista internamente", ela escreveu.
Um relatório sobre diversidade publicado pelo Google em junho mostrou que 69% da força de trabalho é de homens e 56%, de brancos.
Mulheres preenchem apenas 25% dos postos de liderança e 20% dos empregos técnicos, tais como programação de computadores.

Preocupação ampla

Há constantes críticas sobre a cultura sexista e a falta de diversidade no setor de tecnologia de forma geral.
Vários executivos, incluindo o CEO Travis Kalanick, se demitiram do Uber este ano após reclamações de que a empresa não faz o suficiente para conter o assédio sexual.
Em junho, o investidor do Vale do Silício Justin Caldbeck tirou licença de tempo indeterminado depois de ser acusado de assediar sexualmente seis executivas de tecnologia.
"A diferença de influência entre os capitalistas de risco homens e as mulheres empresárias é assustadora, e eu odeio o fato de o meu comportamento ter perpetuado um ambiente hostil (para mulheres)", escreveu em um comunicado divulgado à época.
BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 6 de agosto de 2017

WORKSHOP com batera JOELSON TROVÃO foi um grande sucesso





Músicos de Bom Jardim e de outras cidades da região tiveram uma grande reunião de trabalho com Joelson Trovão, grande músico pernambucano, na manhã deste domingo(6) na sede do Grêmio lLtero Musical Bonjardinense.

Aula de muito  talento, técnica, musicalidade e simplicidade do ex- baterista integrante da Banda Brucelose, durante  18 anos. Em sua falação Joelson,  recomendou aos os bateras que tirassem o máximo de aprendizagem da música instrumental, falou de sua formação e  inspiração musical.

Leonardo Santos, Felipe Barbosa, Geová Gomes e Juliano Barbosa, por meio do Grêmio Lítero, deram o apoio necessário para a realização deste importante acontecimento cultural. 
Fotos: Chico Pezão.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Por que Neymar, ganham tanto dinheiro?


Neymar no Paris Saint-GermainDireito de imagemREUTERS
Image captionQual a explicação lógica e matemática dos valores estratosféricos da ida de Neymar ao PSG?

A chegada de Neymar ao Paris Saint-Germain já ficou marcada na história do futebol, não ainda pelos ganhos esportivos do clube com o craque brasileiro, mas pelo lado financeiro do negócio.
O clube pagou 222 milhões de euros (R$ 815 milhões) ao Barcelona para contratar o jogador, o maior valor já visto em uma transação do futebol - é mais que o dobro do recorde anterior, a contratação do meio-campista Paul Pogba pelo Manchester United, da Inglaterra, por 105 milhões de euros no início deste ano.
Além disso, a equipe francesa ofereceu R$ 110 milhões por ano em salários para convencer Neymar a trocar Barcelona por Paris. Numa conta simples, isso equivaleria a mais de R$ 300 mil por dia - ou a R$ 12,5 mil por hora. Um valor que poucos conseguem ganhar em uma vida inteira de trabalho.
Os números parecem exorbitantes, fora de qualquer realidade. Mas, segundo especialistas consultados pela BBC Brasil, têm alguma explicação lógica e matemática.
"Hoje está evidente que (o futebol) é um mercado de entretenimento. Nos Estados Unidos, é mais normal ver o esporte como essa indústria, mas o futebol está se consolidando nisso agora. Está virando cada vez mais espetáculo", diz a economista Elena Landau, que trabalhou no BNDES, foi diretora do Programa de Desestatização do governo FHC e atuou no Atlético-MG e no Botafogo (seu time do coração).
"A final da Liga dos Campeões, por exemplo, é hoje em dia quase um Super Bowl (final da NFL, a liga de futebol americano)", compara.

Neymar e Brad Pitt

Landau compara o mercado do futebol ao mercado de entretenimento de Hollywood - um ator como Brad Pitt recebe valores altíssimos para fazer um filme, o que seria proporcional à movimentação financeira que se espera da película.
A lógica para o futebol hoje seria a mesma: as estrelas, como Neymar, são muito bem pagas porque são as protagonistas de um espetáculo que envolve cada vez mais dinheiro.

Final da Liga dos Campeões em junhoDireito de imagemREUTERS
Image captionFinal da Liga dos Campeões, em junho: 'é quase um Super Bowl' em termos de mercado de entretenimento e internacionalização, dizem analistas

"O futebol é um dos poucos segmentos, senão o único, em que o funcionário ganha mais que o patrão. O presidente de um clube ganha menos que o jogador", observou o especialista em marketing esportivo Erich Beting.
Isso porque sem os jogadores, sem as estrelas, não há o espetáculo que movimenta todo esse dinheiro, explica Beting. Ele ressalta que, principalmente na última década, os clubes europeus passaram a "internacionalizar" sua marca e, com isso, multiplicaram seus lucros.
"Eles estão a cada ano aumentando a receita porque as marcas dos clubes europeus se tornaram globais. O PSG tem programa de associação de membros (algo como um "sócio-torcedor") mundial, qualquer um pode se associar no mundo inteiro. Os clubes se tornaram potências globais como nunca foram, ajudados pela Liga dos Campeões, que também se tornou mundial."
Para se ter uma ideia desse crescimento, o Barcelona, por exemplo, aumentou quase 300% seu faturamento nos últimos 10 anos - de 259 milhões de euros em 2006 para 689 milhões em 2016 -, segundo os números oficiais do clube.
Em 2011, antes de ser comprado por um fundo de investimento do Catar, o PSG faturou 221 milhões de euros, de acordo com o estudo Football Money League, da consultoria Deloitte. Hoje, esse valor subiu para 520 milhões de euros - quase metade do faturamento do clube foi investido na contratação de Neymar.
"Esse investimento é irracional. O Real Madrid, por exemplo, não faria algo assim, a não ser que visse uma equação em que ganharia em todos os sentidos. Mas o PSG precisava dessa autoafirmação, então ele construiu essa loucura. Porque você não mede o retorno só do dinheiro, mas também do prestígio. E como o PSG tem um fundo de investimento por trás, ele tem dinheiro para correr esse risco", pontua Beting.

O fator Neymar

Tanto Landau quanto Beting classificam o caso Neymar como um ponto fora da curva nas negociações do mundo do futebol.
"O negócio não seria de risco se ele (clube) dissesse 'não me importo em perder dinheiro', o que talvez seja um pouco o caso do PSG, que tem o fundo por trás. E você olha para o clube e tem tudo a ver, porque lá ainda falta um ídolo, uma pessoa que vai levar mídia, uma visibilidade que eles não têm", afirma ela.

Ernesto Valverde, técnico do BarcelonaDireito de imagemREUTERS
Image captionO Barcelona, do técnico Ernesto Valverde (acima), aumentou quase 300% seu faturamento nos últimos 10 anos

Ainda carente do troféu mais cobiçado na Europa - o da Liga dos Campeões - e tendo esbarrado justamente no Barcelona diversas vezes na fase eliminatória, o Paris Saint-Germain vê em Neymar a chance de conquistar a taça que nunca veio e, consequentemente, as cifras que a acompanham.
"Existem os aspectos esportivo e econômico. Pelas cifras envolvidas, a gente pergunta: o Neymar vai se pagar? Não, ele não deve se pagar. É um negócio que dificilmente se paga na ponta do lápis", pondera Beting.
Mas ele agrega que o jogador brasileiro "tem sido cada vez mais frequente na mídia em geral, não só no Brasil. Tem grande relevância nas redes sociais. Na semana passada, estava jogando com o Barcelona nos EUA, e o Tiger Woods (jogador de golfe) tirou foto com ele e com a camisa do Barça, outros astros da NBA fizeram a mesma coisa. Ele transita em muitos territórios e, quando você tem um embaixador desse, é um baita ganho de imagem".
Além da visibilidade e da mídia que Neymar atrai consigo, os especialistas pontuam que, por causa dele, o PSG também deve ganhar novos patrocinadores, deve receber mais por cotas de TV, aumentar a receita de estádio e até vender mais produtos. A expectativa anunciada pelo clube é de vender 1 milhão de camisas do craque brasileiro - que renderiam ao time 40 milhões de euros.
E tudo isso, segundo Beting, está embutido no preço para contratar Neymar. Além, claro, de ter de convencê-lo a deixar o Barcelona, um time já consagrado mundialmente, para ir para uma equipe com prestígio bem menor.
"O cara está apostando a ficha de que o Neymar vai solucionar a empresa dele, então está disposto a oferecer muito", diz Beting. "A gente tem um salto financeiro que dificilmente paga todo o investimento, porque tem o custo mensal de salário, mas traz imensuravelmente um retorno para o PSG."

Escalonamento do mercado

Para entendermos um pouco melhor o salto nos valores de transferências e salários de jogadores é preciso levar em conta uma série de fatores - a presença da TV, por exemplo, já que os direitos de transmissão constituem uma parte significativa das receitas de clubes, seja em São Paulo ou Paris.
Mas um divisor de águas ocorreu em dezembro de 1995, quando a Corte Europeia de Justiça deu ganho de caso ao belga Jean-Marc Bosman em uma ação que começou como um litígio trabalhista do jogador contra seu clube, o Standard Liege, da Bélgica, que se recusara a vendê-lo e diminuira seu salário.
A decisão deu uma liberdade de movimentação sem precedentes para jogadores em clubes europeus. Na prática, as novas regras determinavam que os atletas poderiam simplesmente ir, de graça, para outras equipes no fim de seus contratos, o que aumentou incrivelmente o poder de barganha deles e de seus empresários em negociações salariais. No Brasil, a Lei Pelé, que veio em 1998, tinha o mesmo objetivo.
Na Inglaterra, por exemplo, o salário médio mensal de jogadores da Primeira Divisão na época da decisão da corte europeia girava em torno de R$ 40 mil. Dez anos mais tarde, já atingia a marca de R$ 195 mil. Em 2015, passava de R$ 700 mil.

Estatuetas do OscarDireito de imagemPA
Image captionEstatuetas do Oscar: mercado do futebol se tornou de entretenimento, assim como Hollywood

A mesma coisa se deu com o valor de transferências: entre 1997 e 2017, o "recorde mundial" de transações saltou de R$ 61,7 milhões para os mais de R$ 800 milhões pagos pelo PSG ao Barcelona pelos serviços de Neymar.
O peso de salários nas finanças das equipes também aumentou consideravelmente. No futebol europeu, a folha de pagamento de jogadores corresponde, em média a mais de 60% da receita dos clubes.
Mas para o jornalista e autor do livro Soccernomics ("Economia do futebol"), Simon Kuper, a lógica é até "simples" para justificar os altos valores de salário pagos para Neymar.
"O valor de um jogador é estabelecido dentro de campo. É ali que você julga se ele é bom ou é ruim. E Neymar é muito bom. É muito mais fácil julgá-lo por gols e passes. O valor de um executivo, por exemplo, é muito menos claro. Um executivo ruim pode ser ruim sem prejudicar a empresa. Eu posso ser diretor de uma multinacional e disfarçar, mas as pessoas vão perceber rapidinho se eu tentar jogar pelo Barcelona", diz.
"Um jogador de futebol se expõe ao julgamento do público toda a semana em uma atividade mais competitiva e implacável que a maioria das outras. E ninguém joga com a camisa 10 porque tem padrinho, ao contrário do que acontece no mercado de trabalho tradicional."
É importante mencionar, porém, que o mercado salarial dos milhões é restrito a uma imensa minoria. Segundo relatório da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deste ano, 82% dos jogadores que atuam no Brasil ganham menos de R$ 2 mil - e 96% deles não ganham mais do que R$ 5 mil.
"Mas se a gente for pensar, quantos atletas de primeira linha existem no futebol mundial? No futebol brasileiro vão existir só 12 clubes que podem pagar esses salários altos. E não para muitos jogadores", ponta Beting.
"No caso de jogadores que ganham no nível do Neymar, a quantidade é a mesma de bilionários no mundo. É que esses casos, como os do Neymar, estão na mídia, enquanto os que ganham R$ 1 mil não estão."
Professor Edgar Bom Jardim - PE