sábado, 31 de dezembro de 2022

Lula e Getúlio Vargas: semelhanças e diferenças entre os dois únicos presidentes que foram e voltaram ao poder na história do Brasil





Getúlio Vargas e Luiz Inácio Lula da Silva

CRÉDITO,PALÁCIO DO PLANALTO

Legenda da foto,

Apenas dois brasileiros foram presidentes por duas vezes, com um espaço entre um governo e outro: Getúlio Vargas e Luiz Inácio Lula da Silva

Esta reportagem foi atualizada às 14h30 de Brasília em 01/01/23

Eleito com mais de 60,3 milhões de votos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será o segundo presidente na história do Brasil a reassumir o posto depois de um hiato fora do Executivo. Sua posse ocorre neste domingo (01/01).

Eleito pela primeira vez em 2002, reeleito em 2006, Lula ficou oficialmente distante da esfera de poder entre 2011 e 2022.

Getúlio Vargas (1882-1954), por sua vez, presidiu o país de 1930 a 1945, sem ter sido eleito pelo voto, vale ressaltar — nos primeiros quatro anos, chefiou o Governo Provisório. Depois foi indicado pela Assembleia Constituinte e, entre 1937 e 1945, foi ditador no período chamado de Estado Novo. Em 1951, entretanto, após ter sido eleito por escrutínio popular, Vargas reassumiu o comando do Executivo — mandato este que seria interrompido com o fatídico suicídio do mesmo, em 1954




Essa característica que une ambos — o fato de ter reassumido o posto depois de um período sem função executiva — por muito pouco também não foi vivenciada por Francisco Rodrigues Alves (1848-1919). Presidente do Brasil entre 1902 e 1905, ele foi eleito novamente em 1918. Contudo, pelo fato de ter contraído a gripe espanhola, ele se viu impossibilitado de assumir o cargo. Morreu em janeiro de 1919.

A convite da BBC News Brasil, especialistas comentam as diferenças e semelhanças entre ambos os políticos, separados por décadas


'Lula deve estar atento à reação conservadora'

Autor de três livros que, em sua totalidade, compreendem uma completa biografia de Vargas, o jornalista e escritor Lira Neto reconhece que tanto ele quanto Lula compartilham características em comum, sobretudo o "imenso carisma" e a "popularidade", além da "marcante força eleitoral junto às classes médias e camadas populares".

Resultados

"Não há precedentes, na história brasileira, de líderes que tenham desfrutado de tamanha empatia com as massas", afirma ele. "Ambos estabeleceram a questão social como prioridade de seus respectivos governos, ao mesmo tempo em que articularam alianças pragmáticas com diferentes segmentos da população, incluindo desde o operariado até o patronato. Lula, a exemplo de Vargas, sempre defendeu que, em um país de desigualdades tão abissais como o Brasil, o Estado não pode se eximir de seu papel como indutor do desenvolvimento econômico."

Lira Neto ressalta também que ambos "foram alvos de fortes tentativas de desconstrução política e moral". Segundo o biógrafo, isso se deu a partir de um "discurso seletivo dos adversários contra a corrupção" e a partir da "fantasmagoria de um suposto 'perigo vermelho'."

Mas, na visão do jornalista, nem tudo são semelhanças entre os políticos. Por um lado, Vargas é fruto do "seio das oligarquias gaúchas" e teve sua formação "acadêmica e política no positivismo do movimento republicano, de matriz autocrática e elitista". Além disso, como lembra o biógrafo, ele chegou ao poder, originalmente, "por meio de um movimento civil e militar, a chamada Revolução de 30", sendo que governou "ditatorialmente até 1945, com exceção do pequeno interregno constitucional entre 1934 e 1937".

Vargas faz discurso

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Para Lira, nem tudo são semelhanças entre Vargas e Lula


"Lula nasceu em família nordestina pobre, formou-se politicamente no meio sindical e chegou à Presidência pelo voto, seguindo e respeitando os ritos democráticos ao longo dos oito anos em que passou no Planalto", compara Lira Neto.

Enquanto muitos classificam o segundo mandato de Vargas como pior que o primeiro — e usam desse argumento para desqualificar, de antemão, a volta de Lula —, Lira Neto não concorda. "Penso exatamente o contrário", enfatiza. "Creio que o segundo governo de Getúlio, entre 1951 e 1954, consolidou, de forma eficaz e democrática, todas as iniciativas em prol do desenvolvimento do país forjadas no período anterior, ditatorial, no Estado Novo."

"No contexto da Guerra Fria, sua política nacionalista e independente da tutela americana atraiu a ira dos conservadores, daí a perversa campanha desencadeada pelos adversários, [o político de oposição a ele] Carlos Lacerda [1914-1977] à frente, que resultou na trágica crise que o levaria à morte", analisa o biógrafo.

Na opinião do escritor, "Lula deve estar atento à reação conservadora que, por certo, enfrentará". "A extrema-direita, embora tendo sido derrotada, estará à espreita, com seus golpes baixos, incluindo o apelo ao moralismo seletivo".

'Adesão por afeto'

O historiador Carlos Fico, pro fessor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que, com a eleição deste ano, Lula é o "primeiro presidente eleito pelo voto direto três vezes" da história do Brasil. Nesse sentido, fazer um paralelo com Vargas significa compará-lo a um presidente que só foi eleito "dessa maneira uma vez".

Nesse sentido, para ele, "as duas situações são diferentes".

"A única semelhança que vejo é a seguinte: ambos se beneficiaram da 'adesão por afeto', quando parte de seus apoiadores permanece política e eleitoralmente fiel independentemente do que façam os líderes", ressalta. "Getúlio Vargas e Lula conquistaram esse tipo de apoio por causa do fascínio que exercem e, sobretudo, em função impacto da legislação social e trabalhista do primeiro e do programa Bolsa Família [de redistribuição de renda mínima] do segundo."

Na visão do historiador, é impossível comparar o "segundo mandato" de Vargas com o mandato que Lula terá a partir do ano que vem. Isso porque o primeiro acabou acumulando uma sucessão de governos diferentes, do Provisório dos primeiros quatro anos e da presidência indicada pela Constituinte dos anos seguintes à ditadura do Estado Novo e à eleição pelo voto direto em 1950.

Como lembra Fico, o governo Vargas dos anos 1950 "foi marcado por crescente inflação, greves, crises políticas e militares". "Mas o presidente conseguiu [nesse período] criar a Petrobras e o BNDE. Discutiu-se muito o nacionalismo econômico e a abertura ao capital estrangeiro. A oposição da UDN foi muito forte. O contexto internacional era o da Guerra Fria. O atentado contra Lacerda levaria ao suicídio [de Vargas]", frisa o historiador. "Não vejo nada nesse período que permita estabelecer correlações com o terceiro mandato de Lula."

Lula em São Bernardo

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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Fico lembra que Lula é o 'primeiro presidente eleito pelo voto direto três vezes' da história do Brasil

'Lula é um negociador'

Professor na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o cientista político, filósofo e sociólogo Paulo Niccoli Ramirez ressalta a coincidência histórica de que tanto Lula quanto Vargas são expoentes do chamado "desenvolvimentismo". "Os dois defendem uma maior intervenção do Estado nas políticas de bem-estar social, ou seja, saúde, educação, moradia, relações de trabalho…", enumera. "Também têm um amplo projeto econômico de desenvolvimento, isto é um aspecto em comum."

Mas, na visão de Ramirez, é preciso enfatizar a diferença grande entre ambos, principalmente pelo fato de que Vargas, em seu primeiro governo, foi líder de uma ditadura, "em que havia pouca margem para liberdade de expressão e perseguição a partidos de esquerda". "Lula, por sua vez, foi eleito pelas vias democráticas, com consenso popular em torno de sua pessoa", recorda.

Contudo, na visão do pesquisador, há uma característica que os une. "Eles são considerados populistas, ou seja, atraíram um grande contingente de apoiadores. São líderes carismáticos capazes de sensibilizar a população mais pobre no processo eleitoral", ressalta.

Segundo Ramirez, a diferença nesse movimento é que o segundo governo de Vargas foi "marcado por um amplo nível de oposição", principalmente "pelas elites econômicas". "E isso é diferente de Lula agora, quando grandes banqueiros e grandes industriais o estão apoiando. Ele tem uma margem de apoio muito maior do que aquela que Vargas tinha na década de 1950", compara.

Retrato de Getúlio Vargas

CRÉDITO,TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL

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O professor salienta que a forte oposição, inclusive da mídia, sofrida por Vargas em seu segundo mandato fez com que o período fosse marcado por 'forte instabilidade'

O professor salienta que a forte oposição, inclusive da mídia, sofrida por Vargas em seu segundo mandato fez com que o período fosse marcado por "forte instabilidade". "Isto acabou presente até em sua carta de despedida, de suicídio, quando ele disse que 'forças ocultas' o pressionavam", comenta. "Mas, no caso de Lula, há um cenário diferente. Ele tem amplo apoio de empresários, movimentos sociais… Então, provavelmente terá um governo mais tranquilo. Conseguiu uma base de apoio partidário, permitiu uma aliança inclusive com [o ex-tucano histórico] Geraldo Alckmin [seu vice-presidente], uma figura conservadora e representativa dos interesses do grande capital."

"Vargas não conseguiu promover uma ampla negociação com opositores da direita brasileira e parte da imprensa, inclusive do Lacerda", diz. "Lula, ao que me parece, vai pela via oposta, se apresentando como negociador, capaz de promover alianças com grupos conservadores do grande capital. Esse parece ter sido o grande aprendizado do populismo brasileiro: não se governa por si só, somente com o apoio do povo, mas principalmente é preciso ter apoio dos grandes do setor econômico."

'Grandes estadistas'

"Desde 2002, as campanhas de Lula sempre tentaram relacioná-lo à figura de Getúlio Vargas", analisa o historiador e sociólogo Wesley Espinosa Santana, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

"Porém, como historiador, não consigo fazer uma comparação diacrônica, de dois tempos diferentes, sem marcar a ideia de que a história não é cíclica. Ela aparentemente traz alguns elementos que podem ser repetidos, mas com outro pano de fundo, outro contexto histórico", argumenta ele.

Nesse sentido, Santana ressalta que, embora tanto Lula quanto Vargas tenham sido "grandes estadistas", é preciso ressaltar que o presidente do Estado Novo foi "autoritário, ditador". "Mas foi um grande estadista, porque criou o Estado brasileiro. Ao mesmo tempo, ficou à mercê dos interesses internacionais", pondera. "Vargas fez os direitos sociais, mas ligados aos interesses do desenvolvimento e da consolidação do capitalismo industrial."

Luiz Inácio Lula da Silva

CRÉDITO,REUTERS

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'Não acredito que nenhum governo se repita, e o segundo governo de Lula não será tão ruim como o segundo governo de de Getúlio Vargas. Não vejo dessa forma', avalia Santana

"Não acredito que nenhum governo se repita, e o segundo governo de Lula não será tão ruim como o segundo governo de de Getúlio Vargas. Não vejo dessa forma", avalia. "Lula fez um bom primeiro governo até quando houve o escândalo do Mensalão. Mais tarde, ele foi preso e as razões de sua prisão são discutidas ainda hoje, justamente por conta de um funcionário público, o então juiz Sergio Moro, ter sido parcial em seu trabalho, extrapolando suas funções. Ele investigou e julgou, o que é bem complicado, depois virou ministro do concorrente [do PT], o que é um problema ético já consolidado. Fora as questões jurídicas que estão vindo pela frente."

Para Santana, contudo, o que se vê hoje é "um estado de exceção na política das narrativas, das fake news". "É um clima de guerra", frisa, deixando claro que isso pode tumultuar um futuro governo.

"Se o próximo governo Lula vai ser pior ou melhor do que os anteriores, é muito difícil falar. A situação vai estar difícil, crítica, tanto no cenário político quanto no externo", acredita.

  • Edison Veiga
  • De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil
  • BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Nomes do Secretariado de Raquel Lira


 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação

Pondo fim ao mistério envolvendo os nomes que irão compor o primeiro escalão da sua gestão, Raquel Lyra (PSDB) anunciou, na tarde desta quinta-feira, os primeiros titulares das secretarias que irão integrar seu governo. Dentre as oito pastas divulgadas hoje, quatro serão comandadas por mulheres. Uma das principais figuras aguardadas para também compor seu secretariado, Miguel Coelho (União) não foi convidado.

 

“Um time montado com paridade de gênero, com sensibilidade política e capacidade técnica”, essas eram as únicas informações repassadas por Raquel Lyra sempre que questionada a respeito do secretariado que fazia questão de esconder a sete chaves. No entanto, com o anúncio feito hoje, Pernambuco passa a conhecer parte integrante dos novos titulares. 

 

Seguindo o rito adotado durante as suas duas gestões em Caruaru, a tucana anuncia os primeiros secretários e secretárias poucos dias antes de tomar posse do cargo de governadora de Pernambuco, gestão que assumirá ao lado da sua vice, Priscila Krause (Cidadania).

 

As pastas divulgadas e seus respectivos titulares são: Secretaria de Defesa Social, com a Delegada Carla Patrícia Cunha; Secretaria da Cultura, com Silvério Pessoa; Secretaria do Turismo e Lazer, com Daniel Coelho; Mulher; Secretaria da Comunicação, com Rodolfo Costa Pinto e Secretaria do Desenvolvimento Urbano e Habitação, com Simone Benevides, que também integrou o primeiro escalão de Raquel Lyra em Caruaru, como secretária da Fazenda.

 

Também foram anunciados o novo presidente da Empetur, Eduardo Loyo; e a nova secretária-executiva de Imprensa, Daniella Brito Alves.

 

Miguel Coelho

 

Um dos primeiros nomes de peso a declarar apoio à Raquel Lyra durante o segundo turno das eleições, Miguel Coelho era uma das figuras políticas mais aguardadas para compor o secretariado da nova gestão em Pernambuco. Raquel e Miguel chegaram a ter alguns encontros a portas fechadas para discutir a questão. No entanto, poucos instantes depois de a tucana anunciar os primeiros secretários e secretarias, o ex-prefeito de Petrolina lançou uma nota informando que não foi convidado para compor o governo de Raquel.

 

“Mesmo não sendo convidado a integrar sua equipe, estarei à disposição para contribuir para Pernambuco voltar a ser grande de novo”, diz trecho da nota divulgada nesta quinta-feira. “Desejo sorte e sucesso para a governadora Raquel Lyra. Que ela atenda a todos os anseios dos pernambucanos que, assim como eu, votaram na esperança de um futuro com mais saúde, educação, respeito, dignidade e oportunidade”.

 

Quando ainda era presente a expectativa de que Miguel Coelho fosse anunciado como futuro secretário do governo Raquel Lyra, uma fonte próxima ao ex-gestor de Petrolina informou em entrevista ao Diario, no último dia 20 de dezembro, que Miguel não estaria “fazendo questão” de uma vaga no secretariado, apesar de estar “muito disposto”. “Raquel tem a opção de ter um auxiliar com a experiência e relevância política de Miguel trabalhando ao lado”, continuou a fonte, em reserva. “Mas ela pode querer governar com pessoas mais técnicas e do círculo mais próximo. É legítima qualquer escolha e Miguel compreende”. 


Confira a lista a seguir:

Defesa Social: Delegada Carla Patrícia Cunha

Delegada da Polícia Federal, com mais de 20 anos de atividade, ocupando diversas funções, como a Superintendência da Polícia Federal em Pernambuco. Carla Patrícia Cunha é graduada em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pós-graduada em Ciência Policial e Inteligência pela Academia Nacional de Brasília e pela Universidade de Brasília/ANP-UNB. É mestre em Engenharia de Produção, com foco em gestão e doutoranda em Engenharia de Produção, com foco em gestão pública, também pela Universidade Federal de Pernambuco/UFPE.  

Cultura: Silvério Pessoa

Cantor, compositor e pesquisador em cultura popular e cotidiano escolar, religiosidade popular e música religiosa e diálogos entre culturas, com atividades também na área de formação docente. Silvério Pessoa é pedagogo, graduado pela Universidade Federal de Pernambuco. Tem pós-graduação em Psicopedagogia pela Fafire e em Moderna Educação: Metodologias, Tendências e Foco no Aluno pela Escola de Humanidades da PUCRS. É mestre e doutor em Ciências da Religião pela Universidade Católica de Pernambuco, onde leciona atualmente.

Turismo e Lazer: Daniel Coelho

É formado em Administração pela Universidade de Pernambuco (UPE-FCAP) e tem mestrado em Administração de Negócios Internacionais pela Universidade de Bournemouth, na Inglaterra. Na vida pública desde 2004, foi vereador do Recife por dois mandatos. Em 2010, se elegeu deputado estadual. Em 2014, foi eleito deputado federal, cargo que ocupou por duas legislaturas.

Empetur: Eduardo Loyo

Advogado, formado em direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Atualmente é CEO da MAI Hotéis & Resorts e faz parte de uma família com mais de 35 anos de história no turismo do Estado.


Secretaria da Mulher: Regina Célia Barbosa

Filósofa, mestra em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professora universitária há 25 anos, com docência nos cursos de Direito e demais áreas das Ciências Humanas. Cofundadora, vice-presidenta e diretora pedagógica do Instituto Maria da Penha. É Ativista na área de enfrentamento à violência contra a mulher, violência doméstica e violência de gênero. Membro representante da Sociedade Civil, da Comissa%u0303o Seccional da Mulher Advogada (CSMA) da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional de Pernambuco. 

Desenvolvimento Urbano e Habitação: Simone Benevides

É servidora concursada da Caixa Econômica Federal há mais de 20 anos e mestre em Gestão Estratégica de Pessoas pela FBV/Wyden. É formada pelo IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) como conselheira de administração. Possui MBA em Gestão Financeira pelo Cedepe - Centro de Desenvolvimento Empresarial e Gestão de RH na Escola Superior de Marketing. Exerce cargo de liderança desde 2004, tendo ocupado funções de alta gestão na Caixa, tais como diretora executiva de Logística e Segurança, diretora executiva de Contratos e Operações, diretora de Participações da Holding Caixa Participações. Atuou também como superintendente nacional de Varejo e superintendente regional do estado de Pernambuco. Desde outubro de 2021 estava cedida ao município de Caruaru, à frente da Secretaria da Fazenda.

Secretaria de Comunicação: Rodolfo Costa Pinto

É  cientista político pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), com mestrado em Comunicação Política pela George Washington University (EUA).

Executiva de Imprensa: Daniella Brito Alves 

É jornalista, graduada pela UFPE, com pós-graduação em Administração e Marketing e mestrado em Sociologia, com atuação profissional voltada para área de assessoria de imprensa e marketing nos setores público e privado. Também é professora de cursos de graduação e pós-graduação em Comunicação e Marketing Político

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Pelé alimentou sonho de Brasil potência e projetou negros no mundo, diz autor





Em foto preto e branco, Pelé sorri, com casaco do Brasil

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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Depois do que Pelé fez na Copa de 1958, ninguém mais ousou contestar a presença de negros na seleção, diz o jornalista Marcos Guterman

Quando Pelé brilhou na conquista de sua primeira Copa do Mundo, em 1958, o Brasil vivia uma lua de mel consigo mesmo, diz à BBC News Brasil o jornalista Marcos Guterman.

Autor do livro O futebol explica o Brasil, Guterman conta que o país vivia grande efervescência cultural: a bossa nova, um ritmo brasileiro, conquistava ouvidos mundo afora, e a construção de Brasília projetava ao mundo uma nação que queria deixar de ser marginal.

No futebol, o otimismo com o futuro do Brasil era ainda mais antigo: remontava à Copa de 1938, na França, quando a seleção terminou em terceiro lugar, até então seu melhor desempenho no torneio.

"Em 38, o Brasil surpreendeu o mundo e talvez a si mesmo, e surgiu daquela Copa como o país do futebol, abraçou o futebol definitivamente como seu esporte nacional, carregando as esperanças do Brasil de deixar a periferia do mundo para ir ao centro, com seu potencial de crescimento e tudo mais", diz Guterman



Ele afirma que o Brasil pretendia sediar a Copa seguinte, de 1942, mas os planos só foram concretizados em 1950, já que duas edições do torneio foram canceladas por causa da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

"O Brasil fez o Maracanã em tempo recorde e tinha uma ideia de país que poderia deixar de ser marginal, deixar de ser eternamente colônia para se tornar protagonista, e o futebol foi o veículo dessa afirmação nacional", afirma Guterman.

Com a classificação do Brasil para a final do torneio, a profecia parecia perto de se realizar. Mas a vitória não veio: num dos eventos mais traumáticos da história do esporte brasileiro, a seleção perdeu o último jogo do campeonato para o Uruguai, por 2 a 1.

A derrota ganhou até apelido, Maracanaço, em referência ao estádio que recebeu a partida.

O resultado golpeou o ufanismo nacional, diz Guterman. Mas mais do que isso: a derrota gerou reações racistas entre a população.

Foto em preto e branco mostra jogadores lado a lado no campo, aparentemente posando para foto

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Seleção brasileira na Copa de 1958; Pelé é o terceiro, da esquerda para a direita da foto


Em O Negro no Futebol Brasileiro, clássico da literatura esportiva nacional, lançado em 1964, o jornalista Mário Filho diz que Barbosa, Juvenal e Bigode - três atletas negros - levaram injustamente a culpa pela derrota do Brasil na final.

"Os negros padeceram muito nesse período de caça às bruxas. Alguns diziam que havia negros demais na seleção, o que condenava o time ao fracasso", diz Guterman.

Quatro anos depois, poucos negros foram convocados para a seleção que jogou a Copa de 1954. Visualmente, aquele time lembrava as primeiras equipes brasileiras a disputar torneios de futebol, nos anos 1910 e 1920, quando vários jogadores eram filhos de imigrantes europeus.

Até que um jovem de 17 anos chamado Pelé foi convocado para a seleção que disputaria a Copa de 1958, na Suécia.

"Pelé tinha acabado de começar no Santos e foi grande protagonista na Copa, fazendo um gol espetacular na decisão e sendo coroado como rei do futebol - primeiro pelo (escritor) Nelson Rodrigues e, depois, pelo mundo", diz Guterman.

Depois do que Pelé fez na Copa de 1958, ninguém mais ousou contestar a presença de negros na seleção, conta o jornalista.

Para Guterman, Pelé representa "uma espécie de redenção dos negros na seleção brasileira" - mas também uma redenção dos negros brasileiros em geral.

O jornalista lembra que, além de ter sido o primeiro a conceder o título de "rei" a Pelé, Nelson Rodrigues exaltou a identidade negra do atleta.

"Nelson Rodrigues africaniza o Pelé, não trata o Pelé como um cara qualquer, ele é um negro africano com toda sua majestade, como se fosse um príncipe africano", diz.

Não que Pelé tenha sido o primeiro negro a se destacar no futebol brasileiro - antes dele houve craques como Leônidas da Silva e Friedenreich, por exemplo.

"Mas nenhum teve a dimensão do Pelé, ele claramente projeta a raça", diz Guterman.

Retrato de Pelé olhando para o lado

CRÉDITO,AFP/GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Para o jornalista, Pelé parecia evitar a associação entre ser negro e ser bom de futebol

Mas o sucesso de Pelé não foi capaz de pôr fim ao racismo no Brasil - além de, paradoxalmente, ter reforçado a noção de que o esporte é um dos poucos meios para a ascensão dos negros no Brasil, diz Guterman.

O próprio Pelé, segundo o jornalista, se incomodava com essa associação.

"Ele sempre foi muito cobrado por não ter abraçado a causa negra como, por exemplo, o (boxeador americano) Mohammed Ali, mas me parece que ele a evitou porque não queria reforçar a associação entre ser negro e ser bom de futebol. Ele era bom, ponto, e ser negro não fazia diferença", diz.

Da mesma maneira, as três Copas que o Brasil ganhou quando Pelé era profissional (1958, 1962, 1970) não foram acompanhadas por uma ascensão do país ao rol das potências globais, diz Guterman.

"Naquela época realmente acreditávamos que dava pra desenvolver 50 anos em 5, como dizia Juscelino Kubitschek. Daí veio 1964", diz o jornalista, referindo-se ao golpe militar que manteve o Brasil sob um regime ditatorial até 1985

  • João Fellet
  • Da BBC News Brasil em São Paulo
  • BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE