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quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Qual o significado da vitória de Temer na Câmara?


Michel TemerDireito de imagemBETO BARATA/PR
Image captionEmbora tenha vencido com alguma folga, Temer viu sua base de apoio encolher a 51% da Câmara

O presidente Michel Temer demonstrou que ainda conta com a maioria dos votos na Câmara dos Deputados ao barrar nesta quarta-feira o pedido da Procuradoria Geral da República (PGR) para que fosse processado por corrupção.
Mas a perspectiva de novas denúncias da PGR, o esvaziamento dos cofres públicos e defecções na base aliada tornam incertas a conclusão do mandato de Temer e a retomada de sua agenda de reformas, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Na votação de quarta-feira, 227 deputados se posicionaram a favor do prosseguimento da denúncia contra Temer, e 263 foram contra - bem além dos 172 votos de que o presidente precisava para arquivar a iniciativa. Dezenove deputados se ausentaram, e dois se abstiveram.
Embora tenha vencido com alguma folga, Temer viu sua base de apoio encolher a 51% da Câmara - o que pode pôr em risco sua agenda de reformas e forçá-lo a reorganizar a composição do governo, cedendo a partidos que pedem mais espaço em troca da fidelidade.

'Tirando o Brasil da UTI'

Em nota, o vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS), disse que o resultado "dá força para que o presidente continue trabalhando para tirar o Brasil da maior crise política e econômica de sua história e avançando nas reformas necessárias".
"Venceu a energia positiva que está tirando o Brasil da UTI", afirmou.
Já o líder da minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse que o "governo ganha, mas não leva". "Sai enfraquecido e perde na governabilidade, que era a única coisa que o sustentava."
Em outubro, quando Temer aprovou a proposta que limitou os gastos públicos, primeiro grande teste do governo no Congresso, ele obteve o apoio de 63% dos deputados. Na aprovação da reforma trabalhista, em abril, o número de votos caiu para 58%.
Em maio, a delação da JBS - base da denúncia da PGR contra Temer, acusado de receber ilegalmente R$ 500 mil por intermédio de um aliado - fez com que mais parlamentares deixassem a base.

Silvio Costa (PTdoB-PE),Direito de imagemAGÊNCIA BRASIL
Image captionDeputado Silvio Costa (PTdoB-PE) diz que 'daqui para a frente é esperar nova denúncia' contra Temer

Para o vice-líder da minoria, deputado Silvio Costa (PTdoB-PE), a expectativa da oposição é que, caso a PGR apresente uma nova denúncia contra Temer, a população pressione os deputados que apoiaram o governo a mudarem de lado.
"Daqui para a frente é esperar uma nova denúncia, começar um novo debate e ver se as ruas agem."
A professora de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) Flávia Biroli diz que, vencida a votação, aliados de Temer no Congresso e os empresários que apoiam o governo pressionarão o Planalto para terem suas demandas atendidas.
"Ele terá de mostrar algum serviço para conseguir se manter."
No caso dos parlamentares, Biroli cita a bancada ruralista, um dos principais pilares do governo no Congresso. Desde que assumiu, Temer fez vários agrados ao grupo - como a aprovação de uma Medida Provisória que facilita a regularização de terras, a paralisação de demarcações de áreas indígenas e quilombolas e o alívio a dívidas de agricultores.
"Imagine então o que virá adiante, com base em que foram feitos os acordos para essa votação?", questiona.

Manifestação contra reformas do governoDireito de imagemAGÊNCIA BRASIL
Image captionNa aprovação da reforma trabalhista, em abril, o número de votos dos deputados caiu para 58%.

No caso do apoio dos empresários, ela diz que o grupo cobrará o presidente a aprovar as reformas da Previdência e tributária.
Mas há dúvidas sobre a força do presidente para assumir essas missões.
Para alterar trechos da Constituição, o que a reforma da Previdência prevê, Temer precisa de 308 votos na Câmara - mais que os 263 que obteve ao arquivar a denúncia da PGR.
O governo diz que parte dos deputados que votou contra Temer concorda com a reforma e endossará a iniciativa - caso do deputado Ricardo Tripoli (SP), líder do PSDB, que votou a favor do andamento da denúncia na quarta.
"Essa votação representa a preocupação de investigar esse fato especificamente. As reformas são mais importantes do que tudo", afirmou o tucano.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se absteve na votação, disse que a reforma da Previdência ainda é uma prioridade, mas que será necessário muito trabalho para angariar os apoios necessários à aprovação.
"O importante é que a Câmara tomou sua decisão. O que a gente não podia era ficar postergando. Agora temos um longo caminho, o Brasil tem uma crise fiscal profunda."

Rodrigo MaiaDireito de imagemAGÊNCIA BRASIL
Image captionMaia disse que a reforma da previdência ainda é prioridade, mas que será necessário muito trabalho para angariar apoio

Já Geraldo Monteiro, professor de ciência política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), diz que Temer estará mais preocupado em sobreviver até 2018 do que em aprovar uma reforma que é bastante impopular.
Ele lembra que, em maio, uma pesquisa do Datafolha revelou que 71% dos brasileiros são contra as mudanças propostas na Previdência.
Assessores do governo têm indicado que, antes da Previdência, Temer pode tentar aprovar a reforma tributária, tarefa que considera mais fácil.
Para Monteiro, o presidente também será pressionado a reduzir o espaço do PSDB e expulsar o PSB do governo. Dono de quatro ministérios, o PSDB liberou o voto dos seus deputados: 21 foram favoráveis ao prosseguimento da denúncia, 22 foram contra, e quatro se abstiveram.
No PSB, que ocupa um ministério, 20 deputados votaram a favor da denúncia, 11 votaram contra, e dois se abstiveram.
O professor diz que, se reduzir o espaço do PSDB e PSB, Temer deve ampliar o quinhão de partidos que se revelaram mais fiéis ao governo na votação, como PP e PR.
Ainda assim, afirma que a convivência do governo com a base será mais difícil. "Quanto menor a base, maior o custo unitário de cada apoio. O governo vai ficar cada vez mais refém de uma base cada vez mais estreita."
Ele diz que outro desafio à manutenção dos apoios é o esvaziamento dos cofres públicos - exposto pela paralisação nas emissões de passaportes em junho, por exemplo.
No fim daquele mês, o vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS), disse à BBC Brasil que a liberação de emendas parlamentares era parte da estratégia do governo para garantir apoios. O aperto nas contas, porém, "reduz a margem para fazer bondades", diz o professor.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 30 de julho de 2017

Educação não avança porque governos não ajudam

educacao igreja.jpg
Controle das escolas pela igreja católica está entre as causas do atraso da educação brasileira


Em texto anterior, discutimos a evolução histórica inicial da educação no Brasil, começando pelos jesuítas, passando pela adoção do Método Lancaster e terminando, pouco tempo depois, com o retorno progressivo do ensino ao método simultâneo a partir de 1847, em detrimento do método mútuo, predominante por cerca de três décadas.
Ainda que alguns avanços tenham ocorrido nesse fim do período imperial e no início da República, nada de estrutural ocorreu. Como até hoje acontece com a maioria das vanguardas existentes dentro e fora do Brasil, as iniciativas mais relevantes em termos de educação ficam pouco conhecidas pelas pessoas em geral e até mesmo por boa parte dos educadores.
No interior de Minas Geais, por exemplo, o educador Eurípedes Barsanulfo criou, em 1902, com outros professores, o Liceu Sacramento, no município de mesmo nome, que viria a se chamar anos depois, com algumas mudanças educacionais, Colégio Allan Kardec.
O Brasil quase sempre tem suas boas iniciativas isoladas de vanguarda, mas o problema normalmente está na falta de visão, vontade e competência dos governantes para transformar essas exceções em regra, criando políticas eficientes para difundi-las, mas sem perder qualidade.
Muito antes do bom Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, publicado apenas em 1932, Barsanulfo aplicou em sua escola as salas mistas, com homens e mulheres, uma novidade para a época, além de, no método, apresentar uma educação mais focada na prática e na fixação de valores morais, seguindo a linha de autores estudados neste blog, como ComeniusRousseauPestalozzi e Rivail, ainda que não tivesse conhecido os posicionamentos da maioria deles.
Uma grande causa de atraso da educação brasileira foi, por muito tempo, a instituição Igreja Católica, que tentava manter, a todo custo, o seu controle sobre as escolas. Isso ficou claro quando adveio o referido manifesto em 1932, que trazia ideias progressistas e gerou um embate direto com a Igreja.
Após a proclamação da República em 1889, com a separação entre Estado e Igreja, esta buscou, com todas as forças, se manter no controle do país, e a educação, obviamente, é o principal meio de moldar as mentes dos indivíduos.
O Manual de Literaturas Estrangeiras, por exemplo, de autoria anônima, era um calhamaço de 660 páginas, de adoção obrigatória pelas escolas católicas, que criticava romancistas e outros pensadores estrangeiros que mudaram os rumos do mundo. A Igreja lançava um movimento contrarrevolucionário, tentando impedir as mudanças estimuladas pela revolução de 1930 e pelo movimento da Escola Nova.
Apesar disso, Eurípedes Barsanulfo, mesmo sendo inicialmente católico e depois espírita, tinha como parte importante do seu método o ensino da história das religiões em geral, sem doutrinação, revisitando fatos marcantes que determinaram a própria construção das sociedades, assim como os valores morais sustentados por elas, que, ao fim e ao cabo, afastadas as distorções, terminam sendo, em regra, muito parecidos.
É bom lembrar que, apesar de o manifesto ter vindo apenas em 1932, Rui Barbosa já vinha propagando as ideia da Escola Nova desde o final do século XIX, ganhando apoio de José Veríssimo e agitação de Olavo Bilac, mas os especialistas entendem que Barsanulfo, isolado no interior de Minas Gerais, não chegou a ter contato com essa proposta, intuindo boa parte das novidades que imprimiu à educação da instituição que criou. 
Outro marco da escola de Barsanulfo era a gratuidade e, assim, a abertura a qualquer tipo de aluno. Com isso, quebrou outro vício da época, mas que perdura de certa forma até hoje, o de separar a elite econômica e os mais humildes. A maior parte dos seus alunos eram, de fato, humildes, mas sua proposta alcançou tanto sucesso que terminou atraindo educandos das mais variadas origens socioeconômicas.
Assim como Pestalozzi, Barsanulfo investiu muito no amor no ensino, em lugar dos castigos corporais, ainda muito comuns à época. Hoje, apesar de ser raro e detestável o castigo corporal, as expulsões de classe, suspensões, proibições etc. são ainda muito comuns enquanto ferramentas educativas para moldar os comportamentos dos educandos, o que, com frequência, não soluciona o problema na raiz.
Numa relação educador x educando, é preciso que se entregue a este aquilo que ele deverá desenvolver em sua vida. É preciso estimular o desenvolvimento das faculdades naturais, e um meio básico de se fazer isso é sendo simplesmente um espelho, ou seja, agindo da forma como se queria que os educandos viessem a agir, explicando a eles porque se deve escolher o caminho “a” ou “b”.
O que se vê com frequência, contudo, é o educador descontar nos educandos as amarguras da vida, considerando suas transgressões de comportamento – e, às vezes, as mais brandas – ofensas que precisam ser apenadas de forma dura. Seja em presídios, seja nos lares, seja nas escolas, há variados estudos demonstrando que a dureza não é a melhor saída quando se quer desenvolver no outro comportamentos de maior paz, serenidade e amor.
Não se trata de leniência, mas de outra forma de lidar com os comportamentos indesejáveis, que pode ser menos hábil a extravasar a insatisfação do educador e que tende a exigir mais trabalho dele, porém que provoca mudanças mais profundas e com resultados muito mais efetivos naqueles que precisam ser educados para não agirem mais de determinada forma considerada inadequada.
Em regra, o indivíduo aceita melhor aquilo que lhe é sugerido quando admira e gosta daquele que lhe faz a sugestão. Por essa e pelas razões acima, é preciso que o educador seja preferencialmente alguém em paz de espírito, sereno, sábio, amoroso, para que possa ganhar a admiração e o afeto do seu educando, gerando, assim, um vínculo que facilita enormemente o processo pedagógico. Uma vez que se pretenda exigir tanto do educador, é necessário que ele seja mais bem preparado e remunerado. 
Segundo Alessandro Cesar Bigheto, um dos maiores especialistas na educação oferecida por Barsanulfo, seu programa era norteado “por princípios de educação ativa e respeito à liberdade de aprendizado, sem os tradicionais sistemas disciplinares. Apenas parte das aulas de Barsanulfo eram expositivas. Os alunos eram estimulados a agir diante do conhecimento. Nas aulas de ciências, observação e contato direto com a natureza; nas aulas de astronomia, investigação e análise dos astros e de aspectos do Universo. Para desenvolver o físico, praticava-se ginástica todos os dias. Havia aulas-passeio como método para se discutir e estudar os diferentes temas. Para se desenvolver a alma, os sentimentos morais e a reflexão ética provocavam-se ações que levassem a uma vivênvia ativa da cooperação fraterna”.
Outra educadora vanguardista no Brasil foi Anália Franco, que seguiu um projeto pedagógico semelhante ao de Barsanulfo, ficando conhecida como a Pestalozzi brasileira, por se dedicar à educação dos órfãos com o mesmo amor do pedagogo suíço, além de a vários outros projetos que ela criou em prol de excluídos e explorados. Conta-se que Anália teve acesso à vida e às ideias de Pestalozzi por meio de educadores portugueses.
Coincidência ou não, um terceiro educador, Tomás Avelino, que fundou a Escola Pestalozzi, em Franca/SP, no ano de 1944, havia passado 5 anos no orfanato Anália Franco em São Paulo/SP, onde teve contato com a proposta psicopedagógica daquela que fundou cerca de 100 instituições, dentre escolas, orfanatos e albergues. 
Após esse período, Avelino retornou a Divinópolis/MG em 1913 e, depois de alguns anos, em 1916, foi estudar no Colégio Allan Kardec em Sacramento/MG, com Eurípedes Barsanulfo.
Não é à toa, portanto, que Avelino tenha fundado, juntamente com sua esposa Maria Aparecida Rebêlo, que era professora, a Escola Pestalozzi. O dinheiro para a fundação da escola veio da Fábrica de Calçados Pestalozzi, de propriedade também dos dois.
Os Pioneiros da Escola Nova foram os primeiros a constituir um movimento organizado, e bem registrado no manifesto, por uma reforma estrutural na educação brasileira, mas obtiveram sucesso tímido, enquanto que as iniciativas isoladas mencionadas acima, algumas bem anteriores ao manifesto de 1932, produziram grandes frutos nos seus reduzidos cenários e ficaram ainda menos conhecidas do grande público e mesmo dos educadores. 
A despeito de alguns pequenos avanços aqui e ali, a estrutura da educação no Brasil é a mesma do século XIX: autoritária, doutrinadora, teórica, abstrata, segmentária das disciplinas, com pouca análise crítica moral, social, econômica e política, e menor ainda dialética. 
Isso porque, dentre outras razões, os governantes não souberam e não quiseram quebrar com o modelo tradicional a partir da difusão das diferentes iniciativas vanguardistas que aconteceram e acontecem no Brasil e no mundo.
É difícil de negar que a gravidade da crise moral, social, econômica e política pela qual o país passa esteja intimamente ligada ao fracasso da educação. Resta saber quem terá vontade, força e coragem para mudar essa realidade.  
Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Assista: Otto defende Dilma e desanca Augusto Nunes na Jovem Pan


Reprodução
  
Assumidamente de esquerda, o cantor disse que o país está passando por uma tortura política, econômica e social e que Dilma sempre foi uma pessoa honesta rodeada de lobos no congresso.

"Dilma não foi vítima. Ela é uma mulher forte. Quem deveria estar preso está solto. A democracia foi quem perdeu. É um buraco tão grande que se criou nesse país que estamos pagando agora. Bala que dispara contra o tempo, sempre volta", comentou, bastante irritado.

Questionando a visão de Otto sobre a ex-presidente, o jornalista Augusto Nunes apontou pontos sobre o governo da petista, que perdeu seu mandato sob a acusação de pedalada fiscal e foi citada nas delações da Odebrecht.

Mesmo assim, Otto garantiu que não é militante do PT e que apenas defende sua posição política. Para ele, a única salvação do país são as eleições de 2018, quando os brasileiros terão a chance de limpar todos os corruptos da vida política.

"Eu não tenho partido, tenho posições minhas. A única coisa que vai ajudar é uma eleição direta", afirmou. "Eu sou de esquerda. Meu partido é a esquerda e o seu? É a direita", disse a Augusto Nunes. "O sistema desse país deve desculpas, não apenas a presidente, mas para todos. Todo mundo sabe que ela estava no meio de macacos. Dilma era uma pessoa honesta, não precisava sair daquele jeito", concluiu.



Revista Fórum
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Comprador de votos, afirma em artigo Erika Kokay

Temer
Temer utiliza o Palácio do Planalto como trincheira para se proteger e se manter no cargo



O troca-troca imoral de parlamentares na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara não foi o único instrumento utilizado por Michel Temer para se livrar da denúncia de corrupção passiva apresentada pela Procuradoria-Geral da República. Como denunciado diversas vezes pela oposição democrática no parlamento, Temer tem utilizado dinheiro público para se salvar.
De acordo com dados do SIGA Brasil, sistema de informações sobre o orçamento público federal, da consultoria de Orçamento do Senado Federal, houve um crescimento vertiginoso da liberação de emendas parlamentares nos últimos meses.
O levantamento mostra que houve um esquema de distribuição de emendas que beneficiou fartamente partidos e parlamentares da base do governo. Somente entre os meses de abril e junho de 2017 foram distribuídos cerca de R$ 755 milhões aos 19 partidos aliados do governo. Entre os que mais receberam recursos estão o PMDB (1º), PSDB (2º), PP (3º), PSD (4º), PR (5º), DEM (6º), PSB (7º), PTB (8º), PRB (9º), SD (10º).
Chama atenção o fato do PSC, partido de Jair Bolsonaro, ter sido o que mais recebeu recursos quando a análise leva em consideração o montante recebido por cada parlamentar (cerca de R$ 3 milhões) no comparativo com outros parlamentares da base que receberam uma média de R$ 2,2 milhões (PMDB), R$ 2 milhões (PSDB) e R$ 2 milhões (PP). Nenhum dos parlamentares dos dez partidos que mais receberam foram agraciados com montantes inferiores a R$ 1,4 milhão.
Representantes do governo têm dito que os recursos estão sendo distribuídos de forma republicana entre os parlamentares da base e da oposição, o que não se sustenta quando são analisados os números.
Bem diferente dos montantes destinados aos partidos aliados, os recursos da oposição somam volumes muito menores. No mesmo período de abril a junho de 2017, os principais partidos da oposição PT, PDT, PCdoB, PSOL e Rede, tiveram acesso a um valor em emendas ao Orçamento cerca de 12 vezes menor ao que foi distribuído aos partidos aliados de Temer.
Contra fatos não há argumentos. Temer além de utilizar o Palácio do Planalto como trincheira para se proteger e se manter no cargo, não tem tido escrúpulo algum em lançar mão do dinheiro do povo brasileiro para promover a obstrução da justiça a partir do impedimento da admissibilidade das investigações na Câmara Federal.
Ao mesmo tempo em que Temer abre os cofres públicos para impedir qualquer tipo de investigação, o governo promove o aumento das alíquotas de PIS/Cofins para oscombustíveis, principal medida para atingir a meta fiscal de 2017, que tem rombo de R$ 139 bilhões. Ora, justo um governo que surgiu de um golpe fundamentado na tese de um crime de responsabilidade (que nunca existiu) por não cumprimento da meta fiscal?
Temer foi alçado ao Palácio do Planalto apoiado pela FIESP e empresários com o compromisso de não aumentar impostos. Ao optar pelo aumento dos combustíveis, Temer tenta tapar o rombo das contas públicas aumentando o custo de vida e penalizando os mais pobres. Ao mesmo tempo em que não mexe em nada no injusto modelo tributário brasileiro (fortemente regressivo), tal medida também gera um impacto negativo numa economia estagnada e em crise, pois promoverá um efeito cascata no custo de diversos produtos e serviços.
Não é demais lembrar que o aumento de impostos não tem reflexo algum na melhoria das políticas públicas, uma vez que a Emenda Constitucional 95 congelou os gastos públicos com saúde e educação por inaceitáveis 20 anos, mas não mexeu em uma vírgula dos gastos com juros e amortizações da dívida pública, que já consomem mais de 50% do orçamento público brasileiro.
Nesse contexto de crise política, econômica e ética, o que mais preocupa é que o balcão de negócios não parece ter fim. Parlamentares estão em gôndolas e precificados, ao mesmo tempo em que o governo fraco e débil de Temer tem que pagar cada vez mais caro pelo apoio dos fisiologistas.
A estratégia de usurpar recursos públicos para impedir o andamento de investigações certamente custará muito caro ao erário público e ao povo brasileiro. Temer, além da denúncia de corrupção passiva, em análise na Câmara, ainda poderá sofrer ao menos duas outras denúncias por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR) por lavagem de dinheiro e obstrução da justiça. Ou seja, as negociações que estão sendo feitas hoje não valerão daqui a alguns dias, quando as novas denúncias forem apresentadas.
A tal “governabilidade” tão propalada por Temer como um trunfo para o mercado foi definitivamente para o espaço. Temer terá de renegociar com a “base” a cada nova denúncia. Não há governabilidade real, mas a compra explícita de apoio transitório e fictício.
Resta saber se restará dinheiro nos cofres públicos para alimentar as inúmeras transações tenebrosas que Temer terá de fazer para se manter cambaleante no cargo.
*Erika Kokay é deputada federal pelo PT-DF
Carta Capital.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Patrão espanca ex-funcionária e pega dinheiro de volta após acordo


Um homem foi flagrado agredindo sua ex-funcionária e roubando todo o dinheiro da rescisão de seu contrato, em Curitiba (PR). A agressão foi gravada por câmeras de segurança de um elevador.
O vídeo mostra a mulher e o homem entrando no mesmo elevador, logo depois de terem realizado o acordo demissional. Assim que a porta se fecha, Almir Souza, proprietário de um restaurante, se aproxima da vítima e começa a xingá-la. Depois, ele dá uma joelhada na ex-funcionária.
Em seguida, o agressor tenta roubar a bolsa da mulher onde estava o valor de R$ 3.000, referente ao acerto de dois anos em que a vítima trabalhou no estabelecimento. Assim que a porta do elevador se abre, o homem sai com todo o dinheiro dentro da bolsa da mulher.
A vítima prestou queixa no 1º Distrito Policial da cidade. De acordo com o advogado do Sindehóteis (Sindicato dos Trabalhadores no Comércio Hoteleiro, Meios de Hospedagem e Gastronomia) de Curitiba, ela foi ameaçada pelo ex-patrão.
— Ela chegou bem assustada. O ex-patrão afirmou que, se ela tomasse alguma medida, algo de pior poderia acontecer com ela.
Procurado, o empresário afirmou que irá se pronunciar em breve sobre o caso.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 25 de julho de 2017

Governo recorrerá de decisão contra aumento de impostos, diz Meirelles


O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse nesta terça (25) que o governo recorrerá da decisão da Justiça Federal no Distrito Federal que suspendeu o reajuste das alíquotas do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre a gasolina, o diesel e o etanol, anunciado pelo governo na última quinta-feira (20). Segundo ele, advogados da Advocacia Geral da União (AGU) já estão analisando a decisão para preparar a defesa.

“A interpretação dos advogados da AGU é a de que o aumento dos tributos está dentro da lei. A AGU vai apresentar o recurso e vamos aguardar como sempre. Encaramos com tranquilidade as decisões de outros poderes”, disse o ministro.

Meirelles reforçou que a discordância entre os poderes é uma das características da democracia e o aumento das alíquotas desses impostos foi baseada na avaliação dos advogados da AGU e da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. “Continuamos acreditando nela [na Justiça]. O juiz entendeu diferente e está em seu legítimo direito. Compete à AGU apresentar toda a argumentação e aguardar as decisões posteriores. Em resumo mantemos a serenidade, tranquilidade e a convicção do que fizemos”.

Meirelles esteve na tarde de hoje (25) no velório do fundador da Editora Três e criador da revista Istoé, Domingo Alzugaray, 84 anos, que morreu ontem (24) no Hospital Sírio Libanês, na capital paulista. A causa da morte não foi revelada. O velório está sendo realizado no crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na região metropolitana de São Paulo. "Nós nos encontramos, interagimos e tivemos uma sólida amizade durante um longo período. Ele era um homem de força e que enfrentava desafios, como criar um novo grupo editorial no país e construir seu espaço de opinião. Ele deixa um legado forte extraordinário e importante que sobrevive e estará conosco".

Ao final da cerimônia de cremação, Meirelles ressaltou que caso o governo seja derrotado pensará em outras formas de tributo. “Esse é o tributo mais eficiente, não só do ponto de vista de efeito para a economia e outros indicadores, mas respeitamos as decisões judiciais depois de todos os recursos”.

PDV

O ministro também reforçou que a proposta de Programa de Desligamento Voluntário (PDV) de funcionários públicos federais anunciada ontem (24) pode gerar impacto positivo para que o governo atinja as metas fiscais. A iniciativa do governo federal busca reduzir gastos públicos com a folha de pagamento dos servidores públicos federais.

“É um movimento que ainda está sendo mensurado e vai depender muito da adesão, mas dentro dessa estimativa preliminar do Ministério do Planejamento isso pode atingir cerca de R$ 1 bilhão por ano. É um projeto ainda em elaboração. Ontem foi uma notícia preliminar sobre isso. Ainda não é um projeto final, formatado e levado para o presidente da República”.

A medida inclui também a possibilidade de redução da jornada de trabalho com remuneração proporcional para servidores públicos do Poder Executivo Federal. A proposta é oferecer uma indenização correspondente a 125% da remuneração do servidor na data de desligamento multiplicada pelo número de anos de efetivo exercício.

Meirelles evitou fazer previsões sobre a taxa taxa básica de juros, a Selic, mas disse que o Banco Central (BC) vem dando sinalizações de trajetória de queda na taxa. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC inicia hoje (25), em Brasília, a quinta reunião do ano para definir a taxa básica de juros, a Selic. Instituições financeiras, consultadas pelo BC, esperam que a Selic seja reduzida em 1 ponto percentual caindo para 9,25% ao ano.
Folha de Pernambuco.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Nova procuradora-geral da República quer fortalecer unidades do MP no interior

Subprocuradora-geral da Repúplica Raquel Dodge (Foto: ANPR)
Uma das metas da futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge, é fortalecer as unidades do Ministério Público Federal nos municípios do interior. Ela se queixa de que Janot se descuidou delas.
Época.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Os moradores de rua e a opressão

Morar. Estamos no mundo, procuramos abrigos, queremos atenção, olhamos os outros. Quando se pensava que as ideias iluministas iriam salvar a sociedade, a miséria continua fazendo vítimas e construindo desencantos. A razão cartesiana não deu conta de estimular as utopias. A desigualdade permanece, a concentração de riquezas não se vai, as indiferenças cortam o corpo. A lógica do lucro, dos negócios corruptos, ganha espaço. Sucumbimos. Vemos que as dificuldade trazem violências e desfaz possibilidades de reformas. A aflição se expande como uma epidemia.
As ruas estão cheias de gente. Ela passam, buscam, conversam. Mas há quem se encontre no limite. Conjuga o verbo morar com outro fôlego. Deita-se nas calçadas, veste-se com farrapos. A população dos moradores de rua cresce assustadoramente. Os lugares mostram que opressão é grande. A condição humana desce a ladeira. As drogas se multiplicam, a intolerância se fortalece e as pessoas criam raivas, se incomodam com aquelas figuras que denunciam o desgoverno. Há estranhamentos cotidianos e horizontes nublados.
Somos animais astuciosos, mas não cultivamos a solidariedade. Nem todos apreciam o mundo em que vivem. No entanto, existe uma pressa, uma ambição desmedida, uma carência vendida com mercadoria. A cidade se torna árida. Não acolhe, exclui. Há quem deseje uma assepsia geral. Nem observam que são cúmplices do desconforto. A coletividade heterogênea silencia, celebra seu individualismo doentio. Andamos, como se a cegueira usasse máscaras medonhas e assassinas. Quanta vezes nos lembramos das disparidades, das manobras obscuras, do outro?
A história não sobe degraus. Tropeça. Não tem um sentido perfeito, acabado. Os deuses transpiram, porque são criaturas. Inventamos tudo, porém não conseguimos superar a nossa incompletude. A sociabilidade não transcende os espaços da sujeira, do lixo, da solidão. Não é sem razão que a desconfiança se espalha. Não é preciso alargar o desespero. Ele existe e acende a luz da falta de diálogo. Moramos num mundo descontrolado. Transformamos o afeto numa utopia. As danças dos desabrigados é triste. Elas ouvem os gritos da insônias. Interiorizam-se. Os fantasmas se assustam com tanta apatia e palidez.
Por Paulo Rezende.
A astúcia de Ulisses.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Os sinais escondidos que podem revelar se uma foto é 'fake'


Dois homens aparentemente trocando documentos na ruaDireito de imagemJAMES O´BRIEN E HANY FARID
Image captionAs aparências enganam...

Observe a foto acima. À primeira vista, trata-se apenas de uma simples imagem de duas pessoas do lado de fora de um prédio, certo? Uma delas parece estar entregando algo para a outra. Agora, observe com mais cuidado: nem tudo nessa foto é o que parece.
As pistas não são tão claras para observadores comuns, mas Hany Farid enxerga muitas indicações de que a imagem foi alterada - em especial um dos reflexos nas vidraças.
Um dos homens que você vê foi artificialmente colocado na foto.
Pesquisas mostram que muitos de nós sofremos para diferenciar fotos reais de armações (ou fakes). Farid, no entanto, é perito em análise digital e de imagens. É capaz de examiná-la e encontrar sinais quase imperceptíveis que indiquem manipulação.

Luz nos olhos

Um dos truques que ele aprendeu com o passar dos anos foi checar os pontos de luz nos olhos de pessoas. "Se há duas pessoas perto uma da outra em uma foto, geralmente conseguimos ver o reflexo da fonte de luz (o sol ou o flash) nos olhos delas", explica.
"A posição, o tamanho e a cor desse reflexo nos dão informações sobre a fonte de luz. Se elas não são consistentes, a foto pode ter sido manipulada."
Outro detalhe que pode revelar uma farsa é a cor das orelhas das pessoas. "Se o sol estiver atrás de mim, minhas orelhas parecerão mais vermelhas vistas da frente, porque você consegue ver o sangue. Mas, se a luz vem da frente, você não verá vermelho nas orelhas."
Farid é diretor do departamento de Ciência da Computação do Dartmouth College, uma das mais prestigiadas universidades americanas. Ele estuda há décadas a arte da manipulação de imagens.

Imagem falsa da capa da revista Direito de imagemTWITTER
Image captionO presidente dos EUA, Donald Trump, usou uma imagem adulterada da capa da revista "Time" em seus clubes de golfe, para parecer que tinha sido realmente retratado naquela edição

Um dos pontos mais importantes para averiguar a veracidade de imagens é a sombra de objetos e pessoas. Se desenharmos uma linha entre a ponta da sombra e a parte do objeto que está fazendo a sombra, podemos estender a linha para revelar de onde a luz de uma imagem está vindo.
Ao mapearmos diversos pontos em uma sombra, as linhas que saem deles até o objeto devem cruzar-se. Em uma foto que sofreu alterações, as sombras de alguns objetos na imagem podem não combinar com as fontes de luz no resto da foto, como explica Farid.
Este método torna possível identificar imagens que tiveram pessoas ou objetos adicionados após terem sido tiradas.
Da mesma forma, o reflexo de objetos e de pessoas também "entrega" eventuais falsificações. Se traçarmos linhas entre os objetos e sua imagem projetada, elas precisam convergir em um único ponto atrás da superfície refletora. Caso contrário, algo foi alterado.

Imagem analisadaDireito de imagemJAMES O´BRIEN E HANY FARID
Image captionTraçar linhas com os reflexos de objetos e pessoas mostra se uma imagem foi manipulada

Política

No mundo de hoje, imagens falsas têm implicações em todos os aspectos de nossa vida. Da política à medicina.
"Não há uma eleição em que não nos vejamos imagens falsas de um jeito ou de outro", explica Farid. "Fotos são adulteradas para que um candidato pareça melhor. Ou recebem multidões artificiais, como um público mais diverso, para que o candidato não pareça racista. Também podem-se usar composições para que adversários apareçam de forma negativa."
Um exemplo foi quando, na campanha presidencial americana de 2004, surgiu uma imagem do candidato do Partido Democrata, John Kerry, ao lado da atriz Jane Fonda durante uma manifestação pacifista nos anos 1970 (isso reforçaria as credenciais antiguerra de Kerry, que criticava o rival republicano, George W. Bush, por seu papel na Segunda Guerra do Golfo).
Descobriu-se mais tarde que a imagem tinha sido composta por duas fotos diferentes.

Foto adulterada de John KerryDireito de imagemFOURANDSIX.COM
Image captionSe John Kerry encontrou-se com Jane Fonda nos anos 1970, não foi neste dia: especialistas descobriram composição na foto

Em 2012, por exemplo, a BBC Future publicou um guia para identificar imagens fake da destruição provocada pelo furacão Sandy nos Estados Unidos. Fotos como as que mostravam nuvens de tempestade ameaçadoras acima da Estátua da Liberdade, por exemplo.
O uso de imagens falsas precede até a internet. Um famoso retrato do presidente americano Abraham Lincoln, assassinado em 1865, é considerado uma composição por diversos especialistas, com a cabeça do presidente sendo adicionada ao corpo de outra pessoa.
Mas a difusão de câmeras digitais e programas de edição de imagens tornou a prática mais problemática do que nunca.
Mesmo governos têm culpa no cartório. O Irã, por exemplo, divulgou em 2008 imagens que mostravam um lançamento de mísseis totalmente bem-sucedido - mas um dos lançadores falhara.
"Quando fotos de lugares como Coreia do Norte, Iraque e Síria são usadas para ajudar autoridades a tomar decisões importantes, sua autenticidade precisa ser verificada sempre que possível", adverte Farid.

Comparação de fotos de teste militar iranianoDireito de imagemFOURANDSIX.COM
Image captionRetoque digital "corrigia" falha em lançamento de míssil pelo Irã em 2008

Tecnologia

A Darpa, agência do Departamento de Defesa dos EUA que desenvolve tecnologia militar, trabalha em uma ferramenta capaz de automaticamente detectar a manipulação de imagens e vídeos. Farid faz parte de uma das equipes do projeto, ao lado de Kevin Coner, seu sócio na empresa de consultoria Fourandsix.
Juntos, eles criaram o program Izitru, que analisa arquivos de computador para saber a procedência de uma imagem - se ela veio direto da câmera, por exemplo.
"O desafio é que a tecnologia ainda não está num ponto em que conseguimos usar uma imagem aleatória e obter uma resposta inequívoca", explica Coner, que passou 16 anos de sua vida profissional na Adobe, a empresa que criou Photoshop - o mais popular programa de edição de imagens do mundo.
Sozinhos, humanos são muito ruins para identificar imagens falsas. Um estudo recente da Universidade de Stanford, nos EUA, demonstrou que estudantes do ensino médio à universidade têm dificuldades para analisar se o material que leem online é confiável.
Em um experimento, estudantes viram uma foto flores deformadas que teriam brotado na região da usina nuclear de Fukushima, no Japão, palco de um grave acidente em 2011.
Dos 170 alunos do ensino médio que viram a imagem, menos de 20% questionaram a procedência da foto (ela mostrava, na verdade, uma ocorrência natural e nada ligada à radiação).

Flor com vários miolosDireito de imagemFLICKR
Image caption"Flores de Fukushima" na verdade sofreram um processo natural chamado de fasciação

Mas mesmo quando suspeitamos da origem de uma imagem, ainda é difícil enxergar inconsistências. Acadêmicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) fizeram um experimento em que participantes examinaram uma série de fotos e tiveram que responder se elas tinham sido manipuladas.
Algumas não tinham sofrido qualquer alteração, mas um número superior à metade tinha passado por um processo de composição com outras imagens, ou continha áreas editadas. Em apenas 47% dos casos as fakes foram corretamente identificadas.
Victor Schetinger, que trabalhou no estudo, conta que colegas e amigos frequentemente fazem perguntas sobre a autenticidade de fotos. "Toda a minha pesquisa mostra que você não pode dizer apenas com um exame visual se uma foto é verdadeira ou não. Mesmo em fotos reais, processos como a saturação, um flash estranho e até poeira na lente podem criar um efeito que salte à vista", conta.

Suspeita

Farid explica que, na maioria dos casos, leigos confundem imagens reais com adulteradas - e vice-versa. "E estão sempre cheios de confiança. As pessoas são ao mesmo tempo ignorantes e superconfiantes, o que é a pior combinação."
A solução é pedir ajuda ao computador. A fotografia forense usa uma bateria de técnicas e algoritmos para identificar fakes, muitas delas checando se as imagens se enquadram nas leis da física. Se 100% de certeza é impossível, peritos podem ao menos fazer uma série de testes.
Tomemos como exemplo uma imagem que há décadas alimenta teorias da conspiração.

Imagem de Lee Harvey OswaldDireito de imagemWARREN COMMISSION
Image captionEssa imagem de Lee Harvey Oswald alimenta muitas teorias da conspiração sobre assassinato de Kennedy

A foto acima é de Lee Harvey Oswald, o ex-fuzileiro naval que em 1963 assassinou o então presidente dos EUA, John Kennedy. De acordo com as autoridades americanas, a foto foi tirada no quintal da casa em que Oswald vivia e enviada para um amigo em abril de 1963, sete meses antes do crime.
Ela foi usada como prova nas investigações depois de especialistas identificaram marcas no fuzil que ele segura na imagem que eram parecidas às marcas na arma encontrada no prédio próximo ao local do assassinato do presidente, na cidade de Dallas.
Mas, desde então, dúvidas sobre a autenticidade da imagem ajudam a alimentar as teorias de que Oswald foi incriminado para disfarçar planos mais sinistros contra o presidente, ainda mais porque o suspeito negou que a foto fosse verdadeira e foi morto a tiros dois dias após a morte de Kennedy.
As dúvidas estariam ligadas às sombras na foto e à posição de Oswald na imagem - há até quem diga que sua mandíbula parece diferente na foto tirada logo após sua prisão.
Farid e seus colegas examinaram a foto em uma série de estudos publicados em 2009, 2010 e 2015. Em suas análises, construíram modelos 3D da cena e de Oswald, levando em conta sua altura e peso, além do peso do fuzil. Descobriram que a iluminação da imagem era consistente com uma única fonte de luz e que uma sombra em seu queixo fazia com que parecesse diferente da imagem divulgada pela polícia.

Retrato do presidente Abraham LincolnDireito de imagemLIBRARY OF CONGRESS
Image captionRetrato famoso de Lincoln pode ter sido uma montagem - o corpo que se vê seria de outra pessoa

Também mostraram que a postura levemente inclinada do suspeito era condizente com a maneira como segurava a arma. Em suma: os pesquisadores não encontraram qualquer prova de manipulação.
"Trata-se de um bom exemplo de como nosso sistema visual falha em raciocinar corretamente. À primeira vista, alguns aspectos da foto realmente parecem estranhos", diz Farid.

Formatos

Outros métodos de autenticação de imagens não têm nada a ver com o conteúdo, mas, sim, com a maneira como o arquivo é codificado. Quando uma imagem vem de um celular ou de uma câmera digital, por exemplo, ela normalmente vêm no formato jpeg, que faz uma compressão dos dados da imagem para deixá-la mais leve e causa algumas perdas de detalhes.
Normalmente, o arquivo ainda contém dados sobre quando a imagem foi captada, que câmera foi usada e mesmo onde foi tirada.
"Não existe um único formato jpeg. Cada câmera comprime de maneira diferente. Um iPhone comprime mais que uma câmera fotográfica mais sofisticada. Mesmo uma máquina mais simples tem diferentes configurações de qualidade e de armazenamento de informações. Tudo isso acaba inscrito no arquivo", explica o especialista.
Policiais frequentemente acessam este tipo de informação para verificar se uma imagem foi alterada desde que foi baixada de uma câmera. "Podemos ver as informações de um arquivo para dizer se ele passou pelo Photoshop, porque haverá sinais", completa Farid.
Ele acrescenta que até é possível forjar essas informações, mas a missão é difícil: seria como, por exemplo, empacotar novamente um computador que você retirou de uma caixa.

Imagem alterada de nuvens sobre Nova YorkDireito de imagemFLICKR
Image captionEssas nuvens estranhas sobre Nova York não passam de obra de ficção, mas foram relacionadas ao furacão Sandy

"Por causa da maneira como produto vem empacotado, com isopor, etc., será muito difícil você conseguir com que tudo fique igual. Manipular arquivos é o equivalente digital disso. Quase sempre as pessoas cometem erros."
Ainda assim, Farid ressalta que peritos não podem garantir que os fakes sempre serão detectados. É um jogo de gato e rato entre falsificadores e peritos.
"A habilidade que eles têm de produzir um fake tem aumentado. Minha esperança é que, depois que aplico umas 20 técnicas forenses a uma imagem e todas trazem resultados consistentes, a foto seja mesmo real."
Mas o que os meros mortais podem fazer para detectar imagens falsas na internet? Ainda que não tenhamos à nossa disposição a expertise e o equipamento de Farid, há outras maneiras de analisar criticamente uma imagem.
Buscas em sites como o tineye.com ou o Google Images podem indicar se uma imagem já foi denunciada como fake. O snopes.com examina especificamente imagens que viralizam.
Farid sugere ainda verificar a fonte da imagem. Fotos publicadas em sites de notícias de boa reputação têm maior chance de serem reais do que material publicado em blogs menos conhecidos ou no Facebook. Mas mesmo veículos de imprensa tradicionais podem ser enganados por um bom fake.
O melhor caminho é sempre perguntar a si mesmo se uma foto é "boa demais para ser verdade".
"É necessário ter sempre uma boa dose de ceticismo com imagens digitais. Mas não deixe esse sentimento tomar conta, porque também é muito fácil pensar que uma foto real é falsa", diz o especialista.
Professor Edgar Bom Jardim - PE