Mostrando postagens com marcador Mundo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mundo. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 12 de julho de 2017

'As crianças estão vivendo como ratos'







Imagens de Mossul após retomada da cidade das mãos do Estado Islâmico revelam alto custo humano

"Trabalhei em áreas de conflito durante 25 anos, na Bósnia, Kosovo, Chechênia e nunca me deparei com algo tão devastador quanto aqui. Ou pior."
É assim que Sally Becker, diretora da ONG britânica Road to Peace, descreve sua experiência na cidade iraquiana de Mossul, especialmente em referência à situação das crianças.
Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, foi liberada há poucos dias do domínio dos combatentes do autodeclarado Estado Islâmico (EI).
Por mais de três anos, a cidade esteve sob controle do grupo extremista.


Escombros da Cidade Velha de MossulDireito de imagemAFP
Image captionOfensiva para retomar controle de Mossul durou nove meses e deixou rastro de destruição

A vitória foi anunciada pelo primeiro-ministro do Iraque, Haider al Abadi, na última segunda-feira. Mas, por trás das comemorações, há uma enorme crise humanitária que começa a ser revelada.
"É a pior batalha que vi, a pior devastação e o pior estado humanitário, porque estão sozinhos e doentes", diz à BBC Sally Becker, que esteve durante os últimos meses em Mossul.
"Estão traumatizadas. Estão sofrendo os efeitos de viver sem comida e água; estão vivendo como ratos", acrescenta ela, em alusão às crianças que encontrou na cidade iraquiana.


Menina ferida em MossulDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSituação humanitária em Mossul começa a se revelar após expulsão do Estado Islâmico

'Traumatizados'

Do minarete da Grande Mesquita de Al Nuri, hoje reduzido a ruínas, o líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi proclamou, em junho de 2014, a instauração de um califado nos territórios do Iraque e da Síria.
A cidade de Mossul tornou-se o bastião do EI no Iraque, onde o grupo impôs um rígido código a todos os seus habitantes de acordo com sua visão da lei islâmica.
Antes da chegada do grupo extremista, viviam ali cerca de 2 milhões de pessoas, mas milhares morreram desde então e outras 920 mil ficaram desabrigadas.


Mulher com filha ferida em MossulDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMilhares de crianças sofrem com destruição em Mossul

Nos últimos nove meses, as forças iraquianas realizaram uma grande ofensiva com apoio de militantes curdos e de uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, até que conseguiram recuperar o controle de Mossul.
"Viveram três anos sob o controle do EI e isso se reflete em seus rostos, em seus olhos, em suas roupas, na maneira como andam, em tudo", enumera Becker.
Desde março deste ano, funcionários da ONG instalaram centros médicos temporários para tentar aliviar o sofrimento de milhares de pessoas, mas os esforços não bastaram.
"Eles têm sofrido tanto que nem sentem mais. Estão tão traumatizados que já não pensam, seguem adiante com o olhar perdido. É entristecedor", avalia Becker.
"Já tive crianças em ambulâncias enquanto suas mães gritavam na parte de trás com suas pernas baleadas", completa.
Mais de 920 mil pessoas tiveram que fugir de Mossul em meio aos confrontos entre o Estado Islâmico e as forças iraquianas.
"As crianças sofrem de desnutrição na etapa mais importante para seu futuro", diz Becker.


Criança em MossulDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMais de 920 mil pessoas fugiram de Mossul em meio a confrontos entre o Estado Islâmico e as forças iraquianas

Liberação

Enquanto Mossul era liberada, ainda se escutavam disparos.
Tratava-se dos "últimos focos de resistência" do EI na cidade, segundo afirmou à BBC o coronel iraquiano Jabbar Abad.
As tropas de Abad estavam ajudando civis, em sua maioria mulheres e crianças, a escapar até um local seguro.
"Eles tinham o olhar perdido", recorda Beale.
"As crianças nem sequer se moveram quando ouviram os disparos. Uma mulher mais velha estava tão ausente que apenas podia caminhar. Alguns dos bebês que elas carregavam pareciam não ter vida", acrescenta.


Mulheres e crianças em MossulDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionRetomada de controle de Mossul foi anunciada na última segunda-feira

'Situação extrema'

Foi há algumas semanas, contudo, que Sally Becker e sua equipe passaram por uma situação extrema, quando tentavam ajudar civis em Mossul.
Ela diz que os dez dias antes da liberação da cidade "foram horríveis" pelo medo de franco-atiradores, carros-bomba, suicidas e até os ataques químicos.
"Mas isso não foi nada comparado com o que eles têm vivido durante meses e anos", assinala.
Os feridos estavam presos nas zonas da cidade velha de Mossul nas quais ninguém, nem os militares, queriam entrar.
Em determinada ocasião, Becker decidiu se aventurar em uma dessas áreas: "Não podia acreditar no que via", diz.
"O lugar inteiro estava destruído. E entre os escombros havia pessoas feridas", lembra.
A ofensiva para recuperar Mossul durou nove meses, o que causou danos significativos à histórica cidade do Iraque.
No caminho, Becker e sua equipe encontraram 12 meninos feridos, dos quais seis conseguiram levar ao centro de cuidados instalado em uma zona segura de Mossul.


Centro médicoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionCentros médicos temporários foram montados em Mossul para prestar primeiros socorros

E, apesar do grande risco, decidiram voltar e resgatar as outras crianças.
O EI pode ter sido expulso de Mossul, mas o panorama na cidade continua desolador.
Segundo a ONU, 5 mil casas estão danificadas e 490 destruídas.
Entre os escombros, equipes de resgate buscam cadáveres; o calor de até 45 graus durante o dia "aumenta o cheiro dos corpos em decomposição", dizem relatos locais.


Celebración de las fuerzas iraquíes en MosulDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionOfensiva para recuperar Mossul, com tropas iraquianas, curdas e apoio dos EUA, durou nove meses

A coordenadora humanitária da ONU no Iraque, Lise Grande, diz ser um "alívio" que a batalha por Mossul tenha terminado, "mas a crise humanitária ainda não cessou".
"Muitas pessoas que fugiram perderam tudo. Precisam de abrigo, comida, cuidados médicos, água e equipes de emergência. Os níveis de trauma que estamos vivendo são os mais altos. O que as pessoas vêm passando é quase inimaginável", conclui.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Quem é a poderosa mulher inteiramente tatuada que viveu há 1700 anos no Peru e teve rosto recriado



Reconstrução da Senhora do CaoDireito de imagemREUTERS
Image captionAcredita-se que a Senhora do Cao tenha sido uma líder religiosa ou política da civilização moche

Seus restos mortais foram encontrados há 12 anos em meio às ruínas de uma pirâmide de ladrilhos de barro no norte do Peru.
Agora, pesquisadores revelaram, pela primeira vez, como era o rosto da mulher que obrigou historiadores a reformular o conhecimento sobre as estruturas de poder de uma antiga civilização local.
Até ela ser descoberta, os especialistas acreditavam que só homens haviam desfrutado de posições de poder na cultura moche, na era pré-colombiana, entre 100 e 700 d.C., que floresceu no vale de Chicama, no noroeste do Peru, séculos antes do incas.
Mas, a julgar pela tumba da Senhora do Cao, como a múmia é conhecida, ela foi uma mulher de grande poder e status social.
Seu corpo mumificado foi encontrado envolto em panos, ao lado de uma coroa e rodeado por objetos de ouro e cobre - e por armas, inclusive de guerra - na pirâmide de Huaca Cao Viejo, próximo à cidade de Trujillo.
Seus pés, pernas e rosto estavam cobertos com tatuagens de serpentes, aranhas, formas geométricas e desenhos abstratos.
É possível que ela tenha sido a mulher de um governante, mas a riqueza e os itens presentes em seu jazigo levaram os arqueólogos a crer que ela tenha sido uma líder religiosa ou política.


Múmia da Senhora do CaoDireito de imagemREUTERS
Image captionMúmia foi descoberta há 12 anos em meio às ruínas de uma pirâmide no norte do país

Uma autópsia revelou que a Senhora do Cao tinha entre 20 e 30 anos de idade quando morreu, há 1.700 anos, provavelmente por causa de complicações no parto.
Seus traços faciais agora podem ser apreciados graças à uma análise com lasers de sua estrutura cranial e dos seus restos mortais.
Os dados da análise foram colocados em um computador forense para revelar as características da cabeça e do rosto. Para "preencher as lacunas" e determinar as cores da pele, dos olhos e dos cabelos, os especialistas usaram fotos de mulheres que hoje vivem na mesma região.
Por fim, uma reprodução foi confeccionada em fibra de vidro com o auxílio da tecnologia de impressão 3D.
O ministro da Cultura do Peru, Salvador de Solar, disse que a equipe de pesquisa identificou na mulher um rosto oval e maçãs faciais elevadas, características presentes ainda hoje em muitos cidadãos do país.
"Agora, uma combinação rara de passado e futuro nos permite ver como era o rosto dessa líder política, religiosa ou cultural de nossa história", disse Solar.
Fonte:BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 8 de julho de 2017

O que o Brasil compra - e o que vende - da isolada Coreia do Norte


Bandeiras do Brasil e da Coreia do Norte
Image captionSegundo dados da ONU, Brasil foi 8º maior importador de produtos norte-coreanos do mundo no ano passado

Se, ao leste, do outro lado do Pacífico, está seu arqui-inimigo, os Estados Unidos, ao sudeste, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, tem um aliado, pelo menos do ponto de vista comercial.
Único nas Américas a manter embaixadas nas duas Coreias, o Brasil foi, no ano passado, o 8º país que mais comprou produtos vindos da Coreia do Norte, indicam dados compilados pela ONU.
Durante o período, o comércio bilateral totalizou US$ 10,75 milhões (cerca de R$ 36 milhões em valores atuais).
Apesar de significativo para a isolada Coreia do Norte, contra a qual pesam sanções econômicas devido à manutenção de seu programa nuclear e de seus testes balísticos, o volume negociado entre os dois países é o menor desde 2000.
Também está bem abaixo do recorde de 2008, quando o intercâmbio comercial (soma das importações e exportações) foi quase 40 vezes maior do que o do ano passado (US$ 375,2 milhões).
A BBC Brasil apurou que essa redução se deu, principalmente, pelo medo de exportadores brasileiros serem retaliados por potências ocidentais e seus aliados ao negociarem com a Coreia do Norte.
Essas empresas temem que, ao venderem produtos para o isolado país, possam perder contratos importantes - e financeiramente mais vantajosos - com Estados Unidos e Japão, por exemplo.
Sanções impostas pela ONU proíbem a exportação de armas, minerais e bens de luxo para a Coreia do Norte. Estados Unidos, Coreia do Sul, Japão e União Europeia impuseram sanções próprias semelhantes.

'Potência nuclear'

Na última terça-feira, no dia da Independência dos Estados Unidos, o governo norte-coreano anunciou que havia lançado com sucesso seu primeiro míssil balístico intercontinental.
Segundo especialistas, o projétil poderia atingir o Estado americano do Alasca.
A televisão estatal norte-coreana divulgou imagens do teste, chamado de "presente aos Estados Unidos", e anunciou que o feito põe o país no patamar de "potência nuclear", agora capaz de "atingir qualquer parte do mundo".
No dia seguinte, os Estados Unidos e um de seus aliados asiáticos, a Coreia do Sul, conduziram, em retaliação, um teste de mísseis no território do sul-coreano.
Autoridades dos dois países emitiram, então, um comunicado destacando que a moderação "é tudo o que separa a trégua da guerra".
Na sequência, os americanos convocaram uma reunião de emergência no Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, onde anunciaram que pretendem apresentar um conjunto de sanções ao país asiático e elevaram o tom do discurso.
"Podemos usar (nossas forças militares) se precisarmos", alertou a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley.
A relação conflituosa entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos e seus aliados asiáticos não é recente, mas o lançamento bem-sucedido de um míssil que poderia chegar à fronteira americana aumenta a preocupação quanto a um potencial confronto armado.

Michel Temer e Kim Jong-unDireito de imagemAFP
Image captionComércio entre Brasil e Coreia do Norte totalizou cerca de R$ 36 milhões em 2016

Produtos

No ano passado, o Brasil exportou à Coreia do Norte US$ 2 milhões em produtos, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).
O café torrado (47% do total) foi o principal item vendido, seguido por fumo, couros e peles, além de carne bovina desossada e congelada.
Do lado das importações, o país comprou cerca de US$ 8,7 milhões dos norte-coreanos, em sua maioria peças de computador, como placas de memória digital (41% do total).
A BBC Brasil entrou em contato com algumas empresas brasileiras listadas como exportadoras de produtos à Coreia do Norte. Duas delas afirmaram que nunca venderam ao país e não sabem como apareceram nas planilhas de comércio divulgadas pelo Mdic.
Questionado pela reportagem, o ministério afirmou, em nota, que "devem ter ocorrido erros no preenchimento no sistema".
"Provavelmente, devido à semelhança do nome do país com 'Coreia do Sul' e a proximidade dos dois códigos, devem ter ocorridos erros no preenchimento de dados no sistema. Destacamos, mais uma vez, que o registro efetuado é de reponsabilidade dos operadores, exportadores e importadores e são informações de caráter declaratório", alegou o Mdic.
A China continua sendo a principal aliada econômica da Coreia do Norte, sendo responsável por mais de 80% tanto das importações quanto das exportações do país.
Outros produtos norte-coreanos têm como destino Índia, Filipinas e Paquistão.
Na outra ponta, depois da China, a Coreia do Norte compra da Índia, Rússia e Filipinas.

Embaixada do Brasil em PyongyangDireito de imagemMRE
Image captionBrasil mantém embaixada na capital norte-coreana, Pyongyang, desde 2009

Relações diplomáticas

Brasil e Coreia do Norte estabeleceram relações diplomáticas em 2001, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em 2005, o governo norte-coreano inaugurou sua embaixada em Brasília.
Quatro anos depois, foi a vez de o Brasil fazer o mesmo na capital norte-coreana, Pyongyang.
Desde julho do ano passado, contudo, a representação diplomática brasileira não tem um embaixador e é chefiada por um diplomata que exerce a função de encarregado de negócios.
Ele é único membro do corpo diplomático no posto, com exceção de oficiais de chancelaria enviados periodicamente em caráter temporário.
Além disso, diferentemente do que acontece no exterior, a embaixada do Brasil em Pyongyang não tem, entre as suas atribuições, a promoção comercial, limitando-se à "observação política in loco".

Ajuda humanitária e cooperação técnica

Isolada do resto do mundo e prejudicada pelas sanções econômicas, a Coreia do Norte é particularmente afeita a desastres naturais e fenômenos climáticos extremos, como secas e enchentes, ocasionando a quebra de colheitas.
Por causa disso, o Brasil realizou "três iniciativas de ajuda humanitária ao país - todas por meio do Programa Mundial de Alimentos da ONU: em abril de 2010, doação pecuniária, no valor de US$ 200 mil; em dezembro de 2011, doação de 16,5 mil toneladas de milho; e, entre abril e maio de 2012, doação de 4.600 toneladas de feijão", informou o Itamaraty.
Os dois países também já conduziram projetos de cooperação técnica.
A última missão de técnicos brasileiros à Coreia do Norte foi realizada em 2010, seguida, em 2011, por uma missão norte-coreana integrada por quatro técnicos, que receberam treinamento sobre plantio de soja na Embrapa em Piracicaba e Londrina.
De acordo com o Itamaraty, recentemente, o governo norte-coreano solicitou um novo projeto de cooperação técnica com o Brasil na área de capacitação de técnicos para manutenção de maquinário agrícola.
"A referida iniciativa tem sua viabilidade sendo considerada pelo Itamaraty e pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), haja vista seu propósito humanitário de contribuir para a segurança alimentar do país", acrescentou o órgão.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 4 de julho de 2017

'É uma escalada da ameaça ao mundo': EUA confirma teste de míssil intercontinental pela Coreia do Norte



Lançamento de míssil na Coreia do NorteDireito de imagemREUTERS
Image captionA emissora estatal do país divulgou fotos do teste de um ICBM

Os Estados Unidos anunciaram terem confirmado que a Coreia do Norte testou um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) nesta terça-feira.
O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, classificou o ato como uma "nova escalada da ameaça aos Estados Unidos" e ao mundo e alertou que Washington "nunca aceitará uma Coreia do Norte armada nuclearmente".
Esta foi a primeira vez que a Coreia do Norte anunciou ter realizado esse eito com sucesso, voltando assim a causar preocupação na comunidade internacional.
Autoridades americanas acreditam que o míssil norte-coreano consegue atingir o Alasca, no entanto, especialistas afirmam que ele não seria capaz de atingir com precisão um alvo determinado.
Algumas horas após o teste sobre o Mar do Japão, os Estados Unidos pediram uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para discutir o assunto. A sessão a portas fechadas entre representantes dos 15 membros do conselho será nesta quarta-feira.
Em um comunicado, Tillerson reforçou que uma "ação global é necessária a fim de parar uma ameaça global" e alertou que qualquer nação que ofereça benefícios econômicos ou militares aos norte-coreanos ou não cumpra integralmente a resolução do conselho estará "ajudando e incitando um perigoso regime".

O que a Coreia do Norte disse?

O anúncio feito na TV pela emissora estatal disse que um teste do míssil balístico intercontinental Hwasong-14 foi feito sob a supervisão do líder norte-coreano, Kim Jong-un. Foi informado que o projétil atingiu uma altitude de 2.802 km e percorreu 933 km em 39 minutos antes de cair no mar.
No anúncio, foi dito que a Coreia do Norte agora é uma "potência nuclear completa que possui o mais poderoso foguete intercontinental capaz de atingir qualquer parte do mundo". A agência de notícias oficial, a KCNA, divulgou que Kim Jong-un considerou o teste um "presente" para os americanos ao realizá-lo no dia da independência dos Estados Unidos.
O lançamento é o mais recente de uma série de testes e foi contra o veto a esse tipo de operação pelo Conselho de Segurança da ONU. Mas especialistas avaliam que a Coreia do Norte não é capaz de miniaturizar uma bomba nuclear para encaixá-la em um míssil assim.

Quão longe o míssil pode ir?

Essa é a grande questão, diz Steven Evans, da BBC em Seoul (Coreia do Sul). Seria capaz de atingir os Estados Unidos?
O físico americano David Wright, integrante da ONG Union of Concerned Scientists, diz que, se os relatos estiverem corretos, o míssil poderia "ter um alcance máximo de 6.700 km em uma trajetória padrão". Isso o tornaria capaz de chegar ao Alasca, mas não às maiores ilhas do Havaí ou aos outros 48 Estados americanos, diz ele.
A Coreia do Norte não precisaria apenas de um míssil, acrescenta Evans. Também teria de proteger uma bomba nuclear de sua reentrada na atmosfera, e não está claro se é capaz disso.

Gráfico
Grey line

O que significa esse teste? Por Melissa Hanham, especialista em defesa

Novamente, a Coreia do Norte desafiou a sorte e deu uma banana para o mundo com um único lançamento de míssil. O teste mostrou que o país provavelmente é capaz de atingir distâncias intercontinentais com mísseis balísticos, o que coloca o Alasca em risco.
Kim Jong-un havia expressado há tempos seu desejo de fazer um teste assim, e tê-lo realizado em 4 de julho é apenas a cereja de seu imenso bolo.
Apesar desse êxito técnico, é provável que muitos fora da Coreia do Norte se mantenham céticos, pedindo por provas de que o país é capaz de guiar seu míssil e controlar sua reentrada ou de que tem uma bomba nuclear.
No entanto, do ponto de vista técnico, seus foguetes são capazes de cumprir distâncias de um ICBM, e essa pode ser apenas a primeira das diversas formam com que a Coreia do Norte pode obter um ICBM de autonomia ainda maior.

Grey line

Os vizinhos e potências nucleares estão preocupados?

O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, cobrou do Conselho de Segurança medidas contra o país vizinho.
Um forte alerta veio do diretor de operações dos Líderes das Forças Armadas do país. Cho Han-Gya disse que "o regime de Kim Jong-un será destruído" se "ignorar os alertas militares e prosseguir com as provocações".
O Japão afirmou que "repetidas provocações como essa são totalmente inaceitáveis", e o primeiro-ministro Shinzo Abe disse que o país "se uniria fortemente" aos Estados Unidos e a Coreia do Sul para pressionar a Coreia do Norte.
O presidente americano, Donald Trump, aparentemente se referiu ao líder norte-coreano em sua conta no Twitter ao dizer: "Esse cara não tem nada melhor para fazer da vida?".
"Difícil crer que a Coreia do Sul e o Japão vão aguentar isso por muito mais tempo. Talvez a China aja com força sobre a Coreia do Norte e dê fim a esse absurdo de uma vez por todas."

Kim Jong Un supervisiona teste do míssil Hwasong-14Direito de imagemKCNA/REUTERS
Image captionRealizar um teste de um míssil balístico intercontinental era um desejo antigo do líder norte-coreano

Trump já fez diversos apelos para que a China, principal aliado econômico dos norte-coreanos, pressione o país a encerrar seus programas de mísseis e nuclear.
Sobre as chances da Coreia do Norte ser capaz de atacar os Estados Unidos, ele publicou em janeiro: "Não vai acontecer". No entanto, especialistas dizem que isso será possível dentro de cinco anos ou menos.
Enquanto isso, o secretário de Relações Exteriores britânico, Boris Johnson, disse que a comunidade internacional "precisa redobrar seus esforços para impor um preço a esse regime que faz de tudo para construir armas nucleares e lançar mísseis ilegalmente enquanto o povo da Coreia do Norte sofre com a fome e a pobreza".Professor Edgar Bom Jardim - PE