sexta-feira, 7 de abril de 2023
Jesus Cristo no Museu de Bom Jardim Pernambuco
quinta-feira, 6 de abril de 2023
Destaques do Carnaval de Pernambuco: RELATÓRIO DO IX ENCONTRO DE BURRINHAS CABOCLINHO CATIRINAS E MARACATUS
Me tranquei na sala com os bebês', diz professora da creche que sofreu ataque em SC
A professora Simone Aparecida Camargo se preparava para levar os bebês para o pátio da creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, hoje pela manhã, quando outra professora entrou correndo na sala dizendo que um homem havia roubado o posto de combustíveis do outro lado da rua e invadido a escola para se esconder.
Com medo de o homem invadir a sala de aula onde estavam os bebês, as duas profissionais trancaram a porta da sala e ligaram para a Polícia Militar e Corpo de Bombeiros – nesse momento elas já haviam ouvido os gritos das crianças e outras profissionais.
"Quando eu ouvi os gritos, eu fiquei trancada na minha sala com os bebês menores. Tranquei eles no banheiro e liguei para o socorro. Foi desesperador porque não sabíamos o que estava acontecendo. Quando sai da sala, ele [o suspeito] já não estava mais na escola", diz a professora à BBC News Brasil.
Ainda muito abalada, Simone conta que o homem pulou o muro atacou com uma machadinha crianças da turma da pré-escola que estavam no pátio da escola fazendo uma atividade. O suspeito estaria ainda com mais de uma arma branca.
Ainda segundo a profissional, que atua na área há pouco mais de cinco anos, após o suspeito deixar a escola, a cena que ficou era de terror, com crianças feridas e desespero por toda parte. Todos os alunos foram colocados em salas até a chegada do socorro.
“Aquela cena que você nunca imagina ver um dia na vida, eu vi. Não sei se vou conseguir continuar nessa profissão. Pra que tirar a vida de um inocente? Crianças que não fizeram nada, que só sabiam brincar”, desabafa Simone.
O ataque
O ataque à creche particular Cantinho Bom Pastor, na rua dos Caçadores, no bairro Velha, em Blumenau, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, aconteceu por volta das 8h50 de hoje. Quatro crianças morreram e outras cinco ficaram feridas. Havia cerca de 40 crianças na escola.
"Chegando ao local, nós constatamos o óbito de quatro crianças, sendo três meninos e uma menina, na faixa etária de 5 a 7 anos. E ainda fizemos o socorro de quatro crianças feridas, sendo dois meninos e duas meninas e uma dessas vítimas está em estado grave", diz o coronel Diogo de Souza, do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina. A quinta criança foi socorrida pela própria mãe e levada ao hospital.
Segundo informações da polícia, o assassino, um homem de 25 anos, pulou o muro da creche e iniciou o ataque contra as crianças com uma machadinha. Em seguida, ele se entregou no Batalhão da Polícia Militar e está preso. Ele não teria nenhuma ligação com a creche e as vítimas teriam sido escolhidas aleatoriamente. A motivação do ataque ainda não foi esclarecida.
"Ele chegou de moto ao quartel para se entregar. Ainda não sabemos se há mais gente dando algum tipo de suporte a ele. Ele não falou nada, se manteve calado o tempo todo e tudo será investigado a partir de agora", afirmou um representante da PM.
O governo do Estado cancelou hoje e amanhã as aulas na cidade de Blumenau e declarou luto oficial de três dias pelo assassinato das crianças. O prefeito, Mário Hildebrandt, decretou luto oficial no município por 30 dias.
Em nota, a creche Cantinho Bom Pastor informou que está "sofrendo terrivelmente e sentindo as dores que afeta cada criança, familiar e amigo. Ainda estamos tentando entender o ocorrido, que atinge o que nos é mais sagrado: a integridade de nossas crianças, que sempre foram aqui recebidas com amor e carinho".
A gestão diz ainda que se solidariza com "todas as famílias atingidas direta e indiretamente, colaboradores, professores e amigos. Iremos trabalhar incessantemente com as autoridades, com a finalidade de apurar os fatos, a motivação e exigir as mais duras punições legais aos envolvidos. Agradecemos a solidariedade e a assistência prontamente dada pelos serviços de saúde, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Civil, Governo Municipal e Estadual e a todas as pessoas que de alguma forma estão ajudando ou trabalhando para trazer algum consolo, afeto, carinho e amparo às vítimas e suas famílias."
- Simone Machado
- Role,De São José do Rio Preto (SP) para BBC News Brasil
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/c98n5yvz9eyo
Cultura de armas
Embora nem todos os casos de violência em escolas ocorram com armas de fogo, a socióloga Carolina Ricardo avalia que são agentes importantes desse tipo de violência.
"Parte importante do problema é a facilitação do acesso às armas no Brasil. Embora não seja nada comparável ao quão fácil é comprar uma arma nos Estados Unidos, por exemplo, nos últimos anos, se facilitou e incentivou muito o uso de armas. Para alguns, as armas passaram a ser vistas como fator de prestígio."
quarta-feira, 5 de abril de 2023
As críticas que levaram governo Lula a suspender cronograma do Novo Ensino Médio
CRÉDITO,TÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL
Uma das principais mudanças na reforma são os chamados 'itinerários formativos'
O ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou nesta terça (4/4) que vai suspender por 60 dias a implementação da reforma do ensino médio, introduzida por meio de uma medida provisória do governo de Michel Temer (MDB) em 2017 e instituída por lei em 2018.
Camilo fez um pronunciamento depois de se encontrar mais cedo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para discutir as mudanças, alvo de muitas críticas e discussões nas últimas semanas.
O Novo Ensino Médio já começou a ser implementado, por etapas.
No ano passado, o novo projeto foi introduzido apenas para estudantes do 1º ano do ensino médio. Neste ano estava em curso a adoção pelo 2º ano e, em 2024, a reforma chegaria ao 3º ano e ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
O ministro da Educação disse que assinaria ainda nesta terça a suspensão formal da portaria 521, publicada em 13 de julho de 2021, que inicia o cronograma de aplicação do Novo Ensino Médio.
"Como há ainda esse novo processo de discussão, nós vamos suspender essa portaria para que, a partir dessa finalização dessa discussão, a gente possa tomar as decisões", afirmou Camilo, segundo o portal de notícias G1.
Atualmente está sendo realizada uma consulta pública sobre o Novo Ensino Médio — iniciada em 9 de março e com duração de 90 dias. Depois haverá um mês para elaboração do relatório com as manifestações e sugestões.
"Vamos apenas suspender as questões que vão definir um novo Enem em 2024 por 60 dias. E vamos ampliar a discussão. O ideal é que, num processo democrático, a gente possa escutar a todos. Principalmente, quem está lá na ponta, que são os alunos, os professores e aqueles que executam a política, que são os Estados", declarou o ministro.
Divisão na base lulista
Mesmo antes de ser eleito, Lula já era pressionado por sua base para derrubar a reforma.
Em junho do ano passado, uma carta aberta assinada por mais de 50 entidades — como sindicatos de professores e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) — pediu a revogação da medida.
Segundo o documento, ela foi implementada pelo governo de Michel Temer e "ganhou continuidade natural no governo de extrema-direita e de viés conservador de Jair Bolsonaro".
Mas o ministro da Educação, que é do PT, já havia se posicionado na semana passada contra a derrubada do projeto — o que permaneceu no pronunciamento desta terça.
"Simplesmente revogar e voltar ao passado eu não vejo que é o caminho”, disse Camilo em evento do Lide Ceará, de acordo com o Diário do Nordeste.
Depois da eleição, o grupo de transição do governo Lula se dividiu entre aqueles que queriam a revogação da reforma e os que preferem seu aperfeiçoamento.
Vitor de Angelo, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e secretário do Espírito Santo, disse que a "reforma carece de ajustes", mas que "a revogação seria apagar o caminho percorrido até aqui, literalmente jogar fora o esforço empreendido pelas redes estaduais de ensino até o momento e nos lançar num cenário de absoluta incerteza".
Confira pontos da reforma que vêm sendo alvo de discussões.
Tempo das aulas e ensino a distância
Uma das principais marcas da reforma é a divisão da carga horária em 60% para a formação geral básica, pela qual todos os alunos passam, e com os outros 40% voltados para os chamados itinerários formativos, projetados para dar mais flexibilidade ao currículo e para aproximar o estudante de seus interesses.
Antes da reforma, a carga horária era de 800 horas de aula para cada ano do ensino médio — totalizando 2.400 horas para o segmento.
Com as mudanças, ampliou-se esse valor para no mínimo 3.000 horas. E há um teto para a formação geral básica: ela não pode passar de 1.800 horas.
Para Olavo Nogueira Filho, diretor-executivo da organização Todos Pela Educação, esse teto deve ser alterado pois é "muito baixo" — em uma escola de tempo integral, por exemplo, o tempo dedicado às disciplinas obrigatórias acaba bastante diluído.
Nogueira também critica a possibilidade de que até 20% da carga horária do ensino médio — e até 30% do ensino médio noturno — seja realizada via ensino a distância. Para ele, esta regra é "um risco para a precarização".
"Não defendemos a revogação completa. Dito isso, a qualidade do desenho da política é crucial, e temos observado muitas falhas. Por isso defendemos ajustes substanciais", diz Nogueira.
'Itinerários': expectativa versus realidade
Já Fernando Cássio, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e integrante do comitê diretivo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, defende a revogação total da reforma para "pensar um modelo que seja minimamente democrático, que não seja excludente".
Ele critica particularmente os itinerários ao citar um estudo da Rede Escola Pública e Universidade (Repu), da qual faz parte, relacionando o leque reduzido de disciplinas eletivas na rede pública à falta de condições materiais (salas de aula disponíveis, equipes docentes).
O estudo da Repu mostrou que, nas escolas estaduais de São Paulo em que a reforma do ensino médio já foi implementada, 22,1% das aulas dos itinerários do 1º semestre ainda não haviam sido atribuídas a nenhum professor.
Na prática, segundo o documento, "é como se os estudantes tivessem um dia letivo a menos por semana por falta de professores".
Outra crítica está em disciplinas eletivas como "Brigadeiro Gourmet", "Mundo Pet" e "Torne-se Um Milionário" que foram introduzidas nesses itinerários.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o ex-ministro da Educação Mendonça Filho (União Brasil), em cuja gestão foi instituído o projeto do Novo Ensino Médio, declarou que as questões apontadas são exceções.
"Alerto apenas para que exceções e possíveis desvios não sejam usados para manipular o debate, que deve ser sério, apenas para servir a interesses que não sejam o da educação de qualidade."
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo disse que a nova gestão "segue em diálogo com os estudantes e rede escolar, buscando aprimorar de forma colaborativa as estratégias em andamento [...] a Pasta estuda ajustar o NEM para que se tenha menos itinerários e novas abordagens exploradas, de forma que possa ocorrer reavaliação da distribuição da carga horária".
Fernando Cássio, no entanto, afirma que o problema é mais amplo.
"A questão é que a reforma do não entrega nada do que promete. Pelo contrário, ela piorou a escola. Os alunos não têm aula. O problema é menos a coisa esdrúxula do brigadeiro gourmet e mais o fato de que não tem professor, não tem aula, que as redes de ensino não são capazes de oferecer a carga letiva mínima obrigatória pela lei."
Débora Goulart, professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), critica o que considera falta de "pensamento crítico" em algumas dessas novas disciplinas.
"Nas chamadas competências emocionais desse novo currículo há disciplinas como 'Projeto de Vida'. E o que é isso? É discutir como sobreviver com autogestão, resiliência, autocontrole e perseverança nesse novo mundo do trabalho, precarizado e uberizado. Mas não existe uma discussão crítica sobre essas novas formas de trabalho, e sim uma aceitação delas."
Nogueira, da Todos Pela Educação, defende que é preciso definir melhor os itinerários formativos, "hoje muito amplos". Mas, para ele, a crítica não deve significar o abandono da proposta de flexibilidade para os estudantes do ensino médio — marcado por altos índices de evasão escolar.
"Acreditamos que a essência da reforma, que busca aumentar a carga horária, avançar um currículo mais atrativo com um ensino profissionalizante, aponta no sentido desejável", diz o diretor-executivo da organização.
"O modelo antigo brasileiro é anacrônico."
Diretor-geral do Colégio Marista Arquidiocesano, em São Paulo (SP), Everson Ramos também aponta para os itinerários formativos como uma das inovações benéficas da reforma, mas reconhece que sua aplicação pode ser desigual.
No colégio particular que dirige, Ramos afirma que os itinerários já estão em uso em todos os anos do ensino médio desde 2018 e têm "uma boa adesão e motivação dos educadores, estudantes e da comunidade em geral".
"Se a reforma for revogada, acreditamos que podemos manter os pontos que promoveram avanços na formação dos nossos estudantes. Infelizmente essa não é a realidade para muitos dos estudantes brasileiros", diz o diretor.
"O mesmo ensino médio que, para alguns, é inclusivo, transformador, significativo, emancipador e consistente, para muitos pode ser exatamente o contrário, a depender do contexto no qual ele está inserido. Entendemos que mudanças são necessárias e que ajustes e correção de rumos são sempre bem vindas."
Falta de diálogo e suporte
Para Fernando Cássio, a reforma deve ser revogada porque sua essência é equivocada.
"Não vejo que essa reforma possa produzir outra coisa que não o aprofundamento de desigualdades. E ela não é 'reformável' ou 'ajustável'. Porque do ponto conceitual ela foi feita para baratear a educação pública dos mais pobres", afirma.
"Basta lembrar que 88% dos estudantes do país no ensino médio estão na escola pública."
Goulart concorda: "O desenho dessa política [da reforma] é uma alteração do ponto de vista curricular. Mas não altera o financiamento, não altera a formação de professores, não altera a estrutura física, não altera o investimento".
"A gente tem historicamente um problema em relação ao ensino médio, que não tem política específica para seu fortalecimento, para a permanência dos estudantes. É uma etapa que ainda não está universalizada. E aí você tem uma reforma que fragmenta todo o ensino médio."
Na época em que o projeto foi apresentado pelo governo Temer, houve críticas por ele ter surgido como uma medida provisória — que tem tramitação rápida e parte do Executivo.
Em 2018, o Banco Mundial firmou um acordo com o governo brasileiro para emprestar US$ 250 milhões (dos quais já foram desembolsados 68,45%) que, em parte, servem para financiar atividades ligadas à reforma do ensino médio.
Olavo Nogueira Filho critica mais os capítulos posteriores, o da implementação.
"A última gestão do Ministério da Educação, no governo Bolsonaro, virou as costas para o Novo Ensino Médio. Os estados atuaram por conta própria. Isso gerou uma implementação muito desigual Brasil afora", afirma.
O presidente da Todos pela Educação diz esperar que a falta de diálogo não se repita.
"A hora é justamente de muito diálogo e escuta. É o momento de promover a consulta pública anunciada, identificar os desafios que as escolas estão encontrando e construir um verdadeiro Novo Ensino Médio. Neste sentido, é importante ver o Ministério da Educação reassumindo a coordenação nacional sobre o tema, após quatro anos de abandono na gestão anterior", diz Nogueira.
Mendonça Filho, em entrevista à Rádio Jornal de Pernambuco, defendeu a reforma dizendo que "o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica [Ideb] estava estagnado há cerca de dez anos em [um índice de] 3.8. A avaliação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que avalia a educação básica do Brasil, colocava o desempenho dos alunos brasileiros do ensino médio como insuficiente em português, matemática e ciência. Um desastre completo".
- Mariana Alvim e Shin Suzuki
- Role,Da BBC News Brasil em São Paulo