quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

A buceta e os pretos: trabalhadores de obra de arte não são escravos, são fruto da abolição precária

Foto: Divulgação/Juliana Notari


Ao classificar homens negros que trabalham em obras de arte como “escravos”, desumanizamos duplamente pessoas que precisam trabalhar e viver dentro de um sistema capitalista cuja gênese já é racista.

UMA ARTISTA CRIA, em um país misógino no qual um estupro é cometido a cada 8 minutos, uma obra gigante representando uma vulva/ferida.

Uma artista branca cria, com a ajuda de mais de uma dezena de homens negros, uma obra gigante representando uma vulva/ferida.

Uma artista branca cria (com a ajuda de mais de uma dezena de homens negros), em um país racista e misógino onde homens pretos são 75% dos mortos pela polícia e no qual um estupro é cometido a cada 8 minutos, uma obra gigante representando uma vulva/ferida.

Cabem outras várias combinações acima: podemos inserir as variantes Nordeste, usina, canavial, patriarcado, branquitude, desmatamento, monocultura, machismo, classe, exclusão, exploração, arte, mercado, cisgeneridade, emprego, desemprego, feminismo, etc.

A fotografia publicada pela artista Juliana Notari, na qual ela aparece em primeiro plano e uma série de homens negros ao fundo, é um registro sobre a história do Brasil.

Talvez mais ferida que buceta.


Um fato me chamou atenção em toda a discussão: a grita, principalmente nas redes sociais, justamente sobre os rapazes trabalhando na obra. No Brasil do racismo, da covid-19 e do desemprego – características ainda mais sublinhadas pela gestão terrorista-patética do governo federal –, a questão trabalho, raça e sobrevivência é mais que eloquente.

Preto, trabalhador/artista, o músico Graxa escreveu em suas redes sociais um texto que me fez refletir ainda mais. Segue um trecho:

“Esses dias a artista Juliana Notari fez um vaginão gigante e a turma descobriu que a maioria da mão de obra era composta por gente preta. Essa galera vive onde, meu anjo do mar? Pagou direito, valorizou meu trabalho, então tá tudo em casa.”

Teve mais combustível para analisar o encontro arte + raça + trabalho: dias depois da viralização da obra de Notari, o artista branco Delson Uchoa publicou em sua conta no Instagram a foto de um dos seus trabalhos, vários deles em grande escala, repletos de detalhes e feitos a várias mãos – a maioria delas de homens negros. Um comentário de uma seguidora, uma artista branca, apareceu momentos depois: “os escravos”, escreveu ela. Uchoa respondeu que sua equipe era contratada e que assinava a carteira dos funcionários.

O comentário da artista, apagado momentos depois pela própria, mostra como, em nome de realizar atos de repúdio a situações racistas ou supostamente racistas, terminamos produzindo outra. Assim, reiteramos a desumanização que qualquer ato como este comporta. Isso também aconteceu nas críticas (várias delas preciosas) da obra “Diva”, quando muita gente disse que os homens presentes na escavação da vagina/ferida foram “usados”.


Mas o que pensam esses homens pretos e o que estes trabalhos significam material e simbolicamente para eles?

André dos Santos, 39 anos, trabalha há 15 com Delson Uchoa e surge em diversas das imagens que o artista, vindo de uma família abastada alagoana, posta. Antes, André trabalhava como pintor de paredes, por empreitada, e não tinha carteira assinada. Com um salário mínimo e meio por mês mais a renda de sua companheira Marineide, cabeleireira, está terminando de construir uma casa maior e mais confortável. Seus primos Jedival e José também trabalham, por diárias, com o artista, que chegou a contratar cinco pessoas da família de André com carteira assinada até a chegada da covid-19.

André tem consciência do que sua cor representa: “a gente sente que te olham diferente em muito lugar onde você passa quando você é preto, quando é pardo. Mas só trabalho onde sei que há respeito e confiança pelo outro. Por onde passei, foi assim.”

Filipe Firmino, 29, foi um dos 12 homens que ajudaram a esculpir a vagina/ferida em uma encosta da Usina Santa Terezinha, na mata sul pernambucana. O trabalho começou em 2019 e não parou, como deveria, durante a pandemia em 2020, o que revela a manutenção de uma lógica de exploração no campo da arte. Foram cerca de oito horas diárias de trabalho na usina, localizada na Mata Sul pernambucana, região canavieira que sustentou, ao custo da escravidão, muitas famílias que seguem no topo da elite econômica nordestina.

A repercussão do caso, que foi parar em vários veículos no exterior do país, não espantou Filipe. “Uma obra daquela proporção é uma ousadia. De longe, a gente olha e pensa que é uma pintura, um quadro, uma escultura, um banner gigante. Fiquei orgulhoso, foi um trabalho novo pra gente.”

Filipe sabe que também fez arte. André me diz que a “executa”.

Arquivo Pessoal/André dos Santos, Filipe Firmino


Homem preto que já trabalhou em banca de feira, montando exposição, escritor, professor e poeta, Allan da Rosa observa a manutenção, também no campo da arte, da desqualificação do trabalho braçal, da separação entre quem pensa e quem executa. Mas a mão preta também é mão pensante, ele diz.

“Desses trabalhadores pretos, as mãos que constroem a performance, o happening, a obra: quantos estão estagiando, quantos também gostariam de assinar os trabalhos? Eles existem? Como eles olham para as obras que eles mesmos fazem? A camada que dá as cartas no circuito da arte contemporânea está bem longe de compreender o que é a presença negra – e especificamente a presença preta do homem – em sua história”.

Sem perder isso de vista e passando pelos constrangimentos impostos por muitos brancos “bem intencionados” – depois da pandemia, Allan já recebeu mais de 40 convites para participar de graça de eventos em nome de “representatividade” –, ele chama atenção para as diferenças entre as condições de escravidão e a de trabalhadores registrados, esta gente inserida em um contexto capitalista que tudo engole e assimila. Gente que precisa manter casa e comida e circular dentro da boca do dragão.

Mas quando mira as fotografias de Notari e Uchoa, muita gente – e muita gente branca – faz simplesmente a rápida conexão entre elas e os quadros do pintor francês Jean-Baptiste Debret, que esteve no Brasil no começo do século 19 e registrou situações cotidianas da então colônia.


*

Sim: a imagem da mulher branca servida por pessoas escravizadas repercute simbolicamente, no Brasil do século 21, não só nos trabalhos de Notari e Uchoa, mas na maioria das relações trabalhistas do país onde, por exemplo, 95% dos quadros de lideranças das 500 maiores empresas são ocupados por pessoas brancas.

Mas nem André, nem Filipe ou outras pessoas negras trabalhando nesse Brasil de 15 milhões de desempregados são escravas: são antes de tudo fruto de uma abolição precária, de um estado que instalou uma política de branqueamento social e que lançou a pele escura para as periferias e o subemprego. São fruto de um país que durante décadas impediu seus acessos às universidades, que concentra renda como poucos no mundo e que continua dizimando principalmente homens pretos jovens. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, entre 10 pessoas mortas pela polícia em 2019, oito eram homens negros.

Estas pessoas não são escravas e não deveriam, antes de tudo por respeito às suas humanidades, serem classificadas assim.

Entender isso não é liberar pessoas brancas, muitas delas empregadoras de pessoas negras, de suas obrigações não só trabalhistas, mas sobretudo éticas e, deveriam, antirracistas. Não tenho a menor dúvida que a própria lógica capitalista, que se funda na escravização de pessoas, seja uma grande responsável por essa desumanização – mas se é dentro dela que a roda gira hoje, então que negras e negros recebam as benesses diariamente ofertadas como se fossem “para todos”.

Se isso é impossível dentro desse sistema, então é inconcebível mantê-lo.

Na periferia do poder, é preciso manter-se vivo para tentar chegar até o coração dele.

Há outro aspecto crucial que irmana as imagens dos quadros de Debret e os homens negros trabalhando nas obras de Juliana Notari e Delson Uchoa: os pretos e pretas ali expostos são pouco chamados para falar sobre si nos momentos em que suas presenças estão sendo debatidas. Se no século 19 isso foi realidade por questões da escravidão, hoje a questão seria, me parece, de raça, de classe e de uma notável predisposição branca ao “salvacionismo”.

Percebam que, historicamente, contou-se a história de negros escravizados sem se dar relevância para suas lutas e estratégias – suas agências e sua autonomia de pensamento, no final das contas. Isso porque sublinhar estes aspectos seria também sublinhar a enorme inteligência e capacidade destas pessoas, cujo maltrato histórico e todas as tentativas de apagamento jamais – JAMAIS – conseguiram prosperar.

Nessas estratégias, diversos pactos foram firmados, todos eles em nome de garantir a sobrevivência, fosse física, fosse simbólica. É preciso deixar evidente que não se pode romantizá-los, na medida em que eles não significaram o fim da exploração ou mesmo da morte. Também é vital compreender que tais acordos, por outro lado, não se traduziam em docilidade dos negros e negras em relação aos seus proprietários/empregadores. O rolê era – e ainda é – outro.

Mas foi, por exemplo, através destes pactos sempre tensos, que populações de pessoas super exploradas desenvolveram uma série de atos de enorme força e que se tornaram expressão de beleza, de porrada, de resistência.

O maracatu rural, pensando a partir da arte, da criação, é um desses exemplos: nascido nos canaviais (eles de novo) pernambucanos no início do século 20 também por pessoas recentemente escravizadas, ele é síntese das contradições ainda fortes entre capital, trabalho e cultura popular; é síntese de ação coletiva e de manutenção da vida.

É isso o que observa Roseana Medeiros em sua pesquisa “Maracatu rural: luta de classes ou espetáculo?”. “Não se pode deixar de considerar que o maracatu rural, como manifestação cultural, emerge no seio de uma sociedade de classes bem nítida e se trata também e sobretudo de uma expressão política, ideológica, uma maneira de contestar a realidade opressora.”

No trabalho de Roseana, um cortador de cana, explicando as origens do maracatu, diz: “Porque o senhor de engenho humilhava muito o trabalhador, ele ficava muito revoltado, porque o salário era pouco, ele não dá o que ele tem, então vamos humilhar o morador”.

O maracatu rural era e é, também, uma estratégia de “hackeamento” produzido com beleza e tensão pela pobreza, uma maneira de gozar e de contestar. Na periferia do poder, é preciso ser ligeiro. Na periferia do poder, é preciso manter-se vivo para tentar chegar até o coração dele.

É ali que a festa, que é revolução, pode – e deve – acontecer.

Pode parecer muito louco para quem curte sempre tutelar os outros – um ato de vaidade e, porque não, racismo –, mas pessoas negras, mãos que fazem e pensam, falam e agem por si mesmas.

Trabalharam e criaram a obra “Diva”, de Juliana Notari

Alexsandro da Silva Santos
André Fillipe Firmino dos Santos
Weivisson Ivanildo da Silva
José Ricardo da Silva
José Lindemberg Pereira
Lorival José da Silva
Jackson Oscar da Silva
Elias Miguel da Silva
Orlando Sisinato da Silva
Carlos Miguel da Silva
José Renildo Lourenço

Trabalham e criam com o artista Delson Uchoa

André dos Santos
José Anildo dos Santos
Gedival João dos Santos

Atualização, 27 de janeiro, 12h45
Os títulos do texto foram atualizados. A expressão entre aspas “escravos” foi suprimida para não gerar uma confusão na interpretação do texto da colunista que condena seu uso.


Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Bruno Anderson: "A valorização de um povo e sua cultura reunidas em um excelente espaços aberto ao público"


Hoje tive o prazer e oportunidade de visitar o museu de Bom Jardim na companhia de
Maria França
, no qual tínhamos como guia o professor
Edgar S. Santos
(fundado do museu e proprietário).
Foi tudo muito simples, mas de grande aprendizado para a nossa história. A valorização de um povo e sua cultura reunidas em um excelente espaços aberto ao público.
Parabéns
pela iniciativa e espero volta em breve para contemplar um pouco mais da arte dos artistas bonjardinenses e de cidades vizinhas... *(Bruno Anderson )

Cheia de 1960 - Rua Israel Fonseca - Acervo Fotográfico do Museu de Bom Jardim .


Exposição de Esculturas e Design de Mobiliário 


Banner 2ª Mostra BJ ARTE


Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 24 de janeiro de 2021

Leão foi superior ao rival regional durante toda a partida e pulou para a 14ª colocação com o resultado positivo


Pressionados por um resultado positivo, Sport e Bahia se enfrentaram na noite deste domingo, na Ilha do Retiro, em encontro válido pela 32ª rodada da Série A do Brasileiro. Fazendo valer o mando de campo, o Leão foi superior ao adversário durante toda a partida e venceu pelo placar de 2x0, voltando a vencer depois de três derrotas consecutivas. Agora, o Rubro-negro chegou aos 35 pontos e, de quebra, jogou o rival regional para a zona de rebaixamento da competição. Os gols do encontro foram marcados por Thiago Neves e Maidana. Na próxima rodada, o time de Jair Ventura volta a jogar em casa, desta vez contra o Flamengo, no próximo domingo. 

Tentando fazer valer o mando de campo, o Sport buscava pressionar a saída de bola do Bahia, no intuito de dificultar a saída de bola adversária. A estratégia surtiu efeito no início do encontro, mas o Leão encontrava dificuldades para chegar ao gol de Douglas. A melhor chance do Rubro-negro nos 45 minutos iniciais saiu do pé de Patric. Em uma das aparições pela esquerda, o lateral-direito de origem limpou a marcação na entrada da área e bateu no ângulo, para grande defesa do goleiro baiano. Do lado do rival, o time comandado por Dado Cavalcanti apostava nos contra-ataques, mas pecava na execução das jogadas.

No retorno do intervalo, Jair Ventura sacou Raul Prata e Marcão, lançando Ewerthon e Ronaldo ao campo. As alterações surtiram efeito e o Sport foi amplamente superior ao Bahia. O Leão passou a chegar com frequência à área do Tricolor e viu Ewerthon - jogando adiantado - balançar as redes em duas oportunidades com menos de 20 minutos. Nas duas o VAR entrou em ação assinalando impedimentos nos lances. Mesmo com as decisões contrárias, o time pernambucano manteve o ímpeto em busca do gol e foi recompensado aos 27. Patric cruzou da direita, a bola bateu em Maidana e sobrou para Thiago Neves. O camisa 30 ajeitou no peito e emendou uma bicicleta para fazer um golaço na Ilha do Retiro. Com o Bahia abatido, o Rubro-negro ainda chegou ao segundo com Maidana, aproveitando rebote do goleiro Douglas. 

Ficha do jogo

Sport

Luan Polli; Raul Prata (Ewerthon), Adryelson, Maidana e Júnior Tavares: Marcão (Ronaldo), Betinho (Bruninho), Patric e Thiago Neves (Márcio Araújo); Marquinhos (Sander) e Dalberto. Técnico: Jair Ventura

Bahia

Douglas; Nino, Ernando, Juninho e Matheus Bahia; Gregore, Ronaldo e Juan Ramírez (Rodriguinho); Rossi (Juninho Capixaba), Thiago (Fessin) e Gilberto (Gabriel Novaes). Técnico: Dado Cavalcanti

Local: Ilha do Retiro (Recife/PE)
Árbitro: Raphael Claus (SP). Assistentes: Alex Ang Ribeiro e Luiz Alberto Andrini Nogueira (ambos de SP)
Gols: Thiago Neves, aos 27, e Maidana, aos 40 (ambos no 2T)
Cartões amarelos: Raul Prata, Marcão, Maidana (SPT)


Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Museu de Bom Jardim faz agendamento para visitas presenciais


Na próxima segunda-feira, dia 25 de janeiro de 2021, será aberta a 2ª Bienal BJ ARTE. As pessoas interessados em visitar as exposições deverão fazer uma inscrição simples pelo e-mail: museudebomjardimpernambuco@gmail.com. Também poderá ser feito o agendamento por meio do whatsapp 81 -  9. 2000- 8246 ou pelo https://www.facebook.com/Museu-de-Bom-Jardim. O visitante deverá escrever seu nome completo, localidade onde reside e idade, quando o atendimento for preferencial.
A sede do Museu de Bom Jardim fica localizada na Rua Manoel Augusto, 90, Centro.
Entrada franca. Classificação: 12 anos. Todos os visitantes deverão usar máscara no momento da visita. 
Devido a pandemia a 2ª BJ ARTE só receberá 30 pessoas por dia. A bienal acontece no período de 25 de janeiro a 11 fevereiro.



Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Veja municípios de Pernambuco que já deram início à vacinação contra a Covid-19




A campanha para vacinação contra a Covid-19 em Pernambuco já teve início em vários municípios. Recife - o primeiro dos municípios -, iniciou, de fato, nesta terça (19), a vacinação para trabalhadores da linha de frente do Hospital Provisório do Recife, na rua da Aurora, que receberam as primeiras doses.

A técnica em Enfermagem Maria José da Silva, de 32 anos, moradora da comunidade do Detran, na Iputinga, na Zona Oeste do Recife, foi a primeira a ser imunizada. Ao receber a vacina, a profissional dedicou o momento aos colegas de enfermagem.
 

Vacinação no Hospital Provisório da rua da AuroraEscreva a legenda aqui

Camaragibe
O município de Camaragibe iniciou a aplicação de 4.354 doses da vacina contra a Covid-19 nesta terça-feira (19). Na primeira etapa da vacinação serão imunizados os profissionais de saúde que atuam na linha de frente nas urgências e emergências da cidade, conforme prevê o Ministério da Saúde. A primeira pessoa vacinada foi a enfermeira Elizabete Souza da Silva, que atua na cidade como profissional de saúde desde 1999 nos setores de emergência. Desde o início da pandemia, ela está na linha de frente nos atendimentos dos pacientes com Covid-19.

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Caruaru 
A cidade de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, começou, nesta terça-feira (19), a vacinar contra a Covid-19. Nesta primeira fase, o município recebeu 5.928 doses da Coronavac, vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac. As doses são suficientes para imunizar 2.956 integrantes do grupo prioritário. 

A primeira dose foi aplicada na técnica em Enfermagem Manuella Auxiliadora Vasconcelos, 34 anos. Ela trabalha há 7 anos na rede municipal de saúde e há 1 ano e meio no Hospital Municipal Manoel Afonso (HMMA), no enfrentamento à pandemia. 

Neste primeiro dia de vacinação contra a Covid-19 em Caruaru, a Secretaria Municipal de Saúde conseguiu imunizar 126 profissionais que estão atuando diretamente no enfrentamento da pandemia. A previsão é que em sete dias todos os públicos incluídos nesta primeira fase de imunização sejam vacinados. 

Primeira vacinada em Caruaru foi a técnica em Enfermagem Manuella Auxiliadora Vasconcelos, 34 anosEscreva a legenda aqui



Jaboatão dos Guararapes
A Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes deu início, nesta terça-feira (19), à vacinação contra a Covid-19. A partir desta quarta-feira (20), a vacinação atenderá aos 1.200 idosos e funcionários das 24 Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPI) cadastradas no município. Quem recebeu a primeira dose foi a técnica de enfermagem do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Nayara Silva Rodrigues.

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Fernando de Noronha
Os profissionais de saúde e idosos acima de 75 anos do Arquipélago de Fernando de Noronha começaram a ser vacinados contra a Covid-19 nesta terça-feira (19). Após Pernambuco receber, nessa segunda (18), o primeiro lote dos imunizantes, o Governo do Estado enviou à Ilha 380 doses da Coronavac - Instituto Butantan, que contemplarão 190 pessoas.

Entre elas, está Dandara Matias Guedes, de 31 anos, a primeira noronhense vacinada da Ilha. Ela atua como coordenadora de vigilância sanitária e está na linha de frente da Covid-19 desde o início da pandemia, tendo contribuído para testagens em massa e investigações epidemiológicas

Vacinação em Fernando de Noronha Escreva a legenda aqui



Abreu e Lima
A Prefeitura de Abreu e Lima deu início, na manhã desta terça-feira, (19), à aplicação da vacina contra a Covid-19, durante cerimônia simbólica na Secretaria de Saúde do município. A solenidade rápida foi prestigiada pelo prefeito do município, Flávio Gadelha, e pela secretária municipal de Saúde, Gabriela Luna. “Hoje é um dia especial para Abreu e Lima com a chegada da vacina e o início de imunização para todos os abreulimenses”, comemorou o prefeito.
 

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Ipojuca 
Às 16h02, desta terça-feira (19), a técnica de enfermagem de 63 anos, Marlene Maria de Santana, ficou marcada na história do Ipojuca sendo a primeira ipojucana a receber a vacina contra a Covid-19. Sob os olhos atentos da prefeita do Ipojuca Célia Sales, da vice-prefeita Patrícia Alves e da secretária de Saúde Manúcia Medeiros, a profissional de Saúde chorou ao receber a dose. “A esperança chegou à Ipojuca”, disse a prefeita. 
 

Vacinação em Ipojuca Escreva a legenda aqui
Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 17 de janeiro de 2021

Como a escravidão atrasou o processo de industrialização do Brasil

Escravos urbanos coletando água no Brasil da década de 1830
Legenda da foto,

Escravizados urbanos coletando água no Brasil da década de 1830. Para pesquisadores, escravidão atrasou desenvolvimento do país

O Brasil importou mais africanos escravizados do que qualquer outro país e, por aqui, a escravidão durou mais tempo do que em qualquer outra parte do Ocidente.

No entanto, ao invés de promover o crescimento econômico e o desenvolvimento, o trabalho compulsório de negros e negras atrasou o processo de industrialização do país, mostra estudo feito por pesquisadores das universidades de Manchester, Bonn e da FGV (Fundação Getulio Vargas).

De maneira inédita, usando a econometria — um método que utiliza a matemática e a estatística para avaliar teorias econômicas —, os analistas mostram com números algo que a literatura historiográfica e econômica já apontava: que a escravidão beneficiou apenas uma pequena elite enquanto atrasou o desenvolvimento do país como um todo.

Escravidão no Brasil em números

Segundo o estudo, entre os séculos 16 e 19, cerca de 4,9 milhões de africanos desembarcaram na costa brasileira, o que representa 46% de todas as chegadas de escravizados ao continente americano. Em comparação, 388.746 escravizados foram levados para os Estados Unidos.




Escravizados recém chegados da África sendo desembarcados a partir de um pequeno barco em um porto brasileiro
Legenda da foto,

Adultos escravizados recém-chegados da África sendo desembarcados em um porto brasileiro. Entre os séculos 16 e 19, cerca de 4,9 milhões de africanos desembarcaram no país

O tráfico de africanos começou no Nordeste do país na década de 1560, com os cativos sendo empregados inicialmente em grandes plantações de cana-de-açúcar nos entornos de Recife e Salvador. Na década de 1590, a chegada de escravizados aos portos da Bahia e de Pernambuco superava 12 mil por ano e flutuou em torno desse nível até a proibição do tráfico pela Lei Eusébio de Queirós, em 1850.


O Sudeste se tornou um destino relevante para escravizados no século 18, durante a corrida do ouro em Minas Gerais. A maioria dos africanos chegou à região através do Rio de Janeiro, que se tornou o maior porto de escravizados do mundo. Os desembarques de cativos ali chegaram a 25 mil por ano entre 1801 e 1850, com os escravizados sendo direcionados também à produção de café nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.

Números do início do século 19 sugerem que a população de escravizados no Brasil chegou a cerca de 1 milhão a 1,5 milhão de pessoas, num país com uma população de pouco mais de 3 milhões.

O país também foi o último do Ocidente a abolir a escravidão, em 1888, depois de todos os vizinhos sul-americanos e caribenhos e dos Estados Unidos (1863).

Um debate que vem de décadas

"Nosso objetivo é contribuir para um debate amplo que é qual é o papel da escravidão no desenvolvimento econômico de longo prazo", diz Thales Pereira, professor da EESP-FGV (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas).

Pereira é um dos coautores do estudo, junto a Nuno Palma, Andrea Papadia e Leonardo Weller. Palma é professor na Universidade de Manchester, no Reino Unido; Papadia é pesquisador na Universidade de Bonn, na Alemanha; e Weller é professor da EESP-FGV. O artigo foi apresentado como texto para discussão pela Universidade de Warwick, no Reino Unido, e os autores esperam sua publicação em periódico acadêmico ainda este ano.

Africanos aguardam serem vendidos em um mercado de escravizados em Pernambuco
Legenda da foto,

Africanos em um mercado de escravizados em Pernambuco. Debate sobre papel da escravidão no desenvolvimento econômico começou na década de 1940, com o historiador Eric Williams

Segundo Pereira, esse debate começa na década de 1940, com o historiador Eric Williams, que discute o papel da escravidão no Caribe para a revolução industrial inglesa.

Nos últimos dez anos, ganhou força uma nova literatura sobre o tema, parte da chamada "Nova História do Capitalismo", produzida por um grupo de historiadores americanos, que busca analisar o papel da escravidão para o desenvolvimento dos Estados Unidos.

Para esses autores, como Edward Baptist e Sven Beckert, a industrialização dos EUA estaria ligada ao acesso a algodão barato, fruto da exploração violenta dos escravizados. "É uma visão de crescimento econômico em que o desenvolvimento vem da exploração", avalia Pereira.

Segundo ele, apesar da interpretação desses autores ser considerada por muitos pesquisadores como extremamente falha e baseada em premissas equivocadas, essa visão ganhou espaço no senso comum, daí a importância de testar essas hipóteses a partir de dados concretos da realidade.

No Brasil, produção de algodão com e sem escravizados

O Brasil ofereceu aos pesquisadores uma ótima oportunidade para esses testes. Isso porque, por aqui, houve um aumento repentino da produção de algodão a partir da década de 1860, em resposta à paralisação das lavouras americanas em meio à Guerra Civil daquele país.

Além disso, no Brasil, houve uma situação peculiar: duas províncias vizinhas, Maranhão e Ceará, passaram por esse forte crescimento na produção de algodão, mas uma delas tinha praticamente só trabalho escravo e a outra, somente trabalho livre.

Assim, pela hipótese da "Nova História do Capitalismo", a produção do Maranhão deveria ter crescido mais do que aquela do Ceará. Mas não é isso que os pesquisadores encontram, ao analisar dados dos ministérios da Fazenda e da Agricultura do século 19.

"Na verdade, marginalmente, a produtividade do Ceará aumentou mais do que a do Maranhão", diz Pereira, acrescentando que isso descarta a hipótese de Edward Baptist de que seria a violência contra os escravos a causa do aumento de produtividade nas lavouras de algodão.

Por aqui, afirmam os pesquisadores, com base em registros históricos, o fator determinante nesse ganho de produtividade foi o uso de novas sementes, importadas dos Estados Unidos, e a adoção de tecnologias inovadoras.

Escravidão e industrialização

Outra hipótese que pôde ser testada na realidade brasileira é a que relaciona a escravidão e o avanço da industrialização.

Para isso, os pesquisadores usaram dados do Censo nacional de antes de depois da Abolição, mais precisamente, de 1872 e 1920. E compararam dados municipais dos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro (excluída a capital fluminense, cuja realidade era muito peculiar, pelo fato de a cidade ter sido a capital do país entre 1763 e 1960).

Ilustração mostra negras escravizadas vendendo angu a partir de grandes panelas redondas
Legenda da foto,

Vendedoras de Angu. Regiões com presença de escravizados afastavam imigrantes e o trabalho livre de maneira geral

"Testamos se áreas que tinham maior presença de escravos, no Censo de 1872, que foi o primeiro Censo nacional brasileiro, tinham mais indústrias no início do século 20", explica Pereira. "Levamos em conta um monte de controles para analisar isso."

Entre os controles utilizados estão a parcela de trabalhadores ocupados na agricultura, a presença de imigrantes, o grau de alfabetização, se os municípios eram produtores antigos ou tardios de café, se havia presença ou não de estação de trem, a distância em relação ao porto mais próximo e a desigualdade na posse de terras.

"O que encontramos é que há uma forte correlação entre industrialização e capital humano. Tanto regiões onde os brasileiros são mais alfabetizados, quanto regiões que têm imigrantes — que à época tinham mais acesso à alfabetização —, têm mais industrialização", diz Pereira.

"Mas o que encontramos de interessante é que esse efeito só aparece após a abolição da escravidão. Ou seja, regiões com mais alfabetização e mais imigrantes em 1872 não têm mais indústria. Mas, onde esses fatores estão presentes em 1872, aparece a indústria em 1920."

"Isso é o que a literatura, à exceção da 'Nova História do Capitalismo', já discutia há muito tempo: que o potencial produtivo do país era limitado pela escravidão. Então, com o fim dela, houve um melhor uso dos recursos humanos na sociedade."

'Escravidão foi um desastre e atrasou o país'

Segundo o pesquisador, a presença de escravizados afastava os imigrantes e o trabalho livre de maneira geral. Além disso, em regiões onde havia muitos escravos, não havia incentivo municipal para a abertura de escolas para alfabetizar a população.

Crianças e adultos escravizados em mercado do Rio de Janeiro
Legenda da foto,

Crianças e adultos escravizados em mercado do Rio de Janeiro. 'Escravidão gerou riqueza para alguns, mas não gerou crescimento econômico para a sociedade', diz pesquisador

O professor da FGV diz que há evidências de que houve escravizados trabalhando na manufatura e na indústria têxtil, por exemplo. Mas que havia limites para a expansão dessa industrialização, pela falta de um mercado consumidor, já que esses trabalhadores não recebiam salários. Além disso, não havia estímulo para empregar escravizados na manufatura, porque o retorno deles na agricultura era maior.

"Resultados como os nossos, apesar de não serem conclusivos, ajudam a dissipar essa ideia, que vai e volta na literatura, de que crescimento econômico ocorre simplesmente por exploração", diz Pereira.

"Tentamos retomar a literatura que diz que isso não é verdade. A escravidão foi um desastre, um horror. Ela gerou riqueza para alguns, mas não gerou crescimento econômico para a sociedade."

"Ela não teve um efeito positivo 'oculto' como sugere a 'Nova História do Capitalismo'. Ela era indefensável. Mas por que a escravidão durou tanto? Porque ela era lucrativa para as pessoas que eram donas de escravos. Mas isso atrasou o país."

  • Thais Carrança
  • Da BBC News Brasil em São Paulo
Professor Edgar Bom Jardim - PE