sábado, 25 de fevereiro de 2023

O gênio africano que, há mais de 2 mil anos, com um graveto, provou que Terra é redonda



Eratóstenes ensinando em Alexandria, em pintura feita por Bernardo Strozzi, no século 17

CRÉDITO,DOMÍNIO PÚBLICO

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Eratóstenes ensinando em Alexandria, em pintura feita por Bernardo Strozzi, no século 17

Ainda há quem não acredite que a Terra seja redonda, mesmo com todos os avanços científicos — da geografia à astronomia. Mas para um sábio da antiguidade, Eratóstenes de Cirene (276 a.C. - 194 a.C.) foi preciso apenas um graveto para determinar esse fato — e ainda conseguir estimar, com boa precisão, o tamanho da circunferência do planeta.

Eratóstenes partiu do conhecimento de um fenômeno importante: o solstício de verão, ou seja, o dia em que um dos polos da Terra tem sua inclinação máxima em relação ao sol. Quando ele ocupava o posto de diretor da Biblioteca de Alexandria, encontrou um manuscrito científico que dizia que, na então cidade de Siena — hoje chamada de Assuã, no sul do Egito —, nessa data específica do ano o sol do meio-dia ficava tão perfeitamente perpendicular ao solo, no chamado zênite, que era possível vê-lo com facilidade no fundo de um poço


Isso despertou nele um lampejo, uma sacada. Se ele medisse a inclinação da luz solar em uma outra localidade ao meio-dia do solstício, sabendo a distância de um ponto a outro com conhecimentos básicos de matemática ele conseguiria calcular a circunferência da Terra. Para tanto, bastaria utilizar uma relação trigonométrica.

Foi preciso preparação, claro. Eratóstenes fez o que era comum na época: contratou um itinerante. Eram profissionais treinados para caminhar longas distâncias com passadas regulares, justamente a fim de medir distâncias entre cidades. Antes de lançar mão da prática, contudo, o pensador achou que seria possível utilizar a matemática também para calcular essa distância. "Ele pretendia descobrir a medida entre Siena e Alexandria utilizando o tempo percorrido por camelos", conta o geógrafo Leandro Sales Esteves, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). "Mas desistiu da ideia devido à falta de precisão encontrada nesse método."


Para contratar os itinerantes agrimensores, o geógrafo conta que Eratóstenes precisou de autorização do governo do Egito.

Em linha reta, são cerca de 800 quilômetros — hoje, por estrada, o trajeto mais curto mede 1011 quilômetros e pode ser percorrido a pé em 204 horas de caminhada. Na unidade de medida utilizada na época (estádio, que tinha pouco mais de 157 metros), a distância foi determinada como de 5040 estádios. No dia do solstício de verão, em Alexandria, Eratóstenes fixou um graveto perpendicular ao solo. A ideia era medir o comprimento da sombra projetada pela vareta no solo ao meio-dia e, assim, encontrar o ângulo de inclinação.

Chegou ao número de 7,2 graus, ou seja, o total da circunferência (360º) dividido por 50. Dessa maneira, fazendo a triangulação matemática que já era conhecida, bastava multiplicar a distância entre as duas cidades por 50 para chegar ao tamanho total da Terra. Eratóstenes chegou ao valor equivalente a 39.750 quilômetros. Convenhamos, muito perto do que se sabe hoje: a circunferência da Terra mede 40.075 quilômetros.

"Eratóstenes também calculou com grande precisão o raio terrestre, chegando à medida de 6.366 quilômetros", diz Esteves. "Atualmente, sabe-se que essa medida é de 6.371 quilômetros."

Quem foi


Eratóstenes foi um sábio da antiguidade grega. E ser sábio nessa época significava acumular conhecimentos hoje distribuídos em diversas áreas. Assim, embora normalmente classificado como filósofo, ele foi ainda matemático, gramático, poeta, geógrafo, bibliotecário e astrônomo.

Nasceu em Cirene, uma cidade do norte da África, na atual Líbia, que na época era parte do mundo grego. "A Grécia Antiga não era um único país, mas sim um conjunto de cidades-estado", explica o geógrafo Eliseu Savério Sposito, professor e pesquisador na Universidade Estadual Paulista (Unesp). "As cidades eram independentes entre si, mas mantinham costumes em comum."

Isso significava, exemplifica o professor, que estabeleciam redes de contato e conservavam práticas parecidas de religiosidade, linguagem, fazeres artísticos e modelos políticos.

Segundo registros antigos, Eratóstenes foi levado jovem para Atenas, a fim de estudar com os filósofos mais importantes de sua época. Lá, acabou chamando a atenção pelas suas capacidades. Então, o soberano do Egito, Ptolomeu 3º Evérgeta (280 a.C. - 221 a.C.), mandou trazê-lo para Alexandria. Inicialmente, sua missão era ser o professor do filho do poderoso Ptolomeu.

Mas, algum tempo depois, Eratóstenes assumiu um cargo que deveria fazer brilhar os olhos de qualquer intelectual do período: tornou-se bibliotecário e diretor da Biblioteca de Alexandria, o grande repositório do conhecimento da Grécia antiga.

Foi nesse posto que teve a ideia do experimento que o consagraria. Mas esta não foi a sua única contribuição para o conhecimento universal. Ele é considerado também o fundador da geografia, enquanto área do conhecimento humano. Isto porque ele publicou uma obra chamada Geográfica, na qual cunhou um vocabulário próprio para termos do ramo.

Para Eratóstenes, o título de primeiro geógrafo deveria ser conferido ao poeta Homero (928 a.C. - 898 a.C.), pelo fato de ele ter elaborado uma série de descrições climáticas e topológicas. Escrita em três volumes, Geográfica acabou tendo trechos citados por diversos estudiosos dos séculos seguintes, com o naturalista romano Caio Plínio Segundo (23 - 79), mais conhecido como Plínio, o Velho.

Geográfica acabou se perdendo com o passar do tempo e, hoje, apenas 155 fragmentos da obra são conhecidos — justamente por conta dessas citações em outros trabalhos.

Terra plana vs. Terra redonda

Para pesquisadores contemporâneos, contudo, um ponto relevante da descoberta de Eratóstenes é que ele ilustra que a noção de Terra esférica já era vigente. Afinal, para alguém pensar em medir a circunferência do planeta, era preciso antes partir do entendimento de que havia uma circunferência a ser medida.

"Sem dúvidas, a atuação de Eratóstenes prova que, desde a antiguidade, a noção de que a Terra é redonda já existia", comenta o historiador Vítor Soares, que mantém o podcast História em Meia Hora. "Essa questão da prova é interessante porque, nela, temos tanto uma questão filosófica quanto uma questão matemática." Afinal, para conseguir seu intento, o sábio da antiguidade utilizou um método trigonométrico.

"Desde os gregos já se sabe que a Terra é redonda", sentencia Sposito. "Como os gregos desenvolveram a astronomia, um ramo da matemática, criaram modelos tridimensionais para explicar o movimento, aparente, dos planeta. Isso ainda no século 4 a.C.."

O geógrafo cita vários nomes além de Eratóstenes. O filósofo e astrônomo Heráclides do Ponto (390 a.C. - 310 a.C.) propôs que a Terra girava em torno do próprio eixo. O astrônomo e matemático Aristarco de Samos (310 a.C. - 230 a.C.) apresentou a teoria do sistema heliocêntrico, com a Terra girando em torno do sol.

"A cosmologia desenvolvida na Grécia antiga tem importantes pensadores que produziram evidências para o modelo de Terra esférica que conhecemos hoje", comenta o geógrafo Esteves. "Apesar do modelo de Terra plana ter sido utilizado por algumas civilizações da antiguidade, foi a partir da cosmologia grega que o modelo de Terra esférica se expandiu para outras regiões, em especial devido à influência de pensadores como Pitágoras, Aristóteles, Ptolomeu e Eratóstenes."

Nesse sentido, Eratóstenes fez ciência da mesma maneira como se faz ciência ainda hoje: apoiando-se em pesquisas de seus pares, anteriores, avançou. Em seu caso, por meio de um experimento concreto.

Eratóstenes de Cirene

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Eratóstenes de Cirene foi filósofo, matemático, gramático, poeta, geógrafo, bibliotecário e astrônomo

"Cabe-lhe o papel da comprovação empírica de uma noção que havia sido estabelecida já anteriormente por outros pensadores gregos", pontua o geógrafo Claudio Eduardo de Castro, professor e pesquisador na Universidade Estadual do Maranhão (Uema). "Ademais, quase concomitantemente, na China da dinastia Han, há mapas na escala 1:90.000 que trazem uma grade ortogonal de localização."

Segundo Castro, "graças à nossa ignorância quanto à cartografia oriental, e apesar dela, podemos indagar se o avanço do conhecimento a cerca da Terra no ocidente se baseou nos conhecimentos do oriente que tanto utilizou dessa cartografia em seus deslocamentos até a Europa". Ou ainda, "se a cartografia da Terra esférica, ocidental, rapidamente foi absorvida e praticada no oriente".

Para o historiador Soares, esse debate entre Terra plana e Terra redonda "é interessante porque é basicamente uma disputa de narrativas", já que o conhecimento científico a respeito é extremamente antigo.

"Muita gente acredita que, durante a Idade Média, a Igreja propagou a ideia de que a Terra fosse plana ou algo parecido. Porém, isso é um mito", defende ele. "Podemos comprovar isso usando as artes. Se você analisar diversos quadros representando figuras religiosas ou até membros da Igreja, há imagens deles com um globo nas mãos, simbolizando o mundo."

Roteirista do podcast História em Meia Hora, o professor de história Victor Alexandre cita o livro da historiadora da ciência Christine Garwood, Flat Earth: The History of an Infamous Idea, para contextualizar que, durante os séculos 18 e 19, surgiram filósofos e pensadores que estavam interessados em "manchar" a imagem da Idade Média, buscando valorizar tanto a Antiguidade Clássica quanto a Época Moderna.

"Como parte dessa tentativa de apontar que o período medieval foi de trevas, esses pensadores inseriram a ideia de que nesse período as pessoas acreditavam que a Terra era plana", diz Alexandre. "O objetivo era reforçar a noção de que a modernidade era um período de resgate cultural e científico."

Evidentemente que terraplanistas, se existem até hoje, também existiam tanto na Antiguidade quanto no período medieval. O historiador Soares cita o pensador, enciclopedista — e, mais tarde, considerado santo pela Igreja Católica — Isidoro de Sevilha (560-636). "Mas esses pensadores eram uma minoria em relação ao consenso que existia", frisa Soares. "O problema é pegar esses casos isolados e transportar para todo um período. Ainda na era moderna, qualquer teoria terraplanista caiu por terra quando os primeiros navegadores conseguiram fazer a navegação ao redor da Terra."

Mapa-múndi segundo Eratóstenes de Cirene. Gravura em madeira, publicada em 1888.

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Mapa-múndi segundo Eratóstenes de Cirene

Mapas planos

Obviamente que, se até hoje o conhecimento científico não é plenamente acessível, nas sociedades mais antigas tais saberes acabavam sendo privilégio de uma minoria, uma elite intelectual. "Sabemos que as sociedades da antiguidade em geral eram profundamente estratificadas e que o acesso aos conhecimentos e a formação acadêmica eram direitos restritos à uma parcela menor", lembra o geógrafo Esteves.

"Nos espaços onde circulavam os conhecimentos produzidos pelos pensadores gregos, a ideia da esfericidade da Terra se tornou dominante. Além disso, os fundamentos científicos apresentados por esses pensadores se tornaram referência importante para os cientistas nos períodos seguintes", enfatiza ele.

O geógrafo Castro ressalta que o mundo da antiguidade ainda era "muito ligado ao cotidiano laboral no campo, no qual as necessidades impostas ligavam-se aos ciclos da natureza, aos locais passíveis de se praticarem, rudimentarmente, a agricultura e pecuárias, o extrativismo e as guerras por esses recursos".

"Nesse contexto, quase universal das sociedades de qualquer dimensão da época, o palmilhar o território lhe fazia crer na planura da Terra e, esta, aliás, restringia-se ao vivido", define ele. "Neste mundo antigo, a cartografia, ferramenta indispensável à prática das localizações, cumpria exatamente esse papel: planificar nos mapas as direções, os lugares essenciais aos objetivos das funções vitais ao viver."

O planeta é esférico, claro. Mas, afinal, o mapa sempre foi plano.

"Um pouco dessa cartografia pode chegar até nossos dias através de registros mesopotâmicos dos povos sumérios, assírios, babilônicos, mas não podemos deixar de destacar os orientais, que possivelmente antes mesmo do ocidente, e influenciando este, utilizavam uma precisa cartografia já com a intenção de demarcar fronteiras, locais de conservação da água e fins militares", diz Castro. "Infelizmente quase toda essa cartografia se perdeu primeiro por ser de uso corriqueiro e por ter sido elaborada sobre bases frágeis, como a argila."

Para o geógrafo, tudo leva a crer que, a julgar pelo experimento de Eratóstenes e todo o contexto da época, "o mundo antigo sabia dessa esfericidade", mas esse conhecimento era restrito a pequenos grupos. "E que esse conhecimento pouco afetava o cotidiano das sociedade, uma vez que tais conhecimentos pouco contribuíam com o fazer a vida. A esta bastava a cartografia de uma Terra plana", acrescenta.

O professor de história Victor Alexandre ressalta que o debate atual buscado por terraplanistas "é marcado por uma grande negação do consenso científico", em narrativas alimentadas muitas vezes "pela forma que as redes sociais trabalham".

"Por meio da internet, pessoas que acreditam que a Terra é plana conseguem se conectar e estabelecer relações afetivas que sobrepõem qualquer verdade científica. Com isso, acredito que para convencer alguém de que a Terra de fato é esférica será necessário um esforço consciente em estabelecer uma relação próxima com essas pessoas, por mais que fazer piadas possa ser o mais divertido no momento", defende ele

  • Edison Veiga
  • De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

"A ciência está de volta", diz ministra Luciana Santos






A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos (PCdoB-PE) foi a entrevistada desta sexta-feira (24) do programa Folha Política, da Rádio Folha FM 96,7. Na entrevista ao âncora do programa, Jota Batista, e à subeditora de política da Folha de PernambucoCarol Brito, a ministra falou, entre outras coisas, dos desafios à frente da pasta, dos movimentos para as eleições de 2024 e da volta à valorização da ciência pelo governo Lula 

Apagão da ciência
Nós vivemos um período de apagação da ciência, não só pelo discurso negacionista e anticiência que acaba sendo impactante na vida do povo: voltamos a poliomielite, ao sarampo, e o Brasil tinha uma cultura, até por conta do SUS, da eficácia em vacinas. Essa é uma das grandes mazelas deixadas por esse governo que passou. A ciência está de volta ao país, e a gente para além da narrativa anticiência, que é tão nefasta, a tentativa de desqualificação da nossa base científica.

Balbúrdia
O ex-presidente (Jair Bolsonaro) tratava nossas universidades como espaço de balbúrdia, no entanto, as universidades públicas é o que há de melhor no país, na produção científica. Noventa por cento da nossa produção científica é feita nas universidades públicas, e a gente está retomando esse orgulho nacional. Há percussão disso nos recursos, porque para além da narrativa, os foram cortados de maneira drástica os recursos.

Medalhas retiradas de cientistas por Bolsonaro
Isso para nós é uma coisa muito cara porque é muito simbólica. Por eles terem descoberto a ineficácia do uso da cloroquina no combate à Covid, o ex-presidente retirou as medalhas de honra dada apela comunidade acadêmica e científica. Nós vamos recompor. O presidente Lula isso em breve. E também outros cientistas que se recusaram a receber porque esses outros dois não tinham recebido. Penso que é mais um momento de afirmação da riqueza, da produção científica que existe no país



Prevenção para as chuvas em PE
Fizemos, na acasião, uma reunião da APA com a Susana, da APAC, no mesmo dia eu liguei para a governadora (Raquel Lyra) então fizemos uma reunião com o Cimadem, que é vinculado ao nosso ministério, e nós estamos nos preparando e se colocando à disposição para alargar a cobertura e de alertas que já são feitos pelo Cemadem aqui na RMR, proque a gente faz por satélite, mas faz terrestre, com pluviômetros, com sensores. A gente está aqui um pacote de medidas para apresentar de maneira mais robusta os serviços que existem no Ministério da Ciência e Tecnologia para ajudar numa operação que eu vivenciei como prefeita (de Olinda).

Lula
O espirito do presidente Lula é de fazer entregas. Como ele já foi um excelente presidente da República e agora voltando pela terceira vez ele está bem afiado de que o povo está com pressa, porque passou por um momento grave de retrocesso no país. Ele está decidido a andar rápido, tem cobrado muito dos ministros. Fez essas visitas todas, demonstrando uma atitude muito diferente, de solidariedade ao povo. Foi no Yanomamis, foi em Araquara, esteve no Litoral Sul (de São Paulo), levando sete ministros. Está agindo de maneira pró-ativa e fazendo uma agenda internacional intensa. Visitou tres países e vai a China agora em março. Ele relançou o Minha Casa, Minha Vida. O governo anterior retirou a faixa 1, que é quem mais precisa. Ainda não tem previsão de ele vir a Pernambuco, mas eu, o ministro André de Paula e o ministro José Múcio temos a principal responsabilidade de fazer uma agenda para o presidente visitar nosso estado, onde teve uma votação expressiva, é a terra dele e onde é amado. Certamente, ele virá em breve para fazer uma visita e uma entrega relevante.

Dependência
Temos que diminuir a nossa dependência. Vimos o que aconteceu na Covid: a gente dependeu até de máscaras. E não fomos só nós, mas o mundo todo. Respirador? Voltou ao tempo do corsário. Foi interceptado respirador em tudo que é lugar. Mesmo que a gente tenha produzido vacina, tivemos que importar o insumo farmacêutico ativo. Temos que diminuir nossa dependência. Essa é uma das missões mais relevantes que esse ministério tem. Sermos autônomos para poder realizar soluções para o povo brasileiro.

Tarcísio e Lula
Ele (Lula) diz que diferente do que aconteceu recentemente, vai governar para todos os brasileiros e brasileiras. É tanto que ele fez uma reunião com todos os governadores no Palácio do Planalt para que eles disserem duas ou três prioridades deles para serem trabalhadas. Ele teve uma atitude de solidariedade e presteza numa hora em que todos precisamos somar esforços. Muitas vezes tem esses... é natural de um processo político muito radicalizado que o Brasil viveu, mas o espírito do presidente é de união



PCdoB
Independentemente da existência ou não da federação, as disputas majoritárias necessariamente precisam de grandes alianças. Estando ou não federação, muitas vezes aquela equação para uma determinada disputa no município depende principalmente dos partidos que têm mais afinidade programática, que são mais alinhados, e todas as vezes que a gente se dividiu, se deu mal. Acredito numa construção política de unidade, de entendimento do papel de cada força nos municípios, no país todo.

Prefeitura de Olinda em 2024
Estamos debatendo com paciência. Temos, mas como a gente está construindo e está longe, vamos conversar publicamente no momento adequado. 

Recife 2024
A gente vai procurar um entendimento que fortaleça nosso campo de força. Nas capitais, nem se fala, né? Mas em cidades relevantes, como é o caso de Olinda e tantas outras, vamos colocar o nosso time , esse conjunto de forças que dão sustentação ao governo Lula, na rua. Todos os partidos que dão sustentação ao presidente Lula vão ser considerados num projeto eleitoral no país todo em 2024. Sempre defendemos nossa unidade em frente ampla para vencer momentos complexos que a gente vive navida brasileira e na vida de Pernambuco. Somos os maiores defensores desse caminho, vamos trabalhar cotidianamente para que essas coisas aconteçam


Paulo e Danilo
Não tenho dúvidas (que eles terão espaço no governo federal). Sou testemunha da competência, das qualidades que Paulo (Câmara) tem. Eu achei mais do que importante ele assumir um banco tão estratégico, que é o Banco do Nordeste, que tem muito a contribuir para toda a região, e isso revela a admiração e a confiança que o presidente Lula tem com o ex-governador. Eu festejei muito, de alguma maneira participei desse processo de construção. Não é diferente com Danilo Cabral, que foi um grande parceiro não só de chapa, mas de bancada. Já fui deputada federal com ele. Ele foi presidente da frente parlamentar em defesa da Chesf, tem expertise na política educacional. Não tenho dúvidas que ele merece uma posição estratégica para ajudar nesse processo todo de retomada

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

9º Encontro de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco é referência da Cultura Popular no Agreste Setentrional




Boi Dourado, Grupo Cultural Evolução, Bloco da Boa Idade, Grupo das Mulheres foram destaques da roda de ciranda ao som do grupo musical Ciranda Maravilhosa e Orquestra de Frevo Bonjardinense, protagonizaram momento lindo na terça-feira de carnaval no Pátio de Eventos João Salvino Barbosa na programação do mais belo evento de cultura de raiz do agreste setentrional. 


A terça-feira de Carnaval em Bom Jardim é dia  de celebração da Cultura Popular. 21 de fevereiro de 2023, na cidade onde nasceu Levino Ferreira, precisamente às 9:00 horas, no palco do pátio de eventos João Salvino Barbosa, a Ciranda Brasileira de João Limoeiro iniciava as apresentações do IX Encontro  de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco.

Uma celebração da Cultura Popular que concentra a participação de grupos culturais e brincantes anônimos de comunidades rurais, comunidades urbanas de municípios da região e  das classes melhor posicionadas em nossa sociedade. É um encontro de verdade, tendo em comum a paixão pelo carnaval, que ganham protagonismo levando alegria, arte e tradição para a população, mantendo viva a expressão cultural do nosso povo. 

O Evento é uma realização do Museu de Bom Jardim com patrocínio e apoio do Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Cultura de Pernambuco, FUNDARPE, Governo do Bom Jardim (Prefeitura),  apoio dos comerciantes locais, SINTEPE e grupos culturais. 

Festa, oportunidade para pessoas de todas as idades viverem uma experiência carnavalesca que olha para o futuro e tem raízes fortes na nossa história e tradição. É resistência, cultura de raiz, vivacidade.
Evento aberto ao público, gratuito, de classificação livre. A concentração foi iniciada às 8:00 horas em frente ao Museu de Bom Jardim, localizado na Rua Manoel Augusto Nº 90. O cortejo iniciado às 9:00 horas desfilou  pelas principais ruas da cidade e  encerrou sua apresentação no Pátio de Eventos no Carnaval Levino Ferreira, que neste ano teve como tema oficial "Bom Jardim no Estalar das Burrinhas de Bizarra". 

O Governo Municipal fez homenagens aos músicos e carnavalescos Cristóvão Pessoa, Ana Pessoa e família, Edjeferson Sedícias e família, Cláudio Barros e família, Laurivan Barros e família, Luciano Barros e família, Elizando Ferreira e família.

A celebração da Cultura Popular contou  com a presença da Ciranda Brasileira de João Limoeiro, Grupo de Burrinhas da Chã de Pindobinha,Grupo de Passistas Evolução ( Umari), Boi Rosa ( João Alfredo), Grupo Cultural Burrinhas do Torto, Grupo Cultural de Capoeira Camuá (Umari), Maracatu Cambinda Brasileira ( Nazaré da Mata), Grupo Cultural Caboclinhos da Baraúna, Bonecos Gigantes de Bom Jardim, Caboclinhos Asa Branca (João Alfredo), Burrinhas Arte e Cultura(Bizarra), Grupo de Catirina dos Freitas,  Grupo de Catirinas da Rua do Frade, Grupo Cultural Caboclinhos Pavão Dourado ( Chã do Arroz/ Espera), Maracatu Leão Charmoso (Lagoa do Carro), Maracatu Leão das Cordilheiras ( Aliança), Grupo Cultural Burrinhas de Lagoa Comprida, Grupo Cultural Burrinhas da Espera, Orquestra de Frevo Bonjardinense, Maracatu Leão de Ouro (Nazaré da Mata), Catirinas de Umari, Maracatu Estrela Brilhante (Limoeiro), Boi La Ele, shows com Roberto Cruz, Dudu do Acordeon.

O encontro para ser realizado contou com o patrocínio cultural essencial do Governo de Pernambuco, Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco (SECULT - PE) e FUNDARPE no valor de R$ 50.000 ( cinquenta mil reais) em atrações culturais aprovadas na Convocatória do Carnaval 2023. O Museu não recebe repasse em dinheiro direto do Estado. O Governo Municipal (Prefeitura) patrocinou a contratação do cantor Dudu do Acordeon, aproximadamente R$ 20.000,00( vinte mil reais), deu apoio  para alguns grupos de Burrinhas de Bizarra,  pagará o cachê da Orquestra de Frevo Bonjardinense, disponibilizou a estrutura do palco e som que é utilizada para todo os eventos do carnaval no pátio de eventos. A prefeitura não repassou nenhuma ajuda em dinheiro ao Museu de Bom Jardim. 

O Museu de Bom Jardim captou de patrocínios do comércio local, Sintepe, amigos e da  venda de camisas, o valor aproximado de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais) que foram investidos em divulgação, material gráfico, ajuda de custo para uma equipe de 15 pessoas para auxiliar na produção do evento, contratações de bombeiros civil, locutores, carro de som, alimentação para  mais de 800 pessoas, despesas com duas viagens para Recife ( FUNDARPE/ SECULT-PE),  viagens para Surubim, Limoeiro, João Alfredo, Tracunhaém, compra de material gráfico, produção de vídeo, registro fotográfico, repasse para grupos culturais de Bom Jardim e de outras cidades, pagamento de cachê de brincantes, patrocínio de figurino, compra de tecido para doar, pagamento de aluguel de transporte  para contatos na zona rural do município e  postagem nos correios. 

O 9º Encontro  de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco é uma das manifestações da Cultura Popular do Estado que integra a Programação do Carnaval de Pernambuco, que gera ganhos sociais,  movimenta a economia ao criar oportunidades de empregos temporários, movimenta a pequena economia local e regional, produz ganhos em qualidade de vida,  lazer, cultura, turismo e educação. 

Foto divulgação: Banco de Imagens Museu de Bom Jardim

Por Museu de Bom Jardim. 

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

9º Encontro de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco






A terça-feira de Carnaval em Bom Jardim é dia  de celebração da Cultura Popular. 21 de fevereiro de 2023, na cidade onde nasceu Levino Ferreira, precisamente às 9:00 horas, no palco do pátio de eventos João Salvino Barbosa, a Ciranda Brasileira de João Limoeiro iniciava as apresentações do IX Encontro  de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco.

Uma celebração da Cultura Popular que concentra a participação de grupos culturais e brincantes anônimos de comunidades rurais, comunidades urbanas de municípios da região e  das classes melhor posicionadas em nossa sociedade. É um encontro de verdade, tendo em comum a paixão pelo carnaval, que ganham protagonismo levando alegria, arte e tradição para a população, mantendo viva a expressão cultural do nosso povo. 

O Evento é uma realização do Museu de Bom Jardim com patrocínio e apoio do Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Cultura de Pernambuco, FUNDARPE, Governo do Bom Jardim (Prefeitura),  apoio dos comerciantes locais, SINTEPE e grupos culturais. 

Festa, oportunidade para pessoas de todas as idades viverem uma experiência carnavalesca que olha para o futuro e tem raízes fortes na nossa história e tradição. É resistência, cultura de raiz, vivacidade.
Evento aberto ao público, gratuito, de classificação livre. A concentração foi iniciada às 8:00 horas em frente ao Museu de Bom Jardim, localizado na Rua Manoel Augusto Nº 90. O cortejo iniciado às 9:00 horas desfilou  pelas principais ruas da cidade e  encerrou sua apresentação no Pátio de Eventos no Carnaval Levino Ferreira, que neste ano teve como tema oficial "Bom Jardim no Estalar das Burrinhas de Bizarra". 

O Governo Municipal fez homenagens aos músicos e carnavalescos Cristóvão Pessoa, Ana Pessoa e família, Edjeferson Sedícias e família, Cláudio Barros e família, Laurivan Barros e família, Luciano Barros e família, Elizando Ferreira e família.

A celebração da Cultura Popular contou  com a presença da Ciranda Brasileira de João Limoeiro, Grupo de Burrinhas da Chã de Pindobinha, Grupo de Passistas Evolução ( Umari), Boi Rosa ( João Alfredo), Grupo Cultural Burrinhas do Torto, Grupo Cultural de Capoeira Camuá (Umari), Maracatu Cambinda Brasileira ( Nazaré da Mata), Grupo Cultural Caboclinhos da Baraúna, Bonecos Gigantes de Bom Jardim, Caboclinhos Asa Branca (João Alfredo), Burrinhas Arte e Cultura(Bizarra), Grupo de Catirina dos Freitas,  Grupo de Catirinas da Rua do Frade, Grupo Cultural Caboclinhos Pavão Dourado ( Chã do Arroz/ Espera), Maracatu Leão Charmoso (Lagoa do Carro), Maracatu Leão das Cordilheiras ( Aliança), Grupo Cultural Burrinhas de Lagoa Comprida, Grupo Cultural Burrinhas da Espera, Orquestra de Frevo Bonjardinense, Maracatu Leão de Ouro ( Nazaré da Mata), Catirinas de Umari, Maracatu Estrela Brilhante (Limoeiro), Boi La Ele, shows com Roberto Cruz, Dudu do Acordeon.

O encontro para ser realizado contou com o patrocínio cultural essencial do Governo de Pernambuco, Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco (SECULT - PE) e FUNDARPE no valor de R$ 50.000 ( cinquenta mil reais) em atrações culturais aprovadas na Convocatória do Carnaval 2023. O Museu não recebe repasse em dinheiro direto do Estado. O Governo Municipal (Prefeitura) patrocinou a contratação do cantor Dudu do Acordeon, aproximadamente R$ 20.000,00( vinte mil reais), deu apoio  para alguns grupos de Burrinhas de Bizarra,  pagará o cachê da Orquestra de Frevo Bonjardinense, disponibilizou a estrutura do palco e som que é utilizada para todo os eventos do carnaval no pátio de eventos. A prefeitura não repassou nenhuma ajuda em dinheiro ao Museu de Bom Jardim. 

O Museu de Bom Jardim captou de patrocínios do comércio local, Sintepe, amigos e da  venda de camisas, o valor aproximado de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais) que foram investidos em divulgação, material gráfico, ajuda de custo para uma equipe de 15 pessoas para auxiliar na produção do evento, contratações de bombeiros civil, locutores, carro de som, alimentação para  mais de 800 pessoas, despesas com duas viagens para Recife ( FUNDARPE/ SECULT-PE),  viagens para Surubim, Limoeiro, João Alfredo, Tracunhaém, compra de material gráfico, produção de vídeo, registro fotográfico, repasse para grupos culturais de Bom Jardim e de outras cidades, pagamento de cachê de brincantes, patrocínio de figurino, compra de tecido para doar, pagamento de aluguel de transporte  para contatos na zona rural do município e  postagem nos correios. 

O 9º Encontro  de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco é uma das manifestações da Cultura Popular do Estado que integra a Programação do Carnaval de Pernambuco, que gera ganhos sociais,  movimenta a economia ao criar oportunidades de empregos temporários, movimenta a pequena economia local e regional, produz ganhos em qualidade de vida,  lazer, cultura, turismo e educação. 

Foto divulgação: Ana Maria Cabral

Fonte: Museu de Bom Jardim.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

9º encontro de Cultura Popular é referência do Carnaval Levino Ferreira em Bom Jardim

                                                                      Imagem de Arquivo - Museu de Bom Jardim.

A terça-feira de Carnaval em Bom Jardim é marcada pela cultura popular. Hoje, 21 de fevereiro de 2023, com início às 08:00h, acontece na cidade onde nasceu Levino Ferreira, o IX Encontro  de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco.


Uma celebração da Cultura Popular que concentra a participação de grupos culturais e brincantes carnavalescos, pessoas de comunidades rurais tendo em comum a paixão pelo carnaval, que ganham protagonismo levando alegria, arte e tradição para a população, mantendo viva a expressão cultural do nosso povo. 

O Evento é uma realização do Museu de Bom Jardim com patrocínio do Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Cultura de Pernambuco, FUNDARPE, Prefeitura do Bom Jardim e comércio local.
Festa, oportunidade para pessoas de todas as idades viverem uma experiência carnavalesca que olha para o futuro e tem raízes fortes na nossa história e tradição. É resistência, cultura de raiz, vivacidade.
O evento é gratuito, com classificação livre. Após  a centração  acontecerá o cortejo pelas principais ruas da cidade. Em seguida, apresentação no Pátio de Eventos no Carnaval Levino Ferreira 2023. 

A celebração da Cultura Popular conta com a presença do Boi Dourado, Ciranda Brasileira de João Limoeiro, Grupo de Burrinhas da Chã de Pindobinha, Burrinhas do Torto, Maracatu Cambinda Brasileira, Caboclinhos da Baraúna, Caboclinhos Asa Branca, Burrinhas Arte e Cultura, Catirina dos Freitas, Catirinas da Rua do Frade, Maracatu Leão de Ouro, Maracatu Carneiro Manso, shows com Roberto Cruz, Dudu do Acordeon, Orquestra de Frevo Bonjardinense entre  as demais atrações.







Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Bom Jardim sedia 9º encontro de cultura popular de Pernambuco


O Museu de Bom Jardim,  com o apoio do governo de Pernambuco, prefeitura municipal, artistas, comércio local e comunidade, realiza  o IX Encontro de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco, na terça-feira  de carnaval, dia 21 de fevereiro de 2023. Tudo começa às 8:00 horas com o desfile das agremiações nas ruas centrais da cidade. Em seguida, todos farão sua apresentação em frente ao palco do pátio de eventos João Salvino Barbosa.




Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Publicado pelo Exército, livro que diz que yanomamis não existem inspirou políticas que levaram a crise humanitária


Capa do livro mostra homem loiro de olhos azuis segurando máscara com feições indígenas
Legenda da foto,

Em 1995, a editora da Biblioteca do Exército publicou 3.000 exemplares de 'A Farsa Ianomâmi'

Em meio à grave crise humanitária que atinge os indígenas yanomami, textos com teorias conspiratórias sobre esse povo voltaram a ser lidos em blogs e compartilhados nas redes sociais.

Em comum, eles reproduzem citações e argumentos de um livro publicado em 1995 pela editora da Biblioteca do Exército e escrito pelo falecido coronel Carlos Alberto Lima Menna Barreto.

Com acusações não comprovadas e um conjunto de documentos controversos, A Farsa Ianomâmi insinua, em linhas gerais, que um povo identificado como yanomami não existia antes que a fotógrafa Claudia Andujar e organizações internacionais com interesses na Amazônia o inventassem para, com isso, se beneficiarem da demarcação da terra indígena (leia abaixo informações que refutam esses argumentos do livro).

O Exército publicou 3.000 exemplares do livro em 1995, mesmo ano em que morreu Menna Barreto



Hoje, o livro circula em arquivos compartilhados gratuitamente pela internet e foi recomendado algumas vezes por Olavo de Carvalho (1947-2022), como mostram textos de seu site e seus programas de aula.

Além da influência de Carvalho, guru de parte da direita, dois especialistas entrevistados pela BBC News Brasil apontam que a relação entre o livro e a política conduzida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em seus quatro anos de governo (2019-2022) é maior.

"Com certeza esse livro ressoa ao longo do governo Bolsonaro. Inclusive, eu comecei a estudar esse livro a partir do discurso do Bolsonaro em 2019 na ONU (Organização das Nações Unidas). Quando eu escutei aquela fala, eu lembrei do livro, que eu tinha lido por curiosidade. A fala tinha total correspondência com o livro”, diz o historiador João Pedro Garcez, que teve A Farsa Ianomâmi como um de seus objetos de estudo no mestrado na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Capa do livro "A Farsa Ianomâmi"

"Parece que o governo Bolsonaro fez um tipo de gestão de acordo com o livro porque, neste, os indígenas são colocados como uma massa de manobra de interesses estrangeiros. Então, eles são vistos como inimigos do Brasil. Dentro dessa racionalidade, faz sentido deixá-los na beira da morte, porque eles não fazem parte da ideia de Brasil que está presente no pensamento militar", acrescenta o pesquisador, referindo-se à crise humanitária entre o povo yanomami.

Não se sabe se Bolsonaro leu A Farsa Ianomâmi ou não, mas o que Garcez e outro entrevistado, o geógrafo francês François-Michel Le Tourneau, afirmam é que o livro simboliza as posições do ex-presidente e aliados acerca dos indígenas e da Amazônia.

No Telegram, Bolsonaro afirmou que as acusações de descaso de seu governo com os indígenas eram uma "farsa de esquerda" e defendeu que a saúde indígena foi uma das prioridades da sua gestão.

Bolsonaro sorrindo e conversando com três indígenas

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Governo Bolsonaro foi marcado pela defesa da mineração em terras indígenas e pela não demarcação de áreas protegidas para esses povos

A conduta do antigo governo nessa área está passando agora por intenso escrutínio, depois que o site jornalístico Sumaúma revelou fotos e dados da sofrida situação da saúde de crianças, adultos e idosos yanomami.

No final de janeiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso pediu a abertura de uma investigação sobre "a possível participação de autoridades do governo Jair Bolsonaro na prática, em tese, dos crimes de genocídio, desobediência, quebra de segredo de justiça, e de delitos ambientais relacionados à vida, à saúde e à segurança de diversas comunidades indígenas".

Na decisão, Barroso menciona haver evidências de "ação ou omissão" do antigo governo que agravaram a situação dos yanomami. Um exemplo trazido pelo ministro do STF foi a publicação, no Diário Oficial, de data e local de uma operação sigilosa contra o garimpo ilegal em território yanomami, o que pode ter alertado os invasores.

Indígenas vistos como 'ameaça'

Carlos Alberto Lima Menna Barreto se apresenta, logo no início de sua obra, como um “gaúcho natural de Porto Alegre, oriundo de tradicional família de militares”. Foi em 1968 que, segundo o próprio, ele “travou os primeiros contatos com a Amazônia, que a partir dessa data o seduziu”.

Em Roraima, Menna Barreto atuou como primeiro comandante do 2º Batalhão Especial de Fronteira e do Comando de Fronteira e, após ir para a reserva, foi secretário de Segurança do Estado.

Nas páginas finais de sua obra, o coronel propôs algumas ações. A primeira recomendação era a anulação da criação da reserva yanomami — homologada em 1992 —, por conta das “fraudes” que o militar disse ter apresentado no livro. Uma segunda proposta consistia em “regulamentar a exploração do ouro, do diamante e de outros minérios por pessoas físicas e empresas”.

Talvez essas bandeiras lembrem posições de Jair Bolsonaro.

Quando deputado federal, o então capitão da reserva pediu, em 1993, a anulação da demarcação da terra indígena yanomami; quando presidente, ele declarou em diversas ocasiões que não haveria mais demarcação de terras indígenas em seu governo.

Em fevereiro de 2022, o então presidente comemorou que na sua gestão no Planalto “não foi demarcada nenhuma terra indígena”.

Por longos anos, Bolsonaro também defendeu o garimpo em terras indígenas e, na presidência, agiu nesse sentido. Veio do Executivo, por exemplo, um projeto de lei de 2020 que tentou regulamentar a mineração nessas áreas protegidas — mas a proposta acabou não avançando.

Mulher indígena de costas, segurando criança no colo

CRÉDITO,RAPHAEL ALVES/EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Legenda da foto,

Uma mulher indígena yanomami e um bebê próximos a à Casa de Saúde Indígena em Boa Vista (RR)

Autor de livros e pesquisas sobre os yanomami e a Amazônia, o francês François-Michel Le Tourneau identifica três grupos de pressão sobre o governo Bolsonaro que buscaram limitar direitos do indígenas: os ruralistas, as igrejas evangélicas e os militares.

Para Tourneau, o general Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e ex-comandante militar da Amazônia, era uma figura emblemática de uma geração de oficiais e generais que vê a Amazônia como um ponto vulnerável para a unidade nacional brasileira.

“O fato de ter deixado a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e os índios do Brasil completamente abandonados por quatro anos era realmente isso. Para eles, se fomentava dentro da Funai um movimento de desmembramento do Brasil e se defendia que esses territórios estavam cheios de riquezas que precisavam ser exploradas”, diz o geógrafo, diretor de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique, na França.

“Os índios do Brasil não têm nenhum interesse em independência política. Há uma confusão, pois eles podem querer autonomia, mas autonomia não é independência”, explica o francês, que diz ter “aprendido a viver” com as suspeitas que desperta por ser um estrangeiro estudando a Amazônia.

Para Torneau, o livro A Farsa Ianomâmi é mais um exemplo dessa interpretação de um segmento dos militares sobre os indígenas da Amazônia.

“Por que o governo Bolsonaro recebeu bem esse tipo de teoria, ou até mesmo propagou esse tipo de teoria [do livro]? Porque o fundo ideológico e cultural deles está fundamentando sobre a ideia de que as identidades indígenas de certa forma são uma ameaça ao Brasil.”

Segundo o catálogo online do Exército, há hoje 56 exemplares do livro espalhados por bibliotecas da força pelo Brasil — 12 deles estão em colégios militares, que oferecem ensino fundamental e médio.

Reação militar à Constituição de 1988

O historiador João Pedro Garcez lembra de estudos que já demonstraram que, em 1988, ano de promulgação da Constituição, e em 1992, ano de realização da conferência Eco-92 no Rio de Janeiro, aumentou a produção acadêmica militar sobre a Amazônia.

“Eu acredito que tanto esse crescimento quanto a publicação do livro A Farsa Ianomâmi têm a ver com uma reação dos militares à Constituição Federal, que defende a autodeterminação dos povos, e por consequência a demarcação das terras indígenas; e a própria Eco-92, que trouxe muito forte para o Brasil a discussão ambiental”, diz Garcez, doutorando em história na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O historiador aponta que o autor de A Farsa Ianomâmi usou muitos artigos de opinião publicados em jornais para validar seus argumentos, ao mesmo tempo em que se valeu de sua experiência em Roraima. O livro é escrito em primeira pessoa.

“Ele reivindicava muito essa autoridade testemunhal. O livro tem uma característica autobiográfica”, explica Garcez.

Menna Barreto também traz no livro um documento datado de 1981 e atribuído ao Conselho Mundial de Igrejas Cristãs, que teria sede na Suíça. O texto, reproduzido inicialmente pelo jornal O Estado de S.Paulo, expõe planos de “infiltrar missionários e contratados, inclusive não religiosos, em todas as nações indígenas”. Mas a veracidade do documento é controversa.

Texto datilografado

CRÉDITO,REPRODUÇÃO

Legenda da foto,

Trecho de relatório de comissão parlamentar de 1987 afirma que acusações sobre 'conspiração internacional' por conselho de igrejas cristãs não foram confirmadas

Em 1987, foi criada uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar denúncias “formuladas pelo jornal O Estado de S.Paulo, referentes a uma conspiração internacional envolvendo restrições à soberania nacional sobre a região amazônica”, segundo documentos do Congresso.

Após investigação, o relator concluiu “que a instituição ‘Conselho Mundial de Igrejas Cristãs’, elemento-chave das denúncias, não teve sua existência confirmada […]. Ao contrário, todas as entidades consultadas negaram conhecer sua existência”.

Menna Barreto recorreu também a relatos de viajantes europeus de séculos passados para sustentar o argumento de que a identificação yanomami não era citada. Assim, o coronel defendeu um dos principais argumentos de seu livro: o de que os yanomami não existem e foram inventados por interesses alheios.

“Ele ignora toda a produção antropológica contemporânea a ele. Essa produção mostra que os yanomâmi são um supergrupo e que tem divisões dentro desse supergrupo”, afirma Garcez.

A antropóloga e indigenista Hanna Limulja explica que os indígenas que compõem o grande território yanomami podem até se referir com outras palavras a seus subgrupos, mas que a consideração deles como yanomami pelos especialistas não é nada arbitrária.

“Por que esse povo é considerando yanomami? Porque eles compartilham um território, práticas culturais, uma língua. O yanomami é uma língua isolada, é um tronco, e dentro disso você pode ter variações. Por exemplo, o latim é um tronco, e aí você tem variações como o português e o espanhol, que são próximos”, aponta Limulja.

“O fato de a gente catagorizar os yanomami ou não não quer dizer que a gente invente um povo. O povo está lá. A gente o define da maneira que a gente consegue, com nossos estudos, dentro das nossas categorias.”

Exército afirma que livro não é usado pedagogicamente

François-Michel Le Tourneau explica que boa parte do conteúdo de A Farsa Ianomâmi é uma “cópia” de teorias conspiratórias abastecidas nos anos 1990 pelo americano Lyndon LaRouche.

“Para mim, o mais importante nesse livro não é só o autor, mas quem publicou. Ele foi publicado pela Biblioteca do Exército, e isso dá um peso para o livro”, aponta o geógrafo.

A reportagem enviou perguntas ao Exército brasileiro, que foram parcialmente respondidas. Em nota, o Exército informou que, apesar de exemplares de A Farsa Ianomâmi estarem em colégios militares, “a obra não consta da lista de livros paradidáticos constantes das Normas de Planejamento e Gestão Escolar (NPGE) do Sistema Colégio Militar do Brasil”.

Por isso, não está “autorizada nenhuma atividade pedagógica com o livro nos Colégios Militares”.

A BBC News Brasil também tentou entrevistar líderes yanomami mas, em meio à crise humanitária no território, não pôde ser atendida por falta de disponibilidade.

Também foi oferecida uma oportunidade de posicionamento à fotógrafa Claudia Andujar, por meio do contato com uma galeria de arte que a representa. Não houve retorno. Em 2010, porém, foi publicada uma entrevista em que a artista aborda o livro A Farsa Ianomâmi.

Segundo ela, o livro foi construído em um período em que ela participou dos esforços para a demarcação da terra yanomami.

“Olha, naquela época, fui muito perseguida pelos militares que estavam na presidência e nas diretorias da Funai. Apesar de tudo isso, e graças a bons contatos políticos em Brasília, conseguimos a demarcação das terras. Mas em Roraima continuei odiada. Esse cara que escreveu sobre mim era de lá. Saíram tantas notícias negativas contra nosso trabalho que você nem imagina. Saiu publicamente que eu era uma espiã americana, depois que era uma espiã belga, coisas simplesmente absurdas. Eu não tenho nada haver com a Bélgica”, disse Andujar, em entrevista a uma revista acadêmica.

Página de livro com capítulo 'A traição oficial'
Legenda da foto,

Coronel do Exército que atuou por anos em Roraima escreveu livro reivindicando sua experiência na região

Circulação deveria ser restrita?

Apesar de criticarem o conteúdo do livro e sua disseminação pelo Exército, os especialistas entrevistados pela BBC News Brasil opinam que não deveria haver algum tipo de restrição à circulação de A Farsa Ianomâmi.

“Até pensando no caso do meu estudo, eu acho que ele é uma obra sintomática de um pensamento militar acerca dessas das questões indígena e ambiental. Eu entendo que ele reproduz e talvez até dissemine algumas ideias que são bem problemáticas, mas não acredito que a censura ou a tentativa de tirar ele de circulação não seja o meio mais efetivo de combater ele”, diz Garcez.

“E algo muito presente no livro e na circulação dele é a colocação de que há uma grande conspiração para deixar tudo aquilo escondido. Então, retirando-o de circulação, talvez acabe validando mais esse ponto.”

François-Michel Le Tourneau concorda.

“Acho que, se você começar a andar do lado da censura, é um caminho sem volta. Acredito que é mais interessante se produzir um outro livro que demonstre os equívocos com argumentos mais sólidos”, sugere o pesquisador francês.

  • Mariana Alvim
  • Role,Da BBC News Brasil em São Paulo
Professor Edgar Bom Jardim - PE